O ultimo Julgamento

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O Último Julgamento “O mundo é erguido por heróis, homens que lançam sua vontade através de batalhas... Com a potência do sangue tornam suas vidas à artilharia que decompõe as veste do velho mundo, conduzindo a utopia da soberania a vértice do poder.” Testemunhar novamente meu pai cravar essas escrituras no tapume da casa onde nasci adormece as sensações do ar de fogo que percorre os meus pulmões, traz o juízo de quem realmente sou, ou fui...

mulher, o rosto jovial não mascara o êxtase do assassinato, a adaga vermelha que lentamente penetra a cabeça do meu pai... Foi a primeira vez que presenciei esse ritual, porém não a única, os cabelos não são mais negros, seu caminhar não tão suave, mas seu olhar se mantém, sentimento que transcende mente e corpo, ela atende pela alcunha de Idalin, A Rainha da Tempestade.

Tudo começou com aquelas palavras, não seria de outra forma se não assim. Um instante esperado e célere que começa devastando o anseio de perdão com o maior dos motivos. Ele era um herói, o meu herói que brandia suas forças pela bandeira do nosso lar. Nada, nem as mais perversas hordas infernais ousariam cruzar os prados que serviam de fronteira. É assim minha primeira lembrança, ingenuidade que todo o pai preserva em seu filho e que a vida trata de fulminar... A vida ou a morte, a fantasia não resiste a ambos, e assim foi quando o Senhor Simon de Montfort, o mesmo que transcreveu os versos na parede, faleceu em silêncio após uma exclamação feminina. Eu não desejava ouvir novamente, é inevitável... O grito percorre minha mente, o episódio igualmente ocorre ante os olhos de um alguém débil... Não posso fazer nada... Guardava em meu intimo a sensação da fraqueza de um ser humano, lembrava-me do sangue que jorrava de um cadáver catatônico e o sorriso suave que mal se ouvia pela algazarra da tempestade... Não me lembrava de tempestade alguma... Posso ouvi-la. A porta que se escancara com violência, novamente a voz do meu pai notavelmente desnorteada pela figura que se revelava adentrando a casa. Sinto um nó na garganta que quase me impede de respirar, uma mulher de cabelos negros invadiu a casa, parece contemplar meu pai fascinada com energias que agora posso sentir, cordas reluzentes partidas com o tocar profano estão por toda a parte. A mulher avança com leveza no caminhar e nesse momento extrai a alma do meu pai como um seixo removido do leito de um rio claro. Não poderia dizer que revivi esse ato, apesar do sentimento idêntico o entendimento foi distinto, eu conheço essa

Idalin, A Rainha da Tempestade.

Apesar de fazer sentido, meu coração não consegue aceitar que foi assim, era tudo mais simples quando Idalin anos mais tarde me ensinava que a força para ultrapassar a existência medíocre e caminhar como seres imortais, juízes de um mundo doente e fraco era acessível a mim. Nutrindo o ódio que havia plantado, minha tutora conduziu-me através da escuridão para alguém a quem ela chamara de Senhor. Estava longe de casa porém próximo da dor, apegado a isso compreendia que o mundo é composto por pobres coitados como eu, que vivem uma quimera e esperam o dia que uma sombra adentre a janela e extermine o calvário de uma existência inútil assim como foi o fim do meu pai. Sendo assim eu não queria ser ele...


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