Tfg · centros de consumo

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ce n t r o s d e c o n s u mo da metrópole co n t e mp o r â n e a

Universidade de São Paulo Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Trabalho Final de Graduação Artur Kim Shum Orientação Profa. Helena Ayoub

São Paulo Junho de 2014









[...] cada pessoa tem em mente uma cidade feita exclusivamente de diferenças, uma cidade sem figuras e sem forma, preenchida pelas cidades particulares. C A LV I N O , I t a l o . A s c i d a d e s i n v i s í v e i s , 1 9 9 0 .



ÍNDICE

c e n t ro s d e c o n s u m o s p

02-07

01

I n í c i o 1 3

02

R e f l e x ã o 1 5

03

S ã o P a u l o 2 7

04

L u g a r 3 7

05

Co n t ra p ro po s ta 5 7 Co n s i d e ra ç õ e s fin a is 8 9 B i b l i o g ra f i a 9 0 A n e x o s 9 2



01 INÍCIO O consumo é um dado intrínseco à constituição das cidades e muito significativo nas metrópoles contemporâneas, é onde desenvolvemos nossa função de consumidores. O antigo centro da cidade como estruturador da compra, venda e integração social vem sendo substituído por empreendimentos desenvolvidos estrategicamente para otimizar essa atividade, estimulando uma nova significância dos locais de consumo na dinâmica social metropolitana. O ensaio a seguir iniciou-se durante o intercâmbio acadêmico realizado em Pequim, onde vivi durante 8 meses, no ano de 2013. A partir da leitura de cidade estruturada pelo consumo, encontrei na capital chinesa um possível futuro para a cidade de São Paulo, tendo como referência os shoppings como pontos organizadores de fluxos e catalisador da vida social urbana. A experiência de morar em Pequim possibilitou a reflexão sobre os modos de viver e apropriar-se da cidade. Tentei entender fluxos e nós que a organizam e constroem relações sociais. A multidão encontrada nos parques, praças e mercados se justifica para além da concentração poupulacional da capital. O intenso uso dos lugares da cidade é resultado de uma cultura de valorização do espaço público por seus habitantes. Contrário e simultaneamente, grandes aglomerações de pessoas se localizam nos empreendimentos comerciais, onde o consumo movimenta milhões de chineses todos os dias. Durante uma visita ao Sanlitun, bairro intercionalizado de Pequim, encontrei um empreendimento comercial que me inspirou a direção a seguir na reflexão deste trabalho. Blocos de lojas soltos dentro da quadra e ruas de pedestres em várias cotas constituíam o shopping que fazia seu papel de concetor com o entorno ao interligar as vias de comércio local. No caminhar pelos blocos interquadra, deparei-me com crianças brincando sobre os jatos de água que brotavam do chão em frente a uma grande loja. A alegria do brincar naquele espaço, contrariamente à lógica do que é privado, garantiu a dimensão pública do projeto do empreendimento. Frente a essa experiência, refleti sobre a realidade paulistana a partir da escassez de espaços públicos e do papel dos shoppings nas relações sociais urbanas. Qual o significado do shopping dentro da cidade contemporânea? O desenho desses empreendimentos podem estar vinculados à uma dimensão pública? Como transformar o espaço privado do shopping em uma extensão dos espaços públicos da cidade? O estudo desenvolvido neste trabalho traz reflexões sobre a função do shopping dentro da cidade como objeto organizador da metrópole. Em seguida, apresento uma contraproposta ao shopping implantado no bairro do Tucuruvi, zona norte de São Paulo. Menina correndo Pequim , China, 2013 Acervo pessoal



02 REFLEXÃO SHOPPING is arguably the last remaining form of public activity. Through a battery of increasingly predatory forms, shopping was infiltrated, colonized, and even replaced, almost every aspect os urban life. REM KOOLHAAS, Project on the city

ESCALA GENÉRICA

Os programas da metrópole estão sendo hoje pensados e gerenciados como shoppings, na essência do consumo. Os museus, aeroportos e universidades se apoiam em lojas de souvernirs, no restaurante e na loja virtual para expandir seu capital.

CIDADE = SHOPPING

No aeroporto a rentabilidade está ligada ao número de lojas que alugam e não apenas ao número de passageiros que por ali circulam diariamente. Na universidade, a mensalidade cobrada dos alunos é também cobrada nas lojas da praça de alimentação. E no museu, a loja e o restaurante auxiliam no orçamento mensal.

Koolhaas iguala a cidade aos shoppings identificando o consumo dentro dos programas tradicionais como escolas, museus e aeroportos (KOOLHAAS, 2001)

Esse consumo também é pensado na escala urbana. Os centros históricos e áreas degradadas se renovam a partir de novos empreendimentos comerciais, com franquias do varejo, transformando a dinâmica local e homegeinizando os lugares existentes. A história torna-se mais um produto dentre os corredores de vitrines que cortam os antigos edifícios e símbolos locais. JUNKSPACE Termo para os espaços residuais após o processo de modernização ter tomado seu curso. (KOOLHAAS, 2001)

SOCIEDADE DO CONSUMO Termo para definir os papel de consumidor do homem contemporâneo. (ZYGMUNT, 2007)

Rua 25 de Março Desenho , 2013

Frente a uma crise dos programas e usos da cidade, o capitalismo contemporneo impulsiona o desenvolvimnento todos os locais como shoppings, e onde não atua, deixa ruínas. A permissividade das políticas liberais e a ausência do projeto para o desenvolvimento urbano resulta em uma cidade desequilibrada, com ausência de espaços públicos qualificados frente a um monopólio dos interesses privados. Os shoppings instalados dentro da malha urbana concorrem com o comércio local e causam congestionamentos devido ao viário incompatível com a densidade dos frequentadores. A globalização da sociedade de consumo e a comunicação acelerada resultam em uma volatilidade das metrópoles, com renovações das estruturadas defasadas e a rápida apropriação de novas tendências urbanas elas se tornam genéricas dentro do contexto global.

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Os pensamentos acima foram construídos após a leitura do holandês Rem Koolhaas. Em seus artigos, o arquiteto faz uma narrativa com entusiasmo do urbanismo contemporaneo, ao mesmo tempo que formula discussões teóricas críticas para o entendimento das dinâmicas das cidades atuais pelo mundo a partir de uma visão do capitalismo. Tendo essas teorias como referência, este trabalho se organiza como um exercício crítico sobre o papel do shopping na construção do urbano e a lógica do consumo que o torna possível. O objeto final de análise se localiza nessa mesma realidade encontrada na metrópole de São Paulo.

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Shopping Cidade Jardim, dificuldade para o acesso dos pedestres | foto


ESCALA DA CIDADE

As cidades gregas desenvolveram o comércio local como um lugar de encontro e socialização das pessoas. No século XIX as galerias francesas permitiam o pedestre atravessar blocos de quadras sob edifícios onde encontravam pequenas lojas, criando uma conectividade dentro da morfologia urbana. Hoje, na cidade contemporânea, temos o shopping como um simulacro das ruas de pedestres e dos antigos centros de comércio. A realidade proposta pela arquitetura dos espaços internos do shopping é a de uma cidade passada a limpo. Faz-se uma exclusão de tudo que é presente na realidade urbana e que possa interferir negativamente na ação de consumir: a sujeira, o conflito, o medo, as pessoas em situação de rua, e todos os elementos que fazem parte da verdadeira rua. Dessa forma, cria-se um ambiente fictício que concorre com os espaços públicos, pois conjugam o lazer, comércio e sociabilidade sobre um mesmo projeto. O controle desempenhado pelos seguranças faz a manutenção da ordem nos interiores dos shoppings. Embora invisível, a restrição do acesso existe. O estranho, o diferente são supeitos e passam a ser observados e, muitas vezes, intimidados pela equipe de segurança do shopping. As pessoas que não se enquadram no perfil de um pontencial consumidor são consideradas perigosas para a administração do empreendimento. O objetivo das restrições ao outro está na manutenção da ordem e garantia de um ambiente seguro para o consumo. O simulacro do centro da cidade é produzido com o agrupamento de símbolos urbanos. Bancos, postes de luz, pequenas praças ou átrios de encontro, e os próprios corredores de lojas compõe uma arquitetura que faz um referencial simbólico à memória da coletividade desenvolvida no real espaço urbano da cidade antiga. No entanto, é importante ressaltaro contraste do interior e exterior desse empreendimento. O mimetismo dos ambientes internos contratastam com seu exterior, onde as grandes e contínuas fachadas o destacam dos edifícios do entorno e da morfologia da cidade existente.

SHOPPING CENTER = ÚTERO MATERNO O ambiente criado é o resultado de técnicas e reconstruções de determinadas imagens sociais, onde a história é passada a limpo. É a cidade sem barulho, o ponto de encontro programado, o controle de anoitecer das ruas. (RIMKUS, 2008)

O carro é o elemento que garante sua existência, pois possibilita a conexão direta para o consumo. O estacionamento privado é quase simbólico no sentido de garantir conforto e segurança. Ao mesmo tempo, esses fluxos aumentam o tráfego de veículos no local. Como consequência, frequentes congestionamentos se desenvolvem nas infraestruturas viárias. Sua existência se coloca como um ponto nodal criado sobre o território sem a preocupação de estruturar circulações compatíveis com sua dimensão para o fruição da cidade. A relação do shopping com a cidade é parasita, visto que o mesmo utiliza-se do meio urbano para a lógica do privado e do capital. Simultaneamente, seu status de concentração de consumo e lazer supre a deficiência dos espaços públicos da grandes cidades. 17


A função básica dos shoppings é manter o usuário o máximo de tempo possível entre os corredores, o isolando do tempo real, das condições de temperatura ou da distância percorrida dentro do empreendimento.

ESCALA DO PRODUTO

O arquiteto e urbanista Victor Gruen, em 1954, inaugura o primeiro empreendimento comercial fechado e apoiado no ar-condicionado. O empreendimento, localizado em Detroit, trazia a referência pós-moderna dos mat-buildings. Ele foi pensado para garantir o consumo nos subúrbios que se desenvolviam na época como alternativa à densidade do centro urbano.

Mat Buildings Edifícios em malha que crescem horizontalmente, baseados na conexão entre as partes, na flexibilidade, e nas possibilidades de se repitirem e mudarem. (MONTANER, 2009)

Gruen identifica o shopping como um programa além do centro de abastecimento, uma possível unidade de desenvolvimento do bairro suburbano, centralizando vários programas sobre o mesmo edifício. Porém, a visão urbana do arquiteto logo se desfaz, quando o conjunto de programas é transformado num único produto do mercado imobiliário, o shopping center. A partir desse momento, ele passa a ser produto único, focado em si, e sua arquitetura passa a gerenciar seu funcionamento. O prédio é um diagrama simples de espaços, onde a loja é a unidade básica e o espaço de consumo é composto por um grupo linear. Uma parede de vitrines que expoõem os melhores produtos da marca e que criam os labirinticos corredores fazendo o consumidor perder a noção espacial dos lugares por onde já passou. The formal diagrams of the space os shopping are generically reducible to an explanation os shopping`s formal manipulations and hybrids of points, line and plane - where the shop (boutique) represents the basic unit os shopping, or point. (Project on the city 2 , pp.195)

Os diagramas formais dos espaços dos shoppings são genericamente redutíveis na manipulação e permutação dos pontos, linhas e planos. onde as lojas representam a unidade básica do shopping. (Tradução livre)

Os espelhos e vitrines fazem as lojas terem visibilidade plena pelos frequentadores que utilizam-se da comparação dos produtos expostos para entrar ou não. Nesse jogo de perspectivas as lojas âncoras se destacam pela dimensão da vitrine e número de consumidores na parte interna. Na simplicidade do diagrama de composição de um shopping o tenant mix organiza os produtos permitidos naquele empreendimento. A única adaptação na formação dos corredores é quanto ao tipo de loja e a compatibilidade ao público-alvo do negócio. Sendo assim, produtos que não entram no padrão de consumo daquele grupo social não são permitidas nos corredores de maior visibilidade.

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Lojas âncoras Lojas ou supermercados de franquias conhecidas que funcionam como um atrativo aos frequentadores do empreendimento. Normalmente estão localizados no fundo dos corredores fazendo os consumidores atravessarem os corredores com lojas de menor exrpressividade. (FRÚGOLI, 1992)

Tenant mix É o termo utilizado pelos logistas e planejadores de shopping para designar a seleção e a variedade de lojas do empreendimento. (FRÚGOLI, 1992) Perspectivas que levam às lojas.Project on the city, p.280. 2001.


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Os corredores em geral funcionam articulando o fluxo dentro da arquitetura. Variam-se suas dimensões e às vezes absorvem outros programas, como quiosques ou pequenos espaços de encontro. A tentativa é a produção de novas situações para ruptura com a monotonia das vitrines e promoção de possibilidades de encontro entre os frequentadores. Nitidamente um simulacro do espaço público. A partir da unidade dos corredores, as escadas rolantes utilizadas para transpor o desnível de um andar, fazem a continuidade da circulação. Cria-se uma contínua vitrine onde os corredores e rolantes proporcionam um caminhar sem a interrupção de um cruzamento ou término de quadra. No invention has had the importance for and impact on shopping as the escalator. as opposed to the elevator, which is limited in terms of numbers...., the scalator accommodates and combines any flow, efficiently creates fluid transitions between one level and individual spaces. (Project on the city 2 , pp. 202)

Nenhuma invenção foi mais importante e impactante para o shopping como a escada rolante, oposto ao elevador que é limitado em número de usuários...a escada rolante acomoda e combina qualquer piso eficientemente criando uma fluída transição entre os andares e os espaços individuais. (Tradução livre)

MAXIMUM CIRCULATION = MAXIMUM SALES VOLUME Koolhaas exalta o poder da escada rolante no lucro das vendas dentro deo sistema contínuo do shopping.

O caminhar contínuo sob uma temperatura controlada é a premissa básica de um empreendimento como o shopping. O uso do ar-condicionado auxilia a perpetuar a frequência dos consumidores mesmo em condições extremas de temperatura encontradas no inverno e no verão. O ecossistema criado dentro dos shoppings para ampliar o conforto e prover uma ambientação própria ao consumo. Também é composta pelos espaços sem janela – windowless – como forma de isolamento visual e psicológico e a natureza controlada, proporcionando árvores compatíveis com a necessidade de conforto de cada espaço. A artificialidade encontrada na arquitetura desenvolvida nos shoppings criava uma aversão a muitos arquitetos, que pouco se importavam com essa tipologia de espaço. Por outro lado, empreendedores conheciam estratégias para atrair seus consumidores. A ausência de propostas interessantes sob ponto de vista da arquitetura criou uma proliferação de prédios semelhantes, com mesmas soluções espaciais e pouca sensibilidade projetual.

Escadas rolantes Foto: Kuba Bożanowsk

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O modelo de shopping hoje se atualiza conforme a necessidade do mercado. Alguns arquitetos e urbanistas começam a se interessar por essa realidade e os desdobramentos espaciais, urbanos e sociais que podem transmitir. Assim, algumas premissas consolidadas vão sendo modificadas por novas teorias e experimentações espaciais desenvolvida além dos espaços de consumo. Os shoppings em formato caixa, amplamente construídos pelas cidades de todo mundo, começam a ser questionados por sua implantação. Formas mais abertas e possibilidades de encontro à cidade existente são propostas. Já é possível encontrar projetos de novos centros de consumo onde ruas locais atravessam os blocos de lojas e o ar-condicionado se restringe ao espaço interno de cada uma delas; onde praças à céu aberto e de acesso comum são colocadas em meio a dinâmica dos estabelecimentos; onde os carros tem vagas restritas e o transporte público passa a ser valorizado como receptor do fluxo de pessoas. Esses novos espaços respondem à um questionamento dos antigos shoppings criados pelo mercado imobiliário. E, talvez, sirvam num futuro próximo como laboratórios para os espaços de uso coletivo inserido em espaços privados abertos, tanto na qualidade espacial como na prática social e política das cidades.

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Sony Center, Berlim Sanlitun Soho, Pequim Anúncio imobiliário (Autores desconhecidos)


CICLO DO PRODUTO Garrefa apoiado no conceito de ciclo de vida do produto de Vernon (1966), Davidson (1971) e Healey & Ilbery (1989), analisa o shopping center como um produto imobiliário ,assim, descrevendo as fases que o decorre nesse ciclo até o declínio a partir de 1990. (GARREFA, 2011)

O inglês coloca uma série de mecanismos para evitar a exploração dos preços por parte dos comerciantes: alguns deles eram tão extremos que expulsavam o comerciante abusivo. (HALL, 1996)

O empreendimento imobiliário shopping center pode ser analisado como um produto, a partir do ciclo de vida útil dentro do sistema capitalista. Historicamente, a relação dos centros de consumo com a cidade foi sendo modificada durante o século passado. Espaços que eram utilizados para o abastecimento da população local e consequentemente fortalecimento das relações sociais, deram lugar para aos centros de consumo como produtos imobiliários. Em 1898, o inglês Ebenezer Howard criou no esquema cidade-jardim uma primeira ação de planejamento urbano. Em uma tentativa de estruturar a cidade industrial da época, ele insere os centros de comércio planejados como abastecimento dessas áreas habitacionais perféricas. Dentro da realidade inglesa da propriedade estatal esses centros funcionaram como abastecimento da população do entorno, que no período anterior a difusão do automóvel, era obrigada a consumir os produtos desses locais Porém dentro dos EUA, os centros de abastecimento tiveram outra função nos subúrbios. Batizados como shoppings center foram a criação americana para garantir o funcionamento dos empreendimentos imobiliários periféricos. Nos primeiros subúrbios americanos os empreendedores utilizavamos os shopping centers como uma forma de convencer a população que poderia se viver melhor dentro dos empreendimentos, e assim, os antigos centros de abastecimentos viraram produto imobiliário de valorização do entorno.

O primeiro centro de compras planejado nos EUA surgiu através do empreendedor Jesse Nichols batizando os como Shopping Center, os lojistas não tinham autonomia dentro desses espaços, que seriam geridos pelo dono do empreendimento. (GARREFA , 2011)

Os subúrbios tiveram seu auge durante o pós guerra (1950-1959), quando a população cresceu o governo incentivou a compra de habitações, e como os estoques estavam localizados nas periferias dos grandes centros,

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houve uma inflação do número de empreendimentos de habitação e comércio , assim, consolidando o shopping center como um produto do mercado imobiliário. Dentro da realidade norte-americana de cultura de consumo, os shoppings tiveram sua expansão na década de 1960, momento em que esses empreendimentos começam a fazer parte do cotidiano, Sua padronização ocorreu entre os anos 1970 e 1980. A partir da década de 1990, houve diversificação dos modelos de shoppings em forma e programa – uma remodelagem para atualização frente à concorrência da categoria. A fase atual, a partir do fim dos anos 2000, pode ser definida como início do declínio, decorrente da saturação quantitativa e programática desses empreendimentos. Em outros países na Europa a difusão dos shoppings centers foi tardia e menos intensa, justificada pelo fraco processo de descentralização urbana e por legislações que restringiam a implantação dessa escala de empreendimento. A lei Royer, na França; e na Inglaterra, pelo estabelecimento do Greater London Counci, restringem a implantação de empreendimentos de grande porte. (PINTAUDI, 1992)

Ao contrário, a expansão dos shoppings na América e Ásia não sofreu restrições, eles foram instalados com a mesma lógica americana de produto imobiliário. A implantação periférica, americana, foi expandida para o bairros centrais, assim criando concorrência aos mercados locais que gradualmente foram fechando ou se mudando para outras regiões. A diversificação dos shoppings centers é uma constante necessidade perante ao comércio local e mercado. Eles precisam se destacar em comparação a seus concorrentes e trazer novidades ao desejo do consumidor. A estagnação do empreendimento resultam na migração dos frequentadores. Os shopping centers não perduram, morrem jovens. São construídos a baixo custo e já estão caindo aos pedaços quando surge a próxima novidade. Os que perduram precisam ser constantemente atualizados com reformas ou ampliações. Ou seja: devem parecer novos. (GARREFA, 2011)

A fase do declínio é encontrada atualmente em algumas cidades nos EUA. Os dead malls, como são conhecidos, são antigos shoppings vazios, localizados dentro e fora das grandes cidades e se colocam como grandes estruturas vazias no meio da malha urbana. A crise econômica de 2011 e os limites da livre concorrência por novos mercados resultaram nesses volumes perdidos dentro da cidade, onde não há mais interesse de mercado e, portanto, estão obsoletos frente ao desejo do consumidor.

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Imagens de dead malls. Realidade americana em declínio. in: <www.deadmalls.com>


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03 S Ã O PA U L O CENTROS DE CONSUMO

A cidade de São Paulo, como centro da região metrolitana organiza diariamente fluxos de pessoas que fazem compras nas variadas tipologias de comércio. A malha metroviária, as vias de automóveis e as linhas de ônibus transportam esses consumidores, fazendo o percurso casa-trabalho-comércio-casa. Na capital paulistana a atividade comercial acontece desde da pequena escala – comércio de rua que se utiliza dos maiores fluxos da cidade para vender produtos de rápido consumo –, até a grande escala – grandes centros, como os shoppings, que atraem consumidores de todas as partes da cidade. Essas escalas se estruturam em três tipologias de consumo: as galerias centrais, as ruas de comércio e os shoppings.

I M P L A N TA Ç Ã O

A implantação das ruas comerciais acontece perto de grandes fluxos de pessoas, potencializada pelos eixos estrututuradores do transporte público do município. Independente das regiões centrais elas também se localizam em bairros periféricos de grande densidade populacional, mas desenvolvem um papel mais local de abastecimento diferentemente das ruas centrais como a 25 de março e José Paulino. As galerias centrais se posicionam dentro do centro novo de São Paulo. Com os térreos abertos durante a semana, elas possibilitam os frequentadores cruzarem as quadras do centro através de seus múltiplas acessos no térreo dos edifícios, da mesma forma que abrigam um comércio local de pequeno porte destinado a seus frequentadores. A Galeria do Rock e a Sete de Abril desenvolvem uma centralidade aos finais de semana por atraírem um fluxo de consumidores durante os sábados em função das especialidades de seu comércio. O fato da área central da cidade apresentar uma grande massa de pessoas que se deslocam, moram e trabalham na região, circulando por ela todos os dias. Essa agitação favorecia encontros e trocas entre os diversos grupos e gerações que vivem no centro novo. (COSTA, 2010)

Em contraposição à essas tipologias que dependem do fluxo de pedestres, os shoppings centers, hoje, relevantes pólos de compra da metrópole, criam a própria centralidade dentro da cidade de São Paulo. O principal fator que garante sua posição independente das centralidades consolidadas é a congregação de funções que vão além do consumo. O lazer atrelado ao consumo constrói um símbolo e faz com que os paulistanos percorram grandes distâncias para chegar aos empreendimentos. A possibilidade de acesso a partir do veículo particular, permite sua implantação dispersa das centralidades consolidadas, frequentemente ligada a uma via de trânsito rápido. Em São Paulo, aproximadamente 50% dos empreendimentos de grande porte localizam-se nas marginais Tietê e Pinheiros. Galeria Metrópole, Desenho, 2013

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A necessidade de grandes áreas construídas para abrigar seus amplos programas com entretenimentos, áreas de lojas e restaurantes, serviços e vagas de estacionamentos, resulta em uma volumetria ou área de lote que se destaca do entorno. Os empreendimentos Center Norte e Eldorado, por exemplo, são modelos antigos que conjugam uma área de estacionamento externa, configurando um espaço ocupado de grande extensão horizontal. De maneira oposta, os shoppings Bourbon e Butantã têm seus estacionamentos nos pavimentos superiores de seus edifícios, resultando num volume desproporcial à paisagem urbana do bairro.

VOLUMETRIA

A inserção das galerias e ruas de comércio tem um menor impacto na morfologia da cidade. Por se configurarem nos térreos de uma volumetria já proposta, as galerias abertas à rua e as passagens internas inserem o pedestre na dinâmica urbana. As ruas de comércio, por sua vez, trazem os blocos de lojas todos alinhados à calçada, garantindo uma escala contínua sem causar estranhamento. A realidade nas ruas e galerias são opostas a ambientação dos shoppings. Dentro do edifício, como já exposto aqui a partir da leitura de Koolhaas, a circulação interna é um fator diferencial na experiência do consumidor. Os contínuos corredores configuram uma ampla extensão de caminhada, fazendo com que as distâncias percorridas dentro do shopping sejam enormes.

CIRCULAÇÃO INTERNA

No entanto, a ambientação proporcionada pelo ar-condicionado inibem a sensação de cansaço e permitem que a experiência do consumo se prolongue por mais tempo. Ao mesmo tempo, a luz do dia é fator determinante para o horário de funcionamento do comércio das ruas e galerias. Sua restrição ocorre diferentemente dos shoppings, que desenvolvem suas atividades independentemente deste regulador. Na cidade de São Paulo os centros de consumo estruturam um específico fluxo da metrópole, um grande número de pessoas que se desloca dentro da malha urbana para chegarem até os produtos desejados. A composição dessa massa de consumidores é heterogênea, significando em uma amplitude de mercados. Por isso, a convivência entre essas tipologias de espaços de consumo – ruas de coméricio, galerias e shoppings centers – é equilibrada. O ensaio aqui desenvolvido se propôs a mapear os formatos dos centros de consumo da cidade, analisando suas morfologias e lógicas de funcionamento. A ideia foi estruturar um entendimento conceitual a fim de compor uma teoria crítica, junto à uma proposta alternativa ao modelo de consumo existente.

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Diagramas comparativos de circulação das tipologias de consumo. Elaborado pelo autor.


1400 metros percorridos dentro do Shopping Metrô Tucuruvi

127 metros percorridos dentro da Galeria Copan

V V

V

V

V V V

V

V V V

1008 metros percorridos na Rua Oscar Freire

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53 SHOPPING CENTERS = 1,96km2

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O T O TA L D E Á R E A B R U TA L O C ÁV E L D O S S H O P P I N G S C E N T E R S PA U L I S TA N O S S U P E R A A ÁREA DO PARQUE IBIRAPUERA

ÁREA PARQUE = 1,5 km2

Fonte: ABRASCE, 2013

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HISTÓRICO

A presença dos shoppings centers em São Paulo significa uma profunda interferência na morfologia urbana imprimindo-lhe uma nova dinâmica espacial, na medida em que desloca áreas comerciais, verticaliza e modifica paisagens, transformando o espaço sócioeconômico existente. O início do shopping na realidade da cidade de São Paulo ocorreu no final da década de 1960, quando o shopping Iguatemi se instalou na Faria Lima, a partir do fluxo de consumidores da Rua Augusta. Um primeiro projeto foi assinado pelo escritório Crocce Aflalo e Gasperini, com uma volumetria baixa, com amplo e aberto espaço público em frente a recém inaugurada av. Brigadeiro Faria Lima e ordenação clara e livre dos espaços internos. Posteriormente, o edifício sofreu uma reforma e se transformou no atual projeto, um marco na avenida Faria Lima.

O destino dessa construçao é sintomático do destino do dinheiro e da descaracterizaçcao do seu espírito nos anos que se seguiram. A partir de determinado momento, para dar conta das condições de consumo de massa sobre aquele espaçp privilegiado, o shopping começou seu próprio crescimento desordenado, análogo ao de sua cidade. (AB’SABBER, 2008)

A dependência de um empreendimento dos frequentadores de uma rua comercial foi uma relação que se inverteu durante a década de 1980. A mobilidade e a estruturação viária de São Paulo facilitaram o acesso da população aos shoppings, justificada pela popularização dos carros e consolidação do intensdo uso das marginais e avenidas arteriais da malha metropolitana. Os seguintes grandes empreendimentos foram o Shopping Eldorado e o Shopping Center Norte. Ambos instalados ao lado das marginais Pinheiros e Tietê, principais eixos viários de São Paulo, tiveram seu acesso facilitado para os frequentadores de bairros mais distantes. Ao mesmo tempo, sua implantação sobre aterros das várzeas dos rios próximos, permitiu uma arquitetura marcada pela horizontalidade do volume de lojas e o estacionamento aberto. Os estacionamentos previstos pela primeira vez garantiu uma sensação de segurança em relação ao carro, que na época era símbolo da modernidade da família paulistana. No final da década de 1990 a implantação dos shoppings começou a utilizar lotes menores dentro de bairros residenciais. A volumetria horizontal deu lugar a grandes blocos verticais, detacando-se da paisagem local como marco da região. Nesta época, o modelo dos boxed (VARGAS, 2000) foi amplamente difundido na cidade. Atualmente os empreendimentos cresceram e as empresas que operam a construção e gestão se transformaram em holdings que controlam várias unidades dentro e fora do Brasil. A BrMalls, por exemplo, é uma empresa de Pompeia, dois usos Foto: MLSIRAC,

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capital aberto e gerencia aproximadamente 52 empreendimentos no Brasil. A alta lucratividade dos shoppings criou um mercado investidor que buscou novas soluções imobiliárias para agregar mais valor ao empreendimento. Assim, os novos shoppings Cidade Jardim e Iguatemi JK, ambos na zona sul de São Paulo, abrigam lojas de luxo e o entreternimento vinculados a torres de habitação e escritórios executivos. Uma cidade dentro da cidade. O crescimento dos shoppings em São Paulo raz uma competição por novos consumidores. Regiões como a zona oeste e sul tem avenidas com dois ou três shoppings locados. Porém, a concorrência entre os shoppings começa a criar vacância dos espaços alugados aos lojistas, apontando para uma possível saturação do número de consumidores.

A política neoliberal, desenvolvida em São Paulo desde o início da década 1990, subordinou o planejamento urbano às práticas e vontades do capital. Essa política urbana, somada à falta de investimento em espaços públicos, possibilitou a criação de uma atmosfera de valorização dos shoppings e áreas de lazer intramuros em detrimento dos lugares comuns e epaços livres da cidade. Para a realidade paulistana, o resultado dessa política é pontencializado pela ilusão dos shoppings frente à uma generalização do sentimento de medo e violência urbana.

REFLEXÃO CRÍTICA

[...] se esse dado do fechamento intramuros apresenta, numa perspectiva matemática, uma relação difícil com a cidade (ou o entorno), por outro lado é um dos aspectos que assegura aos SC [shopping centers] apresentarem-se como verdadeiros contrapontos às deficiências de infra estrutura das grandes cidades. (SEGAWA, 2012)

Na metrópole, o desequilíbrio de qualidade e quantidade entre os espaços privados dos shoppings e os públicos das praças e parques infere a existência de uma crise do lazer. Parques fechados e praças com ausência de mobiliário contrastam com os espaços dos shoppings e seu interior em ótimo estado de manutenção, que valorizam o encontro e o convívio, mesmo que em um ambiente privado. 34

Shopping Iguatemi, Projeto original, 1960 Autor desconhecido


Recentemente, um fenômeno interessante ocorrido no ambiente dos shoppings colocou em pauta conflitos importantes de nossa política social e urbana. Organizados por jovens da periferia, os eventos que ficaram chamados como “rolezinhos” incomodaram pelo deslocamento que geraram, ao evidenciar algo “fora de seu lugar”. Ao mesmo tempo, colocaram imediatamente em discussão a realidade da ausência de espaços de lazer que força a buscar outras áreas de socialização. Como já explicado aqui, os shoppings são espaços privados de uso público e, portanto, abertos para qualquer pessoa. Mas os administradores de shopping impediram nestes casos a a entrada desses jovens, afirmando que “o shopping não foi projetado para este uso”. Mais do que não pertencerem ao estereótipo do potencial consumidor, a questão colocada neste conflito é a exposição de diferenças. No shopping, expõe-se vontades privadas sobre o espaço social, que resulta numa segregação inexistente nos espaços realmente públicos da cidade. Que o produto shopping center já nasce como um projeto de segregação e celebração do consumo nós já sabemos de longa data. O que pareceu surpreender foi que a cultura dos participantes de rolezinhos – expressa em músicas, roupas e atitudes – seja justamente a celebração do consumo… Como entender, então, essa “invasão” e o incômodo que ela provoca? (ROLNIK, 2013)

A crise do lazer público não é dominante apenas para os jovens da periferia, grande porcentagem da população residente em São Paulo utiliza-se dos espaços privados dos shoppings para o lazer durante os finais de semana. Uma conclusão inicial é a de que o uso dos espaços do shopping transcende a finalidade de consumo e traz o lazer como um grande atrativo. Isso pode ser justificado pela carência de uma consciência cultural coletiva de usos dos espaços livres e comuns da cidade.

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04 L UGA R

A cidade de São Paulo vive há anos uma crise de espaços públicos, por falta de novos projetos e manutenção dos existentes. Os espaços começam a se definhar frente as novidades das realidades dos shoppings. Assim, eventos opção das pessoas para dentro desse empreendimentos tornam-se frequentes durante os finais de semana da cidade. Em uma reportagem do jornal Folha de São Paulo foi afirmado que 70% (outurbo/2013) dos paulistanos frequentam os shoppings nos finais de semana. E mesmo sabendo dos problemas metodológicos desse tipo de pesquisa, presenciamos shoppings e academias lotados enquanto praças locais e as calçadas vazias. Talvez um modismo, uma falta de segurança, uma falta de qualificação dos espaços públics? Talvez estejamos perdendo o senso de coletivo e público para tornarmos cidadãos com vidas intramuros reféns do ar-condicionados dos shoppings e carros? As teorias estudas e análises críticas desenvolvidas nos capitulos anteriores serviram de base para um entendimento da relação espaço-consumidor desenvolvido nas ruas, shoppings e áreas de comércio, somado a uma reflexão sobre a ausência de espaços públicos da cidade. A seguir, apresento uma contraproposta à lógica dos shoppings em São Paulo, como uma tentativa de pensar novas possibilidades de interação entre uso público dos espaços privados de consumo. O projeto se apoia na análise do bairro do Tucuruvi, situado na zona norte de São Paulo, como aproximação conceitual para essa reflexão. A análise da região dentro da escala da metrópole e do bairro será feita de maneira breve, a partir das percepções de um morador da região. Com o entendimento da escala do bairro nas suas dinâmicas urbanas, sociais e econômicas frente à implantação do Shopping Metrô Tucuruvi construído em 2010, proponho um projeto alternativo que consiga englobar consumo, lazer e convívio coletivo. Desenho. Vista do Shopping Metrô Tucuruvi e muro do pátio de manobras

37


SERRA DA CANTAREIRA

Av. Dr. Antonio de Maria Laet

tucuruvi

parada inglesa

jardim são paulo

santana

Av. Drumond Vilares

CAMPO DE MARTE

PARQUE DA JUVENTUDE carandiru

terminal tietê

armênia

tiradentes Marginal Tietê

luz

Av. Tiradentes

Av. do Estado

CENTRO DE SÃO PAULO


TREMEMBÉ

CENTRO DE GUARULHOS

Av. Jaçanã

O bairro do Tucuruvi está localizado entre a marginal Tietê, a perfiferia da zona norte de São Paulo e o município de Guarulhos. O viário que interliga essas duas regiões com a marginal Tietê é estruturado pela Avenida Drumond Vilares: uma via de tráfego rápido que estrutura o acesso ao centro da cidade de São Paulo e funciona como uma centralidade de entreternimento com restaurantes e bares atraindo dos moradores da região. O deslocamento diário de grande parte dos moradores da região norte é realizado pela Linha 2 Azul do Metrô. Criada na década de 1990 até a estação santana, foi ampliada em 2000 até a estação Tucuruvi, que hoje também abriga um pátio de manobras e um Terminal Ônibus Metropolitano. A região do Tucuruvi constui-se como uma centralidade, justificada pela estação final do eixo norte-sul do Metrô e pela conectividade através dos ônibus intermunicipais com o centro do Município de Guarulhos. 39


20

40

80

200

SITUAÇÃO BAIRRO TUCURUVI. GoogleMaps (2014)


A leitura dos usos predominantes no bairro constata que ele é constituído por habitações unifamiliares térreas, tal como a típica morfologia de outros bairros residenciais do município. A atividade econômica predominante de comércio e serviços locais, situados nos eixos da Av. Guapira, Av. Mazzei e Av. Tucuruvi. Localizado na bacia do córrego Maria Laet, o bairro está implantado sobre uma topografia acidentada. A estação de Metrô Tucuruvi está situada na parte inferior do vale, junto a avenida Maria Laet, eixo de ligação entre a zona norte de São Paulo e o centro de Guarulhos. 41


SERRA DA CANTAREIRA

Av. M a

zzei

Av. Tucuruvi AVENIDA DRUMOND VILARES

CENTRO DE SÃO PAULO RUA PAULO DE FARIA

20

42

80

200

SISTEMA VIÁRIO BAIRRO TUCURUVI GoogleMaps (2014)


TREMEMBÉ

Antonio Av. Dr.

Maria

Laet

CENTRO DE GUARULHOS

Av. G uapira

O sistema viário do bairro do Tucuruvi é estruturado por duas avenidas locais: Av. Mazzei e Av. Guapira, e uma regional: Av. Maria Laet, ligação entre o centro de São Paulo com o Município de Guarulhos. Essas três vias são paralelas entre si e ruas locais perpendiculares atravessam esses eixos. O trânsito diário é resultado da localização nodal do bairro e do subdimensionamento das vias, as quais funcionam também como parada dos ônibus metropolitanos e embarque/desembarque dos usuários do metrô. 43


Comércio regional, lojas maiores, maior abrangência

20

44

80

Comércio local, próximo à área residencial

200

Shopping Metrô Tucuruvi, comércio regional com grande concentração

EIXOS DO COMÉRCIO LOCAL GoogleMaps (2014)


Comércio mais local, próximo à área residencial

O comércio desenvolvido no bairro tem uma escala local de abastecimento, embora constituído por lojas de segmentos diversificados. Os eixos da Avenida Mazzei e Guapira desenvolvem uma comercialização de produtos triviais, com pequenos mercados, açougues e padarias, o gênero alimentício é predominante. A Avenida Tucuruvi desenvolve um comércio regional, com lojas de franquias destinadas ao comércio de eletroeletrônicos, móveis e calçados elas abastecem o entorno e regiões periféricas ao bairro 45


46

FOTOS COMÉRCIO LOCAL AV. MAZZEI Acervo pessoal


47


Subprefeitura do Tucuruvi

20

48

80

Estação Metrô Tucuruvi

200

Shopping Metrô Tucuruvi

PONTOS DE REFERÊNCIA E ÁREAS VERDES LIVRES GoogleMaps (2014)


assentamento precário com 60 famílias

Caixa d’água do Bairro Guapira

Clube dos Alemães

Córrego Maria Laet

As áreas verdes do bairro são constituídas por espaços privados ou terrenos baldios, como o Clube dos Alemães e a Caixa d’água do bairro. Assim, a única área verde pública é a várzea do córrego Maria Laet e parte do pátio de manobras do Metrô. A primeira é hoje ocupada por um asentamento precário informal, consolidado às margens do córrego e abriga, aproximadamente, 60 famílias. 49




V

V

V

V V

V

V V

V

V V

V

V

100

175

135

120

155

175

V

V

V

V V

V

V V

V

V V

V

V

20

52

80

200


TRAVESSIAS

V

situação

V

novos cruzamentos propostos

FLUXO DE PESSOAS

V

situação

V

nova distribuição de fluxos

53


900 METROS

54

DIAGRAMA DA PROPOSTA


REFLEXÃO SOBRE CENTROS DE CONSUMO MÉTODO = PROJETO

METRÔ + PÁTIO DE MANOBRAS

SHOPPING METRÔ TUCURUVI

20 CASAS

TERRENO

55


05 CONT R APR O PO S TA


05 CONT R A P R O P O S TA

O projeto do Shopping Metrô Tucuruvi implantado no bairro conjuga o espaço de consumo sobre o terminal de ônibus metropolitano e a estação de metrô da linha azul. O programa do empreendimento organiza 250 lojas, totalizando uma área bruta locável de 32 mil m2, entre cinco pavimentos. Ainda, abriga um estacionamento para 2 mil veículos localizado na parte superior da edificação. A implantação de um projeto fechado como é o do shopping somado ao pátio de manobras adjacente criam uma barreira física na malha urbana local. O trânsito dos pedestres e veículos ficam restritos a Avenida Tucuruvi, a mesma que abriga o acesso ao metrô e o terminal de ônibus metropolitano, resultando numa aglomeração de fluxos da escala local, regional e metropolitana. A situação caótica do bairro é conhecida há muitos anos, entretanto o projeto do shopping, inaugurado em 2012, não trouxe soluções estruturais para a área, pelo contrário, apenas agravou a situação criando um novo fluxo: os consumidores. A ausência de uma contrapartida urbana por parte dos construtores do shopping, mostra mais uma vez uma política negligente por negociar e permitir uma construção desse porte dentro da escala do bairro sem nenhuma melhoria urbana para o entorno. Frente ao projeto imposto ao bairro, porém, sem desconsiderar a necessidade de uma reorganização espacial do mesmo, inicio uma reflexão projetual utilizando a mesma localização do atual, desconstruíndo o programa e adicionando novos espaços condizentes a escala do Tucuruvi. A contraproposta, termo justificado pela crítica ao projeto implantado, é uma reflexão sobre as crises do espaço público e o modelo paulistano de lazer dentro dos shoppings. Deste modo, desenvolvo uma proposiçao onde o espaço público abriga o privado, afim de estruturar uma diversidade de usos promovendo uma dinâmica urbana.




ACESSO AO METRÔ

a

a

5

20

50

ACESSO AO METRÔ

CICLOVIA

c

b

TERMINAL DE ÔNIBUS METROPOLITANO

EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS

deslocar

5

20

c

b

CORREDOR DE ÔNIBUS METROPOLITANO

CENTRO DE COMPRAS

CENTRO DE COMPRAS LOCAL

comprar

d

e

d

e EDIFÍCIO RESIDENCIAL 1

PARQUE NOVO CÓRREGO

PASSEIO PÚBLICO

habitar

ver

50

trabalhar

5

20

CINEMA AO AR LIVRE

TEATRO

50

IMPLANTAÇÃO E USOS DO LUGAR CORTE · ELEVAÇÃO


PRACINHA f

EDIFÍCIO RESIDENCIAL 3

g

g

f SALAS DE CINEMA

PISCINAS PÚBLICAS

EDIFÍCIO RESIDENCIAL 2

brincar

ATIVIDADES ESPORTIVAS

APOIO E SANITÁRIOS

jogar

habitar

acessar

ler

BIBLIOTECA PÚBLICA

CICLOVIA

PARQUE LINEAR


TRANSPOSIÇÃO DO TRABALHAR a

b

a

terminal de ônibus metropolitano

planta 771 · térreo 5

20

TRANSPOSIÇÃO DO COMPRAR

b praça de alimentação acesso ao terminal

TRANSPOSIÇÃO DO OBSERVAR

c

d

c

d

lojas 280m2

lojas 100m2

e

e quiosques 30m2 lugar da feira

passeio público

teatro

50

rampa de acesso

laje de encontro

acesso à laje

térreo residencial

planta 776 · mezanino 5

20

acesso à rua superior

lojas com mezanino

lojas para rua

50

acesso à rua superior

planta 780 · residencial 1 5

planta 780, 784, 788 · escritórios 5

20

50

20

50

planta 783 · residencial 1 5

20

50

PLANTAS


TRANSPOSIÇÃO DO HABITAR

TRANSPOSIÇÃO DO BRINCAR

f

TRANSPOSIÇÃO DO ESTUDAR

g

g

f marquise

mercado

skate

mirante

quadras

bicicletário

biblioteca

planta 768 · residencial 3 5

20

50

planta 765 · residencial 3 5

20

50

planta 776 · residencial 2 e biblioteca 5

20

50

planta 776 · piscinas 5

20

50

planta 779 · residencial 2 e biblioteca 5

20

50

planta 782 · residencial 2 5

20

50


780 778 771

corte aa · situação 5

20

50

20

50

780 778

771

acesso ao metrô

corte aa 5

64


terminal de ônibus

acesso ao terminal

65


780 778 771

corte bb · situação 5

20

50

20

50

780 778

771

corredor + ciclovia

corte bb 5

66


plataforma

edifício de escritórios

rua de cima

67


776

771

765

corte cc · situação 5

20

50

20

50

776

771

765

corte cc 5

68


transposição do trabalhar

centro de compras

lojas de rua

69


776

771

765

corte dd · situação 5

20

50

20

50

776

771

765

corte dd 5

70


pátio de manobras

residencial 1 quiosques + feira

lojas de rua

71


775 771

765

corte ee · situação 5

20

50

775 771

765

corte ee 5

72

20

50

transposição do observar


pátio de manobras

teatro passeio público

rua de cima

73


777

771

764

corte ff · situação 5

20

50

777

771

764

residencial 3 pracinha

corte ff 5

74

20

50

paque novo córrego


transposição do habitar

marquise passeio público

rua de cima

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771

764

corte gg · situação 5

20

50

20

50

771

764

corte gg 5

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corredor + ciclovia

transposição do brincar

residencial 2 + mercado

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A reflexão projetual apresentada nesses desenhos ilustra minha vontade de pensar os lugares de consumo na cidade de forma integrada ao viver coletivo. O lugar do shopping como espaço privado único e excludente não cabe mais na dinâmica da cidade contemporânea. Por isso, proponho uma contraproposta ao modelo vigente, imaginando novos espaços para as relações humanas. Os croquis e cortes aqui expostos sugerem o raciocínio desenvolvido para se pensar esse projeto. Diferentemente da seção síntese da arquitetura moderna, eles demonstram a reflexão da relação do usuário com a topografia e o transporte metroviário. A laje colocada sobre o pátio de manobras da Linha 2 Azul do Metrô, propõe uma nova cota ao uso urbano. Anteriormente esquecida pelo entorno, a grande área do pátio se configura como um obstáculo a ser transposto. A idéia de trazer uma cobertura para criar um novo uso sobre os vagões, que não precisam de grandes estruturas para a manutenção, foi retirada das linhas novaiorquinas de metrô. Elas, há décadas, estão localizadas no subsolo da cidade, junto a cota -10m em relação ao solo e não dependem de grandes vãos para desenvolver o sistema. A laje sobre o pátio define a cota 771m e é estruturada por pilares metálicos colocados entre os eixos do boleto do metrô. A implantação do projeto traz uma abertura para o vale do bairro Tucuruvi, um respiro entre a densa ocupação do entorno, que cria um espaçamento visto por todos que habitam a topografia. A nova cota criada é um eixo estruturado de programas e transposições, composto por 7 passagens tranversais ao vale. Cria-se uma trama de passarelas que em alguns momentos transpõem a av. Maria Laet e em outros terminam na calçada adjacente ao pátio. Os programas que habitam a laje trazem um múltiplo uso além da passagem. Iniciando-se na saída do metro, existe um Terminal de ônibus Intermunicipal com capacidade para 15 linhas. Logo sobre os ônibus e seus passageiros cria-se uma cota secundária, 776m, com o objetivo de alinhar à rua acima, Paulo de Faria. E também criar um térreo livre ao acesso do prédio de escritórios, implantado acima do terminal. Na continuação de uma leitura longitudinal, entra-se numa volumetria assimétrica com um conjunto de lojas implantadas para a laje e outras alinhadas à rua Paulo de Faria. Esse volume composto por vitrines vai decrescendo conforme a topografia da rua de cima, uma variação de até quatro metros que dimensiona as lojas da rua à escala do pedestre. Saindo do bloco de lojas encontra-se um volume de trinta metros de altura, um teatro para aproximadamente cem pessoas que marca a paisagem com a sua volumetria. 78


A possível abertura do palco através da caixa cênica pode configurar uma apresentação ao ar livre, pois existem bancos e área livre para os expectadores.A volumetria do teatro estende-se abrigando três salas de cinema, assim, conclui-se o núcleo da cultura. Andando, logo após das salas de cinema, uma estrutura metálica suspende duas piscinas de vinte metros, e cria uma marquise para usos múltiplos embaixo dela. Essa mesma estrutura apóia uma arquibancada de madeira que junto com um morro de grama configuram um anfiteatro, de pequena escala para o brincar das crianças. A travessia do habitar, logo a frente das piscinas, leva o morador à habitaçao 3 localizada do outro lado do vale, por uma estrutura que atravessa a Av. Maria Laet e o parque novo córrego, nome dado a requalificação do córrego adjacente ao projeto. A habitação 3 é um conjunto de apartamentos de 75m2 destinados à população de baixa renda que habitava o terreno. As precarias casas abrigavam aproximadamente 60 famílias, todas redistribuídas pelos edifícios residenciais do projeto. Voltando para o eixo da laje da, um conjunto de quadras e pista de skate equipam a área de esportes. E um bloco com serviços de apoio e bicicletário anexo à última transposição serve de apoio ao frequentadores da área de esportes. Oposto ao bloco de serviços, existe uma biblioteca de três andares conjugada a uma passarela e a um prédio de habitação com o térreo destinado ao um uso comercial, no caso um mercado. Enquanto todos esses programas acontecem em simultâneo as atividades privadas de consumo das lojas, abaixo, na cota 764 os vagões vazios são limpos e preparados para a próxima jornada.

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TERMINAL DE ÔNIBUS METROPOLITANO E EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS


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82

CENTRO DE CONSUMO E LAJE DE PASSEIO PÚBLICO


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CINEMA, TEATRO E PASSEIO PÚBLICO


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LAZER, PRÁTICAS ESPORTIVAS E HABITAÇÃO


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CONS ID E R A Ç Õ E S F I N A I S A metrópole contemporânea é constituída por pessoas e suas histórias, as quais são derivadas dos símbolos urbanos e relações sociais construídas dentro dos espaços da cidade. A significância dos elementos urbanos transcende a funcionalidade da arquitetura e a temporalidade dos edifícios. A cidade de São Paulo é construída a partir de uma lógica de fragmentação do espaço. Os usos da cidade em seus espaços intramuros e controlados por uma administração privada faz do shopping o maior representante da ideologia espacial existente. Presentes em várias metrópoles, o shopping center desenvolve uma lógica segregadora na realidade paulistana. Os espaços devem ser um reflexo da vontades de quem os idealiza, e consequentemente aceitados ou negados por quem os utiliza. Os shoppings são amplamente consumidos, ou seja, aceitados pelos frequentadores. Uma apropriação do espaço e consequentemente da ideologia empregada dentro dele. A discussão sobre o ambiente privado do shopping em concorrência ao público vai além da ausência ou qualidade de cada projeto, está no campo ideológico de quem os produz e quem os consome. E enquanto isso os shoppings vão crescendo e o frequentadores trocando as nossas praças pelos corredores dos espaços de consumo e lazer.

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AN EXO S


CORTES COM PROPOSTA S INICIAIS PARA USO DO PÁTIO DE MANOBRAS DA LINHA AZUL DO METRÔ

SEÇÕES DE ESTUDO PARA COMPREENSÃO DO VALE. EIXO ESTRUTURADOR DO BAIRRO DO TUCURUVI 93


PLANTAS DE ESTUDO PARA ELEMENTOS DO PROGRAMA BIBLIOTECA esc 1.:1000

94


PLANTAS DE ESTUDO PARA ELEMENTOS DO PROGRAMA TEATRO esc. 1.:500

PLANTAS DE ESTUDO PARA ELEMENTOS DO PROGRAMA EDIFÍCIO DE ESCRITÓRIOS esc 1.:1000

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