ANUÁRIO DE ARQUITETURA DE SANTA CATARINA | 2017
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EXPEDIENTE
DIRETORA EDITORIAL Simone Bobsin simonebobsin@arqsc.com.br DIRETORA EXECUTIVA Clarice Mendonça anuario@arqsc.com.br PROJETO GRÁFICO Nuovo Design nuovo@nuovo.com.br
COLABORADORES Abílio Guerra, Adélia Borges, Adriane Vieira Santos, Alejandro Castañé, Ana Carla Fonseca, Anita Di Marco, Fah Maioli, Gabriela Mager, Geise Brizotti Pasquotto, Guilherme Llantada, Guilherme Wisnik, Luiz Eduardo Fontoura Teixeira, Néri Pedroso, Pedro de Melo Saraiva, Roberto Simon, Vicente Wissenbach
DISTRIBUIÇÃO Bancas, livrarias e mailing dirigido VOGAL EDITORA Av. dos Lagos, 41 | Pedra Branca Palhoça/SC | 88137-100 contato@editoravogal.com.br IMPRESSÃO Gráfica Rocha
REVISÃO Giane Jacques Antunes Severo
REDAÇÃO Jana Hoffmann Letícia Wilson Silvia Penteado Eloá Orazem
COMERCIAL comercial@arqsc.com.br
COMISSÃO EDITORIAL Guilherme Llantada, José Ripper Kós, Vicente Wissenbach, Fernanda Menezes
portalarqsc
ADMINISTRAÇÃO André Teixeira de Oliveira contato@editoravogal.com.br
portalarqsc anuario@arqsc.com.br
APOIO INSTITUCIONAL AsBEA/SC, IAB/SC, programa Missão Casa www.youtube.com.br/missaocasa
www.arqsc.com.br
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Geise Brizotti Pasquotto Adélia Borges
Foto: divulgação
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Foto: divulgação
Foto: Mariana Chama
Foto: Alexandre Tanaka Hirata
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Eloá Orazem
Foto: divulgação
Guilherme Llantada
Foto: Pedro Mox
Ana Carla Fonseca e Alejandro Castañé
Foto: divulgação
Néri Pedroso
Foto: divulgação
Foto: Gill Konell
Letícia Wilson
Fah Maioli
Gabriela Mager
O ArqSC é uma publicação anual, dirigida ao público em geral, comercializada em bancas, livrarias e no meio digital, distribuída a um mailing de entidades de classe, imprensa, instituições de ensino e lojistas. Os textos foram produzidos a partir das informações repassadas pelos profissionais participantes. O anuário não se responsabiliza pelos conceitos emitidos nos artigos assinados.
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INDOOR • INSHADE • OUTDOOR • OBJETOS
Foto: Mariana Boro
EDITORIAL
Persistimos enquanto o mercado editorial encolhe e se reinventa. Há um ano nosso movimento já anunciava mudanças com o lançamento da plataforma digital, amplificando o conteúdo exclusivo do impresso e abrindo novas possibilidades de conexão com o mercado, ideias, pessoas... Se em algum momento tivemos dúvida sobre persistir no formato tradicional de publicação, hoje temos certeza do nosso papel à frente do anuário ArqSC: a nona edição consolida o propósito de fazer o registro do nosso tempo no que tange a construção da cidade a partir da arquitetura, do comportamento, que se reflete nos interiores dos projetos, e do movimento humano que provoca mudanças em antigos hábitos, da casa ao mercado de trabalho. O ArqSC assume papel importante na documentação e divulgação de uma época, além de tornar-se portfólio para o trabalho do arquiteto ao publicar a produção arquitetônica de Santa Catarina. E nessa edição, iniciamos a série de entrevistas com arquitetos que deixaram um legado para o Estado como Moysés Liz, autor do icônico Ceisa Center entre outras obras. Vivemos um tempo de necessária ressignificação, de disrupção, economia compartilhada, revisão de valores e hábitos de consumo. Nosso produto procura refletir sobre esses temas trazendo artigos e reportagens exclusivas, escritas com carinho para vocês. Contamos, pela primeira vez, com a participação da jornalista especializada em design, Adélia Borges, que escreve sobre a exposição da qual é curadora e que irá integrar a programação de Lisboa Capital Íbero-Americana da Cultura 2017. A economista Ana Carla Fonseca nos conta que a forma da inovação hoje está na figura de corporate venture e “toma os traços de um par de meninos de vinte e poucos anos, com pouco dinheiro no bolso, nenhuma vontade de trabalhar em um emprego nos moldes tradicionais, uma ideia brilhante na cabeça e muita disposição de passar noites em claro para fazê-la acontecer”. Tem muito conteúdo que complementa a degustação dos projetos arquitetônicos: Fah Maioli, de Milão, nos fala sobre a morte anunciada da globalização; de Los Angeles, Eloá Orazem entrevista a diretora executiva da Pantone e, adivinha, Leatrice Eiseman está na vibe da família da cor roxa porque é uma cor completa!;a produção e o modo de vida dos geniais O Tropicalista, gentrificação, arquitetos do século XXI, congresso de arquitetos em 2020, a participação da UDESC na semana de design em Dubai são outros super-assuntos que preenchem as páginas do ArqSC 2017. Nosso desejo é cada vez mais fazer pontes entre pessoas, ideias e pensamentos – passado e futuro; local e global - e servir de inspiração para você!
Coleção Capadócia Design Roque Frizzo
Simone Bobsin Publisher Em mais de 70 lojas no mundo • saccaro.com Saccaro Florianópolis • Rod. SC 401 8.600 Corporate Park (Bloco 4 SL 01) • Bairro Santo Antônio de Lisboa • 48 3238.1616
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ASSOCIADO
ARQSC
ArqSC Plataforma de conexão, que integra conteúdos em quatro eixos: arquitetura e
CONFORTO E DESIGN
urbanismo, interiores, design e arte. Nosso propósito é a geração de conteúdo de relevância, visando reunir, revelar e destacar projetos, pessoas, produtos e ideias.
• anuário de arquitetura impresso e projetos editorias personalizados
• digital arqsc.com.br
i n s p i ra d o re s
• eventos ArqSC Conversa
ArqSC Conversa uma roda de conversa para promover a conexão entre pessoas e ideias com temas relacionados às áreas em que atuamos. Eventos já realizados:
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AMBIENTE HAUS ENGENHO INTERIORES
Foto: Mariana Boro
Foto: Fabrícia Pinho
Foto: Lis Sayuri Foto: Fabrícia Pinho
Foto: Lis Sayuri
Foto: Arquivo Itinerários
Foto: Estudio Takeuchis
Ilustração: Carolina Hernandes
arqsc.com.br e leia o conteúdo ampliado. Croqui: Arquivo Pedro de Melo Sariva
Foto: Guilherme Llantada
Acesse
Foto: Fabrícia Pinho
O Corpo e o Lugar: as relações entre moda e arquitetura ArqSC Conversa com Rosa Artigas: exibição do filme e lançamento de livro ArqSC Conversa: Empreendedorismo em tempos líquidos
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ÍNDICE
ARTIGOS Entre acertos e desconexões
Néri Pedroso
22
Floresta psicodélica
25
Estampa Jungle
29
Navegar é preciso
30
Macrotrend
Fah Maioli
33
As cores no divã
36
Simone Bobsin
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Monica Hoff
Adélia Borges
Eloá Orazem
25
Corporate Ventures
Ana Carla Fonseca + Alejandro Castañé
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O design de Santa Catarina em Dubai Gabriela Botelho Mager
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PROJETOS
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MARCHETTIBONETTI+ ARQUITETOS ASSOCIADOS
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ADD STUDIO ARQUITETURA, URBANISMO E DESIGN
76
MARCOS SÔNEGO ARQUITETURA
120
ANA PAULA RONCHI ARQUITETURA TOTAL
78
MARIANA PESCA ARQUITETURA
122
ANNA MAYA ARQUITETURA
82
MM ARQUITETURA CONECTADA
124
ARLON FERNANDES E EDUARDO FREITAS ARQUITETURA
86
PASSING ARQUITETURA
126
ARTE URBANA ARQUITETOS
88
PORTO MAESTRI ARQUITETURA E INTERIORES
128
PROGETTA STUDIO DE ARQUITETURA E INTERIORES
130
PSF ARQUITETURA
134
ROBSON NASCIMENTO ARQUITETOS
138
RODRIGO KIRCK ARQUITETURA
140
100 102
ROSAS ARQUITETOS ASSOCIADOS
142
RUSCHEL ARQUITETURA E URBANISMO
144
ESPAÇO LIVRE ARQUITETURA
104
SABRINA BARROS ARQUITETURA
146
ESTELA CISLAGHI ARQUITETURA
106
STUDIO DOMO ARQUITETURA
148
IDEIN IDEIA + DESENVOLVIMENTO ARQUITETURA
108
STUDIO METHAFORA
152
TETO ARQUITETURA UNIFICADA
154
THIAGO MONDINI ARQUITETURA
156
54
BRAND & HENNRICHS ARQUITETURA + ENGENHARIA
92
56
CHRIS LAGO ARQUITETA
94
DIANA MACARI ARQUITETURA
96
DORINI ARQUITETURA
98
Geise Brizzotti Pasquotto
Vicente Wissenbach + Silvia Penteado
62
116
Ensaio fotográfico Ceisa Center
Resgate histórico
56
MACHADO & KRONEMBERGER ARQUITETURA E DESIGN
90
Requalificação urbana
44
72
AT ARQUITETURA
Roberto Simon
Corporate Ventures
|A2| ALLUME ARQUITETURA DE ILUMINAÇÃO + ANA TREVISAN | ARQUITETURA + PAISAGISMO
44
Beleza da diversidade
40
114
Entrevista Moysés Liz
Letícia Wilson
38
JULIANA PIPPI ARQUITETURA E DESIGN
40
O modo contemporâneo de ser arquiteto
36
68
Biblioteca
Guilherme Llantada
33
38
+2 ARQUITETURA E GESTÃO DE OBRAS
64
62 64
ES ARQUITETURA
66
ESPAÇO DO TRAÇO ARQUITETURA
66
IVVA ARQUITETURA
110
JA8 ARQUITETURA E PAISAGEM
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ARQpubli
O que a natureza tem de melhor
A qualidade do sono está diretamente relacionada a escolha do colchão adequado e a excelência do produto. Uma novidade que chega ao mercado é o colchão Stallion produzido artesanalmente com fibras naturais em 100 por centro de suas camadas. Esse processo resulta em um colchão mais aerado que deixa o ar fresco passar por todas as camadas, facilitando a absorção da umidade. O látex, um produto também natural, confere maior conforto ao colchão por conta da sua capacidade de resiliência. O colchão Stallion possui a certificação OEKO-TEX que atesta que os materiais não possuem substâncias, naturais ou artificiais, prejudiciais ao ser humano - e é o único colchão nacional a ter esta certificação em todas as suas matérias-primas. O lançamento da Orbhes Espumas e Colchões está à venda com exclusividade na Cama Pimenta, em Florianópolis e Balneário Camboriú.
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O molejo Ensacado DSS é exclusivo da marca, com mola de 23cm e maior compressão. O maior diferencial é ter 2 suportes diferentes em um mesmo molejo: ao primeiro toque, mais macio; depois mais firme para um maior suporte
O processo de fabricação dos colchões Stallion utiliza 100% fibras naturais – crina de cavalo, de camelo, lã de ovelha e cashmere - e látex, todos importados da Europa. O tecido vem da Bélgica. Cada colchão é numerado e assinado pelo artesão responsável
Balneário Camboriú Av. do Estado, 4770 | Casa Hall Shopping | Bairro dos Estados (47) 3368.5953 Florianópolis Av. Madre Benvenuta, 1381 | Santa Mônica (48) 3234.6020 SC 401 | Shopping Casa & Design | Saco Grande II (48) 3238.2008
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ARQpubli
Passing Arquitetura e Construção 1 º lugar Dormitórios Florianópolis
Anna Maya & Anderson Schussler 1 º lugar Fachadas Florianópolis
Fotos: Anderson Feys
Larissa Diegoli 1 º lugar Salas de Estar Florianópolis
Larissa Diegoli 1º lugar Cozinhas Florianópolis
Valorização profissional Hall da Fama é uma campanha de valorização do profissional especificador, adequada as regulamentações da profissão. A premiação destaca projetos de arquitetura e interiores em três estados brasileiros, regiões de atuação do núcleo. O prêmio abrange quatro categorias – cozinha, dormitório, fachadas e salas de estar e living. Na etapa regional oito escritórios de Santa Catarina foram selecionados: Larissa Diegoli, Blasi Bahia, Anna Maya & Anderson Schussler, Cristiane Passing, ArchDesign Studio, Estudio C+C, Betina Chede e Fabiana Heideman. Para a nacional, apenas Larissa Diegoli representou o Estado com o projeto na categoria Cozinha, e ficou em segundo lugar.
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Jurados Brunette Fracarolli, Camila Klein, Carol Cantelli, João Armentano, Joia Bérgamo, Léo Shehtman, Angélica Nicoletti (jornalista), Arthur de Andrade (Casa Vogue), Beto Cocenza (Boom SP Design), Pedro Ariel Santana (Casa Cor), Mônica Barbosa (revista Caras), Simone Bobsin (Publisher portal ArqSC), Tais Lima (apresentadora)
DELL ANNO FLORIPA Av. Rio Branco, 198 | Florianópolis dellannofloripa.com.br 48 3223-0038 15
ARQpubli
Foto: Lio Simas
Reconhecida como a maior e melhor mostra de arquitetura, decoração e paisagismo das Américas, a CASACOR vem criando experiências que inspiram, emocionam e transformam a casa em um verdadeiro espaço para celebrar a vida. Em Santa Catarina, a marca ganhou força com a chegada dos novos franqueados, Francis e Luiz Bernardo, que juntos somam quase 40 edições de CASACOR, sendo em SC, RS, PR e Punta Del Este. Conheça um pouco mais sobre este casal que traz no coração o nome CASACOR. Luiz Bernardo nasceu em Porto Alegre e atuou no ramo náutico por 17 anos antes de assumir a franquia da CASACOR SANTA CATARINA, em 2016, ao lado da esposa e também empresária, Francis Bernardo. Sua trajetória na CASACOR iniciou em 1995, em Porto Alegre, ao lado de Marina Nessi - atual franqueada da marca no Paraná. São mais de 22 anos atuando em 39 edições da mostra: Santa Catarina (1996 - 1997), Porto Alegre (1995 – 2005), Paraná (1995 – 2016), Punta Del Este (1997), e novamente o Estado catarinense. Francis Bernardo também é gaúcha e iniciou no segmento de arquitetura ao lado da mãe, Marina Nessi, franqueada CASACOR PARANÁ. No entanto, sua paixão pelos animais falou mais alto. Formada em Medicina Veterinária, abriu em 2003 um bemsucedido centro veterinário com clínica, cirurgia, internação, petshop e estética em Porto Alegre. O que a fez retornar para as mostras de decoração e arquitetura foi outro desejo, o de morar em Florianópolis, destino das férias com a família. Em 2016, com o convite para o casal assumir a franquia catarinense da CASACOR, esse sonho virou realidade. Francis traz sua experiência como empreendedora nas áreas comercial, financeira e administrativa, herdando da mãe o talento para a realização da CASACOR. Como foi a receptividade e a experiência à frente da franquia em Santa Catarina, primeiramente na cidade de Florianópolis? Francis - Para nós foi a realização de um sonho poder morar em Florianópolis, e assumir a franquia está sendo um desafio. Assumimos para garantir o valor da marca e continuar prestando o importante serviço que a CASACOR tradicionalmente presta aos catarinenses e brasileiros de modo geral.
Projeto: Karla Bittar e Eduardo Bittar / CASACOR GO 2016 Foto: Jomar Bragança
No coração, o nome CASACOR Vocês acreditam que o setor está aquecido e tem potencial? Qual é o tamanho do desafio para a próxima edição na Capital? Luiz - O mercado de arquitetura está sempre em crescimento e tem um grande potencial. Para Florianópolis, escolhemos um imóvel bem localizado e que traz um apelo histórico e social. Temos esta característica de escolher imóveis que tenham algo a acrescentar para a cidade. Onde podemos deixar um legado. Já foi assim com a primeira edição e será com a de 2017, que acontecerá no Casarão da Praça Getúlio Vargas, mais conhecido como Casarão da Praça dos Bombeiros, um imóvel tombado.
De 14 de maio a
25 de junho no
Qual a expectativa e novidades em relação à mostra que acontecerá em Balneário Camboriú? Francis - Estaremos abrindo o ano de 2017 com a edição de Balneário Camboriú que vai trazer uma CASACOR com glamour e grandes expectativas de mercado. Diferente de Florianópolis, em Balneário o evento será realizado no edifício Marina Beach Tower, o primeiro do Sul do Brasil com uma marina e saída direto para o rio. Grandes nomes da arquitetura catarinense estarão participando desta edição, que abre para visitação pública dia 14 de maio.
Edifício Marina
Beach Towers
Qual o tema para 2017, e o que o público poderá esperar? Luiz - O tema é ‘FOCO NO ESSENCIAL’, buscando trazer o design mais perto das pessoas com projetos, soluções e ideias dos melhores profissionais do segmento, que levarão ao consumidor a preocupação com o design e sua função, forma, experiência e sobrevivência no cenário atual. CASACOR é um evento que une arquitetos, lojistas e fornecedores, que tem o propósito de resgate do lar, da casa. Em Santa Catarina o público pode esperar uma CASACOR com história, com vida!
O que é realmente essencial em arquitetura, design
CASACOR
de interiores e paisagismo? Os profissionais mais importantes
A CASACOR pertence ao Grupo Abril e é considerada a maior
das Américas vão responder a essa pergunta. Venha viver as emoções,
e melhor mostra de arquitetura, decoração e paisagismo das Américas. Reúne, anualmente, renomados arquitetos,
as experiências e os sonhos que você só encontra na CASACOR.
decoradores e paisagistas em 20 praças nacionais e chega a 31ª edição em São Paulo. A CASACOR acontece em Alagoas, Bahia, Brasília, Ceará, Espírito Santo, Franca, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, além de seis mostras
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Rua 3.700, nº 425 – Barra Sul – Balneário Camboriú/SC.
internacionais: Miami, Bolívia, Chile, Equador, Paraguai e Peru.
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ARTE
Entre acertos e desconexões Sem hegemonia, circuito de arte em Santa Catarina incorpora a vida, com tensões e fluxos descontínuos Néri Pedroso
Foto: divulgação
Vértice de encontro entre pessoas de lugares diversos, a cidade é vivida como mistura humana, local de efervescência e criação a partir da presença de indivíduos que vêm de toda a parte. A produção artística contemporânea incorpora a tensão entre arte e vida, com representações que enfocam as relações existentes entre os espaços, os fluxos existenciais, as possibilidades de encontro e desencontro. Os artistas apostam na cultura corporativa, na pluralidade, no intercultural. Com a globalização dos mercados, o fim das fronteiras, as novas tecnologias, a crítica e o desmantelamento das instituições, a produção artística contemporânea discute ética, sociologia, antropologia, política, uma de suas tantas marcas. A desmaterialização da obra, o efêmero, a arte como um processo decorrente de uma ideia, o hibridismo, a abolição entre o público e o privado, são outras de suas características. No campo temático, o corpo humano apropriado como último reduto do indivíduo, o conceito de lugar. Sem compromissos, a arte faz um retrato do mundo editado, do homem fragmentado. Enfim, adota os padrões do mundo contemporâneo. O circuito de arte requer trabalhos artísticos, diferentes processos e relações, exposições, mediações e institucionalização entre museus, galerias, fundações, entidades, gestores, curadores, colecionadores e historiadores. Parte da história de Santa Catarina no âmbito das artes visuais precisa ser pensada sob a ótica do atraso. Se o modernismo chega ao Estado só em 1948, o experimentalismo, marcante no Brasil na década de 1970, aparece em ações pontuais e discretas no Estado. Harry Laus, crítico de arte e diretor do Museu de Arte de Joinville (MAJ) e Museu de Arte de Santa Catarina (MASC), escreveu que nesse período a “arte em geral era estática, fria e acomodada, como peixe morto nas vitrines do Mercado Público”1. Os anos 80, ainda de acordo com Laus, depois de adequar a sede do Masc, inaugurado em 1982 dentro do Centro Integrado de Cultura (CIC), foi o tempo das individuais, das coletivas e retrospectivas. Os anos 90 carecem de estudo, mas inegável o bom começo da década com o emblemático Panorama do Volume, mostra de obras tridimensionais contemporâneas que absorvem as transformações pós Marcel Duchamp, prática e matéria-prima inovadoras, “as liberdades técnicas e conceituais”, conforme definição Diego de los Campos, personalidade do ano 2016 com prêmio da Academia Catarinense de Letras e Artes pelo conjunto de exposições realizadas em diferentes cidades de Santa Catarina e do país
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do curador Laus. Sua morte em 1992 estabeleceu um vazio no campo institucional e encerrou um ciclo no MASC, o de um gestor “ousado, generoso, com capacidade de lidar com a diferença”2 . Desde então, a reboque de critérios político partidários, a escolha dos administradores nem sempre considera currículos e experiências. Grande parte das atuais dificuldades da instituição está relacionada à esfera política, responsável por decisões desastradas como, por exemplo, a reforma no prédio do CIC que manteve o museu fechado entre 2009 e 2012 e o fato de que em pouco mais de seis anos, sete diferentes secretários ocuparam a Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte. Atrelado a ela, sem autonomia e recursos, o MASC sofre de modo crescente os efeitos de resoluções inadequadas e descontínuas. A falta de engajamento dos artistas amplia desgastes, cujo ápice está no tão reivindicado edital criado em 2014, só finalizado em 2017, e na cadeira vaga do atual administrador Isac Nascimento diante de recente convite da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) para compor, em Florianópolis, uma mesa de discussão ao lado de gestores de museus do Rio Grande do Sul e do Paraná. A ausência denuncia por si só a inadequação.
Novo século, outros padrões
A Geração 2000 provoca espanto. Sinaliza a mudança de paradigmas e chama a atenção para uma produção contagiada pelo projeto educacional desenvolvido pelo Centro de Artes (CEART), da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), já que a maioria dos artistas do Estado passa pela academia. Isso, associado ao fato de que a arte é um fenômeno social encharcado pelos impactos do campo político e econômico, estabelece outro pensamento. A formação acadêmica se reflete nos trabalhos já em sintonia com os ditames de um mundo globalizado, ou seja, o colapso das identidades culturais, a fragmentação, a multiplicidade de estilos, a impermanência, a diferença e o pluralismo. O frescor conceitual, no entanto, não inclui noções de mercado. Convictos de que a arte contemporânea se dissocia da comercialização, o circuito paga por isso um alto preço. Até hoje, a venda de obras está sempre numa nebulosa. Ao lado do Ceará, o Estado foi apontado, em 2005, como fenômeno com representações em certames nacionais, com artistas expondo em espaços referenciais do país. Sobretudo a Capital articula-se com o panorama brasileiro trazendo artistas, mostras, curadores e críticos. Um conjunto
1 “Arte catarinense solta as amarras”, carta escrita para Néri Pedroso, um pouco antes da morte de Harry Laus, em maio de 1992. 2
LINDOTE, Fernando. Fala Geração 80 - uma perspectiva de Fernando Lindote no projeto Gerações Masc – Museu em Movimento, 21.9.2016.
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“Cadraver Exquis” (2012), de Audrian Cassanelli, uma das representações de Chapecó
Foto: divulgação
Vitalidade e crenças
Em contínua transformação, o circuito de arte está sujeito a diferentes tensões de caráter público ou privado. Dinâmico, pede decisões, posturas, ativações, diálogo, iniciativas individuais e coletivas. A chamada Geração 2000
escassez de recursos. Apontada em 2005 como fenômeno nacional, a produção em Santa Catarina assume peculiaridades com relação a outros estados. A vitalidade e a descentralização do circuito são marcantes. As ações municipalizadas em diferentes cidades tiveram articulações permanentes entre as regiões. Artistas e curadores se deslocam e procuram atuar em sintonia. Sem hegemonia, neste mosaico destacam-se Joinville, Criciúma, Chapecó, Concórdia, Itajaí e Florianópolis. Joinville realiza ininterruptamente há 45 anos a Coletiva de Artistas, algo extraordinário para um país que sofre com descontinuidades. Na mesma cidade, o Museu de Arte Contemporânea/Instituto Schwanke
Foto: divulgação
Foto: divulgação
Janor Vasconcelos, representação do circuito de Criciúma. Produz desenhos, instalações e cerâmica
‘Infrastructure I’ (2016), de Karina Zen. Artista, de Brusque, autora de uma produção instigante, no Ciclo do Masc expôs uma escultura feita a partir de pneus de caminhão estourados
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promove iniciativas voltadas ao conhecimento da arte contemporânea, e o Instituto Juarez Machado oferece espaço expositivo de ‘primeiro mundo’. Em Concórdia, o Memorial Attilio Fontana; em Chapecó, a Galeria Municipal e Associação dos Artistas Visuais do Oeste (Adentro) que funciona desde 2010; em Itajaí, o Salão Nacional de Artes; em Criciúma, a Helen Rampinelli Galeria Ateliê aglutinam e dão visibilidade à produção. Integrado, o SESC/SC valoriza a formação e a circulação. Prima pela continuidade na ênfase da produção local, sem se desconectar das instâncias nacionais. Os projetos itinerantes promovem mostras que envolvem profissionais especializados e abarcam cuidados com curadoria, catálogo, textos críticos, palestras e cursos. Outro programa é o Pretexto que aposta na produção contemporânea com o propósito de formar e qualificar o setor nas cidades que sediam unidades da instituição.
‘Brasilidade’ (1980), trabalho de Schwanke, artista de Joinville que morreu em 1992, cujo pensamento ainda influencia artistas e estimula pesquisadores
Foto: divulgação
Franzoi, que vive em Joinville, atua como performer e curador
Foto: Karina Zen/divulgação
Foto: Néri Pedroso/divulgação
As iniciativas individuais dos artistas, o seu engajamento e a inventividade das proposições, o papel de outras instituições museológicas, o trabalho associativo, como o da Associação dos Artistas Plásticos de Joinville (AAPLAJ), e da Associação de Artistas Plásticos de Santa Catarina (AAPLASC); a criação de novos espaços; e o projeto do setor cultural desenvolvido pelo Serviço Social do Comércio (SESC/SC) estão na esteira desse processo. Iniciativas autônomas, aos poucos, configuram outras trocas e diálogos. Contramão, NET Processo, Espaço Arco, o Arquipélago Centro Cultural, entre outras, são experiências que questionam as instituições, redimensionam a relação com os artistas, os espaços e o público, alavancam discussões, palestras e encontros. O projeto Schwanke, iniciativa da Sociedade Cultura Artística
(Scar) entre 2002 e 2005, em Jaraguá do Sul, apareceu como basilar no currículo de artistas da nova geração. O Museu Victor Meirelles alinha-se aos programas que percebem a história como um processo formado pelo passado e pelo presente. Transforma-se num espaço cultural de abordagem contemporânea em busca do desenvolvimento de uma visão crítica e experiências estéticas de vida. Com mostras expressivas e um sólido programa de formação, consolidou articulações nacionais. O projeto Agenda Cultural traz expressivos artistas, críticos, curadores e diretores de instituições brasileiras. Hoje, a instituição que abriga o acervo do mais importante artista acadêmico do Estado, integra-se às iniciativas da Galeria Municipal Pedro Paulo Vecchietti, o Memorial Meyer Filho, o Museu Hassis, Helena Fretta Galeria de Arte e Myrine Vlavianos Escritório de Arte, Faferia – DNA de Arte, Armazém – Coletivo Elza, NACasa Coletivo de Arte, Sítio Arte Educação Coworking, Circuito Galeria e o Parque Gráfico - Feira de Arte Impressa, em Florianópolis. A Fundação Cultural Badesc assume papel fundamental sobretudo no fechamento do Masc, e desponta pela coerência das ações, a começar pelo edital. Juntos, em suas singularidades, enfrentam a permanente
‘A Porta do Inferno’ (2007), pintura de Paulo Gaiad, um dos mais importantes artistas do Estado, que morreu em 2016
e Tantos sofre os impactos da política e da economia. Mudam-se as crenças e os modos de operação. A maioria cuida da própria produção, agencia eventos, pesquisa, atua em múltiplas funções. Independentes, suplantam lacunas. Apesar das agruras financeiras, as articulações delineiam campos autônomos. Artistas, curadores, galeristas, colecionadores e historiadores compartilham experiências. Conscientes das fissuras e fragilidades, com diferentes pesquisas e discursos curatoriais, nos últimos dois anos incrementaram-se atividades e discussões voltadas ao mercado. Quase sempre descolados do que é ‘oficial’, chamam a atenção para trajetórias e a força da produção, algo incontestável que muitos ignoram solene e lamentavelmente em Santa Catarina.
“Macunaíma, Juque!”, trabalho do consagrado Fernando Lindote que expôs no ambicionado Museu de Arte do Rio (MAR) em 2016
Foto: divulgação
de ações, muitas desenvolvidas de forma desarticulada, são determinantes, a começar a postura do administrador do MASC que, na época, não permitia interferências na agenda tão acintosas do governo do Estado. No mesmo período, a cidade recebe um dos recortes do projeto Rumos Visuais, do Instituto Itaú, e ocorrem quatro edições do Salão Nacional Victor Meirelles. Sério e rigoroso, o salão catarinense criado em 1993, teve sua história interrompida em 2008.
Foto: Sidney Kair/divulgação
ARTE
Obra de Walmor Corrêa que integra a instalação ‘Achillina Giuseppina Maria | Bo Achillina | Achillina Giuseppina | Achillina Bo Bardi | Lina Bo Bardi | Lina Bo’
Néri Pedroso - jornalista, escreve a coluna “Mosaico” no jornal Notícias do Dia. Integra a Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA) e a Academia Catarinense de Letras e Artes (Acla). No campo institucional é vice-presidente do Instituto Luiz Henrique Schwanke.
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O design de Santa Catarina em Dubai Em abril de 2016, o curso de Design do Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC recebeu um convite inesperado para participar da Global Grad Show, uma exposição de projetos acadêmicos durante a Semana de Design de Dubai marcada para outubro, nos Emirados Árabes. O curador da exposição, o norte-americano Brendan McGetrick, convidou 50 universidades do mundo, cujos cursos de design fossem referência. Dentre elas: Universidade de Cambridge; Instituto Europeu de Design (IED); Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT); Royal College of Art, de Londres; Instituto Pratt, de Nova Iorque; e Instituto de Arte e Design da Samsung (Sadi), Coreia do Sul. Foram convidadas três universidades da América do Sul, a PUC do Peru e as brasileiras PUC Rio e Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC. Brendan entrou em contato com o prof. Celio Teodorico dos Santos para encaminhar o convite e saber se a UDESC teria interesse em participar. Em princípio, imaginava-se que seria apenas para enviar imagens de projetos para a exposição, mas descobriu-se que o evento era grandioso e que a presença de alunos e professores dos cinco continentes seria fundamental para a legitimação de Dubai como ponto de encontro global do campo do Design. Na primeira edição da Semana de Design de Dubai, em 2015, mais de 23 mil visitantes de todo o mundo estiveram no evento para conhecer o trabalho e as ideias dos designers participantes. Em sua segunda edição, de 24 a 29 de outubro de 2016, foi maior o número de participantes e
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Foto: Pedro Mox
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Gabriela Botelho Mager
A partir da esquerda, professor Célio Teodorico, Leticia Ratkiewicz, Edmar Brusque, professora Gabriela Mager e Altino Alexandre Cordeiro Neto
visitantes, consolidando o evento anual. Presenciamos o lançamento oficial do primeiro curso superior de Design do Oriente Médio, um evento que contou com a presença do Sheikh Mohammed bin Rashid al Maktoum (Emir de Dubai, primeiro-ministro e vice-presidente dos Emirados Árabes Unidos). O Dubai Institute of Design and Innovation - DIDI está em construção e ficará pronto para o início das atividades acadêmicas em 2019, a ser inaugurado junto com o Dubai Design District – d3, bairro voltado ao comércio e serviços em design e arquitetura. Parte do bairro está pronta e foi onde aconteceu a maior parte das exposições, palestras e workshops em 2016.
150 projetos de universidades que demonstram a visão dos designers do futuro e como será nossa vida daqui a alguns anos. Os projetos foram selecionados em três categorias: connect, empower e sustain. Foram expostos eletrodomésticos, veículos, aplicativos digitais para educação e saúde, mobiliário, ferramentas, próteses, entre muitas soluções inovadoras para questões do cotidiano.
A grande mentora do desenvolvimento do design em Dubai é a Sheikha Latifa, filha do Sheikh Mohammed, interessada em impulsionar a economia da inovação. Para tanto, o governo está estruturando o setor com o fomento a eventos, editais para a incubação de projetos e incentivos para atrair empresas, arquitetos e designers à cidade. Após visitarem a Semana de Design, profissionais, como o arquiteto Santiago Calatrava, vislumbraram o potencial de projetos para a região e oficializaram a abertura de seus escritórios no Dubai Design District. Uma das estratégias de Dubai para se posicionar como hub do design mundial é conectar universidades referência para exporem sua produção acadêmica. A Global Grad Show, segundo McGetrick, é uma exposição única de inovação e tecnologia que irá transformar o futuro pelo talento das novas gerações do design mundial. Em 2016, foram selecionados cerca de
Dos projetos da UDESC encaminhados a McGetrick, três foram selecionados: Flint, um equipamento para auxílio à fisioterapia e medicina, de Altino Alexandre Cordeiro Neto, André Leonardo Ramos, Marcos Furuya; Escada Modular para Dunas, de Edmar Brusque e Kosme, um aplicativo para ensino de astronomia, de Leticia Ratkiewicz. Altino, Edmar e Letícia, hoje egressos do curso da UDESC, foram a Dubai apresentar os projetos aos visitantes da exposição, a convite do evento, acompanhados pelos professores Celio Teodorico e Gabriela Mager. Vivenciamos momentos de trocas únicas em que pudemos discutir conceitos, métodos e práticas acadêmicas com professores de diversos países. O professor Célio participou do debate What Design Should Do?, com professores representantes das instituições de ensino participantes. Percebemos que o design brasileiro está no mesmo nível de inovação dos principais centros do mundo e o que falta aos sul-americanos é investimento em pesquisa e estrutura para o desenvolvimento do setor e, consequentemente, uma economia voltada à inovação.
A participação da UDESC na Semana de Design de Dubai teve desdobramentos muito positivos, pois os contatos que realizamos com as outras universidades possibilitou o surgimento de novas parcerias internacionais. A exposição Global Grad Show abriu novas oportunidades para que os acadêmicos pudessem produzir seus projetos. Uma empresa fabricante de equipamentos médicos de Dubai entrou em contato para produzir o Flint e outra empresa do setor turístico mostrou interesse em adquirir o projeto da escada modular para a prática de sandboard no deserto. Partimos de Dubai com uma visão diferente sobre o Oriente Médio e sua cultura. Conhecemos uma cidade efervescente, próspera, organizada e cosmopolita, que se firma como o ponto de convergência global do design no século XXI. De 13 a 17 de novembro de 2017 estaremos lá novamente, expondo projetos e participando da Semana de Design. Para saber mais www.dubaidesignweek.ae www.globalgradshow.com
Gabriela Botelho Mager - Profª. Drª. do Departamento de Design da Universidade do Estado de Santa Catarina, do Programa de Pós-graduação em Design (PPGDesign) e Diretora Geral do Centro de Artes da UDESC.
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Floresta psicodélica Escada modular para dunas
Flint
Kosme
Desenvolvido por Altino Alexandre Cordeiro Neto, André Leonardo Ramos e Marcos Furuya, sob orientação dos professores David Omar Nuñez Diban e Flávio Anthero dos Santos, Flint foi projetado para ser um equipamento médico destinado à reabilitação de pacientes que necessitam de treino de marcha, procedimento importante no tratamento de deficiências motoras, reversíveis ou irreversíveis, porque incentiva a locomoção, especialmente estimulando os músculos da perna. Atualmente existem equipamentos importados de custo altíssimo (centenas de milhares de dólares) que inviabilizam a ampla utilização no Brasil. Por este motivo, buscaram uma solução de baixo custo similar aos equipamentos de fitness, que pudesse ser produzida e adquirida por hospitais, clínicas e ONGs do país. O produto tem ajustes para a altura do paciente, configurações para apoio de antebraço, um colete para correção da coluna, bem como botas ortopédicas articuladas para corrigir movimentos articulares das pernas.
Desenvolvido por Leticia Ratkiewicz, sob supervisão dos professores André Luiz Sens e Murilo Scoz, Kosme é um aplicativo de astronomia para jovens estudantes, que oportuniza a atividade da observação astronômica. Após observar o céu noturno, o usuário navega pelo mapa apontando o aparelho para os objetos astronômicos que observou para colecioná-los. Com um clique, ele pode adicionar anotações e fotos para documentar sua experiência. Em troca, recebe o sticker equivalente do astro, que pode ser colado dentro de sua respectiva coleção no álbum virtual. As coleções agrupam objetos astronômicos observáveis por categoria, fazendo que o usuário compreenda padrões e assimile características e conceitos sem receber lições. Este projeto recebeu do Ministério das Comunicações o primeiro lugar na categoria Aplicativos, do Edital INOVAPPS 2014, e o resultado final encontra-se para download gratuito na Google Play Store.
Simone Bobsin
Foto: Estúdio Takeuchis
O projeto desenvolvido por Edmar Brusque, com orientação do professor Carlos Eduardo Vieira, é um sistema para subir dunas de areia de forma facilitada. Foi concebido um módulo que, pelo encaixe sucessivo, estrutura uma escada na areia em qualquer ângulo de inclinação. A escada modular foi projetada para a prática do sandboard, mas também pode ser utilizada pela defesa civil, em caso de desmoronamentos de terra ou outros momentos de emergência em que haja a necessidade de estruturar uma escada em terreno frágil.
Designers amantes da natureza, do artesanato e da arte transformam casa-ateliê em laboratório de produção poética de O Tropicalista
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Marcelo Fialho e Marco D. Julio
Lambe-lambre Jungle, revestimento de parede de grande impacto, premiado em 2014 com o primeiro lugar na Categoria design de Superfície sobre Papel, no 4º Salão Internacional de Design de Superfície de Santa Maria, promovido pelo Museu de Arte de Santa Maria
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O desenho feito à mão é trabalhado no computador e ganha diferentes suportes, como na porcelana com a estampa Tainha
Quando a porta do apartamento e ateliê abre-se para o visitante desavisado – ou mesmo advertido -, impossível conter a expressão de espanto, surpresa, admiração... Nomear o local de estúdio seria simplificar demais o incomum espaço de O Tropicalista. No universo criativo de Marco D. Julio e Marcelo Fialho, o ambiente ganha novos significados e poéticas mais complexas que traduzem uma forma de olhar a vida. “Nosso olhar está voltado para a fusão da tradição artesanal com as novas tecnologias. Acreditamos na potência do encontro entre produtores responsáveis e consumidores éticos”, afirma a dupla amante da natureza, do artesanato e da arte que leva essa paixão avassaladora para o cotidiano. Eles criaram uma floresta psicodélica particular cuja referência é a riqueza da cultura brasileira. “Buscamos a ideia de estarmos cercados por esta beleza”, diz Fialho. Partindo da convicção de que todas as superfícies precisam ser cobertas, o laboratório de pesquisa e experimentação, que é a casa deles, não tem nada de neutro e bege. A expressão ‘mais é mais’ é explorada em sua totalidade. Todos os ambientes, do teto ao chão, são tomados por estampas e padronagens desenvolvidas pelos criativos em diferentes linguagens: seda, lona, papel, objetos decorativos, utilitários, acessórios. A linha de produção é autoral, artesanal e em pequena escala. Foi em Fortaleza, há 12 anos, que Marco, designer com formação em artes plásticas, e Marcelo, psiquiatra, começaram a desenvolver os produtos para atender a crescente necessidade de soluções em design de superfície para as áreas de moda e decoração. Em Florianópolis, onde moram há cinco anos, focaram na criação de estamparias e disponibilizaram para venda online ou no próprio ateliê, com agendamento. Premiados e reconhecidos no circuito de arte e design de superfície, Marco e Marcelo valorizam a atmosfera transgressora da arte e criam revestimentos únicos para os amantes de ambientes incomuns.
Fotos: Estúdio Takeuchis
Fotos: Estúdio Takeuchis
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Pratos com a estampa da coleção Tainha. Abaixo, cômodo criativo onde são desenvolvidas as peças
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Estampa Jungle tem arquivo aberto para download gratuito Mônica Hoff
Fotos: Estúdio Takeuchis
Em medidas exatas, Jungle é um painel composto por 110 folhas tamanho A3 que, juntas, compõem uma imagem de 2,70×4,20m. Tal combinação evoca o aspecto de uma floresta tropical. No universo impreciso das poéticas, contudo, Jungle é bem mais do que isso. Trata-se de uma experiência de montagem – de uma ideia de arte e, também, de natureza – que Marcelo Fialho e Marco D. Julio jogaram no mundo para que seja constantemente rearranjada. Jungle é, nesse sentido, um sem fim de possibilidades. Cada folha é um universo em si, e cada nova montagem uma nova floresta. Seus traços fortes, suas cores estridentes e sua escala nos remetem à arte urbana – que precisa ser vista de longe para acontecer. Mas Jungle é também um invólucro, que cria floresta onde não tem, que transforma um cubo branco em mata fechada. Além de uma estampa reproduzível, Jungle é o resultado nunca igual da combinação livre de 110 imagens que geram uma infinidade de originais. Mais do que uma peça de design, Jungle é uma maneira de pensar o design. O projeto surgiu de um incômodo da dupla com relação às paredes brancas do apartamento onde vivem. Era necessária uma solução razoavelmente barata, que refletisse o prazer que sentem com o entorno natural da cidade e que permitisse maior grau de autonomia do que o habitualmente oferecido pelo mercado. A solução ‘inventada’ foi, então, desalinhar as escalas entre dentro e fora, fraturar as fronteiras entre natural e artificial,
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desenhar uma paisagem construída por memórias e invenções, estabelecendo um espaço de articulação entre intensidades, desejos e afetos. Mas Jungle não para por aí. As imagens criadas por Marco e Marcelo, oriundas de coletas feitas durante caminhadas e perambulações na cidade onde vivem, Florianópolis, são disponibilizadas para download (www.otropicalista.com.br/site/), com o objetivo de democratizar o acesso. Pode ser aplicado conforme mapa explicativo ou de forma aleatória. Além disso, o arquivo é também disponibilizado aberto (em vetor) para que o usuário tenha completa liberdade para adequá-lo às suas necessidades, utilizando-o no formato original, em partes e mesmo alterando suas dimensões e cores, que podem ser utilizadas e combinadas de diferentes maneiras. A proposta dos tropicalistas é justamente compartilhar com as pessoas o processo criativo de uma obra em que o resultado final tanto é a soma de seus usos como o que é singularizado por cada participante. Jungle é, assim, uma obra que não tem fim. Mônica Hoff - artista, curadora e pesquisadora, doutora em Processos Artísticos Contemporâneos, pelo PPGAV/UDESC. De 2006 a 2014 coordenou o projeto pedagógico da Bienal do Mercosul, atuando também como curadora de base e coordenadora do Programa Redes de Formação, da 9ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre, RS, em 2013.
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Navegar é preciso Adélia Borges
Exposição que irá integrar a programação de Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017 quer debater questões de identidade, memória e cidadania dos designers brasileiros e portugueses
A relação que temos com nossa herança lusa, tão determinante na formação da nacionalidade brasileira, é permeada por conflitos. É frequente ouvirmos o lamento diante de uma dificuldade ou uma vergonha nacional (e elas não são poucas!): “Ah, se tivéssemos sido colonizados pelos ingleses ou pelos holandeses estaríamos hoje muito melhor.” Parecemos filhos adolescentes que culpamos os pais por nossas próprias incapacidades, e envergonhados nos queixamos dele. Ao receber no início de 2016 um convite de Bárbara Coutinho, diretora do Museu de Design e Moda de Lisboa, pensei que teria uma oportunidade única de vasculhar essa herança pelo ponto de vista do design. Ela me chamava para integrar, ao seu lado, a equipe de curadoria de uma exposição que se propunha a mostrar como os designers dos dois países têm discutido o tema da identidade, da memória coletiva e da cidadania global, por meio de várias expressões (produto, moda, gráfico). A exposição integraria uma tríade proposta pelo MUDE para a programação de Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017. Essa iniciativa abrangente, capitaneada pela prefeitura de Lisboa (lá chamada de Câmara Municipal) vai abrigar durante este ano manifestações em várias linguagens – da música ao cinema, das artes visuais à dança, do teatro ao design. Aceitei de imediato. Em minha mente veio uma lista curta, que começava com Joaquim Tenreiro, o genial marceneiro que migrou da serra da Estrela, em Portugal, para vir a tornar-se o pai do móvel moderno brasileiro nos anos 1940. No decorrer do processo de pesquisa para a mostra, sinto como se estivesse puxando o fio de um novelo cujo fim não consigo vislumbrar, tão ricas e múltiplas são essas trocas, que vão muito além do nosso poeta da madeira.
Foto: Fernando Gerra/divulgação EDP Fundation
O famoso padrão das calçadas de Copacabana, no Rio de Janeiro, veio de Portugal. As ondas estão representadas ali desde 1904, quando o então prefeito Pereira Passos abriu a Avenida Atlântica. Ele trouxe de Lisboa tanto o calçamento em mosaicos quanto o desenho presente nas calçadas da praça do Rossio, que, se afirma, representavam a união do rio Tejo com o mar. O motivo, aliás, já havia sido transplantado para Manaus. Em 1971, o então prefeito Negrão de Lima decidiu aterrar Copacabana e encomendou a Roberto Burle-Marx um novo desenho para as calçadas. O paisagista, artista plástico e designer projetou uma composição abstrata com as ondas posicionadas paralelas ao mar, que rapidamente se tornou um signo do que o design pode fazer para reforçar a beleza de uma cidade. Ainda para ficarmos no registro dos ícones, uma das figuras mais conhecidas do Brasil no exterior era portuguesa. Carmen Miranda nasceu em 1909 na Várzea da Ovelha e foi para o Rio de Janeiro aos 10 meses, em 1909, mesmo ano de Tenreiro. Mais do que uma voz, ela é lembrada pela imagem que evoca – uma construção de design! Um detalhe é que nunca se nacionalizou – nem brasileira, nem americana.
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Um aspecto importante nas trocas entre os dois países é que elas não foram unidirecionais. Ou seja, houve fluxos e refluxos, em que ambos os países se influenciaram e influenciam mutuamente, trocando e criando cultura. Um exemplo está na azulejaria, que tão fortemente marcou o Brasil colonial e foi reinventada no léxico moderno por nomes como o de Athos Bulcão. Pois o uso histórico de azulejos em Portugal estava historicamente restrito aos interiores, seu emprego no revestimento de fachadas de edificações começa no Brasil – e daqui migra para lá. E se herdamos os estilos portugueses no mobiliário, a chegada de madeiras brasileiras a Portugal também teve seu impacto. Uma obra importante para entender essas trocas é o livro ‘Interiores no Brasil: A influência portuguesa nos espaços domésticos’, escrito pela arquiteta mineira Maria Lúcia Machado, com o resumo da dissertação do mestrado que cursou na IADE - Escola Superior de Artes Visuais, Design e Marketing, em Lisboa. No campo do design gráfico, há contribuições significativas de portugueses que residiram por períodos maiores ou menores no Brasil: Correia Dias fez capas de livros nos anos 1910 e 1920; Manoel Mora foi o nome por trás do design da Revista Para Todos nos anos 1920; Arcindo Madeira fez inúmeras capas para O Cruzeiro nos anos 1940 e 1950; e Jayme Cortez simplesmente concebeu a imagem do nosso caipira mor, Mazzaropi, fazendo, por exemplo, os cartazes de seus filmes. Dos anos 1960 até hoje é digna de nota a contribuição de Fernando Lemos, que tem trabalhos da importância do cartaz do filme Brasil Verdade, de Thomaz Farkas, nos anos 1960 e a marca do Memorial da América Latina, nos anos 1980. Foi também um batalhador do reconhecimento profissional do designer, e presidente da ABDI - Associação Brasileira de Design Industrial. Lemos continua firme e forte. No ano passado, aos 90 anos de idade, ele ganhou o Grande Prêmio da Crítica em Artes Visuais, da APCA - Associação Paulista dos Críticos de Arte. Na contemporaneidade, muitas trocas têm ocorrido. O Estúdio Pedrita, de Lisboa, dividiu com Marcelo Rosenbaum a condução de oficinas de revitalização de cestaria em palha de carnaúba no interior do Piauí em 2012. A paulistana Márcia Cirne Lima tem apartamento em Lisboa e lá garimpa materiais que usa em suas joias – de ferragens a pedaços de cortiça bruta. Depois de empreender ações de revitalização do artesanato em Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe, Renato Imbroisi e sua equipe estão para iniciar um projeto em Portugal, em conjunto com designers portugueses. A exposição ‘Tanto Mar! – Fluxos Transatlânticos do Design’ ficará em cartaz de 27 de outubro deste ano a 4 de fevereiro de 2018 no Palácio das Calhetas, no bairro de Belém, em Lisboa – isso porque a sede do MUDE, em plena rua Augusta, no centro da cidade, está passando por uma reforma. O prédio que vai abrigar a mostra é o Palácio dos Condes da Calheta, que está intimamente relacionado
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com a história ultramarina e a política colonial de Portugal, pela sua arquitetura e história. A presença no edifício de parte de acervo de peças africanas nos animou a também mapear alguns dos fluxos Portugal, Brasil e alguns países africanos, tema fascinante e muito amplo.
Um desafio lançado por Bárbara é irmos além do “que é conhecido, divulgado pelas agendas midiáticas”. A partilha de olhares e ideias com ela tem sido extremamente estimulante, um verdadeiro privilégio. E todas essas descobertas trazem um prazer a mais: ir a Lisboa e descobrir tudo o que essa cidade pode oferecer. No início de 2017 a revista Wallpaper escolheu a Capital portuguesa como a melhor cidade do mundo no que diz respeito ao seu design. Entre outros motivos, a publicação inglesa cita a inauguração em 2016 do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Belém; a realização da Trienal de Arquitetura da cidade e novas obras que estão sendo finalizadas, entre eles o Terminal de Cruzeiros, projeto do arquiteto Carrilho da Graça, que de fevereiro a março deste ano ganhou uma retrospectiva no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. Em sua palestra realizada na abertura da exposição, Carrilho fascinou a plateia lotada de profissionais, críticos e estudantes de arquitetura. As pesquisas para a mostra estão em pleno curso no momento em que escrevo esse texto, e tenho certeza de que a exposição será apenas o início de um processo mais intenso de mútuas descobertas. Sim, navegar é preciso! Buscar e trazer à luz essas confluências apontam para renovadas possibilidades de intercâmbios no presente e no futuro.
P.S. - A programação de Lisboa, Capital Ibero-americana de Cultura 2017 reúne exposições, colóquios, encontros e espetáculos, e pode ser acessada on-line em www.lisboacapitaliberoamericana.pt
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Macrotrend: Trumpy Times ou o fim da Globalização
Foto: Carol Quintanilha cedida pela Galeria Passado Composto Século XX
Bárbara e eu temos nos apoiado bastante no pensamento de Agostinho da Silva (1906-1994), filósofo, poeta e ensaísta português que residiu no Brasil de 1947 a 69 e é autor de uma reflexão importante sobre os diálogos entre Brasil, Portugal e países da África. Ele viveu parte desse período em Salvador, onde exerceu uma influência direta sobre artistas como Glauber Rocha, Caetano Veloso e Gilberto Gil, e indireta sobre a arquiteta Lina Bo Bardi. Como diz Bárbara, para Agostinho da Silva as características maiores de “ser português” eram a sua universalidade, interculturalismo, abertura ao outro e infinita capacidade de ser variadíssimas coisas ao mesmo tempo, mesmo que pareçam ser contraditórias. Aos interessados, recomendo vivamente o documentário ‘Agostinho da Silva – Um Pensamento Vivo’, dirigido pelo cineasta baiano João Rodrigo Mattos, neto de Agostinho, e disponível na internet pelo link www.youtube.com/watch?v=cRF9GcgivRE.
Fah Maioli
Cadeira três pés de Joaquim Tenreiro, o genial marceneiro que migrou da serra da Estrela, em Portugal, para vir a se tornar o pai do móvel moderno brasileiro nos anos 1940
Ainda espantados com o sucesso de Donald Trump nos EUA, com o BREXIT na Inglaterra e com as atitudes totalitaristas na Turquia cometidas por um presidente considerado laico, ocidental e democrático como Erdogan? Bem, temos que nos habituar com estes fatos “fora da ordem comum” ou como diz o neologismo americano trumpy que significa - no contexto presidencial no qual foi criado - bizarro. Esteja atento: a política, seja ela local ou externa a você, influencia mais do que você pensa no lifestyle e nos setores de moda, design e arquitetura. E assim, se estes fatos e sinais que estamos ‘contabilizando’ pelo Zeitgeist (mood cultural do momento) continuarem na mesma direção, seguramente começaremos a verificar que, a primeira macrotendência a sofrer as consequências diretas será a da globalização. Com o seu contrário: o que chamaremos daqui para frente de movimento No-Global ou ainda, Peak Globalization.
Adélia Borges - crítica, historiadora de design e artesanato e curadora. É autora de mais de uma dezena de livros, entre eles Design + Artesanato: O Caminho Brasileiro, de 2011. Entre 2003 e 2007 foi diretora do Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. Jornalista formada pela USP em 1973, é colaboradora de várias publicações, com textos divulgados em sete línguas. Fez a curadoria de mais de 40 exposições no Brasil e no exterior.
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Fotos: Fah Maioli/divulgação
O case de Pokémon Go foi uma forma de realidade aumentada que fez sucesso no ano passado
O McDonald’s adotou uma estratégia na Itália para combater a crescente insatisfação dos consumidores italianos com os sanduíches americanos. Eles estão criando alternativas com produtos 100% Made in Italy como este da foto, o McDonald’s panino Gran Chianina
Quais os sinais mais próximos de nós?
Basta analisar como você mesmo está mudando seus comportamentos, de seus amigos próximos e de pessoas como você ao redor do mundo: percebem como estamos ‘recrudescendo’ nas nossas escolhas? Como estamos ‘escolhendo’ o que consumir - e como nos comportar com os recursos - de uma forma completamente nova? Do GLOBAL ao LOCAL é a maior característica, ou sinal, que estamos identificando neste caminho que nos guiará ao fim da globalização. Um exemplo bem simples é o dos mercadinhos de bairro, onde notamos o aumento de demanda por produtos e produtores locais, referencialmente bio ao invés de frutas e verduras importadas e que sinaliza de forma simples, mas objetiva, a ponta deste iceberg. E o fenômeno por um consumo consciente de moda claramente a km zero e não Made in China? Sem falar da dimensão estrondosa do fenômeno SLOW na gastronomia que na base prefere o próprio território à tudo aquilo que vem ‘de fora’. E nem vou entrar nas questões políticas com os movimentos nacionalistas contra imigrantes e minorias que abundam aqui na Europa e Américas e tem no seu denominador comum a mesma semente: o medo daquele que vem ‘de fora’, o medo da abertura ao ‘desconhecido’ que nada mais é do que uma reação negativa - em nível pessoal e instrumentalizada por grupos políticos das extremas desta interação e/ou troca com o mundo que chamamos de globalização.
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A companhia italiana Barilla está usando impressoras 3D para criar novos formatos de massa e pretende revolucionar o mercado alimentício com a possibilidade das pessoas imprimirem sua própria massa
Tudo chega aos seu fim ou se transforma: são os ciclos da história!
Quase tudo aquilo que usamos todos os dias, da alimentação ao vestuário, passando pelos veículos e aparelhos eletrônicos, e se controlarmos, até os materiais que compõem as nossas casas, vem provavelmente de um país ou território externo ao nosso. Este movimento, que influenciou de forma duradoura como vivemos, foi facilitado pela abertura de fronteiras e pelo comércio internacional que diminuiu as distâncias. De forma concreta, a humanidade passou os últimos 50 anos ‘globalizando’, ou melhor, homogeneizando tudo no maior exemplo de ‘macdonaldização’ que a história contemporânea assistiu. Todos os setores mercadológicos atenderam a este chamado no que foi um ciclo histórico só comparável com a influência greco-Romana, da Árabe dos mouros (muçulmanos) que conquistaram a Espanha ou ainda a francesa da época de Napoleão!
Quais as causas por trás desta mudança de época?
Mas este ciclo de integração total mundial a qualquer custo, capitaneada economicamente pela China que teve o seu maior crescimento nos últimos 30 anos, está, pelo visto, terminando. E já que a única constante é a mudança, dizia o filósofo grego Heráclito de Efeso, existem fenômenos que a potencializaram. A tecnologia é uma delas, cristalizando um processo que iniciou, segundo afirmam os historiadores, com a crise de 2008, e que chamam de Peak Globalization (nasceu com este artigo goo.gl/eg7hxB de Harvard que li em 2010).
Além da tecnologia, existem ainda quatro grandes ‘responsáveis’ por esta grande ‘virada’. Em ordem: Energia Renovável: no mundo da revolução industrial, passamos pelas fases do carvão, do gás e chegamos na do petróleo. Porém, sabemos que esta reserva está para acabar em breve (indico este artigo goo.gl/7GC3Gh sobre o tema do fim do petróleo) e estamos assistindo diariamente, interessantes resultados da aplicação das energias da natureza como o sol, vento, marés etc. na otimização de processos industriais e individuais (case TESLA goo.gl/iTwgLU). Não iremos mais depender de um ‘posto de gasolina’ cujo petróleo, no caso italiano, vem da Arábia Saudita ou Líbia, ou seja, iremos ser independentes. Impressão 3D: se eu com uma impressora destas posso construir desde a pasta para meu almoço (case Barilla), até a casa onde irei viver (case italiano de casas low cost aqui goo.gl/TFdwqM) utilizando as matérias-primas que consigo comprar a km zero, por que terei que depender de fábricas de alimentos ou empreiteiras que importam seus produtos? Realidade Virtual: a tecnologia das comunicações via Skype e correlatos não reduziu a necessidade de viagens, pois a videoconferência permite a troca de informações, mas não uma interação plena: não posso ‘pegar’ os documentos que mostro e ‘vê-los’ com as minhas mãos (somos assim, precisamos de uma interação mais realística!). Assim, a tecnologia de realidade virtual e realidade aumentada prometem preencher esta lacuna
por meio de dispositivos especiais e surpreendentemente realistas. O case de Pokémon Go foi uma forma de realidade aumentada e se formos espertos poderemos pensar em algo com este conceito para otimizar nosso contato em longas distâncias. Agricultura Indoor: a ação mais simples de todas, representada pelas hortas em casa, nos edifícios comuns (case de alguns chefs em Paris) e nos terrenos cedidos pelas prefeituras, como aqui na Itália e em muitas cidades da Europa, como Paris e Berlim. Se eu posso ter acesso ao alimento que vem deste tipo de plantação, por que irei precisar comprar nas grandes cadeias de varejo? A lista pode aumentar e isso apenas irá otimizar o processo. Claramente não será de hoje para amanhã - nenhuma macrotrend age desta forma - mas é um processo inexorável e que abrirá novas portas. Uma delas, a meu ver, é a revalorização das culturas locais com um consequente aumento da autoestima destes povos, gerando também uma maior independência econômica. Um fato extremamente positivo em tempos de americanização e europeização do mundo, não acham?
Fah Maioli - trend analyst e escritora ítalo-brasileira que vive em Milão e atua há mais de duas décadas nos mercados italiano, brasileiro e americano. Seu foco é a pesquisa e análise de tendências e comportamentos que influenciam o desenvolvimento de produtos para a moda, design e gastronomia.
Case Trump:
A MISOGINIA É RESULTADO DO MOVIMENTO NO GLOBAL O comportamento de aversão ou repulsão pelas mulheres (na raiz de muitos abusos e moléstias), que foi revelada e potencializada pelos eleitores de Donald Trump é, na sua base, um reflexo da recusa da globalização. Oras, 48% da população americana de eleitores esteve com Trump, apesar dos pesares, e a resposta, segundo o filósofo Michael Sandel - chamado de o rockstar da ética, professor em Harvard -, é no pensamento dos homens brancos da working class, que veem nele a única esperança para resgatar o papel perdido na sociedade americana. As razões não são apenas culturais: grande parte destes homens perderam o trabalho em função da globalização, da crise, do outsourcing e do declínio da indústria. Na cabeça deles, a ‘culpa’ não é de programas políticos
falidos, e sim, cheios de ressentimentos verso às minorias, ou seja, os imigrantes, afro-americanos e... mulheres. TODOS estes são culpados por terem progressivamente ganhado o status cultural e econômico dos ‘machos brancos’. Assim, nos EUA temos essa forte misoginia e aqui na Europa o retorno do nacionalismo! Porém, é assustador termos isso nos EUA, país de nato progresso civil, onde grande parte da população masculina reage ao trend de crescimento na igualdade de gêneros elegendo um misógino. Para esses homens, os progressos feitos pelas mulheres nos últimos anos é um inimigo para combater... Que tempos!!
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TRENDS A (r)evolução não será televisionada: ela acontece ao vivo e, principalmente, em cores; muitas cores! Quem pinta de certezas essa observação é Leatrice Eiseman, diretora executiva da Pantone, empresa que desvenda e nomeia cada um dos 50 tons de cinza – e do arco-íris todo. De olhos, ouvidos, mente e coração bem abertos, Lee, como prefere ser chamada, é quem bate o martelo quando a pauta é a cor do ano – que, no caso de 2017, é o Greenery, uma mistura de verde musgo com um amarelo intenso. A decisão é solidificada gradativamente ao longo do ano, e começa a ganhar mais corpo nos últimos quatro meses. O processo é de reconhecimento e projeção, nada a ver com escolhas: entram para a conta os filmes de maiores destaques, a moda dentro e fora das passarelas, as novidades do desenho industrial, as artes em geral e até o simbolismo das cores. “Acho que a palavra-chave para este ano é ‘meioambiente’, daí faz sentido que a cor de 2017 seja da família do verde. Ano passado vimos um mundo muito mais preocupado e sensível com questões ecológicas, e parece que percebemos a importância disso. É uma progressão natural, eu diria”, explica Lee. Formada em design e psicologia, Lee tem por hábito e por profissão levar as cores ao divã, analisando aqueles detalhes que escapam aos olhos. “Quando falamos ‘cor favorita’, talvez não compreendamos de forma consciente a infinidade de fatores que compõem essa equação: infância, experiências, sociedade e cultura local são só algumas delas”, revela. Ainda assim, a mesma pergunta feita em diferentes fases da vida tem respostas diferentes: “da mesma maneira como o nosso paladar ‘amadurece’ ao longo dos anos e muda nossa relação com a dieta, também experimentamos as cores de outra maneira. Por razões fisiológicas, bebês reagem primeiro a cores primárias e, à medida que vamos incorporando pensamentos mais complexos, vamos alargando o nosso espectro de tonalidades, que são igualmente complexas. Não à toa, adultos sentem necessidade constante de mudança, e pintam paredes, cabelo e carros – as cores são parte fundamentais de nossas mais profundas mudanças”.
As cores no divã A psicologia multicolorida de Leatrice Eiseman, diretora executiva da Pantone Eloá Orazem
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Essa regra, assinala a especialista, é aplicável a (quase) tudo. Lee chama atenção para a tecnologia, que começou explorando a escala do cinza. Tudo relativo a esse setor tangia entre o cinza e o prata e, portanto, a evolução natural contemplaria também as cores - daí a gama de aparelhos multicoloridos que temos à disposição. Por essas e outras, a diretora da Pantone tem como mantra a frase de sua autoria: “cor é contexto”. Ainda nas palavras de Leatrice, todos devemos ser vigilantes para que não nos fechemos a novas combinações, sobretudo porque novas cores estão surgindo – “como temos novos pigmentos, catalogamos variações do preto, por exemplo”. Ponderando seu momento atual, Leatrice se diz
inclinada à família do roxo, que é uma tonalidade associada à criatividade. Resultado da unificação do azul e do vermelho, o roxo é apenas mais uma das provas multicoloridas de que os opostos trabalham bem juntos. “Não existe uma cor ‘contra’ a outra; todas elas se completam. O verde e o vermelho estão nas extremidades contrárias e, no entanto, o vermelho fica mais vermelho perto do verde – daí a beleza de uma rosa envolta por arbustos”, e completa, “é quase uma lição de paz, que vem bem a calhar na nossa sociedade”. Se por um lado as cores propõem um cessar fogo, por outro é uma verdadeira guerra: quando nas vitrines e prateleiras, elas se tornam verdadeiras armas de fogo para incendiar o consumismo. Se aproveitando do impacto psicológico de cada tonalidade, especialistas escolhem a dedo as embalagens e os artigos promocionais de seus veículos – tudo devidamente premeditado para impulsionar as vendas. E o que Lee acha disso? Absolutamente natural. “Isso é uma ciência e não acho antiético ou errado que usem essa ferramenta a mais para conseguir destaque para uma marca ou produto. Até porque a cor por si não vende nada, ela só torna o objeto mais apelativo aos olhos”, assinala. Dando continuidade à sua linha de raciocínio, a especialista nos lembra que esse lado marketeiro colorido não é desonesto, sobretudo porque a informação está ao alcance de todos – e sempre esteve: “livros centenários tratam de assuntos como esse e hoje, com a internet, esse conhecimento está, literalmente, a alguns toques de distância de quem se interessar em saber mais sobre essa arte vital das cores”. Dentro e fora da sala de aula, Lee se mostra incansável em sua missão de educar sobre as cores, mas não se furta ao que ainda tem para conhecer também. “Prefiro pensar que estamos todos aprendendo juntos”, reflete. Suas últimas aulas e viagens pelo mundo, aliás, têm lhe intrigado um bocado: sabia há tempos que os jovens são mais abertos ao uso das cores, mas avalia num misto de curiosidade e preocupação o fato d’eles não estarem usando cores relativas às suas culturas. “Consigo entender que isso é bom, pois denota uma nova educação acerca do tema; mas me entristeço quando noto uma homogeinização, e percebo que jovens em países diferentes estão usando basicamente a mesma coisa, nas mesmas cores”, conclui. Mantendo-se fiel à pessoa positivista que é, Lee trata de pintar os pensamentos negativos e aposta em uma revolução. Talvez essa, como tantas outras, comece em tons quase monocromáticos, mas a explosão de cor (e de amor) não tarda e não falha. Nunca.
Eloá Orazem - com passagens pela TV Globo, O Estado de S. Paulo e diferentes revistas de lifestyle, a jornalista mudou-se para Los Angeles, onde atua como correspondente internacional.
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PONTO DE VISTA
Corporate Ventures Quando empresas e empreendedores somam-se na inovação Ana Carla Fonseca + Alejandro Castañé
Durante séculos a fio, a concorrência teve feições muito próprias, via de regra representada por uma empresa de porte e poder de fogo similares ou quase, em um verdadeiro duelo de titãs. A inovação era guardada a sete chaves, desenvolvida no coração da empresa e eventualmente de instituições de pesquisa parceiras e quando alguma nova empresa mais arrojada dava mostras de querer por as garras de fora na mesma categoria de produtos ou serviços, era rapidamente adquirida ou ao menos tentativamente sufocada. Foi-se o tempo! Já a algumas décadas, em especial nas últimas duas, cada vez mais a concorrência toma os traços de um par de meninos de vinte e poucos anos, com pouco dinheiro no bolso, nenhuma vontade de trabalhar em um emprego nos moldes tradicionais, uma ideia brilhante na cabeça e muita disposição de passar noites em claro para fazê-la acontecer. Em época de disrupção, economia compartilhada, revisão de valores e hábitos de consumo e comportamento e de mudanças também no mercado de trabalho, a inovação passou a ser gradativamente aberta – não raro, inclusive, para a concorrência. Algo, convenhamos, que teria ares de heresia até a anos recentes. É sobre esse pano de fundo que se desenha a figura de corporate venture. Tema ainda timidamente discutido, de aplicação embrionária mas com grande potencial de crescimento no Brasil, como aliás em todo o mundo, o termo designa o investimento de empresas, via de regra de grandes corporações, em startups. Os dados confirmam a prática dessa lógica em um dos ícones de empreendedorismo digital e negócios do planeta, os
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Estados Unidos e ultrapassam em muito suas fronteiras. Basta mencionar que mais de 48% das empresas listadas na Fortune 100 têm um braço de corporate venture, sendo que estas responderam por 24% dos negócios envolvendo venture capital no planeta, nos últimos quatro anos e nos mais variados setores. Mas, afinal, por que cargas d’água uma empresa investe em startups? Os motivos são vários. No extremo (baixo) da maturidade há aquelas que se sentem motivadas a fazê-lo porque a concorrência o faz, porque startups estão na moda ou porque, intuitivamente, percebem que a parceria com empreendedores descompromissados com os moldes atuais de fazer negócios pode trazer benefícios de alguma ordem. Já de forma mais ancorada no negócio, há de forma simplificada ao menos três grandes eixos de retorno sobre o investimento.
Por fim e a nosso ver o mais importante, porque nas startups reside um virtualmente inesgotável filão de oportunidades de inovação. Por mais brilhante que seja a equipe de pesquisa e desenvolvimento da empresa, ela certamente ganhará asas de grande envergadura ao expandir seu horizonte de inovações para abarcar todo um ecossistema que se dedica a inovar, sem os vícios da empresa e sem professar os paradigmas do mercado tradicional. De fato, um dos maiores benefícios de um programa de corporate venture é conseguir olhar além do modelo de negócios consolidado, alargando o horizonte de inovações e ampliando o alcance do laboratório de inovações da empresa – e o que é melhor: a um excelente custo-benefício, já que na prática se terceiriza boa parte do risco da inovação.
O primeiro é de marketing. Entram nesse rol de ganhos de imagem (associação a empreendedores inovadores, arrojados e via de regra jovens, com todos os atributos funcionais e emocionais que isso representa para uma marca) a manter um radar nas tendências das empresas, dos consumidores e dos mercados.
E as startups? Ganham acesso a capital, a competências várias, que muitas vezes não têm (financeira, técnica, gerencial), à rede de inovação da empresa e à possibilidade de utilizarem a corporação como cliente âncora – aquele que incorpora a inovação em seu portfólio, constituindo assim uma prova do conceito para que a startup chegue a outros clientes.
Já o segundo grande mote de corporate venture é o retorno financeiro. Investir em startups, quando feito de forma correta, é uma excelente forma de inserir inovação na cadeia de desenvolvimento e produção de bens ou serviços, a um custo muito menor do que se os novos empreendimentos fossem internos à empresa. Para não mencionar, claro, os próprios ganhos de investimento em negócios que, por si, podem transformar-se em excelentes apostas.
Diante desse quadro, no qual empresas e empreendedores podem fazer mais pela inovação nos negócios resolvemos, em uma parceria entre a Garimpo de Soluções e a agência REPENSE, lançar o projeto Open City Lab. Quando paramos para pensar na importância que as cidades têm para o mundo, no fato de que a maioria da população mundial já há uma década é mais urbana do que rural (no Brasil cerca de 86% da população já mora em centros urbanos) e na diversidade, na
capacidade de reinventar contextos e ampliar a fronteira da inovação que isso traz, é impossível não levar as cidades ao debate sobre inovação. E não para por aí. Se a cidade é vista por muitos como um epicentro de problemas, ela é na verdade um manancial de soluções - de infraestrutura à moradia, de negócios criativos à ecologia urbana, de educação ao direito à cidade, de bem-estar a mobilidade, e ainda pensando nas várias tribos que conformam uma cidade. É com base nesses pilares que o Open City Lab, em uma iniciativa pioneira no mundo, conecta startups com impacto urbano positivo a empresas que querem inovar, ao mesmo tempo, seus negócios e o ambiente no qual vivem. Afinal, quão mais propício à inovação for seu ambiente, mais potencialmente inovadora a empresa será – e também o serão seus consumidores, seus clientes, seus demais stakeholders, seu ecossistema. O que isso representa em termos de incremento do bem-estar, redução de custos e aumento de possibilidades de desenvolvimento é evidente. Nessa lógica de empresas e empreendedores, juntos, pela inovação em negócios e cidades, ganham as empresas, os empreendedores, as cidades e, lógico, os cidadãos. Porque nada pode ser mais poderoso para transformar contextos do que conexões nas quais todos ganham.
Ana Carla Fonseca e Alejandro Castañé - sócios-diretores da Garimpo de Soluções e especialistas em economia criativa e cidades.
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BIBLIOTECA
Casacadabra
Cidade Caminhável
Autora: Bianca Antunes e Simone Sayegh Ilustração: Carolina Hernandes Editora: Pistache Editorial
Autor: Jeff Speck Editora Perspectiva
Anita di Marco
Itinerários da Arquitetura Moderna – Florianópolis Autores: Luiz Eduardo Fontoura Teixeira e Gilberto Sarkis Editora: UFSC
Arquitetura moderna em Florianópolis A publicação Itinerários da Arquitetura Moderna – Florianópolis é fruto de pesquisa desenvolvida pelos professores do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Eduardo Fontoura Teixeira e Gilberto Sarkis Yunes. Lançada pela Editora da UFSC no final do ano passado, o livreto traz 65 obras que integram 5 setores, abrangendo 11 bairros da cidade. Cada foto tem o nome do prédio, localização, autoria e ano do projeto e da finalização. O material de fácil entendimento funciona como um guia que contribui para o conhecimento e consequente valorização da arquitetura moderna. Itinerários da Arquitetura Moderna – Florianópolis
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foi financiado pela Superintendência Regional do IPHAN-SC e tem distribuição gratuita a instituições de ensino, acervos de cultura e para pesquisadores. Interessados devem entrar em contato com o Departamento de Arquitetura da UFSC, professor Luiz Eduardo Fontoura Teixeira, pelo fone (48) 3721-4766. O livreto é uma prévia do livro que está em fase de finalização. A previsão de lançamento é no final de 2017. Setores: - Centro, José Mendes e Agronômica - Coqueiros e Estreito - Lagoa da Conceição e Jurerê - Trindade - Itacorubi, Pantanal e Santa Mônica
Buscando contribuir para criação de cidades mais agradáveis, chega ao mercado editorial o livro Cidade Caminhável, pela Editora Perspectiva, com tradução de duas Anitas: a arquiteta Anita Di Marco e a jornalista Anita Natividade. O autor, o urbanista americano Jeff Speck, defende a necessidade de criar cidades mais caminháveis, destaca os benefícios dessa ação e ilustra suas afirmações com o Placar de Caminhabilidade, o Walk Score, que indica as melhores cidades do mundo para se caminhar. O livro é um manifesto de como criar cidades voltadas para o pedestre, incentivando os deslocamentos a pé, de bicicleta e em transporte público. Bastante informal, o autor dirigese ao público como se estivesse falando com os amigos. De início, Speck vincula a prática do caminhar à economia em geral, por meio da melhoria da saúde, diminuição da obesidade, da poluição ambiental, do número de sinistros, do número de acidentes cardiovasculares por estresse no trânsito e, consequentemente, gerando menos gastos para os sistemas de saúde em geral. Além disso, salienta o autor, que caminhar pelo bairro fortalece as relações de vizinhança, o que melhora a segurança em geral. Critica o uso excessivo dos carros e
a pouca preocupação das autoridades com os pedestres, já que o carro parece ser o senhor absoluto das aglomerações urbanas, sobretudo quando se refere aos subúrbios americanos. Na segunda parte do livro, enumera dez passos para criar cidades mais caminháveis, que incluem: • diminuição do número das faixas de alta velocidade; • repensar uma largura adequada das vias em função da segurança dos pedestres, cruzamentos, semáforos, arborização, desestímulo à criação de novas vagas para automóveis, melhoria do transporte público, incentivo ao uso de bicicletas e sua infraestrutura (bicicletários, paraciclos, ciclovias, ciclofaixas) etc. Citando Jane Jacobs, nossa velha conhecida, salienta a importância do uso misto nas ruas e lembra que se deve delimitar criteriosamente a área a ser tornada caminhável, uma vez que os investimentos não são ilimitados e nem mesmo todas as áreas se prestam às mesmas soluções. Enfim, com uma série de exemplos e apesar de algumas afirmações discutíveis, o livro chama a atenção sobre o tema. O mais difícil hoje talvez seja fazer frente à pressão do automóvel particular.
Algumas das medidas sugeridas já vêm sendo aplicadas por cidades no mundo todo, inclusive São Paulo: criação de ciclovias e sua infraestrutura, corredores exclusivos para ônibus, investimento pesado no transporte de massa, adensamento populacional nas áreas mais centrais, sobretudo junto aos eixos de transporte. Londres, Paris, Madrid, Oslo, Copenhagen e tantas outras vêm, há tempos, implantando ciclovias e limitando a velocidade e a área de acesso dos carros. Paris e Londres, por exemplo, já estabeleceram que o centro da cidade deverá ficar livre de carros particulares até 2020. É só uma questão de tempo, de costume e de opção pelo coletivo. Podemos tomar ideias emprestadas, mas não soluções. Cada ideia deverá ser pensada e repensada em função de sua população, sua identidade, cultura, dos recursos disponíveis e, sobretudo, em função dos objetivos que movem essas decisões. O que vale lembrar é que a cidade é de todos.
Com brincadeiras, interatividades e exercícios propostos para fazer em casa ou na escola, o livro Casacadabra leva o leitor mirim a descobrir segredos e detalhes da arquitetura, ao mesmo tempo em que percebe as casas como espaços lúdicos: uma casa redonda, um dragão que mora no telhado, ou a casa em cima da cachoeira. A ideia é que palavras a princípio complicadas – brise soleil, um pilotis ou uma estrutura em balanço – sejam explicadas de maneira simples e didática, conversando diretamente com as ilustrações. É desta maneira que Bianca Antunes, uma das autoras de Casacadabra, explica o projeto do livro escrito para a criançada e lançado com grande repercussão em 2016.
“É um projeto que parte da ideia de que princípios de arquitetura e urbanismo devem ser ensinados desde cedo, para termos cidadãos mais conectados com o espaço urbano e construído, e atentos para a construção de cidades mais humanas”, disse à redação do ArqSC. Para isso, foram selecionadas e apresentadas 10 casas pelo mundo, quatro delas no Brasil, onde são passados conceitos de arquitetura até a análise da posição da casa no terreno e sua relação com a cidade. O livro é resultado de financiamento coletivo pelo Catarse e um projeto de Bianca Antunes, jornalista especializada em arquitetura, e Simone Sayegh, arquiteta. As ilustrações são de Carolina Hernandes.
Ilustrações: Carolina Hernandes
Arquitetura ensinada desde cedo
Caminhar nas cidades
As 10 casas apresentadas: Casa de Vidro, de Lina Bo Bardi (São Paulo, Brasil); Casa Bola, Eduardo Longo (São Paulo, Brasil); Edifício Copan, Oscar Niemeyer (São Paulo, Brasil); Casa Grelha, FGMF (Serra da Mantiqueira, Brasil); Casa Dymaxion, Buckminster Fuller (Estados Unidos); Fallingwater, Frank Lloyd Wright (Mill Run, Estados Unidos); Casa Batlló, Antoni Gaudí (Barcelona, Espanha); Bedzed, Bill Dunster (Londres, Inglaterra); Casa NA, Sou Fujimoto (Tóquio, Japão) e Quinta Monroy, Elemental (Iquique, Chile).
Jeff Speck - foi diretor de design no National Endowment for the Arts e por 10 anos atuou como diretor de planejamento urbano na Duany PlaterZyberk & Company, onde ajudou a consolidar mais de 150 projetos para novas cidades, planos regionais e revitalização de comunidades.
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BIBLIOTECA
Na terra natal
Pedro Paulo de Melo Saraiva arquiteto
Boas histórias contadas de pai para filho
Autor: Luis Espallargas Gimenez Editoria: Romano Guerra
Avesso a apelos espetaculosos, a formas cuja gratuidade escapa de um ordenamento modular, Saraiva construiu uma obra rigorosa, correta e, ao mesmo tempo, arrojada. Obra que felizmente saiu publicada poucos meses antes da sua morte no belo volume monográfico Pedro Paulo de Melo Saraiva: arquiteto, com autoria de Luis Espallargas Gimenez e edição da Romano Guerra Editora. Autor de construções importantes em sua cidade natal, como a Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, o Palácio da Justiça do Estado, o Fórum de Florianópolis e a Ponte Colombo Salles, Pedro Paulo projetou também excelentes edifícios residenciais construídos em Santos e em São Paulo, sobretudo no bairro de Higienópolis. Além disso, ainda recém-formado projetou o admirável Edifício Quinta Avenida (1958)
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na Avenida Paulista, discreta lâmina que se ergue transversalmente sobre um generoso embasamento térreo – expansão da calçada da Paulista –, que abrigou por muitos anos a vídeo locadora 2001. Pedro Paulo Saraiva, assim como Paulo Mendes da Rocha, pertence a uma geração que se formou em meados dos anos 1950, quase que contemporaneamente ao concurso para o plano piloto de Brasília. Uma geração, portanto, que se preparou para construir um país moderno e com um vasto território, algo que parecia de certa forma natural àquela altura. Porém, ao contrário disso, assistiu tanto ao recrudescimento do mercado imobiliário nas grandes cidades, que se afastou da intelligentsia arquitetônica, quanto ao desvio tecnocrático das grandes obras infraestruturais e urbanas sob o ufanismo grandiloquente do regime militar. É da consciência desse descompasso histórico que vem, de certa forma, a radicalidade estrutural da Escola Paulista, cujos grandes vãos, em ambientes pouquíssimo compartimentados, constituem proezas e audácias, nas palavras de Vilanova Artigas, próprias ao raciocínio de arquitetos que queriam realizar antecipadamente, no espaço, uma revolução
política e social que não vinha. Um belo exemplo disso é o Edifício Acal, projetado por Saraiva em 1974, e situado entre as avenidas Faria Lima e Cidade Jardim. Trata-se de um prédio de escritórios de planta quadrada, com as quatro fachadas uniformes, compostas por uma grelha treliçada de concreto armado com módulos quadrados contraventados em x. Aqui a estrutura ganha tal protagonismo que se desloca do esqueleto para a pele, constituindo a própria imagem do edifício. Tal é a escala e a presença da estrutura, nesse caso, que ela já não é um mero sistema de apoio da construção, e sim o espaço em si mesmo. Simbolicamente, o usuário torna-se um habitante da própria estrutura. Já nos 2000, Pedro Paulo projetou a requalificação do Mercado Municipal de São Paulo, construindo um elegante mezanino metálico para restaurantes, solto da estrutura original do edifício. Discreta e contundente, sua obra se inscreve com destaque na nossa história urbana. Guilherme Wisnik - arquiteto, crítico, professor da FAUUSP e curador – ele foi curador geral da 10ª Bienal de Arquitetura de São Paulo (2013). Este artigo foi publicado originalmente na Folha de S. Paulo, com reprodução no portal Vitruvius, e publicação autorizada no ArqSC.
Fotos: Arquivo do arquiteto
O arquiteto Pedro Paulo de Melo Saraiva faleceu em agosto de 2016, aos 83 anos de idade. Nascido em Florianópolis, Saraiva estudou no Mackenzie, onde lecionou até o fim da vida. Tendo se fixado em São Paulo, tornou-se um dos maiores expoentes da chamada ‘Escola Paulista’, caracterizada pelo amplo uso do concreto armado, em construções definidas pela sua estrutura.
Assembleia Legislativa de Santa Catarina – ALESC, 1ª fase com os colegas Paulo Mendes da Rocha e Alfredo Paesani, 1964; 2ª fase com o filho Pedro de Melo Saraiva e Fernando Magalhães, 2004. No alto, croqui de Pedro Paulo de Melo Saraiva para ampliação da ALESC.
Foto: Arquivo do arquiteto
Guilherme Wisnik
Paço Municipal de Florianópolis, 1º lugar em concurso público nacional, 1977, com arquitetos Sérgio Ficher e Henrique Cambiaghi e paisagismo Rosa Kliass. Croqui de Pedro Paulo de Melo Saraiva
Arquiteto Pedro Paulo de Melo Saraiva Sede do Confea, Brasília 2007, com Pedro de Melo Saraiva e Fernando de Magalhães Mendonça
Foto: Arquivo do arquiteto
Estruturas habitáveis
Pedro de Melo Saraiva
Requalificação do Mercado Público Municipal Paulistano, 2002, Pedro Paulo de Melo Saraiva, Pedro de Melo Saraiva e Fernando de Magalhães Mendonça
Tribunal de Justica, 1º lugar no Concurso para o Tribunal de Justiça de Santa Catarina em 1968 (com Francisco Petracco e Sami Bussab)
Nascido em Florianópolis em 1933, Pedro Paulo muda-se para São Paulo aos 15 anos com seu irmão mais velho, que acabara de ingressar na faculdade de medicina. Apesar do desejo inicial pelo curso de Engenharia Naval, entra na Faculdade de Arquitetura do Mackenzie, formando-se arquiteto em 1955. Com um início de carreira promissor obtém, ainda estudante, prêmios pelos projetos da Residência Hercílio Pedro da Luz e Residência Linésio Laus, ambas em Florianópolis. Em 1969 é convidado pelo governo do Estado de Santa Catarina para participar do Plano Diretor da Grande Florianópolis, e em seguida do Projeto e Urbanização do Aterro da Baía Sul e ainda da nova Ponte Colombo Salles - tarefas de escala e responsabilidade que divide em consórcio com os escritórios Croce, Aflalo & Gasperini, e com o Escritório Técnico J.C. Figueiredo Ferraz, ambos de São Paulo. Pedro Paulo de Melo Saraiva atuou na esfera pública e na militância profissional e, em 1977, recebeu o prêmio ‘Troféu O Barriga-Verde’, láurea conferida aos catarinenses ilustres que dignificaram seu Estado ‘além-fronteiras’. São inúmeras as boas estórias que cresci ouvindo, e mais tarde, como arquiteto, pude perceber a importância da figura do meu pai na sua terra natal. Dono de prodigiosa memória, citava, nas salas de aula ou na mesa de um bar, fatos, acontecimentos, detalhes, e personagens da história recente da cidade com requintes de fidelidade bibliográficos. Desde as boas lembranças dos tempos de Colégio Catarinense com o amigo inseparável Murilo Pirajá Martins, do fascínio pela natureza, pelo mar, pelos barcos até ‘causos’ históricos como o episódio em que convence o Sr. Comelli (que era genro do Aderbal Ramos da Silva, tido como ‘um dos donos de Florianópolis’ na época) a permitir passar pela área do Estaleiro do Arataca a ligação principal da cabeceira da nova ponte com a Baía Norte. Pedro Paulo era um idealista. Professor desde os 29 anos, lecionou até a data de seu falecimento. Era um incansável educador, um arquiteto de senso técnico apoiado na história e cultura brasileiras. Nos últimos tempos estava plenamente envolvido com dois projetos importantes por concretizar: o lançamento do inédito livro que trata de sua diversificada trajetória profissional; e o projeto de Ampliação do Palácio Barriga Verde (ALESC), projeto este ainda em indefectíveis croquis sobre papel milimetrado, sua pauta preferida de criação – o livro foi lançado, numa fria, porém bela tarde de maio do ano passado, no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. O projeto do Anexo da Assembleia Legislativa certamente seria mais uma de suas contribuições à arquitetura catarinense...ficou no papel, assim como muitas outras ideias e projetos de um arquiteto inquieto e engajado, que mantinha plena atividade profissional até os dias de sua partida.
Pedro de Melo Saraiva - arquiteto, filho de Pedro Paulo com quem dividiu o escritório de arquitetura.
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ENTREVISTA
Moysés Liz
“A utopia está lá no horizonte, - me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. - caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. - por mais que eu caminhe jamais a alcançarei. Para que serve a utopia? Para que eu não deixe de caminhar.” Eduardo Galeano
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Foto: Guilherme Llantada
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ENTREVISTA
A arquitetura e a impermanência da vida Simone Bobsin O tempo traz um distanciamento necessário em relação à própria produção. Nem sempre é suficiente para o autor se dar conta da relevância da sua obra. Durante a entrevista com o arquiteto Moysés Liz, invariavelmente ele fazia comentários sobre suas próprias limitações e as limitações inerentes à profissão. Diante do prédio que talvez seja o mais significativo até hoje em Florianópolis, o Ceisa Center, perguntei-lhe: “Você tem dimensão da relevância dessa obra?”. Ele respondeu pausadamente, não sem antes refletir e falar com convicção: “Eu tenho orgulho em ver que o prédio está sendo usado”. O pensamento de Eduardo Galeano, que abre a entrevista, e a resposta acima dizem muito sobre o arquiteto, que nasceu na zona rural, em Índios, distrito de Lages, e aos sete anos foi com o pai, de carroça, morar na casa da avó, na cidade, para estudar. O maior orgulho de Moysés é ver a arquitetura projetada na prancheta ser útil e fazer bem ao usuário, décadas depois de pronta. Porque para ele a impermanência da vida também tem reciprocidade na arquitetura, portanto é natural que haja mudanças. Os pensamentos do arquiteto encontram sintonia com sua filosofia de vida e hábitos como a prática da cerimônia do chá e de outras atividades espirituais inspiradas nos Andes (Mistica Andina e Nação Pachamama) e no Oriente (Budismo, Zen Budismo, Taoismo e Induismo). Humildade talvez seja a palavra que melhor traduza a maneira dele olhar à arquitetura, dando importância para o caráter social e o contexto da cidade, sem a necessidade de holofotes pessoais. Na seção de fotos, achou um exagero tantos cliques. “Não sou nenhuma estrela”, falou timidamente o sócio número dois do 46
IAB/SC (Instituto de Arquitetos do Brasil). Em 3 de outubro de 1969, assinou a criação da instituição em Santa Catarina juntamente com Odilon Monteiro, Antônio Rogério de Macedo, Joel Pereira, João Preto e Carmem Cassol. Quando seus pais mudaram-se para Lages (SC), Moysés foi morar com eles antes de partir para Porto Alegre para servir ao exército e fazer o vestibular para arquitetura, em 1954, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), onde se formou. Ao vir para Florianópolis, em 1960, a cidade tinha apenas um arquiteto – a primeira escola de arquitetura no Estado é de 1977 e a primeira turma formada é de 1982. Os profissionais eram formados principalmente no Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. Com a oportunidade de atuar na esfera institucional, o arquiteto marcou sua trajetória com projetos arquitetônicos responsáveis pela inserção de linguagens, tipologias e novas tecnologias da construção. A partir da década de 1970 houve um período de verticalização, uso e expansão do concreto armado e as suas obras criaram grande impacto no cenário urbano da cidade. Moysés Liz, 82 anos, é o nome que abre a série ‘Memória’, que procura resgatar a história da arquitetura catarinense, a importância e o pensamento de profissionais que ajudaram a construir nossas cidades. A entrevista foi realizada na casa do arquiteto, numa tarde prazerosa regada a chá de hortelã feito por ele com erva colhida em sua própria horta, e teve a participação do também arquiteto Guilherme Llantada, que nos brinda com um ensaio de fotos. Boa leitura!
Simone – O que influenciou a decisão pelo curso de arquitetura? Acho que foi meu temperamento. Além de gostar de matemática, eu achava que tinha uma certa sensibilidade para outras coisas como arte, talvez o curso mais adequado fosse arquitetura. Não foi nenhuma pessoa, e também porque não gostava de química e no vestibular de engenharia tinha química. Simone – E por que a vinda para Santa Catarina? Quando eu me formei em Porto Alegre, em 1959, tinha trabalho, mas estava um pouco difícil. Eu tinha necessidade financeira e precisava trabalhar. Naquela época meu professor Roberto Veronesi - que foi autor do Marambaia, aquele hotel de Balneário Camboriú; de outro em Cabeçudas; da antiga rodoviária na Mauro Ramos, em Florianópolis; de um mercado no Estreito com o mesmo partido da rodoviária; de um edifício na praia de Coqueiros, com pilotis -, fazia muitos trabalhos aqui. Então decidi mudar em abril de 1960. Fui trabalhar na Diretoria de Obras Públicas, que funcionava no terreno onde hoje é o Ceisa Center.
Fontes foi a pessoa que deu muita força para que a mudança ocorresse, embora tivesse a idade que tenho hoje. Ele era muito dinâmico, a gente ia de jipe da Diretoria de Obras Públicas, no Centro, ao campus, em estrada de barro, onde estavam construindo um único prédio que deu as condições para começar o ensino na universidade federal. Simone – Essa influência modernista já estava presente? Sim, já estava muito presente. Eu tive uma experiência muito positiva no segundo ano do curso de arquitetura. Houve um concurso para escolher os alunos que iriam fazer uma visita ao Rio de Janeiro, em 1956. Foi marcante poder ir ao Rio e visitar os principais escritórios de arquitetura da época. A arquitetura carioca era muito mais relevante, inventiva e criativa do que a dos paulistas. Visitamos Sérgio Bernardes, Affonso Eduardo Reidy, Jorge Moreira, Henrique Mindlin, Niemeyer, Burle Marx. Cheguei a ver as pranchas do projeto da Praça dos Três Poderes sobre a mesa de Niemeyer. No Leme, no ateliê de Burle Marx, vi ele projetando joias. Foi uma experiência muito marcante.
“Tenho orgulho de
Simone – Como era o cenário da arquitetura na época e como foi sua chegada em Florianópolis? Fui muito bem recebido. Na diretoria tinha uma turma de engenheiros de Curitiba, até hoje permanece a amizade com alguns que ainda estão vivos (risadas). O cenário da arquitetura em Florianópolis era o casario todo baixo, um ou dois pavimentos, casas térreas, alto só o edifício das Secretarias, o Zahia, e do Banco Nacional do Comércio, onde atualmente é o Santander, na Praça XV. A primeira noite que dormi aqui foi no hotel La Porta, que ficava na praça XV (hoje é a Caixa Econômica Federal), as muradas junto ao mar eram bem perto do hotel, lembro bem de ouvir o barulho do mar na primeira noite. Uma cidade tranquila, ouvindo o barulhinho da água, era muito gostosa essa sensação.
dizer que muitas coisas aconteciam por vontade própria da gente, não porque
Guilherme – Era uma arquitetura revolucionária... Revolucionária, criativa, muito poética... eles pautavam pela autenticidade. As casas de Sérgio Bernardes eram maravilhosas, uma das casas no topo de um costão tinha uma piscina com horizonte infinito, já se fazia naquela época.
havia um plano diretor
Simone – Essa vivência foi determinante para a construção da sua trajetória arquitetônica? Acho que me deu certeza de que era por ali mesmo, não havia dúvida que abriu mais a minha sensibilidade para a arquitetura. Comecei a ver de forma mais concreta como as coisas poderiam ser expressas. Lembro que o Jorge Moreira chamava a atenção para o enquadramento das aberturas na paisagem, as janelas serviam de moldura para que a paisagem fosse enfatizada e transformadas em quadros vivos.
e um código de obras”
Simone – Já havia arquitetos na cidade naquele tempo? O único arquiteto que havia na época era o Walmy Bittencourt, formado no Rio de Janeiro, que já devia ter uns cinco anos de profissão. Eu tinha notícia também que o Pedro Paulo de Melo Saraiva fazia alguns trabalhos, ele era nascido aqui, fez o projeto para a Assembleia Legislativa com o Paulo Mendes da Rocha. Simone – Como foram as primeiras experiências arquitetônicas na cidade? Nas obras públicas tive uma experiência muito boa. Na época, a UFSC já tinha o terreno na Trindade, mas havia uma resistência muito grande dos diretores em fazer a mudança pra lá. O desembargador Henrique da Silva
Guilherme – É a fotografia… Sim, é a fotografia, era um quadro vivo, eles exploravam muito nessa época. A natureza do Rio se presta muito a isso, tem elementos geográficos e iconográficos muito marcantes que eram enquadrados na arquitetura. Simone – A arquitetura institucional foi uma marca do escritório. O Walmy Bittencourt, que tinha ganhado uma concorrência para o Hospital Celso Ramos, me convidou para participar do projeto. Ele ficou seis meses fora por conta de uma bolsa de estudo. Antes fez toda a pesquisa,
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ENTREVISTA
coleta de dados e dimensionamento, mas faltava a implantação do hospital no terreno, que coube a mim. Concluímos o projeto conforme as condições da época. Depois foi alterado, tinha um pilotis no térreo que foi ocupado totalmente, tinha uma separação do centro cirúrgico em relação ao ambulatório inspirado nos projetos de Rino Levi, um arquiteto paulista que fazia muitos projetos de hospitais. Simone – Qual foi a próxima obra depois do Hospital Celso Ramos? Veio o concurso para o Palácio da Justiça e eu convidei o Ademar Cassol para fazer o projeto. Ficamos em terceiro lugar, quem ganhou foi o Pedro Paulo de Melo Saraiva. Depois do concurso nós continuamos trabalhando juntos, era o escritório Liz Cassol, e depois entrou o Monteiro. Foi aí que surgiu o Liz Cassol Monteiro, depois ficou apenas o Liz Monteiro. Simone – Quantos anos durou o famoso escritório Liz Monteiro Cassol? No total, foram 17 anos. Um dos projetos que fizemos foi a companhia telefônica daqui, que era privada, pertencia a família Ganzo, tornou-se pública, e deu origem a Telesc. Nós fizemos o projeto da administração da Telesc, no Itacorubi. Foi uma grande revolução na parte de telefonia, porque anteriormente a gente pedia uma ligação para Porto Alegre e ficava aguardando ser chamado no outro dia à tarde. Isso no início dos anos de 1970.
Simone – A estética como partido é uma possibilidade. Como você vê a correspondência entre forma, função considerando a ideia de que a forma artística deriva de um método, ou problema? Na medida do possível, o arquiteto procura atender a função, que a arquitetura responda a necessidade do cliente, mas de uma forma agradável aos olhos, que tenha estética e cause impacto, unindo vários elementos que juntos conseguem sensibilizar o espectador. Arquitetura é muito surpresa, impacto inicial e amor à primeira vista.
“Fazíamos os projetos tendo em vista a melhor forma de aproveitamento do terreno e que fosse expressivo, que não prejudicasse a vizinhança, pelo contrário, que valorizasse o entorno”
Simone – E nessa época as obras já tinham influência da escola paulista? Sim, começou desde o concurso do Palácio da Justiça, era o brutalismo, o concreto, a estrutura aparente, e também influência das ideias de Niemeyer com os grandes vãos livres, estrutura esbelta. A principal linguagem era a dispensa de revestimentos, principalmente o reboco. O ideal era deixar até a marca das formas. Tinha a influência de Brasília, o uso da argamassa armada para fazer os elementos prémoldados de concreto mais esbeltos. No prédio da Telesc conseguimos incorporar esses elementos nas fachadas e que serviram de proteção solar. São três fachadas e três curvas com insolação diferente nas janelas contínuas. Dividimos as fachadas em vários setores e para cada um tinha um determinado desenho para que fosse mínima a incidência solar, gerando menor consumo de ar condicionado. Já havia essa preocupação em fazer escritórios panorâmicos, todos livres, com divisórias e forros removíveis para dar mais flexibilidade para as mudanças necessárias. Junto com a Telesc do Itacorubi, veio o prédio da Telesc Regional, na Praça Pereira Oliveira, onde é o
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atual Banco Safra. O terreno era relativamente grande, numa área central, com muita visibilidade. Foi possível fazer um projeto com mais ênfase na estética, com três fachadas formando unidade e que pudesse ser visto de qualquer ângulo, sem interferência de outras necessidades que não a estética. E esse partido a gente procurou tirar do concreto, fazendo as colunas caneladas e o teto com vigas diagonais aparentes. Não sei se ainda permanece, mas gosto muito do espaço central da entrada, com pé direito duplo e que permite a quem chega ver os dois níveis laterais. No lado direito via-se as cabines telefônicas revestidas com forração vermelha e portas de vidro temperado transparente.
Simone – Como foi a repercussão das novas obras que estavam sendo erguidas nas décadas de 1970 e 1980 com linguagens tão diferentes das que a cidade estava acostumada a ver? Foi bem aceita, o pessoal se entusiasmava tanto quanto a gente. Tenho orgulho de dizer que muitas coisas aconteciam por vontade própria da gente, não porque havia um plano diretor e um código de obras. Fazíamos os projetos tendo em vista a melhor forma de aproveitamento do terreno e que fosse expressivo, que não prejudicasse a vizinhança, pelo contrário, que valorizasse o entorno. Eu passei em um prédio que fiz recentemente, no ano 2000, na Rio Branco. O Centro Empresarial Barão do Rio Branco é um prédio que tem o hall bem recuado e duas esculturas do Max (Max Moura) em frente – um grande amigo, eu o conheci em 1969 fazendo desenhos no Museu de Arte Moderna de Santa Catarina. Uma das esculturas é uma árvore de ferro preta e penso que é uma crítica à preservação. Eu consegui fazer com que a firma imobiliária que construiu não comercializasse a parte da frente. É um exemplo de projeto que procura se relacionar com o entorno de forma harmoniosa. Esse mesmo princípio consegui no Ceisa Center nas entradas. Na Osmar Cunha criou-se um espaço público coberto com esculturas da Elke Hering Bell. Houve uma integração da arte com
a arquitetura em um espaço público que foi valorizado. A escultura ‘Fruto Partido’ está com sua base de fixação exposta porque o condomínio eliminou um canteiro com vegetação e isso prejudicou muito a apresentação, o que não acontecia no projeto original. Já na entrada da rua Vidal Ramos temos uma passarela central com uma cascata de um lado e, de outro, um espelho d’água. A ideia era fazer com que a água formasse um remanso do outro lado, passando por baixo da passarela. Infelizmente o espelho d’água foi ocupado por uma loja de colchões, descaracterizando o espaço e agredindo as esculturas das paredes do artista paulista Roberto Vivas. Alugando o espaço os condôminos acharam uma forma de ganhar dinheiro. É um espaço público ocupado, não deixa de ser uma forma de corrupção. Simone – Como foi o processo de desenvolvimento do Ceisa Center considerando o briefing do cliente? Era um terreno enorme, até hoje acho que é o maior terreno urbano em Florianópolis. Faz frente para três ruas e a gente procurou fazer o acesso das garagens na parte mais desvalorizada e os acessos do público, um para cada uma das três ruas que limitam o terreno, convergem a uma área maior, no miolo do prédio, como se ali funcionasse uma praça, um ponto de encontro. Neste espaço, além das colunas revestidas de aço inox polido, destacava-se a escada central, leve e solta. Infelizmente este espaço hoje é lotado por várias banquinhas de comércio informal, sem nenhuma estética ou respeito. O prédio em si foi dividido em três blocos separados pelas juntas de dilatação sendo que cada bloco tem sua circulação vertical própria. As entradas para esses blocos também acontecem pela galeria. As lojas têm pé-direito duplo e para não ficar muito monótono, colocamos alternadamente sobrelojas avançando em balanço sobre a galeria.
obras depois de tanto tempo e elas têm um grau de atemporalidade, de permanência no espaço, vivendo o tempo atual, as vezes mais atual do que obras realizadas hoje porque tem uma essência bela, uma unidade que preserva no tempo, como referência, tem qualidade impressionante. O Banco Safra desenha a praça com uma lucidez de não querer ser mais do que é, mas acaba sendo. Tem essa força de projeto pela precisão do desenho, que não tenta rebuscar, criar um barroco, um acessório, e aí fica atemporal, talvez fosse muito novo pra época. O Ceisa foi uma revolução dentro da arquitetura, talvez é o prédio mais significativo até hoje em Florianópolis. O prédio da Eletrosul, o da Celesc, da Telesc, eles têm essa identidade, essa unidade... Também acho que a época favoreceu esse tipo de solução que resultasse em uma obra mais séria. Pressa havia, mas não era uma pressão como hoje. Também havia necessidade de ser pago, de receber pelo projeto, mas não era assim de forma tão gananciosa. O dinheiro era importante para se manter, mas não para ficar rico, entende. A obra era importante, não a pessoa da gente.
“No Ceisa Center houve um sucesso incrível na venda, porque era um prédio convidativo, teve um retorno, a qualidade do espaço que estava sendo vendido fez com que a demanda aumentasse”
Simone – E o desenho em curva como surgiu? O terreno era todo irregular e a curva surgiu para compatibilizar essa irregularidade - outra coisa que a gente conseguiu na época. Até então poderíamos ter feito o prédio afastado um metro e meio do vizinho, estava dentro da legislação e daria muita área para o empreendedor ganhar dinheiro, mas achei que ficaria mais harmonioso inserir a curva, para seguir também um pouquinho o Niemeyer né (risadas). Guilherme – Teve influência do Copan… Tem influência, mas era isso que a gente sabia fazer na época … (risadas) Guilherme – Você falou de unidade, de responder a uma determinada necessidade do cliente. A gente olha essas
Simone – Considerando esse ponto de vista, o que é arquitetura pra você? Arquitetura pra mim é a criação de um cenário onde a vida acontece. É um cenário que te abriga, te aconchega e que poderá fazer você vivenciar emoções. Acho que todo arquiteto procura fazer com que a vida que irá ocorrer naquele espaço seja harmoniosa, solidária, até humilde né? Nada de exibicionismo.
Simone – Independente da escala... Isso é fundamental, tanto faz projetar um palácio quanto uma casinha humilde de um operário, eu me empenharia da mesma maneira. Não tem diferença entre uma obra de vultou ou pequena. Guilherme – Quando você fala nos acessos a gente vê como a arquitetura pode fazer urbanismo. O urbano não é resultado de um desenho do urbano, mas do desenho da arquitetura. Suas obras têm essa provocação dos acessos, é um prédio privado, mas tão público na forma. O Ceisa se oferece à cidade, é uma via de passagem, eu prefiro passar por dentro do prédio do que pela rua, é um passeio. Esse projeto que eu fiz na Rio Branco também tem essa doação de um pouco da sua área para o público. Guilherme – Paulo Mendes da Rocha fala do não espaço comercial, que infelizmente os urbanistas não desenham a cidade, até pensam, filosofam sobre o tema, mas quem desenha a cidade é a especulação imobiliária.
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Guilherme – É essa discussão do poder que o arquiteto tem de convencer o investidor… Mesmo em prédios públicos você pode influir, tive esta experiência no prédio da Telesc. A obra atrasou e a diretoria me chamou porque queria abreviar e simplificar a obra, eliminando os brises da fachada. Eu fiquei… Nessas horas vem uma força que a gente acha que não tem. Quando nos convencemos de algo que consideramos verdadeiro, temos força e eu consegui convencê-los de que estariam fazendo uma grande bobagem. Os brises eram o que dava vida e valoriza o prédio, além de que os pré-moldados eram independentes da obra e não estavam atrasando a construção.
essa arquitetura pode resolver isso? Esse pensamento dos colegas é equivocado. O arquiteto deveria ter uma visão maior e sensibilidade em relação a cidade. Eles estão querendo menos APP para ampliar o mercado de trabalho deles e dar mais área para as construtoras. Alegam que quem polui é a população de baixa renda que ocupam os morros sem planejamento. Mas as pessoas precisam morar, há uma omissão do poder público, a cidade está sendo poluída pela omissão. Acho que uma das grandes causas do fracasso dos Planos Diretores é que eles não preveem terrenos ou locais para a população de baixa renda. Aí essa população acaba ocupando os morros ou áreas incompatíveis para a construção de moradias. Como não existem outros locais que eles possam ocupar e eles precisam morar, ocorre a improvisação, a poluição, a abertura de servidões. Florianópolis é campeã em servidões. Simone – São 60 anos de arquitetura em Florianópolis, qual a tua visão sobre a arquitetura contemporânea, como ela responde a essas questões emergentes? São 60 anos de vida em Florianópolis, não só de arquitetura. Para ser bem sincero, eu acho que responde de acordo com o interesse do dono da obra e as condições que o poder público permite. O arquiteto faz a sua obra seguindo as leis, códigos, tem que seguir essas condicionantes, mas dentro disso tem que procurar brechas para que o empreendimento tenha um retorno para a sociedade de uma forma não tão evidente, em um recuo mais generoso, na própria visualização da obra, expressão plástica boa, harmoniosa, gabaritos altos com recuos condizentes, volume bem solucionado. Vejo muito a justificativa de que o proprietário exigiu que fosse feito daquele jeito, ao invés do arquiteto propor outra solução para contornar e que traga uma resposta à sociedade e ao empreendedor. O arquiteto tem ferramentas para isso, e tem que ser inventivo também, não só na prancheta. Precisa justificar que o que ele está propondo é o melhor para o empreendedor e para a sociedade, inclusive uma obra aceita pela comunidade reflete na visão que ela tem do próprio empresário, que geralmente é visto como um ganancioso que só quer ganhar dinheiro.
“O arquiteto tem que ter, de certa forma, jogo de cintura. Ele é bombardeado por vários interesses e tem que ter discernimento para enxergar o que é melhor para a cidade, tem que pensar na cidade”
Simone – Qual é o papel do arquiteto diante de tantas demandas, partidos, forma, função, responsabilidades … O arquiteto tem que ter, de certa forma, jogo de cintura. Ele é bombardeado por vários interesses e tem que ter discernimento para enxergar o que é melhor para a cidade, tem que pensar na cidade. Até pode pensar no interesse do dono, mas o importante é pensar no espaço urbano e o que aquela obra vai representar no cenário onde será implantada. É bonito sentir esse poder, não é um poder de dinheiro, ditatorial, é um poder de convencimento, de demonstrar que o que você projetou é o melhor para a cidade e para a sociedade. Quero aproveitar para dizer que fiquei surpreso com colegas convidando, pelo whatsapp, para uma audiência do Plano Diretor para discutir e estabelecer as APPs da ilha. Um grupo queria muita APP e outro disse assim: “não vai eles quererem transformar a ilha toda em uma APP”. Pensei comigo: “seria uma maravilha transformar a ilha toda numa APP, era um respeito a essa beleza exuberante que temos aqui e que está sendo deteriorada”.
Guilherme – Qual o rumo que a arquitetura do século XXI está tomando? Esse consumo das energias, da matéria, da própria natureza está tirando a vida da cidade, como fazer essa cumplicidade cidade e natureza? Como viver numa capital onde tem uma grande área de preservação permanente dentro de um perímetro urbano e como
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Guilherme - Mies van der Roeh diz que “Deus está nos detalhes”, esse detalhamento e refino de desenhar o corrimão do Ceisa Center, o que significa, qual a importância do desenho? Onde a arquitetura quer chegar no ser humano, na sociedade, nas possibilidades de tocar a sensibilidade?
É uma forma de você requintar um pouco a sua obra quando tem um detalhe bem resolvido e ser executado na obra, porque é muito diferente ter o detalhe na sua prancheta e conseguir tal qual você desenhou. Uma das últimas obras que fiz eu detalhei o auditório, e lá pelas tantas o órgão público fez outra concorrência e colocou outra equipe para a especificação do mobiliário. A equipe que fez o acabamento do auditório não entendeu o que eu tinha feito, e aí simplesmente mutilou. É muito problemático. Aquele detalhe era imprescindível! A obra não acaba no projeto aprovado pela prefeitura, acaba na inauguração e muitas vezes vai além. A falta de sensibilidade acontece muito vezes no órgão público porque mudam os diretores e cada qual tem uma visão.
conseguimos fazer tudo que gostaríamos e muitas vezes você também tem seus limites e não consegue fazer uma coisa tão boa como gostaria. Guilherme – E qual o projeto que você não fez e ainda desejaria fazer? Fiz igreja, estádio de futebol, prédio comercial, residencial, residência unifamiliar, eu tenho saudosismo de casas que fiz e foram demolidas para dar lugar a prédios, eu tinha um certo ciúmes dessas casas, considerava como se fossem minhas, mas a impermanência da vida está em tudo. Acho que qualquer solicitação em relação a arquitetura é interessante, sempre tem um detalhe que você pode inovar. Mas estou numa fase da vida tranquila. A partir deste ano me considero aposentado e passei a me dedicar a mim mesmo. Acho que chega né!
Simone – Como é ver a sua obra alterada? Acho lamentável principalmente quando o autor nem é consultado. Acontece com todos, aqui temos o exemplo do LIC que foi todo deturpado (o Lagoa Iate Clube foi projeto por Oscar Niemeyer). Acho que falta conscientização e respeito do poder público e proprietários em relação à arquitetura. Faz parte da cultura do brasileiro não ter esses escrúpulos. O comum é o conceito de que se a pessoa é a dona, pagou, pode usar de qualquer jeito. Não deveria ser por aí, as alterações não precisariam ser feitas pelo arquiteto autor do projeto, mas poderiam pelo menos ter a anuência dele. Acho um respeito pelo autor. Hoje é generalizado, os próprios colegas interferem no seu trabalho, o que considero uma falta de ética e de moral.
“A cidade está sendo poluída pela omissão. Sua maior riqueza, que é a paisagem, está sendo dilapidada”
Guilherme – A falta de cultura arquitetônica talvez, do que representa, ninguém pinta sobre um quadro… É isso mesmo, no máximo vão restaurar. Claro que a gente tem que saber que as necessidades mudam, embora a gente tenha a ilusão de que a arquitetura é uma obra que tenha que durar muitos e muitos anos. Mas ela não dura, também sofre da lei da vida, da impermanência das coisas. Ela também é impermanente. Simone – Qual foi a sua última obra? Atualmente tenho só um cliente no escritório, estou transferindo tudo para a Flávia (Flávia de Liz Arcari, filha do arquiteto), mas dou assistência, faço reuniões. Estou trabalhando para a Intelbras, conheci a empresa quando era um galpão em São José. Tem um prédio que gosto que é a associação dos funcionários da Intelbras. Uma das últimas obras que fiz foi o Cremesc, fiquei 85% contente com o resultado, houve muita interferência, nem sempre
Foto: Guilherme Llantada
É até uma discussão dentro das universidades quando falamos sobre conceito de projeto para os alunos que depois irão para o mercado: o que é o melhor para a cidade e ainda assim traz o benefício para o investidor... No Ceisa Center houve um sucesso incrível na venda, porque era um prédio convidativo, teve um retorno, a qualidade do espaço que estava sendo vendido fez com que a demanda aumentasse, inclusive depois subiram os preços.
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ENTREVISTA
Projetos
Fotos: Arquivo do arqiteto
Fotos: Arquivo do arqiteto
Sede do Cremesc, 2014, de Liz Arquitetos
Sede da CELESC, inaugurada em 1988, projetos dos arquitetos Moysés Liz, Odilon Monteiro e Enrique Brena. Abaixo, fachada frontal da CELESC
Fotos do prédio da Telesc, antiga Telecomunicações de Santa Catarina, projeto inaugurado em 1976, de Moysés Liz e Odilon Monteiro
Sede dos funcionários da Intelbras
Condomínio Itacoatiara, Praia Brava, projeto de 1989 do escritório Liz Cassol Monteiro Associados
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O ícone arquitetônico Ceisa Center pelas lentes poéticas do arquiteto e fotógrafo Guilherme Llantada
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ARQUITETURA
ativamente há dez anos. A globalização levou a um intenso processo de crescimento e mudança da profissão – nos últimos cinco anos, a quantidade de arquitetos em atuação no Brasil passou de 95 mil para 150 mil. “O perfil do trabalho do arquiteto tornou-se mais exigente; as solicitações dos clientes e os avanços tecnológicos tornaram-se mais complexos; e os imperativos sociais e ecológicos tornaram-se mais prementes. Ao afirmar que a profissão mudou, podemos entender que não podemos, de maneira alguma, prescindir da participação de profissionais de outras áreas atuando em conjunto sistematicamente, contratados ou associados, isso já é realidade em escritórios brasileiros e em outros países não é de agora”, reforça.
O modo contemporâneo de ser arquiteto
À frente do escritório Studio Domo, fundado há 34 anos em Florianópolis, Roberto Simon sempre se beneficiou desse tipo de arranjo produtivo para o desenvolvimento dos seus projetos. Há oito anos, avançou ainda mais na transformação do modelo de negócio: sua empresa de arquitetura passou a também incorporar empreendimentos. “Tentando olhar o mundo através dos caminhos da UIA, as discussões com colegas pelo mundo traçaram, de certa forma, um olhar mais amplo, e nos guiaram para profissionalizarmos essa decisão de nos tornarmos híbridos, enxutos e polinucleados. Leitura, observação e conversa nos conduziram a esse projeto que, com certeza, toma tempo e tem seu período de amadurecimento”, explica. Para ele, a incorporação é considerada mais um passo na história da Studio Domo. “Outros deverão ser dados nos anos que se seguirão, com base na análise e na avaliação sistemática do próximo passo e do próximo… step by step. Sobre vantagens e desvantagens? O próximo passo definirá. Portanto, só existirá desvantagem se houver a paralização. Esse é o desafio”, frisa Simon.
Os arranjos contemporâneos extrapolam o conhecimento adquirido durante a formação acadêmica e exigem uma visão empreendedora, criando novos modelos de negócios Letícia Wilson
A formação de consórcios entre escritórios de arquitetura sempre existiu no Brasil, especialmente para o desenvolvimento de grandes e complexos projetos, frutos de concursos ou de licitações públicas. E, não raro, em associação com empresas internacionais de arquitetura. Na última década, essas parcerias têm sido firmadas também entre pequenos e médios escritórios, onde os arquitetos
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e urbanistas estão somando ideias, competências e compartilhando pranchetas com colegas e profissionais de outras áreas para a conquista de novas oportunidades de trabalho e da qualificação da arquitetura oferecida. Outros têm ido além: associam-se aos próprios clientes, na incorporação de empreendimentos. Os arranjos contemporâneos extrapolam o conhecimento adquirido durante a formação acadêmica e requerem uma visão empreendedora, sedimentada na criatividade e na inovação. “Nesse debate, o compromisso maior é aquele que nos leva à inexorável discussão da ‘modernidade’. Entendê-la e experimentá-la significa habilitar-se a viver as vicissitudes do mundo globalizado. É aprender a assimilação de algumas certezas balizadoras dessa nau errante que vem rapidamente mastigando esse século”, conceitua o arquiteto e urbanista Roberto Simon, Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Conselheiro Titular da União Internacional de Arquitetos (UIA), da qual participa
Foto: Kilson Ricardo
De tempos em tempos é preciso reinventar-se. Por força dos novos hábitos da sociedade, da expansão das tecnologias, da eficiência de arranjos produtivos multidisciplinares, da consolidação das redes colaborativas e, inclusive, de crises econômicas, é fundamental rever conceitos e procedimentos, o formato de sociedades, os métodos de trabalho. E refletir sobre o que se entende por concorrência, por parcerias e conexões, por geração de oportunidades. É salutar mover-se, é recomendável arriscarse, é imprescindível transformar-se. Essa dinâmica não é uma novidade no mercado, tão pouco entre os arquitetos. O que há de novo é uma corrente crescente de profissionais e empresas reinventando-se.
Compromisso social e empreendedorismo
Da mesma geração de expoentes arquitetos e urbanistas de Santa Catarina, Nelson Teixeira Netto também resolveu criar suas próprias oportunidades, e, há seis anos, passou da assessoria à sociedade com grandes empresas. “Mudamos completamente a estratégia. Amadurecemos essas questões e passamos a dizer: nós vamos ser sócios de empresas de desenvolvimento de imobiliário de trabalhos que efetivamente sejam significativos para nós e para a sociedade. Não vamos mais esperar que as pessoas nos procurem, nós vamos criar os fatos”, enfatiza. O resultado, segundo ele, é a fusão entre o autor e o cliente, entre o cliente e a obra, qualificando a arquitetura. “É uma possibilidade para ficarmos mais livres, porque eles nos repassam mais e nós conduzimos mais o processo de criação do negócio. Eles vão cuidar da engenharia do negócio, dos produtos que vão ali, das empresas que vão se inserir ali, e deixam o campo da expressão da arquitetura para o arquiteto, que, então, participa mais ativamente do desenvolvimento do produto”, considera Nelson, Mestre em Projeto pela Royal College of Art de Londres. Com uma trajetória bem-sucedida de quase 40 anos de mercado, Nelson enfatiza: “os arquitetos devem pesquisar o que é mais importante para a sociedade”. Para ele, compromisso social e empreendedorismo são dois fatores que, historicamente, devem balizar as formações profissionais.
Formação acadêmica
A universidade é, a princípio, o campo da experimentação, da utopia, das possibilidades infinitas, do mundo sem restrições, dos caminhos filosóficos que permitem os acadêmicos experimentarem todas as possibilidades de um mundo novo. A esse conceito, o arquiteto e urbanista Guilherme Llantada, Mestre em Urbanismo, História e Arquitetura da Cidade pela UFSC e professor da Faculdade
“O empreendedorismo não pode e não deve se ater somente a faixas de alta renda, mas, também, a assistência técnica à baixa renda. E deixarmos de lado nossas vaidades para buscarmos soluções para todos os níveis, como fez o economista e Nobel Muhammad Yunus o chamado ‘banqueiro dos pobres’. Nada pode ficar longe do alcance dos nossos olhos, nada!”. Roberto Simon
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ARQUITETURA
Essa última é voltada ao mercado e aos negócios, mas, também, aos interesses da comunidade e a compreensão e resolução de problemas sociais, ambientais, culturais e econômicos, para que os futuros arquitetos e urbanistas sejam protagonistas de sua própria caminhada,
“Projetos em grande escala, que demandam conhecimentos multidisciplinares e interdisciplinares, exigem esta integração entre profissionais e escritórios parceiros. Cada vez fica mais difícil um grupo pequeno dispor das qualificações e atribuições necessárias para desenvolver um projeto complexo em tempo hábil e ainda ser competitivo neste universo profissional globalizado” Guilherme Llantada
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Novos arranjos
O arquiteto Christian Krambeck vivencia, na prática, esse processo de transformação que começa a fazer parte dos currículos universitários. “Estas mudanças decorrem de uma série de fatores, entre eles a percepção de que o jeito antigo, ainda dominante, é ineficiente, pesado, pouco lucrativo, submisso e limitado. Mas levantar a cabeça, conversar, trocar e debater faz com que os jovens arquitetos enxerguem caminhos diferentes e sintam vontade e necessidade de construir, coletivamente, respostas mais sustentáveis e efetivas para seus sonhos, necessidades e expectativas”, acredita. Na Terra Arquitetura, empresa que fundou em 2000, em Blumenau, Christian procura atuar de forma ‘tridimensional’. “Trabalhamos num formato denominado ‘célula autônoma’, onde captamos o projeto através de nossa rede, portfólio ou oportunidades diversas e convidamos um jovem arquiteto para coordenar o projeto com autonomia. O processo criativo se dá por meio de oficinas coletivas e, também, buscamos metodologias colaborativas para que o cliente participe em algumas etapas”, explica.
Na Univali foi criada a disciplina de Empreendedorismo, oferecida no sétimo semestre do curso de Arquitetura e Urbanismo. Guilherme Llantada ressalta que a abordagem procura estimular o pensamento em relação à amplitude do negócio e oferece ferramentas para a geração de oportunidades, operando coletivamente, colaborativamente, de forma inovadora. “Projetos em grande escala, que demandam conhecimentos multidisciplinares e interdisciplinares, exigem esta integração entre profissionais e escritórios parceiros. Cada vez fica mais difícil um grupo pequeno dispor das qualificações e atribuições necessárias para desenvolver um projeto complexo em tempo hábil e ainda ser competitivo neste universo profissional globalizado”, acrescenta. Em sua opinião, os ‘novos escritórios’, mais articulados e com estruturas compartilhadas oferecem uma gama maior de serviços e possibilidades para todos os envolvidos. “Porém, muitas vezes, enfrentam o desafio de aprender a se organizar coletivamente e administrar
Essa formação de redes colaborativas é potencializada
Foto: Beatriz Cascaes
O arquiteto Christian Krambeck compartilha da mesma opinião de Llantada: “Sim, estamos atrasados, não apenas em disciplinas de inovação, empreendedorismo, construção coletiva e processo participativo, mas a própria abordagem do ensino de projeto, que deve estar radicalmente próxima da realidade, da cidade, das comunidades e pessoas e seu cotidiano”, considera ele, Mestre em Arquitetura e Urbanismo pela UFSC. No curso de Arquitetura e Urbanismo da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), onde Christian é professor titular, foi iniciada, em 2016, uma reforma curricular que pretende avançar nessas questões ainda este ano. A pretensão é oferecer aos estudantes ferramentas mais contemporâneas e estimular a autonomia, a cooperação, o pensamento em rede e a visão empreendedora.
estes diferentes olhares e percepções sobre um determinado problema”, acredita. E Guilherme reforça, otimista: “os currículos são ‘vivos’, ou seja, são revistos constantemente, e as comissões que sistematicamente trabalham nas suas avaliações e alterações vêm trazendo o assunto à tona”. Há que se considerar que são 450 escolas de arquitetura no Brasil, 37 delas em Santa Catarina, e a maioria oferece a carga horária mínima estipulada pelo Ministério da Educação, ou seja, disciplinas são acrescentadas em detrimento a outras.
em um processo de autoconstrução como cidadão. “A experiência mais ‘radical’ que estamos desenvolvendo na FURB são os ateliês de projeto, disciplinas integradas durante os semestres, onde procuramos aproximar ao máximo as temáticas à realidade da cidade, por meio de metodologias ativas de aprendizagem e aprendizagem baseada em problemas e projetos”, conta. Os alunos, os professores e a comunidade também são integrados no chamado ‘Ateliê Vertical’. “É um evento curricular anual onde juntamos todo o curso de forma horizontal no mês de maio para durante uma semana discutir, conhecer realidades e desenvolver projetos propostos previamente por coletivos, entidades e associações de moradores e pessoas da região, que também participam dos projetos durante esta semana de atividades”, detalha.
Foto: Arquivo do arquiteto
de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), acrescenta: “logicamente, os campos de conhecimento técnico são mais rígidos quanto a estas possibilidades, e o campo das artes e o das humanas são mais amplos e permissivos. A arquitetura está no centro deste debate, entre arte e técnica”. Ele enfatiza que o aluno deve ser estimulado a pensar nas vastas possibilidades que o mercado da arquitetura oferece e a fazer escolhas de acordo com suas habilidades e expectativas e, principalmente, desenvolvendo seus próprios métodos de trabalho. No entanto, admite a defasagem na academia quanto à existência de uma disciplina específica sobre mercado e suas possibilidades.
nos espaços de coworking, que, ao oferecer o compartilhamento de ambiente de trabalho por profissionais e empresas de diferentes segmentos, possibilita a troca de conhecimentos e o networking entre os chamados ‘coworkers’ - o coworking surgiu no Brasil em 2007 e no ano passado havia 378 espaços de coworking ativos no país, conforme o Censo Coworking Brasil 2016. Nesse período, a quantidade de espaços de coworking em Santa Catarina aumentou 80%, totalizando 18 locais. Dentre eles estão o Impact Hub Floripa, em operação no Centro de Inovação Acate Primavera, no bairro Saco Grande, e o Impact Hub Continente, localizado na Cidade Pedra Branca, em Palhoça – ambos projetados pela equipe da Terra Arquitetura. “Foi uma experiência de codesign que realizamos com os membros que estão no radar do Impact Hub Floripa. A proposta do codesign é construir juntos, conversamos, desenhamos, e colocamos a mão na massa. É ver todos trabalhando horizontalmente - publicitários, advogados, vendedores, blogueiros, administradores, arquitetos -, propondo soluções e construindo uma maquete que sintetiza o desejo e interpretação do grupo para o espaço, representando, não apenas o espaço físico, mas como uma rede composta por pessoas, ideias, conexões e que todos estejam representados”, detalha Christian. Os arquitetos ainda são uma minoria entre os coworkers, e nem aparecem no Censo Coworking Brasil, no perfil apresentado por 173 espaços que responderam à pesquisa. Entre as exceções está o arquiteto Thiago Dorini, que encontrou no Impact Hub Floripa a solução que procurava para a Dorini Arquitetura, fundada em 2010. Há dois anos, após uma alteração no layout do escritório, Thiago passou a trabalhar mais próximo da equipe, na mesma ilha do desenvolvimento, rompendo o isolamento característico
“O ambiente do coworking funciona como um catalizador, promovendo uma troca intensa entre profissionais das mais diversas áreas. Parcerias surgem naturalmente nos vários encontros promovidos pelo HUB. A consequência é o surgimento de novos negócios, nem sempre relacionados à arquitetura. É preciso estar aberto para novas oportunidades” Thiago Dorini
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“Mudamos completamente a estratégia. Amadurecemos essas questões e passamos a dizer: nós vamos ser sócios de empresas de desenvolvimento de imobiliário de trabalhos que efetivamente sejam significativos para nós e para a sociedade. Não vamos mais esperar que as pessoas nos procurem, nós vamos criar os fatos” Nelson Teixeira Netto
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Um ‘coletivo de arquitetura’ é o que Christian Krambeck planeja implantar na Terra Arquitetura em 2018. “O formato é de cooperativa, onde todos decidem coletivamente, (sem hierarquia, com base na habilidade, experiência e capacidade técnica de cada um) a partir de princípios e diretrizes comuns e unificadoras do grupo”, define. Esse grupo é reunido para discutir problemas urbanos e arquitetônicos e captar projetos mais complexos, que serão desenvolvidos pelo coletivo. “Uma das possibilidades é a assistência técnica, com projetos de reurbanização de favelas e de empoderamento comunitário”, exemplifica, referindo-se à aplicação da Lei 11.888 que assegura o direito das famílias com renda mensal de até três salários mínimos à assistência técnica pública e gratuita nas áreas de arquitetura, urbanismo e engenharia para o projeto e a construção de habitação de interesse social.
“Não existe um modelo de gestão ideal, sobretudo para quem já tem uma fórmula que funciona, ainda que não plenamente. Os arquitetos devem respeitar seus espaços e sua forma de trabalho, mudar naquilo que facilitará a sua vida profissional e poderá trazer resultados. A linha entre o que se deve fazer e o que se pode fazer é muito tênue. Muitas vezes as mudanças podem ser traumáticas por não terem sido bem pensadas, bem planejadas”, alerta Daniel Marques de Lucena, Mestre em Administração pela UFSC, sócio da Inovare Gestão Estratégica Integrada, empresa de consultoria e assessoria empresarial. No ano passado, como consultor do Sebrae/SC, ministrou oficinas de gestão aos arquitetos nas rodadas do projeto ‘Arquitetando o seu Negócio’ realizado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Santa Catarina (CAU/SC). “A hora certa de buscar inovação é quando a empresa se permite ter um salto de maturidade. Daí, a coisa toda acontece com sinergia, com engajamento para a mudança”, esclarece. Por outro lado, a crise econômica brasileira tem acelerado esse processo, independentemente do momento de ciclo de vida e foco de muitas empresas. “Muitos arquitetos nos procuram preocupados em sobreviver, em não perder o espaço que conquistaram com tanto sacrifício até aqui. Estão mais preocupados em ter clientes de qualidade do que mais volume de clientes. Muitos diminuíram suas estruturas de atendimento, desfizeram sociedades e agora querem gerenciar sozinhos o seu negócio. Porém, costumamos dizer para eles que tomem cuidado. Aqueles que não pensam em crescer podem, em longo prazo, desaparecer do mercado. É preciso reinventar-se com união e parceria”, ensina.
Apesar de ter sido promulgada em 2008, somente nos últimos anos é que a Lei da Assistência Técnica começou a ganhar aplicabilidade. “Dedicamos uma enorme quantidade de tempo e de energia competindo e tentando superar nossos colegas, disputando, com unhas e dentes, um mercado medíocre de apenas 10% da população economicamente ativa, enquanto os outros 90% ficam esquecidos. Quando acordarmos de verdade, olhando para esse ‘oceano azul’ de oportunidades, não daremos conta de tanto trabalho. E trabalho com propósito, trabalho que nos satisfaz pessoal, profissional e financeiramente também”, reflete. Nesse sentido, o arquiteto Roberto Simon ergue a mesma bandeira: “o empreendedorismo não pode e não deve se ater
Foto: Alexandre Zelinski
A nova configuração física obrigou-os a planejar a estrutura de uma forma diferente e, para isso, buscou aplicativos e serviços on-line que suprissem as necessidades. “Felizmente, começamos a perceber rapidamente os benefícios de estar num ambiente tão diverso, com tantas pessoas interessantes e motivadas a criar algo novo, revolucionário e que traga um benefício real para a vida das pessoas. Enfim, é um ambiente rico para quem trabalha com a criação de espaços”, comemora. Ao seu lado, mesa a mesa, estão arquitetos, engenheiros e, na maioria, empreendedores da área da Tecnologia de Informação. Interagir diariamente com pessoas de diferentes perfis, visões e culturas é enriquecedor. “O ambiente do coworking funciona como um catalizador, promovendo uma troca intensa entre profissionais das mais diversas áreas. Parcerias surgem naturalmente nos vários encontros promovidos pelo HUB. A consequência é o surgimento de novos negócios, nem sempre relacionados à arquitetura. É preciso estar aberto para novas oportunidades”, complementa.
Novos mercados
E qual é o perfil desse arquiteto empreendedor?
Foto: Guilherme Llantada
dos modelos tradicionais. “Isso me aproximou dos colaboradores e resultou em uma melhora importante na agilidade e no cumprimento dos prazos e entregas. Foi a confirmação de algo que já sabíamos: a configuração espacial influenciou a dinâmica do negócio”, revela. A partir dessa mudança, revisaram profundamente a metodologia de trabalho e decidiram procurar um novo local para a empresa, mais alinhado com a nova filosofia colaborativa. No segundo semestre de 2015, então, os dois arquitetos e os dois estagiários da Dorini Arquitetura mudaram-se para o Impact Hub Floripa, o que gerou certa estranheza por parte de clientes e fornecedores no início.
somente a faixas de alta renda, mas, também, a assistência técnica à baixa renda. E deixarmos de lado nossas vaidades para buscarmos soluções para todos os níveis, como fez o economista e Nobel Muhammad Yunus o chamado ‘banqueiro dos pobres’. Nada pode ficar longe do alcance dos nossos olhos, nada!”
Letícia Wilson - jornalista e escritora com 20 anos de experiência em produções editoriais sobre arquitetura e urbanismo, decoração e design.
“Estamos atrasados, não apenas em disciplinas de inovação, empreendedorismo, construção coletiva e processo participativo, mas a própria abordagem do ensino de projeto, que deve estar radicalmente próxima da realidade, da cidade, das comunidades e pessoas e seu cotidiano” Christian Krambeck e Daniela Sarmento
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ARQUITETURA
Beleza da diversidade Roberto Simon
foram os problemas que a cidade enfrenta. O Rio é uma cidade com grande diversidade de problemas e de soluções, rica para pesquisa, nesse sentido.
Todos os mundos. Um só mundo. Arquitetura 21. Sob este tema, os arquitetos brasileiros propuseram à União Internacional de Arquitetos (UIA), entidade de representação dos arquitetos de todo o mundo e órgão consultor da UNESCO/ONU para a Habitação e o Desenvolvimento Urbano, que acolhesse o interesse do nosso país em sediar o Congresso Mundial de Arquitetos de 2020. Foi a histórica unidade das entidades nacionais de arquitetura e urbanismo que deu condições para que a nossa profissão alcançasse constituir a sua alforria com a criação de nosso Conselho próprio. Também foi a nossa unidade que deu base para que o IAB pudesse propor e viesse a colher a vitória de nosso país como sede do Congresso de 2020. Mas, é preciso ressaltar, não é simplesmente para a realização do maior fórum mundial da arquitetura que juntamos nossos esforços. Por importante que seja tal evento, e ele, de fato, é o maior encontro universal de arquitetos, o que nos move é a possibilidade de construirmos nesses quase três anos e meio um efetivo e consequente debate sobre a arquitetura e o urbanismo em nosso país. Sobretudo, buscarmos a melhor inserção de nossa profissão perante a sociedade e os poderes públicos. Torna-se elemento da maior importância a atenção ao mercado de trabalho nacional que atravessa, como de resto o próprio Brasil, um momento extremamente delicado e de duração com período longo de recuperação, portanto agora, que alcançamos nossa autonomia e, com o nosso Conselho, buscamos conseguir reordenar as condições de exercício profissional no país de forma contundente. De igual modo, será uma oportunidade ímpar para estreitarmos os laços amistosos e profissionais com nossos colegas das Américas, e dos demais continentes com quem temos uma ótima relação.
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Brasil será sede do Congresso Mundial de Arquitetos em 2020, e enquanto os arquitetos aguardam o maior fórum do segmento, querem debater sobre a arquitetura e o urbanismo olhando para a inserção da profissão perante a sociedade e os poderes públicos
Quando chegou-se à conclusão de que o Rio deveria disputar sediar o congresso, não foram poucos que se perguntaram por quê? A arquitetura do Rio tem muita diversidade, que vai da mais sofisticada até a experiência popular. O mundo todo tem interesse de conhecer e discutir a nossa miscelânea e riqueza arquitetônica. O mundo cada vez mais precisa da mistura, ao invés da hegemonia, e de evitar os guetos do isolamento, sejam de que ordem forem. Após uma disputa acirrada com Paris, na França, e Melbourne, na Austrália, o Rio sediará o XXVII Congresso da União Internacional dos Arquitetos (UIA), em 2020, conforme decidido na assembleia geral da UIA em Durban, Africa do Sul. É a primeira vez que o Brasil se candidata a hospedar esse evento, que terá como tema: ‘Todos os mundos. Um só mundo. Arquitetura 21’. Com a vitória, o congresso acontecerá na América Latina após um jejum de 42 anos — o último foi em 1978, no México. A urbanização acelerada, com enormes problemas ambientais, de mobilidade e de habitação, é comum a todas essas nações. Mas também é compartilhada a ideia de que as cidades precisam corresponder às exigências políticas, ambientais e sociais do século XXI.
Rio, síntese de experiências distintas
Com o tema proposto para o Congresso, ‘Todos os Mundos. Um só mundo. Arquitetura 21’, reconhecemos as experiências distintas e, ao mesmo tempo, as necessidades de se compreender o mundo em sua integridade. O Rio, de certo modo, é uma síntese de todas estas questões. Além do que o Rio teve uma importância crucial, já que viveu um ótimo momento, em que a cidade foi pauta internacional com a realização de eventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas de 2016, o que ajudou muito. Outros fatores que contribuíram
A proposta é de que o tema do Congresso esteja centrado no papel da Arquitetura tendo presente a realidade urbana do mundo contemporâneo, onde se expressam a diversidade e a multiplicidade das formas urbanas e dos modos de produção das cidades. Cidades múltiplas, cheias de contrastes, de possibilidades, de desigualdades e de acertos. São muitos os mundos urbanos a exigir atenção específica, para a qual a arquitetura, em sua ampla dimensão, tem responsabilidade jamais exagerada. Nossas ações de planejamento, de projeto e de construção interessam a todos esses mundos e sobre cada um têm repercussão. A noção de finitude do planeta nos impõe novos desafios na busca da preservação e da sustentabilidade das condições ambientais, claramente, mas, igual e certamente, também das condições culturais. Todos vivemos uma mesma era. Um só mundo. As comunicações nos tornam instantâneos e os desdobramentos alcançam a todos. Nesse contexto, a arquitetura enriquece sua experiência sem dogmas. A diversidade de modos de intervenção, a simbiose entre cultura popular e a dos arquitetos, a produção da nova cidade da tolerância e do reconhecimento das inúmeras contribuições e preexistências, as cidades que possam ser as respostas ao século do urbano - e que se pretenda ser, também, do respeito ao meio-ambiente e às necessidades das futuras gerações. No Brasil, de 175 milhões de urbanos, são 20 metrópoles; duas megacidades interligadas territorialmente que formam um mundo urbano com 33 milhões de pessoas. O Brasil apresenta arquiteturas-cidades que, de certo modo, ilustram as inúmeras possibilidades da arquitetura do século 21. Arquiteturas da pobreza das favelas e do dinamismo das favelas; dos ricos enclaves e da pobreza dos enclaves; do espaço público da interação e do espaço do mono-funcionalismo. Novas cidades, velhas cidades.
Estrutura do evento pronta há três anos
O congresso inicialmente localizado no Rio Centro solucionava, mas nos incomodava, pois sabíamos que a distancia do centro do Rio e de todo o seu entorno prejudicaria o resultado, o fato de estar a horas de veiculo para lá e horas para cá, problema de mobilidade das grandes metrópoles seria um problema enorme. Nesses primeiros anos de preparação, grande foi o movimento para mudar, e conseguimos com muito esforço concentrar toda sua realização entre a Marina da Glória, hoje com 15.000 m2 de área para exposições até o Pier Mauá, passando pelo MAM com seu teatro auxiliar o aeroporto com excelente infraestrutura de hotelaria e eventos, o Museu do Amanhã a própria praça, o Aterro do Flamengo os inúmeros museus, o Teatro Municipal e tantos espaços históricos e novos cercados pela Avenida Rio Branco como linha divisória da imensa maioria dos eventos, além de toda a área ser atendida hoje pelo Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), operando. Coroando os grandes eventos e as palestras magnas, o Maracanãzinho com capacidade para 12.000 pessoas e toda a estrutura para shows que já ocorrem por lá, ligado por metrô ao centro. Estamos imensamente felizes com esse novo momento, ou seja, a estrutura pronta há três anos do evento, é bem verdade que muito ainda tem por ser feito, mas seguimos firmes. Por fim, quando nos perguntamos que legado um congresso deste porte deixará, não apenas para a cidade, mas para o Brasil, em especial. Um aprofundamento da reflexão sobre o planejamento do país, da ocupação do território brasileiro, da cidade e de sua arquitetura. Tem tudo para ser uma grande mobilização, que nos ajudará a colocar na pauta política a questão urbana, para melhor enfrentar problemas como mobilidade, saneamento e habitação. Vamos refletir sobre a experiência internacional. A edição de 2020 será o ápice, até lá serão muitos trabalhos ao longo de três anos. Roberto Simon - arquiteto e membro do Conselho Superior da União Internacional de Arquitetos e do Comitê Executivo do Congresso UIA Rio 2020.
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Requalificação urbana e a valorização imobiliária: é necessário temer a gentrificação?
Figura 1 – Enobrecimento da área das docas – Puerto Madero
Geise Brizotti Pasquotto O conceito de qualificar um espaço público ao aprimorar ambientes que conectem pessoas não deveria suscitar desconfianças ou receios. Porém, experiências específicas de áreas que observaram o custo de vida aumentar após a sua revitalização vêm gerando contradições. Esta ação foi chamada de gentrificação e vem assombrando, tanto a população como os planejadores. A palavra gentrificação pode ser entendida como o processo de melhoramento e consequente valorização do local, resultando em uma expulsão dos antigos moradores e a inserção de grupos com poder aquisitivo mais alto. O termo, do inglês gentrification, é derivado de um neologismo criado pela socióloga britânica Ruth Glass em 1963, em um artigo onde falava sobre as mudanças urbanas em Londres. Ela se referia ao ‘aburguesamento’ do centro da cidade, usando o termo irônico gentry (berço de ouro), como consequência da ocupação em bairros operários por classes de poder aquisitivo mais alto. A gentrificação ocorre, em maior ou menor força, em diversas cidades. Possivelmente, se você mora em uma cidade de porte médio ou grande, onde ocorreram revitalizações, já deve ter ouvido falar sobre ela. Evidentemente que alguns exemplos são mais paradigmáticos, por sua escala, força de abrangência, contexto histórico etc. Um dos exemplos estudados por diversos acadêmicos em relação ao enobrecimento da área é Puerto Madero, intervenção nas margens do rio Dique e Darsena Sur na cidade de Buenos Aires.
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Fotos: Geise Brizotti Pasquotto
URBANISMO
A área que contempla 16 docas foi construída em 1887 para satisfazer um modelo agroexportador. Com o tempo o local tornou-se obsoleto, se degradando. Com a Operação Urbana Puerto Madero, aumentou-se o potencial construtivo da área, valorizando-a (Figura 1). Muitas empresas e comércios mudaram-se para o local. Também utilizou-se de uma estratégia muito conhecida no planejamento: inserir obras de arquitetos famosos para maior divulgação da intervenção realizada. No caso de Buenos Aires, foi convidado o arquiteto Santiago Calatrava para realizar uma ponte móvel na área (Figura 2). Existe um dilema quando se fala sobre o tema: se a área permanecer degradada é ruim para os habitantes que nela residem, mas se houver a revitalização e acontecer a gentrificação, é também prejudicial para a população. A pergunta que muitas pessoas refletem é se devemos nos preocupar com ela e a resposta é relativa. Como dito acima, esse é um processo inerente da valorização imobiliária decorrente da revitalização de uma área. Estamos em uma sociedade pós-industrial, onde as relações de demanda e oferta regem o desenvolvimento urbano. No entanto, a forma com que ela acontece pode gerar uma fragilidade ou uma potencialidade para o local. Se a gentrificação for diminuta, processo natural de qualquer revitalização, ela pode ser benéfica para a população ou pelo menos, não comprometer os habitantes do local. Estudos recentes realizados nos Estados Unidos apontaram que moradores antigos de bairros gentrificados não foram expulsos por conta da valorização imobiliária e conseguiram ampliar suas rendas.
Figura 2 – Ponte da mulher – Santiago Calatrava
No entanto, se existir uma falta de equilíbrio entre as forças do projeto, do setor imobiliário e da vida da população, os resultados podem ser insatisfatórios. Um exemplo paradigmático é a Operação Urbana Nova Luz. O projeto realizado para o quadrilátero inserido na área da Luz em São Paulo, onde a cracolândia também está inserida, não levou em consideração a dinâmica que ocorre no local (Figura 3). Desconsiderou os comerciantes e também a Zona Especial de Interesse Social que ali incidia pelo Plano Diretor. O projeto de alto impacto visava a mudança de perfil socioeconômico daquela região, resultando em um projeto desenvolvido para o setor privado e com um número altíssimo de demolições. Pelos protestos da população (que geraram diversos processos contra a operação urbana) e pela falta de interesse do setor privado, as obras estão paralisadas. Portanto, é importante ressaltar que a maioria das revitalizações podem resultar na alteração da dinâmica da área e na possível valorização, no entanto, o importante é verificar como o projeto está sendo realizado para que ele tenha adequação à cultura local, no sentido de harmonizar-se com a região. O arquiteto e urbanista deve ter a delicadeza para entender o objeto que está intervindo para adequá-lo da melhor maneira possível equilibrando as forças e interesses muitas vezes contrastantes do poder público, setor privado e população.
Figura 3 – Estação da Luz, São Paulo
Geise Brizotti Pasquotto - Prof. Dra na Universidade Paulista e professora convidada da Universidade São Francisco. Tem experiência na área de Planejamento Urbano e Regional, com ênfase em planejamento estratégico e marketing urbano.
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EXPOSIÇÃO
Projetos Exposição de arquitetura catarinense quer chamar a atenção do público sobre o papel da arquitetura como expressão cultural, e inspirar jovens profissionais Vicente Wissenbach + Silvia Penteado
Foto: Guilherme Llantada
Resgate histórico
Santa Catarina ganhará este ano uma exposição inédita: ‘Arquitetura Catarinense em Quatro Tempos’, que irá mostrar, a partir de uma linha de tempo, três períodos históricos da arquitetura e urbanismo no Estado, além de uma ‘Visão do Futuro’.
“A ideia é traçar um amplo painel com os bons exemplos da arquitetura que vem sendo feita nos últimos anos em cada uma das regiões de Santa Catarina, valorizando a criatividade e a inovação dos profissionais e oferecendo referências inovadoras e sustentáveis”, afirma Wissenbach.
A mostra acontecerá na Sala Lindolf Bell, no Centro Integrado de Cultura (CIC), e contará com o apoio e a colaboração de várias entidades do setor como CAU/ SC, Univali, UFSC, Unisul, IAB/SC, Asbea/SC, Sindicato dos Arquitetos/SC, e apoio do portal ArqSC. “Em Santa Catarina, as exposições de arquitetura são raras. Com abrangência histórica, são mais raras ainda. A ideia da realização dessa grande exposição surgiu a partir do interesse despertado pelas mostras Destaques das Bienais, que vêm se expandindo ano a ano”, destaca o jornalista e curador, Vicente Wissenbach.
O levantamento dos projetos para o módulo da arquitetura contemporânea será feito por meio de pesquisas (premiações, publicações, exposições etc) e chamamento público de escritórios de arquitetura, com a participação ativa das entidades ligadas ao segmento.
‘Raízes Históricas’ é o módulo um, com abordagem a partir dos primeiros habitantes até o início do século XX, com coordenação da arquiteta Eliane Veras da Veiga. A segunda exposição ‘Arquitetura Moderna e Modernista’ apresentará o período entre 1930 e 1980 baseada na ampla pesquisa ‘Itinerários da Arquitetura Moderna em Florianópolis’, coordenada pelos arquitetos e professores Luiz Eduardo Fontoura Teixeira e Gilberto Sarkis Yunes, também responsáveis pelo eixo que homenageará Hans Broos e Wolfgang Ludwig Rau.
Arquitetura como expressão cultural
‘Arquitetura Contemporânea’ é a terceira exposição e foco principal de toda a mostra, que lançará luz sobre a arquitetura produzida entre 1980 e 2016, tendo como coordenador Guilherme Llantada e como consultores, a crítica de arquitetura Ruth Verde Zein, de São Paulo, e os arquitetos catarinenses Silvia Lenzi, André Schmitt, Ricardo Fonseca, Marcos Jobim e Giovani Bonetti.
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Complementando a exposição, o quarto eixo será sobre a ‘Visão de Futuro’ do projeto Vita et Otium desenvolvido pelo Instituto Silva Paes e coordenado pelos arquitetos Nelson Saraiva, Michel Mitmann e Enrique Hugo Brena, além de outros importantes projetos de desenho urbano.
“Apreciar uma exposição da arquitetura contemporânea, precedida de seu contexto histórico, nos traz a oportunidade de um conhecimento mais profundo do conjunto destas manifestações”, pontua a arquiteta e urbanista Silvia Lenzi. Para o arquiteto André Schmitt, sócio do escritório Desenho Alternativo, “exposições como esta são de vital importância para o aperfeiçoamento profissional e também para chamar a atenção do público leigo sobre o papel da arquitetura como expressão cultural”. Para a Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (AsBEA/SC), a exposição vai proporcionar uma ampla visão do legado dos profissionais catarinenses, além de servir de inspiração aos jovens arquitetos. Vicente Wissenbach - jornalista, editor e curador de exposições de arquitetura e urbanismo, fundador das revistas Projeto e Design & Interiores. Silvia Penteado é jornalista especializada em arquitetura. Foi redatora do Jornal do Arquiteto e Revista Projeto.
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+2 ARQUITETURA E GESTÃO DE OBRAS
Projeto promove experiência de compra
Os materiais utilizados em toda a loja conferem um ar despojado e praticidade de manutenção. Piso porcelanato, forro acústico, iluminação em painéis de LED são exemplos dessas escolhas.
Fotos: Lio Simas
Esta é uma loja do segmento supermercadista, mas o seu propósito vai além do simples consumo. O foco, desde o início, foi a criação de um ambiente que possibilitasse aos clientes uma experiência de compra, fortalecendo o conceito gastronômico. São mil metros quadrados, mais subsolo com 133 vagas na garagem. Para o projeto da segunda unidade com apelo gourmet da rede Imperatriz foi contratado o escritório +2 Arquitetura, que tem à frente os arquitetos André Augusto Manara e Luciana Decker.
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A construção fica localizada no Centro de Florianópolis. O pé-direito duplo na entrada confere amplitude ao ambiente ao mesmo tempo em que impressiona o usuário. O contato com a área externa se dá por meio da fachada de vidro incolor. “Adotamos os mesmos materiais da torre - ACM amadeirado e basalto - no acabamento, valorizando o embasamento da edificação” explica Manara. Os setores da loja foram bem definidos para facilitar a circulação, orientação e a permanência dos consumidores
no local. O mobiliário foi totalmente planejado e a iluminação e marcação dos pisos diferenciados. A empresa +2 Arquitetura, associada à Asbea, destaca-se no mercado com o diferencial de acompanhar todo o processo de criação, enquanto lançamento do projeto e das técnicas construtivas, até a finalização da execução. JN Móveis, Spaço Inox, Escritolândia estão entre os parceiros desta obra.
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+2 ARQUITETURA E GESTÃO DE OBRAS
Apê para receber
O imóvel localizado na Pedra Branca, na Palhoça, foi o resultado de uma grande mudança na vida do casal, que não se adaptou à residência onde moraram por um ano. A opção pelo apartamento estava relacionada ao conforto de ambientes integrados e funcionais, com layout que permitisse diferentes composições para receber grupos de convidados. “Um evento despojado, realizado na sacada gourmet, ou um jantar formal, tendo como cenário a sala de jantar e estar integradas”, sugerem os arquitetos à frente do projeto, André Manara e Luciana Decker.
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O desafio, segundo os profissionais, foi aliar soluções que conferissem elegância e descontração aos ambientes conectados, cujo resultado fosse harmônico e não monótono. A referência para a área de intervenção de 147 metros quadrados foram os lofts novaiorquinos em função das cores preta e cinza, e dos materiais como texturas, madeira e linho. O contraponto foi o sutil tom de verde que aparece no revestimento da churrasqueira, da Portobello Shop Florianópolis. Em relação à infraestrutura, foi feito um nivelamento no piso para integrar sala e sacada. A +2 Arquitetura atua na elaboração de projetos de arquitetura de interiores, comercial, buscando a funcionalidade e excelência no atendimento aos seus clientes. O escritório é associado à AsBEA/SC e teve como parceiro no projeto a Portobello Shop Florianópolis.
Fotos: Lio Simas
+2 ARQUITETURA E GESTÃO DE OBRAS
Foto: B. J. Campos
Urbano. Descontraído. Jovem. Aconchegante. Funcional. Estas cinco palavras com forte significado no universo da casa foram eleitas pelos clientes deste apartamento para o brainstorm inicial do projeto, conduzido pelo escritório + 2 Arquitetura. O jovem casal também estava seguro em relação ao uso da cor preta no décor e a transformação da sacada em um espaço gourmet. Eles queriam um apê para receber!
O mobiliário em cinza e preto é a base do projeto, que tem toques de verde e padrões de acabamento que unificam os ambientes integrados.
R. Gal. Liberato Bittencourt, 1885, sl. 908 Estreito | Florianópolis | SC (48) 3207.1295 www.maisdoisarquitetura.com.br arquitetura@maisdoisarquitetura.com.br
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|A²| ALLUME ARQUITETURA DE ILUMINAÇÃO + ANA TREVISAN | ARQUITETURA + PAISAGISMO
Décor clássico e iluminação pontuada para atender com conforto O edifício, construído há poucos anos, fica em uma charmosa rua no Centro de Florianópolis. O local foi escolhido pelos donos – dois médicos da área de dermatologia – para a instalação da clínica especializada. Os sócios têm gostos em comum – clássico atualizado – e isso foi muito bem exposto no projeto desta sala comercial sob o comando das arquitetas Ana Trevisan e Marina Makowiecky. O trabalho durou dois anos e meio e abrangeu uma área de 145 metros quadrados com a unificação de três salas comerciais. O espaço resultou em quatro consultórios, salas de procedimentos, apoio técnico, esterilização, copa, depósito, sanitários, e duas salas de espera destinadas a pacientes. O maior desafio, segundo Ana e Marina, foi acomodar os desejos dos sócios frente às normas para projetos físicos de estabelecimentos assistenciais de saúde. “Os detalhes a serem contemplados foram cuidadosamente pensados, discutidos e planejados com os clientes, que participaram do processo criativo desde o princípio”, destacam. Os proprietários passam muitas horas do dia na clínica, por isso, o desejo de um ambiente com o máximo de comodidade para trabalhar e também receber os seus pacientes. Nesse sentido, a busca pelo conforto e funcionalidade foi essencial, porém valorizando o estilo do décor com o qual se identificam que é o clássico revisitado e atualizado. A iluminação foi um ponto prioritário do projeto para atender a preocupação dos clientes com o consumo de energia e a eficiência no atendimento dos pacientes. A escolha do uso integral de LED foi a solução ideal para atender os níveis de luz sugeridos
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|A²| ALLUME ARQUITETURA DE ILUMINAÇÃO + ANA TREVISAN | ARQUITETURA + PAISAGISMO
Nas salas de procedimentos, o branco é soberano e traz a sensação de assepsia e limpeza. As bancadas em Corian tem cuba esculpida e as mesas, nas estações de trabalho possuem a tecnologia para carregar o celular.
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Os revestimentos são clássicos e atemporais como o Travertino que aparece nos ambientes de circulação e consultórios. Na recepção, palheta dos beges, marrons e cinza. A marcenaria destaca tom amadeirado, cadeiras e poltronas receberam tecidos em couro e linho.
Fotos: Mariana Boro
|A²| ALLUME ARQUITETURA DE ILUMINAÇÃO + ANA TREVISAN ARQUITETURA + PAISAGISMO Foto: Mariana Boro
por norma em cada ambiente. “Sobre à área de exames foram aplicadas luminárias em LED com elevado índice de reprodução de cor, permitindo maior confiabilidade para os profissionais, nos exames e procedimentos de seus pacientes”, ressalta a arquiteta Marina, titular da Allume Arquitetura de Iluminação, que tem pós-graduação em iluminação e atua exclusivamente na área de luminotécnica há sete anos. Ana Trevisan está há 13 anos no mercado, e atua nas áreas de arquitetura, interiores e paisagismo. Sua especialização é em Arquitetura da Paisagem. Da parceria dos dois escritórios, nasceu o |A2|, associado à AsBEA/SC. O arquiteto Rodrigo Gheller e a estudante de arquitetura Aline Crestani fazem parte da equipe. Foram parceiros neste projeto a Carol Cortinas, Infinita Surfaces e Santa Rita Iluminação.
R. Rui Barbosa, 466 | Agronômica | Florianópolis | SC (48) 3028.2254 www.allume.arq.br | allume@allume.arq.br (48) 3065.6189 www.anatrevisan.com | contato@anatrevisan.com
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ADD STUDIO ARQUITETURA, URBANISMO E DESIGN
Cenário neutro para valorizar a arte contemporânea
Maquete eletrônica: Jacson Estefano
Uma edificação preexistente e a possibilidade de transformá-la em uma tela em branco, pronta para receber as cores, texturas e formas em obras materializadas pela artista plástica contemporânea Flávia Tronca. Este foi o desafio da arquiteta Larissa Gransotto, do ADD Studio, ao projetar o novo ateliê da artista que vive uma nova fase profissional. “Para valorizar as peças criadas, busquei inspiração em uma arquitetura de traços firmes e austeros”, explica Larissa.
O ateliê, que ocupa o espaço central da edificação, possui uma planta retangular e duas paredes-painéis internas, além de funções anexas ao redor, como o arquivo de telas, depósito, atendimento e área de tanque. O espaço acomoda também um escritório. Do lado externo, ressalta a arquiteta, um pátio lateral descola o imóvel do seu entorno e
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Fotos: Edu Santos
enfatiza ainda mais o volume em balanço da fachada. O ADD Studio atua em diversos campos da arquitetura, realizando trabalhos na área de edificações residenciais e interiores. O Ateliê Flávia Tronca foi apoiador do projeto.
ADD STUDIO ARQUITETURA, URBANISMO E DESIGN Foto: Walter Maldonado
O espaço, localizado em Jurerê Internacional, em Florianópolis, possui uma distribuição longilínea, ao longo da qual suas funções e usos vão se desenvolvendo. O acesso se dá por uma escada helicoidal de concreto e guardacorpo metálico opaco, ambos pintados de branco. A varanda frontal do imóvel funciona como a conexão entre o interior e o exterior.
No layout do projeto, um cenário mais neutro de cores e materiais básicos, a exemplo do branco das alvenarias, o concreto do piso, o metal das luminárias e as pinceladas de preto na marcenaria do escritório.
Praça XV de Novembro, 312 | 9º andar Centro | Florianópolis | SC (48) 99917.0722 www.addstudio.com.br larissa@addstudio.com.br
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ANA PAULA RONCHI ARQUITETURA TOTAL
Delicadeza bruta
Fotos: Arlei Cardoso
No primeiro encontro os clientes já deixaram claro o que desejavam com relação à casa que seria construída, em um condomínio fechado na cidade de Criciúma. A relação com a arquiteta já era antiga. Anos atrás, Ana Paula Ronchi havia feito a clínica médica do proprietário. Agora para o projeto da residência, as solicitações incluíam privacidade, integração, características clássicas, no entanto, sem perder a contemporaneidade. Itens fundamentais e que guiaram o projeto arquitetônico e de interiores da residência, assinado pelo escritório do Sul do Estado. “O conceito do imóvel é centrado em dois pilares: na firmeza e brutalidade do concreto, e no conforto aliado à integração com o verde. Não por menos, os donos - um casal jovem com dois filhos - pediram uma casa voltada
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para os fundos do terreno, de onde podem usufruir visualmente da mata nativa presente no entorno”, diz a arquiteta. A obra abrange uma área total construída de 637 metros quadrados, divididos em dois pavimentos. No inferior ficam hall de entrada, lavabo, escritório, cozinha funcional, sala de jantar, sala de estar com home, varanda, academia e cozinha gourmet. No piso superior, três suítes e um grande terraço descoberto anexado ao quarto principal, a suíte do casal. Vale ressaltar a organização dos closets – senhora e senhor, e dos banheiros senhora e senhor nesta suíte. Assim que se chega na casa, chama a atenção a imponência do muro frontal medindo 18,35m de
comprimento e 4m de altura, todo em concreto armado. “Essa forte brutalidade vai gradativamente perdendo força na medida em que elementos como madeira e espelho d´agua surgem logo no hall de entrada”, explica Ana Paula. Soma-se a estes dois elementos uma bela vista da escada dentro da própria residência pois está localizada sobre a face de uma pele de vidro. Ana Paula Ronchi está à frente do escritório Ana Paula Ronchi Arquitetura Total há mais de 20 anos, com atuação principalmente na região Sul de Santa Catarina, e soma participações em mostras de decoração no Estado, Paraná e São Paulo. São parceiros neste projeto LCL Design, Casa 12 Atelier, ADDRI Objetos e Ambientes, Empório A Artemag, Galeria RA e Esquadrimed.
A escada em espiral revestida em mármore com um corrimão de vidro curvo não passa despercebida no projeto. O movimento orgânico causa um efeito interessante tanto se olhada de dentro quanto de fora da casa. Internamente, ela conecta os dois pavimentos, externamente reflete o espelho d’água, localizado na parte de fora da residência.
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ANA PAULA RONCHI ARQUITETURA TOTAL
Um dos pedidos especiais para o projeto da casa foi a piscina com raia de 20 metros de comprimento para que o morador pudesse relaxar.
Fotos: Arlei Cardoso
Foto: Larissa Ronchi
ANA PAULA RONCHI ARQUITETURA TOTAL
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R. Santo Antônio, 703 | Cruzeiro do Sul Criciúma | SC (48) 3437.6935 | 99113.8496 www.anapaularonchi.com.br anapaula@anapaularonchi.com.br
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ANNA MAYA ARQUITETURA
Arquiteta Anna Maya abre seu apartamento em Florianópolis
A arquiteta Anna Maya abre as portas do próprio apartamento na Beira-Mar Norte em Florianópolis e mostra algumas das preferências quando o assunto é o morar. Há três anos a família reside no edifício cuja escolha foi pela excelente localização, pela vista, e pelo generoso espaço. O apartamento precisou passar por uma ampla reforma para recriar os espaços, atendendo as necessidades da família. A dependência de empregada, por exemplo, virou closet e suíte; um dos dormitórios foi derrubado para ampliar a sala, e criar um escritório; e o hall de entrada foi valorizado. Já o living e a sacada foram integrados e os ambientes visualmente unidos. O desenho do gesso de todo o apartamento é neutro e funcional para atender o projeto luminotécnico que prevê diferentes tipos de iluminação e cenários.
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Na ambientação, Anna Maya preferiu adotar cores neutras e evidenciar uma proposta clássica, ao mesmo tempo leve e despojada. Na sala, chama a atenção a estante com escritório embutido em uma das portas de correr com formado de bolas vazadas. Destaque para o painel com rostos de várias tribos, do artista Marcos Dagostin e para a tela de India Filipin encostada despretensiosamente na parede.
Contraponto: clássico sofá de couro com taxas e a poltrona Mole, de Sérgio Rodrigues, original da Oca, loja de 1955, que revolucionou a ideia de móvel no Rio de Janeiro. A poltrona foi herdada da família.
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ANNA MAYA ARQUITETURA
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Fotos: Sidney Kair
O aconchego é reforçado nos dormitórios pelos materiais, que atendem os desejos dos usuários. Destaque para a gravura antiga do Rio de Janeiro sobre a cama do casal.
ANNA MAYA & ANDERSON SCHUSSLER ARQUITETURA E INTERIORES Foto: Sidney Kair
Unir vários elementos que transitam entre o clássico e o contemporâneo são características do trabalho da arquiteta, por isso a composição assumida de estilos, com toque despojado e ainda uma pitada do lifestyle carioca, sua terra natal. Laca alto brilho com laminado dourado, plotagem de foto do Fórum Romano, espelho, mármore Calacata Ouro e corian são algumas das escolhas. Destaque ainda para almofadas de gobelin francês, lustres em bronze e cristais antigos, e cadeiras medalhão, únicas peças que a arquiteta carrega consigo desde o casamento. Os dormitórios receberam revestimentos que identificam a personalidade do usuário e reforçam o aconchego. Couro, madeira, papel de parede e tapete persa são as escolhas para a suíte do casal, com destaque para a gravura antiga do Rio de Janeiro. No quarto do filho, o espaço foi dividido para setorizar, no nível superior, o armário das áreas da cama e estudo. A decoração remete ao estilo americano a pedido do filho. Anna Maya completou, em 2016, 20 anos de atuação como arquiteta. Ela tem especialização em História da Arte e realiza projetos nos campos da arquitetura e interiores. Anderson Shussler é sócio na empresa associada à AsBEA/SC.
Travessa Carreirão, 104 | 103 | Centro Florianópolis | SC (48) 3028.1836 | 99919.9019 www.anna-anderson.com.br annamaya@annamaya.arq.br
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ARLON FERNANDES E EDUARDO FREITAS ARQUITETURA
Para contemplar a paisagem
A vista da cidade, a beleza natural do entorno e o conforto necessário para receber os quatro filhos e promover encontros com amigos foram as diretrizes básicas para a grande reforma e ampliação proposta para esta residência, em Criciúma. O casal de empresários do ramo de alimentação já era cliente do escritório quando procurou o arquiteto Arlon Fernandes para avaliar o potencial da casa. “Eles queriam um local que atingisse todos os sentidos, pois além da presença do verde, tem a vista panorâmica da cidade. Era uma casa que contemplasse o espetáculo local”, diz Arlon. O programa de necessidades incluía a setorização dos espaços para dias de festa e que mantivesse a privacidade. Por isso a casa tem dois níveis: térreo com função social, com adega, academia, salão de festas, churrasqueira, cinema e dormitórios para hóspedes; e o primeiro pavimento, privado, onde o casal passa a maior parte do tempo, que contempla suíte, closet, sala de TV, churrasqueira, piscina e cozinha principal. A área de intervenção foi de 1050 metros quadrados, incluindo a criação de espaços e
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soluções como o deque com piscina de borda infinita, que faz a ligação com a suíte. A estrutura e a forma original foram mantidas, porém atualizadas. Já a pedra natural das paredes internas no térreo passou por uma restauração e pintura, marcando a identidade da construção antiga. Ao longo da atuação profissional, os arquitetos têm se destacado na elaboração de projetos arquitetônicos de diversas naturezas, de interiores e urbanismo, além de oferecer serviços junto aos fornecedores, controle de prazos e acompanhamento de obras. Arlon Fernandes e Carlos Eduardo Freitas, sócios do IAB/SC, têm no portfólio a participação em mostras e feiras do setor - Casa Cor SC, Casa Arte e Casa e Cia, em Florianópolis; Mostra Artefacto, em São Paulo; Showroom Cecrisa, Feira Casa Pronta, em Criciúma. Foram parceiros neste projeto as empresas Formus, Luz + e ADDRI Objetos e Ambientes.
Fotos: Ronald Pimentel
ARLON FERNANDES E EDUARDO FREITAS ARQUITETURA Foto: Júlio Cesar Botelho
A pedra natural original nas paredes internas foi mantida para marcar a identidade da antiga construção. Espelho d’água identifica o acesso ao primeiro pavimento, que tem na fachada materiais nobres como mármore Travertino Romano Bruto e ripado de madeira.
R. Monteiro Lobato, 149 | Centro Criciúma | SC (48) 3433.1127 www.arlonfernandes.com.br arlon@arlonfernandes.com.br
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ARTE URBANA ARQUITETOS
Concreto aparente define arquitetura
Na sala de jantar, chama a atenção ainda a escada plissada de concreto aparente e acabamento em madeira. No pavimento superior, as janelas ganharam proteção solar de brises horizontais de alumínio.
Esta residência salta aos olhos pelas características arquitetônicas aparentes no volume da edificação. A casa fica dentro de um condomínio de alto padrão, na Praia Brava, em Itajaí. O cliente, um investidor, construiu o imóvel para a venda. Por isso, a necessidade um projeto bastante flexível, com a possibilidade de cômodos reversíveis, de acordo com a intenção dos futuros moradores. Com o briefing em mãos, os arquitetos André de Amorim, Antonio Couto Nunes e Rafael Linsmeyer, do escritório Arte Urbana, materializaram a obra, finalizada em abril de 2016. Planos de concreto aparente definiram a fachada principal e deram o direcionamento à linha do projeto, marcado pela arquitetura moderna. Outro destaque ainda na parte frontal da residência é o plano horizontal de meia altura. “Isso garante a entrada de iluminação natural para a sala, sem tirar a privacidade
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Fotos: Lio Simas
ARTE URBANA ARQUITETOS Foto: Arquivo do arquiteto
da família com relação à rua”, explicam os arquitetos. No quesito materiais, são ressaltados no desenho da obra o concreto aparente como elemento compositivo, as esquadrias em PVC que marcam os grandes vãos, e os revestimentos utilizados em toda residência. O Arte Urbana surgiu em 2008 e hoje tem projetos em diversas escalas, do desenho urbano ao detalhe de mobiliário. Este trabalho teve a colaboração dos arquitetos Sofia Bittencourt e Felipe Finger. Vale destacar as parcerias da HN Empreendimentos Imobiliários, Weiku do Brasil e Decori Revestimentos na execução da casa.
R. Lauro Linhares, 2055 | sl. 205 Torre Flora | Trindade | Florianópolis | SC (48) 3039.0695 www.arteurbana.arq.br contato@arteurbana.arq.br
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AT ARQUITETURA
O clima acolhedor e a atmosfera rústica foram pedidos do casal, por isso a paleta na cor marrom, a parede de tijolinhos, porcelanato no tom de cimento no piso e espelho bronze.
Para curtir a dois
O casal passa muito tempo na rua e quando está em casa gosta de curtir os ambientes sociais integrados. Por isso, dois pedidos especiais foram feitos às arquitetas: uma cozinha completa com todos os equipamentos de linha gourmet e acabamentos funcionais, da Bontempo, para ela, que gosta de cozinhar; e duas TVs para ele que é ligado em imagem e som. “Inserimos uma TV na bancada da cozinha para atender os convidados e outra na sala de
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estar, e ela optou pelo aço inox em toda a cozinha, aliando o funcional com a estética”, explica Andréa. A integração exigiu uma linguagem única em toda a área e determinou a escolha de acabamentos e mobiliário solto. Algumas soluções de projeto são destaques como o volume do lavabo revestido de espelho, a porta divisória que une e isola o quarto multiuso, e a bancada, armário e base do guarda-corpo da sacada no mesmo material – um composto a partir de matérias-primas naturais muito finas. O escritório AT Arquitetura atua em Santa Catarina há 15 anos com foco em projetos comerciais e residenciais. É coordenado pelas arquitetas Andréa Hermes Silva e Tatiana Filomeno, especializada em arquitetura bioclimática e sustentável. Escritório associado à AsBEA/SC. Foram parceiros neste projeto a Bontempo Florianópolis e a Marmoraria Capital.
Fotos: Rudi Razador
AT ARQUITETURA
Foto: Mariana Boro
A compra do apartamento na planta possibilitou às arquitetas Andréa Hermes Silva e Tatiana Filomeno, do AT Arquitetura, executarem a obra civil com a construtora para alteração da alvenaria, troca de pontos hidráulicos, elétricos, revestimentos e forro. O casal sem filhos solicitou duas suítes e um cômodo multifuncional para o escritório e quarto de hóspedes, reduzindo a área dos dormitórios para priorizar a área social – a planta anterior tinha uma suíte e dois quartos.
R. Lauro Linhares, 2123 | 206 A | Trindade Florianópolis | SC (48) 3234.0914 www.atelierdearquitetura.com.br at@atelierdearquitetura.com.br
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BRAND & HENNRICHS ARQUITETURA + ENGENHARIA
Arquitetura voltada para o entorno do bairro
Em todas as fachadas houve o cuidado com os telhados para conferir volumes harmoniosos e retos, e proporcionar economia na execução da obra. Os profissionais ainda desenharam calhas embutidas para reaproveitamento da água da chuva.
Fotos: Carlos Alexandre Hennrichs
“Procuramos projetar uma obra contemporânea e ao mesmo tempo aconchegante, destacando a volumetria de linhas retas, a horizontalidade, as formas geométricas puras, o uso do vidro, além da composição de elementos arquitetônicos e texturas diferenciadas”, aponta a arquiteta Cíntia Cristine Brand. Para maior eficiência
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térmica e acústica, as aberturas ganharam peles de vidro e esquadrias de PVC. Outro item importante na construção foi o correto posicionamento da edificação em relação ao Norte, possibilitando ampla iluminação natural. Entre os requisitos para a ambientação dos espaços internos, a prioridade foi projetar uma área social convidativa, confortável e integrada para receber os amigos. “Os clientes nos deram carta branca para criação. Adotamos um estilo moderno, com o predomínio das linhas retas e cores neutras”, afirma. O escritório Brand & Hennrichs, associado ao IAB/SC, atua no mercado há 16 anos com foco em arquitetura e engenharia. Além de Cíntia Cristine Brand, também integram o time profissional o engenheiro Carlos Alexandre Hennrich e a arquiteta Marina Boeing.
BRAND & HENNRICHS ARQUITETURA + ENGENHARIA Foto: Thais Andriani
O contato com a natureza e o visual do morro do entorno do bairro Pedra Branca serviram de inspiração para o desenvolvimento desta residência, no município de Palhoça, onde vive um casal e dois filhos adolescentes. Do projeto para a construção do imóvel à decoração e soluções complementares, tudo foi assumido pelos profissionais do escritório Brand & Hennrichs. A intervenção abrangeu uma área de 350 metros quadrados.
R. da Praça, 241 | sl. 411 Palhoça | SC (48) 3342.4262 | 99969.1382 www.bharquitetura.com.br bh@bharquitetura.com.br
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CHRIS LAGO ARQUITETA Entre os materiais especificados e que dão continuidade à linguagem já adotada na casa estão o quartzo italiano que reveste o balcão gourmet, o mobiliário de MDF e o piso porcelanato que faz referiência ao aço corten.
Reforma contempla novo espaço receptivo
Fotos: Philippe Arruda
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Por se tratar de um espaço de convívio social, havia a necessidade de uma estrutura preparada e com tudo à mão. Uma churrasqueira tipo parrilla uruguaia foi inserida ao projeto justamente a pedido do cliente. “Além disso, equipamos o espaço com uma máquina de gelo, um frigobar, uma champanheira e anexamos uma televisão. Tudo para maior comodidade dos usuários”, explica a arquiteta. Christina Vasconcelos Lago é arquiteta e urbanista com pós-graduação em Arquitetura de Interiores e especialização em Paisagismo. Atua desde 1986.
O escritório, associado ao IAB/SC, desenvolve projetos arquitetônicos e de interiores residenciais, comerciais, hoteleiros, corporativos e institucionais. Foram parceiros neste projeto Móveis Zampiron, Empreiteira de Mão de Obra Sem Fronteiras e Ricardo Mármores.
CHRIS LAGO ARQUITETA
Foto: Gilbert Beck
Uma cozinha gourmet toda equipada para que o anfitrião pudesse receber amigos. Este era o espaço que a reforma desta residência no Novo Campeche, em Florianópolis, deveria contemplar. Os elementos e conceitos preexistentes do imóvel nortearam o projeto dessa nova área, de 28 metros quadrados, coordenado pela arquiteta Christina Vasconcelos Lago. “Neste contexto, mantive as características já evidentes para que o novo espaço fosse integrado sem contrastar com os demais ambientes. Por isso, explorei o tijolo à vista, as aberturas em vidro temperado, a mesma combinação de cores e texturas”, pontua.
R. Otávio Cruz, 451 | Novo Campeche Florianópolis | SC (48) 99972.9830 www.chrislagoarquiteta.com.br contato@chrislagoarquiteta.com.br
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DIANA MACARI ARQUITETURA
Áreas comuns são extensões do apartamento
A utilização de lustres de cristais pontuou alguns ambientes como o hall de entrada e os lavabos, e foi um dos pedidos do cliente. Destaque para a pedra ônix translúcida iluminada no lavabo. O Espaço Gourmet traduz a concepção do projeto: é uma extensão do próprio apartamento e tem clima perfeito para receber com conforto.
Fotos: Rudi Razador
A inspiração partiu dos projetos de arquitetura de interiores do portfólio da arquiteta e considerou pontos importantes como a praticidade essencial às áreas comuns. “A ideia foi trazer o aconchego que os moradores encontram nos seus próprios apartamentos”, conta a arquiteta. A intervenção se deu numa área total de 470
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metros quadrados incluindo hall de entrada, salão de festas, espaço gourmet, brinquedoteca e academia. A aposta foi pelo morar urbano, com elegância e conforto. Destaque para o Espaço Gourmet com bancadas em quartzo, mesa de madeira de demolição e um grande banco em L que ajuda a promover o desejado clima acolhedor e descontraído no ambiente planejado para receber. “A proposta foi trazer personalidade ao espaço, fugindo do padrão de peças amplas e impessoais que não propiciam a interação entre os convidados. O resultado agradou justamente porque criou essa identificação com o estilo de viver dos proprietários”, comemora.
À frente do escritório que leva seu nome, Diana Macari atua há mais de 10 anos, em Florianópolis, em projetos de arquitetura, interiores, nas áreas comerciais, corporativas, residenciais e empreendimentos imobiliários. O escritório é associado à AsBEA/SC. Neste projeto foram parceiros Eseri Móveis Complementares e Jair Móveis.
DIANA MACARI ARQUITETURA
Foto: Rudi Razador
Neste residencial em São José, na Grande Florianópolis, a arquiteta Diana Macari recebeu o desafio de surpreender os moradores projetando as áreas comuns como se fossem extensões dos seus apartamentos. A escolha por materiais nobres nos acabamentos e mobiliário estava entre os pedidos da construtora para consolidar o alto padrão do empreendimento.
R. Jornalista Manoel Menezes, 115 | sl. 708 Itacorubi | Florianópolis | SC (48) 3364.9253 www.dianamacari.com.br contato@dianamacari.com.br
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DORINI ARQUITETURA
A base neutra para esta casa confere uma atmosfera leve e despojada, por isso a escolha por materiais com aspectos muito simples e naturais. As tijoletas e os revestimentos cimentícios funcionam muito bem nessas situações.
Casa cubo
volumes provocado pela incidência solar e a paisagem do entorno destacam-se no pavimento superior.
A residência de 380 metros quadrados tinha um programa simples, porém com premissas muito claras e objetivas: tinha que ser prática e funcional, e prever uma ampla área
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para o futuro jardim. Outra solicitação que determinou o partido do projeto foi a presença de uma escada ‘plissada’ solta no living. São duas suítes e dois dormitórios no pavimento superior; home office, serviço e um living totalmente integrados ao espaço gourmet e ao deque do jardim no térreo; e garagens no subsolo. “A volumetria surge a partir de um grande cubo de aproximadamente 10x10x10m e o projeto foi estruturado em três níveis: subsolo, térreo e superior”, explica Dorini, cujas referências de projeto são nomes como Arthur Casas, Márcio Kogan, Isay Weinfeld e Jacobsen Arquitetura. Para suavizar a verticalidade, cores escuras foram escolhidas para o subsolo e um jogo de
Fotos: Guilherme Llantada
DORINI ARQUITETURA
Foto: Beatriz Cascaes
Os clientes - ela brasileira, ele holandês, e o filho - moraram em diversas cidades do mundo além de viajarem de veleiro pelo globo. Florianópolis foi o destino escolhido para fixar residência antes de saírem de Cingapura. Foi de lá que conheceram o trabalho de Thiago Dorini nas páginas do anuário de Arquitetura de Santa Catarina, ArqSC, na internet, e entraram em contato com o arquiteto. Toda a fase de concepção do projeto, implantado em Jurerê Internacional, foi desenvolvida à distância e apresentada on-line.
Com sede em Florianópolis e atuação em diversas cidades do Sul, a Dorini Arquitetura já desenvolveu mais de 200 projetos. Por meio de uma equipe multidisciplinar, especialista em tecnologia BIM, o escritório associado à AsBEA/SC desenvolve projetos contemporâneos residenciais e comerciais. A Portobello Shop Florianópolis foi parceira nesse projeto.
R. José Carlos Daux, 4150 | ImpactHUB Saco Grande | Florianópolis | SC (48) 98808.6861 www.dorini.com.br thiago@dorini.com.br
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ES ARQUITETURA
Inspiração tecnológica
O terreno, a posição solar e as visuais foram o partido para o desenvolvimento do projeto de 1.711 metros quadros. Segundo os profissionais, eles já haviam projetado para outras empresas de ramos semelhantes anteriormente e o resultado foi bastante positivo em relação à organização e a funcionalidade dos espaços. “O que precisávamos era contemplar alguns ambientes: recepção, salas de
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reunião, escritório de desenvolvimento de produtos, salas de gerência, de diretoria, além de banheiros e estacionamento coberto. As necessidades foram atendidas”, destacam. Cada andar – com vista para a cidade - ainda ganhou uma copa para maior comodidade dos usuários do prédio. Desde 2015 o arquiteto Diego Espirito Santo é quem está à frente do escritório ES, associado ao IAB/SC. Ele é formado pela Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Em 2016 abriu filial em Torrance, na Califórnia, Estados Unidos, que tem gestão do arquiteto Rodrigo Estrella. São associados ao ES Arquitetura, o Estúdio Vânia Búrigo Arquitetura, em Criciúma, Santa Catarina, e o Borba Neto Estúdio de Arquitetura, com sede em Bagé, Rio Grande do Sul.
Fotos: SLA Photostudio
ES ARQUITETURA Foto: Arquivo do arquiteto
Este projeto comercial, pensado para uma empresa de softwares para agroindústria, na cidade de Criciúma, surpreende pela forma: a inspiração foi um monitor de computador antigo e por se tratar de um negócio da área de tecnologia, os proprietários adoraram a ideia da equipe do escritório ES Arquitetura: Diego Espirito Santo, Rodrigo Estrella, Valério Montes D’Oca, Maicon Fedrigo e Beatriz Alves.
A forma dos antigos monitores de computadores inspirou o desenho deste projeto, que tem entre os materiais utilizados, o uso de revestimento de telha metálica, que segundo os arquitetos, diminui a manutenção.
R. João Pessoa, 45 | sl. 113 | Centro Criciúma | SC (48) 3045.4500 www.esarquitetura.com.br contato@esarquitetura.com.br
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ESPAÇO DO TRAÇO ARQUITETURA
Volumetria imponente
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Segundo as arquitetas, o projeto foi lançado simultaneamente em planta e volume. A continuidade de materiais, volumes e até mesmo do mobiliário, todo planejado em conjunto ao projeto arquitetônico, foi a estratégia adotada para atingir o objetivo. O Espaço do Traço Arquitetura está há mais de 10 anos no mercado. Flexibilidade, disponibilidade e busca pela eficiência no atendimento e nos resultados faz do escritório um referencial. Tem clientes na Capital e em Rio do Sul, e nos estados do Paraná e São Paulo. Lohn Esquadrias, S.C.A. Mobiliário Contemporâneo Florianópolis e Ettore Design foram parceiros no projeto.
O uso da volumetria limpa e imponente, como a parede de concreto que avança da cozinha à varanda, o grande balanço da cobertura e os vãos geram impacto visual na área social. Por solicitação dos clientes, o living ganhou pé direito duplo e uma escada escultural foi desenhada para dar acesso à área íntima.
ESPAÇO DO TRAÇO ARQUITETURA R. João Pio Duarte Silva, 1801 | sl. 5 Córrego Grande | Florianópolis | SC (48) 3232.8937 Foto: Lio Simas
Explorar ao máximo a relação interior e exterior foi a maior condicionante no desenvolvimento do projeto desta residência unifamiliar, na Lagoa da Conceição, em Florianópolis. Os proprietários, um jovem casal que adora design e tecnologia, gostam de receber e solicitaram uma casa que valorizasse a área social, com ambientes integrados favoráveis a recepções. O pedido foi colocado em prática pelas arquitetas Maíra Queiroz e Vanessa Faller, sócias do Espaço do Traço. “Um projeto equilibrado, clean e minimalista, com volumes puros e imponentes. Este foi o briefing apresentado pelos clientes, que são bastante exigentes e atentos a cada detalhe”, dizem as profissionais autoras do trabalho.
Fotos: Lio Simas
www.espacodotraco.com.br contato@espacodotraco.com.br
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ESPAÇO LIVRE ARQUITETURA
Algumas restrições foram impostas pela legislação com relação à altura do edifício. Por isso, foi mantido o gabarito da torre, mas foram criados dois escalonamentos no pavimento tipo. Um deles foi realçado com um material de revestimento de característica marcante, reforçando a identidade visual do projeto.
Conexão com a rua
Maquetes Eletrônicas: Imagem Final
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com a cidade e a calçada. A solução para a base do edifício também resolveu um grande desafio: o terreno faz frente para duas ruas distintas e tem desníveis entre si e a proposta foi uni-las, valorizando a circulação do pedestre. “Projetamos um edifício comercial de alto padrão com salas de diferentes tamanhos, para atender perfis de empresas de diversos portes. As salas comerciais foram distribuídas em 11 pavimentos tipo e ático. No térreo ficou a galeria de lojas comerciais, que vaza a quadra e conecta as duas vias, favorecendo e valorizando o fluxo de pedestres”, explica Patrizia, à frente do Espaço Livre Arquitetura.
Algumas soluções arquitetônicas foram adotadas de forma a otimizar o desempenho térmico do empreendimento. Brises metálicos na fachada oeste do edifício, bem como a especificação de vidros são alguns exemplos. O escritório Espaço Livre foi fundado em 2004 com foco em arquitetura corporativa, associouse à AsBEA/SC e vem realizando projetos de edifícios residenciais e comerciais, além da gestão de projetos. Participaram desse projeto as arquitetas Lilian Frare Dalmora e Angela Argenta.
ESPAÇO LIVRE ARQUITETURA Foto: Fernando Willadino
Ao projetar edifícios comerciais, a arquiteta Patrizia Chippari tem deixado clara a sua preocupação em valorizar a escala do pedestre e sua relação com o edifício. “Sempre estamos pesquisando o que a arquitetura vertical contemporânea tem feito pelas grandes cidades, sobretudo em áreas centrais”, afirma. Para este prédio implantado em endereço nobre no Centro de Florianópolis, a intenção foi construir uma forte identidade visual tendo como premissa essa conexão. Por isso, o embasamento do edifício foi tratado de modo a não ter muros, favorecendo e estimulando a circulação de pessoas pelo local, além de manter uma relação positiva e gentil
Av. Trompowsky, 291 | sl. 1104 | Torre 2 Centro | Florianópolis | SC (48) 3225.1528 www.espacolivre.arq.br contato@espacolivre.arq.br
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ESTELA CISLAGHI ARQUITETURA
Prazeres à vista Com a planta livre para trabalhar e as necessidades dos clientes já identificadas, a arquiteta Estela Cislaghi deu o start ao layout deste apartamento de cobertura em Florianópolis, onde reside um casal. A paixão do proprietário por vinho foi uma das prioridades do projeto e ganhou lugar de destaque no living. “Criei uma adega climatizada transparente para acomodar 300 garrafas. Os vinhos ficam expostos, mas abrigados dentro de um espaço com temperatura e luminosidade controladas”, explica a arquiteta.
Destaque para os acabamentos: placas cimentícias que revestem a parede; mármore travertino romano escovado na bancada do home teather e que abriga a lareira a gás no centro do living; na cozinha, a paleta acinzentada faz conexão com a adega.
Em complemento à paixão dele, o prazer da esposa por cozinhar também levou a cozinha para a área social - de aproximadamente 100 metros quadrados - totalmente aberta. “Desta forma, os donos têm uma área de convívio completa para curtir e para receber amigos e familiares com o máximo de conforto”, pontua Estela.
Outro fator relevante na execução do trabalho é que foi possível dimensionar as aberturas da sala – com pé direito duplo - privilegiando a vista para o mar. Estela Cislaghi formou-se em Arquitetura e fez especialização em Design de Interiores e Light Design. Atua nas áreas residencial e corporativa desde 1994. O escritório que leva o nome dela é associado ao IAB/SC.
Fotos: Mariana Boro
Foto: Mariana Boro
ESTELA CISLAGHI ARQUITETURA
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Av. Rio Branco, 817 | sl. 1106 Centro | Florianópolis | SC (48) 3324.2364 | 99960.6753 www.estelacislaghi.com.br arquitetura@estelacislaghi.com.br
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IDEIN IDEIA + DESENVOLVIMENTO ARQUITETURA
Sutil e Sofisticado
Um produto inovador não tem referências de mercado, portanto, precisa ser muito bem apresentado para despertar o interesse do consumidor, gerando a experimentação, a satisfação e a recompra. Desenvolver algo ‘novo’ no mercado de saúde, assim como em qualquer outro negócio, requer atenção especial para os três maiores ‘desafios’: o mercado, as finanças e o ambiente regulatório. Em aproximadamente 110 metros quadrados da clínica localizada no Centro de Florianópolis, os objetivos eram desenvolver um projeto adequado ao mercado, com
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investimentos razoáveis para uma operação inicial e, principalmente, que fosse aprovado pelo órgão competente - vigilância sanitária e suas diversas restrições regulatórias. O resultado deste processo foi um ambiente pouco convencional quando comparado aos espaços de saúde tradicionais, com detalhes que enaltecem as características de atendimento – personalizado, elegante e requintado... Palavras da cliente ao definir a ambiência proposta! O IDEIN atua desde 2007 na área de arquitetura e está estruturado em núcleos de projetos: saúde, corporativo, institucional, desenvolvimento imobiliário, comercial e industrial. Integram o escritório, que é associado à ASBEA/SC, os arquitetos Emerson da Silva, Patricia P. D’Alessandro e Benhur A. Basso. Este projeto teve a coordenação do arquiteto Hugo Leonardo Sanjuliano. Foram parceiros a Bontempo Florianópolis, a Infinita Surface e Dwall Revestimentos.
Fotos: André Moecke
IDEIN IDEIA + DESENVOLVIMENTO ARQUITETURA Foto: André Moecke
Quando os arquitetos do escritório Idein Ideia + Desenvolvimento Arquitetura fizeram o briefing para o início dos estudos da Clínica Rafaela Salvato Dermatologia, se depararam com um cenário pouco explorado no mercado de saúde... Clientes interessados em discutir experiência de uso, qualidade percebida pelo consumidor e principalmente, a busca por inovação... o desejo declarado por um “produto inovador”.
A clínica é banhada pela luz natural, com base neutra, e o contraponto fica por conta da mobília escura, tanto nos móveis soltos quando no sob medida. Obras de artistas catarinenses dão um toque de cor e identidade aos ambientes.
Av. Desembargador Vitor Lima, 260 | sl. 614 Trindade | Florianópolis | SC (48) 3233.6273 www.idein.com.br contato@idein.com.br
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IVVA ARQUITETURA
Beach club com vista para a lagoa de Garopaba
São 65 mil metros quadrados divididos entre 78 lotes. A proposta arquitetônica é a de um beach club, que abriga um conjunto com salão de festas, sala de jogos, academia e brinquedoteca, e tudo isso cercado de uma composição de piscinas, jacuzzis e áreas de lazer descobertas. “Para este
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projeto foi essencial a aposta nos grandes panos de vidro com pé-direito duplo, permitindo uma integração visual entre interior e exterior”, destacam os sócios. Na área externa, as piscinas são divididas em raia para natação, piscina adulto e infantil. As lareiras do lado de fora são um convite para o descanso e contemplação, mesmo nos dias mais frios. Ao longo do condomínio, deques com redários, quadras de esporte, área de churrasqueiras, skate park e pequenas praças completam a infraestrutura de lazer. A dupla à frente do IVVA, Investimentos de Valor em Arquitetura, assina importantes trabalhos nas áreas de edificações e interiores e é reconhecida por aliar funcionalidade e estética aos projetos.
Maquetes Eletrônicas: JK Studio 3D
IVVA ARQUITETURA Foto: Fernando Willadino
Este é o quarto projeto de grande porte realizado pela dupla de arquitetos do IVVA Arquitetura, da Capital, para o mesmo grupo de investidores na região Sul de Santa Catarina. Ernando Zatariano e Carina Beduschi tiveram a vista panorâmica da lagoa – voltada para os fundos do terreno - como partido ao projetarem a arquitetura e a decoração de interiores das edificações e áreas comuns deste condomínio residencial, localizado no município de Garopaba.
O visual da lagoa, nos fundos do terreno, foi o partido para a implantação das áreas de lazer de maior permanência e do conjunto de piscinas com borda infinita.
(48) 98413.6586 | 98484.4125 www.ivva.com.br contato@ivva.com.br
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JA8 ARQUITETURA E PAISAGEM
Revitalização da rua Bocaiuva
Esse projeto integra o programa Floripa Urbana, da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas/Florianópolis) e o Projeto de Revitalização de Espaços Comerciais, do Sebrae. O briefing para a arquiteta Juliana Castro foi bastante específico: humanização da rua e valorização comercial do endereço. Uma das condicionantes do poder público foi a manutenção de duas faixas para veículos motorizados. “Nosso partido foi colocar o ser humano em primeiro lugar partindo do princípio que se um espaço público está adequado ao desenvolvimento das atividades das pessoas ele consequentemente será valorizado”, afirma Juliana. No trabalho de pesquisa, a arquiteta observou que obstáculos como postes e placas, espaço estreito de calçada e até a sinalização tátil dificultam a boa circulação,
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além de que a maior parte da rua é ocupada por veículos. “As atividades no espaço público acontecem em sequência: atividades necessárias > atividades opcionais >> atividades sociais”, explica Juliana que tem como grande referência e inspiração o urbanista dinamarquês Jan Gehl, que defende uma cidade planejada para as pessoas.
Maquete eletrônica JA8 Arquitetura e Paisagem
Quatro diretrizes nortearam as decisões de projeto: valorizar o pedestre, garantir a mobilidade por veículos, potencializar a ‘vida na rua’ incluindo atividades opcionais e valorizar a paisagem. “Este projeto manterá a identidade da rua valorizando suas características e terá uma nova ambiência pensada na escala e velocidade do pedestre”, conclui Juliana. Os parceiros institucionais do projeto são Sebrae/SC, CDL/Florianópolis, Beiramar Shopping, Prefeitura Municipal de Florianópolis e Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF). O engenheiro Claudiomar Medeiros, da MAIS Engenharia, e a arquiteta Aline Buss participaram do projeto liderado pelo JA8 Arquitetura e Paisagem, que tem à frente as titulares Juliana Castro e a engenheira Clarice Castro Wolowski. O escritório é associado à AsBEA/SC.
O mobiliário será composto por bancos com assento em madeira maciça apoiado sobre perfis de aço, lixeira e bicicletários em aço. A iluminação será em LED com fiação subterrânea. O material principal será basalto cinza flameado, placas de granito preto flameado para marcar a ciclofaixa e via em asfalto.
JA8 ARQUITETURA E PAISAGEM
Foto: Crema Collab
Partindo do princípio que a cidade é construída para as pessoas viverem nela, seria natural que os projetos de urbanismo colocassem as pessoas em primeiro lugar. Mas não é o que se vê nas ruas. A requalificação desses espaços torna-se uma urgência e tem sido uma missão para o escritório JA8 Arquitetura e Paisagem, que nesta edição apresenta o projeto para a revitalização da Rua Bocaiuva, no centro de Florianópolis.
Para valorizar o pedestre, os cruzamentos são facilitados com nivelamento entre o passeio e a via em asfalto, organizando placas e postes. Foi mantida a circulação dos automóveis em velocidade reduzida com moderadores de tráfego e a criação de ciclofaixas compartilhadas.
R. Francisca Luiza Vieira, 53 | Lagoa da Conceição Florianópolis | SC (48) 3233.6411 www.ja8.com.br contato@ja8.com.br
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JULIANA PIPPI ARQUITETURA E DESIGN
Natural cool
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Fotos: Marco Antonio
na sala, para o proprietário tocar inspirado pelo visual do entorno. Já a cozinha é território da cliente, cujo briefing era a referência ao estilo inglês. A área de intervenção foi de 450 metros quadrados. A suíte do casal tem décor que valoriza elementos naturais como a lâmina de bambu aplicada na parede atrás da cama. Juliana Pippi está à frente do escritório que leva seu nome desde 2000 e atua no mercado de interiores. O portfolio conta com participações em mostras de decoração e vários títulos de referência no segmento - International Property Awards, A’Design Awards na Itália, America Property Awards, em Barbados, além de dois Golden no A’Design Awards em Milão, Itália. Para este projeto, a arquiteta que é associada ao IAB/SC, teve a parceria da Studio Ambientes.
Para curtir a vida em família desfrutando do visual do entonro, espaços generosos, conectados e com muito conforto, design nacional e arte.
JULIANA PIPPI ARQUITETURA E DESIGN Foto: Mariana Boro
Esta casa no Sambaqui, em Florianópolis, integra-se à natureza e extrai dela as tonalidades que banham o projeto de interiores assinado pela arquiteta Juliana Pippi, para um casal com duas filhas adolescentes. “A arquitetura superbém inserida no terreno já tira partido das lindas visuais então a inspiração foi a natureza”, diz a arquiteta. A paleta basicamente neutra ganha poucas pitadas de cores, iluminação bem pontuada e dois elementos essenciais que atendem o pedido dos clientes: design e arte. “O projeto foi superparticipativo, o casal decidiu em conjunto com o escritório todos os detalhes, das cores às escolhas das obras de arte. Uma vez aprovado o projeto, foram muito fiéis às especificações do nosso escritório”, comenta Juliana. Na lista de designers brasileiros de renome que compõem o interior constam Jader Almeida, Sérgio Rodrigues, Zanini de Zanine, Paulo Alves e Tadeu Paisan. Na arte, Volpi e Barsotti imprimem forte identidade ao projeto. As soluções consideraram as necessidades cotidianas, como a opção de integrar ou não o living ao home theater por meio de paineis. Foi destinado um espaço generoso ao piano
R. Orlando Phillipi, 100, sl. 303 | SC 401 Florianópolis | SC (48) 3225.3974 www.julianapippi.com contato@julianapippi.com.br
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MACHADO & KRONEMBERGER ARQUITETURA E DESIGN
A iluminação vertical na eletrocalha reaproveitada do próprio local cria uma escultura na sala principal. O piso de madeira original foi mantido e as tubulações aparentes facilitaram a mudança de layout.
Antiga fábrica vira coworking em Criciúma Machado e Alexandre Kronemberger: a preservação da história da edificação. “O ponto de partida foi não perder a pegada industrial. Após recebermos a identidade da marca PLURALL, incorporamos as cores e a sinuosidade nos elementos arquitetônicos”, explica Machado. A referência industrial também reforça o contexto onde está inserido o coworking, na cidade de Criciúma, Sul do Estado.
O próprio conceito do negócio - um espaço colaborativo, que integra pessoas e ambientes, oferecendo privacidade e serviços, como de tecnologia e recursos humanos – foi o partido para o projeto de retrofit. Outra diretriz determinante foi proposta pelos arquitetos Altanir
E foi a atmosfera de fábrica que predominou no interior com eletrocalhas e eletrodutos aparentes, além da valorização da flexibilidade no uso por conta das divisórias móveis. Já o café tem divisória de telha de PVC branco para dar movimento e privacidade.
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O espaço de 1.500 metros quadrados tem salão principal, mezanino com salas individuais e para pequenas empresas, locais para reuniões, auditório e área de lazer com churrasqueira para confraternizações. Machado & Kronemberger Arquitetura e Design existe desde 1996, em Criciúma. Em duas décadas de atividade, a marca M&K está presente em várias cidades do Estado e fora dele atuando com projetos comerciais, residenciais, interiores, corporativos e industriais. Esse projeto teve a parceria da Audax Construções.
Fotos: Jakson B. Rodrigues
MACHADO & KRONEMBERGER ARQUITETURA E DESIGN Foto: Herik Machado
O relacionamento com os clientes já existe há mais de 15 anos, para os quais o escritório Machado & Kronemberger vem desenvolvendo projetos em várias áreas, inclusive uma revitalização na antiga fábrica de confecção da família. Os filhos dos proprietários, que são jovens empresários conectados com os atuais movimentos do mercado de trabalho, viram nesse espaço desativado a oportunidade da implantação de um coworking.
R. Nilo Peçanha, 35 | Bairro Michel Criciúma | SC (48) 3437.1762 www.machadokronemberger.com.br arquitetura@mk.arq.br
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MARCHETTIBONETTI+ ARQUITETOS ASSOCIADOS
Jardim interno é diferencial no projeto para superstore
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o conceito superstore implantado também nas outras lojas, mas nesta a maior diferenciação foi a criação de um jardim interno que se tornou o ponto alto do espaço. A área total de intervenção foi de 958 metros quadrados. A composição de materiais na arquitetura e no mobiliário aqueceu os ambientes, distribuídos conforme o uso: área do café para o cliente relaxar; espaço kids; local exclusivo do especificador para atendimento privado; provadores de produto; e área técnica. “É possível experimentar a
solução em uma escala real por conta dos grandes planos de paginação dispostos pela loja”, diz a sócia e arquiteta Tais Marchetti Bonetti. O projeto luminotécnico varia conforme o layout. O pantone é neutro para que os produtos tenham destaque. “Além disso, a comunicação visual da loja, com imagens de ambientes dos sonhos de quem está construindo ou reformando, proporciona aconchego”, pontua Tais. Colaboraram especialmente neste projeto os arquitetos Régis von Frühauf e Francine Cardoso, além dos estudantes de arquitetura Davi Garcia do Prado e Nathália Ouriques. O MarchettiBonetti+ atua no mercado desde 1994 nas áreas de arquitetura residencial, comercial, de interiores e na execução de obras pelo Sul do Brasil e em outras regiões do país. O escritório é associado à AsBEA/SC e ao IAB/SC. A Portobello Shop Florianópolis foi parceira do projeto.
Fotos: Rô Reitz
MARCHETTIBONETTI+ ARQUITETOS ASSOCIADOS Foto: Mariana Boro
O desafio deste projeto era claro: adequar a edificação existente ao novo conceito da rede de lojas Portobello Shop. A reforma foi radical para proporcionar uma experiência agradável aos clientes. O escritório MarchettiBonetti+, que realizou o trabalho em outras lojas da marca pelo país, também ficou responsável pela adaptação da unidade de Florianópolis, a maior loja da rede. Segundo o arquiteto Giovani Bonetti, a generosa área de exposição, a partir de 600 metros quadrados, caracteriza
Por ser uma loja de revestimentos cerâmicos, foi explorada uma variedade de produtos, tanto nas fachadas quanto internamente. O jardim interno é o ponto chave desta loja, tornando todo ambiente mais leve e descontraído.
R. Vitor Konder, 262 | Centro Florianópolis | SC (48) 3223.2217 www.marchettibonetti.com.br marchettibonetti@marchettibonetti.com.br
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MARCOS SÔNEGO ARQUITETURA
Charme campestre O charme desta casa de campo já começa na fachada, que ganhou detalhe em tijoleta. Dando continuidade à linha do projeto, varanda e área da churrasqueira foram demarcadas com piso decorado.
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Fotos: Jakson B. Rodrigues
MARCOS SÔNEGO ARQUITETURA Foto: Jakson B. Rodrigues
Localizada no entorno de um condomínio privado, na cidade de Criciúma, no Sul catarinense, a proposta deste projeto era de amplos espaços de convívio integrados para receber os amigos, além de uma arquitetura que privilegiasse o visual voltado para o bosque. O casal de proprietários, na faixa dos 30 anos e dedicados à área da saúde, contratou o arquiteto Marcos Sônego por indicação de amigos em comum. O projeto de 547,00 metros quadros, incluindo deque e piscina, foi feito em parceria com a também arquiteta Brunna Canto. “Construímos uma casa térrea voltada para o fundo do terreno, garantindo certa privacidade no uso dos espaços sociais e de lazer. Quanto ao estilo, predomina o contemporâneo, mas com o clima de uma casa de campo, outro pedido dos moradores”, diz Sônego. Alguns
detalhes caracterizam ainda mais o charme campestre, muito enfatizado nas casas de campo gaúchas que, aliás, serviram de referência para este trabalho. Na área social, por exemplo, o forro inclinado de madeira freijó transmite conforto. A iluminação com pendentes e arandelas de cobre, o tapete de sisal, a lareira revestida de mármore completam a ambientação que mistura o moderno ao rústico chique. Entre os ambientes, destaque para o generoso espaço da adega com suporte para vinhos feito sob medida, com desenho do arquiteto, além de ampla mesa de madeira para seções de degustação. O escritório Marcos Sônego Arquitetura atua em Criciúma e região há 29 anos desenvolvendo projetos arquitetônicos, de interiores, comerciais e corporativos. São parceiros no projeto a Audax Construções e Casa da Finestra.
R. João Pessoa, 445 | sl. 707 | Centro Criciúma | SC (48) 3045.5324 | 99624.7293 www.marcossonego.com.br arquitetura@marcossonego.com.br
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MARIANA PESCA ARQUITETURA
Lazer dos sonhos
Para bloquear a visão de quem chega Mariana ergueu uma parede criando um hall de entrada que traz privacidade e delimita a cozinha funcional. O projeto apostou em um luminotécnico bem elaborado, em acabamentos em madeira, na cor e vegetação. Na outra página destaque para a cristaleira que expõe a coleção de copinhos das cidades para onde o casal já viajou.
Fotos: Mariana Boro
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estruturais, como a ampliação na parte de trás do living para a criação da área gourmet. Portas e persianas integram ou não este ambiente aos demais, que compõem o social”, explica a arquiteta Mariana Pesca. Foram respeitadas todas as exigências para este espaço: churrasqueira, cooktop amplo, coifa potente, forno, micro-ondas, geladeira para bebidas com máquina de gelo, adega, chopeira. Além disso, o ambiente foi integrado com o terraço, que é uma extensão da área de lazer, tem SPA para seis pessoas, paisagismo em cachepôs com diferentes vegetações, horta e mobiliário confortável.
MARIANA PESCA ARQUITETURA Foto: Genevieve Bernardoni
Depois de uma vida profissional ativa, os donos deste imóvel - um casal na faixa dos 60 anos - desejavam morar na praia, em busca de mais qualidade de vida. Com receio de comprar uma casa, por questões de insegurança, optaram por investir em uma cobertura, em Jurerê Internacional. Para projetar a área social de 160 metros quadrados deste apartamento, inclusive com espaço gourmet equipado – pedido especial do dono que adora cozinhar – foi chamado o escritório Mariana Pesca Arquitetura. “O imóvel adquirido já havia passado por uma ampliação pré-venda, mas nunca tinha sido habitado. Para adaptar às necessidades do cliente, fizemos ajustes
O projeto manteve o pé-direito alto da sala de estar e home theater e por ser o último andar, a arquiteta teve condições de construir uma lareira à lenha. Para receber a família com conforto, o casal escolheu na hora da compra um apartamento amplo, com 340 metros quadrados, com suítes para os filhos - um homem e uma mulher, já casados -, e uma para os netos, além da suíte máster e de um cômodo para o home office. Desta maneira, todos podem ficar juntos nas férias e finais de semana. O escritório Mariana Pesca Arquitetura atua há 13 anos desenvolvendo projetos arquitetônicos e de interiores, nas áreas comercial e residencial. A loja Vitrine 21 foi parceira neste trabalho.
R. Lauro Linhares, 2055 | sl. 606 | Torre Max Trindade | Florianópolis | SC (48) 3879.9889 | 98804.1556 www.marianapesca.com.br contao@marianapesca.com.br
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MM ARQUITETURA CONECTADA
O pão nosso de cada dia
Fachada bem marcada chama a atenção para o novo negócio no bairro. Os tons terrosos contrastam com a cor do pão para destacar o produto, e os materiais são de baixa manutenção e maior durabilidade.
Rapidez na execução, baixo custo e atratividade são requisitos comuns aos projetos comerciais, principalmente quando se trata de um novo negócio no bairro. Esses foram também os desafios das arquitetas Carolina Mocelin e Patrícia Moschen ao projetar uma padaria com briefing bem específico: a fabricação de pães com fermentação natural e o local também seria uma cafeteria. Para materializar a nova atividade de dois empresários, no Santa Mônica, em Florianópolis, a dupla do escritório MM Arquitetura Conectada partiu para a pesquisa. “Tivemos que entender todo o processo produtivo para que num espaço pequeno pudéssemos otimizar a distribuição do maquinário para facilitar a produção, e, além da parte funcional, tínhamos que ter um apelo estético que destacasse a fachada da padaria na rua”, contam as arquitetas. A setorização dos 75 metros quadrados de área foi o partido que norteou o projeto, dividindo produção e atendimento. Na área de produção, o espaço foi distribuído para atender as diferentes demandas no que diz respeito aos equipamentos, as normativas vigentes e a facilidade de limpeza. Já na parte de atendimento, foram três as exigências: mostrar bem os produtos para comercialização, ter comodidade na hora da compra e conforto para permanecer no café.
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MM ARQUITETURA CONECTADA
Foto: Jackson Inácio
A MM Arquitetura Conectada surgiu da união de dois escritórios consolidados e atuantes no mercado há mais de 20 anos, das arquitetas Carolina Mocelin, que foi gerente da Final Forma Studio Design, e Patrícia Moschen, que foi diretora da Estilo Próprio Arquitetos Associados. A atuação se dá em duas frentes: desenvolvimento de projetos compatibilizados e gestão de obras, nas áreas comercial,
Fotos: Lio Simas
R. Bocaiúva 1913 | sl. 26 | Centro Florianópolis | SC (48) 3343.0634 www.mmarquiteturaconectada.com.br patricia@mmarquiteturaconectada.com.br carol@mmarquiteturaconectada.com.br
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PASSING ARQUITETURA
Intervenção durante a obra garante personalidade ao duplex O trabalho neste imóvel começou ainda durante a construção do prédio, localizado em Coqueiros, área continental de Florianópolis. Já conhecida da família pela realização de outros projetos, a arquiteta Cris Passing foi contratada desta vez para executar o interior de uma cobertura duplex, a moradia principal dos clientes. Na época, a área interna do apartamento ainda estava livre para ser personalizada. A prioridade eram três suítes com closets e área social integrada. “Excluímos várias paredes e a marcenaria de alto padrão entrou para limitar e definir os ambientes. Foi ela ainda que imprimiu o toque de personalidade em cada espaço, conforme a necessidade e o uso”, explica. No pavimento inferior ficaram as áreas de serviço, de convívio social, as suítes e área externa com spa. O piso superior concentrou os ambientes voltados para o aproveitamento da família, com sala de cinema, adega, bar, escritório e espaço fitness, além do maleiro e de uma sacada mais íntima.
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O maior desafio foi a localização da escada da cobertura duplex. A ideia é que fosse um elemento de destaque, mas interferisse o mínimo possível na área a ser utilizada. A solução foi a criação de um modelo linear em paralelo à parede.
PASSING ARQUITETURA
Foto: Mariana Boro
Para criar a ambientação, a profissional tomou partido de uma base neutra, apostou em materiais nobres, texturas variadas e pontuou tudo com uma iluminação cênica. Completando 20 anos de experiência em 2017, o escritório Passing Arquitetura tem um portfólio bem variado, mas com destaque para arquitetura e interior residencial. Em outubro de 2016 foi inaugurada a primeira filial do escritório na Capital paulista, onde atualmente a arquiteta Cris Passing faz MBA em Arquitetura de Luxo.
Fotos: Mariana Boro
Av. Trompowsky, 291, sl.902 | Torre 2 Centro | Florianópolis | SC (48) 3028.0404 Av. Chedid Jafet, 222 | 50 andar | Torre D Vila Olímpia | São Paulo | SP (11) 2655.7340 www.passing.com.br passing@passing.com.br
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PORTO MAESTRI ARQUITETURA E INTERIORES
Na decoração predominam as linhas retas, com toque mais moderno, uma preferência dos donos do apartamento. Cores como o azul marinho e o azul royal aquecem os cenários, aparecendo já na porta principal e também nos detalhes, acessórios decorativos e acabamentos.
Layout atualizado e integrado
Foto: Lio Simas
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A área íntima ficou distribuída em suíte máster, as suítes para cada filha - uma de um ano e outra de quatro -, mais o home office. Tudo foi planejado com muitos detalhes e soluções para criar ambientes únicos e singulares, que reflitam a personalidade de cada usuário. As arquitetas Caroline e Isadora já foram parceiras em 2004, anos depois optaram por seguir carreiras solo e em 2013 resolveram assumir novamente a sociedade à frente da Porto Maestri. Desde então realizaram cerca de 150 projetos, entre eles arquitetônicos, interiores e comerciais. Masotti, Studio Ambientes, Jair Móveis, Novo Espaço, Dicks Planejados e Marmoraria Três Riachos foram parceiros do projeto.
Fotos: Lio Simas
PORTO MAESTRI ARQUITETURA E INTERIORES
Foto: Lio Simas
A máxima integração dos ambientes sociais foi o pedido principal dos proprietários deste apartamento no Centro de Florianópolis, um casal jovem com duas filhas pequenas. O projeto coube às arquitetas Caroline Porto e Isadora Maestri. O imóvel antigo de 180 metros quadrados passou por uma reforma geral, de demolição e reconstrução, o que resultou na criação de um novo layout. “O apartamento ficou cru e começamos o trabalho do zero. Trocamos revestimentos, fiação elétrica, hidráulica e toda a marcenaria é nova”, destacam as profissionais. Na ambientação foi utilizada uma única lâmina de madeira natural em todo o projeto da área social que une living, jantar, cozinha e espaço gourmet.
R. Santa Luzia, 100 | sl. 607 | Trindade Florianópolis | SC (48) 3733.6959 www.portomaestri.com.br contato@portomaestri.com.br
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PROGETTA STUDIO DE ARQUITETURA E INTERIORES
Casa de fazenda na praia
Este é sem dúvida um projeto de dimensões generosas e a imponência já começa pelo tamanho da intervenção, executada em uma área de 1.617,27 metros quadrados pelo escritório Projetta Studio. O casal de proprietários, na faixa dos 45 anos - ele fazendeiro e ela gerencia a casa - não abre mão do conforto da fazenda para a família, em Rondônia, para onde o cliente viaja frequentemente. Sua esposa e as três filhas têm a vida estruturada na Capital catarinense. As referências de projeto são materiais comuns às casas de fazenda como madeira de demolição, couro, ferro, pedras, metal e tonalidades escuras que marcam o arquitetônico
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e o interior desta residência, em um condomínio, em Jurerê Internacional. Segundo os arquitetos Fábio Silva e Allan Chierighini, da Progetta Studio, buscou-se nesta obra uma arquitetura limpa, contemporânea e sem adornos, com elementos da cultura brasileira como beirais, pergolados e marquises. Três pavimentos setorizam o amplo programa de necessidades que incluía seis suítes, uma para cada filha, duas para hóspedes e a suíte do casal, além de área genenorosa para empregados, espaços sociais e de lazer
com sauna, sala de banho, academia, cinema, escritório e sala de estudo. No subsolo ficaram a garagem e o setor de serviços; no térreo a área social e de lazer conectadas; e no andar superior as suítes e ambientes íntimos da casa. “A planta em formato de “L” utilizou o máximo aproveitamento da luz natural e favoreceu todos os ambientes”, ressaltam. O mobiliário sob medida da Evviva Bertolini setorizou e organizou o layout dos ambientes. O cliente enfatizou a importância de uma área gourmet para o uso frequente dos moradores. Tudo foi organizado
no térreo, com características de um resort: muito conforto, espaços generosos e serviços à mão para contemplar o lazer pleno. As tecnologias, itens sustentáveis e de autossuficiência das obras, e a rigorosidade nos detalhes são marca registrada do escritório Progetta Studio de Arquitetura e Interiores, que está há 10 anos no mercado. Associado à AsBEA/ SC, utiliza a mais atual ferramenta de projetos, o sistema BIM. Neste projeto foram parceiros Evviva Bertolini, Sierra Móveis e Infinita Superfícies.
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PROGETTA STUDIO DE ARQUITETURA E INTERIORES
Fotos: Lio Simas
A suíte máster prima pelo máximo conforto, com cama estilo tatame, cabeceira em camurça de tom cinza quente e piso de laminado madeirado escuro. O contexto cenográfico foi prioridade para o dormitório do casal.
PROGETTA STUDIO DE ARQUITETURA E INTERIORES
Foto: Lio Simas
Integração e conforto definem o layout do térreo, com planta livre. A piscina e o espelho d’água têm forma linear para criar uma raia que envolve a casa. Os planos verticais e horizontais tem como referência os obras do mestre Frank LLoyd Wright.
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R. Oswaldo Cruz, 484 | Balneário Estreito Florianópolis | SC (48) 4141.3321 www.progettastudio.com.br progetta@progettastudio.com.br
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PSF ARQUITETURA
Para quem tem hábitos contemporâneos de viver, a conexão dos ambientes sociais com os de serviço é premissa básica no layout da residência. A cozinha torna-se o coração da casa e ganha importância tanto quando o jantar e o estar no que se refere ao décor. Este apartamento próximo à Beira-Mar Norte, em Florianópolis, é habitado por um jovem casal sem filhos com perfil atual, por isso a integração foi o briefing principal para o projeto desenvolvido pelo PSF Arquitetura, que tem à frente os arquitetos Mário Pinheiro e Ricardo Fonseca. O imóvel apresentava uma planta bastante tradicional, com espaços compartimentados. A proposta foi derrubar as alvenarias integrando cozinha à sala, e criando um home-office versátil onde antes era a lavanderia. Um amplo painel em marcenaria
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Uma grande moldura em madeira marca uma das paredes na sala, envelopando o móvel sob medida composto por cristaleira espelhada, aparador, nichos e painel para a TV. É ali que ficam expostas as lembranças trazidas de viagens.
com portas de correr embutidas isolam o ambiente de trabalho da sala quando necessário e, além disso, abriga as novas portas de acesso à área íntima e à lavanderia. Para a parede oposta foi projetada uma moldura em madeira que envelopa o móvel sob medida. Fotos: Lio Simas
Tão importante quanto integrar os ambientes é dar unidade a eles com a escolha de materiais. Para este projeto que abrange uma área de 150 metros quadrados, foram usados os mesmos acabamentos amadeirados, predominando os tons sóbrios, acinzentados e elementos que remetem à natureza dos materiais como as tijoletas. Este projeto contou com os colaboradores arquitetos Thiago Patrício, Giulia Garcia e Cláudia Marchiori. Foram parceiros do projeto Dell Anno Floripa, Jair Móveis e Carol Cortinas.
PSF ARQUITETURA Foto: Fernando Willadino
Viver contemporâneo
R. São Jorge, 108 | Centro Florianópolis | SC (48) 3223.0270 | 3333.3087 www.psfarquitetura.com.br contato@psfarquitetura.com.br
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PSF ARQUITETURA
Aberto para a paisagem
O partido arquitetônico do projeto adotou a forma de ‘L’ em função dos ângulos irregulares do terreno.
Fotos: Lio Simas
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que impactasse ao primeiro olhar e destacasse o prédio do entorno”, comentam os profissionais do Pinheiro Serrano Fonseca Arquitetura. O projeto para um público Triple A contemplou confortáveis apartamentos, com amplas esquadrias para valorizar a vista do bairro. Os revestimentos cerâmicos e porcelanatos de diferentes formatos e texturas nas fachadas, somados às aberturas, contribuem para que o prédio se destaque na paisagem. O escritório Pinheiro e Serrano Fonseca Arquitetura, com sede em
Florianópolis, soma experiências nas áreas de estudos de viabilidade, projetos corporativos, residenciais, multifamiliares, comerciais e no planejamento e execução de obras. Esse projeto contou com os colaboradores arquitetos Thiago Patrício, Giulia Garcia e Cláudia Marchiori, e as empresa parceiras Lohn Esquadrias/Veka fornecedor de perfis de PVC e Marmoraria Schmitz. O escritório é Associado à AsBEA/SC.
PSF ARQUITETURA R. São Jorge, 108 | Centro Florianópolis | SC (48) 3223.0270 | 3333.3087 Foto: Lio Simas
Dois itens são marcantes no projeto deste residencial multifamiliar na praia: amplas aberturas para curtir a exuberante vista do mar do Novo Campeche mimetizada com a cor do céu e o encanto da vegetação e da areia; e o dinamismo empregado na fachada por conta do desenho arquitetônico e de diferentes revestimentos. Localizado à beira-mar, em Florianópolis, o projeto de 5.620 metros quadrados de área, é o terceiro empreendimento desenvolvido pelos arquitetos Mário Pinheiro e Ricardo Fonseca para a mesma construtora. “A solicitação do cliente foi por uma arquitetura autoral
www.psfarquitetura.com.br contato@psfarquitetura.com.br
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ROBSON NASCIMENTO ARQUITETOS
Reforma radical atualiza o projeto desta casa, adotando planta livre que conecta toda a área social, setoriza pelos móveis soltos e sob medida. Na outra página, no alto, destaque para o ripado de madeira no hall.
Retrofit atualiza arquitetura
organizam os ambientes integrados e abertos para o jardim. Os materiais valorizam a paleta neutra com aposta em lâminas de alto brilho e puxadores contínuos. Os destaques são o MDF Pecan e o ripado DAKAR desenvolvido especialmente para o projeto, ambos da Evviva Bertolini.
O desafio foi abraçado pelo arquiteto Robson Nascimento – o interior teve a participação da também arquiteta Cristiana Bez Delpizzo. O programa de necessidades era simples, no entanto de execução complexa considerando a grandiosidade da obra: amplas áreas de convívio, planta
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livre no térreo, ambientes integrados, suítes com espaços generosos e grandes esquadrias para entrada de luz e ventilação. O partido era fazer um retrofit numa área de 500 metros quadrados a partir de soluções rápidas e sustentáveis com uso de materiais de fácil manutenção. Por isso escolhas como estruturas metálicas e revestimentos ACM. Uma das premissas do projeto foi minimizar os custos de energia adotando um sistema de captação fotovoltaica. No interior, mobiliário sob medida e móveis soltos setorizam e
O escritório Robson Nascimento atua há mais de 20 anos no mercado, em projetos arquitetônicos e urbanismo, nas áreas comerciais e interiores. Plantas livres, integração e a conexão dos espaços internos e externos são características do escritório associado à AsBEA/SC. O departamento de interiores tem à frente a arquiteta Cristiana Bez Delpizzo. Essa reforma contou com a parceria da Evviva Bertolini.
ROBSON NASCIMENTO ARQUITETOS Foto: Mariana Boro
O casal com três filhos já morava no bairro de Jurerê Internacional quando decidiu mudar de residência a partir de uma oportunidade: o imóvel à venda era antigo, porém localizado de frente para a praia e tinha condições de passar por uma ampla reforma para atualização.
Fotos: Mariana Boro
R. das Algas, 343 | sl. 1 | Jurerê Internacional Florianópolis | SC (48) 3282.9349 www.rnascimentoarquitetos.com.br contato@rnascimentoarquitetos.com.br
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RODRIGO KIRCK ARQUITETURA
Laboratório criativo
O escritório com conceito de coworking foi implantado entre dois sobrados, destacando volumes entrepostos de contêineres. Alguns itens colaboraram para a eficiência energética do local: telhado-jardim com funções de reduzir o impacto da radiação solar, sistema de captação da água da chuva e reservatório de águas pluviais.
Quatro unidades de contêineres reciclados originaram este espaço comercial plural e que abriga um escritório de arquitetura compartilhado - inspirado no coworking - que mais funciona como um laboratório, onde juntos atuam profissionais de design, fotografia e artes. O projeto assinado pelo arquiteto Rodrigo Kirck foi vencedor do voto popular, na categoria arquitetura pré-fabricada, do prêmio Architizer A+ Awards 2017, um dos mais importantes concursos de arquitetura mundial. A construção fica a 150 metros de uma marina públicoprivadas em Itajaí. Esse fato foi decisivo na escolha do material da obra, considerando que a região do Rio Itajaí reúne grande quantidade de contêineres. Aliás, eles têm uma ligação afetiva com a cidade portuária e com a própria indústria naval. “Procurei refletir neste projeto uma arquitetura mais voltada para as pessoas, que ostente menos e ofereça mais experiências. Tudo é muito simples, mas ao mesmo tempo refinado”, diz Kirck.
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Fotos: Alexandre Zelinski
RODRIGO KIRCK ARQUITETURA
Foto: Pedro Waldrich
O uso do contêiner traz um conceito inovador, unindo criatividade e arte, baseado na arquitetura contemporânea. O conforto térmico e visual e a integração dos ambientes foram prioridades. Tudo resultou em uma composição criativa, harmônica, e que foge do lugar comum, segundo o autor do projeto. “Por aqui, nada de quadros. Pinturas foram eternizadas nas paredes e as luminárias ganharam design próprio. Peças funcionais e reaproveitadas imprimiram ainda mais personalidade”, destaca. Rodrigo Kirck Arquitetura existe desde o ano de 2005 e realiza trabalhos nas áreas de construção civil, urbanismo, interiores e navais de diferentes setores e escalas. Deste projeto participaram como apoiadores Spengler Decor/Hunter Douglas e Todeschini.
R. Tubarão, 182 | Fazenda Itajaí | SC (47) 3349.7161 | 99912.1236 www.rodrigokirck.com.br rodrigo@rodrigokirck.com.br
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ROSAS ARQUITETOS ASSOCIADOS
O sonho da casa na praia
O azul do mar, o tom suave da areia, a alegria e alto astral do cenário da praia foram as referências para o projeto de interiores desta residência unifamiliar, em Jurerê Internacional. O sonho do cliente era ter uma casa de praia com muito conforto para que a sua grande família usufruísse - a esposa e os quatro filhos. Eles adquiriam um imóvel pronto de um antigo cliente do escritório Rosas Arquitetura, para o qual foi construída a casa. Desta vez, coube ao arquiteto Rafael Rosas comandar apenas o projeto de interiores a partir do briefing do novo proprietário. Arrojo e leveza deveriam ter um diálogo afinado nos ambientes da casa de 800 metros quadrados. O partido para a composição estética da sala de estar, jantar, home theater, varanda, escritório, cozinha, área de serviços e as seis suítes deveria aliar praticidade e elegância para atender a uma família atual. Além da inspiração na própria praia, local onde está inserido o imóvel, outros elementos compõem os interiores como a presença forte da madeira no mobiliário, o tom cobre nos complementos e móveis sob medida conferem unidade ao projeto, organizam os espaços e ainda exploram materiais como o espelho, o vidro, a laca e a iluminação pontual.
Integram a equipe do escritório de arquitetura os profissionais José Rosas e Sílvia Monteiro. Associado ao IAB/ SC, o Rosas Arquitetos atua principalmente em Florianópolis há quase 20 anos, projetando e executando arquitetura de qualidade. Evivva Bertolini e Lumensul foram os fornecedores parceiros do projeto.
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Fotos: Rô Reitz
Lifestyle praiano nos ambientes internos desta casa, com mobília sob medida em todos os espaços, trazendo unidade ao conjunto e organizando a rotina. Toques de peças de design e leveza nas cores conferem a atmosfera cool do projeto.
ROSAS ARQUITETOS ASSOCIADOS
Foto: Cezar Motta
A mobília solta explora nomes fortes do design nacional também à pedido do cliente. Destaque para a poltrona Mole de Sérgio Rodrigues e várias peças do catarinense Jader Almeida.
Av. das Algas, 389 | sl.3 | Jurerê Internacional Florianópolis | SC (48) 3282.0049 | 3282.9489 www.rosasarquitetos.com.br rafaelmonteiro@rosasarquitetos.com.br
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RUSCHEL ARQUITETURA E URBANISMO
A luz banha a casa desde a varanda frontal, configurada por pergolados, ao interior a partir das grandes esquadrias de madeira Louro Freijó no tom carvalho claro. O layout interno definido pela arquiteta priorizou a colocação do piano em destaque na área social.
Reforma radical traz revigorada experiência de morada
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O terreno, em aclive, é rodeado por uma vegetação exuberante, com um maciço de rochas cheio de ritmo e volumetria variada, além de visuais para o mar da praia de Sambaqui e a Ilha de Ratones. O pôr do sol banha o local com a luz típica do entardecer e este cenário serviu de inspiração para o novo projeto, que teve como uma das premissas a preservação e valorização dos elementos naturais. “O conceito adotado resultou em uma linguagem que propõe a integração do interior com o exterior e elementos de transição tais como sacadas e pergolados qualificando a arquitetura”, pontua Marília. A geometria da casa original foi mantida considerando que a implantação explorou a vista do entorno. A nova proposta de layout interno melhorou as ambiências, proporcionando à residência uma revigorada experiência de morada. A arquitetura de interiores é do escritório Juliana Pippi
Fotos: Lio Simas
Arquitetura e o paisagismo do J8A Paisagismo. A Ruschel Arquitetura e Urbanismo está no mercado desde 2007, e tem como titular a arquiteta Marília Ruschel, graduada pela UFRGS em 1979, e com mais de 30 anos de trajetória – de 1983 a 2007 foi arquiteta titular do escritório Ruschel+Teixeira Netto. Participou por dois anos de pesquisas junto à Architectural Association School/ RIBA de Londres; possui especialização em Planejamento Regional e Urbano, pela UFSC onde exerceu a docência, na área de projetos, por quase 10 anos. Escritório associado à AsBEA/SC. Parceiros do projeto Esquadrias Baiana, Eletrotérmica Refrigeração e Águas Claras Piscinas.
RUSCHEL ARQUITETURA E URBANISMO Foto: Arquivo pessoal
O casal com duas filhas procurou o escritório Ruschel Arquitetura e Urbanismo para construir uma nova residência em um terreno à beira-mar na praia de Sambaqui. Como o período entre o projeto e a construção seria de aproximadamente dois anos, o casal solicitou uma pequena reforma na casa existente, priorizando piscina e lazer para as crianças além de abrigo para os veículos. O que era para ser uma pequena melhoria na casa acabou se transformando numa grande obra, com área de intervenção de 830 metros quadrados, permanecendo muito pouco da antiga residência. Ao longo do processo, o projeto foi crescendo com novos cômodos, reformulação de layout, ganhando novos espaços, formas e materiais, com a participação ativa dos clientes, que curtiram as mudanças propostas pelo escritório de Florianópolis.
Antes
Rodovia João Paulo, 2251 | João Paulo Florianópolis | SC (48) 3238.4993 www.ruschelarquitetura.com ruschel@ruschelarquitetura.com
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SABRINA BARROS ARQUITETURA
Toque de classe
Foto: Guilherme Jordani
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Para atender às necessidades funcionais e estéticas, a arquiteta setorizou os espaços a partir do uso de móveis soltos. O clássico é explorado nos detalhes da mobília, a exemplo do capitonê, das tachas e no uso dos tecidos – seda e veludo – como revestimentos. Por outro lado, o móvel fixo, mais clean, dá unicidade, mantendo uma linguagem linear nas paredes. Desde 2006 à frente do escritório de arquitetura que leva seu nome, a arquiteta Sabrina Barros tem o foco de trabalho voltado a residências de alto padrão. Formou-se em 2006 na ULBRA - Universidade Luterana do Brasil de Torres (RS) e desde então atua nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O escritório é associado ao IAB/SC. Os fornecedores parceiros neste projeto são Dellart Casa e Sérgio Bertti.
Fotos: Andreia Boff
SABRINA BARROS ARQUITETURA
Foto: Raphael Briest
O clássico nunca sai de moda e há quem ame esse décor. É o caso dos clientes da arquiteta Sabrina Barros, de São João do Sul, município do Sul catarinense, responsável pelo interior desta casa localizada dentro de um condomínio particular na praia de Capão da Canoa, litoral gaúcho. O projeto contempla 531.87 metros quadrados com ambientação de luxo e impacto visual como solicitou o proprietário, e toque atual dado pela profissional. “A luxuosidade do clássico predomina, mas com uma base neutra e contemporânea marcada pelo mobiliário fixo, que por sinal mantém o equilíbrio, ao mesmo tempo que ameniza detalhes do dourado e preto”, pontua Sabrina, que deu especial atenção a três pedidos do cliente: o uso do mármore Nero Marquina na lareira, também utilizado na área gourmet e no lavabo, o tapete persa e o lustre de cristal.
O ponto forte da marcenaria fixa ocorre na suíte do casal onde grande parte do mobiliário foi revestido com tecido e acabamento de tachas. A sala de banho toda de mármore branco com boiseries douradas, também expressa o requinte do cliente. A paleta de cores transita entre o cinza, bege, preto e dourado sempre refletidos por muitos espelhos.
Av. Nereu Ramos, 234 | Centro São João do Sul | SC (48) 98821.9063 | (51) 99311.6957 www.sabrinabarrospaulo.com.br contato@sabrinabarrospaulo.com.br
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STUDIO DOMO ARQUITETURA
Arquitetura e paisagem conectadas
A edificação tem dois volumes de uso misto, com apartamentos e escritórios, e um bloco horizontal específico para o comércio voltado para o passeio, que interliga as unidades. Maquetes eletrônicas: Estúdio MRGB
O Studio Domo vem buscando sistematicamente unir edifícios e terrenos como espaços arquitetônicos e paisagísticos integrados em níveis cada vez maiores. Na concepção do escritório de arquitetura sediado em Florianópolis, arquitetura e paisagem inspiram a imaginação, estimulam o corpo ao mesmo tempo em que sua estrutura e caráter permitem a organização de atividades múltiplas no campo social e ecológico. Esse conceito permeia os dois projetos apresentados nesta edição do anuário: o Passeio da Liberdade, na Capital,
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e o Atrium Office, na Cidade Criativa Pedra Branca, em Palhoça. A premissa dos projetos é promover a apreciação do contexto respondendo a questões importantes como o caráter cultural, o lugar físico e o clima, a finalidade social e ambiental. “Os dois empreendimentos integram e aprimoram seu contexto para acomodar seus diversos programas, que vão da moradia ao trabalho, da alimentação aos serviços educacionais e de visitantes”, afirma Roberto
Simon, arquiteto do Studio Domo responsável pela obra em colaboração criativa com profissionais especializados em outras disciplinas. Do ponto de vista da arquitetura, é impositivo que o projeto entregue aos pedestres e usuários embasamentos e paisagem para a apropriação dessas imensas áreas, com soluções como visuais desimpedidos, integração dos espaços como uma só praça, luz e sombra, volumes e vazados. O olhar da rua para o lote, as pesquisas e
os valores arquitetônicos ajudam na criação de projetos desafiadores, com programas e territórios complexos. Um exemplo é a Praça do Saber, integralmente pública, que faz a transição para o espaço privado. O traçado resgata um antigo caminho existente a partir da Escadaria do Teatro da Ulbro, que desemboca na Praça Getúlio Vargas. É uma homenagem ainda ao homem que deu nome à rua, Artista Bittencourt, sapateiro, negro e abolicionista que foi editor de Cruz e Sousa.
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STUDIO DOMO ARQUITETURA
O olhar da rua para o lote Este projeto também responde às premissas do escritório Studio Domo no que diz respeito à relação da arquitetura com a paisagem a partir da apreciação do papel dos fatores sociais, históricos e ambientais na concepção do ambiente urbano. Não à toa, o Atrium Offices é um projeto pré-certificado LEED® GOLD, título que atesta a intenção do empreendimento no uso racional de materiais e recursos naturais, na promoção da sustentabilidade e eficiência energética da edificação. LEED® é uma marca registrada de propriedade do U.S. Green Building Council.
Foto: Cristina Estefano
“Nosso processo de projeto se concentra na conceituação e execução de ambientes interiores e exteriores adequados a vida contemporânea e responsável para com seus usuários e com a real sustentabilidade e principalmente, de longo prazo”, afirma o arquiteto Roberto Simon, titular do Studio Domo. A coordenação geral do projeto ficou a cargo do arquiteto Guilherme Simon e seu grupo de trabalho. “Uma equipe jovem, comprometida com a qualidade, com as pessoas e principalmente com a vida, motivo de orgulho para todos nós!” reitera Simon. O prédio imponente em frente à Praça Central, integrado ao Passeio Pedra Branca, está localizado em um lugar com fluxo intenso de pessoas. O empreendimento tornou-se um ponto de encontro para quem busca gerar negócios e fazer networking na Grande Florianópolis, com estrutura para atender as necessidades do movimento criativo. Entre os itens de conforto, possui auditório para 240 lugares, bicicletário, vestiário com chuveiros, praça externa, espaço de coworking, café além do showroom de vendas da incorporadora. “Foi uma grande satisfação projetarmos o Atrium, de sofisticação essencial, mas sutil. Inovador em seus detalhes e generoso nas suas soluções visíveis. Na fachada frontal, por exemplo, dotada de um grande pano de vidro que, com sua transparência, permite que o hall ganhe intensa luminosidade e com suas linhas retas, volumes e vazados compõe um espaço contemporâneo e elegante de firme caráter corporativo”, define Simon. A Cidade
A fachada em pele de vidro camufla um amplo hall central, que é um convite ao convívio, além de causar uma grande surpresa ao visitante. As sacadas da edificação são integradas ao átrio e voltadas para a praça, e seu desenho assimétrico confere movimento e dinamismo ao conjunto. Fotos: Fabrício de Almeida e Silva
Foto: Cristina Estefano
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STUDIO DOMO ARQUITETURA
Foto: Kilson Ricardo
Criativa Pedra Branca foi parceira do projeto. O Studio Domo, sediado em Florianópolis, está com 34 anos e tem à frente o arquiteto Roberto Simon. O escritório tornou-se referência nacional no que se refere a projetos arquitetônicos, passa também a desenvolver o processo de incorporação imobiliária, envolvendo-se em todo o processo, desde a estruturação, criação, desenvolvimento e gestão imobiliária, ao produto final.
R. Adolfo Melo,35 | sl. 802 | Centro Florianópolis | SC (48) 3224.0005 | 99947.2552 www.studiodomo.com.br domo@domo.com.br
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STUDIO METHAFORA
Este apartamento em Jurerê precisou passar por uma reforma radical para atender as necessidades de um casal com duas filhas – ele advogado, que viaja muito a trabalho, ela administra a casa. As meninas têm 14 e 9 anos e gostam de andar de skate pela cobertura. Essa premissa já sinaliza a atmosfera descontraída e jovem da família, que topou a proposta de derrubar praticamente todas as paredes da área social, dando origem aos ambientes fluidos e integrados. O desafio coube às arquitetas Luana Lima e Maria Isabel Patrício, do Studio Methafora, que tiveram total liberdade para executar as mudanças na planta compartimentada, numa área total de 350 metros quadrados. Elas observaram que o coração do apartamento, a área mais nobre, estava sem utilização, deixando de explorar a potencialidade do pé-direito alto e a vista do pôr do
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Fotos: Rudi Razador
A madeira está bastante presente na composição dos ambientes e a lâmina natural de Freijó foi eleita para compor diferentes elementos do mobiliário planejado. Para equilibrar com a madeira foi escolhido o acabamento em concreto, que aparece no piso de toda planta inferior e nas marcenarias da cozinha.
Foto: Ronald Pimentel / Revista Sua Casa
Espaços fluidos e integrados até para andar de skate
sol, que também era uma condicionante do projeto. “O foco foi sempre buscar a ventilação cruzada e a ideia de um espaço único e amplo, totalmente diferente do que eles tinham”, explicam as profissionais, que definiram essa área como a principal para a família desfrutar em sua plenitude. Por isso, a cozinha foi levada para o espaço, agora assumindo um conceito gourmet e conectada ao living. A sala de TV ocupou um local mais reservado. Madeira, tijolo, acabamento em concreto, laca e cortinas em linho são algumas das escolhas em materiais, que contou com a ativa participação dos clientes para a composição estética de ambientes que têm unidade no conjunto. O núcleo de interiores do Studio Methafora, coordenado pelas arquitetas Maria Isabel Patrício e Luana Lima, atende diferentes escalas de projeto nas áreas residenciais, comerciais e institucionais. Fundado em 2000, o Studio Methafora conta com uma equipe de 18 profissionais, desenvolvendo projetos de urbanismo, arquitetura, interiores e paisagismo. A coordenação do escritório, que é associado à AsBEA/SC, é feita pelos arquitetos Michel Mittmann, André Lima e Ítalo Schiochet. Os projetos complementares e a execução é realizada pela ANC Engenharia; e Elétrico e Automação, Smarthomes. A Carol Cortinas foi parceira nesse projeto.
STUDIO METHAFORA R. Professor Belarmino Corrêa, 139 | Trindade Florianópolis | SC (48) 3025.5523 www.methafora.com.br interiores@methafora.com.br arquitetura@methafora.com.br
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TETO ARQUITETURA UNIFICADA
O living de vidro integrado ao jardim recebeu madeira no forro, recurso que imprimiu aconchego ao ambiente com pé-direito alto.
A entrada marcada pelos volumes e pelo cobogó como protagonista dá o tom do projeto desta casa erguida em Criciúma, Sul de Santa Catarina. O desejo dos clientes – um casal jovem recém-casado – era de uma casa espaçosa e ampla, com ambientes conectados para facilitar a convivência entre familiares e amigos em dias de recepções informais. O programa de necessidades era extenso para o tamanho do terreno em aclive, o que determinou o partido da obra com área de 436 metros quadrados. O arquiteto Franciano Valente, da Teto Arquitetura Unificada, implantou a casa considerando as variáveis de eficiência impostas pelo terreno. A fachada principal voltada para o leste deu lugar ao living com pé-direito duplo e cercado por uma caixa de vidro; os dormitórios ficaram na lateral norte, recebendo
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Jardim de inverno e piscina estão conectados e dão continuidade à área comum que abrange todo o social. Uma parede de fundo entra em cena e torna este espaço agradável, ao mesmo tempo que priva o cenário de lazer interno da presença visual dos vizinhos.
Fotos: SLA Photostudio
Quanto à decoração, destaque para o uso de elementos vazados, que cumpriram não só uma função estética, mas também deram privacidade aos ambientes. No trabalho de interiores, Valente teve a parceria das também arquitetas Natália Barato e Letícia Rosso. O escritório Teto, associado ao IAB/SC, realiza projetos arquitetônicos com abrangência comercial, residencial e de interiores. Neste projeto, foi parceira a Casa & Objeto Móveis e Decoração.
TETO ARQUITETURA UNIFICADA Foto: SLA Photostudio
Cobogó é protagonista na fachada
ventos predominantes do nordeste. O espaço gourmet ganhou os fundos da casa, área mais reservada.
Av. Getúlio Vargas, 485 | sl. 25 | Centro Criciúma | SC (48) 3413.6519 | 99639.9767 francianoau@hotmail.com
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THIAGO MONDINI ARQUITETURA
Conforto e elegância para jovem morador
A mesa de jantar em mármore retroiluminado foi pedido especial do cliente. O apartamento é quase completamente revestido de painéis de marcenaria escura, com acabamento alto brilho que contrasta com o piso marmorizado fosco.
Fotos: Richard Junker
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padrão geométrico e paleta que varia do branco ao cinza e preto. “O padrão repetitivo no gesso da sala surgiu a partir da existência de uma viga que interrompia a continuidade dos ambientes. Assim, a viga foi disfarçada e se criou um elemento de interesse”, explica o arquiteto. O escritório Thiago Mondini Arquitetura, de Blumenau, completa 10 anos em 2017. Realiza projetos arquitetônicos e de interiores residenciais, mas também atua com trabalhos comerciais, corporativos, institucionais, de desenho urbano e de espaços púbicos. Neste projeto, foram parceiras as lojas Sierra Móveis de Balneário Camboriú, Blumenau e Rio do Sul.
THIAGO MONDINI ARQUITETURA Foto: Alexandre Zelinski
Prático, contemporâneo, sem muitos detalhes, mas com ênfase no uso de materiais. Este foi o briefing passado ao arquiteto Thiago Mondini, contratado para o projeto deste apartamento em Blumenau, de uso exclusivo do jovem morador de 27 anos, solteiro e que eventualmente recebe amigos e familiares. “Estruturei todos os ambientes a partir de eixos que definiram alinhamentos de mobiliário e de iluminação para garantir organização perfeita dos elementos do projeto. É notória a base quase minimalista e uma composição embasada nos princípios tradicionais e atemporais”, ressalta Mondini. No contexto geral dos espaços, aparecem cores escuras, com preferência pelos tons de cinza mesclados à madeira. A iluminação é intimista e planejada para a criação de diferentes cenários. No estofado, muito conforto e o uso preferencial do couro natural. Já nas paredes, telas com
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