Guiaodecampopeniche 2016

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A Região de Peniche como Laboratório para o Estudo das Geociências Guião de Campo

Ação de Formação “A Região de Peniche como Laboratório para o estudo das Geociências” (3.ª Edição) Peniche, 03 e 04 junho 2016 Associação Portuguesa de Geólogos Organização

Apoio


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TÍTULO A Região de Peniche como Laboratório para o Estudo das Geociências AUTORES José Romão Universidade Europeia Laboratório Nacional de Energia e Geologia

Mónica Sousa Associação Portuguesa de Geólogos

EDIÇÃO Associação Portuguesa de Geólogos DESIGN Andreia Figueiredo Carlos Amaral junho de 2016


A Região de Peniche como Laboratório para o Estudo das Geociências Guião de Campo

Ação de Formação “A Região de Peniche como Laboratório para o estudo das Geociências” (3.ª Edição) Peniche, 03 e 04 junho 2016 Associação Portuguesa de Geólogos Organização

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ÍNDICE Introdução

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Região de Peniche: um laboratório no campo

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A idade das rochas

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Como se pode estimar a idade de uma rocha?

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Mas como podemos atribuir uma idade absoluta às rochas?

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Que minerais se podem datar?

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A Região de Peniche

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Enquadramento geológico

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O ciclo geológico e a geohistória da região

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de Peniche Locais de interesse geológico a visitar: lugares e

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geomonumentos 1. Horst do arquipélago das Berlengas: planalto de

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granito rosa da Berlenga e os picos metamórficos dos Farilhões 2. Campo de lapiás do Cabo Carvoeiro-Remédios

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3. Registo sedimentar da Ponta do Trovão com idade de

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183 milhões de anos 4. Erupção vulcânica da Papoa

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5. Monoclinal e tômbolo do Baleal

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6. Gruta da Furninha

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Conclusões

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Referências bibliográficas

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Glossário

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Anexo

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INTRODUÇÃO As aulas de campo para todos os tipos de ensino devem contemplar procedimentos relativos à visualização de formas da paisagem e de afloramentos com explanações sobre as suas próprias características quanto à natureza e estrutura, para se estabelecer processos que geram atualmente essas mesmas morfologias e originaram no passado outras que, entretanto, foram erosionadas. De facto, por maior que seja o esforço de contextualizar formas e processos geológicos, por mais riqueza de imagens e recursos visuais que se utilize, é imprescindível que a docência em Ciências Geológicas tenha prática de campo, dado que possibilita correlacionar teoria (processos geológicos) e realidade (formas do relevo, tipos de rochas e de fósseis, etc.). Esta metodologia rompe com as limitações habituais em ambiente de sala de aula, sendo o espaço enriquecido com a realidade, que é proporcionada pela observação das dimensões e escalas reais dos objetos espaciais, designados de afloramentos, e incorporação dos processos que os originaram. Por outro lado, a observação direta dos processos geológicos que estão agora a ocorrer ao longo do litoral de Peniche, em particular os de natureza sedimentar e erosiva, permite explicar pelos mesmos processos os registos geológicos que se sucederam

num passado distante. De facto, este raciocínio tem por base de que os fenómenos geológicos que estão a acontecer presentemente são idênticos aos que ocorreram no passado, ou seja, “o presente é a chave para entender o passado” (James Huton, 17261797). Estas asserções integram os princípios fundamentais da Teoria do Uniformitarismo, também designada do Atualismo ou das Causas Atuais. As marcas de oscilação das ondas do mar que podem ser observadas nas praias atuais (Fig. 1), em particular aquando da maré vazia, constituem um bom exemplo do registo de um fenómeno geológico que está a ocorrer presentemente. Porém, estas marcas são também detetadas em sucessões passadas, nomeadamente no topo de estratos quartzíticos paleozoicos, donde se pode deduzir que a sua génese deve estar relacionada com um tipo de fenómeno muito semelhante ao que as origina nas praias atuais. Este Guia de Campo pretende constituir um elemento de consulta e apoio para os professores durante a preparação e realização de visitas de estudo ao litoral da Região de Peniche. O Guia será ainda relevante para a exploração dos conteúdos abordados, em contexto de pré- e pós-visita, em ambiente de sala de aula.

Fig. 1 – Comparação entre marcas de ondulação de correntes geradas no litoral atual (Peniche) e as preservadas num estrato de quartzitos que integra a Formação do Quartzito Armoricano, do Ordovícico inferior (Mação).

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REGIÃO DE PENICHE: UM LABORATÓRIO NO CAMPO A paisagem litoral que se observa ao longo da recortada costa da região de Peniche é de uma monumental beleza estética e elevada singularidade, onde se destaca a península de Peniche, que inclui no seu extremo ocidental, o Cabo Carvoeiro. No litoral norte desenvolveram-se as penínsulas do Baleal e da Papoa, que constituem extensões lineares de rochas norteadas, ambas de menor dimensão que a península de Peniche. Ainda mais a ocidente, em pleno oceano Atlântico, localiza-se o Arquipélago das Berlengas.

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Esta espetacular e singular paisagem, constituída por enorme variedade de elementos geológicos e formas geomorfológicas, resultou da atuação dos agentes erosivos sobre estratos rochosos sedimentares e rochas, eruptivas e metamórficas, que foram originadas em distintos ambientes por diferentes processos geológicos. A tectónica, quer à escala da geodinâmica das placas, quer dos deslocamentos dos afloramentos, desempenhou também importante papel na modelação da morfologia atual da região, condicionando os ambientes geológicos antigos, sendo ainda responsável pela ocorrência dos movimentos mais recentes. É esta variedade de ambientes e processos de natureza geológica que vai originar na região a diversidade de formas morfológicas, de rochas/minerais, de fósseis, de estruturas sedimentares e tectónicas, entre outros aspetos, que testemunham a história da Terra e são o suporte da vida no nosso planeta - geodiversidade (Gray, 2004).Ao caminhar pela costa de Peniche observam-se sítios, estruturas ou objetos geológicos, bem delimitados geograficamente que, pela sua favorável localização, conteúdo, peculiaridade ou mesmo raridade, apresentam elevado valor científico, educativo, cultural, paisagístico e geoturístico. Estes sítios, afloramentos ou paisagens, constituem importantes georrecursos não renováveis e designam-se, na generalidade, como Locais de Interesse Geológico (LIGs) ou geossítios (Duque et al., 1983; Elizaga, 1988; Brilha, 2005). Quando apresentam

elevada singularidade e interesse didático ou monumentalidade natural são considerados como geomonumentos (Carvalho, 1998; Brilha, 2005). Considerando a significativa diversidade geológica da região de Peniche, esta pode ser considerada um verdadeiro laboratório natural para as ciências geológicas. De facto, a observação no campo de formas, estruturas e características permite reconhecer processos que possibilitam a formulação de hipóteses para a sua génese. O campo é assim entendido como um laboratório natural composto por distintas formas de relevo, cujas histórias podem ser interpretadas pela conjugação de conhecimentos relativos aos processos, às componentes estruturais, à localização geográfica e ao tempo de exposição das rochas. Os principais locais com afloramentos de interesse pedagógico, didático e científico no litoral de Peniche correspondem ao: • Horst do arquipélago das Berlengas: planalto de granito rosa da Berlenga e os picos metamórficos dos Farilhões, • Campo de lapiás do Cabo Carvoeiro-Remédios: formas zoomórficas e labirínticas, • Registo sedimentar da Ponta do Trovão com a idade de 183 milhões de anos, • Erupção vulcânica da Papoa, • Monoclinal e tômbolo do Baleal, • Gruta da Furninha. Atendendo à diversidade paisagística, às especificidades dos locais e afloramentos focados e aos processos geológicos que podem ser evidenciados detalhadamente, considera-se que a região de Peniche é um verdadeiro laboratório natural para o estudo das geociências. De facto, apresenta um inquestionável valor científico, para além do elevado interesse pedagógico e didático, como é confirmado pelo número crescente de atividades ligadas a todos os graus de ensino que aí são concretizadas.


A IDADE DAS ROCHAS COMO SE PODE ESTIMAR A IDADE DE UMA ROCHA? A determinação da idade das rochas pode ser efetuada através de diversas metodologias que têm como fim indicar a sua idade relativa ou absoluta. A análise das relações espaciais de contacto de um conjunto de rochas que ocorrem num determinado afloramento ou local permite estabelecer uma hierarquia sequencial de idade relativa para as rochas do referido conjunto, ou seja, permite identificar de forma qualitativa a relação temporal entre rochas mais recentes e mais antigas (Fig. 2). Partindo do princípio que, não havendo perturbações, as camadas se depositam na horizontal, então pode deduzir-se que sempre que elas não se dispõem na horizontal, qualquer que seja o desvio desta posição, deve ser interpretado como resultado de fenómenos posteriores à sua formação. Na maioria dos casos, a modificação resulta da atuação de movimentos tec-

tónicos (posteriores) que as bascularam ou dobraram – Princípio da Horizontalidade Inicial. Se, por exemplo, estivermos perante uma sucessão sedimentar, que não tenha sofrido modificações desde a sua deposição, conclui-se que as camadas mais recentes se encontram por cima das mais antigas – Princípio da Sobreposição de Nicholas Steno (1638 – 1686). Se, por outro lado, se observar um corpo geológico a intersectar uma determinada rocha ou camada, pode afirmar-se que esse corpo é posterior ao material que está a ser interrompido – Princípio da Intersecção. Este tipo de análise geométrica pode também ser aplicado na observação das relações estruturais dentro das próprias rochas. Assim, uma unidade geológica será posterior a outra se contiver fragmentos dela no seu interior - Princípio da Inclusão. Alguns fósseis são também utilizados para atribuir uma idade às rochas, sendo por isso muitas vezes designados por “marcadores do tempo”, ou seja, permitem reconhecer e individualizar determinados conjuntos de estratos e relacioná-los

Fig. 2 - Relações geométricas entre unidades geológicas.

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com outros com o mesmo conteúdo fossilífero – Princípio da Identidade Paleontológica. Estes fósseis designam-se por fósseis de idade ou fósseis característicos e representam organismos de curta longevidade, mas que tiveram uma ampla distribuição geográfica e uma rápida evolução.

MAS COMO PODEMOS ATRIBUIR UMA IDADE ABSOLUTA ÀS ROCHAS?

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A descoberta da radioatividade no século XIX possibilitou aos geólogos calcular a idade exata ou absoluta de uma rocha, ou seja, permitiu saber quando essa rocha se originou e assim contribuir para a reconstituição mais precisa da história geológica de uma determinada região. São vários os elementos radioativos, também designados por isótopos, que podem ser utilizados na datação das rochas, dependendo do seu tempo (taxa) de decaimento, ou seja, do tempo que leva a desintegrar o seu núcleo. A grande maioria dos isótopos radioativos tem taxas de decaimento rápidas, isto é, perdem a sua radioatividade em poucos anos ou mesmo em poucos dias. Porém, para a datação radiométrica das rochas é necessário utilizar isótopos radioativos que tenham uma meia-vida longa, ou seja, que o tempo necessário para que se desintegre metade dos seus núcleos seja lento. É o caso, por exemplo, do urânio (238U) que decai para chumbo (206Pb) com um tempo de meia-vida de cerca de 4,47 x 109 anos ou do rubídio (87Rb) que decai para estrôncio (86Sr) com um tempo de meia-vida de cerca de 48,8 x 109 anos. Os isótopos descritos foram utilizados para determinar a idade do granito das Berlengas. Na década de 60 foi publicada a primeira idade radiométrica do granito da Berlenga, a partir de uma amostra colhida na Berlenga Grande; de facto, a idade estimada foi de cerca de 280 milhões de anos, obtida pelo método 87 Rb/86Sr a partir de rocha total (Priem et al., 1965). Mais

tarde, Valverde et al. (2010) consideraram que o mesmo corpo granítico solidificou há cerca de 307 milhões de anos, utilizando o método 235U/207Pb. Os mesmos geocronólogos estimaram ainda através de idêntica metodologia que a idade do pico do metamorfismo térmico das rochas mais antigas, que constituem os Farilhões e as Forcadas (micaxistos, paragnaisses e migmatitos), é de cerca de 377 milhões de anos, e que a intrusão das apófises graníticas nestas rochas ocorreu há cerca de 483 milhões de anos. Se comparamos as idades verificamos que são diferentes, sendo mais precisa a determinação mais recente, dado que no método 87Rb/86Sr as concentrações de rubídio e estrôncio nos minerais não são homogéneas, tendo-se estimado a idade através de concentrações médias da rocha total. Na estimativa da idade 235U/207Pb foram utilizadas as concentrações de chumbo que se encontram atualmente nos minerais zircão e monazite.

QUE MINERAIS SE PODEM DATAR? Dependendo do tipo de rocha que se pretende datar e do método a utilizar são selecionados minerais que irão permitir determinar a sua idade e, consequentemente, a idade da rocha onde estão inseridos. Os minerais mais comuns utilizados em Geocronologia são o zircão, a monazite, a moscovite, a biotite, a horneblenda, a microclina, a granada, entre outros. De todos estes minerais, o zircão é considerado como um dos melhores geocronómetros, cuja idade é determinada pelo decaimento dos isótopos de urânio para chumbo (Fig. 3). Porém, no processo de datação das rochas há que ter alguns cuidados relativamente à organização interna dos cristais que integram os minerais. De facto, para compreender a história dos minerais, registada na estrutura interna dos seus cristais, é necessário utilizar técnicas de imagiologia por catodoluminescência para interpretar todos os seus ciclos de crescimento e de erosão. Só após a análise detalhada do zonamento dos cristais é que se


deve avançar para a sua efetiva datação, de forma a não desordenar eventos cronológicos distintos. Por exemplo, os zircões complexos são compostos por estruturas zonadas, que resultaram da adição genética de mais zircão durante vários ciclos, razão pela qual é necessário distinguir as idades consideradas herdadas das idades que efetivamente representam a fase de cristalização do magma parental.

Fig. 3 - Grão de zircão de um metagrauvaque analisado por SHRIMP – Sensitive High Resolution Ion Microprobe (imagem obtida através de eletrões retrodifundidos; Böhm et al. 2003).

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A REGIÃO DE PENICHE ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO A região de Peniche integra, do ponto de vista geológico, a Orla Meso-Cenozóica Ocidental de Portugal (Fig. 4). Destacam-se, ainda, na região fragmentos do maciço antigo que constituem o arquipélago das Berlengas, localizados a ocidente da península de Peniche (Fig. 5). Nas Estelas e Berlenga, ilhas do arquipélago das Berlengas, afloram principalmente rochas graníticas deformadas, na generalidade de cor rosa, com granularidade média e, mais ocasionalmente, fina. Datações

U/207Pb dos seus minerais constituintes

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(monazite e zircão) indicaram que a sua intrusão ocorreu à cerca de 307 milhões de anos (Valverde

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et al., 2010). Ainda mais antigas são as rochas metamórficas com relíquias granulíticas (micaxistos, paragnaisses e migmatitos) que constituem os Fari-

lhões e as Forcadas, localizadas a NW da ilha da Berlenga, cuja evolução tectonometamórfica se iniciou com condições de pressão e temperatura da crusta média (Telmo et al., 2010). Idades 235U/207Pb para estas rochas sugerem que suportaram um pico térmico aos cerca de 377 milhões de anos (monazite) e a intrusão de apófises graníticas com zircões aos cerca de 483 milhões de anos (Valverde et al., 2010). Na região continental afloram, na generalidade, sucessões carbonatadas do Jurássico Inferior (península de Peniche) a Médio (Baleal) e areno-argilosas do Jurássico superior (Pedras Muitas), sobre as quais assentam discordantemente depósitos aluvionares, areias de praia e dunas de idade holocénica (Fig. 6). A ocidente do antigo Maciço Ibérico desenvolveu-se uma extensa bacia sedimentar marginal, cuja evo-

9’’19’

9’’23’

Baleal

Peniche

39’’22’

Papoa

Cabo Carvoeiro

39’’21’

39’’21’

Peniche

500m

Quaternário Depósitos de aluviões, dunas e areias de praia

Jurássico Inferior

9’’19’

9’’23’

Calcários cristalinos, margas e calcarenitos

Jurássico Superior

Jurássico Médio

Formações areno-argilosas continentais

Calcários com margas

Tufo-brecha da Papoa

Falha

Falha provável

Fig. 4 – Esboço geológico da região de Peniche enquadrado no mapa geológico de Portugal na escala 1: 1 000 000 editado pelo Laboratório Nacional de Energia e Geologia.


Farilhões Farilhão Grande

Porto

As Forcadas

Coimbra

Arquipélago das Berlengas

Peniche Lisboa

Estelas Estalão

0

500m

Berlenga Carreiro dos Cações

Cova do Sonho

Cerro da Velha

Carreiro da Inês

0

Furado

100km

Cabeça do Elefante

Península de Peniche e Baleal

Ilhéu de Fora

Mirador de Frei João

Geomonumentos Falhas Geológicas Monoclinal do Baleal Campo de lapiás do Cabo Carvoeiro-Remédios

Remédios

Ponta do Trovão

Ilhéu das Pombas

Baleal

Peniche

Cabo Carvoeiro

Tufo-brecha da Papoa

Papoa

Gruta da Furninha

Tômbolos de Peniche e do Baleal Unidades sedimentares Granito róseo das Berlengas Rochas metamórficas dos Farilhões

0

2km

Consolação Fig. 5 – Localização dos principais lugares e geomonumentos com interesse científico, didático e pedagógico na região de Peniche.

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lução meso-cenozóica está estreitamente associada com o estiramento da crusta e consequente fragmentação do supercontinente Pangea, seguida da abertura do oceano Atlântico. Esta bacia sedimentar foi preenchida, no início do Mesozóico até à atualidade, pela acumulação alternada de sedimentos terrígenos e químicos, que se podem observar, em particular, ao longo do litoral da costa ocidental de Portugal.

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O registo sedimentar da região de Peniche é caracterizado por conjuntos de sucessões de estratos com composição, forma, estrutura e disposição diferenciadas, cujo substrato é o maciço antigo. Este é constituído por litótipos rochosos de natureza metamórfica e eruptiva, que afloram no Arquipélago das Berlengas. Todos estes elementos de natureza geológica, que estão a condicionar a paisagem atual, constituem testemunhos essenciais para a reconstituição da geohistória da região.

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O CICLO GEOLÓGICO E A GEOHISTÓRIA DA REGIÃO DE PENICHE Os litótipos sedimentares mais antigos (~220 milhões de anos), originados a partir de sedimentos depositados no fundo do mar, contêm no seu interior elementos erosionados de antigas cadeias montanhosas emersas no Maciço Ibérico. Evidências atuais destas antigas montanhas afloram no horst do arquipélago das Berlengas, nomeadamente rochas eruptivas ou magmáticas na Berlenga e rochas metamórficas nos Farilhões e Forcadas (Fig. 5). Por outro lado, as sucessões sedimentares cada vez mais recentes preservam no seu interior testemunhos que resultaram da erosão de sequências anteriores, nomeadamente litótipos e fósseis de camadas continentais ou marinhas mais antigas; estas foram erosionadas e posteriormente depositadas em sucessões mais recentes.

Fig. 6 – Coluna estratigráfica da região de Peniche – Caldas da Rainha. 1 – Granito das Berlengas (Paleozóico); 2 – Rochas metamórficas dos Farilhões e Forcadas (Neoproterozóico ou Paleozóico); 3 – Jurássico Inferior (arenitos e argilas vermelhas); 4 – Jurássico Inferior (margas e calcarenitos do Cabo Carvoeiro); 5 – Jurássico Médio (calcários e margas interestratificados); 6 – Jurássico Superior, a – calcarenitos, b – argilas, c – arenitos d – arenitos e areias continentais; 7 – Cretácico, a – arenitos e b – arenitos e argilas; 8 – Miocénico; 9 – Quaternário; 10 – Discordâncias.


Há cerca de 190 milhões de anos depositaram-se nesta bacia sedimentos finos carbonatados, por vezes com abundante matéria orgânica, em ambiente marinho de águas quentes relativamente profundas. A profundidade da bacia vai progressivamente diminuindo, como consequência do preenchimento da bacia por sedimentos provenientes da erosão de terras emersas e do abaixamento generalizado do nível das águas do mar que se verificou à escala do globo no fim do Jurássico (~150 milhões de anos). Nestas circunstâncias, o ambiente de deposição passou, sucessivamente, a marinho menos profundo, recifal, laguno-marinho, fluvial e lacustre (Baleal). Há cerca de 145 milhões de anos iniciou-se a abertura do golfo da Biscaia, que induziu a rotação da Península Ibérica. Consequentemente, o território português movimenta-se para latitudes mais baixas do que as atuais, onde o clima era mais quente e húmido. Concomitantemente, ocorreram oscilações do nível das águas do mar à escala do planeta. Estas modificações vão induzir variações acentuadas nos ambientes de deposição, registando sucessivamente passagens de ambiente marinho a fluvial. É de salientar que os depósitos de natureza fluvial contêm, por vezes, vegetais fossilizados e materiais provenientes de áreas subaéreas, onde as rochas do maciço antigo afloravam, nomeadamente granitos, xistos, quartzitos, entre outras. No final da Era mesozoica (~65 milhões de anos), junto à fronteira entre o Cretácico e o Cenozoico (K/T), iniciou-se a abertura do Atlântico Norte através da relocalização da crista média oceânica por migração espacial do rift e, consequentemente, termina a abertura do Golfo da Biscaia. Esta evolução tectónica produziu adelgaçamento da margem continental ibérica e alterações no campo de tensões, o que originou fracturação a grande profundidade. Ao longo de uma destas falhas com direção NNW-

-SSE ocorreram as intrusões dos maciços subvulcânicos de Sintra, Sines e Monchique e numerosos episódios vulcânicos (Papoa, Leiria, Nazaré, entre outros). Contudo, a fronteira K/T (65 milhões de anos) é mundialmente famosa por ter sido um período de tempo marcado pela extinção em massa de cerca de 50% das espécies da Terra, em particular dos dinossauros, tendo sido descobertos indícios em vários locais do planeta de que esta catástrofe global poderá ter sido causada por impacto de um meteorito de dimensões quilométricas (Alvarez et al, 1980). Nos tempos subsequentes (Era cenozoica) ocorreu o rápido arrefecimento do planeta e o desenvolvimento dos mamíferos em número e espécies. O clima mudou na generalidade de tropical para glacial, alterando-se em particular grande parte da paisagem do hemisfério norte; formaram-se as atuais cadeias montanhosas que resultaram da colisão entre as placas Euroasiática e Africana e, nas zonas marginais à colisão, desenvolveram-se sistemas do tipo horst-graben. Estas alterações à escala do planeta tiveram consequências na região de Peniche, dado que houve modificações acentuadas no relevo (levantamento da serra de Montejunto) e na linha da costa (formação da Lagoa de Óbidos), bem como a formação de depósitos continentais que resultaram da erosão do maciço antigo, que estão preservados em depressões (Bolhos, Óbidos e Olho Marinho, entre outras). Nos últimos 1,8 milhões de anos (Quaternário) o planeta esteve mais frio, em média, do que durante grande parte da sua história. Este período foi marcado por diversas glaciações e interglaciações; de facto, ocorreram diversas oscilações do nível das águas do mar que são testemunhadas, em particular, pelo posicionamento de terraços de areias marinhas a altitudes diferenciadas próximos do litoral da região, nomeadamente no Cabo Carvoeiro, na gruta da Furninha, na Atouguia da Baleia, entre outros.

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LOCAIS DE INTERESSE GEOLÓGICO A VISITAR: LUGARES E GEOMONUMENTOS Ao longo do litoral de Peniche ocorrem numerosos exemplos de lugares singulares com interesse geológico e paisagístico que ocupam áreas espaciais consideráveis, nomeadamente a península do Baleal, a paisagem cársica do Cabo Carvoeiro-Remédios e o arquipélago das Berlengas. Entre os geossítios de características únicas com valor científico, didático e pedagógico destacam-se a erupção vulcânica da Papoa, o registo sedimentar da Ponta do Trovão e a gruta da Furninha (Fig. 5).

1. HORST DO ARQUIPÉLAGO DAS BERLENGAS: PLANALTO DE GRANITO ROSA DA BERLENGA E OS PICOS METAMÓRFICOS DOS FARILHÕES 14 Descrição: O arquipélago das Berlengas localiza-se a cerca de 10km a W da península de Peniche em pleno oceano (Fig. 5). É formado por três grupos de pequenas ilhas e rochedos: o maior e único com ocupação humana é a Berlenga (39º24´56´´N; 9º30´37´´W), a cerca de 1,7km a oeste encontram-se as Estelas (39º25´19´´N; 9º31´59´´W) e 6,5km a NNW os Farilhões e as Forcadas (39º28´45´´N; 9º32´43´´W).

A observação do arquipélago à distância (Fig. 7), a partir da zona dos Remédios na península de Peniche, indica que a ilha da Berlenga constitui um planalto de cor rosada relativamente arredondado e com topo plano, enquanto os ilhéus Farilhões e Forcadas são rochedos íngremes e inóspitos, com escarpas subverticais, cujos cumes são pontiagudos. As Estelas não são visíveis, encontram-se encobertas pela ilha das Berlengas. Mais detalhadamente, a ilha da Berlenga apresenta a forma de oito com o eixo maior orientado na direção SW-NE (Daveau, 1884) e uma linha de costa muito recortada onde sobressaem enseadas, grutas, arcos, carreiros, pequenos ilhéus e rochedos. Os Farilhões e Forcadas correspondem a picos de uma montanha submarina, que alarga conside-

ravelmente abaixo do nível das águas do mar. As Estelas avistam-se das Berlengas e constituem um conjunto numeroso de ilhéus de reduzida dimensão, no geral, com formas piramidais, sendo os maiores designados por Estela e Estalão. Este último rochedo aparenta possuir um tipo de erosão caracterizado por uma forma acastelada com diaclases ortogonais, designado de borrageiro. Entre os ilhéus com maior expressão existe uma grande quantidade de recifes e escolhos nas suas imediações, indicando que outrora constituíam um único afloramento, tendo a erosão desagregado a rocha que os interligava. A Estela e o Estalão são cortados por um grande número de descontinuidades paralelas umas às outras, dispostas quase na vertical e com reduzido espaçamento entre si, parecendo livros inclinados


numa estante, como no bem conhecido monumento natural designado por “Livrarias do Mondego”, que se localiza junto à povoação de Penacova. A Estela é atravessada de lado a lado por um túnel com cerca de 6m de largura, composto por paredes planas quase verticais que se desenvolveu ao nível das águas do mar, designado por “A porta da Estela”. Aparenta um antigo templo egípcio na imensidão do mar quando se vem da Berlenga e pode ser percorrido por um bote na maré baixa. A dissemelhança acentuada da paisagem morfológica entre a Berlenga e os Farilhões e Forcadas sugere que a natureza dos litótipos rochosos que as constituem é muito distinta e que as suas formas atuais resultaram de um processo de erosão diferencial, onde a resistência das rochas ao desgaste desempenhou um papel fundamental. De facto, a Berlenga é um corpo granítico de cor rosa e os Farilhões e Forcadas são compostos por rochas metamórficas bandadas (paragnaisses, ortognaisses e micaxistos) fortemente deformadas e dobradas, organizando-se em estruturas, no geral quase verticais. As rochas metamórficas mais ricas em quartzo constituem relevos de dureza e são mais resistentes ao desgaste do que os granitos da Berlenga e as faixas metamórficas mais brandas, compostas por micaxistos, dos Farilhões e Forcadas. Como consequência do efeito da modelação erosiva, a morfologia das Berlengas constitui, no seu todo, um planalto sobrelevado

dada a sua homogeneidade e os Farilhões e Forcadas, marcados por forte heterogeneidade litológica, constituem relevos acidentados com cumes pontiagudos entre os quais se desenvolveram vales, muito estreitos e com reduzida expressão, onde afloram as rochas metamórficas menos resistentes, nomeadamente os micaxistos. Por outro lado, os litótipos rochosos que fazem parte das unidades geológicas aflorantes no Arquipélago das Berlengas são muito diferentes dos estratos quase horizontais de natureza sedimentar (calco-detrítica) bem mais recentes (Mesozoico) que ocorrem na região de Peniche e, em particular, no Cabo Carvoeiro. De facto, formações geológicas com litótipos e idades similares aos destas ilhas só afloram a muitos quilómetros de distância, da qual se destacam o granito rosa do Gerês ou, eventualmente, as rochas metamórficas altamente deformadas situadas na região de Abrantes – Tomar, que integram o Maciço Antigo ou Ibérico. Outra diferença significativa entre a morfologia do arquipélago e a da península de Peniche é a altitude. Nas ilhas as cotas máximas encontram-se a 92 e 94m, respetivamente na Berlenga e nos Farilhões, marcando uma superfície de aplanação erosiva próxima dos 90m. Por outro lado, a plataforma carbonatada do Cabo Carvoeiro-Remédios constitui uma superfície de abrasão marinha que se encontra à altitude de 20-25m, bem identificada por geoformas incutidas na sua superfície pela ação do mar e por

Fig. 7 – Vista panorâmica do arquipélago das Berlengas. Observar o contraste entre a plataforma aplanada das Berlengas e os picos dos Farilhões.

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depósitos de areia com fragmentos de conchas, que correspondem a restos de antigas praias, localizados nas zonas mais deprimidas da referida plataforma. As observações do parágrafo precedente indicam que a linha da costa tem mudado ao longo do tempo, devido à ocorrência de alterações do nível do mar relativamente aos continentes. Estas variações do nível do mar podem ser consequência de oscilações verticais na posição da superfície dos oceanos à escala global, de movimentos verticais do continente e da ocorrência simultânea de ambas as situações.

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Considerando a sua localização junto ao litoral e o seu contexto tectónico é de esperar que possam ter ocorrido todas as hipóteses colocadas para as variações do nível do mar. De facto, modificações climáticas acentuadas podem ser responsáveis quer pela descida quer pela descida do nível mar, respetivamente em épocas frias (períodos glaciários) e quentes (períodos inter-glaciários). Por outro lado, a região ocidental de Portugal tem sido marcada, na generalidade, por um regime distensivo, consequência da abertura do oceano Atlântico durante os tempos meso-cenozoicos, pelo que é de esperar que o território esteja organizado em estruturas tectónicas do tipo horst e graben, limitadas por falhas geológicas subparalelas de orientação próxima N-S. Assim, é possível identificar na região de Peniche blocos de terreno soerguidos, nomeadamente os que contêm o Arquipélago das Berlengas e os calco-arenitos que afloram na península de Peniche, bem como blocos abatidos, que correspondem às áreas ocupadas pelo mar entre as Berlengas e o Cabo Carvoeiro e ao tômbolo de areia que se desenvolveu entre as povoações de Peniche e Atouguia da Baleia. As variações do nível do mar na região é essencialmente função da maior ou menor velocidade das oscilações climáticas e subordinadamente de taxas de descida ou subida de blocos. A superfície erosiva do planalto da Berlenga, posicionada atualmente a cerca de 90m, já esteve

próximo do nível das águas do mar, como pode ser confirmado pela existência de depósitos de areias de praia, localizados junto ao Carreiro do Mosteiro, onde foram encontradas conchas e clastos relativamente rolados de diversas naturezas. Para além da identificação de restos de antigas praias a cotas elevadas, a rede de drenagem atual também se encontra sobrelevada. Admite-se, mesmo, que tenha já estado abaixo do nível do mar, dado que não existe praticamente solo e a erosão do corpo granítico manifesta-se apenas por fragmentos de rochas de reduzida dimensão, não existindo formas erosivas típicas de granitos, como por exemplo estruturas colunares, blocos caóticos, ou outros. Atendendo aos considerandos anteriores, a superfície de aplanação descrita poderia ter sido uma antiga plataforma de erosão marinha fossilizada. As rochas eruptivas da Berlenga, granitos vermelhos de granularidade média a grosseira e composição principal de quartzo, feldspato e micas, foram originadas no interior de uma câmara magmática, localizada a vários quilómetros de profundidade. Os minerais resultaram do lento arrefecimento (os cristais de quartzo e feldspatos são bem desenvolvidos), consolidação e cristalização de fluidos magmáticos que ascenderam à câmara magmática provenientes do interior da crusta terrestre. A coloração rosa do granito é o resultado de um processo de alteração caracterizado pela fixação do ferro na superfície dos feldspatos após ter sido solubilizado por transformação das micas. As rochas metamórficas (gnaisses e micaxistos) dos Farilhões originaram-se também a grandes profundidades no interior da crusta terrestre. Contudo, a sua génese está relacionada com a subsidência progressiva de sedimentos originais, que sob o efeito de altas pressões e temperaturas, sofrem recristalização com formação de novos minerais, indo substituir total ou parcialmente os que existiam. Simultaneamente, ocorrem variações estruturais evidenciadas pelo grau de cristalinidade dos minerais. O seu comportamento torna-se progressivamente mais plástico com o au-


mento da profundidade, originando o aparecimento de dobras e superfícies penetrativas que são marcadas por alinhamentos dos minerais neoformados. As características diferenciadas dos litótipos mencionados, em particular o facto das rochas metamórficas se encontrarem mais deformadas que os granitos, sugerem que os paragnaisses e micaxistos sejam muito mais antigos, eventualmente parte integrante de antigas orogenias pré-câmbricas e paleozoicas. As características litológicas, estruturais, geoquímicas, isotópicas e as idades estabelecidas indicam que as rochas dos Farilhões e Forcadas sofreram uma evolução metamórfica complexa. Telmo et al. (2010) sugeriu que a génese da fácies granulítica ocorreu na crusta média com condições de pressão (P=8,6±1kbar) e temperatura (T=915±50ºC), evoluindo posteriormente por descompressão e aumento de temperatura. Os estágios evolutivos seguintes são caracterizados por formação de novos minerais por reajustamento em condições de mais baixa pressão e temperatura, gerando-se assim outro reequilíbrio com a associação mineral seguinte: plagioclase, quartzo, biotite, granada, anfíbola e clinopiroxena. A partir dos dados e ideias expostos nos parágrafos anteriores é de esperar que as litologias do Arquipélago das Berlengas tenham passado por vários ciclos geológicos, daí a sua significati-

Fig. 8 – Cabeça do Elefante na Berlenga. Formas erosivas (arcos e cavidades) devido à ação abrasiva do mar.

va complexidade. Para além disso, apresentam afinidades e uma história em comum com os terrenos antigos do Maciço Ibérico, tendo apenas sido separados deste por episódios distensivos relacionados com abertura do Oceano Atlântico. A existência de numerosos carreiros, dos quais se destacam o da Inês, do Mosteiro e do Cação, está intimamente relacionada com a presença de falhas geológicas. Nos locais onde ocorrem as falhas, as rochas estão fortemente fraturadas e esmagadas e, por vezes, brechificadas, facilitando assim maior circulação de água e, consequentemente, um aumento da velocidade de desagregação e erosão dos materiais rochosos. O Carreiro da Inês, que separa o ilhéu da Inês da Berlenga propriamente dita, deverá corresponder a uma falha normal com abatimento de alguns metros do bloco SE relativamente ao bloco NW. Outras geoformas interessantes, a maioria de magnífica beleza, são as cavidades, arcos e pontes naturais (Cova do Sonho, Cabeça do Elefante e Furado, entre outras) que se desenvolveram nas arribas da Berlenga (Fig. 8). Estas resultaram da ação mecânica das ondas do mar sobre a base da arriba, onde o material rochoso foi desgastado mais intensamente. O desgaste é mais acentuado nas arribas mais fraturadas e alteradas, em consequência da menor resistência dos granitos. O horst do arquipélago das Berlengas, composto por rochas do maciço antigo, constitui um pequeno fragmento do supercontinente Pangea que existiu há cerca de 280 milhões de anos. Durante a era Mesozoica, esta estrutura montanhosa teria com certeza dimensões muito maiores, pois os seus constituintes erosionados foram depositados nos mares da época, como pode ser confirmado pela sua presença nas rochas calco-areníticas jurássicas do Cabo Carvoeiro. Nos últimos dois milhões de anos, os efeitos das subidas e descidas generalizadas do nível do mar, consequência das glaciações, teve implicações no arquipélago, nomeadamente a existência de praias e de uma rede de drenagem sobrelevadas, bem como a formação da superfície de aplanação já descrita.

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INFORMAÇÃO ADICIONAL O docente poderá destacar a utilização dos métodos radiométricos para a datação absoluta de rochas, nomeadamente o método U/Pb, que usa o decaimento radioativo de isótopos de urânio para os de chumbo. A partir das metodologias isotópicas foram estimadas: - a idade de cerca de 307 milhões de anos para a intrusão do granito da Berlenga (Valverde et al., 2010);

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- duas idades para as rochas metamórficas dos Farilhões e Forcadas; uma mais recente, que reflete um pico térmico aos cerca de 377 milhões de anos, determinada a partir dos constituintes isotópicos da monazite, e outra mais antiga, que corresponde à intrusão de apófises graníticas, contendo pequenos cristais de zircão, que penetraram micaxistos aos cerca de 483 milhões de anos (Valverde et al., 2010). Atendendo aos dados cronológicos obtidos relativos à sucessão de eventos que as formações rochosas do Arquipélago das Berlengas sofreram, é possível elaborar uma história geológica para a região, a partir do conceito de Ciclo Geológico, que incorpora de forma inter-relacionada os ciclos das rochas e o ciclo tectónico. O Ciclo Geológico mais recente foi iniciado pela génese das rochas graníticas das Berlengas a partir da cristalização e, subsequente arrefecimento, de um magma que estaria localizado no interior de uma câmara magmática situada a grande profundidade na crusta terrestre. Durante muitos milhões de anos a espessa cobertura de rochas encaixantes que envolveriam a câma-

ra magmática foi muito lentamente erodida até que a sua parte superior desapareceu quase por completo, apenas resistindo os relevos residuais metamórficos que afloram nos Farilhões e Forcadas. Como consequência do intenso trabalho erosivo realizado pelos agentes de meteorização e de sucessivos movimentos tectónicos que ocorreram ao longo do tempo, o corpo granítico das Berlengas emerge atualmente na superfície da crusta terrestre. Ainda hoje se observam evidências da sua erosão e consequente acumulação em depósitos de rochas sedimentares não consolidadas que afloram no litoral da referida ilha, em particular nas zonas onde se encontram as praias de areia algo rosada. As rochas metamórficas de alto grau dos Farilhões e Forcadas integraram outro Ciclo Geológico, porém de idade bastante mais antiga. Estas rochas foram originadas e dobradas a algumas dezenas de quilómetros de profundidade (crusta inferior), onde prevaleciam pressões e temperaturas muito elevadas, por processos que teriam envolvido recristalização e neoformação de novos minerais. De facto, foram geradas a partir da transformação de outras rochas ainda mais antigas que poderiam ter sido sedimentares ou mesmo magmáticas, neste caso interdigitadas entre si, após a sua forte subsidência no interior da crusta terrestre. O docente poderá, ainda, abordar a Teoria da Tectónica de Placas na sua generalidade, enquadrando e integrando os dois ciclos geológicos descritos, tendo em vista o conceito de Ciclo de Wilson. Este corresponde a um ciclo completo que representa a formação, desenvolvimento e o fecho de um oceano.


Questões Distinga rochas ígneas de metamórficas. Enumere e identifique alguns tipos de rochas ígneas e metamórficas que afloram na região. Quais as condições necessárias para a formação de rochas ígneas e metamórficas? Discuta os métodos de datação absoluta das rochas ígneas. Como se datam as rochas metamórficas? Como se processa a erosão das rochas? Identifique os principais agentes erosivos associados com a génese das geoformas

reconhecidos nesta paragem. O que é uma plataforma de abrasão marinha fóssil? Discuta as evidências para a variação do nível médio das águas do mar ao longo do tempo. Distinga os conceitos: Horst e Graben. Distinga deformação frágil de deformação dúctil. O que é uma falha? Identifique e defina os tipos de falha. O que é uma orogenia? Como se forma um supercontinente?

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2. CAMPO DE LAPIÁS DO CABO CARVOEIRO-REMÉDIOS Descrição: O campo de lapiás do Cabo Carvoeiro-Remédios (Romão, 2001) constitui um lugar que se estende ao longo da linha da costa da península de Peniche numa faixa de cerca de algumas dezenas de metros de largura, desde o Mirador de Frei João (39º22´12´´N; 9º23´48´´W) até ao Forte de Peniche (39º21´13´´N; 9º22´43´´W) (Fig. 5). Forma extensa paisagem cársica de elevada singularidade que se desenvolveu ao longo de milhões de anos junto ao litoral (Ribeiro & Ramalho, 1997), caracterizada por um conjunto de geoformas típicas e originais, esculpidas numa plataforma carbonatada que corresponde à superfície de abrasão marinha plistocénica (Romariz & Marques, 1989).

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O campo de lapiás desenvolve-se sobre uma sucessão de 300m de estratos calco-detríticos intercalados na base de finas camadas de argilas e de siltitos carbonatados, organizados numa sequência em que as camadas são cada vez mais espessas para o topo. Esta sucessão aflora numa estrutura em monoclinal inclinada para SE e foi datada do Toarciano-Aaleniano (Mouterde, 1955), Jurássico Inferior a Médio (~180 milhões de anos). Entre as tipologias geomorfológicas superficiais inventariadas destacam-se pináculos, cogumelos, formas zoomórficas (senhora com chapéu, robot e senhora com xaile), estruturas labirínticas entrelaçadas e fusionadas entre si, etc., localizadas entre os Remédios e o Cabo Carvoeiro. As geoformas do tipo cogumelo (blocos pedunculados), identificadas junto ao mirador Frei João, são arredondadas e caracterizadas pelos estratos localizados na base dos afloramentos serem de composição argilo-siltosa e os do topo apresentarem composição mais carbonatada. O desgaste das camadas inferiores é acelerado pelo impacto das partículas de areia transportadas a alta velocidade, principalmente junto ao chão, por ação do vento (corrasão). As geoformas colunares (Cerro

do Cão) constituem estruturas verticais isoladas, de alguns metros de altura que resultaram da dissolução das rochas envolventes, localizadas ao longo de descontinuidades progressivamente alargadas, onde existiu continuada circulação de água. Os processos erosivos e a presença de descontinuidades (estratificação, diaclases e fraturas) controlam na generalidade as geoformas pitorescas e singulares que se podem observar em todo o campo de lapiás. Contudo, a plataforma de abrasão marinha quase planar que se desenvolveu à cota de 20-25m resultou da subida das águas do mar nos tempos plistocénicos. Evidências da presença do mar sobre esta plataforma são reveladas pela ocorrência de terraços de depósitos de areias de praia com conchas sobre a própria plataforma que foram reconhecidas a cerca de 200m a NE do Cabo Carvoeiro (Zbyszewski et al., 1960). Outras evidências consistem em geoformas reconhecidas junto ao farol do Cabo Carvoeiro que sugerem a ação do movimento de recuo das ondas do mar quando da sua rebentação e a inexistência de fragmentos individuais soltos de rochas carbonatadas da dimensão dos blocos, como é habitual em áreas com este tipo de morfologias.


INFORMAÇÃO ADICIONAL O professor poderá aprofundar o processo de formação de um campo de lapiás, referindo que o modelado desta paisagem cársica é, na generalidade, consequência do efeito erosivo da dissolução química do carbonato de cálcio nos estratos calco-areníticos pela ação da água, processo que é designado de carsificação. O carbonato de cálcio é facilmente solubilizado em águas ácidas, como é o caso das águas das chuvas e do aerossol da água do mar, originando-se bicarbonato de cálcio. Os produtos residuais desta dissolução vão-se acumular no fundo dos sulcos, poços, etc., formando depósitos de materiais argilosos de cor vermelha (terra rossa). Estes depósitos são constituídos por grãos de quartzo e de feldspatos similares aos do granito da Berlenga, partículas de argila e óxidos de ferro, que fazem parte da composição detrítica dos calcários. A presença sistemática de numerosas descontinuidades, nomeadamente planos de estratificação, diaclases e fraturas, permite uma maior infiltração e circulação de água e aumenta a superfície de contacto das águas ácidas com os carbonatos. Esta situação, de continuada circulação de água, intensifica os processos de dissolução e como consequência alarga as várias descontinuidades, o que contribui para o aumento da erosão por dissolução das unidades calco-areníticas. Poderá, ainda, referir as formas cársicas de condução e de absorção de água. Entre as tipologias subterrâneas reconheceram-se numerosas galerias e grutas que intercomunicam com poços naturais (algares), alguns deles com ligação direta ao mar. Por vezes a configuração das galerias e as mesoformas que se encontram no interior, parecem traduzir cenas da vida real. Estas cenas vão potenciar a imaginação popular, conduzindo ao apare-

cimento de lendas ou histórias, como por exemplo a galeria com os Passos de D. Leonor. Algumas das grutas apresentam dimensões consideráveis e são constituídas por várias câmaras caracterizadas por grandes espaços abobadados, como por exemplo a Gruta da Furninha. As tipologias morfológicas reconhecidas são consistentes com as características geológicas da área, ocorrendo um controlo das geoformas cársicas em função da disposição dos estratos e do seu maior ou menor conteúdo em carbonato de cálcio, bem como das direções das estruturas tectónicas frágeis pré-existentes, nomeadamente falhas e diaclases. Sugere-se, ainda, que se abordem as oscilações do nível do mar e os períodos de regressão e transgressão que deixaram como testemunhos os terraços de depósitos de areias de praia com conchas. Os alunos poderão medir as orientações de algumas descontinuidades (diaclases, planos de estratificação e fraturas).

Fig. 9 – Paisagem cársica do Cabo Carvoeiro-Remédios. Figura antropomórfica (robot com os braços abertos) esculpida em rochas carbonatadas.

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Questões Que rochas podemos encontrar neste local: calcários ou arenitos? Como se formam as rochas sedimentares? E as estruturas sedimentares que contêm? Identifique evidências de atividade orgânica nas camadas sedimentares dos afloramentos visitados. Com base nos dados recolhidos tente reconstruir o ambiente paleogeográfico que originou a sucessão sedimentar visitada. Como se forma um campo de lapiás? Caracterize as geoformas reconhecidas em paisagens cársicas. Discuta o papel das descontinuidades na formação do carso. Justifique as evidências de que o mar terá estado a um nível mais elevado nesta zona, originando uma plataforma de abrasão marinha fóssil.

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Fig. 10 – Figura antropomórfica (senhora com pitó) esculpida em rochas carbonatadas estratificadas.


3. REGISTO SEDIMENTAR DA PONTA DO TROVÃO COM IDADE DE 183 MILHÕES DE ANOS Descrição: A Ponta do Trovão (39º22´15´´N; 9º22´59´´W) constitui uma reentrância rochosa no mar, que limita a fronteira oriental da pequena praia do Abalo, localizada na parte norte da Península de Peniche (Fig. 5). Esta arriba está organizada em estratos sedimentares sobrepostos, caracterizados por apresentarem espessuras decimétricas. As camadas estão espaçadamente afetadas por diaclases, organizadas na subvertical, e inclinam ligeiramente para Sul numa estrutura em monoclinal (Fig. 11). Neste sítio pode-se observar a passagem entre duas formações geológicas de características muito distintas. A mais antiga datada do Pliensbaquiano (Mouterde, 1955; Duarte, 2003; 2004; 2005; 2006), é constituída por alternâncias de estratos calcários dolomíticos intercalados de margas ricas de matéria orgânica. Apresenta abundante conteúdo fossilífero, que se pode observar no topo da arriba, evidenciando-se aí a presença de acumulações pos-mortem e de fósseis isolados no interior dos estratos. Entre as espécies fósseis destacam-se, em particular, amonites (pequenas conchas em forma de espiral), que são os restos de antigos cefalópodes predadores cujo descendente atual mais próximo é o Nautilus, e belemnites (designados na gíria popular por charutos devido à sua forma), que eram animais carnívoros com corpo mole à volta de uma concha interna (rostrum), semelhantes às lulas atuais. Esta unidade teria sido depositada em plataforma de águas pouco profundas, onde reinava abundante vida aquática. A esta unidade sucedem sedimentos datados do Toarciano (Mouterde, 1955; Duarte, 2003; 2004; 2005; 2006), constituídos por sucessão de cerca de 300m de camadas de argilas margosas e calco-arenitos, organizada numa sequência negativa (as bancadas são cada vez mais espessas para o topo da unidade). Os estratos argilosos desaparecem para o topo da sequência e os calcários são cada vez mais frequentes e aumentam progressivamente de espessura para o topo. As litologias, estruturas sedimentares e conteúdo fossilífero sugerem que esta sequência resultou da progradação de um sistema de leques submari-

nos alimentados por rampas próximas da linha da costa, ligados eventualmente com o levantamento do horst das Berlengas/Farilhões (Wright & Wilson, 1982). Evidências desta asserção são a presença de grãos de quartzo e de feldspatos rosados de características similares às dos granitos da Berlenga e o reconhecimento de estruturas sedimentares (estratificação oblíqua e marcas de impressão na base das bancadas) que sugerem transporte de materiais de ocidente para oriente. Esta unidade contrasta com a anterior pelo menor conteúdo em fósseis. Contudo, reconheceram-se numerosos crinoides de secção pentagonal (na gíria popular estrelinhas do mar) e icnofósseis (pistas da atividade de organismos vivos). Os crinoides viviam em colónias e alimentavam-se por filtração. Possuíam um pedúnculo que poderia atingir vários metros de comprimento e correspondia a órgão com a função de fixação às rochas (Cerro do Cão). Os icnofósseis observam-se em grande número no topo das bancadas

Fig. 11 – Vista panorâmica do geomonumento da Ponta do Trovão.

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argilo-carbonatadas (a Sul do Mirador de Frei João), constituindo evidências da locomoção de organismos vivos. O estudo recente da biostratigrafia das amonites evidenciou que o limite entre os andares jurássicos, Pliensbaquiano e Toarciano, se localiza na secção da Ponta do Trovão e que este local é considerado pela comunidade científica nacional e internacional como possuindo um dos melhores registos deste intervalo de tempo à escala mundial. De facto, o registo sedimentar preservado neste local constitui umas das melhores secções sedimentares do andar Toarciano à escala mundial, confirmando que os sedimentos foram ali depositados no intervalo de tempo entre 183-175,6 milhões de anos.

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INFORMAÇÃO ADICIONAL O professor poderá abordar o processo de formação das rochas sedimentares e salientar que a sequência de estratos (sedimentares) resulta do processo de sedimentação segundo o qual ocorre a deposição dos seus constituintes e realçar o Princípio da Sobreposição que estabelece que, caso não tenham ocorrido modificações desde a sua deposição, o estrato mais recente se encontra por cima do mais antigo. Poderá, igualmente, referir o Princípio da Identidade Paleontológica que permite atribuir uma idade a um estrato através da utilização fósseis de idade e que o estudo das rochas sedimentares e das sequências de deposição dos sedimentos / deposicionais permite identificar o ambiente de formação das rochas sedimentares e da deposição dos sedimentos (conceito de fácies de um depósito sedimentar) e abordar as formas do litoral que resultaram da ação do mar: formas de erosão e formas de acumulação de sedimentos na faixa litoral.

Atendendo aos considerandos, foi proposto à Comissão Internacional de Estratigrafia, organismo pertencente à International Union of Geological Sciences (IUGS) tutelado pela UNESCO, que a secção da Ponta do Trovão fosse classificada como geomonumento, representativo do estratótipo do Toarciano (Elmi et al., 1996 e 2005; Duarte, 2006). Em 2015, foi aprovada esta pretensão, tendo hoje o local valor científico à escala global (Global Sedimentary Stratigraphic Point, GSSP). Em sintonia com esta proposta, o Município de Peniche classificou o local como Imóvel de Interesse Municipal, apesar de ser parte integrante da Reserva Ecológica Nacional e da Rede Natura 2000.

Questões Justifique a importância do local para os estratígrafos. Identifique as sequências sedimentares que podem ser observadas neste local. Qual os estratos mais recentes? E os mais antigos? Qual a importância do estudo dos fósseis? Em que consiste o processo de fossilização? Estimar a idade relativa das rochas através do conteúdo fossilífero que elas contêm? Quais os processos de fossilização mais comuns? Distinga fósseis de idade de fósseis de fácies e identifique-os no afloramento. Discuta o papel dos fósseis na reconstrução de ambientes antigos.


4. ERUPÇÃO VULCÂNICA DA PAPOA Descrição: O registo da erupção vulcânica da Papoa (39º22´23´´N; 9º22´37´´W) está localizado na parte mais setentrional da península de Peniche (Fig. 4), mais propriamente no estreito istmo que efetua a ligação do pequeno promontório rochoso, designado da Papoa, com a plataforma de abrasão marinha da península de Peniche. O afloramento vulcânico da Papoa, alongado na direção N-S e de reduzida dimensão, é constituído por brechas vulcânicas superficiais, caracterizadas por conter inúmeros fragmentos de rochas que fariam parte das paredes de uma chaminé vulcânica (Fig. 12). A composição dos clastos da brecha varia desde rochas sedimentares (calcários e arenitos) até rochas ígneas e metamórficas identificadas no arquipélago das Berlengas (granitos róseos da Berlenga e gneisses similares aos dos Farilhões) e encontram-se dispersos no seio de uma matriz fina, muito alterada, com composição vulcânica. Associados às brechas anteriores ocorrem tufos de granularidade mais fina, constituídos por material muito fino bastante alterado que correspondem a cinzas, bagacina e bombas vulcânicas, bem como alguns fragmentos de rocha de reduzidas dimensões. As bombas vulcânicas (Fig. 13), observadas à

escala mesoscópica e microscópica, apresentam no geral contornos perfeitos, a que não falta, em alguns exemplares, as extremidades torcidas pelo movimento rotacional da lava durante o seu percurso aéreo (Andrade, 1979). Algumas das bombas contêm núcleos de outras rochas (granitos, calcários, etc.), envolvidas por uma capa de material magmático alterado. Este conjunto de fragmentos de rocha sólida de natureza piroclástica foi expelido, inequivocamente, por uma erupção de um vulcão. Contudo, não existem evidências de que a chaminé vulcânica ou o canal por onde escapam os gases e o magma tenha sido naquele local, dado que não foram encontradas rochas originadas por termometamorfismo. Atendendo às características especificadas nos parágrafos anteriores, o reservatório do magma, provavelmente basáltico, que alimentou as erupções, situava-se a uma profundidade suficientemen-

Fig. 12 – Tufo-Brecha da Papoa.

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Fig. 13 – Bomba vulcânica com núcleo de granito róseo envolvida por uma capa de material magmático alterado. Notar os contornos perfeitos e as extremidades torcidas pelo movimento rotacional da lava durante o seu percurso aéreo.

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A

B

C Cone vulcânico Sedimentos do Cretácico Fig. 14 - Esquema interpretativo da evolução do tufo-brecha da Papoa. A- Estado inicial; B – Estado intermédio; C – Estado erosivo.

Sedimentos do Jurássico Soco granítico e metamórfico


te abaixo da cobertura sedimentar da península de Peniche e eventualmente sob as rochas que constituem o arquipélago das Berlengas. De facto, não se produziram ações indiscutíveis de metamorfismo térmico nas camadas de calcários, observando-se apenas numerosos blocos de rochas (granitos e gnaisses) arrancados ao substrato antigo. Os factos apresentados permitem interpretar o afloramento do tufo-brecha da Papoa como um resto de um cone vulcânico preservado graças ao colapso de uma fração do mesmo ao longo de duas falhas paralelas com rumo NW-SE (Andrade, 1979), em paisagem que era muito diferente da atual. O movimento das falhas teria provocado o abatimento quase vertical de um bloco de terreno, formando-se uma depressão em forma de graben e a erosão diferencial teria sido responsável pela topografia atual. Destaca-se ainda a elevada intensidade das explosões, pelo menos em alguns períodos, dada a sua enorme capacidade para movimentar para o exterior blocos de grandes dimensões localizados a profundidade significativa, bem como o carácter explosivo das erupções, que pode estar ligado com a invasão da chaminé vulcânica por água do mar, o que teria impedido a presença demorada de uma coluna de água na conduta do vulcão (Fig. 14). A idade desta erupção vulcânica foi determinada de forma indireta; de facto, foram observados no seu interior fragmentos de calcários jurássicos e calcários sacaroides do Cretácico Superior, podendo-se assim, deduzir que esta erupção é posterior a cerca de 60 milhões anos. Atendendo aos factos mencionados, associa-se esta erupção a evento de carácter regional que também foi responsável pela génese dos granitos de Sintra, Sines e Monchique.

INFORMAÇÃO ADICIONAL O professor poderá referir o processo de formação das rochas vulcânicas e o tipo de erupções vulcânicas existentes. Poderá, igualmente, abordar o Princípio da Inclusão que permite atribuir uma idade relativa a uma rocha ou conjunto de rochas através da análise das relações geométricas entre essas rochas e que estabelece que se uma rocha contiver fragmentos de outra, é-lhe posterior.

Questões O que são e como se formam as rochas vulcânicas? O que se entende por brecha vulcânica e tufo vulcânico? Qual a composição dos tufos vulcânicos? Que tipos de erupções vulcânicas existem? Quais os produtos emitidos por elas? O que são aparelhos vulcânicos? Identifique as principais morfologias associadas com aparelhos vulcânicos. Justifique a afirmação: a erupção vulcânica da Papoa é posterior à formação dos calcários jurássicos e dos calcários sacaroides do Cretácico Superior. Qual o Princípio Fundamental da Estratigrafia que se pode aplicar a este conjunto de rochas?

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5. MONOCLINAL E TÔMBOLO DO BALEAL Descrição: A península do Baleal (39º22´36´´N; 9º20´27´´W) localiza-se na linha da costa, onde existe a povoação como o mesmo nome, a 3km a NE da cidade de Peniche. Constitui um promontório plano e alongado, de orientação N-S, que se desenvolveu à cota de 25m, com 1800m de comprimento e 800m de largura máxima, formada pela ilha do Baleal e pelos ilhéus das Pombas e de Fora (Fig. 5).

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A magnífica paisagem da península do Baleal é marcada por conjuntos de bancadas sobrepostas de calcários intercalados com margas carbonatadas de fraca espessura, onde sobressai a inclinação das camadas para oriente. De facto, o pacote de estratos apresenta direção N-S e pendor variável de 35º-55º para NE, formando uma estrutura tectónica designada por monoclinal (Fig. 15). Sabendo-se que as camadas só podem ser originadas na horizontal, o

que teria acontecido para que estejam inclinadas? Por outro lado, coexistem lado a lado dois ambientes sedimentares completamente distintos. O mais antigo com idade de cerca de 165 milhões de anos é evidenciado pelos estratos carbonatados já mencionados, que contêm, quer no interior quer no topo das bancadas, provas de numerosos vestígios de atividade biológica, nomeadamente fragmentos de conchas de moluscos, de lamelibrânquios, de amo-

Fig. 15 – Estratos inclinados de calcários de características de ambiente marinho na estrutura monoclinal do Baleal (Ilhéu das Pombas).


nites, de belemnites, entre outros fósseis, e diversos icnofósseis que se podem observar no topo e no interior das camadas. Estas características sugerem que esta unidade carbonatada foi depositada numa bacia de águas calmas relativamente quentes com abundante vida. Nestas águas marinhas, as camadas de granularidade mais fina (margas carbonatadas) são mais ricas em matéria orgânica e teriam sido sedimentadas por decantação. O ambiente mais moderno, com idade aproximada de 150 milhões de anos, é evidenciado pela existência de uma sucessão de camadas de argilas vermelhas ou cinzentas e de arenitos vermelho-amarelados. Algumas destas bancadas contêm localmente, fragmentos de ossos de dinossauros (Zbyszewski, 1946) e carvão petrificado, com formas similares a troncos de árvores. Esta sucessão aflora ao longo das arribas que estão localizadas a este da península do Baleal, a caminho da povoação de Ferrel; de facto, existe um istmo de areia que liga estas

arribas à própria península carbonatada do Baleal. Estas características composicionais sugerem que a sequência de natureza continental, que se encontra fortemente oxidada, foi depositada em ambientes pantanosos que se desenvolveram em margens fluviais densamente arborizadas (Fig. 16). A impossibilidade da coexistência lateral das sucessões representativas dos ambientes sedimentares já mencionados à escala do afloramento, tendo em conta o Princípio Estratigráfico da Sobreposição, só pode ser aclarada por movimentações tectónicas. De facto, existe uma falha geológica que coloca em contacto as duas unidades em causa. Este acidente, de direção próxima do N-S, é responsável pela subida vertical do bloco de terreno ocidental e descida do oriental, designa-se por falha normal. Esta movimentação obriga, por arraste, que os estratos dos calcários depositados na horizontal sofram uma forte inflexão para E. Posteriormente, a erosão determina a configuração atual da paisagem da região, atuando de forma a causar o desaparecimento dos sedimentos continentais que se encontravam sobre os carbonatos marinhos na península do Baleal. No bloco de terreno oriental, apenas se observam os depósitos continentais, pois os calcários marinhos estão por debaixo destes. Como já foi dito anteriormente, a pequena “ilha” rochosa do Baleal está ligada ao continente por um istmo arenoso, que resultou da acumulação maioritária de areias de praia e uma pequena percentagem de areias eólicas. Esta forma do litoral designa-se por tômbolo, neste caso do Baleal.

Fig. 16 – Estratos de argilas e arenitos vermelhos com características de ambientes continentais (Pedras Ruivas, Baleal).

A origem do tômbolo do Baleal está relacionada com a existência de uma zona de sombra, localizada a sotavento da ilha, onde ocorreu forte redução de energia e, consequentemente, condições favoráveis para a acumulação de materiais arenosos. As ondas do mar dominantes na zona, de direção NW e

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oblíquas ao litoral, contribuem fortemente para esta acumulação, dado que, ao embaterem no promontório, sofrem refração e mudam de direção convergindo de forma oposta na zona de sombra. As ondas do mar induzem ainda correntes de deriva que movimentam enormes quantidades de sedimentos os quais são transportados ao longo do litoral; ao colidirem com a “ilha” do Baleal sofrem inversão na sua direção, originando assim a inversão do transporte longilitoral da areia e, consequentemente, a sua acumulação na zona de sombra pelo efeito de armadilha sedimentar. O tômbolo do Baleal iniciou-se primeiro pela aglomeração de areia no fundo do mar, uma vez que havia disponibilidade de areia. Como o fornecimento de areia continuou, o tômbolo foi crescendo

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INFORMAÇÃO ADICIONAL O professor poderá abordar com mais detalhe os Princípios Fundamentais da Estratigrafia, dado que é possível suportar a sua dedução nos diversos afloramentos deste lugar. Assim, identificam-se o Princípio da Horizontalidade Inicial, a partir do qual foi inferida a atuação de movimentos tectónicos que induziram a inclinação às camadas inicialmente depositadas na horizontal e o Princípio da Sobreposição, que permite concluir sobre a impossibilidade de concomitância lateral de estratos originados em ambientes sedimentares distintos, só uma movimentação tectónica, neste caso uma falha normal, poderia ter colocado em contacto as unidades referidas. Sugere-se ainda que se explique o que são estruturas tectónicas e exemplifique os diversos tipos de dobramentos que ocorrem na natureza, nomeadamente as designações de monoclinal, sinclinal e anticlinal. Em relação à deformação frágil propõe-se a abordagem do conceito de falha e a identificação dos diversos tipos de falhas.

até ficar em posição emersa. Estas areias depois de secas pelo sol são transportadas para as zonas mais internas do tômbolo até encontrarem aí obstáculos que possibilitem a sua acumulação, de forma a prosseguir o crescimento do tômbolo. Este processo de génese e desenvolvimento durou apenas algumas dezenas de anos. Nos últimos anos, tem ocorrido diminuição considerável das suas dimensões, consequência dos efeitos erosivos provocados, quer pelas atividades humanas quer pela subida generalizada das águas do mar. Por outro lado, a areia disponível a ser transportada pelo mar para reposição das areias desaparecidas é cada vez menor, uma vez que grande parte delas é retida nas albufeiras das barragens.

Poderá ainda referir que o estudo das rochas sedimentares, nomeadamente a sua composição, as estruturas sedimentares que contêm e o seu conteúdo fossilífero, na qual se inclui os icnofósseis, permite caracterizar os paleoambientes que contribuem para o conhecimento da história da Terra. Outra sugestão a desenvolver relaciona-se com a formação do tômbolos de areia, nomeadamente o de Peniche, que permite a ligação da “ilha” da cidade de Peniche ao continente, e o do Baleal, que faz a união da ilha com o mesmo nome aos Casais do Baleal já na parte continental. Os tômbolos desenvolveram-se de forma semelhante, porém o de Peniche necessitou de um volume significativo de areia e de alguns séculos para a sua formação, como pode ser confirmado por relatos históricos (Calado, 1984); o do Baleal foi gerado em apenas algumas dezenas de anos. De facto, no século XII a povoação de Peniche ainda era uma ilha e o porto principal da região era a Atouguia da Baleia, que em tempos subsequentes


foram sofrendo assoreamentos sucessivos. A medida que se gerava o tômbolo de Peniche desenvolveram-se cordões dunares entre os Casais do Baleal e a Gamboa, diminuindo acentuadamente

a área lagunar que existia entre as duas povoações, ocorrendo mesmo o fecho da laguna durante o século XVI.

Questões Compare os litótipos sedimentares que podem ser identificados nos diversos afloramentos que se podem observar ao longo desta paragem. Porque se pode concluir que um dos paleoambientes sedimentares teria sido uma bacia de águas marinhas relativamente calmas e quentes com vida abundante e o outro corresponderia a zonas pantanosas que se desenvolveram em margens fluviais, por vezes densamente arborizadas? Qual a razão da coloração vermelha das argilas e dos arenitos e da cinzenta das margas carbonatadas? Que fósseis se podem observar nos diversos afloramentos? Em que ambiente viviam os seres vivos a partir do qual se originaram os fósseis? O que são icnofósseis? Porque se pode atribuir uma idade de 165 milhões de anos e uma idade de 150 milhões de anos às camadas descritas nos referidos paleoambientes? Justifique o facto de as camadas se encontrarem inclinadas. O que se entende por uma estrutura deformada em monoclinal? O que é uma falha geológica? Quais são os tipos de falha que afetam a crusta terrestre? O que é um tômbolo de areia? Quais as condições necessárias para a sua génese? Como se formam?

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6. GRUTA DA FURNINHA Descrição: A Gruta da Furninha (39º21´21´´N; 9º24´02´´W), conhecida também pelo nome de Cova de Dominique [que teria sido um afamado bandido e salteador das igrejas do povoado (Calado, 1984)] localiza-se a cerca de 850m a SW do Cabo Carvoeiro, na parte sul da Península de Peniche (Fig. 5). É uma grande cavidade natural que se desenvolveu sensivelmente a 15m do nível atual das águas do mar nas arribas calco-areníticas do Jurássico Inferior. A entrada tem a forma de arco e no seu interior podem ser cartografados corredores, câmaras, cúpulas, galerias e poços num espaço com 30m de comprimento.

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À frente da entrada da gruta (Fig. 17) desenvolveu-se uma plataforma sub-horizontal protegida, onde foi construído um pesqueiro, e na base da arriba observa-se um conglomerado muito grosseiro de matriz carbonatada com elementos mais ou menos arredondados de natureza granítica e calcária, na sua maioria, e xistenta e gnaissica, em menor número. Estas indicações sugerem que, em tempos passados, a plataforma anterior poderia estender-se mais para Sul, à frente da qual se teria desenvolvido cordão de areia de praia, cuja base seria representada pelo conglomerado descrito (Fig. 18).

Fig. 17 – Entrada da Gruta da Furninha.

A Gruta da Furninha é uma importante estação pré-histórica, onde se efetuaram escavações no final do século XIX (Delgado, 1880). Através do método estratigráfico foi possível identificar uma sucessão sedimentar com duas unidades completamente distintas. Na base, um complexo de areias amareladas com horizontes muito produtivos intercalados de areias estéreis com 9,5m de possança, à qual sucede um depósito de 2 a 3m de espessura constituído por argilas arenosas negras, com elevado teor de matéria orgânica (Delgado, 1880). A unidade inferior é constituída por sete níveis arenosos onde apareceram artefactos líticos (raspadores, núcleos, lascas, discos, raspadeiras, pontas, furadores, lâminas, bifaces, etc.), restos de ossos de fauna quaternária (mamíferos: hienas, linces, veados,

Fig. 18 – Horizonte conglomerático com clastos de granito, gnaisse, arenito, calcário, entre outros, localizado na base da sucessão da Gruta da Furninha.


javalis, bois selvagens, rinocerontes, ursos, cavalos, cães, etc.; aves e peixes) e um fragmento de maxilar humano que, pelas suas reduzidas dimensões, deveria ter pertencido a uma criança (Neandertal?). Estes horizontes produtivos são separados entre si por areias, brancas e finas, de características marinhas, sugerindo que a gruta teria sido invadida várias vezes pelo mar; durante estes períodos depositavam-se as areias e, consequentemente deixaria de haver ocupação. A partir da descrição dos materiais líticos acima mencionados, Breuil & Zbyszewski (1945) consideraram a existência de ocupação humana durante o Paleolítico Inferior a Superior (desde 1 milhão de anos até 10 mil anos). A descoberta de ossos de mamíferos de climas quentes (rinocerontes) e frios (ursos) sugere que ocorreram acentuadas mudanças climáticas durante este período de tempo e, consequentemente, variações do nível das águas do mar, corroborando que a gruta teria sido invadida após as glaciações. No depósito superior, muito produtivo, recolheram-se instrumentos líticos (pontas de setas e lanças, facas, lâminas, raspadeiras, etc.) e peças líticas residuais (lascas e núcleos de sílex), que mostram a existência de atividade permanente de fabrico

de instrumentos a partir de ossos de javali, veado, urso, cabra, carneiro, boi, texugo, coelho, vértebras de peixe e conchas, entre outros. Contudo, destaca-se a descoberta de numerosa coleção osteológica humana, tendo sido estimado através dos maxilares inferiores que existiam cerca de cento e quarenta corpos exumados. Este conjunto de ossos encontrava-se bastante remexido e, pelo facto de o número de fémures não ser igual ao número de úmeros, foi levantada a suposição ainda não confirmada de antropofagia. Outra hipótese ventilada que explicaria os factos anteriores é que o local teria sido uma necrópole pré-histórica reutilizada continuamente por inúmeras gerações e, simultaneamente, teria sofrido sucessivas inumações. A presença junto aos esqueletos desarticulados de numerosos artefactos em osso (contas e alfinetes, entre outros), em sílex e quartzito (raspadeiras, lâminas, facas, etc.), em anfibolito e xisto anfibólico (machados de pedra polida, enxós e placas decorativas) e em cerâmica (vasos fragmentados, por vezes decorados) corrobora a hipótese de ter sido uma necrópole. A descoberta mais surpreendente neste depósito consistiu num fragmento de crânio com perfuração incompleta do parietal com cerca de vinte milíme-

Fig. 19 - Material recolhido na Gruta da Furninha que se encontra no museu Geológico do Laboratório Nacional de Energia e Geologia.

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tros de diâmetro e cinco milímetros de profundidade, com sinais evidentes de cicatrização, tendo sido o primeiro caso de trepanação craniana identificado em Portugal (Delgado, 1880). Admirável é ainda o facto de o indivíduo ter sobrevivido após a intervenção, como é evidenciado por o tecido esponjoso do díploe estar recoberto por tecido compacto. Esta técnica teria sido implementada provavelmente com fins terapêuticos e/ou em rituais mágico-religiosos. No depósito superior foi ainda encontrada enorme quantidade de fragmentos de carvão distribuídos por toda a gruta, prova inequívoca do uso do fogo que faria parte do ritual funerário praticado ou então serviria para a iluminação de todas as galerias onde a luz exterior não conseguia penetrar.

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A proveniência de numerosos artefactos funerários do Neolítico ao Calcolítico (> 10 mil anos) sugere que seja esta a idade do depósito superior da Gruta da Furninha. Esta datação foi confirmada pela descoberta de um grande vaso globular com asas de suspensão típico do Neolítico Médio (Breuil & Zbyszewski, 1945). A Gruta da Furninha foi habitada durante grandes períodos de tempo na pré-história. Primeiro, durante o Paleolítico, por caçadores recolectores que a utilizaram principalmente como abrigo, como é confirmado pelos numerosos achados líticos e ossos humanos recolhidos. Posteriormente, do Neolítico ao Calcolítico, foi transformada numa necrópole por uma civilização mais evoluída que já utilizava instrumentos de pedra polida, produzia cerâmica e realizava operações cirúrgicas elaboradas.

INFORMAÇÃO ADICIONAL O professor pode referir que a Gruta da Furninha testemunha a evolução natural e humana do passado do local, constituindo um património geológico e arqueológico singular e raro. Pode dar enfoque à panorâmica visual envolvente, onde sobressai o recorte do litoral junto à Consolação e as longínquas serras de Sintra e de Montejunto. Poderá, igualmente, explicar a diferença entre conglomerado e brecha sedimentar e abordar os períodos de glaciação e os períodos de degelo e as consequentes mudanças climáticas que implicaram variações do nível das águas do mar.

Questões Um conglomerado será uma rocha sedimentar? Quais as formas cársicas mais comuns reconhecidas no local? Como se originaram? Por processos de meteorização química ou física? É possível inferir que a Gruta da Furninha testemunha variações climáticas ao longo do tempo, em particular no Quaternário? Porque se pode inferir que a Gruta da Furninha foi invadida pelo mar após as glaciações?


CONCLUSÕES A diversidade da paisagem do litoral da região de Peniche é marcada pela ocorrência de numerosos lugares e geomonumentos, que enriquecem e valorizam o seu património cultural. A sua identificação, descrição e registo, na perspetiva da compreensão da história geológica do lugar e/ou do afloramento, bem como a sua contextualização na evolução do planeta Terra, acrescenta valor cultural e importância científica, pedagógica e sócio-económica à região. De facto, a variedade e singularidade geológica desta região, onde afloram unidades cuja idade passa das eras geológicas mais antigas (Paleozóico ou mesmo Neoproterozóico) aos tempos mais recentes (Cenozóico), permitem considerar esta região como um verdadeiro laboratório natural para as ciências geológicas. Para além dos aspetos focados, a observação no campo in loco de diversos tipos de elementos morfológicos da paisagem, de unidades geológicas, de formas e estruturas, permitem reconhecer e entender processos que possibilitam a formulação

de hipóteses para a geohistória da região ao longo dos tempos, no contexto da evolução da tectónica das placas. Porém, a observação em detalhe de afloramentos que permitem a descrição e identificação de cada unidade litológica através da análise das estruturas que contém e das relações dos seus contactos, dão indicações para compreender e caracterizar geoambientes onde se formaram cada uma das unidades geológicas abordadas. A descrição de amostras de mão através da classificação dos tipos de rochas em função da identificação de componentes texturais, minerais e/ou fósseis presentes vão complementar e detalhar os geoambientes característicos de cada unidade geológica. Em síntese, considera-se que a região de Peniche é um verdadeiro laborátorio natural para o estudo da maioria das áreas científicas das ciências geológicas a todas as escalas, desde a visão panorâmica da paisagem ao detalhe da análise de amostras de mão.

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GLOSSÁRIO Aaleniano - Andar inferior do Jurássico médio. Amonite - molusco cefalópode já extinto semelhante aos Nautiloides, mas cujo sifão tem posição ventral. Os tabiques originam uma estrutura complexa de suturas. Surgiu no Devónico inferior (há cerca de 419 milhões de anos) e desapareceu bruscamente no final do Cretácico. Anfíbola - grupo de minerais silicatados ferromagnesianos que cristalizam nos sistemas ortorrômbico, monoclínico e raramente no triclínico. Cristaliza a partir do magma. Anfibolito - rocha metamórfica máfica composta essencialmente por anfíbola e plagioclase, podendo apresentar ou não foliação.

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Areia eólica - sedimento clástico não consolidado, composto essencialmente por grãos de quartzo ou outros minerais, dependendo da rocha que lhes deu origem, de tamanho que varia entre 0,06 e 2 mm e cujo transporte foi efetuado pelo vento. Arenito - rocha sedimentar detrítica constituída por grãos de areia agregados por um cimento que pode ser silicioso, carbonatado ou composto por óxidos ou hidróxidos de ferro. Arquipélago - grupo de ilhas próximas entre si e que apresentam no geral a mesma origem e estrutura geológica, podendo ser continentais, coralinas ou vulcânicas. Basalto - Rocha vulcânica quase sempre extrusiva (rocha extrusiva), escura (máfica), de granularidade muito fina (textura afanítica), constituída essencialmente por piroxenas, olivinas e plagioclases, podendo conter uma fração de vidro vulcânico. Os minerais acessórios mais frequentes são os óxidos de ferro e de titânio. O equivalente plutónico do basalto (rocha equivalente em termos composicionais) é o gabro. Estas duas rochas, assim como outras afins, são as principais constituintes da crusta oceânica.

Biotite - mineral micáceo de composição ferromagnesiana, da classe dos silicatos (filossilicatos) e do grupo das micas. Também conhecida como mica preta. Belemnite - é um molusco cefalópode marinho que apresenta um rostro calcário robusto em forma de bala. Surgiu no Jurássico e foi extinto no Cretácico. Brecha vulcânica - rocha clástica de granulação grosseira constituída por fragmentos angulares de rocha (maiores que 2mm), cimentados por matriz de granulação mais fina de natureza igual ou diversa dos fragmentos maiores. Formada por atividade ígnea vulcânica. Calcário dolomítico (ou dolomito) - rocha sedimentar carbonatada, constituída essencialmente por carbonato de cálcio e magnésio (dolomite). Deriva de um calcário por dolomitização. Calcário sacaroide - rocha sedimentar de origem química, constituída predominantemente de carbonato de cálcio, principalmente calcite, e que apresenta uma textura sacaroide (cristais brilhantes semelhantes a grãos de açúcar). Calcolítico - idade do cobre. É um dos períodos da proto-história, situado cronologicamente entre o Neolítico e a Idade do Bronze (aproximadamente 2500 a 1800 a.C.). O termo também pode ser utilizado para denominar algumas sociedades que apresentaram manifestações culturais diferenciadas durante este período. Carsificação - processo responsável pela génese de relevos característicos ao longo de milhares de anos que consiste na dissolução de rochas por ação da água da chuva, que se torna ligeiramente ácida ao incorporar dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e depois de atravessar o solo. Assim, ao infiltrar-se através da rocha carbonatada, esta água acidificada vai dissolvê-la, ajudando a formar a paisagem cársica.


Cefalópode - molusco marinho que apresenta um corpo com simetria bilateral. Cenozoico - Era do tempo geológico que sucede ao Mesozoico até à atualidade. Compreende os Períodos Paleogénico, Neogénico e Quaternário. Clasto - fragmento de rocha que foi transportado por processos vulcânicos ou sedimentares. Clinopiroxena - termo geral utilizado para indicar qualquer uma das piroxenas que cristaliza no sistema monoclínico. Conglomerado - rocha sedimentar constituída por fragmentos de outras, que foram depositados e cimentados. Estes fragmentos têm dimensões superiores a 2 mm e são rolados. Cretácico - Período que encerra a Era Mesozoica. Crinoides - classe de equinodermes, de corpo caliciforme, que vivem fixados temporária ou permanentemente. Cristalinidade - é dada pela proporção relativa de material cristalizado (cristais) e de material não cristalizado (vidro). Segundo este critério é possível definir três tipos de texturas: holocristalinas [constituídas essencialmente por cristais (mais de 90%)]; hipocristalinas [constituídas por uma parte vítrea e uma parte cristalina (nenhuma das partes atinge os 90%)]; holohialinas [constituídas essencialmente por vidro (mais de 92%]. Diaclase - plano de fratura em afloramentos rochosos em que não há movimento relativo dos blocos. As diaclases podem ter origem tectónica ou resultar do arrefecimento do magma e sua consolidação, como resultado da diminuição de volume. Outras vezes, as diaclases geram-se quando há alívio das tensões a que o material esteve sujeito (pressão litostática, por exemplo). Dinossauro - réptil fóssil, que viveu na da Era Mesozoica e se extinguiu no final do Cretácico, há 66 milhões de anos.

Dobra - arqueamento das rochas por ação de um campo de tensões. Uma dobra caracteriza-se por ter um eixo, um plano axial e dois flancos. Erosão diferencial - erosão que atua sobre os diversos tipos de rocha e que dá origem ao modelado topográfico terrestre. As rochas mais resistentes à erosão tendem a constituir os relevos mais altos, contrariamente às rochas mais brandas, que sendo mais facilmente erodidas (desgastadas), correspondem às zonas mais baixas. Estratificação – estrutura sedimentar produzida pela deposição de sedimentos em camadas (estratos), lâminas, lentes e outras unidades essencialmente tabulares. Estratificação oblíqua (ou entrecruzada) - estrutura sedimentar em que as camadas ou lâminas têm inclinações que fazem ângulos entre si, sem ter havido nenhum episódio de discordância. As diferentes inclinações dos planos sedimentares devem-se essencialmente às variações nas direções das correntes fluviais, marinhas ou de vento. Este tipo de sedimentação pode ocorrer nos canais fluviais, nas frentes dos deltas ou em dunas e onde os sedimentos mais comuns são as areias. Estrato (geológico) (estratigrafia) - camada de rocha ou sedimento com 1cm ou mais de espessura, que se distingue de outros situados imediatamente acima ou baixo por mudanças na litologia ou por quebra física de continuidade (Sinónimo: camada, leito) Fácies granulítica - é um grau de metamorfismo caracterizado por alta pressão (2-13Kb) e temperatura (superiores a 700°C) a profundidades acima de 9Km. Esta fácies dá origem a uma associação de minerais específicos cujas rochas são designadas por granulitos. Falha - estrutura geológica representada por uma superfície de rotura (fratura) com evidência de movimento relativo de ambos os blocos e que resulta de uma resposta frágil das rochas a um determinado campo de tensões.

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Feldspatos - grupo de minerais da classe dos silicatos (tectossilicatos), contendo potássio (K), sódio (Na) ou cálcio (Ca). Incluem genericamente os feldspatos potássicos (corresponde ao termo 6 da escala de dureza de Mohs) e as plagioclases (felspatos só com Na e/ou Ca). Fóssil - resto ou vestígio de animal ou planta que existiram em épocas anteriores à atual e que se encontram preservados em rochas, gelo ou âmbar. Prestam-se ao estudo da vida no passado, da paleogeografia e do paleoclima, sendo utilizados ainda na datação e correlação das camadas que os contêm.

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Fossilização - conjunto de processos que dão origem aos fósseis. Estes fenómenos ocorrem durante a formação das rochas sedimentares e podem durar milhões de anos. São responsáveis pela preservação de organismos, dos seus restos ou das marcas deixadas pela sua atividade (icnofósseis). Na fossilização os compostos orgânicos que constituem o organismo morto são substituídos por outros mais estáveis nas novas condições. Estes podem ser calcite, sílica, pirite, carbono, entre outros. Fronteira K/T - fronteira entre os períodos Cretácico e Paleogénico e que marca a extinção em massa de espécies ocorrida há 66 milhões de anos. Geodiversidade (ou diversidade geológica) consiste na variedade de ambientes geológicos, fenómenos e processos ativos que dão origem a paisagens, rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que são o suporte para a vida na Terra. Geoforma - afloramento rochoso que constitui um local com interesse geomorfológico. Geohistória (geologia histórica) - ramo da Geologia que se preocupa com a evolução da Terra e suas formas de vida desde sua origem até os dias atuais. O seu estudo inclui investigações de Estratigrafia, Paleontologia e Geocronologia, que envolve os estudos de paleoambientes, de períodos glaciais e dos movimentos das placas tectónicas.

Geomonumento - o mesmo que geossítio. Georrecursos (ou recursos geológicos) - são todos os bens de natureza geológica, renováveis ou não renováveis, existentes na crusta terrestre, passíveis de serem utilizados pelo Homem. No contexto utilizado no documento é sinónimo de património geológico. Geossítio - ocorrência geológica bem delimitada geograficamente, que possui inegável valor científico, pedagógico, cultural, turístico, ou outro e cuja conservação deve ser assegurada. Gnaisse - rocha metamórfica de granularidade média a grosseira, com estrutura bandada, geralmente com alternâncias de leitos félsicos e máficos. Deriva de sedimentos (paragnaisse) ou de rochas ígneas (ortognaisse) por ação de metamorfismo regional ou orogénico. Granito - rocha magmática plutónica, fanerítica (cristais visíveis à vista desarmada), composta essencialmente por quartzo e feldspatos alcalinos, aos quais se associam, ou não plagióclases; contêm ainda frequentemente as micas (biotite e moscovite). Como principais minerais acessórios, destacam-se a apatite, o zircão, a magnetite e a ilmenite. As rochas granitóides (granitos e rochas afins) são as principais representantes das rochas plutónicas em domínio continental. Graben - depressão ou fossa tectónica limitada por falhas normais. Granada - grupo de minerais constituídos por silicatos alumínicos, férricos e crómicos que cristalizam no sistema cúbico. Holoceno - Período mais recente da Era Quaternária (últimos 11.000 anos da história da Terra). Horneblenda - mineral do grupo das anfíbolas, aluminoso e cálcico, que cristaliza no sistema monoclínico. Ocorre principalmente em rochas ígneas e metamórficas. Horst - é um a palavra de origem alemã que significa elevação tectónica de bloco de terreno limitado por falhas normais.


Icnofóssil - fóssil que consiste de vestígios de atividade vital de organismos do passado, tais como pegadas, pistas de deslocação, marcas de dentadas, excrementos, ovos, túneis e galerias de habitação, etc. Intrusão - processo de instalação/injeção de um magma numa rocha pré-existente. Isótopo - são isótopos de um mesmo elemento químico, os átomos que têm o mesmo número atómico, mas o número de massa diferente; isto é, nos núcleos dos isótopos, o número de protões é o mesmo mas o número de neutrões é diferente. Istmo - Faixa de terra firme, relativamente estreita, que une porções do continente, e que se encontra cercada de água pelos dois lados. Ver também península. Jurássico - segundo Período da Era Mesozoica. Lapiás - forma de relevo típica das regiões cársicas. As rochas carbonatadas adquirem um aspeto ruiniforme e apresentam-se com caneluras e sulcos que podem atingir alguns metros de profundidade. As fraturas existentes vão sendo abertas por dissolução química da rocha, o que vai dar origem a condutas de escoamento da água, quer vertical quer horizontalmente. Litologia - descrição das características macroscópicas de uma rocha. Litótipos - conjuntos ou tipos litológicos caracterizados por determinadas litologias. Local de interesse geológico - o mesmo que geossítio. Maciço Ibérico (ou Maciço Hespérico) - unidade morfoestrutural da Ibéria que representa o segmento mais ocidental da cordilheira Varisca europeia. Máfico - termo usado para descrever minerais escuros, ricos em ferro e magnésio, como as anfíbolas, a biotite e os opacos.

Magma - material silicatado em fusão a partir do qual, por consolidação se formam, as rochas ígneas ou magmáticas. Mesozoico - Era do tempo geológico que sucede ao Paleozoico e antecede o Cenozoico. Compreende os Períodos Cretácico, Jurássico e Triásico. Metamorfismo - Conjunto de processos que ocorrem no interior da crusta terrestre, que provocam alterações químicas e/ou físicas das rochas (textura, estrutura e composição mineralógica), envolvendo sempre o fenómeno de recristalização. Os fenómenos de metamorfismo ocorrem principalmente no estado sólido das rochas. Meteorização - processo de modificação das rochas provocada pelos agentes da atmosfera, hidrosfera, biosfera e ação antrópica. A meteorização manifesta-se pela desagregação natural (meteorização física) e/ou decomposição (meteorização química) das rochas, levadas a cabo pelos agentes externos (físicos, químicos e biológicos), convertendo-se em outros produtos naturais em equilíbrio com as condições do meio. Mica - grupo de minerais da classe dos silicatos (filossiliocatos). Micaxisto - rocha metamórfica cristalina (xisto), constituída essencialmente por quartzo e mica, cuja foliação (xistosidade) se encontra materializada pelo alinhamento paralelo dos cristais de mica. Microclina - mineral de silicato de alumínio do grupo dos feldspatos, do sistema triclínico. Ocorre principalmente em rochas magmáticas e metamórficas; pode ainda ocorrer em rochas sedimentares detríticas que resultaram da erosão das rochas anteriores, sob a forma de conglomerados, arenitos e grauvaques. Migmatito - rocha metamórfica que resulta de fusão parcial da rocha original (protólito), em condições de metamorfismo de alta pressão. Parte da rocha funde, a de composição granítica (neossoma), permanecendo sem fusão a componente mais máfica (paleossoma). É uma rocha

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metamórfica silicatada, compósita e heterogénea a uma escala meso a megascópica. Tipicamente apresenta porções escuras que exibem características de rochas metamórficas e porções claras com aparência ígnea. Mineral - material sólido, natural e inorgânico, com estrutura interna cristalina e uma composição química bem definida. Monazite - mineral fosfatado de terras raras (lantanídeos), que cristaliza no sistema monoclínico, com composição (Ce,La,Y,Th) PO4. É um mineral acessório em granitos e gnaisses, bem como em rochas sedimentares, nomeadamente em conglomerados e arenitos.

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Monoclinal - sequência de rochas sedimentares estratificadas e pouco inclinadas, sendo que todos os estratos têm a mesma inclinação. Correspondem normalmente a flancos de dobra bastante longos ou estão associadas a movimentos de falhas. Moscovite - mineral aluminossilicato de potássio, do grupo das micas, também conhecido como mica branca. Nautilus - é um molusco cefalópode marinho pertencente à subclasse dos Nautiloides, que possuem conchas calcárias enroladas em espiral ou retilíneas, divididas em câmaras por tabiques. Os tabiques encontram-se ligados por um sifão. Estes animais foram muito abundantes no Paleozoico, tendo surgido no Câmbrico. O Nautilus é um género de Nautilóide que ainda existe na atualidade, habitando a zona sudoeste do Oceano Pacífico. Neolítico - idade da pedra polida. Constitui o espaço de tempo entre aproximadamente o décimo milênio a.C., com o início da sedentarização e surgimento da agricultura, ao terceiro milênio a.C.(3000 a.C.), dando lugar à Idade dos Metais.

Neoproterozoico - Consiste numa Era do éon Proterozoico, na escala de tempo geológico, que está compreendida entre 1 bilhão e 541 milhões de anos atrás, aproximadamente. Sucede a era Mesoproterozoica de seu éon e precede a era Paleozoica do éon Fanerozoico. Orla Meso-Cenozóica Ocidental - unidade morfoestrutural da Ibéria que se encontra a bordear a oeste o Maciço Ibérico. É constituída, essencialmente, por sedimentos depositados na Bacia Lusitânica, posteriormente afetados por atividade tectónica. Orogenia - processo geológico do qual resulta a formação das cadeias de montanhas. Está relacionado com a Teoria da Tectónica de Placas, relativamente à convergência de placas crustais. O episódio orogénico pode durar dezenas a centenas de milhões de anos e dá origem a estruturas, tais como, dobras, fraturas, carreamentos, discordâncias, ocorrendo também metamorfismo e plutonismo. Orogenia Pré-câmbrica - processo geológico do qual resultou a formação de cadeias de montanhas durante o Pré-câmbrico. Orogenia Paleozoica - processo geológico do qual resultou a formação de cadeias de montanhas durante o Paleozoico. Orto (Geologia) - prefixo que indica que a rocha metamórfica foi originada a partir de uma rocha de natureza magmática. Ortognaisse - ver gnaisse. Paleolítico - idade da pedra lascada. Refere-se ao período da pré-história que aconteceu cerca de 2,5 milhões a.C., quando os antepassados do homem começaram a produzir os primeiros artefactos em pedra lascada, destacando-se de todos os outros animais, até cerca de 10000 a.C., quando houve a chamada Revolução Neolítica, em que a agricultura passou a ser cultivada, tornando o homem não mais dependente apenas da coleta e caça.


Paleozoico - Era do tempo geológico compreendida entre o final do Pré-câmbrico e o início da Era Mesozoica. Pangea - supercontinente que terá existido no Período Pérmico, a partir do qual, após um complexo processo de rifting, se formaram os continentes atuais. Para (Geologia) - prefixo que indica que a rocha metamórfica foi originada a partir de uma rocha de natureza sedimentar. Paragnaisse - ver gnaisse. Património geológico - é definido pelo conjunto de geossítios inventariados e caracterizados numa dada área ou região. Península - massa continental que se encontra rodeada quase que completamente por água e ligada ao continente por uma faixa estreita de terra. Ver também istmo. Piroclastos - fragmentos de material magmático que resultaram de erupções vulcânicas; podem ter várias dimensões, variando desde a cinza vulcânica às bombas ou blocos. Piroxena - mineral silicatado ferromagnesiano, anidro, do sistema monoclínico, triclínico ou ortorrômbico. Ocorrem em múltiplas rochas ígneas e metamórficas e como produtos de alteração em rochas sedimentares. Plagioclase - mineral silicatado de alumínio, sódio e cálcio que cristaliza no sistema triclínico, pertencente ao grupo dos feldspatos e entra na composição de várias rochas. È uma importante ferramenta de diagnóstico em petrologia para a identificação da composição, génese e evolução de rochas ígneas. Pleistocénico (ou Pleistoceno) - Época do Quaternário na qual se encontram os primeiros sinais da existência do homem e onde começa, portanto, a pré-história. Pliensbaquiano - terceiro Andar do Jurássico inferior.

Pré-câmbrico - é o grande período de tempo na história da Terra antes do atual Éon Fanerozóico. Corresponde um conjunto de modificações em que o Planeta Terra passa na qual proporcionou diversas características da Terra, como a formação dos oceanos, da lua, de muitos minerais, de sua oxigenação, da formação de algumas vidas multicelulares e das placas tectônicas. Quartzo - Mineral da classe dos silicatos (tectossilicatos) constituído por óxido de silício (SiO2). Corresponde ao termo 7 da escala de dureza de Mohs. É o mineral mais abundante e disperso na superfície terrestre. Quartzito - rocha metamórfica granoblástica com mais de 75% de quartzo, cujo protólito é um arenito quartzoso ou, menos comum, um tufo ou riólito silicioso. Quaternário - Período mais recente da Era Cenozoica e que se estende desde aproximadamente 1,75 milhões de anos até os dias atuais. É subdividido em Pleistocénico e Holocénico, esta época tendo seu início há aproximadamente 11000 anos. Uma das características mais marcantes é a ocorrência de sucessivos períodos de glaciação. Rift (zona) - local onde ocorre extensão crustal, similar à que existe nas cristas médio-oceânicas. Rocha - massa de matéria mineral (um mineral ou, mais frequentemente, uma associação natural de minerais), consolidada ou não. Rocha ígnea ou magmática - rocha que cristalizou a partir de um magma. Rocha metamórfica - rocha que sofreu metamorfismo sob ação de temperatura e/ou pressão e que foi reorganizada, textural, estrutural e/ou mineralogicamente face a essas novas condições. Rocha sedimentar - rocha constituída pela acumulação de sedimentos detríticos (clastos – fragmentos de dimensões variadas provenientes da alteração de outras rochas), por minerais químicos (resultantes da precipitação de substâncias minerais dissolvidas na água) e/ ou por sedimen-

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tos biogénicos (restos de seres vivos, como conchas, ossos, fragmentos de plantas, pólenes, etc.). Sedimentação - processo de deposição de sedimentos que ocorre quando o agente transportador perde energia. Sinclinal - Dobra que apresenta a convexidade para baixo e em que se observam as rochas mais recentes no seu núcleo. Sílex - rocha constituída principalmente por quartzo micro ou criptocristalino, contendo raras impurezas, como argila, calcite ou hematite, porém nunca superam os 10%. Superfície (ou plataforma) de abrasão marinha - forma de relevo litoral aplanada e irregular que foi essencialmente originada por ação da erosão marinha.

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Tempo geológico - período de tempo que se estende desde a formação da Terra até ao presente. Termometamorfismo - tipo de metamorfismo onde o fator com maior importância é a temperatura. Tectonometamorfismo - relativo ao metamorfismo orogénico. Textura - refere-se ao tamanho, forma, arranjo espacial e modo de contacto entre os minerais ou elementos constituintes de uma rocha. Toarciano - Andar mais recente do Jurássico inferior. Tômbolo - barra de areia que une uma ilha ao continente, ou que conecta duas ou mais ilhas. Tufo (vulcânico) - rocha sedimentar de origem vulcânica constituída maioritariamente por cinzas, podendo conter blocos ou outros fragmentos piroclásticos.

Valor geoturístico - que reúne um conjunto de aspetos geológicos e geomorfológicos com potencialidade de serem usufruídos e interpretados por estudantes e turistas, tendo a finalidade de promover a conservação dos geossíticos e o desenvolvimento sustentável da região. Xisto - rocha metamórfica cristalina com composições variadas, que se caracteriza essencialmente pela xistosidade. Pode ter diversos protólitos, dando assim origem a xistos com características mineralógicas diferentes, havendo predominância dos filossilicatos (micas). Resultam de metamorfismo em rochas que podem variar desde basaltos a rochas plutónicas ou até pelitos. A forte xistosidade, que o caracteriza, faz com se desagregue muito facilmente segundo planos paralelos. Isto deve-se ao facto dos minerais lamelares (filossilicatos) serem bem desenvolvidos e orientados paralelamente. Dependendo do protólito, o xisto pode ser micáceo, verde, azul ou mosqueado, entre outros. Xisto anfibólico (ou anfibolítico) - xisto essencialmente constituído por anfíbola e quartzo. Ver também xisto. Xistosidade - elemento estrutural de uma rocha, evidenciado pela existência de planos paralelos (foliação) resultantes da recristalização dos minerais que a constituem. Como resultado a rocha divide-se em finas lâminas paralelas. Zircão - mineral da classe dos silicatos (nesossilicatos), que cristaliza no sistema tetragonal, constituído por óxido de zircónio e de silício (ZrSiO4). É um mineral acessório frequente nas rochas ígneas ocorrendo, por vezes, nas rochas sedimentares detríticas devido à sua resistência. Este mineral contém elementos radioativos na sua estrutura que permitem calcular a sua idade absoluta de cristalização por decaimento radioativo.


ANEXO éon

era

época

período

andar holocénico

quaternário

0,0117

pleistocénico

cenozoico

2,58

neogénico

23

paleogénico

66

cretácico titoniano superior

kimeridgiano oxfordiano

fanerozoico

caloviano

mesozoico

médio

jurássico

batoniano bajociano aaleniano toarciano

inferior

pliensbaquiano sinemuriano hetangiano

triásico pérmico carbónico devónico

paleozoico

silúrico ordovícico

proterozoico

pré-câmbrico

câmbrico

145 152 157 164 166 168 170 174 183 191 199 201 252 299 359 419 443 485 541

neoproterozoico 1000 mesoproterozoico 1600 paleoproterozoico 2500 arcaico

Fig. A - Tabela de tempo geológico.

milhões de anos

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Associação Portuguesa de Geólogos A Associação Portuguesa de Geólogos foi fundada em 1976. É uma associação sócio-profissional, sem fins lucrativos, que congrega profissionais da Geologia que se dedicam a domínios diversificados no âmbito das Ciências da Terra. Morada: Museu Geológico, Rua da Academia das Ciências, nº19 - 2.º, 1249-280 Lisboa Telefone/Fax: +351 213 477 695 http://www.apgeologos.pt http://apgeologos.wordpress.com http://issuu.com/associacaoportuguesageologos info@apgeologos.pt


Peniche, 03 e 04 junho 2016 Ação de Formação “A Região de Peniche como Laboratório para o estudo das Geociências” (3ª Edição)

Associação Portuguesa de Geólogos Organização

Apoio

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