Apresentação A emergência da velhice como fato social é evento relativamente recente no Brasil, assim como data de menos de 20 anos o reconhecimento da importância da pesquisa nesse campo. Nesse cenário, o aparecimento de publicações qualificadas significa enriquecimento em termos teóricos e empíricos. É útil, também, para fomentar o interesse de estudantes e profissionais de várias áreas disciplinares e profissionais pertencentes à emergente Gerontologia. Este livro resultou dos esforços do grupo de pesquisa sobre o envelhecimento que se estabeleceu na Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) há pouco mais de dois anos, com o objetivo de conhecer a experiência de envelhecimento de um grupo específico de seus cidadãos idosos, entre eles, o dos imigrantes nipônicos que no decorrer do século XX contribuíram para o progresso da região. Realizar um estudo transcultural não é fácil, mesmo quando os participantes compartilham um mesmo e próximo espaço geográfico. Barreiras linguísticas, culturais, de valores e de perspectivas dificultam a coleta de dados fidedignos e por isso mesmo desafiam a criatividade e a competência do pesquisador. Os participantes do grupo de pesquisa da UMC enfrentaram com rigor e sensibilidade as tarefas de coletar, compreender e analisar seus dados à luz da literatura especializada pertencente a várias disciplinas. Esta coletânea contém uma primeira seleção de textos produzidos a propósito dessa investigação. Na primeira parte, há a preocupação de estabelecer os fundamentos teóricos e empíricos pertinentes às investigações que aparecem na segunda parte da coletânea. Além disso, os autores cumprem o objetivo de realizar um levantamento e uma análise exaustiva da literatura nacional e internacional recente, que embasa suas pesquisas. Para tanto, usam metodologias sofisticadas e recuperam para o leitor informações teóricas e empíricas relevantes sobre temas como leitura, lazer, atividade
física e religiosidade entre idosos. No Capítulo 1, Ana Zahira Bassit e Carla Witter analisam o fenômeno do envelhecimento como objeto de estudo e campo de intervenção nas ciências sociais e na psicologia. No segundo capítulo, o leitor tem oportunidade de conhecer uma nova metodologia de análise da produção científica, a mineração de dados, que o autor Orlando Bisacchi Coelho aplica pela primeira vez no Brasil a estudos sobre a velhice. No Capítulo 3, Geraldina Porto Witter analisa a leitura entre idosos, em termos de atitudes e hábitos. No Capítulo 4, Vera Socci analisa psicologicamente o significado da religiosidade na vida dos idosos. No quinto, Marcelo de Almeida Buriti ocupa-se do tema lazer e no sexto, Maria do Socorro Leite Buriti e Carolina Gonçalves Campelo analisam a atividade física na velhice. Os temas tratados na parte teórica reaparecem na segunda parte, sob o formato de relatos de pesquisa, que são precedidos da apresentação do projeto de Mogi das Cruzes. Marcelo de Almeida Buriti, Maria Amélia da Silva, Luciana de Moraes Talarico, Maria do Socorro Leite Buriti, Ana Paula Moreira Galvão expõem os fundamentos teóricos e metodológicos, o delineamento, os objetivos e a metodologia de uma pesquisa comparativa referenciada a dois conceitos básicos. Um é o de que a velhice é uma fase do desenvolvimento humano, este compreendido como processo multidirecional, multidimensional e sujeito a múltiplas causas em interação ao longo de toda a vida. O outro é o que considera a velhice como experiência heterogênea, heterogeneidade que pode ser resumida em três padrões: velhice ótima, velhice normal e velhice patológica. O estudo dos idosos de Mogi das Cruzes envolveu a análise de facetas de um padrão de velhice que transita entre o ótimo (mais raro) e o normal (mais comum), em termos de saúde, inserção social, atividade e bem-estar de um grupo reconhecido como de alto status social e de outro formado por pessoas da mesma idade, que compartilharam as mesmas experiências sócio-históricas, mas que têm posição social mais baixa. Os dois grupos são analisados em relação a um conjunto de variáveis comportamentais. No Capítulo 8, são analisados os padrões de preferências e hábitos relativos à atividade física dos idosos (os autores são Marcelo de Almeida Buriti, Luciana de Moraes Talarico, Ana Paula Moreira Galvão, Maria Amélia da Silva e Maria do Socorro Leite Buriti). Nos Capítulos 9 e 10, Adriana Aparecida Ferreira, Ana Zahira Bassit, Carla Witter, Diego Tiscar, Juliana Nicolau Ferrara retomam a
análise da produção científica internacional sobre os idosos e o envelhecimento. Nos Capítulos 11, 12 e 13, Geraldina Porto Witter, Sueli Pinheiro dos Passos e Nataly Battiato de Queiroz apresentam uma análise inédita na literatura nacional e inovadora na literatura internacional, a dos idosos como leitores, tomando como base os participantes da pesquisa de Mogi das Cruzes. Pela sua originalidade na escolha do grupo pesquisado e dos temas selecionados para análise, os estudos resultantes do projeto com idosos de origem nipônica residentes na comunidade, em Mogi das Cruzes, parte dos quais inseridos nesta coletânea, têm grande potencial para influenciar novas pesquisas e para suscitar discussões e reflexões teóricas em vários domínios do campo da Gerontologia no Brasil. Anita Liberalesso Neri