Amanda Costa
Em mem贸ria de minha av贸 Z茅lia.
ra uma vez três irmãs que conversavam à beira de um rio observando a carruagem do rei passar na margem oposta. Cada uma comentava quais presentes dariam à sua majestade caso fosse a escolhida para se tornar a rainha. A mais velha disse que se o rei se casasse com ela, daria a ele uma carruagem de ouro. A do meio disse que se o rei se casasse com ela, daria a ele uma capa toda bordada a ouro. Por sua vez, a caçula disse que se o rei se casasse com ela, daria a ele três lindos filhos. Cada um com uma coroa marcada no peito. Um dos lacaios do rei, que havia se aproximado do rio para buscar água, escutou a conversa das moças e se apressou a contar tudo para Sua Majestade. O rei se encantou com o presente que a irmã caçula o ofereceria, e ela foi então escolhida para se tornar sua esposa. Com medo de se sentir sozinha, pediu para levar consigo suas irmãs, que estavam verdes de inveja de sua sorte.
Chegado o dia dos filhos do rei nascerem, as irmãs invejosas disseram que ficariam sozinhas com a rainha para ajuda-la a dar a luz. O que ninguém desconfiava era que elas tinham um plano terrível: trocariam os meninos por animais nojentos. Quando o primeiro menino com uma coroa marcada no peito nasceu, as irmãs malvadas imediatamente o trocaram por um sapo. Quando mostraram para o rei, ele ficou muito assustado e ordenou que continuassem ajudando a rainha. As irmãs malvadas voltaram para o quarto quando o segundo menino nascia, também com uma coroa marcada no peito. Elas trocaram a criança por uma cobra e foram mostrar para o rei, que ficou muito irritado e as mandou de volta para cuidar da caçula. – Ai de mim! – esbravejou – Fui enganado pela sua irmã! Se me trouxerem outro animal asqueroso, eu a trancarei numa torre por ter me enganado! As irmãs voltaram quando o último menino com uma coroa marcada no peito nascia, e o trocaram por uma ratazana. Quando mostraram para o rei, ele ordenou que os guardas trancassem sua esposa na torre mais alta do castelo. A rainha ali ficou, desolada por não saber o que havia acontecido aos seus filhos e esquecida por todos.
As irmãs invejosas trataram de colocar os três meninos num cesto para larga-los no rio. Por sorte, um camponês pescava logo adiante e encontrou as crianças. Ele correu para casa a fim de mostrar os meninos para sua esposa. O casal de camponeses há muitos anos esperava ter filhos, mas nunca haviam conseguido. Adotaram, então, as crianças do cesto e deram a elas todo o amor que podiam.
ete anos se passaram, e os meninos cresceram tão inteligentes e educados quanto qualquer príncipe deveria ser, enchendo os camponeses que tomaram por seus verdadeiros pais de alegria e orgulho. Todos os dias, ao saírem para passear perto do rio, os meninos passavam pela sacada de uma casa onde moravam duas senhoras que sempre cumprimentavam. Numa bela manhã, um dos meninos estava com o botão de sua blusa solto. Uma das senhoras o chamou para que lhe arrumasse a roupa. – Venha cá, menino. Seu botão está solto e você não pode ir andar por aí tão desalinhado. Deixe-me arrumar isto. – Quando a senhora viu a coroa marcada no peito do menino, imediatamente pediu para verificar as blusas dos outros dois meninos. Na verdade, era apenas uma desculpa para que as senhoras pudessem conferir se todos tinham a mesma coroa marcada no peito, e eles a tinham! O que os pobres meninos não sabiam é que aquelas senhoras na verdade eram suas tias, que tão cruelmente haviam armado para tira-los de sua mãe.
Ao verem que os meninos haviam crescido tão saudáveis e belos, as malvadas trataram de elaborar um plano para se livrarem deles de uma vez por todas. – Por serem tão bons meninos, daremos a vocês um presente. – E assim, as duas irmãs entregaram uma sacola de doces para cada um dos meninos. Os meninos, que sabiam que só se deve comer doces após a refeição, agradeceram o presente e só foram comer os doces quando já estavam em casa. Jamais imaginaram que estavam enfeitiçados, e logo que deram a primeira mordida foram transformados em pedra. Os camponeses, quando encontraram seus adoráveis meninos transformados em estátuas, desesperaram-se e se puseram a chorar. – O que será de nós, sem a alegria desses meninos em casa? – pranteava o pobre camponês. – Oh, meus queridos meninos, por que tamanha crueldade lhes foi acontecer? – desesperava- se a camponesa. Eis que então, a camponesa lembrou-se de que o Sol era conhecido por saber resolver todas as mazelas que existiam. O bom senhor que tanto amava as crianças, imediatamente subiu no lombo de seu velho cavalo e foi ter com o Sol.
No caminho, passou por um rio, que perguntou aonde ia tão rápido a galope. – Vou à casa do Sol, buscar uma cura para meus três filhos que viraram pedra. – respondeu o homem. – Poderia perguntar por que um rio tão limpo, tão grande, nunca teve peixes? – O homem concordou em fazer a pergunta e continuou a galopar. Logo avistou uma enorme e bela árvore, e parou ali para que seu cavalo descansasse. – Aonde vais, meu caro camponês, que de tanta pressa precisa? – perguntou a bela árvore. – Vou à casa do Sol, buscar uma cura para meus três filhos que viraram pedra. - respondeu o bom homem. – Pois poderia então perguntar por que uma árvore tão bela, tão frondosa, nunca deu frutos? – O homem logo concordou em fazer tal pergunta, montou em seu cavalo e se punha disparado a galope novamente. Bem adiante, avistou uma moça muito bela e muito triste na janela de sua casa. Ela perguntou também o motivo de sua viagem. – Vou à casa do Sol, buscar uma cura para meus três filhos que viraram pedra. – Poderias perguntar ao senhor Sol por que uma jovem tão bela, tão educada, nunca arranjou um marido? – Mais uma vez, o camponês aceita fazer a pergunta e disparou a galope pela estrada.
pós longa viagem, o homem chega à casa do Sol, que estava a trabalhar. Quem atendeu a porta foi a senhora sua mãe, que perguntou o que aquele senhor ali fazia.
O homem contou toda a história do que aconteceu aos seus filhos e repetiu as perguntas do rio, da árvore e da moça. A mãe do Sol se apiedou de tais coitados e disse: – Não sei responder às suas perguntas, mas decerto meu filho saberá. Como ele chega muito indisposto do trabalho, esconda-se neste armário e deixe que do resto cuido eu. – O homem se encolheu no armário e ali ficou a escutar. Finalmente o Sol chegou, muito cansado e faminto. Sentou-se logo para jantar. – Meu filho, por curiosidade, se três meninos fossem transformados em pedra, qual seria a cura? – Ora, deve-se encostar em cada um deles um grão de arroz tirado da boca do Sol. – resmungou, com visível cansaço. Sua mãe imediatamente encheu um prato de arroz e serviu para o irritadiço filho, que comia com voracidade.
– Outra curiosidade, por que um rio tão limpo e tão grande nunca daria peixes? – Perguntou sua mãe. – Porque nunca matou ninguém. – respondeu de imediato o Sol, que preparava uma grande colher de arroz. – Oh, filho, uma pedra no arroz! E por que uma árvore tão bela e tão frondosa nunca daria frutos? – Perguntou a senhora enquanto tirava um grão da boca do Sol. – Porque possui um tesouro enterrado em sua raiz. – Respondeu o impaciente e faminto Sol, preparando uma nova colherada. – Outra pedra, deixe-me tirar! E por que uma jovem tão bela e tão educada jamais arranjou um marido? – Enquanto perguntava, a mãe do Sol pegou outro grão. – Porque ela espera no lugar errado. Deve ficar na janela voltada para o lado que o Sol nasce. – Ele se irritava com a quantidade de pedras, mas preparava para outra colher de arroz. – Mais uma pedra! Deixe que tiro! – Insistiu sua mãe e retirou outro grão. Furioso, o Sol desistiu de jantar, pois achou que havia muitas pedras, e foi dormir. Sua mãe abriu a porta do armário onde escondera o camponês, entregou-lhe os três grãos de arroz e contou todas as respostas para as perguntas do rio, da árvore e da jovem moça. O bom homem agradeceu e pôs-se a galopar de volta para casa.
Passou em frente à casa onde a moça esperava um pretendente e contou-lhe que deveria ficar na janela do lado onde o Sol nasce. Quando a moça foi para o local indicado, avistou dali um jovem rapaz e se apaixonaram. O camponês seguiu a galope e encontrou a árvore, que logo lhe perguntou a resposta do Sol. O homem cavou por entre suas raízes e tirou de lá um baú cheio de joias e pedras preciosas. Imediatamente a arvore se encheu dos mais belos e ricos frutos jamais vistos. Agradeceu o bom homem e lhe deu um cesto das apetitosas maçãs que ali nasceram. O camponês, mais uma vez, se colocou a galope e foi ter com o rio. Logo que chegou, o rio se começou a perguntar qual teria sido a solução para seu caso. O homem nada respondeu e continuou a galopar, se afastando o máximo que podia. O rio gritava e pedia a resposta, mas o homem só se afastava. Quando estava finalmente bem longe, gritou para o rio: – Você nunca teve peixes pois nunca matou ninguém! O rio se encheu em fúria e tentou alcançar o homem, mas ele já estava muito longe então nada conseguiu.
Chegando em casa, o homem pegou os três grãos de arroz e colocou um em cada estátua, transformando-as em meninos de novo. A família festejou e chamou os vizinhos para tal comemoração. Eis que as irmãs malvadas apareceram e começaram a gritar maldições, pois novamente não conseguiram se livrar dos meninos que eram os filhos perdidos da rainha e do rei! Os camponeses ficaram muito tristes, mas lembraram que a rainha havia sido trancada numa torre por ter supostamente mentido para o rei. Decidiram, então, que deveriam ir ao palácio pedir para que fosse libertada, pois ela nunca havia enganado ninguém. Levaram consigo as irmãs más, que receberiam seu merecido castigo.
Quando os meninos mostraram a coroa que tinham marcada no peito para o rei, foi ordenado que a rainha fosse imediatamente solta. O rei, então, se ajoelhou perante sua esposa e pediu para que perdoasse sua terrível e injusta ira. A rainha, muito bondosa, perdoou o rei e convidou o casal de camponeses para que se juntassem à corte, pois muito bem haviam criado seus filhos e eram boas pessoas. Os meninos ficaram radiantes, pois puderam conhecer seus verdadeiros pais e não precisariam ficar longe dos camponeses que com tanto amor os haviam criado por todos esses anos. Assim, todos ficaram muito felizes e uma grande festa foi feita para todo o reino. Já as irmãs malvadas foram trancadas na masmorra profunda do castelo, e nunca mais puderam planejar outras crueldades.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip) (Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Costa, isbn
Amanda [1991 -] O Sábio chamado Sol: Amanda Costa Ilustrações: Amanda Costa Rio de Janeiro: Zahar, 2015 32 pp., 8 ils.
498-64-4546-897-2
I. Ficção - Literatura infantojuvenil I. Grimm, Jacob, 1785-1863. II. Grimm, Wilhelm Karl, 1786-1859. III. Costa, Amanda. IV. Título 15-665552 cdd-028.5
Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção: Literatura infantojuvenil 028.5 2. Ficção: Literatura juvenil 028.5
© Zahar, 2015
Projeto gráfico Ilustrações
amanda costa
amanda costa
Orientação
nair de paula soares
Nesta edição, respeitou-se o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Agradecimentos
Este livro jamais existiria se não fosse pela história contada originalmente por minha avó, Zélia, cujo repertório abriu as portas para o gosto por mais histórias fantásticas. Assim como a paciência e o humor ao ter paredes cobertas de desenhos, que não colocaram limites no meu interesse inerente pelo desenho. A ela, o meu mais especial e saudoso agradecimento. Agradeço também ao professor Kazuo Iha, que abriu as portas do atelier de Litografia da Escola de Belas Artes para que este projeto fosse executado utilizando-se desta centenária técnica. Seu conhecimento em Litografia é inspirador e foi um grande e valioso guia no vasto universo de possibilidades litográficas. Às professoras Nair de Paula Soares e Graça Lima, que se dispuseram a orientar este projeto, agradeço pelo conhecimento adquirido. Este projeto só pôde ser concretizado graças a essa orientação. À todos os amigos e familiares que me incentivaram com este projeto, meus sinceros agradecimentos.
Sobre a autora
Carioca e apaixonada por ilustração, cursei Comunicação Visual Design na Universidade Federal do Rio de Janeiro, na Escola de Belas Artes. Local este onde descobriria meu interesse por gravura, em especial a Litografia, que trouxe como fruto este livro.
Este livro Ê composto pela fonte Futura LT Book e foi impresso em papel Color Plus Marfim 120g/m².