Dossiê_atras_das_pedras

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“ATRÁS DAS PEDRAS” - ECOS DE UMA EXPEDIÇÃO SOLIDÁRIA A MARRCOS De 24 a 30 de Setembro


«5000 Km de UMM ao longo da cordilheira do Atlas, pelo vale e rio de Dades e localidades de M’Hamid e o grande lago seco de Ikiri», assim se apresenta a exposição do fotógrafo Carlos Sargedas, que há poucos meses integrou uma expedição humanitária constituída unicamente por veículos de 4X4 da marca UMM, e que partiu de Barcelos, com destino a Marrocos.


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Expedição solidária a Marrocos Crónica da viagem, por Olga Costa Crónica do dia 31 de Marco de 2011: de Barcelos a Sesimbra Já está em marcha a expedição solidária a Marrocos. A aventura começou esta quinta-feira, quando o ponteiro marcava cerca de 21h30. Foi nessa altura que os seis UMM com onze “aventureiros”, chamemos-lhes assim, saíram de Barcelos para dar início aquilo que se espera ser uma viagem e uma experiência verdadeiramente inesquecível. Aliás, já está a ser. O começo desta viagem de 12 dias a Marrocos não podia começar da melhor maneira. Atrevo-me a dizer que CENTENAS de pessoas não quiseram perder aquela que é já uma viagem histórica, pois trata-se da primeira expedição a Marrocos só de UMM. Familiares, amigos e “amantes” destes jipes despediram-se e desejaram uma boa viagem a todos nós. Foi altura de todas as despedidas e começou verdadeiramente a expedição.


Esta expedição conta com o apoio da Câmara Municipal de Barcelos, a EMDB (Empresa Municipal de Desportos de Barcelos) e a EMEC (Empresa Municipal de Educação e Cultura). Prova disso mesmo foi o facto do vereador do Pelouro do Desporto da Câmara Municipal de Barcelos e também presidente da EMDB, Carlos Brito, marcar presença e dar apoio na saída desta comitiva de Barcelos. Mas o apoio e a solidariedade desta viagem está longe de ficar por aqui. Esta aventura começou com uma verdadeira “cena de filme”: os Motogalos de Barcelos e alguns aficionados dos UMM apoiaram esta viagem e não descoraram uma verdadeira saída triunfal da cidade do Galo, já que fizeram escolta a estes aventureiros até à freguesia de Gilmonde. Batedores, trânsito condicionado e centenas de pessoas a desejarem boa viagem a este grupo de aventureiros foram algumas das surpresas que nos fizeram e que nos encheram de orgulho da nossa cidade. Esta expedição contou ainda com o apoio de outras dezenas de pessoas que não deixaram de marcar presença na cidade do Porto e depois em Lisboa. Estas duas paragens serviram para um encontro de amantes dos UMM matarem saudades e reviverem memórias de outras aventuras. Os primeiros 405 km, percorridos na 1ª noite desta verdadeira aventura, terminaram às 05h00 da manhã, já no Hotel SanaSesimbra. Mas o descanso não foi muito, já que às 09h00, todos tinham que estar prontos para o 1º dia desta aventura, que promete ficar para a história.


Crónica do dia 1 de Abril de 2011 Na manhã de sexta-feira, acordamos então no Hotel SanaSesimbra, e, depois do pequeno-almoço, os focos viraram-se para as entrevistas com a imprensa local. A Sesimbra TV e a Sesimbra FM fizeram cobertura desta aventura. Depois da impressa, foi a vez do presidente de Câmara da Vila de Sesimbra, Augusto Pólvora, se juntar a nós e ser ofertado com uma peça em barro, feita pela artesã barcelense Conceição Sapateiro. Augusto Pólvora recebeu ainda um Galo de Barcelos, ícone desta cidade que tanto nos apoia nesta expedição. Por esta altura, todos se devem estar a questionar a razão pela qual a paragem foi em Sesimbra. Esta pausa deveu-se ao facto de o último elemento a juntar-se a esta expedição ser precisamente de Sesimbra: Carlos Sargedas. O 12º elemento foi desafiado por Jorge Marques, presidente da SP-Team Barcelos e também por Carlos Araújo para se juntar a nós. O ano passado, o presidente da Câmara Municipal de Sesimbra e também Carlos Sargedas serem bem acolhidos em Barcelos, aquando do Festival ART&TUR. Agora, era a vez de Carlos Sargedas ser o anfitrião. De volta à estrada, com destino ao Cabo Espichel: um ponto histórico em Portugal e que muitos dos aventureiros não conheciam. Uma lacuna que ficou esta sexta-feira de manhã colmatada. Depois do Cabo Espichel foi a vez de Azeitão fazer parte desta expedição. A viagem prosseguiu até Beja, onde às 16h00, fizemos umas paragem para almoçar.


Depois do almoço, foi hora de voltarmos à estrada. À excepção de um dos rádios intercomunicadores entre as viaturas tem sofrido uma ligeira avaria e termos ficado sem comunicação directa com a viatura seis, toda a viagem tem corrido sem nenhum incidente. Antes da entrada em Espanha, foi hora de um último contacto com o pessoal do UMM, que, em espírito também ele solidário, deu apoio aos doze aventureiros. A expedição a Marrocos parou, então, em Castro Marim, já praticamente na fronteira. É caso para dizer que todos os aficionados dos jipes UMM se uniram nesta expedição a Marrocos.

Passavam poucos minutos das 20h00, de sexta-feira, quando entramos finalmente em Espanha, com destino a Sevilha, onde jantamos. O destino final foi Algeciras, onde chegamos cerca das 04h00. Depois de umas horas de descanso mais que merecido e depois de mais 655 km percorridos, terminou assim o nosso primeiro dia de expedição.


Crónica do dia 2 de Abril de 2011 Os planos ditavam que deveríamos ter deixado Algeciras, com destino a Ceuta, às 07h00 (portuguesa), mas o cansaço era de tal ordem visível, que optamos por apanhar o barco às 11h00. Menos de uma hora, daquela que veio a ser uma travessia sem qualquer problema pelas águas calmas do Mediterrâneo. Depois de chegados a Ceuta, foi hora de abastecer todos os UMM. A esta hora estão todos a perguntar-se o preço: pois bem, o gasóleo custava menos 30 cêntimos que em Portugal. Bem, abastecemos, “pegamos” no guia e pusemo-nos a caminho da fronteira, que não ficava a uma distância superior a um punhado de km. A passagem na fronteira e a entrada em Marrocos revelavase uma verdadeira aventura, já que os seis UMM estavam atulhados de material didáctico para entregar na aldeia de M Hamid, no sul de Marrocos: o nosso destino final. O que parecia uma travessia complicada, afinal não demorou mais de 50 minutos a ser feita, depois de todos os passaportes carimbados e “sinal verde” para a nossa entrega em Marrocos. Nenhum do material ficou apreendido na alfândega. Uma vitória conseguida para esta expedição solidária a Marrocos.


Depois da entrada em Marrocos, seguimos em destinos e passagem por diversas províncias, como Chefchaouen, Qued Sramer ou a província de Quezzane. Ainda não chegamos ao verdadeiro deserto, aliás, para já, se não soubéssemos que estávamos em Marrocos, também não adivinharíamos pela paisagem…montes e verdes prados foram as nossas principais visões de hoje. O cheirinho a deserto está reservado para segunda-feira.

Ainda não estávamos há muito no continente africano e aconteceu-nos o primeiro incidente: o transformador do jipe 01 queimou. Foi caso para uma pagarem de emergência, mas sem nada de maior, além do cheiro a queimado e claro, do transmissor queimado. Pela estranha sinuosa e ainda estando muito longe da parte verdadeiramente pobre, em todos as curvas se viam marroquinos. Além de um grande companheirismo e de um excelente espírito de grupo e de entreajuda, a viajem neste sábado foi, em grande parte, feita entre montanhas e um ligeiro braço de rio.


Paramos para almoçar em jeito de piquenique, e desde logo se viam crianças a rondar-nos sempre à espera de poderem receber alguma coisa. Um simples rebuçado já era motivo para um grande sorriso. Depois do piquenique/almoço, o ponteiro marcava 16h45 e foi altura de voltarmos à estrada. Já tínhamos percorrido cerca de 120 km, a etapa de hoje tem uma distância de 310 km…por isso e feitas as contas, ainda nos faltava mais quatro horinhas de estrada para percorrermos 190 km. O nosso destino é Fez, onde temos hotel reservado para passar a noite.


Crónica do dia 03 de Abril de 2011 O primeiro contacto com terra batida e a primeira avaria O segundo dia em Marrocos não começou da melhor maneira: ninguém sabia que a hora mudava deste sábado para domingo. Entrou hoje o horário de verão e atrasou-nos todo o percurso. Pior: tínhamos planeado ter tudo pronto às 08h30, (mais uma hora em Portugal, mas com a entrada da hora de verão, o fuso horário em Marrocos passou e ser o mesmo que em Portugal), para visitarmos a Medina Fez el-Bali (um verdadeiro mercado artesanal, onde perspectivávamos visitar os Curtumes e a Tinturaria), mas os planos acabaram por sair ao contrário e depois da vistoria aos jipes, que também durou mais que o previsto, voltamos à estrada.

De referir que a vistoria aos UMM é de máxima importância, já que se tratam de carros com uma média de idades entre os 20 a 25 anos e que precisam estar sempre “debaixo de olho”. Os UMM têm-se “portado muito bem”, refere Eduardo Fernandes, o nosso mecânico.


O nosso destino de hoje é a montanha de Imilchil, onde iremos acampar. Será o verdadeiro acampamento no deserto. Hoje esperam-nos mais de 400 km e temos reservado o percurso pelo Médio Atlas: cerca de 100 km, a sul das cidades imperiais de Fez e Meknès, onde se encontram florestas de cedros, rodeado de serpenteantes montanhas. Em algumas delas ainda é possível ver alguns vestígios de neve e é precisamente perto de uma dessas montanhas que acamparemos. Até ao destino, no nosso percurso, passamos pela cidade de Iframe, também conhecida por “Suíça de Marrocos”, devido principalmente à construção das casas, com os telhados afiados e longos e também pelo brio com a cidade, não havia nem um mísero papelinho pelo chão. Entretanto, já estamos a mais de 1500 metro de altitude, com o termómetro a marcar 10 graus célsius e um nevoeiro, em algumas zonas, inebriante.


A grande emoção do dia estava reservada para os cerca de 10 km que percorremos em terra batida. Deixamos de lado o asfalto e passamos a ter pela frente curva, contra curva, muita pedra e algum pó. Alguns chegaram mesmo a dizer que já “cheira a uma verdadeira expedição a Marrocos. Pensei que não ia sujar o carro”, disse Pedro Marques, piloto do 02. Para alguns foi a primeira experiência deste género e absolutamente inesquecível. A viagem continuou, não sem antes termos um contacto directo com uma comunidade de macacos, no parque nacional de Iframe. Depois das fotografias da praxe, das bolachinhas aos macacos, umas delas dadas e outras adquiridas “à força”, foi altura de seguirmos viagem. Mas as emoções deste domingo ainda estavam longe de terminar: a primeira avaria estaria reservada para cerca das 19h00. O carro 04 simplesmente foi abaixo e deixou de dar qualquer sinal, enquanto percorríamos os estreitos km de asfalto. O jipe foi ainda rebocado pelo 01, durante alguns km para ver se pegava, mas o cenário não estava fácil de se alterar. O problema estava na válvula de corte do gasóleo, teve que ser desactivada. Foram verdadeiros momentos de alguma agitação, em sinal que fazer uma expedição pelas terras áridas de Marrocos, não é “pêra doce”, mas que estavam solucionados em menos de meia hora, e retomamos a nossa expedição a todo o gás. O UMM 04, tem Joaquim Madeco, como piloto e Carlos Sargedas, como co-piloto. O adiantado da hora, fez com que tivéssemos que alterar, não o destino, mas a rota. O receio agora era o tempo. O céu cerrado e escuro fazia antever uma tempestade para a noite de acampamento, mas o tempo acabou por se “portar bem” e conseguimos acampar em Imilchil, como estava previsto. Acampar, acampamos, mas ninguém conseguiu dormir grande coisa…estava um verdadeiro vendaval. Passamos grande parte das poucas horas que tínhamos para dormir, sempre a ver quando as tendas iam pelo ar. Mas não é que nenhuma foi…no final, todo correu muito bem apesar do vento.


Crónica do 4 de Abril de 2011 Cenários idílicos e momentos inesquecíveis é o que temos reservado para hoje. Segunda-feira, dia 04 de Abril, e espera-nos um verdadeiro dia de aventura em terra batida, sempre entre montanhas a perder de vista, com escarpas e paisagens de parar a respiração de tão fabulosas que são. É impossível ser imparcial ou não adjectivar todos os cenários por onde passamos e todas as coisas que vimos e que, “no nosso mundo”, são inexistentes.

O Alto Atlas, com as fabulosas montanhas sinuosas, as “gargantas” por onde passamos, o jogo de cores, os cheiros…cenários quase impossíveis de traduzir por palavras. Aliás, todas as palavras, fotografias ou vídeos que possamos dizer ou ver são redutoras de tudo aquilo que vimos, vivemos e sentimos. Ir no UMM, a 3 mil metros de altura, em cordilheira e ver perfeitamente de dentro do jipe cá para baixo, de tão estreitos que são os trilhos, causa um arrepiante frio no estômago. O cenário já dele perfeito ia sendo abrilhantado com momentos de queda de neve.


A passagem pela Garganta de Dadès foi sem dúvida um dos mais emocionantes episódios desta segunda-feira. Andar por entre escarpas gigantes, com o céu visto por uma pequena fenda, é absolutamente extraordinário. O Vale dos Dadès, que se entende entre as montanhas do Alto Atlas, a norte, permite apreciar autênticos oásis, plenos de palmeiras, amendoeiras, cerejeiras e demais vegetação...um cenário esplêndido entre rochas.


Também as incríveis encostas verdes, que tivemos oportunidade de ver, em socalco dos vales formam uma paisagem impressionante. É de não esquecer que os corvos estão por toda a parte e formam autênticos mantos pretos a voar. Passamos pelo “vale dos mil Kasbahs” (vale das mil casas), Skoura. As Kasbahs confundem-se com a paisagem, quase até passarem despercebidas. Seguimos depois até à cidade de Dadès, onde passamos a noite no hotel Xaluca.


Crónica do dia 5 de Abril de 2011 Ao quinto dia desta expedição solidária a Marrocos em UMM, tínhamos como destino a aldeia de M’Hamid, a cerca de 300 k m de Dadès. Trata-se da localidade onde iremos entregar amanhã os brinquedos às crianças, e construir o parque escolar. Foi neste percurso, que encontramos os primeiros camelos: há quem não tenha resistido a um punhado de fotografias. Este quinto dia da expedição solidária a Marrocos em UMM é um dos mais importantes, já que é o dia em que vamos chegar à aldeia de M’Hamid, já no sul de Marrocos, a cerca de 40 km da Argélia. No meio da pobreza em que vive esta povoação, é a entrega do material didáctico e escolar que trazemos e do parque escolar que vamos montar, que está a grande essência desta expedição. Todos os aventureiros estão desejosos pelo dia de amanhã: já se sente emoções à flor da pele. Mas antes que chegue o amanhã, há que desfrutar da expedição que temos reservada para hoje. Esta terça-feira, foi dia de grandes aventuras, onde percorremos km de montanhas a perder de vista. Foi na imensidão da paisagem que nos apercebemos de quanto pequeninos somos no meio de tão extraordinária visão. As dezenas de montanhas que percorremos na região de Jebel Sarhro, a mais de 2500 metros de altura, deu para sentir, cheirar e ter o prazer de ter acesso a cenários absolutamente únicos. Esta região, deu-nos depois acesso a Nebok, considerado o local com o maior número de Kasbahs (casas) de Marrocos: nada mais que 52 casas. Por estes dias ainda não chegamos à areia do deserto: esse cenário estará presente nesta expedição a partir de amanhã. Desta feita, temo-nos deparado com trilhos cobertos de pedra e rocha: as lombas, os altos e baixos, as curvas sinuosas foram a nossa ementa de hoje.


Já me começam a faltar os adjectivos para caracterizar esta expedição. O léxico é por demais reduzido para exprimir todo o universo que nós encontramos. Trata-se de um mundo quase intacto, por explorar onde nos perdemos na imensidão de um mundo quase perfeito As aventuras de hoje não ficam por aqui: tivemos ainda a sensação de pertencer a um verdadeiro Dakar, pelo menos percorremos km dos trilhos que percorrem aqui em Marrocos. A mais de 2 mil metros, encontramos duas outras expedições: uma delas vinda de França, onde o líder, tem mais de 70 anos e já comercializou jipes da marca UMM, aquando da vida profissional. É de ressaltar que este francês vai percorrer, no próximo mês, o TransPortutal de 4x4. Os UMM estão por todo o lado. O lado solidário da expedição não podia ficar de fora deste dia e ainda tivemos tempo para parar pelo caminho a distribuir alguma roupa e brinquedos a algumas crianças. As imagens do ambiente persegue-nos por onde quer que passemos, mas é impossível nos abstermos de situações verdadeiramente tocantes: crianças pequeninas a correr montanha a cima, descalças para nos alcançar. Hoje apenas nos pediram água. Arrepiante. O dia de hoje foi pleno de emoção: ainda ocorreram três ligeiras avarias. Num dos UMM, partiram os apoios dos amortecedores traseiros, num outro, foi “só” um dos apoios, por causa da dureza dos trilhos e também por causa da carga que está a ser transportada pelos jipes para ser doada em M’Hamid. Num outro carro, o caso não é grave, mas está a dar mais muito mais trabalho. Ainda não se sabe ao certo, mas pensa-se ter sido algum problema com a bomba injectora, certamente derivado ao gasóleo mal refinado, que comercializado aqui em Marrocos.


Crónica do dia 6 de Abril de 2011 Finalmente chegou o dia pelo qual todos esperávamos nesta expedição solidária a Marrocos em UMM: a entrega do material escolar edidáctico às crianças e a construção do parque escolar, na escola de M’Hamid. Os 12 aventureiros entraram nos jipes e partiram para aquilo que se tornou uma verdadeira aventura: as dezenas de crianças estavam eufóricas à nossa espera. Depois da azáfama de montarmos os brinquedos, passamos a uma nova etapa: tentar conter todos os miúdos que queriam ser os primeiros a experimentar o que construímos. Desde o escorrega ao balouço ou mesmo o cesto de basquetebol…todos os elementos ganharam vida com tantas crianças “em pulgas” para experimentarem coisas que muitos deles só conheciam pela televisão ou nem isso. Mas a alegria e a satisfação não estava apenas nos rostos das dezenas de crianças que se sentiam fascinadas só com o colorido dos embrulhos, também nós ficamos completamente radiantes e com pleno sentimento de missão cumprida.


Mas a nossa satisfação não ficou por aqui, além da escola prevista, conseguimos entregar brinquedos e material escolar em mais uma aldeia. Espalhamos sorrisos por muitas mais crianças. Posso dizer que a missão está mais que cumprida. É altura de seguirmos viagem e entrarmos verdadeiramente no deserto. Os km de areia a perder de vista estão à nossa espera.


Crónica do dia 7 de Abril de 2011 Este sétimo dia desta expedição só pode ser descrito como “uma verdadeira loucura” de tantas emoções fortes sentidas duna acima, duna abaixo, em pleno deserto marroquino. Mas antes dos “enterranços” dos jipes, há que voltar um pouco atrás e narrar o extraordinário acampamento nas tendas do deserto. Depois do jantar, alguns de nós ainda pensamos dormir à luz das estrelas, mas a noite ficou fria e acabamos por dormir nas tendas. Mas antes da horinha de dormir, ainda tivemos muito tempo para desfrutar do manto de estrelas que cobria o deserto marroquino. Nunca antes tantas estrelas foram vistas ao mesmo tempo pelos nossos olhos. Uma sensação de tranquilidade e de absoluta magia foi o que encontramos na noite de ontem. Num silêncio absoluto…todas as nossas “baterias” foram carregadas.

E porque tínhamos as baterias carregadas, hoje vivemos a verdadeira aventura no que toca à viagem pelas dezenas de dunas do deserto marroquino. Cada uma delas foi uma descoberta: subíamos, mas muitas das vezes, não fazíamos a mínima ideia do que estava do outro lado das dunas gigantes. E os “enterranços” fazem parte da aventura: entrar nas areias do deserto e não ficar com o jipe meio enterrado, não é uma verdadeira expedição. Não houve um único UMM que não ficasse enterrado.


Depois das dunas, foi a vez de queimar terreno até ao lago seco de Ikiri. Este espaço enorme deu para que os pilotos brincassem com as suas máquinas e fizessem algumas habilidades com os UMM. Depois da pista do Dakar, só ficava mesmo a faltar as dunas do deserto e o lago seco: mais uma missão cumprida para os 12 aventureiros. Todas as emoções mereceram o devido descanso e foi isso que fizemos, já na cidade de Foum Zguid. Amanhã esperam-nos mais de 400 km para chegarmos a Marrakech.


Crónica do dia 8 de Abril de 2011 Depois de uma merecida noite de sono, foi hora de acordar e fazer mais uma ligeira revisão aos UMM, e reparar mais dois apoios dos amortecedores de dois carros e verificar que a argola das molas de suspensão de um terceiro carro tinha-se partido. Ligeiríssimas avarias e mais histórias para contar desta expedição solidária a Marrocos em UMM.

Há que fazer uma justa homenagem aos UMM: estes seis jipes que estão nesta aventura têm entre 20 a 25 anos e têm-se portado muito bem “nossos meninos”, como carinhosamente são tratados pelos donos. De recordar que esta expedição foi preparado ao mínimo pormenor durante nove meses e é com muito satisfação que os donos destes seis UMM vêem o facto de os jipes já terem feito mais de metade da viagem sem nenhuma avaria grave ou sem ninguém ter desistido. Bem, mas voltemos à nossa sexta-feira, dia 8 de Abril: depois de reparados os carros, foi altura de voltarmos à estrada. Para hoje temos ainda centenas de km pela frente até Marrakech. Saímos de Foum Zguid em direcção a Ouarzazate, uma localidade árida e rochosa onde muitos filmes de cowboys, norte-americanos foram feitos.


Paramos para almoçar no meio das montanhas, a mais de 2 mil metros de altitude, com o termómetro a marcar 38 mas, bem perto de nós algumas montanhas estavam ainda cobertas pela neve do inverno. Um cenário absolutamente fascinante e que demonstra bem a diversidade e o muito que há para ver e viver em Marrocos. Neste oitavo dia, voltamos quase ao cenário dos primeiros: montanhas a perder de vista, mas estas com mais vegetação que as primeiras. Em algumas centenas de km é possível alterar o cenário drasticamente aqui em Marrocos. Passamos do deserto a montanhas num piscar de olhos. De referir que não estamos a regressar pelo mesmo trajecto, estamos literalmente a dar a volta a Marrocos. A palavra “regressar” custa a ser aceite por todos nós. Esta viagem está a ser de tal ordem fascinante e reveladora de belezas raras que não é de fácil regressar: há o sentimento de que ainda há tanto para descobrir. Esta noite e a próxima ficaremos em Marrakech, e será o nosso “dia de folga” em que aproveitaremos para conhecer a cidade mais turística de Marrocos.


Crónica do dia 9 de Abril de 2011 Chegados a Marrakech, foi altura para conhecer melhor a cidade, e nos passearmos ao longo das enormes muralhas de 12 km, erodidas pelo tempo, que albergam a buliçosa vida da cidade. Dentro destas muralhas está a velha urbe de Marrakech. O calor, o pó e as muralhas de adobe fazem de Marrakech uma cidade singularmente africana e marroquina.

O principal ponto de visita dos 12 aventureiros situou-se na famosa Medina, um circuito de 10 km, que alberga o mercado tipicamente marroquino, com ruelas absolutamente sinuosas e estreitas, onde circulam em simultâneo pessoas, bicicletas e motas. Uma verdadeira aventura para quem tenta passar de um lado ao outro da Medina e apreciar os seus famosos “souks” (estabelecimentos), célebres pelo artesanato de qualidade. Em alguns países africanos, o regateio é a coluna vertebral da cultura comercial, por isso, convém deixar-se imbuir por esse espírito e aproveitá-lo. Os marroquinos encaram o regatear como uma forma de diversão e de interacção social. Por norma, o vendedor pede muito por algum produto: o truque é o comprador oferecer um terço do valor pedido. Dependendo do andar da conversa, o negócio dá-se ou não, se o vendedor achar que estamos a oferecer pouco, deixa de nos dar atenção, mas se achar que a oferta até é boa, vai atrás de nós.


As ruas são de tal ordem labirínticas que nos podemos perder facilmente, coisa que não aconteceu, uma vez que tivemos sempre em atenção esse facto. É também de destacar a atenção dos aventureiros para com as aventureiras: nunca deixaram nenhuma ficar para trás, aliás, faziam questão de nos manter sempre à frente.

À medida que o dia avança, avança também o rebuliço são às centenas as pessoas, na maioria turistas, que se passeiam pela região. É também com o anoitecer que o cenário se torna mais místico e envolvente: abre-se uma miríade de fumegantes postos de comida que aromatizam o ambiente já por si só perfumado por um sem número de especiarias. Malabaristas, contadores de histórias, músicos, encantadores de serpentes e tudo mais que se possa imaginar, desde peças berberes (tapetes, jóias) a calçado feito à mão, preenchem o restante cenário da Medina de Marrakech. Dentro das muralhas da Medina sobressai ainda a praça de Djemaa el-Fna, palco de um dos maiores espectáculos do mundo: é à luz de centenas de lâmpadas, ao pôr-do-sol, que esta região mais se embeleza.


Nos extremos das muralhas situam-se duas imponentes mesquitas: a norte de a famosa mesquita de Koutoubia e a sul a mesquita e massadra Ali Ibn Yusuf. Dois templos de culto para os locais e de visita para os turistas. Na cidade de Marrakech, há ainda a salientar o caos no trânsito: qualquer imagem de hora de ponta é puro eufemismo quando comparado com o modo selvagem como se conduz nesta cidade. Sinais de trânsito ou semáforos são quase uma utopia. Quanto mais larga for a estrada, mais carros circulam a par uns dos outros. Desde que vimos um homem de cadeira de rodas a conversar com outro parado no meio da estrada, ficamos com a nítida convicção de que tudo é possível entre a selva dos carros em Marrocos.

Este dia 09 de Abril, foi também em que os UMM “descansaram” e foram mais uma vez submetidos ao olhar dos pilotos. Esta foi a primeira vez que ficamos na mesma cidade duas noites e pudemos aproveitar muito do que Marrakech tem para oferecer.


Crónica do dia 10 de Abril de 2011 Até agora percorremos cerca de 3 mil km, o que significa que nestes três dias que nos faltam, ainda temos 2 mil km para fazer até regressarmos a Barcelos. Não é difícil fazer as contas: em nove dias fizemos 3 mil km, agora em apenas três dias, temos 2 mil para fazer, ou seja, temos mesmo muito chão ainda para percorrer. Esperam-nos dias difíceis e longos, debaixo de temperaturas a rondar os 37 graus célsius. Apesar de termos muito para percorrer em pouco tempo, os UMM não foram assim muito compreensivos e não são só as pessoas que têm direito a fazer birra, os jipes também tiveram a sua dose. Habituados a queimar km todos os dias, foi altura deles não pegarem hoje, e alguns terem que ser empurrados mais que um vez, por causa da falta de bateria que tinha sido descarregada, devido às arcas frigoríficas. Um outro carro também tive um ligeiro problema com uns fios que estavam a fazer mau contacto. Situações que foram rapidamente resolvidas. Voltamos depois à estrada, rumo a Meknés. Hoje espera-nos um longo dia: são mais de 450 km que temos para fazer.




Crónica do dia 11 de Abril de 2011 Este é já o penúltimo dia desta extraordinária expedição solidária a Marrocos em UMM. O dia começou bem cedo para os 12 aventureiros: eram cerca das 06h00 quando o dia de hoje acordou para nós. Espera-nos um dos dias mais complicados e compridos: são mais de 800 km para fazer e passar duas fronteiras. Cada km era uma vitória, mas também crescia em nós uma nostalgia. Por um lado estávamos a ultrapassar a duríssima etapa que tínhamos pela frente, por outro estávamos a acabar uma expedição que muito nos marcou a todos, pelos motivos que já foram descritos.

Rumamos então à cidade de Tanger, onde apanhamos o ferry, com destino a Tarifa. A passagem pelo Estreito de Gibraltar foi bem mais demorada que o previsto. Em primeiro lugar porque o barco deveria arrancar às 16h00, mas só arrancou um hora mais tarde e depois porque contávamos com uma travessia relativamente rápida, mas a verdade é que demorou mais de 01h30. Bem, entre passar a fronteira e a travessia de barco, sei que se passaram 02h30, de alguns solavanco, já que o mar estava mais agitado que quando entramos em Marrocos.


Pisamos solo europeu e sentiu-se desde logo a diferença, nomeadamente no que toca ao trânsito. A hora de ponta por destes lados, comparada com a verdadeira batalha e confusão que se viu em Marrocos, e uma absoluta tranquilidade. Pelo menos por cá, o risco de termos um marroquino e vir, na nossa faixa em sentido contrário não é coisa comum. Bem, mas voltemos à viagem, porque a estrada ainda é longa e esperam-nos muitos km para chegarmos ao próximo destino: Beja. Ou melhor, o destino era Beja, acabamos por ter que ficar na cidade de Aracena, ainda em Espanha. Num dos carros, as pinças dos travões dos pneus da frente ficaram presas por causa da areia e perdemos algum tempo na limpeza. Entretanto, o cansaço já levava a melhor e optamos então por parar em Aracena.


Crónica do dia 12 de Abril de 2011 Este último dia da expedição solidária a Marrocos em UMM promete ser uma verdadeira corrida contra o tempo. Desde logo, porque nos esperam cerca de 800 km até chegarmos a Barcelos, depois porque ainda temos uma importante paragem para fazer: em Sesimbra, para deixarmos o primeiro elemento. Carlos Sargedas chega a casa e dá por encerrada a expedição, depois de eternizar momentos em mais de 6 mil imagens. Mas antes disso, foi com enorme felicidade que vimos pela primeira vez a placa a dizer Portugal. Eram cerca das 09h00 que o hino se ouviu entre os 12 aventureiros. Foi pouco depois que o mesmo UMM que tinha dado problemas ontem, voltou a fazer das suas, agora com as pinças dos travões dianteiros do lado do piloto. Brincar nas dunas deixou marcas neste UMM. Duas paragens, cerca de 00h45 minutos passados e o problema ficou resolvido (pelo menos por agora). Sem mais contratempos, voltamos à estrada.


A viagem é longa e espera-nos uma calorosa recepção em Barcelos. À semelhança do que aconteceu no dia da partida para Marrocos, à espera dos 12 aventureiros vamos ter o vereador do Desporto da Câmara Municipal de Barcelos, Carlos Brito. Mais uma vez contamos com o apoio do Clube Motogalos de Barcelos a fazer de batedores, desde a freguesia de Barqueiros até ao centro da cidade, onde nos esperam todos aqueles que nos foram apoiando ao longo destes 12 dias por Marrocos. A viagem era demorada e as saudades ainda a tornaram mais longa. Como estava tudo a correr bem: o tal UMM que deu trabalho ontem e já hoje, volta a dar que falar e volta a ter mais um problema mecânico, já ao final do dia. Foi altura de optar por não o reparar, mas por chamar um reboque, tal era o adiantado do relógio e a aproximação da hora prevista para a nossa chegada a Barcelos. Uma chegada que não perdeu nem uma pontinha de brilho. A quem esteve aguentou até bem perto da meia-noite, o nosso muito obrigado. À semelhança da partida, foi uma chegada triunfar, com direito a fogo-de-artifício. A missão desta expedição solidária foi absolutamente cumprida: o material foi entregue, os sorrisos das crianças alcançados e a imagem de Barcelos chegou a Marrocos. A todos, o nosso muito obrigado.


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