Revista Pastoral Encontro 01

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Editorial Prezados irmãos e irmãs. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo! No dia 1º de abril de 2010, Quinta-feira Santa, na Missa do Crisma celebrada na Catedral Metropolitana, Dom Bruno Gamberini, nosso Arcebispo, entregou à Arquidiocese a publicação do 7º Plano de Pastoral Orgânica. Na apresentação, Dom Bruno nos dizia que “unidos ao Bispo desta Igreja trabalharemos numa vinha fértil e abençoada, desejosos de evangelizar e implantar neste chão a justiça, a verdade, o amor e a paz do Reino de Deus”. Pouco mais de um ano após a promulgação do Plano, Dom Bruno partiu para a Casa do Pai. Conscientes da nossa missão, continuamos unidos no trabalho que nos foi confiado de construir a sociedade sonhada por Deus e anunciada por Jesus. Essa revista que publicamos hoje, na Festa de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira da Arquidiocese de Campinas, é mais um instrumento valioso no processo de implementação do nosso Plano de Pastoral. Aqui está contida toda a riqueza que foi o Encontro de Formação realizado no Mosteiro de Itaici, na cidade de Indaiatuba, nos dias 16 a 18 de setembro passado.

Participaram representantes de todas as forças vivas de nossa Igreja Arquidiocesana que, na convivência fraterna de irmãos e irmãs em Cristo Jesus, partilharam experiências nesse processo de implantação do Plano, na busca de concretizar a missão de anunciar o Evangelho como autênticos discípulos missionários. Nosso objetivo, com essa primeira publicação, é que toda a Arquidiocese partilhe das indicações de nossos assessores e dos trabalhos dos grupos e a usem como mais uma luz que ajuda a iluminar os nossos caminhos na concretização do 7º PPO. Que Deus Pai, Filho e Espírito Santo continue a nos abençoar, sob a proteção materna de Nossa Senhora da Conceição. Padre Bruno Alencar Alexandroni Coordenador de Pastoral 08 de dezembro de 2011

Expediente Esta é uma publicação especial da Coordenação de Pastoral da Arquidiocese de Campinas, sobre o Encontro Arquidiocesano realizado no Mosteiro de Itaici, em Indaiatuba. Esta publicação está disponível no site da Arquidiocese de Campinas, www.arquidiocesecampinas.com. Administrador Diocesano Monsenhor João Luiz Fávero

Liturgia e Animação Comissão Arquidiocesana de Liturgia

Coordenador de Pastoral Padre Bruno Alencar Alexandroni

Cronometrista José Alberto Macedo Nogueira

Responsáveis pelo Encontro Coordenação Colegiada de Pastoral Coordenação Arquidiocesana de Pastoral

Filmagem e fotos Assessoria de Comunicação Maurício Aoki (voluntário)

Assessores Padre Luiz Roberto Benedetti Padre João Augusto Piazza

Infra estrutura Nadir Gonçalves de Castro Rosilene Montagner Diácono Sebastião Roberto de Abreu.

Equipe Dinamizadora do 7º PPO Monsenhor João Luiz Fávero Padre Bruno Alencar Alexandroni Carmem Silvia Ventura Diácono Jamil Cury Sawaya Padre João Augusto Piazza Padre Jonas Barbosa da Silva Márcia Carvalho Nadir Gonçalves de Castro Rosilene Montagner Diácono Sebastião Roberto de Abreu Wanda Conti Vivência (dinâmicas) Carmem Silvia Ventura Secretários no Encontro Felipe M. Zangari Flor Maria Aparecida V. Duarte

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Médica Drª. Maria Emília S. Oliveira Secretários e facilitadores nos grupos Sem. Adilson José Ribeiro Sem. Amauri Thomazzi Sem. André Ulisses da Silva Antonio Pereira Júnior Sem. Antonio Rodrigues Alves Aparecida Palmeira da Silva Carlos Roberto Cecílio Sem. Carlos Roberto de Oliveira Jesus Cícero Palmeira da Silva Claudemir Batista de Campos Sem. Claudiney Ferreira de Almeida Sem. Cleber Rogerio Rosa Sem. Diego Fernandes dos Santos Sem. Diego Nogueira Scarano

Eliana Carvalho Paes Sem. Emerson Ginetti Sem. Fábio Fernandes dos Santos e Silva Sem. Fábio Luís Fernandes Sem. Fernando Marçola Neves Sem. Jefferson de Oliveira Marques Sem. João Henrique C. Stabile Sem. João Henrique de Oliveira Bento Padre Leonardo Henrique Piacente Sem. Luan Flávio de Oliveira Sem. Marcel Fabiano Prado Márcia Carvalho Márcia Signorelli Maria Inês Gonçalves Maria Lourdes Santucci Sem. Maurício Inácio da Silva Messias Rabetti Sem. Nilo C. de Oliveira Júnior Sem. Paulo César Nascimento dos Santos Sem. Rafael Queiroz Pereira Sem. Renato de Moura Petrocco Vera Úrsula Gadioli Casarin Wanda Conti Sem. Wladimir Quintino da Costa Assessoria de Comunicação Assessor: Padre Rodrigo Catini Flaibam Jornalista: Wilson A. Cassanti (MTb 32.422) Apoio: Nathália Trindade Arte: João Costa Fotos: Bárbara Beraquet e Maurício Aoki


Apresentação

A

realização de um evento como o Encontro Arquidiocesano que aconteceu no Mosteiro de Itaici, em Indaiatuba, no período de 16 a 18 de setembro de 2011, foi o resultado de um longo período de preparação. É importante destacar que este Encontro não foi um acontecimento isolado, mas parte do processo de implementação do 7º Plano de Pastoral Orgânica, em vigência na Arquidiocese de Campinas. Sentiu-se a necessidade de refletirmos sobre como estamos vivendo a missionariedade da Igreja. Foi uma oportunidade para conhecer e partilhar experiências. Considerando esse contexto, foi importante a proposição do Objetivo do Encontro, que refletido e aprovado pela Coordenação Colegiada de Pastoral - CCP, ficou assim definido: “Aprofundar e compartilhar as experiências pastorais, na vivência do 7º PPO, na perspectiva de uma Igreja Discípula, Missionária e Profética, alimentada pela Palavra e Eucaristia”. O tema escolhido foi Discípulos Missionários de Jesus Cristo. Uma vez definido o Objetivo, foi necessário pensar que estratégias usar que favorecessem sua concretização. A Equipe Dinamizadora do 7º PPO propôs então que o Encontro se organizasse em torno de Assessorias, trabalho em grupos, miniplenários e plenário, intermeados e sustentados pelos momentos de Espiritualidade, Adoração do Santíssimo e Eucaristia. As Assessorias estiveram a cargo dos Padres Luiz Roberto Benedetti e João Augusto Piazza que abordaram a temática do Discipulado e da Missionariedade, levando em conta a realidade urbana onde acontece, de fato, a ação evangelizadora. A propósito do trabalho nos grupos, vale destacar que foram organizados em torno dos três eixos

do 7º PPO: Acolhimento, Renovação e Serviço, com 10 diferentes temas: a Palavra de Deus: o nascer da comunidade; a Acolher para ser Igreja. Povo de Deus; a Eucaristia: comunhão com Deus, com o próximo e partilha com todos; a Rede de Comunidades / Igreja Comunhão / Partilha; a Missão / Discipulado em uma Igreja toda Ministerial; a Formação / Itinerário Catequético = uma nova atitude; a Comunicação: realidade e desafios; a Pobre: Opção Evangélica e Solidária da Igreja; a Ecologia: Vivência, Educação, Profecia; a Misericórdia: Vida em abundância para todos, em especial as situações de sofrimento. Nos grupos foi solicitado aos participantes que respondessem a duas questões:

1. Que experiência pastoral temos para compartilhar e como ela está acontecendo? 2. Como aprofundar o nosso viver e a nossa ação evangelizadora? Pa ra esta atividade houve a indicação de que fossem levados em conta o subsídio enviado previamente aos inscritos no Encontro (Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora 20112015, de 30 a 36) e a reflexão dos assessores. Os frutos do trabalho referente à segunda questão foram partilhados nos miniplenários organizados por Eixo e a reflexão foi então apresentada no Plenário, assessorado pelo Monsenhor João Luiz Fávero, no domingo, dia 18 de setembro, pela manhã. Durante a realização do Encontro foram propostas algumas vivências com o objetivo de fa vorecer o entrosamento entre os participantes e houve a exibição do filme “Homens e Deuses”, após o momento de Adoração do Santíssimo.

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Discipulado

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nosso encontro tem como objetivo analisar o andamento do 7º Plano de Pastoral e, ao mesmo tempo, buscar novos passos, criar novas energias, abrir perspectivas e corrigir possíveis erros de rota. Lembro-me de ter colocado, no texto preparatório, que um plano dificilmente pode ser elaborado nos seus mínimos detalhes, em razão da complexidade crescente da situação em que vivemos como região metropolitana. E mais, que era necessário criar linhas de força, ideias-programáticas a serem operacionalizadas nos vários níveis institucionais. Gostaria que todos tivessem presente esta afirmação por duas razões. De um lado, a exigência de ação conjunta em torno de desafios comuns, de um objetivo comum, o que, aliás, o 7º Plano contempla; de outro, há que se ter claro, que há uma perda crescente e incessante da capacidade por parte das instituições de forjarem e imporem aos indivíduos padrões de conduta, visões de mundo, de dar a eles uma identidade. Há tempos que a identidade dos indivíduos não é dada pela religião e,

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hoje, nem mesmo pelo trabalho, pela profissão, como no tempo do capitalismo industrial. Isso pode ser sentido até no linguajar cotidiano das pessoas, constituído de pequenas narrativas ligadas a fatos como a casinha em que se mora, a vida dos filhos, suas conquistas mais significativas, as suas aquisições, que são referências ao que se tem e não

Há tempos que a identidade dos indivíduos não é dada pela religião. ao que se é, mesmo profissionalmente. Isso é um sintoma das mudanças pelas quais passamos. Na época em que estamos, a do capitalismo financeiro, as identidades mudam e podemos dizer, de maneira radical, que o consumo condiciona e, até certo ponto, determina a identidade dos indivíduos. Procuro acompanhar a vida da Igreja e, no caso específico de Campinas, todo o material enviado e

discutido nos vários níveis. Existem constatações comuns, como a dificuldade de se confrontar com o novo religioso-cultural, o cansaço dos cristãos engajados (quase sempre os mesmos há muito tempo) e a ausência de perspectivas, de horizontes novos, a repetição do mesmo, a persistente volta ao passado e o apego a um passado-modernizado. Nessa realidade há uma grande ideia-força, a missionariedade. É preciso evangelizar, ser discípulo missionário num mundo que se tornou terra de missão. A expressão discípulo missionário, que pode acabar sendo esvaziada se repetida e transformada num bordão, vem acompanhada de outra, a mudança de época. Seria muita pretensão de minha parte analisar tão brevemente essa mudança de época. Mesmo porque as análises seriam conflitantes entre si. O sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um arguto observador da realidade atual, nos fala em tempo líquido, amor líquido, modernidade líquida, medos líquidos. Para ele, acontece a quebra de qualquer solidez, firmeza, coesão, fidelidade e as relações se tornam passageiras, efêmeras, vagando ao sabor do gosto pessoal. Todas as instituições estão em crise, a começar pela família. Mas, ao mesmo tempo, há a busca da comunidade, lugar de refúgio, de salvação e perigo ao mesmo tempo. O perigo é claro com as comunidades virtuais ou fundamentalistas e fechadas sobre si mesmas, constituídas por indivíduos desnorteados que buscam no apego ao mundo “pronto” e murado uma fortaleza que é preciso defender, e não importa como. O filósofo francês Gilles Lipovetsky, no livro A sociedade da decepção, diz que “Numa era de racionalização, de descrença e de desinstitucionalização da religiosidade, nada mais normal que o aparecimento de seitas, movimentos de fanatismo, fundamentalismo e integrismo. A falta geral de referência levaria uma parte das populações de todos os cantos do mundo a apostar em referências extremas e dogmáticas. Faz sentido. O medo do vazio quase sempre leva à busca do excesso de presença”.


Como não dá para analisar essa mudança exaustivamente, aponto algumas características e chamo a atenção para as chances que tornam urgente, amplo e inclusivo o apelo missionário . O e vangelizador é, também, um destinatário da missão e experimenta na carne esse mundo. É preciso dizer sem subterfúgios que o próprio evangelizador está em crise e tende a se refugiar na instituição, na fórmula pronta e na receita. A decisão pessoal em um mundo pronto Começo com uma citação do Cardeal Karl Lehmann, até pouco tempo Presidente da Conferência Episcopal da Alemanha, em uma entrevista publicada no site IHU. Diz o Cardeal que “...na situação atual, convergem desdobramentos que estão em curso há anos. A ‘Igreja do povo’ como existia até agora, está mudando e adquire novas dimensões. A fé se apresenta sempre mais como uma realidade baseada na decisão do indivíduo. Algumas das dificuldades se devem ao fato de que se esfacelaram os ambientes religiosos e culturais dentro dos quais foi possível viver até agora a própria fé”. Ele falava, é claro, da situação de crise da Igreja europeia. Concluía dizendo que a crise de confiança, na Igreja, é uma crise de fé. O Cardeal falava, então, que a fé se apresenta sempre mais como uma realidade baseada na decisão do indivíduo. O historiador francês Lucien Febvre, em seu livro O problema da incredulidade no século XVI - a religião de Rabelais, após descrever com minúcias o universo religioso medieval, diz que “tudo isso mostra a Igreja estabelecida em pleno coração da vida dos homens, de sua vida sentimental, de sua vida profissional, de sua vida estética, se se pode empregar esta grande palavra: de tudo o que os ultrapassa e de tudo o que os liga, de suas grandes paixões, de seus pequenos interesses, de suas esperanças e de seus sonhos... Tudo isso se faz sem que se pense. Sem que ninguém nem sequer levante a questão de saber se é possível, se deve ser de outra maneira. As coisas são assim. Desde tempos imemoriais”.

Então, o Cardeal Lehmann diz que “a fé se apresenta sempre mais como uma realidade baseada na decisão do indivíduo” e Lucien Febvre contrapõe-se à situação do século XVI, quando “tudo isso se faz sem que se pense”. As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil mencionam esta mudança radical e dizem no nº 88: “As pessoas, hoje, ciosas de sua liberdade e autonomia, querem se convencer pessoalmente, desejam discutir, refletir, avaliar, ponderar os argumentos a favor e contra determinada visão, doutrina ou norma”. Esta passagem não afeta apenas a religião católica. Pouca gente se deu conta da pesquisa do IBGE, ainda não publicada oficialmente, que apresenta um dado novo, o do surgimento de evangélicos não praticantes, de cerca de 4 milhões de pessoas, em um percentual que subiu de 0,7 para 2,9%. Isso só é possível porque o universo

Não temos mais a obrigação de buscar o paraíso e fugir do inferno. espiritual está tomado por gente que constrói sua fé sem seguir a cartilha da denominação religiosa. Se outrora o padre ou pastor produziam sentido à vida das pessoas de muitas comunidades, atualmente celebridades, empresários e esportistas, só para citar três exemplos, dividem esse espaço com essas lideranças. A pergunta que surge para nós é: onde as pessoas buscam sentido para a sua vida e, ainda, como isso afeta a religião? Antes de responder a esta questão, é preciso olhar o mundo e entender as suas contradições no cotidiano da vida. As grandes teorias explicativas da realidade, da história, deram lugar a análises do cotidiano vivido. Não podemos ver a realidade

em uma única direção, dizendo que somos consumistas, individualistas, indiferentes, fundamentalistas e sair tirando conclusões de cunho moralista ou exortações piedosas. O indivíduo é livre para fazer o que quiser, como nunca antes teve esta liberdade. Mas, ao mesmo tempo, ele está frustrado. Nós somos sempre o mais e o menos ao mesmo tempo. Cada um é livre mais que antes para expressar desejos e nunca houve tanta depressão. Nunca se buscou tanto o prazer e nunca se sofreu tanto por não se conseguir uma vida feliz. Nunca nos comunicamos tanto e nunca nos sentimos tão sós. Criamos blogs para contar nossa vida, interagir sobre coisas que antes só falávamos à família, amigos, vizinhos e mesmo ao padre. É preciso ser bem sucedido e feliz. Mas não temos mais a obrigação de buscar o paraíso e fugir do inferno. O pesadelo do pecado e das imposições morais cada vez nos atormentam menos. A grande infelicidade, hoje, é a imposição de ser feliz, em um mundo no qual a decepção é diretamente proporcional ao desejo. É preciso ser feliz aqui e agora, esquecendo o passado e não vivendo em função do futuro. É viver o presente, o agora, o “instante eterno”, título de um livro do sociólogo francês Michel Maffesoli, que nos diz que é viver o “instante eterno” é “Empunhar a vida, o que ela nos oferece, o que se apresenta. Exuberância pagã que se aproxima dos gozos do presente, levando a uma vida audaz, intrépida, a uma vida

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atravessada pela frescura do instante, no que este tem de provisório, de precário e, portanto, de intenso”. Ser feliz aqui e agora! Esquecer a “sociedade do adiamento”! Esquecer o “adiamento do gozo”, da fruição da felicidade. Adiamentos presentes na ação política, ou mesmo, no projeto profissional. A felicidade é, num certo sentido, substituída pela “arte de viver”. A própria ideia de liberdade se minimaliza, pois é preciso ser livre nas pequenas liberdades, presentes nas brechas das imposições sociais; relativas, efêmeras, expressas em verbos como surfar, marolar, “ficar”, zapear... Fica claro que tudo isso implica, o u c a racteriza, duas marcas da sociedade que estão na raiz da urgência do empenho do discípulo missionário: o individualismo e o consumismo. Duas faces da mesma moeda, dois aspectos da mesma realidade social e individual. Para entender isso é preciso voltar um pouco atrás no tempo. Individualismo e Consumismo As contradições a que me referi ocorrem em uma sociedade cuja desigualdade social e econômica gritante ameaça destrui-la. Uma sociedade na qual grupos financeiros vivem de produzir dívida e ganhar com ela, no dizer do sociólogo espanhol Manuel Castells. Quem falará pelos pobres quando sobrevivem e crescem os especuladores financeiros e o mundo se ordena em função deles, ou melhor, eles “ordenam” o mundo de acordo com seus interesses e sua força se sobrepõe a todas as instituições políticas, mesmo o Estado? É esta sociedade que nos põe face às exigências evangélicas. E é bom lembrar disso quando falar dos pobres na Igreja é quase heresia ou motivo de troça ou ocasião para desencargo de consciência... Nessa sociedade, mais que nunca, a Igreja encontra o seu lugar e deve buscar como exercer sua missão específica, que é clara em

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termos bíblico-teológicos, mas difícil em termos operacionais. Feita esta lembrança voltemos ao tema do individualismo consumista. Quanto mais as sociedades enriquecem, mais aparecem novas “vontades” de consumir. Podemos consumir para viver ou, no outro extremo, viver para consumir. Hoje, quanto mais se consome mais se quer consumir. A esfera das satisfações se alarga cada vez mais e a saturação leva a novas procuras. A explicação do consumo teve como modelo as ideias do crítico social Thorstein Veblen, presentes no livro “A teoria da classe ociosa”. Ele procurava mostrar como o consumo se desprendia cada vez mais da necessidade do uso, da utilidade dos produtos para tornar-se sinal de distinção social. Servia para mostrar a superioridade enquanto classe social. Os “carrões” americanos, cheios de itens de gosto duvidoso, não tinham “utilidade”. Sua função era mostrar um status superior, um lugar social distinto. Um consumo ostentatório. Segundo ele, as pessoas que se livram da linha de subsistência não buscam propósitos úteis, expandir sua vida, viver com mais sabedoria, compreensão, mas querem impressionar as outras pessoas mostrando que tem esse excesso, que tem mais que os outros. Dava como exemplo o fato de famílias que se privavam do leite para as crianças a fim de comprar gasolina para o carro. Mas os anos 60-70 puseram em cheque essa teoria. Consumia-se para ter uma vida melhor. Buscavase conforto, prazer, satisfação, facilidade, como-

didade. E isso, para os críticos da sociedade de consumo, anula va qualquer ímpeto transformador da realidade. Acomodava, anestesiava, entorpecia. A própria classe operária americana aderia a esse sistema e o reforçava, no dizer do sociólogo e filósofo alemão, naturalizado norteamericano, Herbert Marcuse. O conforto, garantido pelo consumo, gerava acomodação. Havia a contestação, mas não era orientada por um projeto político claro. A defesa das drogas, o “faça amor não faça a guerra” ligavamse à liberação de direitos individuais. Então, há uma fase em que se consome o necessário para viver, onde dá-se importância aos objetos que devem ser úteis e duráveis. Num segundo momento, eles devem ser sinais distintivos de classe social. Hoje, estaríamos vivendo um terceiro momento, que é o do consumo privatizado. As necessidades obedecem a fins, gostos e


critérios individuais. Uma lógica desinstitucionalizada, subjetiva e emocional. Quero ser eu mesmo. Quero viver, não me exibir. Olhemos as frases “tô na minha”; “ele se acha”... O consumo obedece a uma lógica de “felicidades privadas, otimização de nossos recursos corporais e relacionais, a saúde ilimitada, a conquista de espaços-tempos personalizados”, diz Lipovetsky. A dinâmica do consumo é a satisfação subjetiva, pessoal e individual. Ela sobrepuja a necessidade de competir com os outros. Buscamos algo “que tenha nossa cara”, que se pareça conosco. Castells diz que o modelo consumista busca o sentido da vida, comprando-a a prestações. Os objetos são padronizados, os gostos são criados, há a moda, mas sempre em nome da satisfação e de sentir sendo “eu mesmo”. O filósofo e sociólogo francês Jean Baudrillard diz que a sociedade de consumo é aquela na qual na vitrine o individuo se contempla a si mesmo. Mas mesmo os objetos padronizados da moda tem que ter um toque pessoal, ser “customizados”, isto é, afirmar o indivíduo enquanto indivíduo, na medida que o padronizado deve ser personalizado, adaptado ao gosto e características individuais. Tem que ter um registro de “diferencialidade”. Eu tenho que sentir que eu sou eu, mesmo quando obedeço à última moda. As lojas, mais do que oferecer objetos úteis, devem provocar uma experiência sensorial total, uma emoção diferente, ter uma cenografia própria. Fazer o indivíduo viver o gosto de uma aventura pessoal, de ter uma imagem positiva de si mesmo, gostando cada vez mais de si que dos outros. Eu exagerei um pouco para enfatizar que o novo individualismo consumista é radical: o outro não conta nem para competir. Amar: sim, mas sem compromisso.

E a religião? A religião permanece, com dois aspectos principais. Primeiro, ela permanece como substrato profundo da cultura. Ela é e vocada até para aquilo que a transgride, até para sua profanação. Uma propaganda de motel ilustra bem. O outdoor, presente nas entradas da cidade de Campinas e em pontos estratégicos, como entra d a d e universidades, começa com uma pergunta: Pecado? E mostra dois jovens seminus, corpos perfeitos, altamente erotizados. Depois de passar os olhos pelos corpos vemos a resposta: Pecado é não conhecer o motel X. O segundo aspecto é que a religião sofre uma mutação interna, não apenas na escolha individual, mas nas raízes da escolha. Ela se situa no que

O enfraquecimento das instituições religiosas, de suas capacidades organizativas com estruturas pesadas, imóveis e imobilizadoras, levam a uma individualização crescente do crer e do agir. É a relativização das crenças. Naturalmente, crer não é consumir. Há toda uma tradição vivida, uma busca do essencial, do divino, do sentido profundo do mundo e da história que marca o espírito de fé e isso nada tem a ver com o espírito do consumismo. Mas isso não pode nos cegar para o fato de que o renascer religioso contemporâneo não deve ser marcado pelos sinais do turboconsumidor experiencial, descrito por Lipo vetsky: “participação temporária, incorporação comunitária livre, comportamentos a la carte, primado do bem-estar subjetivo e da experiência emocional”. A Comunidade

A religião sofre uma mutação interna, não apenas na escolha individual, mas nas raízes da escolha. Lipovetsky chama de “mercado da alma” e “farmácia da felicidade”. Menos que propor um ideal, um projeto de vida, um sistema expressivo (crer, viver, celebrar) a religião busca dar respostas às decepções com relação às promessas não cumpridas pela sociedade secular ou, então, de proporcionar elementos e experiências que possibilitem o desabrochar do indivíduo, na forma de autoajuda. Ela não se contrapõe à sociedade de consumo. Amolda-se a ela. Pode-se gostar de paramentos luxuosos... de missa em latim! Ainda mais, até mesmo a espiritualidade é comprada e vendida.

Um manifesto de 240 professores de teologia da Alemanha, publicado no site IHU, fala sobre o assunto: “As comunidades cristãs devem ser espaços nos quais as pessoas partilham bens espirituais e materiais. Mas atualmente a vida das comunidades se desfaz. Sob a pressão da escassez de sacerdotes, constroem-se unidades administrativas cada vez maiores - paróquias nas quais já não se pode experimentar a proximidade e a pertença. Identidades históricas e redes sociais construídas são abandonadas”. Causa espanto pensar que uma experiência pioneira como as das Vilas Planejadas, aqui em Campinas na década de 80, tendo como marca o colégio presbiteral, o envolvimento das religiosas(os), leigos em clima de igualdade e respeito à própria vocação e função ministerial na vida da Igreja, nunca tenha sido objeto de uma avaliação de toda a Igreja local. Absorvidas pelas paróquias, as religiosas(os) voltaram para seus conventos, ou equivalentes, os leigos

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Questões dos participantes

e sua missão no mundo cada vez mais entregues a ministérios em torno do altar. É um retrato impressionista, talvez subjetivo demais, mas, de qualquer forma, é expressão de uma perda. Passados mais de trinta anos, os laços comunitários criados são revividos, por nós que participamos, em jubileus, hospitais, velórios, aniversários. Ao encontrar pessoas, distantes umas das outras no tempo e no espaço, unidas novamente pela solidariedade de alegrias e dores, ao participar de celebrações coletivas em plano diocesano, como não pensar em chances perdidas? Talvez pensemos em comunicação quando falamos da missionariedade da Igreja. Comunicar necessariamente não significa env olve r. Pode se transformar em pura forma de expandir e dar a conhecer atos e medidas administrativas. Chamou-me muito a atenção uma entrevista do pensador Regis Debray. Ele estabelece uma oposição entre transmissão e comunicação. A comunidade brota e necessita de uma transmissão. A comunicação consiste em faz er circular uma informação no espaço em um momento. A transmissão é portar uma informação no tempo, isto é, construir uma duração, uma tradição, uma memória... Além disso, uma comunidade humana sempre supõe um ponto de coerência, um ponto criador de laços, que pode ser um texto, uma figura heroica, um evento, enfim algo que reúne vivencialmente. E o que reúne é chamado de sagrado. Não resisto à tentação de citar o tríduo pascal “aqui nos reuniu o amor de Cristo, alegremo-nos e n´Ele rejubilemos... E amemo-nos na lealdade do coração”. Aliás, que distância entre essas maravilhas e os sentimentalismos modernosos póscomunhão. Intermináveis!!! Sim, há perigos e aqui sociólogos e pastoralistas convergem. O risco de nossas comunidades se transformarem em guetos, de caráter étnico, religioso, ou duas coisas juntas. As Diretrizes alertam: “Contradiz profundamente a dinâmica do Reino de Deus e de uma Igreja em estado permanente de missão a existência de comunidades cristãs fechadas em torno de si mesmas, sem relacionamento com a sociedade em geral” (nº 80). “Comunidade implica necessariamente convívio, vínculos profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade nos sonhos, nas alegrias e nas dores” (nº 59).

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O Padre Benedito Ferraro apresentou números, dolorosos, que corroboram o que foi apenas acenado por mim na questão da desigualdade. Além desse enriquecimento lembrou que os “pied noirs”, assim chamados de maneira discriminatória, não são violentos. Respondem, sim, a uma violência de que são vitimas. Realmente, o termo violência para me referir a eles, foi mal empregado. Na realidade, o que quis dizer, nesse exemplo que me ocorreu durante a comunicação, foi que a ação dos “pés negros” (descendentes de imigrantes africanos das ex-colônias francesas) era

Alguém se referiu ao movimento carismático. Eu disse que o risco era que se ficasse num plano puramente emocional e que com o fim da emoção tudo acabasse. É preciso reconhecer, entretanto, que para muitos foi o início de uma caminhada de fé cada vez mais consciente e participante. E é preciso reconhecer que nas paróquias e comunidades são generosos e dedicados nas tarefas que lhe são pedidas. E, mais ainda, emoção é necessária como componente de humanidade. Eu falei, também, de riscos como tantos que valorizam o grupo de oração, que gostam, sentem-se bem,

uma reação instintiva. Na realidade, queria contrapô-la às formas de reação organizada e com certo patamar de permanência. Quanto à explicação da desigualdade, concordamos. Sua raiz é econômica (a sociedade de classes). O grande drama é que a teoria das classes sociais já não dá conta da complexidade da situação atual. Sem perder validade, ela não dispõe de instrumentos analíticos que permitam operacionalizar uma ação organizada em níveis cada vez mais abrangentes. Os próprios especuladores (sob o eufemismo de investidores), como George Soros, dizem que sem mecanismos de controle é a sociedade toda que corre riscos. Estão naquela situação de dar os anéis para não perder os dedos. Quanto à organização da classe operária, é, sim, indispensável e necessária. Só que mais difícil que nunca, face à situação.

porém a missa é obrigação a que muitos se desobrigam. O Padre Eugênio Pessato apresentou dados de uma pesquisa, limitada ao seu território de atuação paroquial, que comprova o que foi dito na colocação. Aqui, é necessária uma referência ao valor desse gesto: é parte da ação missionária o conhecimento da realidade. O Padre José Arlindo de Nadai pergunta sobre a conveniência de dividir a paróquia por setores. Acredito que a tentativa de criar grupos, de animar convivência e partilha, é necessária no ambiente burocrático-administrativo paroquial. Mas se o critério for puramente geográfico, ainda ficamos na mesma. Grupos em torno de “interesses”, no sentido sociológico do termo, que vai muito além do campo puramente material. Inclui aspirações, desejos, emoções, estilos de vida, numa palavra, modo de “experimentar” o mundo e viver a História.


Entrevista Assessoria: Quais são as mudanças sociais que desafiam hoje a Igreja? Padre Benedetti: Primeiro é constatar que a Igreja enfatiza quase que em todas as linhas, palavras e momentos, públicos e particulares, a necessidade da evangelização, traduzida agora como ser discípulo missionário. Hoje nós não vivemos mais em uma sociedade cristã, no sentido que as estruturas moldavam o cristão e pertencer à sociedade e à religião dessa sociedade era a mesma coisa. Hoje a religião, como tudo, é uma escolha individual. Mas é uma escolha feita por um indivíduo que se redefine. Não é um indivíduo que se pensa como indivíduo a partir de esquema de mundo, de sentido, visões da história, teorias sobre o mundo, religiosas ou não. É um indivíduo que busca sentir-se bem consigo mesmo. Isso atinge diretamente a religião, porque se ela não responde a essa necessidade individual ou se o questiona, o indivíduo vai buscar outra que dê a resposta que ele espera ou, também, uma religião que o ajude a ser rico, como tem, por exemplo, alguns grupos evangélicos, ou, ainda, como grupos que se defendem desse mundo, são fieis e firmes, como a Congregação Cristã do Brasil. Temos esse universo do mundo que precisa ser evangelizado desde as raízes porque o homem, hoje, é outro. Não há uma mudança extemporânea dentro de uma situação de permanência, mas é uma mudança de época e não uma época que ocorre mudança. Assessoria: O princípio das religiões não é buscar a felicidade? Que mal há nisso? Padre Benedetti: A felicidade é aquilo que move toda a ação humana. Aristóteles tem até a afirmação clara, a da harmonia, a felicidade como a razão de ser de toda a ação humana. O problema é que se busca a felicidade refugiando-se em si mesmo, desconhecendo a sociedade e os outros. Quando você deseja ser feliz de uma maneira que não corresponde à humanidade da qual você faz parte, você se transforma em um sujeito que, quanto mais busca a felicidade, mais se decepciona. Eu leio muito o filósofo francês Lipovetsky, que diz que não podemos ser negativos quando analisamos a sociedade, mas temos que ver as contradições. E ele deixa isso muito claro. Você tem, sim, que buscar a felicidade, que procurar um nível de consumo que responda às suas necessidades, mas, ao mesmo tempo, você tem que pensar que tudo isso convive com possibilidades de decepção. Quando

coloca a felicidade como obrigação, ela se torna uma imposição a mais porque ela não tolera a decepção. Assessoria: Como podemos conviver com a realidade do consumismo desenfreado? Padre Benedetti: Há a necessidade de conviver, mas tendo o senso e o timing da história pessoal de cada um e, principalmente, quanto às crianças, tem que ter o exemplo dos pais. Se o pai e a mãe alimentam o consumismo, não tem saída. Eles têm que ter a capacidade de perceber e colocar um questionamento no meio, sem imposição, sobre a real necessidade disso ou daquilo. Um exemplo. Uma criança vai a um supermercado e faz birra, quer a coisa mais cara. Cabe aos pais mostrarem que não têm condições de comprar o mais caro, mas que pode comprar, por exemplo, dois mais baratos e dar um para quem não tem possibilidade de comprar nem o mais barato. Desde pequena, a criança vai aprendendo a ter algo mais simples e está sendo questionada sobre a situação que estamos vivendo. Mas existirão momentos que isso vai ser fonte de frustração e vai levantar novas perguntas. Por isso é preciso ter o timing do momento e não moralizar ou impor, mas ter sensibilidade para questionar. Assessoria: A nossa Igreja, muitas vezes, falha no acolhimento ao ter respostas prontas para muitas solicitações dos fieis, deixando de atender com a caridade. Isso também é uma realidade que estamos vivendo? Padre Benedetti: Eu não posso afirmar ou generalizar esta afirmação, primeiro porque nunca estudei ou pesquisei sobre isso, e,

depois, porque eu seria injusto com muitas pessoas e comunidades. Mas eu não posso negar que, pessoas que me procuram, se queixam porque foram apresentar algum tipo de problema e o padre disse que a Igreja determina isso e acabou e se não quiser aceitar, que vá buscar outra religião. Isso, evidentemente, não é resposta e isso existe. Dizer que a Igreja diz isso ou aquilo é fácil, mas ela o faz com alguma finalidade buscando a vivência do evangelho, assim como o evangelho questiona o que a Igreja diz. Assessoria: O que deve ser feito a partir dessa realidade que o senhor apresenta? Padre Benedetti: Eu penso que, primeiro, nós temos que pensar as estruturas da Igreja, que são pesadas e impõem pesos, são imóveis e imobilizam. As estruturas de formação dos seminaristas se reproduzem depois nas paróquias. Esse eixo estruturado e estruturante precisa começar a mudar em uma perspectiva, por exemplo, de repensar a questão ministerial. Não no sentido de desaparecer o padre que eu sou ou o tipo de padres que nós somos, mas começar a pensar em uma forma de padre diferente. Segundo, é bom setorizar, criar relações, porque a situação que estamos vivendo não preocupa só os cristãos. A imagem de que os jovens são felizes, por exemplo, é falsa, porque eles estão em uma cultura que favorece os grupos econômicos, mas há frustrações pessoais, há buscas pessoais... E a Igreja tem que se preparar para dar uma resposta a essa ansiedade da juventude, não uma resposta em nível de padre somente, apenas, mas em uma discussão coletiva, em grupos dentro da paróquia. 9


Missionariedade

F

oi com grande alegria que acolhi o convite para refletir neste encontro de estudos da nossa Arquidiocese de Campinas, compartilhando um pouco daquilo que tenho lido e estudado junto à Comunidade que presido. A Igreja tem sempre uma palavra, uma direção, um chamado e um desejo de posicionar-se, de não se esconder ou se acomodar, mas de ser e estar presente no mundo para realizar a sua missão. É assim que o documento de Aparecida deve ser visto por nós, como Igreja, como um momento em que os nossos pastores da América Latina, sob a luz do Espírito Santo, orientaram a caminhada da Igreja, inspirando o Objetivo Geral da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, que traz, na sua introdução, a razão de ser da Igreja, que é Evangelizar a partir do encontro com Jesus Cristo. Nós, em Campinas, assumimos o Objetivo Geral da Igreja do Brasil, que têm a sua riqueza desenvolvida ao longo do 7º Plano de Pastoral Orgânica, com preciosas orientações, aos moldes do Documento de Aparecida. Além do encontro com a pessoa de Jesus Cristo, o próprio objetivo já determina a maneira como devemos nos colocar. Somos chamados a estar constan-

A razão de ser da Igreja é Evangelizar a partir do encontro com Jesus Cristo. temente em processo de diálogo, como quem quer aprender, em uma relação permanente de interlocução. Já o Documento do Diretório Nacional de Catequese, no seu capítulo sexto, trabalha este sentido novo que deve estar na relação catequética, na relação evangelizadora. O destinatário é um interlocutor, não é alguém que só recebe, porque antes mesmo de chegarmos à relação evangelizadora e catequética, o Espírito Santo já chegou,

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a ação de Deus já está acontecendo. A transmissão da fé nos lança não apenas para a ação presente, mas com perspectiva de futuro. É essa a razão pela qual esta verdade precisa ser resgatada na nossa vivência evangelizadora. Ser Missionária é a grande marca da Igreja nesses dois mil anos, que foi se enfraquecendo com os contratempos e as acomodações dos tempos. E nós temos a tentação de fazer as outras pessoas iguais a nós, de fazer o quê e da forma que fazemos, de se organizarem como estamos organizados. Tudo está pronto e acomodado e vai se repetindo, se reproduzindo e se mantendo, porque esta é a nossa segurança. A Conferência de Aparecida e a nossa caminhada pastoral a partir do 7º PPO, nos interpelam a uma nova postura. Para entender esse processo, peço que vocês prestem atenção em como se forma um paradigma (modelo, padrão ou exemplo a ser seguido) para termos como referência na nossa reflexão. Um grupo de cientistas colocou cinco macacos em uma gaiola e no meio dela uma escada com bananas no alto. Cada vez que um dos macacos

começava a subir a escada, um dispositivo automático fazia jogar água gelada sobre os outros macacos. Passado certo tempo, toda vez que qualquer um dos macacos esboçava subir a escada, os demais o espancavam, evitando, assim, a água gelada. Obviamente, após certo tempo nenhum dos macacos se arriscava a subir a escada, apesar da tentação. Os cientistas, então, substituíram um dos macacos. A primeira coisa que o novo macaco fez, foi tentar subir a escada. Imediatamente os demais começaram a espancá-lo e, após várias surras, o novo membro aprendeu a não subir a escada, embora jamais soubesse a razão. Um segundo macaco foi substituído e ocorreu com ele o mesmo que com o primeiro, que também participou com os demais do espancamento. Um terceiro macaco foi trocado, e o mesmo aconteceu. Assim, foram todos substituídos, um de cada vez, e a cada troca repetia-se o espancamento dos novatos, quando faziam suas tentativas de subir a escada. No final, o grupo de cinco macacos, que embora nunca tivessem recebido uma ducha fria, continuava a espancar todo macaco que tentasse subir a escada. Se fosse possível


conversar com os macacos e perguntar-lhes porque espancavam os que tentavam subir a escada, certamente não saberiam dizer a razão. Em muitas circunstâncias é assim que procedemos em nossas comunidades. E as pessoas podem estar se questionando sobre a razão de continuarmos a fazer o que sempre fizemos da mesma maneira, se existem outras formas para isso. Por isso, somos convidados a ter presente a possibilidade de “romper paradigmas” não nos enganando com as aparências de normalidade. Tudo parece estar bem: a Paróquia, a Comunidade, a Pastoral... Sempre está tudo muito bem... Nós continuamos participando porque está tudo bem, e vamos mantendo o que fazemos porque olhamos para nós mesmos. Diante desta constatação, o Documento de Aparecida, no número 11, faz um chamado para a Igreja “repensar profundamente e a relançar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias latinoamericanas e mundiais”. É um chamado feito para todo o Povo de Deus, para todos nós, padres, leigos, representantes das Paróquias, das Comunidades, lideranças dos diversos Organismos eclesiais. O momento que estamos vivendo exige

repensar a nossa prática e não simplesmente fazer coisas. O Padre Benedetti nos disse que a religião tem tudo organizado, está tudo pronto, os livros, os esquemas estão estabelecidos e é só continuar a prática. Mas o mistério da Igreja tem uma outra referência e não é simplesmente uma entidade organizada onde os fieis vão fazendo coisas. Repensar exige a capacidade de envolver-se e de questionar, com maturidade, não simplesmente de repetir, manter e fazer algo. Aparecida diz que a Pastoral deve ser repensada com audácia para que seja uma presença de qualidade, que faz a diferença onde está presente, onde atua, e não para adequar-se às conveniências. Nesse momento difícil e conturbado somos chamados a ser audaciosos, fieis ao evangelho, com a audácia do discípulo que segue Jesus Cristo e que é capaz de criar novas coisas, pois o Espírito faz novas todas as coisas. Por isso, o nosso 7º Plano

não é simplesmente mais um plano que a gente faz, mas é uma grande oportunidade para repensarmos a nossa ação evangelizadora. É arrepiante imaginarmos que muita coisa na nossa Igreja funciona com plano ou sem plano, com padre ou sem padre, com leigo ou sem leigo, enfim, caminha por si mesma. Nós, de protagonistas passamos a meros reprodutores das coisas. O nosso Plano de Pastoral, no Espírito de Aparecida, é uma riquíssima oportunidade que o Senhor nos dá para repensarmos e relançarmos as nossas ações. O nosso Plano não é de resultados, mas de grandes indicações e pistas a serem construídas. Nada está pronto, mas são indicações que orientam e direcionam a nossa atenção para aspectos fundamentais da vida da Igreja, que precisamos ter presentes para que a nossa missão se realize neste contexto e momento. Pa ra isso, o Documento de Aparecida, no número doze, nos diz: “A todos nos toca recomeçar a partir de Cristo, reconhecendo que ‘não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma direção decisiva’”. Parece óbvio que Cristo é o ponto de partida, mas a maioria de nossas ações não partem dessa experiência de encontro com o Senhor, mas sim de regras que temos estabelecidas, nos costumes enraizados, que vamos simplesmente repetindo. Penso que essa é uma das razões, não única, porque muitos de nós estamos cansados e saturados. As inúmeras exigências e “coisas” para fazer vão pesando no nosso cotidiano e não temos mais a alegria de dar a vida, de morrer, de carregar a cruz, de se cansar por causa do Reino. Faz-se muito, mas não saímos do lugar. Aparecida chama a atenção para o que parece óbvio. É preciso recolocar

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Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma direção decisiva. esse recomeço a partir de Cristo, a partir do encontro com o Ressuscitado, razão fundamental de sermos cristãos. Nós não podemos ser cristãos porque é bonito ser cristão, nem porque a Igreja tem valores éticos e morais. A nossa experiência de fé é de encontro, que sempre se renova e que precisa recomeçar constantemente. O Documento de Aparecida, portanto, trata a fé como evento existencial, a experiência de encontro com Deus e com o irmão. “Ele está no meio de nós” é o que proclamamos solenemente, não como um refrão decorado, mas como expressão dessa experiência que qualifica e determina todo modo de ser da Igreja e da Comunidade. A fé, entendida dessa maneira, é uma descoberta decisiva da Conferência de Aparecida, que, aparentemente, parece óbvio. É justamente a partir desse sentido da experiência existencial da fé, que nós superamos a ideia dela como aceitação, opção ética ou mera tradição cultural, como é em grande parte do nosso catolicismo. É a partir dessa experiência que compreendemos a nossa missão, não como tarefa que precisamos realizar, mas como modo de organizar a nossa vida a partir dessa experiência, dessa espiritualidade que determina as nossas relações, a nossa postura e também os nossos costumes. O nosso grande referencial é Jesus Cristo, portanto, partir sempre e em

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tudo de Jesus Cristo. O caminho que os bispos em Aparecida nos indicaram para relançar a missão evangelizadora no nosso Continente é a iniciação à vida cristã, com a inspiração do processo catecumenal. As estruturas que temos hoje em nossas Comunidades são baseadas demasiadamente no discurso. Temos cursos para todas as necessidades: batismo, comunhão, casamento... E cursos dentro de uma pedagogia terrível, onde as pessoas vão, por necessidade, “aguentar” os profissionais que ministram os cursos, que ensinam e você aprende e repete. Pouco importa se esses cursos trazem algo para vida das pessoas, o que importa é que você faça o discurso adequado. O padre quer assim, o professor ensinou isso e nós vamos repetindo e reproduzindo essas fórmulas. Os Bispos, em Aparecida, nos chamam para uma nova postura e apontam o caminho da iniciação cristã como método e processo catecumenal, onde somos chamados a aprender. O Documento constata que na Igreja muitos agentes atuam sem consciência da sua missão, com a identidade cristã fraca e vulnerável. Isso nos desafia a organizar e imaginar novas formas de aproximação de tantos irmãos e irmãs batizados e não evangelizados. Quando se fala em missão, temos uma preocupação moral, com a doutrina e

não com a pessoa, com o mistério que é dado na nossa relação. Por isso a missão começa a partir de cada um de nós. Não devemos nos preocupar com a diminuição percentual dos católicos, mas sim com o que temos oferecido para os que nos procuram e para a nossa sociedade, que está confusa, cheia de outras referências. A Igreja não é lugar onde se consome, mas onde se faz uma experiência que muda a vida. Na Iniciação Cristã, uma das exigências é a disposição para a conversão, para a mudança de vida. O documento aponta que o processo de iniciação cristã, no modelo do catecumenato, seja assumido em todo continente, como uma maneira ordinária de formação dos discípulos missionários. A Igreja assume uma postura desafiadora que faz repensar a ação pastoral e convida a nos relançarmos em missão. A nossa postura é de acolher aquilo que o Espírito vai apontando através da Igreja. Para concretizar este processo de iniciação em nossa prática catequética, somos ajudados pelo Diretório Nacional de Catequese que aponta para a “catequese por idades”, isto é, a Catequese deve respeitar a idade dos catequizandos; com crianças, conversa de criança; com adolescente, conversa de adolescente; com jovens, conversa de jovens; com adultos, conversa de adultos.


Entrevista

Hoje, o grande desafio que o Diretório aponta é a catequese para adultos, não apenas como uma preparação para o sacramento, mas para um chamado à caminhada da fé. São tantos batizados não evangelizados! A Missão da Igreja é anunciar Jesus, ajudando as pessoas a conhecêLo e a fascinarem-se por Ele e fazer a livre opção por segui-Lo. A primeira missão é o anúncio do querigma: aquele que morreu, está vivo em nosso meio; ressuscitou! O anúncio vai além do discurso, pois é preciso testemunhar o mistério do Cristo vivo para os iniciantes, orientando-os a olhar para a Comunidade, os trabalhos, a realidade, as pessoas e descobrir nas pequenas coisas e nos momentos vivenciados, os sinais de Deus. A missão tem esse grande sentido de despertar a pessoa para algo mais, com profundas implicações para a sua vida. A Conferência de Aparecida suscita atitudes práticas. A primeira é a conversão pessoal. Somos nós os chamados a uma mudança de mentalidade, não nos esquecendo que o cristão é o discípulo que está aprendendo sempre e, portanto, vai fazendo essa transformação da vida. Depois, a renovação de nossas estruturas eclesiais, que também necessitam de uma conv ersão, principalmente as estruturas paroquiais. O documento fala que a Paróquia deve passar por um processo de renovação e reestruturação, para que seja um lugar da experiência da iniciação cristã, um lugar do encontro com Deus. O Documento de Aparecida aponta treze lugares de encontro com o Senhor. O 7º Plano de Pastoral Orgânica é a oportunidade que temos para tentar novas experiências, partilhar, dividir... É preciso arriscar e compartilhar. Ele não é um Plano fechado e delimitado, mas tem as referências que nos ajudam nessa ousadia, na audácia de relançar a ação evangelizadora na Arquidiocese de Campinas. Lembremo-nos sempre que: “Conhecer a Jesus Cristo pela fé é nossa alegria; segui-lo é uma graça, e transmitir este tesouro aos demais é uma tarefa que o Senhor nos confiou ao nos chamar e nos escolher” (DA 18).

Assessoria: A Missão da Igreja sempre foi a de anunciar Jesus Cristo. Qual a diferença para os dias de hoje? Padre Piazza: A missão é exatamente a de Anunciar Jesus Cristo. Porém hoje se redescobre que esse Jesus Cristo que devemos anunciar precisa ser a base e o ponto de partida da nossa ação, que não está reduzida à instituição. O objetivo não é agregar pessoas para o nosso grupo, mas anunciar Jesus para que a Vida, em plenitude, que Ele nos dá, esteja presente na vida das pessoas. Para isso é preciso que nós tenhamos a experiência dessa vida plena. Hoje nós somos uma Igreja cansada, cheia de pessoas que estão buscando outras formas, um pouco no espírito do tempo que vivemos, do individualismo, daquilo que é conveniente, gostoso, interessante, e não uma busca do evangelho. Quando se fala de cruz, ninguém quer. Mas o próprio Jesus disse que quem quiser segui-lo, deve tomar a própria cruz, a cada dia, e segui-lo. A grande diferença e redescoberta do Documento de Aparecida é recolocar essa base, fundamento e ponto de partida. A Missão já não é mais uma tarefa, entre outras, que temos a fazer, mas o nosso próprio ser é missionário. Por isso o discipulado não é apenas uma relação de aprendizado, mas é uma relação de testemunho, de anúncio, de manifestar para os outros a razão da própria esperança, e por isso o discipulado é missionário. Assessoria: Como nós vamos fazer essa mudança, já que vivemos uma pastoral mais de manutenção, de cursos? Padre Piazza: Foi o que os Bispos apontaram em Aparecida, ou seja, retomar o processo da iniciação cristã. Refazer! Inclusive nós! A iniciação cristã não é um processo que foi feito no passado, mas algo que se repete e se renova constantemente em nossa vida. É um processo que nos leva a uma experiência de encontro com o Senhor, uma experiência que não se fecha em uma vivência, mas que está aberta a muitas vivências. Cada momento é oportunidade para uma nova experiência, para um crescimento maior. A fé é um processo permanente de crescimento, de amadurecimento, que nos coloca nessa dinâmica de crescimento permanente; não é algo isolado, acabado e pronto. Então, é retomar, através da iniciação cristã, esse processo de crescimento que não pode ser dado por acabado. O discípulo de Jesus

não é aluno de um curso e a Igreja não é o segmento do Ministério da Educação, que dá curso e depois um certificado, mas é o lugar da experiência permanente de encontro, de aprofundamento do Cristo Senhor para chegarmos, como diz São Paulo, à largura, comprimento, altura e à profundidade do Cristo Senhor (Ef 3,18). Assessoria: Qual é o Jesus Cristo que nós vamos anunciar? Padre Piazza: É aquele de quem fiz uma experiência de encontro que modificou a minha vida. Não anunciamos uma teoria sobre alguém, mas alguém que dá todo o sentido à minha vida. Portanto, a primeira experiência de Jesus é na relação de encontro com a pessoa. Jesus está onde dois ou mais estiverem reunidos em seu nome. Por isso, o anúncio de Jesus parte de uma relação de encontro e isso se dá na comunidade, que vai discernir constantemente o que é e o que não é fiel ao evangelho. A Comunidade se abre para a universalidade da Igreja, que tem o Papa como a visibilidade, o carisma da unidade, da comunhão e da fidelidade ao evangelho. A comunidade não é apenas um agregamento social, mas é essa experiência de comunhão de vida. Por isso é o Jesus que nos leva à comunhão com as pessoas, que não se reduz aos nossos maneirismos e limitações, mas que se abre para a grande comunhão universal. Desse modo, não anuncio o meu Jesus, o seu Jesus, ou outro qualquer, mas aquele que é experimentado pela Igreja como seu Senhor, sua cabeça; aquele que nos congrega e nos envia: “Ide...”.

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Trabalhos em grupos - pergunta 1

Esta pergunta teve como objetivo fazer uma avaliação da implementação do 7º PPO e servir de motivação para todos. As respostas mostram os esforços comuns na implementação do 7º PPO e nos impulsionam com os resultados positivos já obtidos. Foram apresentadas, também, algumas dificuldades. Pontos mais significativos Formação, incluindo a iniciação cristã, com crianças e adultos. Houve menção das Escolas da Fé e a formação nos âmbitos da Paróquia, Forania e Arquidiocese, com agentes já engajados na ação pastoral. Formação foi o item mais apontado como experiência a partilhar. Foi mencionado o esforço para desenvolver o itinerário catequético tendo a paróquia como ponto de referência. A formação deve ser entendida em seu sentido amplo e integral. Outro item bastante mencionado foi a renovação das pastorais e mesmo a criação de outras pastorais e integração entre as pastorais afins como, por exemplo, família e catequese. Um destaque para as pastorais ligadas à administração de Sacramentos com a valorização da Iniciação Cristã. A missão, incluindo visitas e reflexão, teve grande destaque e está sendo desenvolvida. Houve menção específica da metodologia das visitas populares. Quanto às questões relacionadas à família, foi mencionada a necessidade de reestruturação da Pastoral Familiar. Destacou-se também o trabalho com casais de segunda união, com os filhos e mesmo um atendimento às famílias enlutadas. Foi também solicitada uma formação mais aprofundada para o trabalho com as famílias. O acolhimento foi mencionado como item positivo, mas também como dificuldade a ser vencida. Ficou evidenciada a importância de respeito às diferenças e de sair das “portas do Templo” e ir em busca das pessoas. Necessitamos de uma maior formação nesse item. Outro ponto que sobressai é a formação de grupos de vivência e atividades relacionadas à Ação Social. Existe também um trabalho com jovens, embora mencionado poucas vezes. Está também como dificuldade. Houve menção quanto à ação positiva dos Movimentos na implementação do 7º PPO. Uma menção especial ao TLC no acolhimento aos jovens. Foi mencionado também o trabalho dos Pequeninos do Senhor, em várias paróquias. Foi ressaltada a importância da Comunicação, sendo enfatizado o papel dos informativos paroquiais. Também o trabalho feito pela PASCOM tem ajudado principalmente os jovens. A organização do site foi elogiada e a participação em rádios comunitárias. Embora pequena, existe a formação de uma consciência ecológica. Com atividades de reciclagem, existe uma busca de conscientizar as pessoas, sejam da Comunidade ou do bairro. Foi mencionada a Campanha da Fraternidade (CF) que sempre tem ações de abrangência na Sociedade e foi fortalecida com o 7º PPO. Foi lembrada também sua ação além do tempo quaresmal. Uma ajuda foi o trabalho de forma colegiada e a definição de pontos comuns na Forania.

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Já existe uma experiência de caixa único para as finanças, embora seja apenas um começo. A presença das capelanias nos hospitais; os agentes da pastoral da saúde foram citados como fator positivo, mas também como grande dificuldade devido à demanda. Foi mencionado o serviço da Legião de Maria na visita às pessoas enfermas. A participação dos cristãos leigas e leigos e a pastoral da educação foram apontados como pontos muito positivos. Outro item foi a presença da Igreja nas regiões mais distantes, ainda longe do que necessitamos, mas já temos um início. Para a maioria dos participantes o Plano, no geral, está caminhando bem, seja nas paróquias e comunidades como nas Foranias. Dificuldades a serem vencidas Falta de conhecimento do 7º PPO e, portanto, pouca motivação na implantação. Alguns disseram que não veem na Forania os frutos do 7º PPO. Temos resistência e pouca abertura ao novo. Falta de formação para atender às necessidades do acolhimento e da missão. A catequese tem dificuldade na perseverança das crianças após a primeira Eucaristia. É preciso renovar a formação de agentes, ressaltou-se os Ministros da Palavra. Também foi apontada a necessidade de uma reestruturação das paróquias. Existem dificuldades na organização e em ampliar a dimensão do serviço. Foi apontada a dificuldade no relacionamento entre Comunidades e Matriz. Precisamos de uma articulação com os jovens, tanto na Área como nas Pastorais. Dificuldade de continuidade nos trabalhos pastorais, quando o pároco é religioso e é transferido. Indicações e propostas 1. Implantar as sugestões da CF 2011, mudando atitudes da Comunidade em vista do meio ambiente. 2. Buscar uma melhor integração entre as paróquias. Por exemplo, quanto à Administração dos Sacramentos, devese estabelecer normas comuns de preparação dos sacramentos, principalmente na preparação dos noivos. 3. Elaborar Plano de Pastoral Paroquial. Realizar uma reestruturação nas Paróquias e Comunidades. 4. Fortalecer a divulgação do 7ºPPO nas paróquias. 5. Aprofundar um estudo sobre a pastoral urbana. 6. Incentivar os cristãos e cristãs para a formação de uma consciência crítica e o comprometimento com a transformação social. Sugerir participação em projetos e Associações da Sociedade Civil. 7. Publicar os projetos apresentados para a Coordenação Arquidiocesana de Pastoral pelos diferentes segmentos da ação pastoral, favorecendo assim a troca de experiências em todas as ações. 8. A Pastoral Operária fez a sugestão de que toda a igreja lute pelos trabalhadores, nessa realidade de desemprego, sub-emprego e condições precárias de trabalho. Enfatizou a importância da luta pela transformação da Sociedade.


Trabalhos em grupos - pergunta 2

Nesta questão, foram distribuídos os dez temas presentes no 7º PPO, em seus três eixos. Cada tema foi trabalhado por dois grupos. Veja as sínteses dos grupos, com os temas em cada um dos eixos. Eixo Igreja que Acolhe “A Palavra de Deus: o nascer da Comunidade” Destacou-se a importância de acolher e promover a Palavra de Deus, que gera a comunidade e ilumina o diálogo com a sociedade. A Palavra promove o encontro com Jesus, que provoca a conversão, estimula a formação permanente, na vivência da comunhão eclesial, tendo em vista o testemunho do Reino. “Acolher para ser Igreja Povo de Deus” O Acolhimento foi destaque na discussão sobre o ser Igreja, Povo de Deus. É no encontro pessoal com Jesus que se toma a consciência do que é ser Igreja, para ir ao encontro do outro, dando testemunho da alegria do Reino. Para isso, o ser cristão pressupõe preparar-se na oração, caminhar juntos, criando vínculos, tendo compaixão e escutando o próximo. Reconheceuse a graça de ser Igreja acolhedora e testemunhar Jesus Cristo, pois é um despertar para a missão e anúncio da Palavra. “Eucaristia: comunhão com Deus com o próximo e partilha com todos” Sobre a Eucaristia no sentido de comunhão com Deus e com o próximo e partilha com todos, foi levantada a questão sobre o como ela se expressa na prática, já que ela não é o fim da participação, mas é vivência. Sendo um dom, é Pão partilhado e Vida compartilhada, é a Palavra de Deus que se faz carne, partilhada com todos. Foi sugerido que, a partir do 7º PPO, os grupos de reflexão, onde as famílias e comunidades trabalham temas, aprofundem as exigências da Eucaristia. O mesmo se aplica aos grupos de rua, às CEBs, através do trabalho na catequese, liturgia, em mutirões solidários em benefício da sociedade. Os trabalhos da evangelização de adultos têm dado frutos e a dinâmica é crescente, mesmo quando existe uma diferença social econômica. Eixo Igreja que se Renova “Rede de Comunidades, Igreja Comunhão, Partilha” Para consolidar a rede de comunidades eclesiais de comunhão e partilha, foi dada a importância de se retomar a paixão por Jesus Cristo, procurar nele a força para o seguimento na obediência e radicalidade. Assim, é possível uma Igreja que testemunha vivência fraterna e caridade, contra os padrões que o mundo impõe à vida humana. “Missão, Discipulado em uma Igreja toda Ministerial” Para formar uma Igreja toda ministerial, foram lembrados trabalhos que podem colaborar, como a formação intensiva das Escolas da Fé, a Catequese de Adultos com a aplicação do método catecumenal de Iniciação Cristã, a Pastoral Familiar. A experiência de missões poderá ser mais fecunda se puder ser realizada por pequenos grupos. A própria comunidade deve vencer seus obstáculos, buscando o diálogo e integração entre as pastorais, movimentos e foranias. Ao mesmo tempo que forma seus multiplicadores, ela se apresenta como indicadora de caminhos; daí a importância de ser acolhedora, de promover o sentido de entrega e formar agentes para o anúncio do Evangelho.

“Formação, Itinerário Catequético: uma nova atitude” Sobre uma nova atitude diante da formação, entendida como itinerário catequético, foi colocada a pessoa de Jesus como ponto de partida, no diálogo com a diversidade de linguagens. Foi frisada a importância de investimento na formação, partilhando as experiências e mantendo os agentes motivados, testemunhos da alegria do Reino de Deus. “Comunicação: realidade e desafios” A pessoa de Jesus é a referência para a Comunicação. Ele é o comunicador do Pai e envia a Igreja para anunciar a Boa Notícia do Reino. Assim, a Comunicação é missão da Igreja. É importante comunicar com a linguagem que contemple todas as realidades, valorizando o diálogo como uma das melhores expressões de comunicação. Foi destacada a importância da Pastoral Familiar, como “eixo transversal” de evangelização permanente e a necessidade de se implantar e valorizar a Pastoral da Comunicação Paroquial como instrumento de evangelização. Eixo Igreja do Serviço Solidário “Pobres: Opção Evangélica e Solidária da Igreja” A Comunidade é convocada para ir ao encontro e acolher as pessoas, sensibilizando-se com o sofrimento do outro, ter compaixão com os presos, dependentes químicos, pessoas com deficiências, mulheres, migrantes, pessoas em situação de rua. Foi lembrada a fragilidade das políticas públicas e reconhecida a importância da parceria da Igreja no atendimento aos necessitados. A vivência do Plano de Pastoral deve motivar a participação efetiva na transformação da sociedade, na saúde, educação, cultura, conselhos municipais, etc. A Comunidade deve ter no seu calendário ações de inclusão dos sofredores. Cabe a ela motivar a criação de Grupos de Vivência, Grupos de Fé e Política, Pastorais Sociais em vista da transformação social. Foi dada também a importância da conscientização sobre a realidade social e política. Foi lembrado do cuidado que se deve às homilias, para que contribuam para uma conversão pessoal e de ação pastoral, propondo ações concretas para viver a opção evangélica e preferencial pelos pobres. “Ecologia: Vivência, Educação, Profecia” O tema foi reconhecido como um olhar alargado de fé da Igreja sobre o mundo, a partir do encontro com Jesus. No diaa-dia, pequenas ações para promover a Ecologia e, com maior abragência, a conscientização e condições para a participação em conferências, assembleias, votações, conselhos e demais manifestações. Que se divulguem as leis sobre o Meio Ambiente e Ecologia. É necessário promover coleta seletiva de lixo e de óleo, limpeza dos córregos, visitas monitoradas, utilização de materiais recicláveis e divulgação das cooperativas. “Misericórdia: Vida em abundância para todos, em especial as situações de sofrimento” O tema trouxe sugestões de ações para que haja vida para todos, em especial aos que sofrem. O ponto de partida é Jesus que assumiu nossas dores e desperta o “ser samaritano”, fazendose missionário, saindo ao encontro do outro, na atenção às famílias, na presença misericordiosa de escuta e de generosidade junto aos que sofrem. Foi lembrado o sofrimento provocado pelas drogas e o dos encarcerados e a necessidade de maior presença da Pastoral Carcerária. Esta busca de defesa, promoção e testemunho de vida deve acontecer no diálogo inter-religioso.

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Miniplenários

As propostas apresentadas pelos secretários dos miniplenários foram ricas de conteúdo e desafios a serem superados. Para esta publicação, obedecemos como método a divisão entre os três grandes eixos de evangelização do 7º Plano de Pastoral Orgânica. Igreja que Acolhe A Igreja de Campinas se compromete em promover a partilha da Palavra a partir da vida comunitária e do encontro pessoal com Jesus Cristo, sendo testemunho da comunhão fraterna e solidária. Igreja que de Renova Abastecidos em Cristo, através de uma contínua experiência cristã, somos convidados a ser uma Igreja missionária e testemunhal, anunciando Jesus e sua missão salvífica, a partir de uma contínua conversão pessoal e pastoral. Com o exemplo das primeiras comunidades, poderemos nos empenhar em renovar a comunidade, seguindo os valores evangélicos, para sermos um povo em constante missão no mundo. A Evangelização deve ser reflexo da unidade eclesial em prol da construção do Reino. O Missionário não pode se acomodar com as exigências do mundo, mas ser “fermento na massa”, testemunho a partir do dom que Deus ofereceu a cada um. Devemos estabelecer e fortalecer vínculos com os “batizados não evangelizados”, preparando os agentes de pastoral para esta árdua “missão dialética”, partilhar recursos humanos e testemunhar o aprendizado de verdadeiros discípulos do Mestre. A alegria manifestada na comunidade que celebra a Palavra de Deus e partilha o pão da Eucaristia está relacionada diretamente com o compromisso da construção do Reino, através de uma pastoral catequética e missionária atenta à realidade de cada comunidade e aberta ao diálogo entre ministros ordenados e agentes de pastoral. Somos convocados a assumir a missão evangelizadora, condição fundamental para guardar e reviver os frutos do Espírito em nossas comunidades. Isto animou a Igreja em seu nascimento e em todos os momentos de sua caminhada histórica. Para isso é importante valorizar a formação contínua, visando o empenho no diálogo e comunhão. Uma Igreja toda missionária, que leva a Palavra de Deus, principalmente aos que ainda não tiveram o encontro pessoal com Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, contará com uma Pastoral da Comunicação como

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instrumento necessário para ouvir e comunicar o Evangelho, priorizando o diálogo dos diferentes grupos, realidades e formas de discussão presentes em nossos dias. Valorizar cada vez mais a Pastoral Familiar será o grande desafio para enfrentar o relativismo e o individualismo presentes na sociedade, de modo especial no campo da moral, criando uma cultura de valorização da vida. Portanto, é necessário cada vez mais uma conversão pessoal e eclesial, buscando uma Igreja que esteja em constante renovação das estruturas, para incentivar a missão, superando uma visão só geográfica da evangelização. Igreja do Serviço Solidário 1. Opção evangélica e preferencial pelos pobres. Os pobres são sujeitos históricos e eclesiais que contribuem para a transformação da sociedade e da Igreja (Puebla). Nossa Igreja particular deve valorizar a formação de grupos de vivência que se organizem na transformação da sociedade, participando das lutas por políticas públicas através dos conselhos de cidadania, como saúde, educação, moradia, transporte e cultura. Devemos motivar a criação de grupos de Fé e Política em vista de formar cristãos para atuar na transformação social e fortalecer as pastorais sociais através da área sócio-transformadora, como meta para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Os ministros ordenados e extraordinários da Palavra devem cuidar para que as homilias contribuam com uma sensibilização para com o sofrimento dos outros: presidiários, dependentes químicos, pessoas com deficiência, mulheres marginalizadas, migrantes e pessoas em situação de rua, jovens, etc. A formação dos estudantes de filosofia e teologia deve estar atenta à realidade em que vivemos para que possam se preparar melhor para o exercício do ministério ordenado. 2. Ecologia: vivência, educação, profecia. A preservação da vida em todos os meios é prioridade de nossa Igreja e, para tal, firmamos o compromisso de educar na linha da consciência ecológica e planetária na catequese, nas escolas, nos grupos de pastoral e de base. São importantes ações nesse processo de educação ambiental, como visitas monitoradas às Estações de Tratamento de

Água e Esgoto para se conhecer e entender a real necessidade de evitar o desperdício da água, bem mais precioso que Deus nos deu. Todos os cristãos devem estar atentos à criação de projetos que promovam a coleta seletiva nos condomínios, nos prédios, nas ruas, assim como a coleta do óleo. Também será importante incentivar projetos maiores como a limpeza dos córregos e preservação de matas ciliares. Como povo de Deus no mundo, construindo a civilização do amor já aqui em nossa querida Mãe Terra, devemos nos comprometer com políticas públicas que promovam a vida em todos os níveis e apóiem a edificação e preservação de toda a Obra criada por Deus. Assim poderemos conhecer e divulgar as leis sobre a ecologia e preservação da vida, como as leis sobre resíduos sólidos e tóxicos (baterias, componentes dos computadores), criando uma alternativa social e pastoral para cada problema como a criação de cooperativas de reciclagem. Misericórdia: vida em abundância para todos, em especial nas situações de sofrimento A opção preferencial pelos pobres nos impulsiona a procurar caminhos novos e criativos, afim de responder aos efeitos da pobreza. Todo cristão deve despertar para a generosidade e a compaixão junto àqueles que sofrem, na linha da construção de uma Igreja Samaritana. Será preciso promover o diálogo ecumênico e inter-religioso, através de ações conjuntas com outras Igrejas e Religiões, que trabalham no atendimento aos excluídos, principalmente na promoção humana em diversos níveis. Outras questões Ao final da apresentação dos miniplenários, foram apresentadas algumas questões que exigiam respostas. Sobre a divulgação do material produzido no processo de elaboração do 7º PPO, foi lembrado que todo o conteúdo já havia sido apresentado em encontros anteriores e disponibilizado no site da Arquidiocese. Sobre a necessidade de se buscar projetos comuns, diferentemente de como está elaborado o Plano, foi explicado que o Plano, como se encontra, é fruto da metodologia participativa assumida desde o início do processo de elaboração. Sobre a destinação da coleta da Campanha da Fraternidade, a sugestão foi encaminhada para a Comissão Arquidiocesana da CF.


Síntese final

T

endo como material as sínteses dos miniplenários, tentamos fazer uma correlação com aquilo que está contemplado no 7º Plano de Pastoral, na tentativa de ajudar na compreensão do nosso t rabalho com os aspectos que fortalecem a nossa caminhada. É importante termos claro que esse encontro foi pensado com o objetivo de aprofundar e compartilhar as nossas experiências na vivência do nosso plano de pastoral, neste período da sua vigência, em vista do fortalecimento da caminhada. Aparecem algumas indicações que se incorporam e fortalecem a implementação do plano. Por isso, todo o material produzido nesse encontro será enviado para equipe dinamizadora como para a Coordenação Colegiada de Pastoral para o encaminhamento da maneira adequada. Também é importante destacar que, desde o início da elaboração do 7º PPO, optamos por não publicar os diversos projetos. O plano seria, como elaboramos, mais sucinto, com as indicações para que cada organismo, cada segmento da nossa Igreja, elaborasse seu próprio plano de trabalho. Destaco alguns pontos importantes das contribuições desse encontro. A Igreja em estado permanente de missão. A missionariedade é pressuposto fundamental do processo de conversão, que deve ser pessoal, pastoral e eclesial.

Sem esse pressuposto não transformamos as nossas estruturas e a nossa ação. O nosso grande desafio é a renovação eclesial. A pastoral deve ser marcada, acima de tudo, pela busca do outro, pela imersão nesta realidade em processo acelerado de mudanças. Nós não podemos desconsiderar no modo de fazer o nosso trabalho e na nossa ação evangelizadora. A Paróquia é ponto de força e lugar onde as ações se concretizam, pois é o lugar onde vivemos. A nossa vida eclesial, em sua grande maioria, está enraizada nessa experiência paroquial. Aqui temos um grande clamor e exigência de mudança. A proposta de Paróquias como Rede de Comunidades deve ser algo a ser assumido e concretizado, a partir de ações para que a nossa vivência se aproxime cada dia mais deste projeto. Neste sentido, nós precisamos nos libertar do conceito jurídico e territorial das Paróquias, que são convocadas a serem espaços de vivência da fé, centros irradiadores da vida, local privilegiado de se fazer o encontro com o Senhor e escola da comunhão. São chamadas a ser, também, espaços de iniciação cristã e formação na linha do discipulado e da celebração da fé. Devem ser comunidades abertas à diversidade de carismas, serviços e ministérios. A partir dessa experiência do discipulado é que nós chegamos à

missionariedade, saindo da comunidade para o testemunho no mundo. A ministerialidade é fundamental para que esta compreensão seja assimilada entre nós. As Comunidades, organizadas de forma participativa e corresponsável, são integradoras das novas formas de vivência da fé, os movimentos e as novas comunidades, abertas à diversidade cultural e aos projetos supra paroquiais, atentas ao diálogo com a sociedade e estabelecendo parcerias. Nesse contexto, ganha realce a temática da comunicação. Nosso processo deve alinhar o uso profissional dos meios com a mística cristã, a reflexão crítica solidária e a transmissão, não apenas a comunicação da lógica do evangelho. A renovação eclesial implica em assumir e estimular a ministerialidade. Desta questão surge a necessidade de uma formação, a partir do encontro com Cristo, aberta ao diálogo, que desperte para a valorização da vida: a dimensão humana, a cidadania, a inserção política, o diálogo ecumênico e interreligioso e a consciência ecológica. Nós temos feito um grande esforço para adequar os espaços de formação que nós temos. Principalmente as escolas de formação teológica pastoral das nossas foranias, para que o conteúdo, a formação ali apresentadas, se aproxime cada vez mais desse desejo, que foi manifestado neste encontro. Nós estamos fazendo um trabalho com uma comissão, para reformular o projeto das escolas e, também, para programar as escolas da fé nas nossas paróquias. É importante enfatizar que, muitas vezes, uma comissão trabalha meses, em reuniões desgastantes, para apresentar um projeto com as devidas orientações e, depois, ninguém se orienta por aquele projeto e continua fazendo como fazia antes ou a partir da experiência pessoal. Por isso, diante da compreensão de uma igreja em estado permanente de missão, há a necessidade de uma conversão profunda. Se nós não mudarmos esta forma de agir, por uma forma mais participativa nas decisões, acabamos fazendo somente aquilo que desejamos e que nos convém. É lógico que não existe Igreja sem comunhão, que ninguém é Igreja sozinho, por isso

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nosso Plano de Pastoral foi elaborado a partir da participação de todos. E após a Assembleia realizada em 07 de novembro de 2009, quando aprovamos o plano, deixou de existir o “se eu quero, eu faço”, passando a ser a nossa orientação, que garante a unidade e a comunhão e a organicidade dos nossos trabalhos na Igreja de Campinas. Quero destacar, também, a questão da espiritualidade bíblico-litúrgica, que gera a comunidade acolhedora. A comunidade nasce e se alimenta da Palavra de Deus e tem como voz da Palavra, a Revelação, aquilo que Deus fala para o seu povo. A Palavra nos dá a conhecer o próprio Cristo, que nos mostra como vivê-la. A Igreja é a casa ou o lugar da Palavra e da sua experiência, que ajuda a concretizá-la na nossa vida e que nos leva a uma ação. A Palavra de Deus nos envolve através do ensinamento, do conhecimento, do aprofundamento e, depois, na experiência da fração do pão na Eucaristia, exige o compromisso com aquilo que celebramos. A oração é fundamental. No início do nosso Encontro, na homenagem que fizemos a Dom Bruno, citamos uma palavra da sua Carta Pastoral, que eu considero o “testamento pastoral” do Pastor que marcou a nossa vida, quando ele disse que “sem oração o esforço pastoral se perde”. É preciso irrigar toda esta experiência, que nós chamamos pastoral, com a experiência da oração. Nós somos homens e mulheres que rezam, que buscam enriquecer a própria vida com esta Palavra revelada, a partir de Jesus Cristo que nos dá conhece-la e da experiência do lugar da Palavra, que é a Igreja, a Comunidade, que vai nos levar à comunhão fraterna e, a partir desta experiência, nos impulsiona na missão. A comunidade, alimentada pela Palavra e pela Eucaristia, é acolhedora. A afirmação do recomeçar a partir de Jesus Cristo, em uma igreja comunitária e de comunidades, aponta para uma espiritualidade de comunhão e participação, comprometida com a vida em todas as suas instâncias. O serviço solidário como testemunho, na evangélica opção preferencial pelos pobres, é expressão viva e completa da espiritualidade da comunhão, da vivência comunitária da fé e da prática da caridade e do amor. O amor que encontra na caridade sua expressão maior. Ela não pode de forma nenhuma ficar em um plano teórico e emotivo e nem estar somente sob a responsabilidade das Pastorais Sociais. Não é algo que a gente delega

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para um grupo faze r, mas é compromisso de todos. É claro que têm pessoas e serviços organizados que a concretizam, mas, torno a reforçar, é compromisso de toda a Igreja de Campinas, que sempre abraçou esta questão e que vem nos iluminando e nos orientando na caminhada. Podemos destacar, também, do testamento pastoral de Dom Bruno, a sua palavra que nos diz que nós precisamos colocar o tesouro dessa Igreja, material e humano, de conhecimento e os recursos que temos, o nosso compromisso, a serviço dos pobres, dos que estão cada dia mais excluídos do nosso meio. Esse caminho está claro para nós. São sujeitos que nos ajudam a compreender cada dia mais aquilo que Jesus apontou para nós. Quem não acredita nisso não compreendeu o que Jesus ensinou e não fez a caminhada da nossa Igreja, porque na nossa caminhada é impossível não compreender isso. Uma Igreja servidora é capaz de transformar realidades, de aliviar sofrimentos e de fazer emergir o projeto de Jesus na sociedade. Se nós somos capazes de fazer emergir esse projeto, evidentemente nós vamos provocar transformações na sociedade. É impossível que esse fermento, tão bom como é e que nós acreditamos, não provoque transformações através de pessoas transformadas e conscientes da sua missão na sociedade. Queremos reafirmar a opção preferencial pelos pobres como compromisso da Arquidiocese e valorizar as Pastorais Sociais, que nos ajudam a concretizar essa opção. Somos chamados a ser uma igreja misericordiosa. Alguém neste encontro usou como exemplo o fato de que muitas vezes nós vamos a alguma reunião e passamos por uma situação de pobreza ou necessidade e, na reunião, nós tratamos de tantas coisas, mas aquela situação não nos sensibiliza. Nem sempre nós conversamos sobre isso nos nossos espaços de decisão, de encaminhamentos, de partilha. E qual a razão disso? Qual a razão pela qual o sacerdote e o levita não pararam para socorrer o homem à beira da estrada? Porque não quiseram ver. Quando a gente

atravessa de calçada é porque não quer enfrentar e acolher aquela pessoa com o coração, porque se eu acolher eu tenho que dizer, minimamente, bom dia, dar abertura, estabelecer um diálogo, estar disposto ao serviço. Então, a primeira atitude é de uma igreja misericordiosa, que deixa tocar o seu coração pela necessidade. É uma igreja samaritana, porque, além da misericórdia, ela precisa ter braços, precisa interromper o seu caminho, descer do cavalo, colocar os seus recursos a serviço. O Samaritano fez isso. Apesar de estar trabalhando, fazendo alguma coisa, assim como os outros também estavam, ele parou, desceu, curou, investiu e continuou cuidando. A nossa Igreja precisa ter, então, coração, braços, atitude e ser, verdadeiramente, profética. Porque aquilo o que ela sente e faz tem que soar como o seu anúncio, o seu testemunho. Ela tem que contribuir para uma formação humana que acredita na força do amor, do evangelho, muito mais do que na força do poder, do dinheiro, desta lógica que nos assombra. E nós acreditamos nisso. Deve ser uma igreja libertadora, em ação permanente, que cura, acolhe, impede e restaura a dignidade humana, repetindo, na história, a ação de Jesus, que atende, cura, liberta e expulsa do nosso meio os muitos espíritos impuros, que às vezes montam espaços grandiosos, mesmo dentro nós, e que precisam ser eliminados. E o cuidado com o nosso mundo, com a consciência da ecologia, reconhecendo em tudo o sinal de amor criador, amando a criação. Somos chamados a garantir uma formação que nos ajude a cuidar e a gerar novos comportamentos, valorizando iniciativas de preservação ambiental e campanhas de mobilização nesta direção. Também o apoio aos trabalhos de reciclagem, em especial às cooperativas, porque o trabalho que se realiza é importante e a forma como este trabalho se organiza é o motivo de acreditarmos na força das cooperativas. Cabe a nós pedir a força para que a gente continue fazendo este nosso trabalho.


Avaliação final

A Avaliação é o esforço permanente de um olhar que procura voltar-se para a realidade no sentido de vê-la com clareza, profundidade e abrangência. Num trabalho de avaliação busca-se estabelecer um questionamento contínuo de todos os elementos envolvidos no processo avaliativo, procurando, revendo e ampliando seu significado. Avaliar pressupõe definir princípios e parâmetros em função dos objetivos que se pretende alcançar, verificar constantemente a caminhada de forma crítica, levando em conta todos os elementos envolvidos. O 7º Plano de Pastoral Orgânica, no eixo da Igreja que se Renova, valoriza e destaca a metodologia do planejamento participativo e a cultura de avaliação dos processos: “Somos uma Igreja em contínuo processo de conversão. Por isso há uma necessidade constante de avaliar para crescer. A avaliação antes, durante e depois da ação pastoral ajuda a verificar se os objetivos foram alcançados. Contribui para o aprimoramento dos processos, aprofundando o que deu certo, aproveitando as descobertas feitas durante o trabalho e identificado erros para que não sejam repetidos. Somos chamados a vivenciar uma mudança radical de mentalidade, que nos leve a abandonar o amadorismo e a improvisação das nossas atividades. Essa nova concepção pastoral nos ajudará a sair de uma cultura de

eventos para uma cultura de processos e estabelece como um de seus objetivos. “Dar uma atenção especial aos momentos de avaliação” (7º PPO, pg. 27). No Encontro Arquidiocesano os participantes foram convidados a avaliar o Encontro quanto à clareza dos objetivos previstos, quanto à metodologia proposta para o trabalho e quanto à organização do Encontro como um todo. Para tanto lhes foi solicitado que destacassem os aspectos positivos (que bom), as dificuldades encontradas (que pena) e que apresentassem sugestões (que tal) para o aprimoramento de futuros encontros e de nossos processos de trabalho. Deste Encontro participaram cerca de 300 pessoas, 127 das quais contribuíram com suas avaliações. De um modo geral as pessoas indicaram muito mais aspectos positivos do que dificuldades encontradas. A clareza dos objetivos, a metodologia proposta, a organização do encontro como um todo, os assessores, os momentos de espiritualidade e celebração, as dinâmicas vivenciais propostas estiveram dentre os aspectos melhor avaliados por um grande número de participantes. O local de realização do Encontro, a acolhida, a alimentação foram apontados como significativo s . Também mereceram destaque a participação de todos, o cuidado com a ornamentação e arranjos, bem como

a organização dos participantes nas refeições, a exibição do filme “Homens e Deuses”, o reencontro de muitas pessoas e a equipe de música. Dentre as dificuldades apontadas, a de maior destaque foi a falta de clareza percebida nos miniplenários e o pouco tempo para os assessores. Outros aspectos relacionados à pouca presença de padres, à dificuldade para interpretar e implantar o 7º PPO, a falta de material concreto para levar às Paróquias e a ausência de momentos de silêncio durante as orações foram indicados. A organização das pessoas nas refeições foi apontada como uma dificuldade por alguns participantes. Com relação às sugestões, a indicação do uso da Tecnologia como elemento facilitador e favorecedor de uma maior participação foi expressiva. Outros aspectos sugeridos foram: disponibilização de material das assessorias durante o Encontro, ou o envio de material por e-mail, bem como a divulgação do material relativo ao Encontro e de outros projetos do 7º Plano de Pastoral Orgânica. Para as pessoas que participaram do Encontro em Itaici pela primeira vez foi feita a sugestão de uma maior orientação sobre o funcionamento e outras informações a respeito da “casa”. A organização de uma Festa de confraternização também foi apontada como facilitadora de maior entrosamento e integração entre os participantes.

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ENCONTRO

Rua Lumen Christi, 02 - Jd. das Paineiras 13092-320 - Campinas - SP Telefone: (19) 3794.4605 E-mail: asscom@arquidiocesecampinas.com

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