Excursão Geológica “Outra forma de olhar o Arquipélago das Berlengas: Histórias com Milhões de Anos”

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Excursão Geológica “Outra forma de olhar o Arquipélago das Berlengas: histórias com milhões de anos” * Guião de Campo


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FICHA TÉCNICA

ficha técnica

TÍTULO Excursão Geológica “Outra forma de olhar o Arquipélago das Berlengas: histórias com milhões de anos” AUTORES José Romão Universidade Europeia Laboratório Nacional de Energia e Geologia

Mónica Sousa Associação Portuguesa de Geólogos

EDIÇÃO Associação Portuguesa de Geólogos, 2016


Excursão Geológica “Outra forma de olhar o Arquipélago das Berlengas: histórias com milhões de anos” * Guião de Campo

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ÍNDICE Introdução………………………………………………………………………………………………………………

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A idade das rochas………………………………………………………………………………………………….

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Como se pode estimar a idade de uma rocha?.…………………………………………….

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Mas como podemos atribuir uma idade absoluta às rochas?………………………..

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Que minerais se podem datar? …………………………………………………………………….

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A Região de Peniche……………………………………………………………………………………………….

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Um laboratório no campo…………………………………………………………………………….

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Enquadramento geológico……………………………………………………………………………

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O ciclo geológico e a geohistória da região de Peniche…………………………………

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Locais de interesse geológico……………………………………………………………………….. 14 Horst do arquipélago das Berlengas: planalto de granito rosa da Berlenga e os picos metamórficos dos Farilhões…………………………………………………………….

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Geossítios da Berlenga…………………………………………………………………………………. 16 Conclusão………………………………………………………………………………………………………………. 19 Referências bibliográficas……………………………………………………………………………………….

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Glossário………………………………………………………………………………………………………………… 21 Anexo……………………………………………………………………………………………………………………… 25


INTRODUÇÃO O planeta Terra é um planeta extremamente dinâmico à escala geológica, estando sujeito a inúmeras transformações que o vão moldando de forma intensa. Montanhas emergem devido à colisão das placas tectónicas e são, posteriormente, arrasadas pela meteorização e erosão. A terra estremece perante o romper de um sismo, lembrando-nos que o planeta está em constante modificação. Novos continentes e oceanos são formados devido à constante movimentação das placas tectónicas. Inúmeros rios escavam abruptos vales, modelando ao longo dos tempos a paisagem. As rochas e os fósseis falam-nos dos ambientes em que foram formados e de seres vivos hoje já extintos, fazendo-nos imaginar mundos antigos. A Terra é, assim, um planeta “vivo”, repleto de histórias para contar.

Embora aos nossos olhos a geografia e a paisagem permaneçam quase estáticas, elas vão sendo modificadas ao longo do tempo geológico (contado em milhões de anos) e novos mundos vão sendo criados. Esta excursão geológica pretende dar a conhecer a evolução geológica do Arquipélago das Berlengas, desde os tempos mais antigos até aos mais recentes. A visita será realizada através de um percurso pedestre e de um percurso de lancha na ilha da Berlenga, onde se poderão observar e interpretar vários aspetos litológicos, geomorfológicos e tectónicos desta ilha (Fig. 1).

Fig. 1 – Mapa da Reserva Natural da Berlenga com a representação dos percursos a realizar. P1- Traçado do percurso pedestre. P2- Traçado do percurso de lancha (adaptado de ICNF).

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A IDADE DAS ROCHAS COMO SE PODE ESTIMAR A IDADE DE UMA ROCHA? A determinação da idade das rochas pode ser efetuada através de diversas metodologias que têm como fim indicar a sua idade relativa ou absoluta. A análise das relações espaciais de contacto de um conjunto de rochas que ocorrem num determinado afloramento ou local permite estabelecer uma hierarquia sequencial de idade relativa para as rochas do referido conjunto, ou seja, permite identificar de forma qualitativa a relação temporal entre rochas mais recentes e mais antigas (Fig. 2). Partindo do princípio que, não havendo perturbações, as camadas se depositam na horizontal, então pode deduzir-se que sempre que elas não se dispõem na horizontal, qualquer que seja o desvio desta posição, deve ser interpretado como resultado de fenómenos posteriores à sua formação. Na maioria dos casos, a modificação resulta da atuação de movimentos tectónicos (posteriores) que as bascularam ou dobraram – Princípio da Horizontalidade Inicial. Se, por exemplo, estivermos perante uma sucessão sedimentar, que não tenha sofrido modificações desde a sua deposição, conclui-se que as camadas mais

recentes se encontram por cima das mais antigas – Princípio da Sobreposição de Nicholas Steno (1638 – 1686). Se, por outro lado, se observar um corpo geológico a intersectar uma determinada rocha ou camada, pode afirmar-se que esse corpo é posterior ao material que está a ser interrompido – Princípio da Intersecção. Este tipo de análise geométrica pode também ser aplicado na observação das relações estruturais dentro das próprias rochas. Assim, uma unidade geológica será posterior a outra se contiver fragmentos dela no seu interior – Princípio da Inclusão. Alguns fósseis são também utilizados para atribuir uma idade às rochas, sendo por isso muitas vezes designados por “marcadores do tempo”, ou seja, permitem reconhecer e individualizar determinados conjuntos de estratos e relacioná-los com outros com o mesmo conteúdo fossilífero – Princípio da Identidade Paleontológica. Estes fósseis designam-se por fósseis de idade ou fósseis característicos e representam organismos de curta longevidade, mas que tiveram uma ampla distribuição geográfica e uma rápida evolução.

Fig. 2 – Relações geométricas entre unidades geológicas.

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MAS COMO PODEMOS ATRIBUIR UMA IDADE ABSOLUTA ÀS ROCHAS? A descoberta da radioatividade no século XIX possibilitou aos geólogos calcular a idade exata ou absoluta de uma rocha, ou seja, permitiu saber quando essa rocha se originou e assim contribuir para a reconstituição mais precisa da história geológica de uma determinada região. São vários os elementos radioativos, também designados por isótopos, que podem ser utilizados na datação das rochas, dependendo do seu tempo (taxa) de decaimento, ou seja, do tempo que leva a desintegrar o seu núcleo. A grande maioria dos isótopos radioativos tem taxas de decaimento rápidas, isto é, perdem a sua radioatividade em poucos anos ou mesmo em poucos dias. Porém, para a datação radiométrica das rochas é necessário utilizar isótopos radioativos que tenham uma meia-vida longa, ou seja, que o tempo necessário para que se desintegre metade dos seus núcleos seja lento. É o caso, por exemplo, do urânio (238U) que decai para chumbo (206Pb) com um tempo de meia-vida de cerca de 4,47 x 109 anos ou do rubídio (87Rb) que decai para estrôncio (86Sr) com um tempo de meia-vida de cerca de 48,8 x 109 anos. Os isótopos descritos foram utilizados para determinar a idade do granito das Berlengas. Na década de 60 foi publicada a primeira idade radiométrica do granito da Berlenga, a partir de uma amostra colhida na Berlenga Grande; de facto, a idade estimada foi de cerca de 280 milhões de anos, obtida pelo método 87Rb/86Sr a partir de rocha total (Priem et al., 1965). Mais tarde, Valverde et al. (2010) consideraram que o mesmo corpo granítico solidificou há cerca de 307 milhões de anos, utilizando o método 235 U/207Pb. Os mesmos geocronólogos estimaram ainda através de idêntica metodologia que a idade do pico do metamorfismo térmico das rochas mais antigas, que constituem os Farilhões e as Forcadas (micaxistos, paragnaisses e migmatitos), é de cerca de 377 milhões de anos, e que a intrusão das apófises graníticas nestas rochas ocorreu há cerca de 483 milhões de anos. Se compararmos as idades verificamos que são

diferentes, sendo mais precisa a determinação mais recente, dado que no método 87Rb/86Sr as concentrações de rubídio e estrôncio nos minerais não são homogéneas, tendo-se estimado a idade através de concentrações médias da rocha total. Na estimativa da idade 235 U/207Pb foram utilizadas as concentrações de chumbo que se encontram atualmente nos minerais zircão e monazite.

QUE MINERAIS SE PODEM DATAR? Dependendo do tipo de rocha que se pretende datar e do método a utilizar são selecionados minerais que irão permitir determinar a sua idade e, consequentemente, a idade da rocha onde estão inseridos. Os minerais mais comuns utilizados em Geocronologia são o zircão, a monazite, a moscovite, a biotite, a horneblenda, a microclina, a granada, entre outros. De todos estes minerais, o zircão é considerado como um dos melhores geocronómetros, cuja idade é determinada pelo decaimento dos isótopos de urânio para chumbo (Fig. 3). Porém, no processo de datação das rochas há que ter alguns cuidados relativamente à organização interna dos cristais que integram os minerais. De facto, para compreender a história dos minerais, registada na estrutura interna dos seus cristais, é necessário utilizar técnicas de imagiologia por catodoluminescência para interpretar todos os seus ciclos de crescimento e de erosão. Só após a análise detalhada do zonamento dos cristais é que se deve avançar para a sua efetiva datação, de forma a não desordenar eventos cronológicos distintos. Por exemplo, os zircões complexos são compostos por estruturas zonadas, que resultaram da adição genética de mais zircão durante vários ciclos, razão pela qual é necessário distinguir as idades consideradas herdadas das idades que efetivamente representam a fase de cristalização do magma parental.

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Fig. 3 – Grão de zircão de um metagrauvaque analisado por SHRIMP – Sensitive High Resolution Ion Microprobe (imagem obtida através de eletrões retrodifundidos; Böhm et al. 2003)

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A REGIÃO DE PENICHE UM LABORATÓRIO NO CAMPO A paisagem litoral que se observa ao longo da recortada costa da região de Peniche é de uma monumental beleza estética e elevada singularidade, onde se destaca a península de Peniche, que inclui no seu extremo ocidental, o Cabo Carvoeiro. No litoral norte desenvolveramse as penínsulas do Baleal e da Papoa, que constituem extensões lineares de rochas norteadas, ambas de menor dimensão que a península de Peniche. Ainda mais a ocidente, em pleno oceano Atlântico, localiza-se o Arquipélago das Berlengas. Esta espetacular e singular paisagem, constituída por enorme variedade de elementos geológicos e formas geomorfológicas, resultou da atuação dos agentes erosivos sobre estratos rochosos sedimentares e rochas, eruptivas e metamórficas, que foram originadas em distintos ambientes por diferentes processos geológicos. A tectónica, quer à escala da geodinâmica das placas, quer dos deslocamentos dos afloramentos, desempenhou também importante papel na modelação da morfologia atual da região, condicionando os ambientes geológicos antigos, sendo ainda responsável pela ocorrência dos movimentos mais recentes. É esta variedade de ambientes e processos de natureza geológica que vai originar na região a diversidade de formas morfológicas, de rochas/minerais, de fósseis, de estruturas sedimentares e tectónicas, entre outros aspetos, que testemunham a história da Terra e são o suporte da vida no nosso planeta – geodiversidade (Gray, 2004). Ao caminhar pela costa de Peniche observam-se sítios, estruturas ou objetos geológicos, bem delimitados geograficamente que, pela sua favorável localização, conteúdo, peculiaridade ou mesmo raridade, apresentam elevado valor científico, educativo, cultural, paisagístico e geoturístico. Estes sítios, afloramentos ou paisa-

gens constituem importantes georrecursos não renováveis e designam-se, na generalidade, como Locais de Interesse Geológico (LIGs) ou geossítios (Duque et al., 1983; Elizaga, 1988; Brilha, 2005). Quando apresentam elevada singularidade e interesse didático ou monumentalidade natural são considerados como geomonumentos (Carvalho, 1998; Brilha, 2005). Considerando a significativa diversidade geológica da região de Peniche, esta pode ser considerada um verdadeiro laboratório natural para as ciências geológicas. De facto, a observação no campo de formas, estruturas e características permite reconhecer processos que possibilitam a formulação de hipóteses para a sua génese. O campo é assim entendido como um laboratório natural composto por distintas formas de relevo, cujas histórias podem ser interpretadas pela conjugação de conhecimentos relativos aos processos, às componentes estruturais, à localização geográfica e ao tempo de exposição das rochas. O arquipélago das Berlengas constitui por si só um lugar de grande valor paisagístico e geológico, para além do já conhecido património biológico (botânico e de fauna marinha) e arqueológico subaquático, amplamente divulgado pela Reserva Natural da Berlenga (Decreto-Lei nº 264/81, de 3 de Setembro). Atendendo à sua geodiversidade vincada por diversos tipos de ambientes e processos geológicos, assim como, à ocorrência de geoformas únicas de grande beleza cénica, considera-se que o arquipélago é um recurso patrimonial não renovável e que algumas das suas geoformas devem ser consideradas como geomonumentos.

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ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO A região de Peniche integra, do ponto de vista geológico, a Orla Meso-Cenozóica Ocidental de Portugal (Fig. 4). Destacam-se, ainda, na região fragmentos do maciço antigo que constituem o Arquipélago das Berlengas, localizados a ocidente da península de Peniche (Fig. 5).

Forcadas, localizadas a NW da ilha da Berlenga, cuja evolução tectonometamórfica se iniciou com condições de pressão e temperatura da crusta média (Bento dos Santos et al., 2010). Idades 235U/207Pb para estas rochas sugerem que suportaram um pico térmico aos cerca de 377 milhões de anos (monazite) e a intrusão de Nas Estelas e Berlenga, ilhas do arquipélago apófises graníticas com zircões aos cerca de 483 das Berlengas, afloram principalmente rochas milhões de anos (Valverde et al., 2010). graníticas deformadas, na generalidade de cor rosa, com granularidade média e, mais Na região continental afloram, na ocasionalmente, fina. Datações 235U/207Pb dos generalidade, sucessões carbonatadas do seus minerais constituintes (monazite e zircão) Jurássico Inferior (península de Peniche) a indicaram que a sua intrusão ocorreu à cerca de Médio (Baleal) e areno-argilosas do Jurássico 307 milhões de anos (Valverde et al., 2010). Ainda superior (Pedras Muitas), sobre as quais mais antigas são as rochas metamórficas com assentam discordantemente depósitos relíquias granulíticas (micaxistos, paragnaisses e aluvionares, areias de praia e dunas de idade migmatitos) que constituem os Farilhões e as holocénica (Fig. 4, 5 e 6).

Fig. 4 – Esboço geológico da região continental de Peniche, tendo por base a Carta Geológica 26-C (Zbyszewski et al., 1960), enquadrado no mapa geológico de Portugal na escala 1:1.000.000 editado pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia.

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Fig. 5 – Esboço geológico da região de Peniche com indicação dos principais geossítios e geomonumentos com interesse turístico


A ocidente do antigo Maciço Ibérico desenvolveu-se uma extensa bacia sedimentar marginal, cuja evolução meso-cenozóica está estreitamente associada com o estiramento da crusta e consequente fragmentação do supercontinente Pangea (Paleozoico), seguida da abertura do oceano Atlântico. Esta bacia sedimentar foi preenchida, no início do Mesozóico até à atualidade, pela acumulação alternada de sedimentos terrígenos e quimiogénicos, que se podem observar, em particular, ao longo do litoral da costa ocidental de Portugal. O registo sedimentar da região de Peniche é caracterizado por conjuntos de sucessões de estratos com composição, forma, estrutura e disposição diferenciadas do Meso-Cenozóico, , que cobrem o substrato rochoso do maciço antigo. Este substrato, pertencente ao bordo ocidental do antigo Maciço Ibérico ou Hespérico, é constituído por rochas de natureza magmática e metamórfica, que na região de Peniche afloram apenas no Arquipélago das Berlengas. Todos estes registos geológicos, que condicionam a paisagem atual, constituem testemunhos essenciais para a reconstituição da geohistória da região, , marcada pelo conceito de Ciclo Geológico ou Ciclo de Wilson. Fig. 6 – Coluna estratigráfica da região de Peniche – Caldas da Rainha: 1 – Granito das Berlengas (Paleozóico); 2 – Rochas metamórficas dos Farilhões e Forcadas (Neoproterozóico ou Paleozóico); 3 – Jurássico Inferior (arenitos e argilas vermelhas); 4 – Jurássico Inferior (margas e calcarenitos do Cabo Carvoeiro); 5 – Jurássico Médio (calcários e margas interestratificados); 6 – Jurássico Superior, a – calcarenitos, b – argilas, c – arenitos, d – arenitos e areias continentais; 7 – Cretácico, a – arenitos e b – arenitos e argilas; 8 – Miocénico; 9 – Quaternário; 10 – Discordâncias.

O CICLO GEOLÓGICO E A GEOHISTÓRIA DA REGIÃO DE PENICHE A geologia do Arquipélago das Berlengas contrasta nitidamente quer na sua natureza quer na idade, com a geologia das regiões litorais vizinhas, integradas na chamada Bacia Lusitânica. Os litótipos sedimentares mais antigos (~220 milhões de anos), originados a partir de sedimentos depositados no fundo do mar, contêm detritos provenientes tanto da parte oriental, arrancados do antigo Maciço Ibérico

aflorante, como da parte ocidental, procedentes da erosão do continente desaparecido. Os testemunhos destes terrenos afloram no Arquipélago das Berlengas, constituindo as rochas magmáticas da Berlenga e as rochas metamórficas dos Farilhões e Forcadas (Fig. 5). Por outro lado, as sucessões sedimentares cada vez mais recentes preservam no seu interior detritos que resultaram da erosão de sequências anteriores, nomeadamente rochas e fósseis de

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camadas continentais ou marinhas mais antigas; Norte através da divagação da Crista Média estas foram erosionadas e posteriormente Oceânica por migração espacial do rift e, depositadas em sucessões mais recentes. consequentemente, aborta a abertura do Golfo da Biscaia. Associada a esta evolução tectónica Há cerca de 190 milhões de anos depositaram- com adelgaçamento da margem continental se nesta bacia sedimentos finos carbonatados, ibérica e fraturas profunda na crosta utilizadas por vezes com abundante matéria orgânica, em como condutas para ascensão de líquidos ambiente marinho de águas quentes magmáticos que deram origem às intrusões dos relativamente profundas. Como consequência do maciços vulcânicos de Sintra, Sines e Monchique preenchimento da bacia por sedimentos e de outros episódios vulcânicos como em Papoa, originados pela erosão das rochas emersas e do Leiria, Nazaré, etc. abaixamento generalizado do nível das águas do mar que se verificou à escala do globo no final do Nos tempos subsequentes, Era Cenozóica, Jurássico (~150 milhões de anos), a profundidade ocorreu o rápido arrefecimento do planeta e o da bacia foi progressivamente diminuindo. desenvolvimento dos mamíferos em número e Nestas circunstâncias, o ambiente de deposição espécies. O clima mudou na generalidade de passou, sucessivamente, a marinho menos tropical para glacial, alterando-se em particular profundo, recifal, laguno-marinho, fluvial e grande parte da paisagem do hemisfério norte; lacustre (Baleal). formaram-se as atuais cadeias montanhosas que resultaram da colisão entre as placas Euroasiática Há cerca de 145 milhões de anos iniciou-se a e Africana. abertura do Golfo da Biscaia, que induziu a rotação, no sentido contrário ao dos ponteiros do Estas alterações à escala do planeta, tiveram relógio, da Península Ibérica, afastando-a do que consequências na região, dadas as modificações é hoje a França. Consequentemente, o território acentuadas no relevo com o levantamento da português movimenta-se para latitudes mais Serra de Montejunto e a formação da Lagoa de baixas do que as atuais, onde o clima era mais Óbidos na linha da costa, bem como a formação quente e húmido. Concomitantemente, de depósitos continentais que resultaram da ocorreram oscilações do nível das águas do mar à erosão do maciço antigo, que estão preservados escala do planeta. Estas modificações espaciais em depressões (Bolhos, Óbidos e Olho Marinho, vão induzir variações acentuadas nos ambientes entre outras). de deposição, registando sucessivamente passagens de ambiente marinho a fluvial. É de Nos últimos 1,8 milhões de anos salientar que os depósitos de natureza fluvial correspondentes ao Quaternário, o planeta contêm, por vezes, vegetais fossilizados e esteve mais frio, em média, do que durante a materiais provenientes de áreas subaéreas, onde maior parte da sua história. Esta Era é marcada as rochas do maciço antigo afloravam, por várias glaciações e interglaciações. nomeadamente granitos, xistos, quartzitos, entre Consequentemente, houve várias oscilações do outras. nível do mar que são testemunhadas, em particular, pelo posicionamento a altitudes No final da Era Mesozoica ~65 milhões de diferenciadas de terraços de areias marinhas anos, junto à fronteira entre o Cretácico e o próximos do litoral da região, Cabo Carvoeiro, Terciário (K/T), prossegue a abertura do Atlântico Gruta da Furninha, Atouguia da Baleia, etc.

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LOCAIS DE INTERESSE GEOLÓGICO Ao longo do litoral de Peniche ocorrem numerosos exemplos de lugares singulares com interesse geológico e paisagístico que ocupam áreas espaciais consideráveis, nomeadamente a península do Baleal, a paisagem cársica do Cabo Carvoeiro – Remédios e o Arquipélago das Berlengas. Entre os geossítios de características únicas e de valor científico, didático e pedagógico destacam-se a erupção vulcânica da Papoa, o registo sedimentar da Ponta do Trovão, a Gruta da Furninha (Fig. 5).

De seguida, apresenta-se uma breve descrição e caracterização dos aspetos de maior relevância do património geológico do Arquipélago das Berlengas com especial incidência na Ilha da Berlenga, alvo desta excursão geológica. 14

HORST DO ARQUIPÉLAGO DAS BERLENGAS: PLANALTO DE GRANITO ROSA DA BERLENGA E OS PICOS METAMÓRFICOS DOS FARILHÕES Descrição: O arquipélago das Berlengas localiza-se, em pleno oceano, a cerca de 10 km a W da península de Peniche. É formado por três grupos de pequenas ilhas, ilhotas e rochedos (Fig. 5):  o maior e único com ocupação humana constitui a Berlenga (39°24´56´´N; 9°30´37´´W),  a cerca de 1,7 quilómetros a oeste encontram-se as Estelas (39°25´19´´N; 9°31´59´´W) e  a cerca de 6,5 quilómetros a NNW da Berlenga situam-se os Farilhões e as Forcadas (39º28´45´´N; 9º32´43´´W).

A observação do arquipélago à distância (Fig. 7), a partir do Cabo Carvoeiro (Peniche), indica que a ilha da Berlenga constitui um planalto de cor rosada relativamente arredondado e com topo plano, enquanto os ilhéus Farilhões e Forcadas são rochedos íngremes e inóspitos, com escarpas subverticais, íngremes e inóspitas, cujos cumes são pontiagudos. As Estelas não são visíveis, encontram-se a ocidente das Berlengas (Romão, 2009).

Estalão. Este último rochedo apresenta um tipo de erosão caracterizado por uma forma acastelada com diaclases subverticais muito próximas umas das outras e diaclases horizontais mais espaçadas, designado de borrageiro. Entre os ilhéus com maior expressão existe uma grande quantidade de recifes e escolhos nas suas imediações, indicando que outrora constituíam um único afloramento, tendo a erosão desagregado a rocha que os interligava.

Mais detalhadamente, a ilha da Berlenga apresenta a forma de oito com o eixo maior orientado na direção SW-NE (Daveau, 1884) e uma linha de costa muito recortada com numerosas reentrâncias e cavidades naturais. Os Farilhões e as Forcadas correspondem a picos de uma montanha submarina, que alarga consideravelmente abaixo do nível das águas do mar. As Estelas avistam-se das Berlengas e constituem um conjunto numeroso de ilhéus de reduzida dimensão, sendo os maiores a Estela e o

A Estela e o Estalão são cortados por um grande número de descontinuidades paralelas umas às outras, dispostas quase na vertical e com reduzido espaçamento entre si, parecendo livros inclinados numa estante, como no bem conhecido monumento natural designado por “Livrarias do Mondego”, que se localiza junto à povoação de Penacova. A Estela é atravessada de lado a lado por um túnel com cerca de 6m de largura, composto por


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Fig. 7 – Vista panorâmica do Arquipélago das Berlengas. Observa-se o contraste entre a plataforma aplanada da Berlenga e os Picos dos Farilhões.

paredes planas quase verticais que se desenvolveu ao nível das águas do mar, designado por “A porta da Estela”. Aparenta um antigo templo egípcio na imensidão do mar quando se vem da Berlenga e pode ser percorrido por um bote na maré baixa. A dissemelhança acentuada na morfologia entre a Berlenga e o conjunto Farilhões e Forcadas sugere que a natureza das rochas que as constituem seja bem distinta, sendo o relevo atual consequência de processos de erosão diferencial. De facto, a Berlenga constitui um corpo granítico de cor rosa e os Farilhões e Forca das são compostos por alternâncias de rochas metamórficas fortemente deformadas e dobradas, organizadas em bancadas de gnaisses e micaxistos, no geral subverticais. A variedade litológica e a estrutura tectónica das rochas dos Farilhões e Forcadas explicam a forma alongada dos vários ilhéus que os compõem, bem como as suas reentrâncias associadas a zonas onde prevalecem os micaxistos e saliências que correspondem a zonas onde ocorrem gnaisses, pois são mais resistentes à erosão. Assim, o relevo nos Farilhões é marcado por picos de estrutura em horst que deverá ser limitada por

gnaisses, que se destacam na paisagem, envolvidos por micaxistos mais brandos, o que contrasta com as formas arredondadas e homogéneas da Berlenga, onde prevalecem os granitos. A tipologia das unidades geológicas reconhecidas no Arquipélago das Berlengas é bem diferente dos estratos mais recentes de natureza carbonatada e detrítica que afloram na região de Peniche e formações geológicas com litótipos similares só afloram no Maciço Ibérico, como por exemplo, o granito rosa do Gerês ou as rochas metamórficas do interior do país. Outra diferença importante entre a geomorfologia do arquipélago e a da península de Peniche é a altitude; nas ilhas as cotas máximas encontramse a 92 e 94 metros, respetivamente na Berlenga e nos Farilhões, que marca uma superfície de aplanação erosiva próxima dos 90 metros, e na plataforma carbonatada do Cabo CarvoeiroRemédios, a superfície de aplanação encontra-se a 20-25 metros. Estas observações sugerem que possa ter ocorrido um levantamento de um bloco de terreno constituído pelas formações antigas que afloram no arquipélago, originando-se uma que constituem os Farilhões originaram-se


falhas subparalelas de orientação próxima do N-S também a grandes profundidades no interior da (horst das Berlengas). crusta terrestre. Contudo, a sua génese está relacionada com a subsidência progressiva de A superfície erosiva do planalto da Berlenga, sedimentos originais, que sob o efeito de atualmente a cerca de 90 metros de altura, pressões e temperaturas elevadas, sofrem esteve posicionada a altitudes distintas ao longo recristalização com neoformação de novos do tempo. De facto, já esteve próximo do nível minerais, que substituem total ou parcialmente das águas do mar, como pode ser confirmado os existentes. Simultaneamente, ocorrem pela existência de depósitos de areias e variações estruturais evidenciadas pelo grau de cascalheiras de praia, localizados junto ao cristalinidade dos minerais. O seu Carreiro do Mosteiro, e pelo desenvolvimento de comportamento torna-se progressivamente mais um alinhamento de cavidades (grutas) à cota de plástico com o aumento da profundidade, 30 metros, bem marcadas ao longo da costa originando a formação de dobras e superfícies sudoeste da ilha da Berlenga (por exemplo, na penetrativas que são marcadas pelo alinhamento vertente acima da Gruta de s. João Baptista). dos minerais neoformados. Para além da identificação de restos de antigas praias a cotas elevadas, a rede de drenagem GEOSSÍTIOS DA BERLENGA atual da ilha também se encontra sobrelevada, apesar de ser muito pouco desenvolvida. AdmiteA existência de numerosos carreiros (fig. 5), -se mesmo que a superfície erosiva tenha já dos quais se destacam o da Inês, do Mosteiro e estado abaixo do atual nível do mar, dado que do Cação, está intimamente relacionada com a não existe praticamente solo e a erosão do presença de falhas geológicas. Nos locais onde granito manifesta-se apenas por fragmentos de ocorrem as falhas, as rochas estão fortemente rochas de reduzida dimensão, não existindo esmagadas facilitando assim uma maior formas erosivas típicas de granitos, como por circulação de água e, consequentemente, um exemplo estruturas colunares, blocos caóticos, aumento da velocidade de desagregação e ou outros. Atendendo aos considerandos erosão dos minerais das rochas. O Carreiro da anteriores, a superfície de aplanação descrita Inês que separa o ilhéu da Inês da Berlenga, poderia ter sido uma antiga plataforma de erosão propriamente dita, deverá corresponder a uma marinha fossilizada. falha normal com abatimento de alguns metros do bloco SE relativamente ao NW (Fig. 8). As rochas magmáticas da Berlenga, no geral granitos rosa de granularidade média a grosseira Outras geoformas interessantes (Fig. 5), a e composição principal de quartzo, feldspato e maioria de magnífica beleza, são as cavidades, micas, foram originadas a partir do lento arcos e pontes naturais [Cova do Sonho, Cabeça arrefecimento de magma que estaria no interior do Elefante (Fig. 9) e Furado Grande, Pequeno e de uma câmara localizada a vários quilómetros Seco (Fig. 10), entre outras] que se de profundidade. A coloração rosa do granito é o desenvolveram nas arribas da Berlenga. Estas resultado de um processo de alteração química resultaram da ação mecânica das ondas do mar caracterizado pela fixação do ferro, na superfície sobre a base da arriba, onde o material rochoso dos feldspatos, que resultou da solubilização por foi desgastado mais intensamente. O desgaste é transformação das micas. mais acentuado nas arribas mais fraturadas e alteradas, em consequência da menor resistência As rochas metamórficas, gnaisses e micaxistos, dos granitos.

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Fig. 8 – Carreiro da Inês, correspondendo a uma falha normal com abatimento do bloco SE relativamente ao NW

Fig. 9 – Geoforma designada de Cabeça do Elefante, composta por formas erosivas (arcos e cavidades) devido à ação abrasiva do mar.


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Fig. 10 – Vista Este (esquerda) e Oeste (direita) do Furado Grande. Em ambas as fotos é visível o Furado Seco, por cima do Furado Grande. Esta geoforma foi originada ao longo do traçado de uma falha geológica, onde se pode observar a desagregação da sua caixa por ação abrasiva do mar e dos agentes de meteorização.


CONCLUSÃO O horst do arquipélago das Berlengas, composto por rochas do maciço antigo, constitui um pequeno fragmento do supercontinente Pangea que existiu há cerca de 270 milhões de anos. Durante a Era Mesozóica, esta estrutura montanhosa teria com certeza dimensões muito maiores, os seus constituintes erosionados foram depositados nos mares da época, como se confirma pela sua presença nas rochas calcoareníticas jurássicas do Cabo Carvoeiro. Nos últimos dois milhões de anos, os efeitos das subidas e descidas generalizadas do nível do mar, consequência das glaciações, teve implicações no arquipélago, comprovada pela existência de praias e de rede de drenagem sobrelevadas, bem como pela formação da superfície de aplanação descrita.

Do ponto de vista paisagístico, é um lugar único de monumental beleza estética e elevada singularidade. Atendendo à sua geodiversidade vincada por diversos tipos de ambientes e processos geológicos, bem como às suas geoformas únicas de grande beleza cénica, que testemunham a história passada do local, considera-se que o arquipélago é recurso patrimonial não renovável e que algumas das suas geoformas devem ser consideradas como geomonumentos. É um local de referência para a aprendizagem de conceitos de interesse ambiental e patrimonial para todas as comunidades, bem como, um espaço lúdicoturístico.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Alvarez, L. W., Alvarez, W., Asaro, F., & Michel, Duque, L. C., Elizaga Munoz, E. & Vidal Romani, H. V. 1980. Extra-terrestrial cause for the J. R. 1983. Puntos de Interés Geológico en Cretaceous/ Tertiary extinction. Science, Galicia. Servicio Publicaciones, IGME, 103 p. 208,650- 664. Elizaga Munoz, E. 1988. Georrecursos Bento dos S. T; Ribeiro, M.L.; Clavijo, E.; Díez Culturales. Geologia Ambiental, ITGE, 85Montes, A; Solá, A.R.. 2010. 100. "Geothermobarometric estimates and P-T paths for migmatites from Farilhões Islands, Gray, M. 2004. Geodiversity: valuing and Berlengas Archipelago, W Portugal", conserving abiotic nature. John Wiley & Trabalho apresentado em VIII Congresso Sons, 410 p. Nacional de Geologia, In e-Terra, Braga. Priem, H. (1965). Isotopic ages of two granites Böhm CO, Heaman LM, Stern RA, Corkery MT & on the Iberian Continental margin : the Creaser RA. 2003. Nature of Assean Lake Traba granite (spain) and the Berlenga ancient crust, Manitoba: a combined granite (Portugal). Geol. Mijn., Gravenhage, SHRIMP-ID-TIMS U-Pb geochronology and 44º ano, 10, pp. 353-354. Sm-Nd isotope study. Precambrian Research 126:55-94. Romão, J. (2009). Património geológico no litoral de Peniche: geomonumentos a Brilha, J. 2005. Património Geológico e valorizar e divulgar. Geonovas, 22, 23-35. Geoconservação. A Conservação da Natureza na sua vertente Geológica. Viseu, Palimage Zbyszewski, G., Camarate França, J. & Moitinho Editores. de Almeida F. (1960). Notícia explicativa da folha 26-C (Peniche). Serviços Geológicos de Carvalho, A. M G. 1998. Geomonumentos: uma Portugal, 33 p, Lisboa. reflexão sobre a sua classificação e enquadramento num projecto alargado de Zbyszewski, G., Ferreira, V., Andrade, F. & defesa e valorização do Património Natural. Oertel, G. (1960). Carta Geológica 26-C Actas do V Congresso Nacional Geologia, (Peniche) na escala 1:50000. Serviços Comun. Inst. Geol. Min., 84 (2), G22-G25, geológicos de Portugal. Lisboa. Daveau, J. 1884. Excursion aux îles Berlengas et Farilhões avec notice zoologique sur ces îles par Albert A. Girard. Bol. Soc. Geog. Lisbonne, 4 Série (9), 409-452, Lisboa.

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GLOSSÁRIO Arquipélago – grupo de ilhas próximas entre si e que apresentam no geral a mesma origem e estrutura geológica, podendo ser continentais, coralinas ou vulcânicas.

teóricos (chuva, vento, neve, calor, frio, etc.); mecânicos (correntes hídricas, eólicas ou outras); biológicos (intervenção dos seres vivos); químicos.

Biotite – mineral micáceo de composição ferromagnesiana, da classe dos silicatos (filossilicatos) e do grupo das micas. Também onhecida como mica preta.

Erosão diferencial – erosão que atua sobre os diversos tipos de rocha e que dá origem ao modelado topográfico terrestre. As rochas mais resistentes à erosão tendem a constituir os relevos mais altos, contrariamente às rochas Ciclo Geológico ou Ciclo de Wilson – ciclo que vai mais brandas, que sendo mais facilmente desde que dois continentes se afastam e se abre erodidas (desgastadas), correspondem às zonas um oceano (fase de sedimentogénese) e se mais baixas. transita ao fecho do oceano e colisão de continentes para formar uma cadeia de Estrato – O mesmo que camada ou leito – montanhas (fase orogénica). unidade estratigráfica elementar caracterizada pela sua natureza litológica, pelo seu conteúdo Cretácico – Período que encerra a Era Mesozoica. fossilífero, pela sua espessura e pela sua posição no espaço (direcção e inclinação). Cristalinidade – é dada pela proporção relativa Estrutura – a) conjunto de características de material cristalizado (cristais) e de material relativas à distribuição e arranjo dos não cristalizado (vidro). Segundo este critério é componentes rochosos; b) modo como se possível definir três tipos de texturas: dispõem as rochas da crusta terrestre: dobradas, holocristalinas [constituídas essencialmente por falhadas, em anticlinal, em sinclinal, etc.. cristais (mais de 90%)]; hipocristalinas [constituídas por uma parte vítrea e uma parte Falha – acidente tectónico que consiste na rotura cristalina (nenhuma das partes atinge os 90%)]; de terrenos ao longo de um plano, devida a holohialinas [constituídas essencialmente por pressões dinâmicas, com deslocamento relativo vidro (mais de 92%]. das partes separadas. Diaclase – plano de fratura em afloramentos rochosos em que não há movimento relativo dos blocos. As diaclases podem ter origem tectónica ou resultar do arrefecimento do magma e sua consolidação, como resultado da diminuição de volume. Outras vezes, as diaclases geram-se quando há alívio das tensões a que o material esteve sujeito (pressão litostática, por exemplo).

Feldspatos – grupo de minerais da classe dos silicatos (tectossilicatos), contendo potássio (K), sódio (Na) ou cálcio (Ca). Incluem genericamente os feldspatos potássicos (corresponde ao termo 6 da escala de dureza de Mohs) e as plagioclases (felspatos só com Na e/ou Ca).

Formação (geológica) – 1) terreno ou grupo de terrenos que possuem características comuns Dobra – arqueamento das rochas por ação de um constituindo um conjunto que interessa separar campo de tensões. Uma dobra caracteriza-se por dos outros materiais rochosos; 2) conjunto de ter um eixo, um plano axial e dois flancos. camadas formando uma unidade litológica à qual se associa geralmente o nome do local onde foi Erosão – Conjunto de processos que levam à definida. destruição das rochas preexistentes e à remoção progressiva dos detritos resultantes. Os agentes Fronteira K/T – Marca a passagem da Era Mesoque promovem a erosão podem ser diversos: me-

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zóica para a Era Cenozóica. Mundialmente famosa por ter sido um período de tempo marcado pela extinção em massa de cerca de 50% das espécies da Terra, em particular dos dinossauros, tendo sido descobertos indícios em vários locais do planeta de que esta catástrofe global foi causada por impacto de um meteorito de dimensões quilométricas (Alvarez et al., 1980). Geodiversidade (ou diversidade geológica) – consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra.

pais representantes das rochas plutónicas em domínio continental. Horst – é a designação dada em geologia estrutural a um bloco de território elevado em relação ao território vizinho por acção de movimentos tectónicos. Intrusão – processo de instalação/injeção de um magma numa rocha pré-existente. Isótopo – são isótopos de um mesmo elemento químico, os átomos que têm o mesmo número atómico, mas o número de massa diferente; isto é, nos núcleos dos isótopos, o número de protões é o mesmo mas o número de neutrões é diferente.

Geoforma – afloramento rochoso que constitui um local com interesse geomorfológico. Istmo – faixa de terra firme, relativamente estreita, que une porções do continente, e que se Geomonumento – o mesmo que geossítio. encontra cercada de água pelos dois lados. Ver também península. Georrecursos (ou recursos geológicos) – são todos os bens de natureza geológica, renováveis Jurássico – segundo Período da Era Mesozoica. ou não renováveis, existentes na crusta terrestre, passíveis de serem utilizados pelo Homem. No Litologia – descrição das características que contexto utilizado no documento é sinónimo de determinam a natureza, o aspecto e as património geológico. propriedades de uma rocha de modo a particularizá-la, tendo como base parâmetros Geossítio – ocorrência geológica bem delimitada como: textura, cor, composição mineralógica geograficamente, que possui inegável valor e/ou química, granulometria, etc. científico, pedagógico, cultural, turístico, ou outro e cuja conservação deve ser assegurada. Litótipo – Características de uma rocha ou associação de rochas, que serve para distingui-las Gnaisse – rocha metamórfica de granularidade de outras rochas ou associações litológicas para média a grosseira, com estrutura bandada, fins de referência num estudo geológico. geralmente com alternâncias de leitos félsicos e máficos. Deriva de sedimentos (paragnaisse) ou Maciço Ibérico (ou Maciço Hespérico) – unidade de rochas ígneas (ortognaisse) por ação de morfoestrutural da Ibéria que representa o metamorfismo regional ou orogénico. segmento mais ocidental da cordilheira Varisca europeia. Granito – rocha magmática plutónica, fanerítica (cristais visíveis à vista desarmada), composta Magma – material silicatado em fusão a partir do essencialmente por quartzo e feldspatos qual, por consolidação se formam, as rochas alcalinos,aos quais se associam, ou não ígneas ou magmáticas. plagióclases; contêm ainda frequentemente as micas (biotite e moscovite). Como principais Metamorfismo – conjunto de processos que minerais acessórios, destacam-se a apatite, o ocorrem no interior da crusta terrestre, que zircão, a magnetite e a ilmenite. As rochas provocam alterações químicas e/ou físicas das granitóides (granitos e rochas afins) são as princi- rochas (textura, estrutura e composição minera-

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lógica), envolvendo sempre o fenómeno de um mineral acessório em granitos e gnaisses, recristalização. Os fenómenos de metamorfismo bem como em rochas sedimentares, ocorrem principalmente no estado sólido das nomeadamente em conglomerados e arenitos. rochas. Moscovite – mineral aluminossilicato de Meteorização – processo de modificação das potássio, do grupo das micas, também conhecido rochas provocada pelos agentes da atmosfera, como mica branca. hidrosfera, biosfera e ação antrópica. A meteorização manifesta-se pela desagregação Orla Meso-Cenozóica Ocidental – unidade natural (meteorização física) e/ou decomposição morfoestrutural da Ibéria que se encontra a (meteorização química) das rochas, levadas a bordear a oeste o Maciço Ibérico. É constituída, cabo pelosagentes externos (físicos, químicos e essencialmente, por sedimentos depositados na biológicos),convertendo-se em outros produtos Bacia Lusitânica, posteriormente afetados por naturais em equilíbrio com as condições do meio. atividade tectónica. Mica - grupo de minerais da classe dos silicatos (filossiliocatos). Paleozoico – Era do tempo geológico compreendida entre o final do Pré-câmbrico e o Micaxisto – rocha metamórfica cristalina (xisto), início da Era Mesozoica. constituída essencialmente por quartzo e mica, cuja foliação (xistosidade) se encontra Pangea – supercontinente que terá existido no materializada pelo alinhamento paralelo dos Período Pérmico, a partir do qual, após um cristais de mica. complexo processo de rifting, se formaram os continentes atuais. Microclina – mineral de silicato de alumínio do grupo dos feldspatos, do sistema triclínico. Património geológico – é definido pelo conjunto Ocorre principalmente em rochas magmáticas e de geossítios inventariados e caracterizados metamórficas; pode ainda ocorrer em rochas numa dada área ou região. sedimentares detríticas que resultaram da erosão das rochas anteriores, sob a forma de Península – massa continental que se encontra conglomerados, arenitos e grauvaques. rodeada quase que completamente por água e ligada ao continente por uma faixa estreita de Migmatito – rocha metamórfica que resulta de terra. Ver também istmo. fusão parcial da rocha original (protólito), em condições de metamorfismo de alta pressão. Plagioclase – mineral silicatado de alumínio, Parte da rocha funde, a de composição granítica sódio e cálcio que cristaliza no sistema triclínico, (neossoma), permanecendo sem fusão a pertencente ao grupo dos feldspatos e entra na componente mais máfica (paleossoma). É uma composição de várias rochas. È uma importante rocha metamórfica silicatada, compósita e ferramenta de diagnóstico em petrologia para a heterogénea a uma escala meso a megascópica. identificação da composição, génese e evolução Tipicamente apresenta porções escuras que de rochas ígneas. exibem características de rochas metamórficas e porções claras com aparência ígnea. Quartzo – mineral da classe dos silicatos (tectossilicatos) constituído por óxido de silício Mineral – material sólido, natural e inorgânico, (SiO2). Corresponde ao termo 7 da escala de com estrutura interna cristalina e uma dureza de Mohs. É o mineral mais abundante e composição química bem definida. disperso na superfície terrestre. Monazite – mineral fosfatado de terras raras Quaternário – Período mais recente da Era (lantanídeos), que cristaliza no sistema Cenozoica e que se estende desde monoclínico, com composição (Ce,La,Y,Th) PO4. É aproximadamente 1,75 milhões de anos até os

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dias atuais. É subdividido em Pleistocénico e Holocénico, esta época tendo seu início há aproximadamente 11000 anos. Uma das características mais marcantes é a ocorrência de sucessivos períodos de glaciação.

Textura – refere-se ao tamanho, forma, arranjo espacial e modo de contacto entre os minerais ou elementos constituintes de uma rocha.

Valor geoturístico – que reúne um conjunto de aspetos geológicos e geomorfológicos com Rift (zona) – local onde ocorre extensão crustal, potencialidade de serem usufruídos e similar à que existe nas cristas médio-oceânicas. interpretados por estudantes e turistas, tendo a finalidade de promover a conservação dos Rocha – massa de matéria mineral (um mineral geossíticos e o desenvolvimento sustentável da ou, mais frequentemente, uma associação região. natural de minerais), consolidada ou não. Rocha ígnea ou magmática - rocha que cristalizou a Xisto – rocha metamórfica cristalina com partir de um magma. composições variadas, que se caracteriza essencialmente pela xistosidade. Pode ter Rocha metamórfica – rocha que sofreu diversos protólitos, dando assim origem a xistos metamorfismo sob ação de temperatura e/ou com características mineralógicas diferentes, pressão e que foi reorganizada, textural, havendo predominância dos filossilicatos (micas). estrutural e/ou mineralogicamente face a essas Resultam de metamorfismo em rochas que novas condições. podem variar desde basaltos a rochas plutónicas ou até pelitos. A forte xistosidade, que o Rocha sedimentar – rocha constituída pela caracteriza, faz com se desagregue muito acumulação de sedimentos detríticos (clastos – facilmente segundo planos paralelos. Isto devefragmentos de dimensões variadas provenientes se ao facto dos minerais lamelares (filossilicatos) da alteração de outras rochas), por minerais serem bem desenvolvidos e orientados químicos (resultantes da precipitação de paralelamente. Dependendo do protólito, o xisto substâncias minerais dissolvidas na água) e/ ou pode ser micáceo, verde, azul ou mosqueado, por sedimentos biogénicos (restos de seres vivos, entre outros. como conchas, ossos, fragmentos de plantas, pólenes, etc.). Zircão - mineral da classe dos silicatos (nesossilicatos), que cristaliza no sistema Superfície (ou plataforma) de abrasão marinha – tetragonal, constituído por óxido de zircónio e de forma de relevo litoral aplanada e irregular que silício (ZrSiO4). É um mineral acessório frequente foi essencialmente originada por ação da erosão nas rochas ígneas ocorrendo, por vezes, nas marinha. rochas sedimentares detríticas devido à sua resistência. Este mineral contém elementos Tempo geológico – período de tempo que se radioativos na sua estrutura que permitem estende desde a formação da Terra até ao calcular a sua idade absoluta de cristalização por presente. decaimento radioativo.

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ANEXO

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Fig. A – Tabela de tempo geológico.


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Associação Portuguesa de Geólogos A Associação Portuguesa de Geólogos foi fundada em 1976. É uma associação sócioprofissional, sem fins lucrativos, que congrega profissionais da Geologia que se dedicam a domínios diversificados no âmbito das Ciências da Terra. Morada: Museu Geológico, Rua da Academia das Ciências, nº19 - 2.º, 1249-280 Lisboa Telefone/Fax: +351 213 477 695 http://www.apgeologos.pt http://apgeologos.wordpress.com http://issuu.com/associacaoportuguesageologos info@apgeologos.pt


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