Montagem fotográfica: Caio Cézar
REUNIÃO MENSAL
COMUNIDADES
VIDA CRISTÃ
A misericórdia em pauta na primeira reunião do ano
Paróquia Santíssimo Salvador, do Conjunto Vera Cruz I
Religiosa apresenta Movimento Juvenil Dominicano
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PALAVRA DO ARCEBISPO
Editorial Foto: Fúlvio Costa
Pelo direito do nascituro A vida humana constitui um bem em si
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ertamente uma das mais nobres compreensões acerca desse mistério que ela encerra está na DOM WASHINGTON CRUZ, CP Arcebispo Metropolitano de Goiânia sua fonte e no seu horizonte. O homem não é o criador da vida. Nem o vazio infinito é o seu destino. A vida é um milagre permanentemente operado pelas divinas mãos. Não compete ao homem, em absoluto, arrogar-se o direito de manipulá-la, de distorcê-la, de tornar a vida algo como se fosse seu bem próprio e individual. Nesse mesmo diapasão situa-se a natureza procriativa do ser humano. Homem e mulher trazem dentro de si o sagrado dever de serem fecundos, encherem e povoarem a terra segundo o desejo de Deus. Ele próprio, Criador, tornou o ser humano dotado dessa maravilhosa vocação de serem pais e mães, de fazerem gerar para o mundo filhos e filhas. Aqui está se referindo ao conjunto dos sujeitos envolvidos na procriação: homem, mulher e filho (a). A sociedade quer fazer passar a todo custo a ideia de que a mulher é absoluta senhora de seu corpo e de que o homem é senhor absoluto de suas escolhas. Ignora-se um terceiro sujeito, igualmente portador de direitos, ainda que não dotado de plena consciência. Ora, se a justiça garante o direito patrimonial e confere aos bens móveis e imóveis um status jurídico estável, o que não se dirá de um ser humano, plenamente sujeito de direitos não desde o nascimento com vida, mas, ainda antes, desde a concepção? O jurista Sérgio Ferraz define com clareza o sentido biojurídico da vida humana quando afirma que os estudos existentes apontam que, entre 24 e 36 horas após a fecundação, a primeira célula individualizada começa a dividir-se, dando origem ao embrião. Continua: “E esse, após seis semanas, passa a denominar-se feto”. Mesmo antes disso, porém, o embrião, já ao cabo de duas semanas de existência, se apresenta munido de toda uma completa informação hereditária, um código genético distinto e único – o genoma – que se transmite às demais células. Tão individual e particular é o genoma, mesmo em casos de gêmeos univitelinos, que se pode afirmar, sem dúvida, a impossibilidade de repetitividade (ou de ‘clonação’ natural) do homem. Portanto, estamos diante de uma clareza inequívoca, sobre a qual não há discussão. O que se tem, desde essas formações iniciais, é vida. Vida plena. A Igreja está no mundo para ser uma presença estável e clara acerca da vontade de Deus para a humanidade. Não há titubeios. O grande depósito da Verdade confiado aos sagrados pastores precisa ser elucidado em momentos cruciais, onde parecem reinar interpretações que distorcem a mais cristalina natureza humana. Cuide-se da vida. Assuma-se a vida. Proclame-se a vida como dom supremo. A sociedade deve ser educada, por todos os meios e por todas as suas instituições, a assumir com alegria e com responsabilidade todas as formas de vida, com ou sem cérebro, portadoras ou não de deficiências. Zelese da saúde da mulher. Porém, a vida humana concebida em seu ventre seja protegida, amada, tomada em sua sacralidade mais absoluta. Assim teremos uma sociedade que valorizará os idosos e não tratará a vida humana como algo a ser descartado em qualquer esquina e em qualquer idade.
Coordenador do Vicom: Pe. Warlen Maxwell Silva Reis Jornalista Responsável: Fúlvio Costa (MTB 8674/DF) Redação: Fúlvio Costa e Talita Salgado Revisão: Jane Greco Diagramação: Ana Paula Mota Fotografias: Caio Cézar Colaboração: Edmário Santos
Dom Washington Cruz, Dom Vicenzo Zani e Dom Levi Bonatto, durante entrega do título de doutor honoris causa pela PUC-GO
“Todos os homens, de qualquer estirpe, condição e idade, visto gozarem da dignidade de pessoa, têm direito inalienável a uma educação correspondente ao próprio fim, acomodada à própria índole, sexo, cultura e tradições pátrias, e, ao mesmo tempo, aberta ao consórcio fraterno com os outros povos para favorecer a verdadeira unidade e paz na terra”. (Gravissimum educationis, nº 5) No momento em que muitas escolas dão início a mais um ano letivo, o Encontro Semanal traz uma reportagem especial sobre os desafios e perspectivas da educação para a “transformação da sociedade”. Entrevistado, o secretário da Congregação para a Educação Católica, Dom Angelo Vincenzo Zani, que esteve em Goiânia para receber da PUC-GO o título de doutor honoris causa e proferir uma aula magna sobre educação na
Semana de Integração Acadêmica e Planejamento dessa universidade, disse que educar é cuidar, proteger, para que os frutos possam aparecer. O bispo ainda falou sobre as emergências educativas da atualidade, as contribuições da educação católica para a sociedade e como a cultura do encontro deve ser promovida no ambiente educacional. Ainda nesta edição, apresentamos as particularidades da Paróquia Santíssimo Salvador, do Conjunto Vera Cruz I, a Catequese do Papa sobre o encerramento do Ano da Vida Consagrada e a missa do arcebispo Dom Washington Cruz que encerrou o mesmo ano na Arquidiocese de Goiânia. Na seção Vida Cristã, a irmã dominicana de Monteils, Valéria Moutinho, escreve sobre “o desafio de viver a fé cristã em um mundo líquido”. Aproveite o nosso conteúdo. Boa leitura!
Tiragem: 35 mil exemplares Impressão: Gráfica Moura
Contatos: encontrosemanal@gmail.com Fone: (62) 3229-2683/2673
DATAS COMEMORATIVAS 7: Dia Nacional do Gráfico / 9: Carnaval / 10: Início da Quaresma e da Campanha da Fraternidade, tempo de penitência e conversão / 11: Dia do Zelador / 13: Dia Mundial do Rádio.
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ARQUIDIOCESE EM MOVIMENTO
“Anunciemos com a vida, com gestos de amor, pratiquemos a misericórdia”
Foto: Pe. Warlen Maxwell
Retiro do Clero
" Posso ter sentimentos nobres, mas isso não me leva até Deus que se fez carne em Jesus. O que leva a Deus é ir ao encontro do próximo"
Nos dias 1º a 5 de fevereiro, o Clero da Arquidiocese de Goiânia, participou do Retiro Espiritual dos Presbíteros, realizado na Casa de Retiro Convento Mãe Dolorosa, na Vila Pedroso. Os dias de espiritualidade intensa tiveram a orientação do padre Luís González Quevedo Campo, SJ.
Foto: Reprodução
sempre contínua de anunciar a boa nova às nações, ao mundo pagão, às pessoas em que menos se esperaria a adesão à fé, por indicação de Jesus. O arcebispo lembrou aos religiosos que, no Ano da Misericórdia, o amor deve ser entendido não como um mero sentimento, mas como prática. “Não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade. Posso ter sentimentos nobres, mas isso não me leva até Deus que se fez carne em Jesus. O que leva a Deus é ir ao encontro do próximo”, justificou. Ele lembrou ainda que misericórdia não é apenas emoção diante do sentimento alheio, mas “nasce com ressonância aguda pelo sofrimento do outro, dentro de mim e depois se torna ética, prática e virtude, obras concretas que pressupõem ação, atitudes e movimento de saída de si mesmo”.
Ser misericordioso como o Pai Mais do que sentir o amor à flor da pele, Dom Washington comentou que a prática do bem não deve ser uma ilusão ou um orgulho. “É preciso ser misericordioso para dar pão a quem tem fome, mas também a mão a quem precisa de ternura. É preciso ser misericordioso para dar de beber a quem tem sede, mas também para escutar a quem está só. Para vestir os nus, mas também para revestir-se de paciência e bondade no trato com o semelhante. É preciso ser misericordioso não apenas para fazer o bem, mas, sobretudo para querer bem o outro. O que é mais fácil, irmãos e irmãs, dar o pão ou oferecer o perdão? Dar a esmola ou perdoar a ofensa? Fazer o bem ou suportar o mal? Dar o peixe ou ensinar a pescar? Eis o que tenho hoje para dizer a mim mesmo que sou membro da vida consagrada e aos irmãos e irmãs religiosos e religiosas: anunciemos com a vida, com gestos de amor, pratiquemos a misericórdia para que o amor seja concreto, mas em tudo, antes de tudo e acima de tudo, sede misericordiosos como o Pai celeste, para que o amor seja verdadeiro e nunca acabe”.
Foto: Divulgacao Fotos: Arquivo CRB
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ssa foi a mensagem deixada no dia 31 de janeiro, na Catedral Metropolitana, por Dom Washington Cruz, na missa de encerramento do Ano da Vida Consagrada na Arquidiocese de Goiânia. Para uma igreja cheia de religiosos e a comunidade em geral, o arcebispo saudou de modo especial os salesianos de Dom Bosco e as Filhas de Maria Auxiliadora, que naquele dia celebraram o seu fundador, São João Bosco. Em sua homilia, Dom Washington fez referência ao Evangelho do dia, Lc 4,2130, para dizer que os religiosos, ao longo do Ano da Vida Consagrada, proclamado pelo papa Francisco e que teve início no primeiro domingo do Advento de 2014, encerraram suas atividades com a missão
FIQUE POR DENTRO
Reunião Mensal de Pastoral No próximo dia 13, a partir das 8h, acontece no Centro Pastoral Dom Fernando (CPDF), a primeira Reunião Mensal de Pastoral do ano. O padre Luiz Henrique irá falar sobre a Bula Misericordiae Vultus, às 9h. O professor Lobo irá falar sobre a Santa Casa de Misericórdia e seus desafios, às 10h; Obras de Misericórdia na Arquidiocese é o tema das 11h, orientado pela irmã Giovana, com ênfase no Centro Educacional Infantil Santa Úrsula. Um momento às 11h30 foi reservado para o Conselho de Saúde fazer orientações sobre o combate ao Aedes Aegypti. Os avisos e encaminhamentos pastorais se dão às 11h50 e o almoço ao meio-dia.
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COMUNIDADE DE COMUNIDADES Fotos: Fúlvio Costa
Paróquia Santíssimo Salvador, do Conjunto Vera Cruz I “Muitos aspectos históricos da paróquia precisam ser recuperados e outros revistos, diante das mudanças de época e da necessidade de acentuar o sentido comunitário da fé cristã” (Documento 100, CNBB) FÚLVIO COSTA
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papa Francisco deixa claro na sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho), que “evangelizamos também ao procurar enfrentar os diferentes desafios que se nos podem apresentar” (nº 61). Para os paroquianos da Paróquia Santíssimo Salvador, do Conjunto Vera Cruz I, os desafios a serem superados são muitos a começar pela necessidade de mais protagonismo por parte dos leigos. “A Igreja é deixada em segundo plano, porque vivemos um tempo em que poucos querem se comprometer com a vida em comu-
nidade”, comentou em entrevista o membro da Pastoral da Aids, Donizete Lourenço da Silva, 47 anos. A paróquia que apresentamos nesta semana é fruto das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), escola evangelizadora, que por muito tempo foi uma voz ativa da Igreja no Brasil. Atravessou a ditadura, acompanhou de perto as Diretas Já, mas depois disso veio a perder força sufocada pela cultura pós-moderna que invade principalmente as grandes cidades. Gislei Rodrigues da Cunha, 50 anos, também membro da Pastoral da Aids, lembra com saudades da década de 1980, quando a comunidade Cristo Libertador, nome da hoje Paróquia Santíssimo
Salvador, era uma presença mais próxima da vida das pessoas. “Fomos formados em fé e política, nas escolas de ministérios e círculos bíblicos pelos frades dominicanos, que ajudaram muito a rede de comunidades formada nesta região de Goiânia”. A rede a que se refere Gislei foi o primeiro modelo eclesial implantado no Vera Cruz I e II, antes da criação da paróquia. Vários padres passaram pela comunidade, desde que ela surgiu junto com o Conjunto Vera Cruz I, em 1980, quando ainda era ligada à Paróquia São Cristóvão, do Setor Rodoviário. A começar pelo padre Silvério Negri; os padres redentoristas Tito, Nei, Paim e João Otávio,
esse último que na época ainda era seminarista; padres Eliziário, Ademário, Odarlir e Antônio Rocha (Baiano); Alaor, Geraldo Pinheiro e o atual José de Oliveira. As Irmãs da Congregação de São Luís também contribuíram muito. O nome da comunidade passou a ser Santíssimo Salvador por volta de 2002, padroeiro sugerido pelo padre Eliziário e acatado pela comunidade. A paróquia só veio a ser erigida no dia 17 de fevereiro de 2008, pelo arcebispo Dom Washington Cruz.
Reacender a chama é preciso Outrora uma comunidade que ia ao encontro das pessoas em suas casas, inclusive com a chamada Catequese Itinerante, que visitava as quadras e formava famílias inteiras, a Paróquia Santíssimo Salvador hoje precisa se reencontrar, segundo o membro da equipe de canto litúrgico, Márcio Siqueira Ferreira, 35 anos. “Como leigos precisamos retomar o protagonismo, rearticular as pastorais, fortalecer nossas equipes e reativar o conselho paroquial”, disse. Gislei aposta no trabalho de base. “Francisco fala tanto em esperança, em descentralizar, ir ao encontro dos fiéis; acredito que na nossa paróquia precisamos mais do que nunca ouvir as palavras do papa e sair ao encontro”. A ministra extraordinária da Sagrada Comunhão, Maria Helena Silva, 59 anos, acredita que a paróquia precisa voltar a se preocupar com a vida “lá fora” das comunidades. “A extensão é um desafio imenso. Precisamos
riedade com os mais pobres. É uma comunidade eucarística, de oração, e isso é perceptível pelo testemunho de vida dos ministros e ministras extraordinários da Comunhão Eucarística, pelos leitores e a dedicação das pessoas aos encontros com a Palavra e nos momentos fortes de evangelização e catequese”.
Pe. José de Oliveira
atingir nove bairros, mas isso é impossível. Para chegar a todos, novas paróquias precisam ser criadas”. O pároco, padre José de Oliveira, destacou que levar o Evangelho implica estar devidamente formado e preparado. “É impossível evangelizar sem formação e isso implica a dimensão evangelizadora. Em tempo de crise toda comunidade é desafiada a ser criativa, mas sem perder o perfil de discípulo missionário de Jesus Cristo, conforme nos ensina o Documento de Aparecida”. Todos, porém, concordam que “reacender
a chama é preciso”. “Precisamos sair da calmaria em que estamos e ir ao encontro das pessoas”, disse Gislei. “Estamos no início de 2016 e podemos muito bem começar a dar os primeiros passos nesse sentido, ainda neste ano”, completou Donizete. A rearticulação pastoral aliada à formação, portanto, é o principal desafio. Enquanto que as alegrias da paróquia, segundo padre José de Oliveira, são o espírito acolhedor do povo. “A Paróquia Santíssima Salvador é uma comunidade acolhedora, dada ao espírito de solida-
INFORMAÇÕES
Missas Domingo: 7h30 e às 19h Novena do Perpétuo Socorro: 3ª-feira às 20h 4ª-feira: 19h Primeira 6ª-feira: 20h Secretaria 2ª a 6ª-feira, das 14h às 18h Pároco Pe. José de Oliveira Tel.: (62) 3597-4022
End.: Av. Senador Canedo, Área 311 Conj. Vera Cruz I – CEP.: 74493-160 – Goiânia-GO
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CAPA
A educação muito além da sala de aula apenas em transmitir conhecimentos e conteúdos, mas implica outras dimensões: transmitir conteúdos, hábitos e sentidos dos valores, estes três elementos juntos”. Como já dito, muitas são as vertentes que podem ser exploradas no campo da educação. Nesta edição vamos, em especial, explorar a educação como promotora do encontro, espaço de testemunho para que dela sejam gerados frutos que contribuam para o bem de todos. O indivíduo, através da educação, não só recebe o conhecimento, mas a consciência de agir a partir do conhecimento em prol de um mundo melhor. Para falar sobre educação, Dom Angelo Vincenzo Zani, secretário da Congregação para a Educação Católica, esteve em Goiânia a convite do arcebispo Dom Washington Cruz e do reitor da Pontifícia Universidade de Goiás, Wolmir Amado, participando de alguns momentos da 38ª Semana de Integração Acadêmica e Planejamento, tema homônimo ao do Congresso Mundial de Universidades Católicas (CMUC), realizado em Roma, no ano de 2015, Educar – Hoje e Amanha, uma paixão
“ que se renova. Dom Zani recebeu da PUC Goiás o título de doutor honoris causa e foi homenageado como pensador da educação católica atual, ofício que ele exerce há mais de 40 anos.
O conceito da cultura do encontro, que é muito enfatizado pelo papa Francisco, é muito importante para a educação porque a escola é justamente o lugar de encontro e socialização
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apa Francisco em um de seus discursos salientou seu amor pela escola, e afirmou que ela deve ser sinônimo de abertura à realidade, dos seus aspectos e das suas dimensões. Nesta última semana diversas instituições de ensino, públicas e particulares, deram início ao ano letivo. Crianças e jovens das mais distintas realidades se reúnem em salas de aula, em alguns casos até ao ar livre, para receber conhecimento. A educação sempre está em pauta de discussão nos mais diversos âmbitos e questionamentos, mas é um consenso o poder transformador contido em todo processo e universo da educação. A transformação pode ser para o bem, como também decadente e enclausuradora. Mas a educação consiste apenas em receber conhecimento científico? Papa Francisco em discurso à plenária da Pontifícia Comissão para a América Latina, em 2014, ressaltou que “o primeiro critério da educação é a constatação de que educar [...] não consiste
Fotos: Reprodução
TALITA SALGADO
Quais são as emergências educativas da atualidade? Nós temos no contexto atual muitas emergências produzidas pela globalização, pela fragmentação da sociedade, mas algumas são principais e fundamentais. Uma delas é a ruptura entre as gerações jovem e adulta. Alguns especialistas afirmam que a geração que tem maior dificuldade não é a jovem, mas a adulta, que tem dificuldade em transmitir educação ao jovem, devido a uma crise axiológica, ou seja, na capacidade de transmissão de valores. Outra questão diz respeito a essa cultura que nos é transmitida pelos meios de comunicação, que facilitaram a comunicação e a construção de relações, mas são superficiais. Por isso é necessário aprofundar esse laços, e a educação precisa se integrar aos meios de
forma a favorecer esse aprofundamento. Tem um pensador que não é cristão, é judeu, Garbo Renk que se preocupa muito com a situação atual e tem um pensamento importante. Ele define a revolução da informática como “catastrófica”. A palavra pode parecer forte, mas a realidade também é. O jovem com um acesso enorme a informações pela internet, chega à escola sabendo sobre “todas coisas”. E se o jovem chega já sabendo “tudo”, coloca-se em crise a figura do educador. O que ele faz diante disso? O educador então deve ser como o maestro da orquestra. Cada um que chega já vem com a sua partitura, mas não sabe a do outro. Cabe ao educador harmonizar todos esses conhecimentos e fazer com que cada pessoa que traz seu próprio conhecimento se torne crítico e capaz de lidar com ele. Como a cultura do encontro deve ser promovida no ambiente educacional? O conceito da cultura do encontro, que é muito enfatizado pelo papa Francisco, é muito importante para a educação porque a escola
é justamente o lugar de encontro e socialização, onde crianças e jovens começam a descobrir as diferenças de sexo, idade etc., que poderiam ser um obstáculo, mas que no ambiente da escola devem ser justamente uma oportunidade para construir a comunhão e a unidade. A escola se torna um laboratório para que, lidando com essas diferenças, no futuro ele seja capaz de lidar com outras diferenças – de cultura, pensamento, religião – e procure também construir uma cultura de encontro e viver a partir disso. Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
ENTREVISTA com Dom Angelo Vincenzo Zani Como a educação católica pretende contribuir para sociedade? Antes de tudo é preciso recordar o que diz a declaração Gravissimum educationis, sobre a educação cristã, que diz o que é educação. A educação em todos os sentidos, em geral e também a católica, tem duas responsabilidades fundamentais: a primeira é corresponder à necessidade de cada pessoa de se desenvolver, ou seja, de ser educada; e a segunda é a de contribuir para que se construa na nossa sociedade a unidade, a liberdade, se construa fraternidade entre os homens. O que deve caracterizar a educação cristã diante das demais? Até aqui não falamos de cristianismo, tudo que falamos é um desafio e uma necessidade para todas as escolas. O que se acrescenta à educação cristã é que primeiro temos um modelo que é Cristo, e Nele encontramos o sentido de doação e possiblidade de realização a partir disso, o máximo nível do encontro é justamente o que fez Cristo, dar a vida pelo outro.
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CATEQUESE DO PAPA
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oje, diante do nosso olhar, há um fato simples, humilde e grande: Jesus é levado por Maria e José ao templo de Jerusalém. É um menino como muitos, como todos, mas é único: é o Unigênito vindo para todos. Esse Menino nos trouxe a misericórdia e a ternura de Deus: Jesus é a face da Misericórdia do Pai. Esse é o ícone que o Evangelho nos oferece no final do Ano da Vida Consagrada, um ano vivido com tanto entusiasmo. Esse, como um rio, agora conflui no mar da misericórdia, neste imenso mistério de amor que estamos vivendo com o Jubileu extraordinário. A festa de hoje, sobretudo no Oriente, é chamada festa do encontro. Com efeito, no Evangelho que foi proclamado, vemos vários encontros (cf. Lc 2,22-40). No templo, Jesus vem a nosso encontro e nós vamos a seu encontro. Contempla-
mos o encontro com o velho Simeão, que representa a espera fiel de Israel e a exultação do coração para a realização das antigas promessas. Admiramos também o encontro com a idosa profetisa Ana, que, ao ver o Menino, exulta de alegria e louva a Deus. Simeão e Ana são a espera e a profecia, Jesus é a novidade e a realização: Ele se apresenta a nós como a perene surpresa de Deus; nesse Menino nascido para todos se encontram o passado, feito de memória e de promessa, e o futuro, repleto de esperança. Podemos ver nisso o início da vida consagrada. Os consagrados e as consagradas são chamados, antes de tudo, a ser homens e mulheres do encontro. A vocação, de fato, não se inspira num nosso projeto pensado de “maneira estratégica”, mas numa graça do Senhor que nos alcança, através de um encontro que transforma a vida. Quem
Foto: Diocese de Santo André
Religiosos consagrados: chamados a ser homens e mulheres do encontro
realmente encontra Jesus não pode permanecer como antes. Ele é a novidade que faz novas todas as coisas. Quem vive esse encontro se torna testemunha e torna possível
o encontro para os outros; e se faz também promotor da cultura do encontro, evitando a autorreferencialidade que nos faz permanecer fechados em nós mesmos.
O Evangelho nos diz que “O pai medo de sujar as mãos com a vida e a mãe de Jesus estavam admirados cotidiana, com os problemas das com o que diziam a respeito dele” pessoas, percorrendo com coragem (v. 33). José e Maria custodiam a ad- as periferias geográficas e existenmiração por este encontro repleto ciais. Não se detiveram diante dos de luz e de esperança para todos os obstáculos e das incompreensões povos. E também nós, como cristãos dos outros, porque mantiveram no e como pessoas consagradas, somos coração a admiração pelo enconcustódios da admiratro com Cristo. Não ção. Uma admiração domesticaram a graça que pede para nos redo Evangelho; tiveram "Os nossos fundadores novarmos sempre; ai sempre no coração foram movidos pelo da rotina na vida esuma inquietação saupiritual; ai da cristaliEspírito e não tiveram dável pelo Senhor, um zação dos nossos camedo de sujar as mãos desejo ardente de levárismas numa doutrina -lo aos outros, como ficom a vida cotidiana, abstrata: os carismas zeram Maria e José no com os problemas das templo. Também nós dos fundadores – como disse outras vezes – somos chamados hoje pessoas, percorrendo não devem ser sigilaa realizar escolhas procom coragem as dos numa garrafa, não féticas e corajosas. periferias geográficas e são peças de museu. Por fim, com a festa Os nossos fundadores de hoje aprendemos a existenciais" foram movidos pelo viver a gratidão pelo Espírito e não tiveram encontro com Jesus e
pelo dom da vocação à vida consagrada. Agradecer, ação de graças: Eucaristia. Como é belo quando encontramos o rosto feliz de pessoas consagradas, talvez já com idade avançada como Simeão ou Ana, contentes e cheios de gratidão pela própria vocação. Essa é uma palavra que pode sintetizar tudo aquilo que vivemos neste Ano da Vida Consagrada: gratidão pelo dom do Espírito Santo, que sempre anima a Igreja através dos diversos carismas. O Evangelho se conclui com esta expressão: “O menino crescia, tornava-se robusto, enchia-se de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele” (v. 40). Possa o Senhor Jesus, pela materna intercessão de Maria, crescer em nós, e aumentar em cada um o desejo do encontro, a custódia da admiração e a alegria da gratidão. Então outros se sentirão atraídos pela sua luz, e poderão encontrar a misericórdia do Pai.
Chamados ao estado permanente de missão O trecho da Carta aos Hebreus, que ouvimos, nos recorda que o próprio Jesus, para vir ao nosso encontro, não hesitou em compartilhar a nossa condição humana: “Visto que os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição” (v. 14). Jesus não nos salvou “de fora”, não permaneceu fora do nosso drama, mas quis compartilhar a nossa vida. Os consagrados e as consagradas são chamados a ser sinal concreto e profético dessa proximidade de Deus, dessa compartilha com a condição de fragilidade, de pecado e de feridas do homem do nosso tempo. Todas as formas de vida consagrada, cada uma segundo as suas características, são chamadas a estar em estado permanente de missão, compartilhando “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, dos pobres, sobretudo, e de todos os que sofrem” (Gaudium et spes, 1).
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O desafio de viver a fé cristã em um mundo líquido Foto: Arquivo Pessoal
VALÉRIA MOUTINHO
Irmã Dominicana de Monteils
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...a fraternidade universal pela qual Cristo deu sua vida não foi levada a sério e a humanidade se dividiu em opressores e oprimidos. Todo jovem deve ser sensível à justiça
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juventude é uma etapa privilegiada da vida. A Bíblia diz que “o orgulho do jovem é a força”. Mas quem é e como vive essa força? O historiador Hobsbawm aponta três características na juventude. É a plena realização do desenvolvimento humano e não uma etapa para a vida adulta. Daí seu prolongamento por tempo longo. Ser jovem virou moda! O ter, em detrimento do ser, indica o valor do jovem. Por último, os jovens elaboraram uma identidade globalizada alicerçada na indústria da diversão. Sentem-se bem em grupos, onde se espelham, se imitam e vão inventando e reinventando tudo o que desejam. Vão se construindo e a vida se torna aventura. É vulnerável, inseguro, angustiado. O sociólogo Zygmunt Bauman diz que a juventude vive vida líquida, precária. Como levar o jovem ao reencantamento da vida? Como tratar da fé cristã nesse mundo dramático? Respostas estão nos movimentos cristãos juvenis, como o Movimento Juvenil Dominicano, que os levam a repetir, inovar a missão de Jesus de Nazaré, pois acreditam que a juventude é teológica e que Deus abre caminhos de libertação. Acreditam que o mundo sonhado por Deus
está sendo concebido. Acreditam que cada ser humano é gerador de uma sociedade mais justa, fraterna. Acreditam que a espiritualidade
dominicana é capaz de atrair jovens com a simplicidade descrita pelo evangelista: “Venha e você verá”. São Domingos descobriu sua vocação em contato com a humanidade sofrida. Alguns jovens vivem a vocação dominicana nessa situação. Consciente ou inconscientemente, clamam por libertação através de relacionamento com a Transcendência. Os pilares sobre os quais São Domingos assentou sua Ordem atravessam esses 800 anos de existência sem reforma alguma, porque a Família Dominicana tem sido itinerante com a história. Os jovens desse Movimento contam com a oração que cresce à medida que o dominicano intensifica seu engajamento apostólico. Rezar é falar com Deus, mas é também ouvir a voz de Deus que fala pelo Universo, o grande sacramento que nos envolve de vida, amor. Deus fala pelos
acontecimentos, sinais de vida, de morte, pelas pessoas, pelos pobres. Como ensinar isso aos jovens? Por ações concretas, testemunho de alegria, tornar conhecido aquele que cativou cada um quando ainda no ventre materno. Vão sem nada temer, pois Deus é fiel. Se Ele chama para uma missão, promete sua presença, sua ajuda. O outro pilar é o estudo. Estudo da Palavra de Deus que ilumina a realidade. A interação fé e vida abre caminhos de libertação. Assim, a fraternidade universal pela qual Cristo deu sua vida não foi levada a sério e a humanidade se dividiu em opressores e oprimidos. Todo jovem deve ser sensível à justiça. Vida fraterna, fortificada pela oração é vida apostólica. Esses pilares, pensados por São Domingos, não são elementos justapostos, mas se ajudam numa forte e essencial vinculação.
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LEITURA ORANTE
DIÁC. FÁBIO CARDOSO DA SILVA
(Seminarista) Seminário São João Maria Vianney
“Jesus, no Espírito Santo, era conduzido pelo deserto”. (Cf. Lc 4,1)
I
niciamos o tempo da Quaresma, tempo de reflexão, de exame da vida, tempo de aprendizagem e renovação no seguimento de Cristo de quem promana a vida que nos leva ao Pai: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6). Meditando sobre as tentações de Jesus e sua fidelidade ao Pai, somos chamados, por Ele, a percorrer o mesmo caminho de fidelidade e de entrega. Para isso precisamos deixar-nos ser conduzidos por seu Espírito, para dizer não às ciladas
do tentador que quer nos enganar com falsas “coisas boas” que, logo, apresentam-se amargas como fel e tiram-nos a paz e afastam-nos do caminho que gera vida, Jesus. Nesta Quaresma, ponhamo-nos na presença de Deus e O adoremos. Contemplemos a nossa história de vida e a ofereçamos a Deus. Ofereçamos os momentos de alegria e de dores, os momentos de acertos e de pecados. Façamos um belo exame de consciência e depois nos coloquemos nas mãos misericordiosas do Pai que está pronto a nos perdoar, a nos reconciliar com Ele. Que possamos pedir a graça para escolher e lutar com todas as forças naquilo que agrada a Deus. De nos abandonarmos nas mãos benevolentes do Pai. Se errarmos, busquemos novamente o amor e o perdão como filhos que voltam para a casa do Pai, que nos devolve a dignidade de filhos.
Siga os passos para a leitura orante: Texto para a oração: Lc 4,1-13 (página 1217 – Bíblia das Edições CNBB). Passos para a leitura orante: 1. Façamos silêncio. Tomemos consciência de que estamos com Deus. Invoquemos o Santo Espírito: “Vinde Espírito Santo, enchei os corações...”. Entreguemos a Ele nossos desejos e vontades, pensamentos e sentimentos. Falemos a Ele da graça de que necessitamos. Agora, leiamos o Evangelho calmamente. Releiamos mais vezes. 2. Meditemos o Evangelho. Quais palavras, frases que mais lhe tocaram? Quais os sentimentos? E por que essas palavras ou frases chamaram a sua atenção? 3. Contemplemos a Palavra. Conversemos com Deus como amigo: num diálogo os amigos falam e ouvem um ao outro. Peça, agradeça, louve. Peça a graça da perseverança, da fidelidade... 4. Peça a Jesus a graça de levar Sua Palavra no dia a dia, na relação com as pessoas, com a família, no trabalho, nas várias situações da vida. Para esta semana se propõe uma ação concreta, por exemplo: visitar alguém que necessita de uma presença amiga, precisa de Jesus através de seu estar com ela. Reserve um momento para visitar Jesus no Sacrário e para a oração pessoal. (ANO C, 1° Domingo da Quaresma – Liturgia da Palavra: Dt 26,4-10; Sl 90(91); Rm 10,8-13; Lc 4,1-13)
ESPAÇO CULTURAL Rosa de Saron Acústico e ao Vivo 2/3 – DVD O novo projeto da banda Rosa de Saron, conhecida pelo seu Rock’in’roll católico, segundo sua produção, tem um conceito lúdico e conta com participações especiais, como a do padre Fábio de Melo. O DVD “Acústico e ao Vivo 2/3” traz uma rica musicalidade associada a letras que destacam valores cristãos. Gravadora: Som Livre
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Sobreviveu a Auschwitz Liliana Segre é uma das últimas testemunhas do holocausto. Em fevereiro de 1944, foi deportada para o campo de extermínio de AuschwitzBirkanau. No campo, perdeu o pai e os avós paternos. Nesta obra, Liliana conta em detalhes o seu dia a dia no campo de concentração de Auschwitz, uma história de como é alto o preço psicológico pago para conseguir superar tantos horrores e fazer deles objeto de testemunho. Editora: Paulinas Autor: Emanuela Zuccalà