Jornal da Arquidiocese | nº 232 | Março de 2017

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Jornal da

ARQUIDIOCESE

FLORIANÓPOLIS, nº 232

Direito Canônico

março DE 2017

Arquidiocese ganha instituto superior | 3

Quaresma

Do deserto à festa pascal | 8

Volta às aulas

O jovem católico nas universidades | 11

Cultivar e guardar a criação


Jornal da Arquidiocese, Março de 2017

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opinião Biomas brasileiros e defesa da vida

Mata Atântica, Quaresma, fé, educação e aprendizado Na Quarta-feira de Cinzas, 1º de março, foi lançado oficialmente na Arquidiocese de Florianópolis, a Campanha da Fraternidade de 2017. A ação deste ano tem o seu foco nos biomas brasileiros. Em especial, para nós, a Mata Atlântica, que é característica de todo o Estado de Santa Catarina. Todas as paróquias estarão unidas, a fim de promover iniciativas para cuidar das maravilhas que Deus criou. Confira a matéria especial sobre a campanha nas páginas 06 e 07. Na página 03, você tem notícia da instalação do Instituto Superior de Direito Canônico de Santa Catarina. É o terceiro curso desta área no Brasil. Já é tempo de Quaresma! Veja, na página 09, o artigo escrito pela Irmã Marlene Bertoldi, que aborda a importância da Quaresma para o crescimento da fé. Na mesma página você pode ler a respeito da criação de nova paróquia na Arquidiocese. A Paróquia de Nossa Senhora dos Navegantes e São Pedro está localizada no bairro Serraria, em São José, e tem como pároco o Pe. Siro Manoel de Oliveira. Nesta edição, o Jornal da Arquidiocese aproveitou o embalo da volta às aulas e conversou com alguns jovens para saber como eles vivem a experiência com Cristo nas universidades. Confira todos os depoimentos na página 11. O JA atravessou o Oceano Atlântico e foi saber mais sobre o projeto realizado pelo Instituto Padre Vilson Groh, na África, em que mais de 1200 crianças recebem apoio educacional. Saiba mais sobre esta iniciativa na página 12. Uma boa e santa Quaresma, com verdadeira conversão interior, para você, leitor amigo!

Dom Wilson Tadeu Jönck, scj O tema da Campanha da Fraternidade de 2017 faz recordar o texto de Gn 2,15: “o Senhor tomou o homem e o colocou no Jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo”. Três elementos mostram o jardim bem cuidado. Fornece ao homem seus alimentos, proporciona o encontro com Deus e favorece o cultivo do bom relacionamento com o outro. A Laudato Sì, Encíclica do Papa Francisco sobre a ecologia, mostra que o ser humano nem sempre cuidou bem do mundo em que vive. Em muitos lugares o solo está virando deserto, várias espécies de árvores e animais estão desaparecendo, o ar e os rios estão cada vez mais poluídos. Além disso, o ser humano tem se esquecido de Deus e vive frequentemente em guerra. Bioma é um espaço geográfico que partilha das mesmas características físicas, biológicas, climáticas. Nele existe um grande número de plantas e animais. O impor-

tante no bioma é que cada espécie viva depende da outra para se desenvolver. Quando algumas espécies são ameaçadas, o equilíbrio das demais é afetado. Os biomas oferecem, como vemos, condições para a manutenção de todas as espécies de vida e interferem na dinâmica climática da região. Geralmente se fala de seis biomas brasileiros. A Amazônia que ocupa quase 50% do território brasileiro; o Cerrado, 24%; a Mata Atlântica, 13%; a Caatinga, 10%; o Pantanal, 2%; o Pampa, 2%. Para muitos, as restingas e manguezais formariam também um bioma. O bioma da Mata Atlântica é a faixa litorânea que se estende do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. É o bioma que sentiu mais intensamente a ação humana. Mais de 70% da população brasileira vive neste bioma. São mais de 3 mil municípios. Boa parte das principais cidades do Brasil localizam-se aí. Por

Nos caminhos de Francisco

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Nas redes

“A vida consagrada é um grande dom de Deus: dom de Deus à Igreja, dom de Deus ao seu povo”.

Formação de Agentes de Preparação para o Matrimônio A Arquidiocese vai realizar nos dias 25 e 26 de março, uma Formação para Agentes de Preparação para o Matrimônio, com os assessores da Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF), Karina e André Pereira, da Diocese de São João Del-Rei (MG).

02 de fevereiro, no Twitter

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O adultério, como o furto, a corrupção e todos os outros pecados, são antes concebidos em nosso íntimo e, uma vez realizada no coração a escolha errada, ganham forma no comportamento concreto”.

youtube.com

12 de fevereiro, no Angelus

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“Neste ano do centenário das aparições de Nossa Senhora de Fátima, confiemo-nos a Maria, Mãe da Esperança, que nos convida a voltar o olhar para a salvação, para um mundo novo e uma humanidade nova”. 22 de fevereiro, na Audiência Geral

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Papa grava vídeo para crianças da Arqudiiocese

“Jamais imponha condições a Deus! Confiar no Senhor significa entrar nos seus desígnios sem nada exigir”.

13 de fevereiro, no Twitter

“Deus sabe melhor do que nós do que precisamos; devemos confiar n’Ele, porque os seus caminhos são muito diferentes dos nossos”.

@pontifex_pt

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“A vida dupla provém do seguir as paixões do coração, os pecados mortais que são as feridas do pecado original”. 30 de Janeiro, no Twitter

21 de fevereiro, no Twitter

Rua Esteves Júnior, 447, Centro Florianópolis-SC, Fone: (48) 3224-4799 / 9982-2463

Assessoria de Comunicação

O Jornal da Arquidiocese é uma publicação mensal da Arquidiocese de Florianópolis-SC.

estas razões, muitas espécies vegetais e animais estão ameaçadas de extinção. E os rios estão muito assoreados e poluídos. O ser humano tem o direito de buscar o seu sustento nos recursos naturais. Mas é preciso encontrar maneiras de manter e proteger as características naturais da região. O direito de posse não é absoluto. O que faço na minha propriedade deve favorecer o conjunto das vidas da região: humanas, vegetais e animais.

Padre Vilson Groh se reuniu com o Papa Francisco em um audiência privada. No encontro, o padre leu algumas cartas de crianças que são atendidas pelo Instituto Pe. Vilson Groh. facebook.com/arquifloripa

Reze o Pai-Nosso com seu corpo O Pai-Nosso é a oração de Jesus. A experiência de rezá-lo com todo o nosso corpo pode ser rica se for praticada com liberdade e abertura. twitter.com/arquifloripa

DIRETOR: Pe. Vitor Galdino Feller CONSELHO EDITORIAL: Dom Wilson Tadeu Jönck, scj, Pe. Leandro Rech, Pe. Revelino Seidler, Pe. Vânio da Silva, Carol Denardi, Fernando Anísio Batista, Gabriela Fernandes, Gilmar Schmitz e Mateus Peixer. JORNALISTA RESPONSÁVEL: Carol Denardi (SC 01843-JP) PROJETO GRÁFICO: Lui Holleben

DIAGRAMAÇÃO: Mateus Peixer COORD. DE PUBLICIDADE: Pe. Leandro Rech e Erlon Costa TIRAGEM: 24.000 exemplares IMPRESSÃO: Diário Catarinense EMAIL: imprensa.arquifln@gmail.com SITE: www.arquifln.org.br FACEBOOK: Arquidiocese de Florianópolis


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#compartilha Instituto Superior de Direito Canônico é instalado na Arquidiocese Foto: Mateus Peixer

Retalhos do Cotidiano Prof. Carlos Martendal

Verão

O ISDCSC é o terceiro curso desta área no Brasil

No dia 06 de fevereiro, foi instalado no Provincialado das Irmãs da Divina Providência, em Florianópolis, o Instituto Superior de Direito Canônico Santa Catarina (ISDCSC). A cerimônia foi presidida pelo Arcebispo de Florianópolis, Dom Wilson Tadeu Jönck, scj, moderador do ISDCSC, e contou com participação do Bispo de Blumenau, Dom Rafael Biernaski, do Administrador Diocesano de Joinville, Pe. Adenir Ronchi, e de representantes do clero, religiosos e leigos do Regional Sul 4 da CNBB. O ISDCSC é uma instituição eclesiástica voltada para o cultivo, ensino e pesquisa da ciência canônica, em processo de agregação à Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma. Precisa-se de especialista em Direito Canônico, seja para o serviço nos tribunais eclesiásticos ou para os casos administrativos e de consultoria nas cúrias diocesanas e religiosas. Neste primeiro semestre, o curso já conta com um total de 30 alunos. Todos

apresentam grande empolgação e interesse com o que vão aprender nós próximos anos. O Pe. Johon Sidney Oliveira Moraes é um exemplo. Ele vem todos os meses da Diocese de Bacabal, no Maranhão, para participar das aulas. A exigência dos idiomas foi o fator que contribuiu para a escolha do curso em Florianópolis. “Não que nos outros cursos de direito canônico não sejam importantes os idiomas, mas aqui na capital catarinense é mais cobrado”, afirma Pe. Johon. O diretor do curso, Pe. Tarcísio Pedro Vieira, explica que “a ordenação dos estudos de Direito Canônico é constituída de três ciclos. O primeiro ciclo, de caráter propedêutico, é destinado aos alunos que não têm Filosofia e Teologia. O segundo, o Mestrado Eclesiástico propriamente dito, é para quem já tem Filosofia e Teologia. E o terceiro é o Doutorado. O ISDCSC oferece o primeiro e o segundo ciclos, e está aberto a clérigos, religiosos e religiosas, leigos e leigas”.

Falecimento do Pe. Genésio Sevegnani Foto: Divulgação

Pe. Genésio à direita

No dia 06 de dezembro de 2016 faleceu, aos 84 anos, Pe. Genésio Sevegnani. O sepultamento ocorreu no

dia 07 de dezembro, no Cemitério Jardim da Paz, em Florianópolis. A missa de exéquias foi presidida por Dom Wilson. Ele era natural de Rio do Oeste e foi pároco de Nossa Senhora da Lapa, no Ribeirão da Ilha, em Florianópolis, em 1976. No ano de 1986, começou a exercer o ofício de capelão da Base Aérea de Florianópolis, até a aposentadoria. Em 1988 assumiu a missão de Diretor Espiritual do Grupo Executivo dos Cursilhos de Cristandade da Arquidiocese. Até o falecimento, residia na Paróquia Nossa Senhora da Lapa, no Ribeirão da ilha, em Florianópolis.

Estamos no verão, mas é possível que haja pessoas à nossa volta tiritando de ‘frio’ porque não recebem um carinho, um estímulo, um encorajamento, um elogio, uma palavra que lhes dê esperança. E vão morrendo pouco a pouco. Seu pedido de ajuda é um olhar suplicante, uma voz triste e enfraquecida, uma cabeça baixa, um andar encurvado. Esperam encontrar em nós a árvore sob cuja sombra gostariam de descansar, a comida que gostariam de saborear, o afeto que nunca receberam, o sentir-se amados. Encontram? Se não encontram, morrem de frio, com tanto ‘calor’ ao seu redor... Um ‘calor’ egoísta, que retém para si o que Deus ofereceu de graça para de graça ser dado (cf. Mt 10,8). E, enquanto aqueles que sofrem ‘frio’ morrem para viver a eternidade, estes vivem acalorados para morrer já aqui. Não são luz, não refletem a luz, não dão a luz a ninguém.

Mãe e filha

A pequena Lídia, sete anos, conversa com a mãe: - Mãe, eu queria muito conhecer o meu pai. - Mas, filha, o teu pai é o Marcinho, tu conheces. - Não, mãe, eu quero muito conhecer o meu outro pai. A mãe pergunta: - Filha, mas que outro pai? - Mãe, aquele que é meu pai e teu pai também, o Pai do Céu!

Celebração de Nossa Senhora do Desterro Foto: Tiago Vicente Santana

Missa contou com a presença de alguns padres da Arquidiocese

Os fiéis celebraram na sextafeira, 17 de fevereiro, a padroeira do município de Florianópolis e da Catedral Metropolitana, Nossa Senhora do Desterro, com missa festiva presidida pelo Arcebispo Dom Wilson Tadeu Jönck, e concelebrada por vários padres. Contou com a presença de diáconos e dos seminaristas do curso de teologia, do Seminário Convívio Emaús, e do Propedêutico, do Seminário Monsenhor Valentim Loch. “Exílio ou desterro é um lugar que não queremos, mas por onde

devemos passar. Nossa Senhora foi a companheira de Jesus no desterro”, lembrou Dom Wilson no início da celebração. Na homilia, o Arcebispo destacou que “Nossa Senhora caminha conosco nesta terra de exílio, nas dificuldades e dores que passamos. Ela quer ser nossa protetora. Deus tem cuidados de mãe para conosco. Deus faz isso através de Nossa Senhora, como fez com a pessoa de Jesus Cristo”. Na mesma missa também foram comemorados os 90 anos de criação da Arquidiocese.


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#compartilha Formação de agentes de preparação para a vida matrimonial Nos dias 25 e 26 de março, ocorre um encontro de formação de agentes de preparação para a vida matrimonial, com os assessores da Comissão Nacional da Pastoral Familiar (CNPF), Karina e André Parreira, da Diocese de São João Del-Rei (MG). Eles vão testemunhar sobre a experiência do encontro personalizado na forma de acolhimento. A formação é aberta a todos paroquianos e destinada especialmente aos membros de pastorais, serviços e movimentos que atuam com famílias ou já estejam à frente dos encontros de preparação de noivos, nas paróquias. Este tipo de encontro é um dos pedidos do Papa Francisco na Exortação Amoris Laetitia, quando conclama que “precisamos oferecer uma preparação que faça amadurecer o amor dos noivos com um acompanhamento rico de proximidade e testemunho. São muito úteis os encontros e as palestras. Entretanto, são indispensáveis alguns momentos personalizados”. (AL 208). Que se possa estar em sintonia com as novas orientações da Igreja e atento a que “a complexa

“24 horas para o Senhor” nas paróquias A iniciativa “24 horas para o Senhor”, instituída em 2014 pelo Papa Francisco, tem como principal objetivo oferecer aos fiéis momentos de oração, atendimento de confissões, anúncio do Evangelho e vigílias eucarísticas no mundo inteiro. É celebrada na sexta-feira e no sábado anteriores ao IV Domingo da Quaresma, em todas as dioceses. Este ano será nos dias 24 e 25 de março. Segundo o Papa Francisco, esta iniciativa “deve ser incrementada nas dioceses, pois há muitas pessoas e, em grande número, jovens, que estão se aproximando do sacramento da Reconciliação e que, frequentemente nesta experiência, reencontram o caminho para voltar ao Senhor, viver um momento de intensa oração e redescobrir o sentido da sua vida”. Na Arquidiocese, cada paróquia organizará a sua programação e oferecerá aos fiéis a oportunidade de participação. Será uma ocasião propícia para o envolvimento dos grupos, pastorais e movimentos das comunidades. Informe-se sobre a programação na sua

Imagem: Divulgação

realidade social e os desafios, que a família é chamada a enfrentar atualmente, exigem um empenhamento maior de toda a comunidade cristã na preparação dos noivos para o matrimônio” (AL 206). Como se inscrever? A formação será em dois dias. Pode-se escolher a data e o local mais apropriado para participação: 25/03, das 08h30 às 17h30: Paróquia São Judas Tadeu e São João Batista - Ponte do Imaruim - Palhoça. Fone: (48) 3242-1544. 26/03, das 08h30 às 17h30: Paróquia Divino Espírito Santo - Centro - Camboriú Fone: (48) 3365-1047. O valor do investimento por pessoa é de R$ 30,00 (com almoço) e o prazo de inscrição vai até 15 de março. Informações pelo e-mail: saritamario@ terra.com.br. Por Sarita e Mario Prisco Coordenação Arquidiocesana de Pastoral Familiar

Procissão do Senhor dos Passos completa 251 anos em 2017 Foto: Valdoir Correa

Em 2016, o evento reuniu mais de 60 mil pessoas

A programação começa no dia 26 de março, às 08h, com a missa de investidura de novos irmãos e irmãs, na Capela Menino Deus, do Hospital de Caridade. Dia 01/04, às 07h30, missa e procissão do carregador. Às 18h, missa em honra do Senhor Jesus dos Passos. Às 20h, transladação das imagens do Senhor Jesus dos Passos e de N. Sra. das Dores da Capela Menino Deus para a Catedral. Dia 02/04, às 09h30, missa na Catedral com a participação da Irmandade de Nosso Senhor Jesus dos Passos, na Catedral. Às 16h, procissão das imagens do Senhor Jesus dos Passos e de N. Sra. das Dores e Sermão do Encontro, em frente à Catedral.

Unidos pelo bem do próximo No dia 09 de março, às 08h30, ocorre no Lar Santa Maria da Paz, em Palhoça, o Fórum das Pastorais, Entidades e Ações Sociais. O objetivo do encontro é ampliar a articulação da rede de obras sociais, para marcar maior presença evangélica e profética em favor dos pobres e excluídos da sociedade. O fórum constitui o principal espaço de articulação e organização da dimensão social da evangelização na Arquidiocese. Atualmente, a Arquidiocese conta com a presença de nove pastorais sociais, 40 entidades sociais e 54 ações sociais paroquiais, que atuam em diversas frentes de atenção e de atendimento às pessoas em situação de vulnerabilidade social. Imagem: Divulgação


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nossa fé

Crescer na caridade conjugal

Leigos: chamados à santidade

Padre Vitor Galdino Feller

Fernando Anísio Batista

Depois de analisar um trecho do hino à caridade (1 Cor 13,4-7) à luz do amor conjugal e familiar, o Papa Francisco convida os casais a crescer na caridade conjugal, que é “o amor santificado, enriquecido e iluminado pelo sacramento do Matrimônio”. Amor que é “uma união afetiva, espiritual e oblativa, mas que reúne em si a ternura da amizade e a paixão erótica, embora seja capaz de subsistir mesmo quando os sentimentos e a paixão enfraquecem” (AL, 120). Reflexo do amor de Cristo O amor conjugal é reflexo da aliança de Cristo com a Igreja. No sacramento, os esposos recebem a graça de se amarem como Cristo nos amou, dando-nos sua vida na cruz. Por isso, o casamento cristão é “reflexo da aliança indestrutível entre Cristo e a humanidade” (AL, 120), é “ícone do amor

de Deus por nós” (AL, 121). Como Deus é uma comunhão de três pessoas, o casamento é também uma comunhão: “de dois esposos, Deus faz uma só existência” (AL, 121). Da graça da comunhão vem a missão: tornar visível no mundo, nas realidades cotidianas e caseiras e familiares, o amor de Cristo pela Igreja e pela humanidade. Tudo em comum São Tomás de Aquino (+1274) ensinou que, depois do amor de Deus por nós e de nós por Deus, o amor conjugal é a amizade maior. Além dos valores de uma boa amizade – reciprocidade, intimidade, ternura, estabilidade e partilha –, conta com “uma exclusividade indissolúvel, que se expressa no projeto estável de partilhar e construir juntos toda a existência” (AL, 123). Não é um amor com prazo definido, por certo Encontre esse e outros artigos em: www.arquifln.org.br

tempo, algo passageiro, pois, apesar das fragilidades humanas, “na própria natureza do amor conjugal, existe a abertura ao definitivo” (AL, 123). Claro que para vencer a cultura do provisório, requer-se o dom da graça divina. Alegria e beleza do amor Não se trata, é claro, da busca obsessiva e egoísta do prazer, mas de uma disposição para cuidar da alegria do amor. Essa alegria dilata o coração, tornando -o capaz de “aceitar que o matrimônio é uma combinação necessária de alegrias e fadigas, de tensões e repouso, de sofrimento e libertações, de satisfações e buscas, de aborrecimentos e prazeres” (AL, 126). A beleza do casamento está na ajuda e serviço mútuo, no apreciar o valor sublime do outro, no saborear o valor sagrado da pessoa que se ama. Compartilhe ArquiFloripa

Cada vez mais, a Igreja única família de Deus. Receabre as portas para a atuação bem, pois, o caráter sacramenleiga. Da mesma forma, há ne- tal que os diferencia dos não cessidade de ter por parte do batizados. leigo um discernimento do paA busca pela santidade no pel que deve exercer na Igre- mundo atual passa necessariaja e na sociedade. Ao leigo foi mente pelo desejo profundo de confiado a tarefa de ser pre- unidade. Todos são chamados sença no mundo como mem- a testemunhar, na diversidade, bro do corpo de Cristo que é a a admirável unidade do corpo Igreja, povo santo de Deus. místico de Cristo: a própria diA responsabiliversidade de gradade laical nasce ças, ministérios e do Batismo e da atividades, con“A busca pela Confirmação. É no sagra na unidade santidade no Batismo que a pesos filhos de Deus, mundo atual soa se torna sujeito porque “um só e o da evangelização, passa necessa- mesmo é o Espíririamente pelo integrando o povo to que opera todas de Deus, membro desejo profundo as coisas (1Cor da Igreja, colocan12,11). de unidade” do-se a serviço da Os cristãos leivida e da esperangos, homens e muça, como peregrino e evange- lheres, são chamados antes lizador, em uma ação que não de tudo, à santidade. São inpode ser acomodada, mas terpelados a viver a santidade audaz e missionária: “um só é, no mundo. Os cristãos leigos e pois, o povo de Deus, uma só leigas se santificam de forma fé, um só Batismo” (Ef 4,5). peculiar na sua inserção nas Os cristãos leigos e leigas realidades temporais, na sua são portadores da graça batis- participação nas atividades mal, participantes do sacerdó- terrenas. Santificam-se no cocio comum, fundado no único tidiano, na vida familiar, profissacerdócio de Cristo. Nesse sional e social. Os santos mosacerdócio se baseia a fraterni- vem o mundo. O horizonte para dade, a irmandade, a dignida- o qual deve tender todo o cade de todos na Igreja enquanto minho pastoral é a santidade.


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capa

Nosso bioma: a Mata Atlântica Foto: guiemi.blogspot.com

“Deus nos deu a maravilha da criação não para explorá-la, mas sim para amá-la e levá-la a sua perfeição” - Papa Francisco

A Campanha da Fraternidade (CF) de 2017 teve início no país na Quarta-feira de Cinzas, 1º de março. Na Arquidiocese, na mesma data, o Arcebispo concedeu uma coletiva de imprensa para apresentar a campanha, cujo tema é: “Fraternidade: Biomas brasileiros e defesa da vida”, e o lema: “Cultivar e guardar a criação” (Gn 2,15). O objetivo geral é cuidar da criação, de modo especial, dos biomas brasileiros, dons de Deus, e promover relações fraternas com a vida e a cultura dos povos, à luz do Evangelho. São seis biomas a serem preservados: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa.

Eunice Antunes Kerexu Yxapyry, 37 anos, é indígena do povo Guarani e mora em uma aldeia localizada no Morro dos Cavalos, em Palhoça. Casada, mãe de dois filhos biológicos e outros dois adotivos, nasceu em uma aldeia do município de Entre Rios (SC). Ela cursou licenciatura intercultural indígena do sul da Mata Atlântica, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no eixo Gestão Ambiental. Atualmente trabalha na coordenação da Escola Itaty, voltada para os indígenas, no Morro dos Cavalos. Foto: Maristela Giassi

O que é Bioma? É o conjunto de ecossistemas, uma comunidade de plantas e animais, geralmente de uma mesma formação. O cristão acredita que todos os biomas foram criados por Deus e foram dados como dons a cultivar. Ele é o responsável por regular o fluxo dos mananciais hídricos, assegurar a fertilidade do solo, controlar o equilíbrio climático, e proteger escarpas e encostas de serras. “O importante em um bioma é que cada espécie de vida depende das outras para se desenvolver. Para nós catarinenses é importante conhecer o bioma da Mata Atlântica, onde estamos situados”, ressaltou o Arcebispo, Dom Wilson Tadeu Jönck. A maior biodiversidade da América do Sul A Mata Atlântica é uma faixa que acompanha o litoral brasileiro, desde o Rio Grande do Norte até o sul do Brasil. A maior biodiversidade da América do Sul está presente neste bioma. Vivem na Mata Atlântica, 20 mil espécies de plantas (7,2% do total mundial), 263 espécies de mamíferos (5,2%), 963 espécies de aves (9,5%), 475 espécies de anfíbios (8,6%), 306 espécies de répteis (3,7%) e 350 espécies de peixes de água doce (3,1%). Aproximadamente 120 milhões de brasileiros vivem na porção do território correspondente à área original deste bioma. Hoje, a Mata Atlântica é o segundo bioma mais ameaçado do mundo. Santa Catarina O Estado está localizado dentro do bioma da Mata Atlântica. A vegetação desta mata apresenta aspectos distintos, como floresta, araucária e mangue. Nela, os rios, que exercem um papel importante, foram os mais maltratados. Em Santa Catarina há os rios que correm para o oeste e ajudam a formar a bacia do Rio da Prata. Formado pelo Pelotas e pelo Canoas, o rio Uruguai recebe vários afluentes. O outro é o rio Iguaçu, que recebe águas do rio Negro e outros. Os outros rios se dirigem ao leste, diretamente ao Oceano Atlântico. Os principais são os rios Itapocu, Itajaí, Tijucas, Cubatão, Tubarão, Araranguá e Mampituba. O povo guarani explica a Mata por si mesma

Eunice Antunes Kerexu Yxapyry

O bioma da Mata Atlântica é muito rico e importante para os índios. “Tudo no mundo tem vida, porque foi criado pelo mesmo Deus e sustentado pela Mãe Terra. Nossa relação com tudo que tem vida é nesse sentido de respeitar e proteger, é a nossa família. Ao proteger a natureza, você se protege. Destruindo-a, você se destroi. Ao se destruir uma vida, vai ter consequências”, adverte. Protetores e protegidos pelos biomas O doutor em Teologia e Culturas e coordenador do Programa UNISUL/Revitalizando Culturas, Jaci Rocha Gonçalves, relata que a lembrança dos povos originários na Campanha da Fraternidade de 2017 sobre biomas brasileiros e defesa da vida é uma opção sábia e necessária. “Sábia porque é um abraço aos 900 mil indígenas atuais restantes. Necessária, porque todos, de certa forma, são protetores dos biomas e protegidos pelos biomas”, sustenta Jaci.


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Em Santa Catarina restam os Kaingang (região oeste), Laklaño/Xokleng (Alto Vale do Itajaí) e Guarani (Litoral). “Desde 1991, tenho aprendido, especialmente com o Guarani, eu, os alunos da Unisul e muitos visitantes das aldeias, a ter uma relação sujeito-sujeito, relação filial com a Mãe Terra, com os biomas e não mais de sujeito-objeto”, salienta. Foto: Revitalizando Culturas / Unisul

Ameaças do ecossistena em Santa Catarina A professora do quadro permanente do Departamento de Engenharia Ambiental e Sanitária, da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), em Lages, Josiane Teresinha Cardoso, enumera as principais ameaças do bioma da Mata Atlântica em Santa Catarina: - Supressão de áreas nativas para fins de expansão urbana, com destaque para a região litorânea e do Vale do Itajaí; - Substituição da vegetação nativa por espécies exóticas, seja através do plantio de monoculturas para fins madeireiros ou agrícolas, ou para expansão pecuária, observados principalmente nas regiões serranas e no oeste. - Construção de represas para a produção de energia elétrica, associada a várias bacias hidrográficas. - Cultura da caça ilegal, prática essa ainda bastante comum em várias regiões. - Grande deficiência em termos de saneamento básico, o qual gera resíduos que produzem aumento da poluição e degradação de rios e do solo em todo o Estado. Organizações e trabalhos de preservação

Jaci e o povo Laklaño/Xokleng partilham saberes

O professor da Unisul e filósofo confirma que duas heranças residuais mostram qual a relação desses povos com os biomas do ecossistema: a primeira são os nomes com que chamam as montanhas (Cambirela), rios (Biguaçu, Maciambu), pássaros (anu), peixes (cará), animais (tatu), árvores (guarapuvu), plantas medicinais, frutos (tucum). A outra é a herança cultural, exemplo, os nomes que conferem aos povoados: Biguaçu, Palhoça, Garopaba, Aririú etc. “Mexeu com o bioma, mexeu com a Mãe Terra, a mãe do indígena”. Nas oito aldeias Guarani da Arquidiocese “há uma reciprocidade de amor: o indígena cuida de sua mãe e ela, no caso nosso, a Mata Atlântica, foi sua salvação. Também aqui foi no interior da floresta que mantiveram a resistência e os segredos culturais, linguagem e símbolos”, exemplifica Jaci Gonçalves, que trabalha com o povo Guarani há 30 anos.

Josiane Cardoso, também doutora em Entomologia pela Universidade Federal do Paraná, constata que várias organizações e universidade desenvolvem estudos e práticas a fim de aumentar o conhecimento da Mata Atlântica ou garantir-lhe a preservação: - Instituições de Ensino e Pesquisa como UDESC, UFSC e FURB, entre outras, têm conduzido projetos de levantamento e estudos da flora, fauna e demais componentes dos ecossistemas. - A recuperação ambiental feita pela Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (APREMAVI), a qual se destaca no desenvolvimento e aplicação de estratégias para recuperação de florestas, além de dar suporte aos proprietários rurais, empresas e prefeituras em projetos de desenvolvimento sustentável. Foto: : Gladston F. Leite

Relação com o sagrado e outros comportamentos Foto: Revitalizando Culturas / Unisul

Kerexu e professor Jaci animam debate internacional sobre medicinas, no Centro Cultural Tataendy Rupa

O doutor em Teologia e Culturas aprendeu com eles que toda relação com o bioma passa pelo conceito de relação com o sagrado. “O Guarani não admite cerca na terra, porque ela é mãe; pede licença para cortar árvores, sempre e só na lua certa. Não admite separação entre os seres da mata: exige que a convivência no bioma seja respeitada como família. Não admite a propriedade particular: tudo é de todos; o uso depende da necessidade”, concluiu Jaci. Coleta de materiais no Rio Canoas em ambiente de Floresta Ombrófila Mista, em Urubici

Como cuidar da Mata Atlântica A professora Josiane enumera atitudes do dia-a-dia que podem e devem ser adotadas pelas pessoas, a fim de contribuir para a preservação do bioma da Mata Atlântica:

NÃO FAZER LIGAÇÕES CLANDESTINAS DE ESGOTO DOMÉSTICO EM CÓRREGOS OU ECOSSISTEMAS MARINHOS, COMO PRAIAS E MANGUEZAIS.

RACIONAR O CONSUMO E REAPROVEITAR MATERIAIS EM CASA PARA DIMUNUIR A EXTRAÇÃO DE MATÉRIA PRIMA. ECONOMIZAR ÁGUAS E ENERGIA ELÉTRICA, O QUE DIMUNUI A DEMANDA E A NECESSIDADE DA CONSTRUÇÃO DE NOVAS HIDRELÉTRICAS E CENTRAIS DE TRATAMENTO. DAR PREFERÊNCIA AS ESPÉCIAS NATIVAS DE PLANTAS FRUTÍFERAS E ORNAMENTAIS NAS CASAS.


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bíblia Lectio Divina

Quaresma: deserto e festa A Quaresma é um caminho para a festa. Durante 40 dias nos colocamos na estrada da oração, do jejum e da esmola, preparando-nos para celebrar a Ressurreição de Jesus, mistério central de nossa fé. É um caminho feito no silêncio do deserto, junto com Jesus (Mt 4,1-11). O deserto é o lugar da poeira, da sede e da palavra. “Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar”, repete a Igreja todos os anos no início do tempo quaresmal, lembrando o relato bíblico da criação do ser humano (Gn 2,7). No caminho do deserto, deparamo-nos envolvidos pela poeira por todos os lados. É um convite do Criador para nos recordar da nossa fragilidade. A destruição causada pelo pecado nos faz voltar ao pó. No entanto, esse é o material preferido de Deus, que nos fez da terra e da terra pode novamente soprar seu Espírito e fazer novas criaturas (Sl 104,29-30). O Senhor nos chama ao deserto, mas não nos abandona. Como ao povo que caminhou rumo à terra prometida, Deus nos acompanha. No nosso caminho quaresmal somos renovados pela água viva que corre de

Cristo, rocha espiritual (1Cor 10,4). É na secura dos caminhos de nossa vida que Jesus, o Cordeiro Pascal nos diz: “Quem tiver sede, venha; e quem quiser, beba de graça da água da vida” (Ap 22,17). Ele sacia nossa sede de Deus e restaura nossas forças para continuarmos o caminho. No deserto, reina o silêncio, não aquele da solidão, mas o do encontro: “Eu a levarei ao deserto, e ali lhe falarei ao coração” (Os 2,16). A Quaresma é tempo da Palavra, de acolher no mais íntimo de nós o convite de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). A conversão só acontece quando essa voz penetra nas profundezas do nosso ser. Deixemos que o Senhor entre em nosso caminho e nos fale ao coração. Esse caminho no deserto nos levará à grande festa pascal. O Pai, nos seus desígnios de amor, preparou-nos um grande banquete, o Cordeiro já foi imolado: “Vinde! Eis que está tudo preparado para vós” (Lc 14,17). Vamos à sua festa? Guilherme dos Santos Seminarista do 4º ano de Teologia

Padre Wellington Cristiano da Silva

Lectio (leitura) “O anjo disse a Maria: ‘Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus’” (Lc 1,30-31).

Meditatio (meditação) Em Nazaré da Galileia, Maria recebe uma boa notícia dos céus: em seu seio virginal, por obra do Espírito Santo, Deus, em seu Filho eterno, assumirá nossa humanidade, encarnando-se em nossa história. Diante do anúncio salvífico, Maria dá o seu consentimento livre e favorável: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Em Maria a ação divina se dá em termos trinitários: o Pai a escolhe para ser mãe de seu Filho; a sua concepção virginal é obra do Espírito; e nela o Filho de Deus é concebido. O anúncio do anjo Gabriel a Maria revela dois conteúdos centrais da nossa fé: Jesus é o Messias esperado, descendente de Davi e, verdadeiramente, o Filho de Deus.

Oratio (oração) Eis que venho fazer, com prazer, a vossa vontade, Senhor!

Contemplatio (contemplação) O mistério da encarnação é mistério que precisa ser contemplado em nossos corações. Faltam-nosas palavras. Resta-nos o

Missio (missão) O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é o Evangelho da alegria, por isso é sempre anúncio de boa notícia. O mistério do Verbo de Deus feito carne no ventre da Virgem Maria é sinal da chegada dos tempos messiânicos. Deus vem habitar entre nós (Jo 1,14). Mãe do Emanuel, Deus Conosco (Mt 1,23), Maria carrega consigo o Salvador da humanidade. Neste Ano Nacional Mariano, nossa missão é contemplar com os olhos de Maria o nosso Redentor e, imitando seu testemunho de fé e obediência, espalhar no mundo as sementes do Evangelho.

silêncio.

Conhecendo o livro dos Salmos Padre Gilson Meurer

Salmo 135 (134) – Louvai o Senhor! Em gratidão ao Pe. Ney, respeitosamente assumimos seu legado de analisar o livro dos Salmos. Quando rezamos as ladainhas, somos envolvidos pelo seu ritmo e reconhecemos com que facilidade memorizamos suas linhas. O Sl 136 (135), é uma profissão de fé, uma síntese bíblica em forma litânica que expõe progressivamente as bondosas ações de Deus, sobretudo de criar e de libertar. É um hino litúrgico de louvor e agradecimento ritmado pelo refrão: “porque eterno é seu amor!” (26 vezes), recitado/ cantado pela assembleia, em alternância com o solista. A sua estrutura é concêntrica: começa com o convite a louvar ao Senhor (vv. 1-3),

louva-O pela criação (4-9); pela libertação do Egito (10-15); pelo Êxodo e ingresso na terra prometida (10-22); pela libertação do Exílio (23-25); e termina de novo com o convite a louvar ao “Deus do céu” (26). Essa construção circular e a repetição reforçam o caráter de “continuidade, constância” e “eternidade” explicitados no refrão. Assim, conteúdo e forma se harmonizam graciosamente nesse salmo. O termo hebraico Hesed (“amor”) é conhecido pela sua ampla polissemia, podendo significar “amor, graça, bondade, ternura, fidelidade, misericórdia”, todas expressões justas para exprimir a ação de Deus. Esse salmo entrou no calendário judai-

co da Páscoa, do Ano Novo e da Festa das Tendas, de fato, ocasiões propícias para recordar os feitos do Senhor e se encher de esperança no futuro, “porque seu amor é eterno”. Leia o salmo e reflita: 1) Qual impacto provoca uma ladainha? 2) Quais os motivos de louvor expressos pelo solista? 3) Trata-se de apenas uma recordação do passado ou abre à esperança?


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Jornal da Arquidiocese, Março de 2017

evangelização

Vivência quaresmal no caminho da Iniciação à Vida Cristã Precisamos entender o processo de crescimento na fé como um caminho feito, passo a passo, na busca do encontro com o Senhor. A Iniciação à Vida Cristã se dá “gradativamente no seio de uma comunidade, que reflete a importância do Mistério Pascal” (RICA pag. 17). O Diretório Nacional de Catequese nos diz que Iniciação à Vida Cristã “é o processo de preparação, compreensão e acolhimento dos grandes segredos da fé e da vida nova revelada em Jesus Cristo” (DNC, 38). São quatro os tempos sucessivos neste processo de crescimento na fé: o Pré Catecumenato (tempo do anúncio de Jesus Cristo), o Catecumenato (tempo da catequese completa), Tempo da Purificação e Iluminação (tempo da Quaresma- preparação espiritual) e Tempo da Mistagogia (vivência do mistérios recebidos). O tempo quaresmal vivido pelos iniciandos é um tempo favorável que prepara devidamente toda a comunidade cristã para compreender, celebrar e vivenciar o Mistério Pascal da paixão, morte e ressurreição do Senhor Jesus. Este tempo supõe, por parte de todos os cristãos, uma verdadeira conversão a Jesus Cristo, de toda a sua vida, uma fé esclarecida e vontade de receber os sacramentos por parte dos adultos que são catecúmenos e dos que já fo-

Foto: Divulgação

Comunidade marcou presença na Missa de instalação da nova paróquia

ram batizados. A comunidade acompanha os que estão neste processo, com o seu testemunho no empenho da escuta e vivência da Palavra de Deus, na oração e mediante nas celebrações de penitência, renovando sua opção e adesão ao seguimento de Jesus Cristo. A quaresma é um caminho,assim como a Iniciação à Vida Cristã, que conduz à vida nova da Páscoa. Jesus Cristo, por seu Mistério Pascal, realizou a eterna aliança com o povo de Deus.

Arquidiocese de Florianópolis ganha nova paróquia

Os exercícios da prática quaresmal, bem assumidos, ajudarão os seguidores de Jesus a viverem uma contínua conversão que não consiste apenas na participação em um ritual, mas uma plena experiência profunda e inserção no Mistério Pascal de Cristo. Mistério que atua no presente, em nossa vida diária. Por Irmã Marlene Bertoldi Serviço de Animação Bíblico Catequético

A nova Paróquia compreende as comunidades de: Navegantes - Serraria; Santa Paulina - Jardim Zanelato; Nossa Senhora Apareci-

da - Lot. Luar; Senhor Bom Jesus dos Passos - José Nitro; Nossa Senhora da Paz - Bom Viver, e Santa Terezinha - Jardim Janaína. Foto: PASCOM Paróquia Serraria

No dia 18 de Fevereiro a Arquidiocese de Florianópolis ganhou uma nova paróquia. O Arcebispo Dom Wilson Tadeu Jönck, scj presidiu missa solene, que teve início às 19h30. A Paróquia de Nossa Senhora dos Navegantes e São Pedro está localizada bairro Serraria, em São José, e terá como pároco, Pe. Siro Manoel de Oliveira. Durante a celebração eucarística, ocorreram diversos momentos para conclusão da instalação da nova paróquia. Um dos ritos mais importantes, foi quando Dom Wilson entregou para o Pe. Siro a chave do sacrário.

No final da missa, o novo pároco agradeceu o carinho recebido e disse: “Junto com as barcas de Maria e as redes de Pedro a recémcriada Paróquia de Nossa Senhora dos Navegantes e São Pedro inicia uma nova caminhada. O sino de nossa paróquia bate para todos. Não faz diferença, não temos uma paróquia de católicos, a paróquia é do povo, católicos ou não, doentes, pobres ou ricos, abandonados, chagados, todos são nossos paroquianos. O Pai é assim e ele nos ama e nos diz: tu és santuário de Deus e não temas amar as dificuldades”.

Comunidade marcou presença na missa de instalação da nova paróquia


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evangelização

O Asilo Irmão Joaquim em Florianópolis precisa de você A instituição atua há115 anos no serviço aos idosos e pessoas com deficiências Foto: Asilo Irmão Joaquim

Asilo acolhe mais de 40 pessoas

O Asilo Irmão Joaquim, localizado na Avenida Mauro Ramos, em Florianópolis, é uma obra social com 115 anos de existência. Tornou-se realidade graças ao trabalho abnegado do cidadão desterrense, Joaquim Francisco da Costa, mais conhecido

Caridade social

Foto: Mateus Peixer

por Irmão Joaquim, e auxiliado pelas irmãs da Divina Providência que atuavam na Irmandade do Divino Espírito Santo. Hoje, o asilo abriga 40 pessoas, entre idosos e outros moradores, inclusive pessoas com deficiências,

que dependem de auxílio para o custeio de sua sobrevivência. No momento, a instituição não conta com o benefício de nenhum convênio governamental. Nas últimas décadas, o local tem a sua manutenção garantida pelo auxílio dos associados e, mais recentemente, depende também do trabalho de voluntários. Importante ressaltar que a renovação do quadro de associados não tem crescido o suficiente para atender às exigências dos novos tempos. As doações de empresas e da sociedade são uma importante forma de contribuição para a continuidade do Asilo Irmão Joaquim. Entre as diversas doações oferecidas pela população estão peças de vestuário de todos os tipos e tamanhos. Ao chegar à instituição, essas roupas são selecionadas e muitas delas acabam sendo utilizadas pelos próprios albergados. Após a seleção feita pelos funcioná-

rios, todas as vestes vão para a customização, para venda no brechó, onde são separadas por tipo, gênero e tamanho. Desse modo, você poderá auxiliar na missão de abrigar pessoas necessitadas de atenção, cuidado e carinho. O brechó está localizado na Avenida Hercílio Luz, 1302 - subsolo. Atualmente, funciona nas quartas-feiras à tarde. A instituição também abre espaço para novos voluntários para atuarem na triagem e abrirem a loja mais de um dia por semana. Visite o brechó para conferir o trabalho e ajude a divulgá-lo. Como ajudar Para fazer sua doação ou se cadastrar como voluntário ligue para (48) 3037-0447. O e-mail é associacaoirmaojoaquim@gmail.com ou ainda contate a secretaria (48) 3222-7544.

Uma costura pode fazer toda a diferença

Na edição deste mês, o Jornal da Arquidiocese continua a falar das três obras sociais que foram agraciadas com o 3º Prêmio Dom Afonso Niehues, entregue no dia 24 de novembro de 2016, no auditório da Catedral Metropolitana. O projeto “Costura E Arte = Gerando Solidariedade”, da Ação Social de Santo Antônio de Itapema, foi condecorada com o prêmio. Consiste em um Iniciativa recebeu o troféu Dom Afonso Niehues trabalho em que costureiras voluntárias produzem roupas para pessoas carentes da comunidade. O material para a confecção vem de doações, para a compra de tecidos. Atualmente, o projeto tem uma equipe de dez costureiras, que se reúnem todas às terças e quintas, quando trabalham o dia inteiro. São também elas que produzem os uniformes de dança das crianças da Ação Social de Santo Antônio. A presidente do Costura e Arte, Darcy Steil da Silva, conta que enobrece a alma ver as pessoas saírem de lá satisfeitas com o resultado do trabalho. Ela assegura que após o Prêmio Dom Afonso Niehues muita coisa mudou: “o nosso estoque aumentou e agora a gente pode trabalhar o ano todo e focar

na nossa meta principal, que é agasalhar os mais necessitados no inverno”. Serviço Quer ajudar a dar continuidade a esses seis anos de “Costura E Arte = Gerando Solidariedade”? Entre em contato com a Ação Social de Santo Antônio de Itapema: Telefone: (47) 3398-3091 Rua 456, 1159 – Jardim Praiamar, Itapema Foto: Ação Social Santo Antônio de Itapema

Costureiras voluntárias se dedicam ao projeto duas vezes por semana


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evangelização Evangelização nas universidades: nota dez

Cronograma de março

O jovem católico no ambiente acadêmico

01/03 | Lançamento da Campanha Fraternidade 2017 | Cúria 03/03 | Celebração Ecumênica do Dia Mundial da Oração | IECLB - Florianópolis 04/03 | Jornada Estadual da Família de Schoenstatt 04/03 | Reunião das Forças Vivas da Arquidiocese | Estreito 04 e 05/03 | Encontro Arq. Formação Missionária | Itajaí 06/03 | CF 2017 – Sessão Especial na Assembleia Legislativa | ALESC 09/03 | Fórum das Pastorais, Entidades e Ações Sociais | Palhoça 12 a 20/03 | Visita da Imagem Peregrina N. Sra. de Fátima | Estreito 18/03 | Encontro com os Religiosos/as que chegaram na Arquidiocese | Cúria 19/03 | Vocacional aberto – Com. Shalom | Centro de Evangelização Florianópolis 22/03 | Ouvidoria Pública sobre o bioma Mata Atlântica | ALESC – Florianópolis 23 e 25/03 | 24 horas para o Senhor | Paróquias 25/03 | Formação de agentes de preparação para a vida matrimonial | Palhoça 26/03 | Formação de agentes de preparação para a vida matrimonial | Camboriú 25/03 | Escola de Liturgia | Barreiros 26/03 | Escola Catequética | Itapema 28/03 | Reunião Geral dos Presbíteros

Foto: Divulgação

“Queridos jovens, escutai dentro de vós! Cristo bate à porta do vosso coração” - Papa Francisco

Neste mês, as aulas foram retomadas em praticamente todas as universidades do Brasil. O Jornal da Arquidiocese conversou com alguns estudantes da Grande Florianópolis sobre a vivência da fé dentro dos ambientes acadêmicos. O estudante católico tem a missão de evangelizar nas universidades! Ana Cláudia Colla, 22 anos, faz parte da Pastoral Universitária e da coordenação do Grupo de Oração Universitário Água Viva. Atualmente ela faz mestrado em Serviço Social na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e conta que “São Francisco nos ensina que ‘devemos pregar o Evangelho a todo o momento e, se necessário, usar as palavras’. Deus nos convida a exercermos a nossa fé no âmbito universitário com as nossas características, de modo natural. Basta não termos medo de deixar o Espírito Santo agir em nós. Prestemos atenção no que Santa Catarina de Sena nos diz: ‘Jovens, se fores aquilo que Deus quer, colocareis fogo no mundo’”. Luan Silva Gonçalves, 22 anos, estudante de Medicina da Unisul Pedra Branca e paroquiano da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, de Palhoça, fala sobre a alegria de levar a palavra aos

outros. “Viver a fé no ambiente universitário é um chamado a fazer um anúncio autêntico e alegre de Cristo, que é a luz do mundo. É testemunhar a verdade que nos liberta para amar. Nessa realidade também somos chamados a defender concretamente a dignidade da vida humana, desde o momento da concepção até a morte”. A evangelização tem desafios e no ambiente acadêmico não é diferente. Leonardo Baldissera, 21 anos, membro da Comunidade Católica Shalom e estudante de Relações Internacionais na UFSC aponta três urgências que interpelam o coração do jovem: “A necessidade de ser acolhido, ouvido com misericórdia – e oportunidades não faltam de construir uma conversa sincera em meio a tantas máscaras e medos. A promoção da cultura da paz, da felicidade que pacifica o coração estressado, exigido, apressado do dia-a-dia e que alcança a verdadeira essência do ser humano que é Jesus Cristo. Por último a coerência de vida. É muito comum encontrarmos indecisões, inseguranças ao longo da carreira acadêmica, e as provações exigem que sejamos coerentes e certos de que o amor de Deus é o único e verdadeiro sustento”.

Preparação para a JMJ 2019 Foto: Divulgação

Último JAJ aconteceu em 2015, em Itajaí

A juventude da Arquidioceses está mais entusiasmada. O motivo dessa animação foi o anúncio oficial da data da próxima Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que será realizada nos dias 22 a 27 de janeiro de 2019, no Panamá. Muitos já se organizam, economizam e convidam os amigos para seguir rumo à América Central, para o maior encontro de jovens do mundo. Em abril, os jovens vão sentir um gostinho do que será a JMJ. O Setor Juventude da Arquidiocese promove no Domingo de Ramos, dia 08 de abril, na Paróquia Senhor Bom Jesus de Nazaré, no centro de Palhoça, a

Jornada Arquidiocesana da Juventude. O evento reunirá jovens de diversos movimentos e comunidades de toda a Arquidiocese. É bom lembrar que nos anos em que não há JMJ, as dioceses do mundo são convidadas a celebrar, normalmente no Domingo de Ramos, uma jornada diocesana da juventude. Além do corredor vocacional, o encontro prevê a seguinte programação: Adoração ao Santíssimo Sacramento, missa presidida pelo Arcebispo, uma procissão com os ícones da JMJ e show musical. O evento começará às 15h e se encerrará às 22h. A entrada é gratuita.


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geral Instituto Pe. Vilson Groh desenvolve projeto de apoio educacional na África Mais de 1200 crianças e adolescentes receberam o suporte didático Foto: Instituto Vilson Groh

Alunos durante a entrega do material escolar

O projeto é aplicado na região de Empada, na Guiné-Bissau, na África Ocidental, país com o 7º pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). É coordenado pelo Instituto Pe. Vilson Groh (IVG) e financiado por uma ampla rede de parceiros doadores. Desde de o início do seu ministério presbiteral, a 35 anos, Pe. Vilson Groh mora no Monte Serrat, um dos morros pobres de Florianópolis. O projeto em Empada, tem por meta, estruturar condições para o desenvolvimento da região de Empada, tendo como catalizador, a educação. Através de bolsas de estudo, kits com materiais escolares, construção de cantina para alimentação no período de estudo, reforma de escolas e colônia de férias, pretende ampliar as oportunidades para crianças e adolescentes da região. Uma mesma criança pode receber mais de um tipo de apoio. As formas de apoio dependem das condições socioeconômicas da família, bem como das demandas de cada escola. Em 2016 foram apoiadas 1.224 crianças e adolescentes, com um investimento total de R$ 110.771,25 para este projeto. Foram compradas 50 carteiras escolares duplas, para possibilitar que mais de 200 alunos estudassem no Liceu. A construção da cantina e a alimentação foram introduzidas, porque era recorrente as crianças não se alimentarem antes da aula, tendo ainda de percorrer cerca de 12 quilômetros a pé para estudar. Havia muitos casos de desmaio, dores de cabeça e mal estar decorrentes da fome. Na região de Empada, a população come apenas uma vez por dia, próximo às 15h. A opção religiosa da criança e do jovem não influencia na obtenção dos apoios, sendo beneficiadas crianças muçulmanas, de religiões tradicionais, católicas e

protestantes. Os critérios para serem beneficiados envolvem aspectos socioeconômicos. “Quando trazemos o Padre Maio para Florianópolis e discutimos com ele as suas e as nossas questões, a gente descobriu um ponto em comum que é a criança e o jovem frente ao desafio de seu futuro. A realidade leva a pensar as questões da sociedade e do planeta Terra, em relação a estas crianças, jovens e adolescentes, para ampliar suas perspectivas e caminhos para o futuro”, destacou Pe. Vilson Groh. O projeto continua intenso em 2017. Em fevereiro, o IVG trouxe o Pe. Alberto, de Guiné-Bissau, para cursar a graduação em Administração de Empresas, na UNISUL. Ele ficará hospedado na Paróquia da Santíssima Trindade, em Florianópolis, com o pároco, Frei Justino Stolf. Para junho está programada nova vinda do Pe. Maio da Silva, coordenador do projeto em Guiné BisFoto: Instituto Vilson Groh

Foto: Instituto Vilson Groh

Alunos em sala de aula

nossa, é nossa responsabilidade”, assegura o juiz de direito do TJSC, Alexandre Takashima, um dos apoiadores que esteve em Guiné Bissau, em 2016. Doações para o projeto: Banco do Brasil | Agência 5255-8 | Conta Corrente: 57543-7 Favorecido: Instituto Pe. Vilson Groh | CNPJ: 13.188.828/0001-67 Mais informações: (48) 30391828 – ivg@redeivg. org.br. Foto: Instituto Vilson Groh

Entrega de 50 carteiras duplas para o Liceu de Empada

sau. E também a vinda de dois radialistas da rádio católica Sol Mansi, para troca de experiências com rádios locais. O rádio é o mais importante meio de comunicação no país e a rádio católica tem a maior audiência. “Acredito que este gesto de solidariedade é o maior símbolo da nossa humanidade. Nós reconhecemos os outros, independentemente de cor, raça, religião, de condição financeira. Se a gente pode contribuir com a felicidade dos outros, acho que nós temos obrigação. Não é um favor que a gente vai fazer; é uma obrigação

Professores lecionando em sala de aula


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