A memória histórica do legado religioso, cultural e social de Dom João Nery

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A MEMÓRIA HISTÓRICA DO LEGADO RELIGIOSO, CULTURAL E SOCIAL DE DOM JOÃO NERY, NO SESQUICENTENÁRIO DE SEU NASCIMENTO (1863-2013).

Prezado Sr. Dr. Agostinho Toffoli Tavolaro, na pessoa do qual saúdo todos os imortais desta renomada Academia Campinense de Letras, Reverendíssimo Cônego Álvaro Augusto Ambiel, Pároco da Catedral Metropolitana de Campinas e, nesta sessão solene, representante do Excelentíssimo e Reverendíssimo Sr. Dom Airton José dos Santos, Arcebispo Metropolitano de Campinas, senhoras e senhores aqui presentes. Neste ano comemora-se o sesquicentenário do nascimento de Dom João Batista Corrêa Nery (1863-2013) que foi, sucessivamente, primeiro bispo das Dioceses do Espírito Santo, Pouso Alegre e Campinas, sua cidade natal. Esta é a razão que nos traz à sede da Academia Campinense de Letras que perpetua em uma de suas cadeiras a memória do supracitado Prelado campineiro. Não sinto-me à altura de proferir um discurso elogioso à memória ímpar do grande bispo orador Dom João Batista Corrêa Nery nesta ocasião festiva. Sinto-me, outrossim, no dever de modestamente contribuir com a conservação da memória histórica concernente ao legado deste bispo historiador. Pelas presentes palavras, nem de longe me aproximo de seu brilhantismo retórico, mas pelo procedimento que encetei ao redigir este texto com as fontes, sinto-me de algum modo coerente com o que ele inúmeras vezes foi chamado a realizar em relação a importantes personalidades de nossa história. Que o digam o Padre Antonio Diogo Feijó e o Imperador Dom Pedro II que foram alvos de homenagens por ele prestadas. As que seguem são palavras que, desse modo, esboçando a linha biográfica do Bispo Dom Nery, querem destacar alguns dos traços de sua personalidade e seu contexto, a partir das fontes históricas possíveis de serem consultadas nos Arquivos eclesiásticos, mormente o Arquivo Secreto Vaticano (ASV), o Arquivo da Secretaria de Estado da Santa Sé – fundo da Congregação para os Negócios Eclesiásticos Extraordinários (AA. EE. SS.), o Arquivo da Cúria Metropolitana de Campinas (ACMC) e o Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo (ACMSP). Um discurso de gênero biográfico, com base na documentação de arquivo, para estimular a pesquisa futura e a produção de uma historiografia que esteja à altura de personagens de nossa história – como é o caso de Dom João Nery – e em torno dos quais ainda quase nada se produziu, eis meu intento nesta noite. Ou pretensão? Peço escusas antecipadas aos que assim me julgarem. Mas, antes ainda de debruçar-me sobre a figura de nosso homenageado, permitam-me duas breves considerações de caráter metodológico para a historiografia em geral, fundamentais no meu


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ponto de vista: uma sobre a pertinência do gênero biográfico e outra sobre a importância das fontes arquivísticas. Muitos há que afirmam ser em nossos dias o gênero biográfico obsoleto no conjunto da produção historiográfica. Evidentemente que o modelo positivista de uma histoire événementiel, que registra elencos de datas, nomes e fatos, foi superada, sobretudo depois dos anos 30 do século passado, graças à nouvelle histoire, escola francesa que remonta aos nomes Marc Block, Lucien Febvre, Fernand Braudel e, para citar um historiador contemporâneo, Jacques Le Goff. Este último, a propósito de biografias, afirma em duas de suas inúmeras obras – uma dedicada a Francisco de Assis e outra a Luís IX de França – que uma personagem “globaliza” de modo marcante uma soma de fenômenos de natureza diversa: Habituado por minha formação de historiador a tentar uma história global, fui rapidamente tocado pela exigência da biografia, a fazer da personagem em questão (...) um sujeito “globalizante” em torno do qual se organiza todo o campo da pesquisa. Ora, que objeto, mais e melhor que uma personagem, cristaliza em torno de si o conjunto de seu meio e o conjunto dos domínios que o historiador traça no campo do saber histórico?1

Nessa perspectiva, a biografia presta-se à compreensão de inteiros contextos históricos. A história do Brasil conhece grande nomes do episcopado que consagraram em suas trajetórias os traços marcantes de nossa identidade religiosa, social, política, cultural, desde o primeiro que pisou nossas terras – Dom Pedro Fernandes Sardinha, primeiro bispo da Diocese Primaz do Brasil, São Salvador da Bahia – passando por outros nomes significativos como Dom Antonio de Macedo Costa, Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti, Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra, Dom Helder Pessoa Câmara, Dom Luciano Mendes de Almeida, para citar somente alguns.

E como falar do contexto de Campinas na

passagem do século XIX para o século XX, em sentido global, sem qualquer referência também a Dom João Nery? Estudar sua vida é estudar sua época. O segundo aspecto metodológico que desejo destacar é a urgência, entre nós, da escritura da História através das fontes e para tal, é imprescindível a organização de nossos arquivos, inclusos aqueles eclesiásticos e a edição crítica de fontes. A história se faz com os documentos, afirma o historiador francês Henri-Irénée Marrou. Estes são como que rastros dos fatos humanos que o espaço e o tempo fez calar. Recuperar tais vestígios do passado, saber lê-los e interpretá-los no presente, evitando-se, o quanto possível, anacronismos, é a primeira e mais grave exigência técnica !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 1

Le Goff, J. Sao Luis. Biografia. Rio de Janeiro, Record 1999, p. 21.


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que pesa sobre a produção da história2. Além disso, do ponto de vista cristão, pode-se falar de um sentido da história e de sua importância em função da entrada do próprio Deus no espaço e no tempo, máxime com a Encarnação de seu Filho Jesus Cristo. Sendo assim, as fontes para a história cristã são permeadas, em um certo sentido, de transcendência. Mas permitam-me tal ousadia de afirmação citando as palavras do Papa Paulo VI, especialmente dirigidas aos arquivistas eclesiásticos, em 1963: (...) a cultura histórica é necessária, parte do gênio, da índole, da necessidade, da própria vida católica, a qual possui uma tradição, é coerente e efetua nos séculos um desígnio e, bem se pode dizer, um mistério. É Cristo que atua no tempo e que escreve, precisamente Ele, a sua história, de maneira que os nossos pedaços de papel são ecos e vestígios desta passagem da Igreja, ou melhor, da passagem do Senhor Jesus no mundo. E eis que, então, o ter o culto destes papéis, dos documentos, dos arquivos, quer dizer, por repercussão, ter o culto de Cristo, ter o sentido da Igreja, dar a nós mesmos e dar a quem vier a história da passagem desta fase do transitus Domini no mundo3.

O gênero de documentação utilizado para a elaboração deste texto que profiro na presente ocasião é variado, consistindo fundamentalmente em cartas trocadas entre bispos brasileiros e a Nunciatura Apostólica no Brasil, e também desta última com os organismos da Santa Sé, sobretudo a Secretaria de Estado, A Congregação Consistorial (atual Congregação para os Bispos) e a Congregação dos Negócios Eclesiásticos Extraordinários. O processo que culminou no episcopado de Dom João Nery e relatórios de visitas Ad Limina também foram fonte de importantes informações. Por fim, os textos de autoria do Prelado em questão que foram publicados, como as cartas pastorais e outros discursos, representam material imprescindível para o escopo aqui intentado. Debrucemo-nos, pois, sobre a vida de Dom João Batista Correa Nery deixando que os documentos mesmos nos falem de sua história, de seu contexto que são, igualmente, a história e o contexto de uma consolidação da Igreja Católica nas três dioceses já citadas e no Brasil de modo abrangente, no arco cronológico que vai de 1863 a 1920. O que segue, permitam-me frisar, é um vade mecum das fontes importantes para uma futura historiografia em torno da figura do Prelado Campineiro. Filho de Benedicto Corrêa de Moraes e de Maria do Carmo Nery, João Batista Corrêa Nery nasceu em 6 de outubro de 1863, na Rua Conceição, antiga Rua Formosa, em Campinas. A família era humilde; seu pai exercia o ofício de sapateiro. Foi batizado no dia 15 de outubro do mesmo ano, !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 2

MARROU, H-I. La conoscenza storica. Bologna, il Mulino 1988, p. 59.

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Paulo VI, Alocução aos Arquivistas Eclesiásticos (26 de setembro de 1963).


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como se atesta do registro: “Aos dias quinze de outubro de mil oitocentos e sessenta e três, nesta Matriz de Campinas, baptizei e puz os Santos Óleos a João de idade de nove dias, filho legítimo de Benedicto Corrêa de Moraes e Maria do Carmo Nery. Padrinhos: Manoel Benedicto Corrêa e Maria Tereza de Moraes, todos desta Parochia. O Coadjutor Vigário interino, Sabato Antonio Deluca.”4 Fez seus estudos na cidade natal, no colégio Culto à Ciência, auxiliado pelo Dr. Ricardo Gumbleton Daunt e pelo Dr. Campos Sales. Foi coroinha do Vigário de Nossa Senhora da Conceição, o Padre Joaquim José Vieira, especialmente na Capela da Santa Casa de Misericórdia de Campinas que dito vigário fizera construir. Nos tempos de sua formação manifestou sua aptidão pelas artes cênicas e, juntamente com alguns colegas, fundou uma companhia de teatro chamada “Ravenna Dramática”. Na idade de dezessete anos escreveu o drama “Pai e Filho” em parceria com Gomes Pinto, e a peça foi apresentada pela primeira vez em 14 de agosto de 1880 no antigo teatro São Carlos. A sensibilidade artística, especialmente a arte dos palcos, o distinguiu durante toda a vida e fez dele um grande orador sacro. Mas não foi a carreira dos palcos que ele desejou percorrer. Decidiu entrar para o seminário diocesano de São Paulo5 e assim o fez, aos dezessete anos de idade, em 4 de outubro de 1880. Vale destacar que durante os estudos que o levaram ao sacerdócio, conduzia a Igreja, o Papa Leão XIII, conhecido pelo seu magistério social. Deu-se sua ordenação sacerdotal pela imposição das mãos de Dom Lino Deodato Rodrigues de Carvalho, então Bispo de São Paulo, em 11 de abril de 18866. Após lecionar no Seminário por alguns poucos meses, foi nomeado Vigário Colado, de conformidade com o sistema de Padroado então vigente, por rubrica de Sua Alteza a Princesa Imperial Regente (Princesa Isabel), da Matriz Velha, que nessa época era igreja paroquial de Nossa Senhora do Carmo de Santa Cruz (atual Paróquia Nossa Senhora do Carmo, berço religioso da cidade7) onde permaneceu de 1887 a 18948. Em 27 de setembro de 1889, foi nomeado Cônego Honorário do Cabido Diocesano de São Paulo, às !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 4

ACMC. Livro de assentamentos de Baptismo da Parochia de Nossa Senhora da Conceição de Campinas, N° 9, fl. 139.

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Fundado por Dom Antonio Joaquim de Melo em 9 de novembro de 1856, localizava-se na Avenida Tiradentes,

próximo dos trilhos da Estrada de Ferro São Paulo Railway Company que ligava Santos a Jundiaí e à qual pertencia a estação da Luz. 6

Città del Vaticano, ASV, Arch. Nunz. Brasile, b. 80, fasc. 390, ff. 59v-61r. Nas mesmas folhas encontram-se os

resultados do processo De genere et moribus. 7

Importante recordar que até o ano de 1870 a Matriz da primeira paróquia de Campinas (Nossa Senhora da Conceição)

foi a chamada Matriz Velha, atual igreja de Nossa Senhora do Carmo. Em 1870 foi criada a paróquia de Nossa Senhora do Carmo de Santa Cruz na Matriz Velha e a Matriz Nova (atual Catedral Metropolitana de Campinas), em processo de construção, passou a sediar a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição. Cf. MARTINS, J. P. Basílica do Carmo. História de fé no coração de Campinas. Campinas, Komedi 2010. pp. 68-82. 8

Città del Vaticano, ASV, Arch. Nunz. Brasile, b. 80, fasc. 390, ff. 62v-65v.


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vésperas do fim do Império e conseqüentemente, do Padroado, no Brasil9. Em 1894 foi nomeado também Vigário Colado da Paróquia de Nossa Senhora da Conceição substituindo o provecto vigário Cônego Cipião Ferreira Goulart. Na última década do século XIX, Campinas fora assolada pela febre amarela e os referidos padres empenharam-se pelo amparo dos órfãos da terrível epidemia que colocou de joelhos a “Princesa d’Oeste”. Coube à sensibilidade do Cônego Nery a realização de um estabelecimento para abrigar os órfãos e educá-los. Nasceu assim, de seu ímpeto caritativo, coadjuvado pela sra. Maria Umbelina Alves Couto, o Liceu de Artes e Ofícios, posteriormente confiado aos cuidados dos Padres Salesianos. Importante trabalho realizou o Cônego Nery em Campinas com a criação de uma “escola de acólitos” que visava educar meninos da paróquia e prepará-los igualmente para o seminário. Dentre os alunos destacaram-se importantes nomes nas fileiras do clero: Francisco de Campos Barreto, Joaquim Mamede da Silva Leite, Otavio Chagas de Miranda, Samuel Fragoso, Oscar Sampaio, João Martins Ladeira e José Ladeira. Destes, os três primeiros tronaram-se bispos e o primeiro tornou-se seu sucessor na Diocese de Campinas. Em 28 de agosto de 1896 foi eleito o primeiro Bispo da Diocese do Espírito Santo, pelo Papa Leão XIII10. Sua Sagração Episcopal aconteceu em 1° de Novembro de 1896 na capela do Colégio Pio Latino Americano, em Roma, pelo Cardeal Girolamo Maria Gotti, que fora Internúncio no Brasil. Fez o seu ingresso solene na catedral de Vitória em 23 de maio de 1897. No Espírito Santo Dom Nery empenhou-se em criar o patrimônio do novo Bispado, especialmente a Caixa Diocesana, pedindo donativos aos fiéis e até mesmo a outras Dioceses, no contexto em que a Igreja no Brasil acabava de ver-se livre das rédeas cerceadoras do Padroado. As visitas pastorais pela Diocese e o empenho social, especialmente junto aos indígenas Botocudos do Espírito Santo, distinguiram o episcopado de Dom Nery. Sua Carta Pastoral de despedida da Diocese, em 1901, é um verdadeiro relatório de seu governo mas, ao mesmo tempo, um registro histórico e etnográfico dos indígenas do Espírito Santo. Alegando precisar de um clima que melhor favorecesse sua saúde, conseguiu sua transferência para a Diocese de Pouso Alegre em 18 de maio de 1901. A posse na recém criada Diocese sulmineira, aconteceu em 21 de julho do mesmo ano. Também em Pouso Alegre foi preciso que o bispo se empenhasse pela constituição do patrimônio da nova Diocese. Ali Dom Nery construiu principalmente o Palácio Episcopal, o Ginásio diocesano e o seminário. Em junho de 1903 Dom Nery organizou uma visita do Núncio Apostólico, D. Giulio Tonti, à sua Diocese, no intuito de se discutir a possibilidade da criação de uma Diocese em Campanha. A !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 9

Città del Vaticano, ASV, Arch. Nunz. Brasile, b. 80, fasc. 390, ff. 61r-62v.

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O processo canônico que culminou na nomeação episcopal de Dom João Nery, pode ser consultado no Arquivo

Secreto Vaticano (ASV): Città del Vaticano, ASV, Arch. Nunz. Brasile, b. 80, fasc. 390, ff. 42ar-73v.


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caminho de Pouso Alegre, o Núncio passou por Campinas onde foi recebido na estação ferroviária com grande festividade. Será o próprio D. Giulio Tonti a redigir um relatório para a Santa Sé sobre sua excursão pelo Estado de São Paulo e sul de Minas Gerais. Eis suas impressões de Campinas: “(...) Dom João Batista Nery veio (a São Paulo) pessoalmente buscar-me para ser meu guia na visita à sua diocese. Partindo de São Paulo para chegar a Pouso Alegre passa-se pela cidade de Campinas que é a segunda do Estado de São Paulo, com belas vias largas e espaçosas e rica de edifícios de arquitetura européia. A população chega a aproximadamente 40 mil habitantes. A cidade possui uma magnífica igreja que poderia servir de catedral. Possui também uma Academia de Ciências e Artes composta por pessoas notáveis pelo saber e erudição. As autoridades e o povo de Campinas, sabendo que o Representante Pontifício se dirigia a Pouso Alegre, insistiram com o dito Prelado que me servia de guia, para que eu fizesse a eles uma visita. O acolhimento que me fizeram mostrou o quanto eram merecedores da graça que imploravam. Na estação de Campinas agrupou-se uma grande parte da população composta de todas as classes e condições. Calculou-se entre 12 a 15 mil pessoas. O certo é que a multidão de tal modo se comprimia que foi necessário que dois oficiais de polícia se colocassem ao meu lado para abrirem continuamente a mim o caminho da estação até a residência dos Missionários Espanhóis do Coração de Maria onde eu deveria me hospedar. Para satisfazer os anseios do povo percorri a pé o não curto trajeto; e a população me acompanhou sempre fazendo ecoar contínuos “vivas” à Santa Sé e ao Santo Padre. (...) Os fiéis de Campinas desejam ardentemente que sua cidade se torne sede de uma nova diocese. Campinas teria certamente precedência em relação a qualquer outra cidade da atual Diocese de São Paulo, com condições adequadas a esse objetivo, porém é relativamente muito próxima à cidade de São Paulo, fato que levaria a considerá-la menos adequada para sede de uma nova Diocese (...)11”.

Dom Nery era convicto defensor, já nesse período, da elevação de Campinas à condição de Diocese. A visita do Núncio alimentou esperanças na população local e o Bispo de Pouso Alegre incentivou a constituição de uma comissão responsável por angariar o patrimônio para um futuro bispado. Tal comissão contou com nomes influentes da sociedade e da política local, e foi liderada pelo pároco da Paróquia de Santa Cruz (Matriz Velha), na época, o Padre Francisco de Campos Barreto. Em 23 de novembro desse mesmo ano, os moradores de Campinas, representados por tal comissão, endereçaram um pedido formal ao Santo Padre o Papa Pio X, para que Campinas fosse constituída Diocese. A petição foi assinada por Francisco Olegário, Bento Quirino dos Santos, José Soriano de Souza Filho, João Batista Pinto de Toledo, Orosimbo Maia, Padre Francisco de Campos Barreto, dentre outros12. !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 11

Città del Vaticano, ASV, Arch. Nunz. Brasile, b. 111, Fasc. 550, ff. 177v-178v.

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Città del Vaticano, S. RR. SS., AA. EE. SS., Brasile, Pos. 640, Fasc. 116, ff. 6r-9v.


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7! Porém, o processo desencadeado por iniciativa de Campinas e que culminou com a criação

de cinco novas dioceses no interior do Estado de São Paulo, foi complexo. A questão foi longamente discutida na Sagrada Congregação dos Negócios Eclesiásticos Extraordinários (AA. EE. SS.), entre os anos 1903 e 1908. Inicialmente projetava-se uma única diocese no Oeste de São Paulo. Embora Campinas apresentasse as condições religiosas e financeiras para tal empreendimento, sua localização significava um ponto de relutância. O bispo do Ceará, Dom Joaquim José Vieira, em 26 de maio de 1903, escreveu ao Núncio Apostólico apresentando-lhe seu parecer sobre a questão: (...) o Pe. Francisco de Campos Barreto, sacerdote campineiro encarregado de promover a fundação de um patrimônio para a projetada Diocese de Campinas, escreveu-me dizendo que V. Excia. Revma. o aconselhara a escrever a D. Nery e a mim, no sentido de nos interessarmos para que a nova Diocese projetada, tivesse a sua Sede em Campinas; pelo seu lado intelectual, moral e financeiro, não há dúvida que é, senão a primeira, ao menos uma das primeiras cidades do Estado de São Paulo, depois da Capital, e que tem todos os elementos para constituir uma diocese, maiormente sendo auxiliada pelas paróquias vizinhas que devem fazer parte do território da nova Diocese; o povo de Campinas é generoso e em geral religioso. A dificuldade que pode haver sobre o caso, consiste na pequena distancia em que está Campinas da Capital; e porventura no que toca o patrimônio para a antiga Diocese de São Paulo que, segundo se fala, será elevada a Arquidiocese. Os Exmos. e Revmos. Srs. D. Arcoverde e D. Nery poderão prestar a V. Excia. melhores informações a este respeito. Todavia lembrarei a V. Excia. Revma. que há um ponto no Estado de São Paulo, que talvez precise mais de ser elevado a Diocese: refiro-me a Botucatu, centro de uma grande zona que de dia para dia se vai povoando, e que fica distante da Capital 50 léguas mais ou menos13.

No período em que foi Núncio Apostólico Dom Alessandro Bavona, as discussões avançaram e chegou-se ao ousado projeto de elevação da capital a Arquidiocese e a constituição de cinco novas Dioceses, como sufragâneas, erigindo-se, desse modo, uma Província Eclesiástica em São Paulo. O Decreto Consistorial data de 7 de junho de 1908, intitulado Dioecesium nimiam amplitudinem14 (A grande extensão das Dioceses) e estabelece os novos bispados: Campinas, Botucatu, Ribeirão Preto, Taubaté e São Carlos do Pinhal. Sem dúvidas que a participação de Dom Nery no processo que culminou com a elevação de Campinas a Diocese foi determinante. Nomeado !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 13

Città del Vaticano, ASV, Arch. Nunz. Brasile, n. 124, fasc. 615. ff. 24r-25r. A discussão sobre a pertinência de uma

nova diocese com sede em Campinas ou Botucatu, gerou certa disputa e mereceu inclusive um opúsculo impresso, intitulado: “Duas palavras sobre um novo Bispado no Oeste de S. Paulo”. Cf.: Città del Vaticano, S.RR.SS., AA.EE.SS., Brasile, Pos. 640, Fasc. 116. 26 pp. 14

Città del Vaticano, ASV, Arch. Consist., Congr. Consist. Acta, 1908 II. Cf. ainda: PIETA, Z. Hierarchia Catholica,

vol. IX, pp. 108. 291. Conferir também: ACMSP, Pastas: Criação da Província Eclesiástica de São Paulo (1908).


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para assumir a nova circunscrição eclesiástica, voltando para sua terra natal como Prelado diocesano, ele assumiu definitivamente o bispado, em 1 de novembro de 190815. Em Campinas é justo ressaltar duas marcas características do episcopado de Dom João Nery: o empenho pela consolidação de uma cultura católica e as obras sociais. No tempo de seu episcopado em Campinas, escreveu diversas cartas pastorais tocando em problemas como o eleitorado católico e o empenho social16. Após a carta pastoral com a qual saudou seus diocesanos, verdadeiro programa pastoral de seu episcopado em Campinas, em 1909 escreveu outras duas cartas, anunciando sua primeira visita pelas paróquias da Diocese e instituindo a obra do Óbolo Diocesano. Em 1911, ano de seu jubileu de prata sacerdotal, anunciou mediante carta pastoral, a realização do Primeiro Congresso Católico de Campinas, voltado à discussão da atuação da Igreja Católica nas diversas realidades da cultura e da sociedade. Em 1913 escreveu uma importante carta intitulada “sobre a atuação do clero desta diocese nos tempos atuais” manifestando uma vez mais sua preocupação pastoral em campo social, especialmente junto ao operariado. Suas intuições, em muitos pontos, expressando os desafios sociais e o pensamento social católico oriundo dos ensinamentos de Leão XIII, são lúcidos para aquele momento e continuam a sê-lo em muitos aspectos hoje, salvaguardada a eclesiologia, a auto compreensão da Igreja de então como sociedade perfeita, chamando o clero antes de tudo a uma atuação coerente com os fins do sacerdócio para garantir a formação humana e cristã, salvaguardando os valores cristãos diante dos riscos do pensamento socialista: Nenhuma questão apaixona tanto os ânimos na hora presente como a chamada questão social, e embora os governos se preocupem com alianças e tratados que lhes garantam expansões e hegemonias, é um fato que o povo, à grande massa anônima se agita e se revolve mais diante de um novo projeto de legislação social, de qualquer coisa que concorra para a reivindicação de seus direitos, para a melhoria do trabalho, para mais equitativa harmonia entre ele e o capital. (...) entre todas as obras sociais, cumpre animar sobretudo a da formação e da educação da consciência política

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PIETA, Z. Hierarchia Catholica, vol. IX, p. 108. Dom Francisco de Campos Barreto, segundo Bispo de Campinas, ao

tomar posse desta Diocese em 14 de novembro de 1920 e não tendo encontrado Livro de Tombo do Bispado, da inicio aos seus registros transcrevendo o termo de posse do primeiro bispo de Campinas, Dom João Nery. ACMC, Livro do Tombo da Diocese de Campinas, n. 1, fl. 1rv. 16

O conjunto completo das cartas pastorais de Dom João Batista Correa Nery quando bispo no Espírito Santo, em

Pouso Alegre e em Campinas, pode ser consultado no acervo de documentos e cartas pastorais reunidos por Monsenhor Jamil Nassif Abib e conservados no município de Rio Claro.


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9! dos católicos e favorecer a criação das Ligas Eleitorais, às quais poderão pertencer católicos de todos os partidos existentes ou por existir17.

Partindo de tais preocupações, Dom Nery fundou uma Escola Agrícola junto ao Liceu Salesiano, o Externato São João e a Creche Bento Quirino, junto à Igreja de São Benedito. Nesse sentido ajudou a cidade de Campinas não somente no aspecto religioso mas também social, no campo do amparo aos pobres e da educação. Em 1918 a gripe espanhola assolou a cidade, vitimando muitos campineiros. Como fizera nos tempos da febre amarela, empenhou-se ele, agora como bispo de sua cidade natal, a socorrer a população com a distribuição de leite e alimentos às famílias carentes e disponibilizando os espaços do Ginásio Diocesano e as próprias dependências do Palácio Episcopal, bem como outros recursos do patrimônio da Diocese, para improvisar hospitais destinados ao socorro dos doentes. Ele próprio adoeceu com a gripe espanhola que porém não ceifou sua vida18. O bispo acarretou à Diocese grandes dívidas nessa ocasião, que foram sanadas somente durante o episcopado de seu sucessor, Dom Francisco de Campos Barreto. Foi o preço de uma caridade desmedida e tanto a Igreja quanto a sociedade lhe são devedoras e reconhecidas19. Dom Nery morreu aos 57 anos, vítima de uma enfermidade hepática, em 1° de fevereiro de 1920. Foi sepultado na capela-mor da Catedral de Campinas e, em agosto de 1922, seus restos mortais foram transladados para a cripta que estava em construção no presbitério da mesma igreja e que foi definitivamente inaugurada em 1° de fevereiro de 192320. Sua memória foi imortalizada na praça da catedral com um monumento em sua homenagem, obra de Fernando Frick, inaugurado no ano de 1924. Coloquemo-nos uma questão: o que se produziu em termos de historiografia acerca de Dom Nery até o presente? À parte pequenas menções históricas em obras gerais e o gênero de publicações elogiosas próprio de poliantéias comemorativas, como a que se fez publicar sob a coordenação de Benedito Otavio e Padre João Batista de Carvalho, a pedido de Dom Joaquim Mamede, então bispo auxiliar de Dom Nery em Campinas, imediatamente após o falecimento do bispo e o elogio histórico pronunciado por João de Ataliba Nogueira em 6 de outubro de 1939, no salão do Conservatório Musical Carlos Gomes e, posteriormente publicado em 1945, o campo é !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 17

NERY, J. B. C. Carta Pastoral sobre a atuação do clero desta diocese nos tempos atuais. Campinas, Tip. Casa

Mascotte 1913. pp. 6.17. 18

VV. AA. Arquidiocese de Campinas: subsídios para a sua historia. Campinas, Editora Komedi 2004. p. 588.

19! ACMC.

Livro de Tombo da Diocese de Campinas, n. 1, ff. 3-7v. (Relatório do estado financeiro da Diocese de

Campinas em novembro de 1920, quando da posse de Dom Francisco de Campos Barreto).! 20

ACMC. Livro de Tombo da Diocese de Campinas, n. 1, f. 15.


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praticamente aberto e uma biografia histórica à altura da personagem ainda está por nascer. Dos trabalhos acadêmicos merecedores de menção destaco: a tese de doutorado em História pela USP, de 1999, escrita por Marcus Levy Albino Bencosta, do título “Igreja e poder em São Paulo: D. João Batista Correa Nery e a Romanização do Catolicismo Brasileiro (1908-1920)” e a tese de mestrado apresentada ao departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UNICAMP, em 2006, escrita por Pedro Rigolo Filho, do título “A romanização como cultura religiosa. As práticas sociais e religiosas de Dom João Batista Correa Nery, Bispo de Campinas, 1908-1920”. Ambas as teses focam o aspecto da romanização (termo adotado pelos autores como sinônimo de ultramontanismo), como chave de leitura da ação do bispo em seu contexto. Após este breve percurso pela vida de Dom Nery, desejo destacar alguns pontos, algumas chaves de leitura que entendo importantes para a compreensão deste vulto de nossa história. O legado de Dom Nery pode ser aprofundado em três direções: no aspecto religioso, o vejo um bispo nos moldes do ultramontanismo; no aspecto social, um homem de vanguarda, dono de uma caridade inquestionável e no aspecto cultural, um exímio orador e historiador. Dom Nery pertence à primeira geração de bispos na República Brasileira, e isto possui grande significado. O decreto provisório 119A, de janeiro de 1890, de autoria do Marechal Deodoro da Fonseca, separou a Igreja do Estado e extinguiu o sistema de Padroado no Brasil. A Igreja católica se por um lado lamentou, naquele momento, a perda do status de religião oficial, por outro, o fez com discrição, considerando os benefícios muito maiores que adviriam da extinção do cerceador Padroado. Em 1889 a Igreja no Brasil compunha-se de 12 dioceses apenas. Nos albores da República, a Igreja conquistará a sua autonomia e despertará de seu longo sono, para assumir aquilo que a caracteriza, a preocupação pastoral, a evangelização. O episcopado nacional começará a organizar-se e a centrar esforços em pontos comuns de reorganização da Igreja no Brasil, destaque para o empenho na criação de novas dioceses em proporção com a vastidão do território do país21. Dom Nery, três vezes primeiro bispo de novas Dioceses, é emblemático deste período em que a Igreja, por suas próprias forças, vê a necessidade de fazer-se presente e atuante na sociedade brasileira e aqui a ótica do interesse político de auto-afirmação, em minha míope visão, não basta para esclarecer tudo.

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Interessante consultar o impresso intitulado: “Alguns pontos de reforma na Egreja do Brasil. Memória para servir às

discussões e resoluções nas Conferências dos Srs. Bispos”, de autoria de Dom Antonio de Macedo Costa e datado de 2 de agosto de 1890. Città del Vaticano, ASV, Arch. Nunz. Brasile, 71, fasc. 346, ff. 109r-120v.


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11! São bispos de perfil ultramontano22 todos os da geração de Dom Nery. Ao longo do Império

Brasileiro, a situação decadente em que se encontrava a Igreja com o reduzido número de dioceses, a falta de padres bem formados, a quase extinção das ordens religiosas pela proibição imperial de abertura dos noviciados, somada à mentalidade regalista e liberalista vigente, que colocava em risco a integridade da Igreja em sua união com a Sé de Pedro, fez com que paulatinamente alguns padres e bispos, formados na França (San Sulpice) e em Roma, assumissem o episcopado e iniciassem uma verdadeira reforma da Igreja Católica no país. Nesse processo que conheceu tensões, a chamada Questão Religiosa ou Questão dos Bispos, ocorrida entre 1872 e 1875 em Belém e Olinda-Recife, é paradigmática. Dom Nery é um ultramontano, talvez mais nos moldes do Papa Leão XIII, que buscou fazer presente no campo social e cultural os princípios católicos; menos da intransigência e mais do diálogo. Acredito ser urgente uma revisão historiográfica em torno do fenômeno ultramontano no Brasil. A sensibilidade para as questões sociais de seu tempo representa outro aspecto a ser destacado na síntese de seu legado. E para isso vale reforçar que o pensamento social católico nasce no seio mesmo do fenômeno ultramontano. No Brasil, durante as primeiras décadas do século XX, as preocupações com o operariado, ainda que inicialmente tímidas, encontrarão em bispos do perfil de Dom Nery especial solicitude. A preocupação maior era possibilitar que os valores humanísticos e cristãos fossem salvaguardados em ambientes onde fervilhavam tendências anarquistas e socialistas, intensificadas pela presença de imigrantes europeus, especialmente italianos, no Sul e em São Paulo. Em muitas circunstancias a ação da Igreja será na linha do imediato assistencialismo. Mas as obras sociais originadas do pastoreio de Dom Nery (Liceu de Artes e Ofícios, Externato São João, Escola Agrícola, Creche Bento Quirino) atestam a existência de iniciativas de sólido embasamento teórico, doutrinal, somado ao empenho da promoção humana e de uma política local permeada de valores cristãos. No âmbito da cultura, Dom João Nery destacou-se por seus escritos, cartas pastorais, sermões que o fizeram membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Société !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 22

O termo ultramontanismo possui inicialmente um sentido geográfico (ultra/montes) na medida em que, do ponto de

vista da Alemanha e da França, designa as terras que encontram-se para além dos Alpes, no caso, Roma. Na atualidade o termo é usado por historiadores e sociólogos para designar a linha histórica e a forma social do catolicismo moderno que se impôs no século XIX. Tal linha caracteriza-se pelos seguintes elementos: orientação romano-papal na doutrina e na disciplina eclesiástica, continuidade de um catolicismo pós-tridentino, nas formas de pensamento e na piedade, base teológica neo-escolástica, luta contra o sistema de Igrejas de Estado e pela plena liberdade da Igreja e, a partir de meados do século XIX, tendência de inserção popular com a utilização de meios como imprensa, associações, catolicismo político, etc. Cf.: SCHATZ, K. “Ultramontanismo” in Diccionario enciclopédico de historia de la Iglesia, Tomo 2, Barcelona, Herder 2005. pp. 1355-1358.


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12!

académique d’histoire internationale. No momento em que a Igreja Católica no Brasil vive o duro processo de reorganização interna, findo o Padroado, o recurso às raízes históricas é elemento propiciador de sua própria autonomia e identidade. A oração fúnebre em memória do Padre Antônio Diogo Feijó, de autoria de Dom Nery, expressa uma igreja que, exatamente, recoloca as bases de sua identidade histórica com a superação das tendências regaliastas. O bispo o reabilitou buscando as fontes, especialmente o testamento do Regente do Império, estigmatizado pela sua pouca ortodoxia em matéria de doutrina e costumes. Ícone de uma Igreja que se reorganiza em estruturas diocesanas criadas no contexto republicano, imbuído da Doutrina Social da Igreja e consciente dos desafios de seu momento histórico para a construção da identidade católica, o antístite Dom Nery é personagem que extrapola as fronteiras de Campinas, e que está ainda por nascer no trabalho paciencioso de busca, organização e crítica das fontes, no esforço de reconstrução global de seu legado e de seu contexto.


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13!

Bibliografia: ATALIBA NOGUEIRA, J. C. Elogio histórico de D. João Neri. Primeiro bispo de Campinas. Rio de Janeiro, Agir 1945. BENCOSTTA, M. L. A. Igreja e poder em São Paulo: D. João Batista Correa Nery e a romanização do catolicismo brasileiro (1908-1920). Tese apresentada ao departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e ciências Humanas, da Universidade de São Paulo, para a obtenção do titulo de Doutor em História. São Paulo 1999. DIOCESE

DE

CAMPINAS. D. João Nery. Saudosa homenagem à sua santa memória . No 34°

aniversário de seu fecundo sacerdócio. São Paulo, Oficinas graphicas Cardozo Filho & C. 1920. FILHO, P. R. A romanização como cultura religiosa. As praticas sociais e religiosas de D. João Batista Correa Nery, Bispo de Campinas, 1908-1920. Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Campinas 2006. MARTINS, J. P. Basílica do Carmo. Historia de fé no coração de Campinas. Campinas, Editora Komedi 2010. NERY, J. B. C. Carta Pastoral sobre a atuação do clero desta diocese nos tempos atuais. Campinas, Tip. Casa Mascotte 1913. PIETA, Z. Hierarchia Catholica et recentioris Aevi. A pontificatu Pii PP X (1903) usque ad pontificatum Benedicti PP XV (1922), vol. IX, Padova, Messaggero di Sant’Antonio 2002. VV. AA. Arquidiocese de Campinas: subsídios para a sua história. Campinas, Editora Komedi 2004. p. 588.

Campinas, Sede da Academia Campinense de Letras, 7 de outubro de 2013. Padre Rafael Capelato !


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