Super Papo

Tendências do varejo

após a pandemia

Por Erika Torres |

SUPER PAPO

A Super Negócios entrevistou Patricia Cotti, diretora executiva do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR), sobre os principais serviços e tecnologias que ganham força no mercado de consumo

Clique e assista

Apandemia do coronavírus (COVID-19) impactou o varejo de forma significativa e exigiu que as empresas se adaptassem para não perderem espaço neste momento de crise. Considerando que o mundo pós-pandemia não será o mesmo que existiu, como entender quais serão os impactos futuros e as tendências do varejo?

A revista Super Negócios entrevistou Patricia Cotti, diretora executiva do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR), sobre a transformação do mercado devido ao coronavírus.

“Em ambientes físicos, importante atentar para a exposição dos produtos, que antes já era muito importante e agora passa a ser crucial.”

Patricia Cotti, diretora executiva do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (IBEVAR).

Patricia listou oito principais tendências que devem impulsionar o segmento após a pandemia: DIY - Do it yourself (faça você mesmo), Local circle (Círculo de consumo local), Influências peer-to-peer (arquitetura de redes de computadores), Digitalização, Compartilhamento, Downshifting e Slowlife (“Reduzir a marcha”), Interação remota e Parceria.

Aqui na revista digital falamos de quatro delas: DIY (Do it yourself), Local circle (Círculo de consumo local), Influências peer-to-peer (arquitetura de redes de computadores) e Digitalização.

A digitalização, por exemplo, sempre foi tendência, mas passou a ser sobrevivência

Já na entrevista que fizemos por vídeo disponível em nosso YouTube, falamos de outras quatro tendências: Compartilhamento, Downshifting e Slowlife (“Reduzir a marcha”), Interação remota e Parceria.

Super Negócios - Nesse novo momento, fale um pouco sobre o comportamento do consumidor. O que mudou drasticamente?

Patricia Cotti - As mudanças do consumo são refletidas na compra, ou não de produtos, mas a visualização de somente estes aspectos tende a se mostrar fraca e incerta, à medida que seus comportamentos são consequência de mudanças psicológicas e sociais mais profundas. Os principais aspectos humanos considerados diante da pandemia são:

SUPER PAPO

Medo e insegurança financeira – a perda de renda e a incerteza com relação ao futuro faz com que os consumidores acabem optando por compras mais “necessárias” e “seguras”, com diminuição dos ditos “gastos supérfluos e não essenciais”. Por não se conhecer o cenário, o indivíduo tende a se arriscar menos, mantendo sua segurança futura.

Medo e insegurança da saúde – a crise sanitária traz insegurança com relação à vida do indivíduo e de seus entes próximos, o que ocasiona em novas valorizações como “família”, “aspecto de limpeza da loja”, “valorização de vida saudável”, dentre outros.

Confinamento – a perda da liberdade faz com que o indivíduo se veja diante de “restrições”, em movimentos de ansiedade e necessidade de conexão com o mundo. Tal aspecto gera consequências em produtos de indulgência (aumento do consumo de bebidas alcoólicas, “brigadeiros”, “cremes de avelã”) e também de necessidade de se sentir útil (aumento da busca de conhecimento – livros, cursos, lives, aumento da prática de esportes indoor).

Ressignificação de produtos – consequência de todas as anteriores, o consumidor começa a ver sua vida de forma diferente, e seu consumo também. “Estou sem este item, e ele não me faz falta” ou “este item que nunca precisei é tão importante”. Isso faz com que o aspecto de “necessidade” diante de qualquer compra mude, e consequentemente, a solução também.

SUPER PAPO

Super Negócios - Olhando para o início da pandemia, existe algum comportamento que era esperado do consumidor, mas não aconteceu? Houve algo que surpreendeu?

Patricia Cotti - A grande surpresa se deu em Relação à velocidade das transformações. O impacto gerado nos negócios foi grande e as empresas tiveram de se readaptar de maneira rápida. A digitalização, por exemplo, sempre foi tendência, mas passou a ser sobrevivência. E esta digitalização vai muito além do e-commerce. Aplicativos de entrega, vendas por WhatsApp, otimização dos meios digitais disponíveis para conseguir atender o consumidor de maneira rápida e efetiva. Outra surpresa foi a revitalização das redes sociais, de forma diferente da maneira como elas estavam sendo consideradas. As redes sociais ganharam novos papéis, de comunicação peer to peer, de troca, interação em tempo real, e não somente de exposição de ideias.

Super Negócios - Quais as principais dicas para o setor supermercadista?

Patricia Cotti - Em ambientes físicos, importante atentar para a exposição dos produtos, que antes já era muito importante e agora passa a ser crucial. Isto porque o consumidor está ficando (ou buscando ficar) muito menos dentro de loja, focando-se em compras rápidas. A média de tempo dentro de loja, que já foi de 120 minutos, hoje é de menos da metade disto. A questão da limpeza e arrumação também é fundamental. Lojas com muitos produtos expostos de maneira confusa tendem a parecer menos seguras do que lojas abertas, com “cheiro de limpeza”.

Outra dica é a atenção necessária ao correto mix de produtos. Os hábitos dos consumidores mudaram e, com isto, a escolha de seus produtos também. Alimentação saudável, pratos prontos, tem se mostrado tendência. Estude e entenda quais são estas alterações em seu negócio para a correta previsão de demanda e não existência de ruptura ou perda de estoque.

SUPER PAPO

DIY (Do it yourself)

O movimento de “Faça você mesmo”, do inglês “Do it yourself”, começou na década de 70 como rejeição à ideia de comprar produtos de comerciantes terceiros e se expandiu no mercado. “Uma ampla variedade de bens, como roupas, calçados, joias, mobiliários, alimentação funcional, software, e até energia, começa a ser produzida em escalas menores e particulares”, comenta Patricia.

O conceito “DIY” sofre influência direta da pandemia, à medida que pessoas e processos produtivos se misturam diante dos confinamentos e restrições de compra. O prazer de “fazer você mesmo” começa a ser, de novo, inserido no dia a dia do consumidor, bem como os benefícios trazidos pelo modelo, sejam financeiros ou emocionais.

LOCAL CIRCLE (Círculo de consumo local)

A ideia de “círculo de consumo local” está direcionada ao incentivo do consumo de produtos vendidos localmente e de forma segura, que ajudam os pequenos comércios a preservarem sua economia. Com a crise econômica da COVID-19, essa atividade deve se consolidar, com posterior impacto e reforço no comportamento de compra de todo mercado.

“Podemos notar uma forte causa nas redes sociais, por exemplo, em prol da sustentabilidade financeira dos pequenos comerciantes e empreendedores regionais”, avalia a executiva.

INFLUÊNCIAS PEER-TO-PEER (arquitetura de redes de computadores)

As redes sociais de pessoas em todo o mundo são fator dominante no consumo democratizado e influenciam as decisões de compra de produtos e serviços. Plataformas digitais concorrentes e complementares fornecem acesso a informações detalhadas do produto e expõem as experiências dos indivíduos. Reflexo direto da segurança e transparência das novas interações, as influências “peer-to-peer” são reforçadas em um cenário pós- -crise, no qual confiança e instabilidade tomam a frente em relações até então não exploradas.

DIGITALIZAÇÃO

A digitalização sofre aceleração de anos em apenas meses. O mundo virtual e real se fundem cada vez mais, em processos de automação, networking, gerenciamento da cadeia de suprimentos, relação com ambientes e sociedade, plataformas de compras multimídia, abordagem individual e personificada, prateleiras virtuais, facilidades de entrega e acesso irrestrito a produtos. “Se é certo que o digital já se apresentava como uma tendência e desafio, agora ele se torna mais do que uma necessidade das organizações. E não mais pelo caráter de inovação, até então buscado, mas como uma resposta às mudanças no modo de consumo dos brasileiros”, conclui a especialista.

Quer saber sobre as outras quatro tendências do varejo pós-pandemia? Fizemos um vídeo disponível no nosso YouTube falando sobre Compartilhamento, Downshifting e Slowlife (“Reduzir a marcha”), Interação remota e Parceria. Confira!