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SALVADOR 31/1/2015

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EDITORA-COORDENADORA: SIMONE RIBEIRO / DOISMAIS@GRUPOATARDE.COM.BR

LANÇAMENTO GRAVADO NO RIO DE JANEIRO, NOVO DVD DO GRUPO SORRISO CONTOU COM SUPERPRODUÇÃO E PARTICIPAÇÃO DE ANITTA 2

RONALDO JACOBINA LITERATURA E ALEGRIA É O TEMA DO CAMAROTE MARTA GÓES 5 Felipe Panfili / Divulgação

Arte Bruno Aziz

MEMÓRIA Projeto recupera o legado do compositor baiano Humberto Porto, coautor da clássica marchinha A Jardineira

Um jardim com banzo e beleza VERENA PARANHOS

À sombra de uma jardineira, a memória de Humberto Porto (1908-1943) tentou sobreviver nas últimas décadas. O baiano, compositor de sucessos que marcaram a Era do Rádio e chegaram às vozes de artistas como Carmen Miranda, Orlando Silva e Dalva de Oliveira, é mais um dos importantes personagens da música brasileira que ficou esquecido. Setenta e dois anos depois de sua morte, a família, cuja mais nova geração também tem um pé na música, busca preencher esta lacuna com o projeto O Jardim de Humberto Porto, que conta com o patrocínio de R$ 30 mil da Fundação Cultural do Estado, via Fundo de Cultura. A iniciativa vai recuperar o acervodecançõesdocompositor da marchinha A Jardineira (em parceria com Benedito Lacerda), sucesso desde o Carnaval de 1939. A música conhecida pelos versos “Oh, jardineira, por que estás tão triste?” foi feita após uma temporada em Mar Grande e tem como referência um folclore da Ilha de Itaparica. “Aspessoassabemasmúsicas dele, mas não têm conhecimento do compositor. O nosso interesse é que esse acervo esteja acessível para que se conheça a história e as músicas dele”, explica Thiago Pondé, sobrinho-neto do músico, que assina a direção artística do projeto. Depois de tanto ouvir as histórias do parente célebre, o interesse foi retomado pelos sobrinhos-netos, em 2011, dois anos antes das composições de Porto entrarem em domínio público (exceto as parcerias). A pesquisa feita pela família catalogou 35 músicas de autoria do compositor, mas só conseguiu recuperar 29. Destas, 12 canções foram selecionadas e vão integrar um disco remasterizado, que será doado a espaços públicos de memória e música. Orepertóriotambémserábase para o show de lançamento do disco, previsto para maio, que terá dramaturgia, figurino e cenário em referência à Era do Rádio. Outras canções conhecidas de Humberto Porto são Lamento Negro, Yayá Baianinha, Batuque do Morro, Este Samba Foi Feito Pra Você e Na Bahia. A obra dele vai além das marchinhas e inclui samba, samba-canção, valsa e lamento, principal herança deixada pelo artista para a música brasileira. “É importantíssimo por ter introduzido na nossa música o banzo, aquele lamento negro de saudade da África, essa melancolia e lamento na poesia e na condição melódica”, conta o historiador e especialista em MPB Luiz Américo Lisboa Junior. O legado de Humberto Porto é pouco conhecido até mesmo entre os músicos da terra. Pesquisando a história da musicalidade da Bahia desde 1999, foi que Paulinho Boca de cantor descobriu o trabalho do baiano e

resolveu gravar uma de suas músicas, Yayá Baianinha, em seu mais recente trabalho, o DVD ao vivo A História da Música na Bahia (2014). “Ele tem um pé na África. Tudo de bom na nossa música veio dos negros”, comenta um dos criadores do grupo Novos Baianos. Roberto Mendes, Simone e Martinho da Vila são outros contemporâneos que regravaram composições de Porto.

Personalidade atormentada

Desde cedo, Humberto Porto apresentou gosto para a música, primeiro aprendendo violino, que foi substituído pelo violão na juventude boêmia. Sobrinho do ilustre engenheiro Frederico Pontes, estudou engenharia civil, mas abandonou o curso por conta de problemas de saúde, o que motivou sua mudança para o Rio de Janeiro, em 1934, onde ficaria aos cuidados de um irmão médico. “Seus pais pensavam na sua saúde. Ele, porém, pensava em achar, lá, uma pessoa, um determinado amigo baiano (...) José de Assis Valente, outro torturado que já antes se fora da Bahia”, escreveu o historiador Cid Teixeira em matéria sobre a vida do compositor publicada em A TARDE, em 1987. No Rio, Porto encontrou o sucesso, foi gravado por personalidades da Era do Rádio, frequentou o boêmio Café Nice e trabalhou na Hora do Brasil como violonista (1939/1940). “Essa sina de sair de Salvador continuou com Caetano, Gil, Bethânia, Gal, os Novos Baianos. Cada um deles fez uma epopeia para conseguir viver de música. Naquela época, era mais difícil ainda”, comenta Annibal Porto, curador do projeto O Jardim de Humberto Porto. Lá, ele também encarou melancolia, solidão, crises existenciais em uma carreira de altos e baixos e dívidas. O músico cometeu suicídio aos 35 anos (uma semana após a morte do pai), um episódio traumático para a tradicional família, que viu a memória do músico se perder ao longo do tempo. “Ele era uma personalidade atormentada. Assis Valente foi outro. O suicídio foi consequência de uma série de fatores psicológicos, questões financeiras, pessoais e que culminam em uma pessoa depressiva”, afirma Lisboa Junior.

Doze músicas foram selecionadas para integrar um disco que será lançado em maio, com dramaturgia, figurino e cenário inspirado na Era do Rádio


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