Shalom Mana 188

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quaresma: Um caminho Só Família

Família: lugar insubstituível para o encontro com Cristo

Atualidade

A esperança, o grito que sai do coração do homem

Fé e Razão

Paulo, participante dos sofrimentos de Cristo

Entrelinhas

O precioso dom do limite pessoal


E D I T O R I A L

QUARESMA: UM CAMINHO

D

eus, através de sua Igreja, sempre nos dá um caminho, um espaço, um tempo para mergulharmos mais em seu mistério de amor por cada um de nós. E a estes tempos denominamos, Tempos Litúrgicos. Por isso, também nós da Shalom Maná, nesta edição, no Assunto do Mês, partilhamos um pouco sobre este tempo tão especial que é a Quaresma. Tempo de oração, de conversão, de retorno... Tempo que de forma concreta nos faz fitar os olhos naquilo que é essencial: o Eterno. Deus e seu amor por cada um de nós, cada ato seu salvífico, libertador e redentor. Até chegar ao seu maior ato de amor pela humanidade: sua morte na cruz e Ressurreição. No Atualidade vamos ver a II Parte do artigo do Prof. Guzman Carriquiry nos fazendo mergulhar ainda mais na riqueza do Continente Americano, à Luz da Encíclica Spe Salvi, do nosso Pastor, Papa Bento XVI. Artigo este que nos enche de esperança e desejo de lançar nossas redes em águas mais profundas, em busca do coração do homem que tem sede de Deus. Veremos também no Igreja Celebra a história das mártires Santa Perpétua e Santa Felicidade. Essa linda história de amizade e santidade. No Entrelinhas, nossa mãe e Co-Fundadora, Maria Emmir, nos dá mais uma vez uma lição; e com sua própria vida nos ensina que temos limites, e eles longe de serem nossos inimigos são dons, que nos fazem reconhecer que precisamos – e dependemos – de Deus e dos irmãos. No Espiritualidade, nossa leitura nos convida ao reencontro com Deus, a termos sempre viva a experiência com o Deus Vivo, a percebermos a necessidade de o termos sempre como centro de nossas vidas. No Só Família, a excelente entrevista do Pe. Álvaro Corcuera, Superior Geral do Movimento Apostólico Regnum Christi, nos atenta para que, na construção de uma família, não percamos de vista o essencial da vida cristã, que é viver frente a Deus. E, muito mais recursos querido leitor, você vai encontrar nesta Edição para que tenha sua fé fortalecida e sua experiência de amor com Deus renovada. Lembre-se, tudo sempre preparado como muito carinho e zelo para você. Boa leitura e Deus abençoe!

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quaresma: Um caminho Só Família

Família: lugar insubstituível para o encontro com Cristo

Fé e Razão

Paulo, participante dos sofrimentos de Cristo

Atualidade

A esperança, o grito que sai do coração do homem

E X P E D I E N T E Coordenação Geral CRISTIAnO TuLI Coordenação Editorial AnDRÉA LunA vALIM ELIAnA GOMES LIMA Equipe de Redação AnDRÉA LunA vALIM AnDRÉIA GRIPP ELIAnA GOMES LIMA JOSÉ RICARDO F. BEZERRA Revisão JOSÉ RICARDO F. BEZERRA SAnDRA vIAnA Editor de Arte AuGuSTO F. OLIvEIRA Colaborou nesta edição JOSEFA ALvES DOS SAnTOS Gerente Comercial SuZAnA ALBuQuERQuE Assinaturas CICILIAnA TAvARES LAnE MARQuES Jornalista Responsável EGÍDIO SERPA


SUMÁRIO

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Só Família

Família: lugar insubstituível para o encontro com Cristo

e Razão 20 Fé Paulo, participante dos sofrimentos de Cristo

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Especial

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Entrelinhas

80 anos do Estado Vaticano

O precioso dom do limite pessoal

Palavra do Papa 04 ADiálogo ecumênico

e Espiritualidade 08 Arte A Orelha de Malco

do Mês 09 Assunto Quaresma: Um caminho

16 Espiritualidade A experiência

com o Deus vivo

Igreja Celebra 18 ASantas Perpétua e

com a Palavra 32 Orando Quando orardes, dizei:

22 Testemunho Deus ultrapassa tudo

37 Entrevista Só a graça de Deus permite

26 Atualidade A esperança, o grito que

Jovem 40 Papo Jesus e a ditadura da moda 42 Acontece no Mundo 44 Divirta-se

Felicidade, Mártires

o que podemos imaginar...

sai do coração do homem Parte II

Pai nosso...

que nos abramos à diferença

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A PALAvRA DO PAPA

DIÁLOGO

ECUMÊNICO

Bento XVI Discurso pronunciado na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos realizada em janeiro de 2009

A “Semana de Oração pela unidade dos Cristãos”, trata-se de uma iniciativa espiritual belíssima, que está se estendendo cada vez mais entre os cristãos, em sintonia, e poderíamos dizer, em resposta à importante invocação que Jesus dirigiu ao Pai no Cenáculo, antes de sua Paixão: “Que sejam uma só coisa, para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). 4

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ueridos irmãos e irmãs, Em quatro ocasiões, durante esta oração sacerdotal, o Senhor pede a seus discípulos que sejam “uma só coisa”, segundo a imagem da unidade entre o Pai e o Filho. Trata-se de uma unidade que só pode crescer no exemplo da entrega do Filho ao Pai, ou seja, saindo de si e unindo-se a Cristo. Por duas vezes também, nesta oração Jesus acrescenta como fim desta unidade: para que o mundo creia. A unidade plena está conectada, portanto, à vida e à própria missão da Igreja no mundo. Esta deve viver uma unidade que só pode derivar de sua unidade com Cristo, com sua transcendência, como sinal de que Cristo é a verdade. Esta é nossa responsabilidade: que seja visível para o mundo o dom de uma unidade em virtude da qual nossa fé se torne crível. Por isso, é importante que cada comunidade cristã tome consciência da urgência de trabalhar de todas as formas possíveis para chegar a este grande objetivo. Mas sabendo que a unidade é antes de tudo “dom” do Senhor, é importante ao mesmo tempo implorá-la com oração incansável e confiada. Só saindo de nós mesmos e dirigindo-nos a Cristo, só na relação com Ele podemos chegar a estar realmente unidos entre nós. Este é o convite que, com a presente “semana”, recebemos como crentes em Cristo de toda Igreja e Comunidade Eclesial; a Ele, queridos irmãos e irmãs, devemos responder com generosidade. Este ano, a “Semana de oração pela unidade dos cristãos” propõe para a nossa meditação e oração estas palavras tomadas do livro do profeta Ezequiel: “Estarão unidos em tua mão” (37,17). O tema foi escolhido por um grupo ecumênico da Coreia, e revisado depois para sua divulgação internacional pelo Comitê Misto de Oração, formado por representantes do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos e pelo Conselho Ecumênico das Igrejas de Genebra. O mesmo processo de preparação foi um estimulante e fecundo exercício de autêntico ecumenismo. Na passagem do livro do profeta Ezequiel da qual se tirou o tema, o Senhor ordena ao profeta que tome duas madeiras, uma como

símbolo de Judá e suas tribos, e a outra como símbolo de José e de toda a casa de Israel unida a ele, e lhe pede que as “aproxime”, de modo que formem uma só madeira, “uma só coisa” em sua mão. É transparente a parábola da unidade. Aos “filhos do povo”, que pedirão explicação, Ezequiel, iluminado desde o Alto, dirá que o próprio Senhor toma as duas madeiras e as aproxima, de forma que os dois reinos com suas respectivas tribos, divididas entre si, sejam “uma só coisa em tua mão”. A mão do profeta, que aproxima os dois lenhos, é considerada como a mão do próprio Deus que recolhe e unifica seu povo e finalmente a humanidade inteira. Podemos aplicar as palavras do profeta aos cristãos, como uma exortação a rezar, a trabalhar, fazendo todo o possível para que se cumpra a unidade de todos os discípulos de Cristo; trabalhar para que nossa mão seja instrumento da mão unificadora de Deus. Esta exortação é particularmente comovedora e importante nas palavras de Jesus após a Última Ceia. O Senhor deseja que seu povo inteiro caminhe – e vê nele a Igreja do futuro, dos séculos futuros – com paciência e perseverança para a realização da unidade plena, atitude esta que comporta a adesão dócil e humilde ao mandato do Senhor, que o abençoa e o torna fecundo. O profeta Ezequiel nos assegura que será precisamente Ele, nosso único Senhor, o único Deus, que nos colherá em “sua mão”.

Esta é nossa responsabilidade: que seja visível para o mundo o dom de uma unidade em virtude da qual nossa fé se torne crível. Na segunda parte da leitura bíblica se aprofunda no significado e nas condições da unidade das diversas tribos em um só reino. Na dispersão entre os gentios, os israelenses haviam conhecido cultos errôneos, haviam assimilado concepções de vida equivocadas, haviam assumido costumes alheios à lei divina. Agora o Senhor declara que já não se contaminarão mais com os ídolos dos povos pagãos, com suas abominações, com todas suas inquietudes (cf. Ez 37,23). Exige a necessidade de libertá-los do pecado, de purificar seu www.edicoesshalom.com.br

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Só saindo de nós mesmos e dirigindonos a Cristo, só na relação com Ele podemos chegar a estar realmente unidos entre nós.

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coração. “Eu os livrarei de todas as suas rebeldias – afirma –, e os purificarei”. E assim serão meu povo e eu serei seu Deus” (ibidem). Nesta condição de renovação interior, estes “seguirão meus mandamentos, observarão minhas leis e as porão em prática”. E o texto profético termina com a promessa definitiva e plenamente salvífica: “Farei com eles uma aliança de paz... Porei meu santuário, ou seja, minha presença, no meio deles” (Ez 37, 26). A visão de Ezequiel é particularmente eloquente para todo o movimento ecumênico, porque manifesta a exigência imprescindível de uma renovação interior autêntica em todos os componentes do Povo de Deus, que só o Senhor pode realizar. A esta renovação devemos estar abertos também nós, porque também nós, dispersos entre os povos do mundo, aprendemos costumes muito distantes da Palavra de Deus. “Assim como hoje a renovação da Igreja – lê-se no Decreto sobre o ecumenismo do Concílio Vaticano II – consiste essencialmente no crescimento da fidelidade à sua vocação, esta é sem dúvida a razão do movimento rumo à unidade” (UR, 6), ou seja, uma maior fidelidade à vocação de Deus. O decreto sublinha também a dimensão interior da conversão do coração. “O ecumenismo verdadeiro – acrescenta – não existe sem a conversão interior, porque o desejo da unidade nasce e amadurece na renovação da mente, na abnegação de si mesmo e no exercício pleno da caridade (UR, 7).” A “Semana de oração pela unidade” se converte, desta forma, para todos nós, em estímulo a uma conversão sincera e a uma escuta cada vez mais dócil à Palavra de Deus, a uma fé cada vez mais profunda. A “Semana” é também uma ocasião propícia para agradecer ao Senhor por tudo o que nos concedeu fazer até agora “para aproximar” uns dos outros, os cristãos divididos, e as próprias igrejas e

comunidades eclesiais. Este espírito animou a Igreja Católica, a qual, durante o ano passado, prosseguiu, com firme convicção e segura esperança, mantendo relações fraternas e respeitosas com todas as igrejas e comunidades eclesiais do Oriente e do Ocidente. Na variedade das situações, às vezes mais positivas e às vezes com mais dificuldades, esforçou-se por não decair nunca

no empenho de realizar todos os esforços para a recomposição da unidade plena. As relações entre as igrejas e os diálogos teológicos continuaram dando sinais de convergências espirituais alentadoras. Eu mesmo tive a alegria de encontrar, aqui no Vaticano e ao longo das minhas viagens apostólicas, cristãos procedentes de todos os horizontes. Acolhi com viva alegria por três ocasiões o Patriarca Ecumênico, Sua Santidade Bartolomeu I e, como acontecimento extraordinário, nós o ouvimos tomar a palavra, com calor eclesial fraterno e com confiança convencida no porvir, durante a recente assembleia do Sínodo dos Bispos. Tive o prazer de receber os dois Catholicoi da Igreja Apostólica Armênia: Sua Santidade Karekin II, de Etchmiazin, e Sua Santidade Aram I, de Antelias.


E, finalmente, compartilhei a dor do Patriarcado de Moscou pela partida do amado irmão em Cristo, o Patriarca Sua Santidade Alexis II, e continuo permanecendo em comunhão de oração com estes irmãos nossos que se preparam para eleger o novo Patriarca da venerada e grande Igreja Ortodoxa. Igualmente, foi-me dado encontrar representantes das diversas Comu-

nhões cristãs do Ocidente, com os quais prossegue o diálogo sobre o importante testemunho que os cristãos devem dar hoje de forma concorde, em um mundo cada vez mais dividido e enfrentado tantos desafios de caráter cultural, social, econômico e ético. Por isso e por tantos outros encontros, diálogos e gestos de fraternidade que o Senhor nos permitiu poder realizar, agradecemos-lhe juntos com alegria. Queridos irmãos e irmãs, aproveitemos a oportunidade que a “Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos” nos oferece para pedir ao Senhor que prossigam e, se for possível, que se intensifiquem, o compromisso e o diálogo ecumênicos. No contexto do Ano Paulino, que comemora o bimilênio do nascimento de São Paulo,

não podemos não referir-nos ao que o Apóstolo Paulo nos deixou escrito a propósito da unidade da Igreja. Cada quarta-feira dedicarei minha reflexão às suas cartas e ao seu precioso ensinamento. Retomo aqui simplesmente quando escreveu dirigindo-se à comunidade de Éfeso: “Um só corpo e um só espírito, como uma só é a esperança à qual fostes chamados, a da vossa vocação. Um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4, 4-5). Façamos nosso o anseio de São Paulo, que dedicou sua vida inteiramente ao único Senhor e à unidade de seu Corpo Místico, a Igreja, dando, com o martírio, um supremo testemunho de fidelidade e de amor a Cristo. Seguindo seu exemplo e contando com sua intercessão, que cada comunidade cresça no empenho da unidade, graças às diversas iniciativas espirituais e pastorais e às assembleias de oração comum, que costumam ser mais numerosas e intensas nesta “Semana”, fazendo-nos já saborear antecipadamente, de certa forma, o gozo da unidade plena. Oremos para que entre as igrejas e comunidades eclesiais continue o diálogo da verdade, indispensável para dirimir as divergências, e o da caridade, que condiciona o próprio diálogo teológico e ajuda a viver unidos para um testemunho comum. O desejo que habita em nossos corações é de que chegue logo o dia da comunhão plena, quando todos os discípulos do único Senhor nosso poderão finalmente celebrar juntos a Eucaristia, o sacrifício divino para a vida e a salvação do mundo. Invocamos a intercessão maternal de Maria, para que ajude todos os cristãos a cultivarem uma escuta mais atenta da Palavra de Deus e uma oração mais intensa pela unidade.

“Um só corpo e um só espírito, como uma só é a esperança à qual fostes chamados, a da vossa vocação. Um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4, 4-5).

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ARTE E ESPIRITuALIDADE Christos Yannaras Teólogo ortodoxo

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uando não aceitamos a dinâmica da Cruz, sempre alguém perde a orelha, ou sofre perdas mais sérias. Este capitel românico (parte superior da coluna de uma Igreja da idade média) resume o Mistério Pascal do Cristo e do Cristão. Jesus, rodeado de traição e violência no jardim das oliveiras (cf. Jo 18,1-11), dedicase a recolocar a orelha que Pedro, em sua incompreensão havia cortado a Malco.

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Judas abraça como se amasse, como se quisesse possuir, dominar Aquele que criou o universo e mantém em movimento cada átomo. O Amor não possui, doa-se, e por isso o braço destro se estende generoso na direção de Malco, que está ajoelhado, desesperado diante de uma perda que tampouco compreende. O gesto de Jesus, a paz de seu rosto, são atitudes de senhorio sobre a paixão, a morte, a violência, o ódio. Diz a liturgia: somente na Cruz nós vemos a Luz, porque ali vemos a força de um Amor infinito. Sua grande mão aberta está a mostrar a orelha, quase a dizer-nos: “Shema Israel...” “Escuta, Filho!!”... escuta com este novo Ouvido que te dou.


ASSunTO DO MÊS

Quaresma: Um caminho

É de significado singular o caminho ascético que a Igreja nos propõe de forma particular na Quaresma. As práticas penitenciais propostas pela Igreja, tais como: a oração, a esmola e o jejum, ou mesmo as tantas obras de caridade e ainda o exercício das virtudes da renúncia e despojamento, não podem limitar-se a serem “práticas temporárias”, pois isso caracterizaria uma vida espiritual e humana empobrecida e superficial.

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Antônio Marcos de Aquino Missionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

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hegado o tempo da Quaresma (do Latim “Quadragésima”), a Igreja se prepara de forma mais intensa para a celebração do Mistério “salvífico-redentor” que é a Páscoa do Senhor (sinal sacramental da nossa conversão). Quem não se lembra do solene rito penitencial da imposição das cinzas na Quarta-Feira, dando início ao Tempo da Quaresma? Este se estende até a Quinta-Feira Santa antes da Missa da Ceia do Senhor (in Ceone Domini), e corresponde a exatos quarenta dias em que a Igreja faz “um caminho para o Senhor”, um itinerário de fé que adentra a Semana Santa e culmina no Tríduo Pascal (Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo). Trata-se de um caminho de conversão e renovação da experiência primeira do amor. É para nós também um “caminho de subida” para Jerusalém,

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uma experiência de deserto, pois precisamos superar a prova, vencer as tentações, amadurecer nas decisões, dar sentido ao caminhar de cada novo dia. O Tempo Litúrgico Quaresmal porta em si uma rica simbologia extraída e fundamentada nas Sagradas Escrituras. A Palavra viva do Senhor dá sentido à “ascese” (atitudes e gestos que favorecem a nossa conversão a Cristo, de forma particular a oração, a esmola, o jejum e a renúncia), tão necessários para a vida cristã, vindo a encontrar eco maior na vida da Igreja nesse tempo. É ainda a Palavra de Deus que ilumina a nossa consciência e desperta o nosso coração da sonolência e da prisão de todo pecado, fazendo-nos desejar ainda mais a conversão. O caminho de volta como tempo de graça A vivência da Quaresma requer a disposição para um retornar ao que é essencial. Isso nem sempre é fácil, o sabemos. As graças batismais permanecem na vida de muitos como que obscurecidas,

tímidas ou adormecidas. Todos nós corremos o risco de não deixar que sua “presença operante” dê sentido, qualidade e fervor ao nosso viver. É “tempo de graça”! Tempo de renunciar a toda forma de escravidão, a tudo aquilo que rouba em nós o dinamismo da fé, a alegria da vida cristã, a beleza e a confiança de sermos sempre amparados pela graça de Deus. Enfim, é tempo de Salvação. O Tempo da Quaresma nos une de forma ainda mais misteriosa à vida ofertada de Jesus Cristo, sua dor e sofrimento. A Quaresma assume uma espiritualidade penitencial, mas nunca de tristeza ou de morte, mas de vida. A Quaresma nos coloca no deserto, mas quer nos levar ao Mistério Pascal. Nossa vida pode, hoje, passar pela paixão, mas esse tempo nos convida a morrer para ressuscitarmos com Cristo. A conversão e o retorno para Cristo, nem sempre são fáceis, como nunca é fácil superar um tempo doloroso e sombrio na nossa vida quando nos parece que até o céu está escuro, distante e


intangível. A melhor maneira de vivermos um caminho de retorno como preparação para a Páscoa do Senhor é suplicar-lhe que nos dê a graça do desejo e da caridade. Esteja como estiver o nosso coração, é necessário que nunca percamos de vista o desejo que é sustentado pela fé e pelo abandono à Providência Divina que nunca nos engana. Maravilhosamente fala Santo Agostinho da importância do desejo como disposições para esperar sempre as maravilhas de Deus no processo do retorno: “É frutuoso perseverarmos no desejo, até que chegue a nós o que foi prometido e assim acabe o gemido e permaneça apenas o louvor”. Quaresma é caminho de purificação É de significado singular o caminho ascético que a Igreja nos propõe de forma particular na Quaresma. As práticas penitenciais propostas pela Igreja, tais como: a oração, a esmola e o jejum, ou mesmo as tantas obras de caridade e ainda o exercício das virtudes da renúncia e despojamento, não

podem limitar-se a serem “práticas temporárias”, pois isso caracterizaria uma vida espiritual e humana empobrecida e superficial. Seja lá qual for a nossa prática penitencial ela precisa moldar a nossa vida, nossas atitudes e consciência. Não há nenhum sentido nossas ações penitenciais quando elas não conseguem – com a purificação necessária que delas decorre quando autênticas – redirecionar nossa vida, fazendo – a retornar, trilhar um caminho novo para adentrarmos com o Senhor na Semana Santa e nos dispormos a morrer com Ele para com Ele ressuscitarmos. Absolutamente nada tem sentido quando não somos atraídos para Cristo e sua Paixão: Ele é a Ressurreição e a Vida (cf. Jo 11,25); Ele é o grão de trigo que morre para produzir muitos frutos (cf. Jo 12,21); Ele é o caminho e a vida para quem quer segui-lo, desprezando a própria vida neste mundo, a fim de conservá-la para a vida eterna (cf. Jo 12,25). Recordemos que a purificação maior é a do nosso orgulho, do

retornar aos irmãos, e ao primeiro amor, também no que diz respeito à caridade fraterna. Sabemos quanto nos custa o perdão quando “somos inocentes” na ofensa sofrida ou mesmo causada. Também a Quaresma – indispensavelmente – quer nos fazer viver uma purificação na nossa forma de amar os irmãos, a esposa, o esposo, aquela pessoa que nos parece tão difícil de conviver ou aceitar. Neste Tempo Quaresmal ainda é necessário que tenhamos consciência de que a purificação ou a prática penitencial deve ser capaz de nos fazer enxergar concretamente as necessidades dos outros e, não nos tornarmos indiferentes, mas de nos tornar próximos. Só o amor de Deus em nós dá sentido a toda e qualquer purificação. Voltar ao primeiro amor Quando a Quaresma propõe a espiritualidade de uma renovação da vida batismal e penitencial, com a vivência desses aspectos na dimensão pessoal, mas, especialmente, no âmbito comunitário (eclesial), ela quer nos fazer viver www.edicoesshalom.com.br

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a experiência do retorno, do caminho ao primeiro amor. Fruto do extasiar-se com a Paixão do Senhor por nós, e da vida nova fruto de sua Ressurreição. As palavras do rito da imposição das cinzas traduzem muito do mistério desse retorno ao primeiro amor quando o sacerdote diz: “Lembra-te que és pó, e ao pó hás de voltar” (cf. Gn 18,12). Vemos assim que nada pode nos garantir a felicidade senão a vida de Deus em nós. A expressão “és pó” não significa que “estamos fadados a desaparecer”, como assim diz a cultura transitória do hoje, mas que nossa origem é Deus que nos criou do nada pelo seu amor abundante e misericordioso. Somos frágeis, somos argila, e só Deus é nossa força e nossa plena realização. Quem não faz

a experiência de encontro com o seu nada, também conhece muito pouco da vida de Deus. O orgulho e a prepotência nos impedem de aceitar um Amor que livremente quer ir para Jerusalém dar a vida pelos seus irmãos para que eles sejam plenamente felizes. Somos todos necessitados de redenção e só o amor de Deus pode nos redimir. O deserto preparou Jesus para a Páscoa. Caminhou para Jerusalém porque o amor o impulsionava. Também nós – através da vivência da Quaresma – estamos a caminho da Paixão, pois sem ela não podemos viver a Ressurreição. “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15), corresponde ao sentido pleno da vivência da Quaresma. Neste caminho de retorno que nos propõe este Tempo, pela ação do Espírito Santo, devemos

Seu auxílio

Fontes: - RATZINGER, Joseph. Dogma e Anúncio, Loyola, São Paulo, 2007. - BERGAMINI, Augusto. Cristo, Festa da Igreja, Paulinas, São Paulo, 1994. - Bento XVI. Mensagem para a Quaresma do ano de 2009.

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“Sê firme e corajoso. O Senhor está contigo em qualquer parte onde fores.” Jos 1,9

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voltar ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído, ou nos afastado, se é que um dia o tenhamos encontrado. Peçamos ao Senhor que nos dê a graça de vivermos a Quaresma dóceis ação do Espírito, com o coração desejoso de subir com Ele a Jerusalém, para que no seu ato supremo de amor por nós na Paixão, com Ele morramos, para que com Ele ressuscitemos. Que a Santíssima Virgem Maria, Mãe e Mestra do Amor, nos ajude a viver esse caminho de volta ao primeiro amor, que é o coração de Cristo, fonte de nossa paz.

Shalom Maná - Março/2009

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SÓ FAMÍLIA

Família:

lugar insubstituível

para o encontro com Cristo O Encontro Mundial das Famílias aconteceu dos dias 14 a 18 de janeiro, na Cidade do México. na entrevista a seguir, Pe. Álvaro Corcuera, Superior Geral do Movimento Apostólico Regnum Christi e da Congregação Religiosa dos Legionários de Cristo faz um balanço das conclusões.

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omo Deus age em momentos como este, do Encontro Mundial das Famílias no México? Que frutos se pode esperar? Padre Corcuera: Eu tenho certeza de que nesses dias, Deus agiu de maneira profunda e plantou sementes de graça em muitos corações. O Encontro terminou, mas estas sementes crescerão pou-

Pe. Álvaro Corcuera Superior Geral do Movimento Apostólico Regnum Christi e da Congregação Religiosados Legionários de Cristo

co a pouco. O Papa recordava em junho, no porto de Brindisi, que o estilo característico e inconfundível de Deus é que Ele costuma realizar as maiores coisas de forma pobre e humilde; que sua obra sempre é silenciosa, e não espetacular, mas que esses gestos humildes e discretos, como os inícios da Igreja na Galileia, são de uma grande força de renovação. Cristo quer reinar no “pequeno e decisivo mundo que é

o coração do homem” – em palavras do Papa – e em cada lar. Este Encontro Mundial das Famílias foi como um Pentecostes, onde pedimos ao Espírito Santo que nos transforme. Ao mesmo tempo, acho que Ele nos pede, nesta época difícil, que vivamos como Jesus Cristo, com a urgência de fazer o bem, em estado de missão, formando entre todos um só coração e uma só alma, como os primeiros cristãos. www.edicoesshalom.com.br

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Na família, os filhos aprendem dos pais e dos irmãos mais velhos a falar com Deus, a escutá-lo, a aderir à sua vontade, a ir além do sofrimento ou da tristeza. Em sua intervenção durante o Congresso Teológico no Encontro Mundial das Famílias, o senhor destacou a fé, a esperança e a caridade como pilares da vida cristã e como desafio para as famílias católicas. Por quê? Se nós, cristãos, queremos construir a família, não podemos perder de vista o essencial da vida cristã, que é viver frente a Deus. As virtudes teologais são a forma propriamente cristã de nos relacionarmos com Deus; são a espinha dorsal que mantém a família unida e em pé, ainda que faltem outras realidades. Se falta a fé, a esperança e a caridade, a família cristã não sobreviverá, inclusive nas melhores condições externas. E a família é o lugar espontâneo em que as crianças aprendem a viver essas virtudes de forma natural e espontânea. Isso se aprende não a partir da teoria, mas com o exemplo de que a fé não é cumprir

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Shalom Maná - Março/2009

uns mandatos por obrigação, mas uma resposta viva ao amor de Deus, onde a gratuidade do amor é um fator decisivo. Aprendem que Cristo não é uma ideia, mas o centro da nossa vida e a resposta a todos os problemas; que os sacramentos não são um evento social,

mas uma verdadeira celebração da presença de Deus na nossa vida, um encontro com Ele. Na família se aprende a viver a fé sem se acostumar com ela, mas como algo vivo que se renova e cresce, que se compartilha sem medo, que se une no amor. Na família, os filhos aprendem dos pais e dos irmãos mais velhos a falar com Deus, a escutá-lo, a aderir à sua vontade, a ir além do sofrimento ou da tristeza. E na família se aprende o amor, o que dá sentido a tudo e sem o qual nada tem sentido. Nela se aprende o perdão, a compaixão, a paciência, a justiça; aprende-se a desculpar, a falar bem, a pensar bem, a fugir da crítica e de tudo aquilo que possa fazer a alma morrer. Ao ver seus pais assim, as crianças se abrem às realidades últimas da vida e descobrem o valor do tempo frente à eternidade. É na família que se compreende que Deus é Pai e que amá-lo é a maior felicidade do homem. A família se converte, ainda em meio às dificuldades, em um paraíso na terra. E este mundo precisa de pequenos paraísos que irradiem a força transformadora do amor de Deus.


Falemos da esperança. Com todos os dados estatísticos e da paulatina deterioração da família, qual seria o fundamento da esperança nesta realidade? Bento XVI nos disse com toda clareza ao concluir o Encontro: “A resposta cristã diante dos desafios consiste em reforçar a confiança no Senhor e o vigor que brota da própria fé, a qual se nutre da escuta atenta da Palavra de Deus”. Deus Pai, Filho e Espírito Santo: Ele é o fundamento da nossa esperança. Os testemunhos das famílias de todos os lugares do mundo, que compartilhamos neste encontro, são uma demonstração de que Deus age quando os seus filhos se abrem à sua graça, apesar das nossas limitações, fraquezas e quedas. Ele é o exemplo do Pai perfeito, do Filho perfeito, do Irmão perfeito e do Amigo perfeito. E como Ele é, assim nos ensina a ser no mundo. É o Espírito que age, e nós colaboramos com Ele. Também é muito importante que se viva a alegria na família,

como uma característica essencial da virtude da esperança. Uma autêntica alegria, que é como quem já vai refletindo a beleza do céu no lar. Que relação se dá entre a família e a felicidade pessoal? A família é insubstituível? Somos felizes quando somos amados e amamos. A família é o lugar privilegiado para experimentar esse amor profundo, o mais parecido com o amor de Deus, porque na família somos amados sem condições, por ser quem somos, não pelo que fazemos ou temos; não somos amados pelas nossas qualidades ou capacidades, nem nos deixam de amar pelas nossas limitações e defeitos. Essa incondicionalidade e gratuidade do amor, ainda que não sejamos capazes de amar sempre assim, é um reflexo do amor de Deus. Somos vistos como Deus nos vê. Os pais são testemunhas privilegiadas do amor infinito da vida dos filhos. Eles participaram do milagre, mas sabem que não são os artífices, que nem tudo esteve em

suas mãos. Assim vislumbram o dom que é a vida, o aspecto divino que há nela. A família é o lugar propício e insubstituível, segundo os planos de Deus, para o encontro com Cristo, porque está chamada a ser espelho do amor de Deus. A família se converte em um verdadeiro lar, como em Nazaré, onde se compartilham as alegrias e as tristezas, onde se pode dizer que se forma a atitude de ser um só corpo, uma só alma e um só coração. A base disso se encontra na oração, em particular na oração em família. Quanta razão tinha o Pe. Peyton, quando dizia que “a família que reza unida permanece unida”. Também podemos dizer que a família é mais feliz na medida em que se dá e que se oferece, como no caso da família missionária. Neste caso, também poderíamos dizer que a família que reza unida, e que unida faz o bem levando o Evangelho, permanece ainda mais unida. Fonte: Zenit www.edicoesshalom.com.br

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ESPIRITuALIDADE

nesta sociedade incrédula, consumista, materialista, secularizada, que perdeu o sentido do sagrado, somente a experiência do olhar misericordioso de Jesus atingindo o olhar pobre e sedento de cada homem pode mudar o mundo. Cassiano Rocha Azevedo Missionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

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eus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram” (Jó 42,5). Essa foi a resposta de Jó a Deus após sua experiência com a presença divina. Jó havia sido provado duramente por Deus. Em um só dia, viu seus filhos e escravos mortos, perdeu todos os seus rebanhos pela ação de salteadores, assassinos, furacões, relâmpagos... Perdeu até mesmo a saúde... Diz a Bíblia que, durante todo o seu sofrimento Jó permaneceu fiel, não cometeu pecado algum nem proferiu contra Deus qualquer blasfêmia. No capítulo 38 do Livro de Jó lemos que do seio da tempestade Deus falou a Jó e, à medida em que Deus fala, o sol vai clareando as suas trevas. Deus fala no íntimo de Jó e a experiência da sua presença santa o faz exclamar: “Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram”. A experiência da presença é tão forte que ele diz: “meus olhos

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Um novo tipo de arrependimento, experimenta o coração de Jó movido por íntima e profunda compulsão interior de considerar os seus atos diante da grandeza e da majestade divina. Jó silencia. te viram”. E, diante da santidade de Deus, reconhece o pecado e se retrata – não por ter cometido crimes, mas porque diante da santidade de Deus, todos somos injustos e pecadores – e penitencia-se

no pó e na cinza. Um novo tipo de arrependimento, experimenta o coração de Jó movido por íntima e profunda compulsão interior de considerar os seus atos diante da grandeza e da Majestade Divina.


Jó silencia. É Deus quem vai justificá-lo. O Senhor repreende os amigos e pede que Jó interceda por aqueles que tornaram sua provação mais espinhosa. Jó, o pobre de Javé, o mais necessitado de intercessão, aprende a interceder na sua pobreza e, diz a Bíblia, é justamente enquanto ele intercede por seus amigos que o Senhor lhe restitui tudo o que ele havia perdido, restituindo-lhe em dobro. Sim, verdadeiramente a cura vem pela nossa disposição em entrar em unidade com todos; essa é a obra do Espírito Santo na vida de Jó e na nossa. Jó nos ensina que a experiência pessoal supera qualquer conhecimento intelectual. Outra grande figura do Antigo Testamento, o rei Davi, tem algo a nos ensinar sobre isso. O maior desejo de Davi era ver Deus em toda a sua glória, por isso queria construir-lhe um templo, mas a glória divina foi-lhe manifestada diante da visita da misericórdia, quando matara Urias para ficar com Betsabé (cf. Sl 50). Essa contemplação foi esperada também pelo profeta Simeão, no Templo. Ao receber Jesus no colo, exclama com toda a alma: “Deixai agora vosso servo ir em paz, conforme prometestes, ó Senhor. Pois meus olhos viram vossa salvação, que preparastes ante a face das nações!” (Lc 2,29-30). Diante de Jesus menino, o velho Simeão se dá conta de que vivera para aquele momento e, portanto, sua vida estava completa. Nada mais lhe faltava. Como o olhar de Deus cruzou com o de Jó e o seu ser iluminou-se, assim foi com Maria Madalena, quando sentiu-se pela primeira vez olhada como pessoa e não como prostituta; o olhar de Jesus era cheio de misericórdia, como o foi para Pedro na hora da negação, e o foi para a mulher adúltera: “Nem eu te condeno, vai e não tornes a pecar”. É o único olhar que verdadeiramente transforma uma vida. Esse amor espera ser descoberto por nossos olhos em qualquer situação. Seja qual for o momento que atravessamos, se nos restam ainda anos, meses, dias ou apenas horas de vida. Um dos ladrões na cruz – depois disso chamado de “Bom ladrão” –, ao contemplar o Cristo chagado, servo sofredor, “roubou o céu de Jesus” por seu olhar de fé, reconhecendo naquele “Homem das Dores” o Rei de Israel, cujo Reino não é deste mundo, pois os dois estavam prestes a morrer. Tomé viu as chagas gloriosas do Ressuscitado que passou pela Cruz e tornou-se o Apóstolo das Índias. Foi olhando a glória de Deus no céu que Estêvão pôde ser fiel no martírio. Foi pelo estrondoso olhar de misericórdia sobre Saulo, quando ia prender os cristãos em Damasco, que ele ficou realmente cego e, após ser iluminado por essa nova luz, tornou-se o “Apóstolo dos Gentios.”

A Santa Teresa de Ávila foi dada a graça de olhar para o lugar que o demônio lhe havia preparado no inferno e o que lhe era reservado no céu, por Deus. Com essa visão, escolheu, é claro, o lugar celeste e empenhou-se para “conquistá-lo” para si e para a humanidade. Nesta sociedade incrédula, consumista, materialista, secularizada, que perdeu o sentido do sagrado, somente a experiência do olhar misericordioso de Jesus atingindo o olhar pobre e sedento de cada homem pode mudar o mundo. O mundo que erra muito acerca do conhecimento de Deus, que tem seu olhar voltado para a grandeza e a beleza da criação – em lugar da grandeza e beleza do Criador – só poderá redirecionar seu olhar através do profundo poder transformador da misericórdia. A recente canonização de Irmã Faustina, apóstola da misericórdia neste nosso século, é uma indicação segura de que a Igreja entra num novo kairós em que o novo pentecostes nos leva ao coração misericordioso de Jesus e à adoração. É um tempo de graça em que se proclama Teresinha de Jesus, Doutora da Igreja e, trilhando sua pequena via de abandono, conheceremos mais rapidamente a misericórdia e depressa aprenderemos a adorar.

O mundo que erra muito acerca do conhecimento de Deus, que tem seu olhar voltado para a grandeza e a beleza da criação – em lugar da grandeza e beleza do Criador – só poderá redirecionar seu olhar através do profundo poder transformador da misericórdia. É importante nos alegrar pelas sementes que morreram e já começam a florescer nesta nova primavera da Igreja, e mais ainda pelo que virá... Pois quanto mais maldade, injustiça e dureza de coração se vê, maiores provisões de graça e misericórdia caem do coração de Cristo para renovar a humanidade. Assim, rezamos para que não tarde o dia em que todos proclamaremos, em uníssono: “Agora, viramte meus olhos”! www.edicoesshalom.com.br

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A IGREJA CELEBRA

SANTAS PERPÉTUA E FELICIDADE,

Mártires Graças ao Diário escrito na prisão por Perpétua1, a pedido dos companheiros que com ela se encontravam, a Sagrada Tradição cuidou de fazer chegar até nós o comovente testemunho da fé em Cristo até o martírio, de Perpétua e Felicidade, ocorrido durante a grande perseguição aos cristãos por parte do imperador Séptimo Severo em Cartago (norte da África), no ano de 203. Antônio Marcos de Aquino Missionária da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

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memória litúrgica destas duas corajosas mulheres mártires é celebrada no dia 07 de março, data em que entregaram suas vidas a Cristo na arena de Cartago. É comum a nós ouvir seus nomes sempre que se reza a Ladainha de todos os Santos e na Primeira Oração Eucarística. Sabemos que os mártires são lembrados de forma privilegiada, porque não só ofertaram suas vidas com coragem e inteira liberdade, mas também foram sustento na fé dos desencorajados. Ao derramarem

o sangue se uniram a Cristo no Gólgota, tornaram-se “Eucaristia” e germinaram a semente do Evangelho. Não se importavam se eram objetos de espetáculo nos anfiteatros e plateias dos coliseus pagãos, devorados pelas feras e degolados pelos gladiadores cruéis, mas apenas se importavam em viver a entrega da vida sem fraquejar na fé e com a confiança de que participariam tão logo da vida eterna. Eram obstinados pela Verdade que, de fato, encontraram.

Perpétua, 22 anos, de família nobre e pagã, ficou famosa por sua conversão ao cristianismo. Era casada e mãe de um pequeno filho. Felicidade era sua criada (escrava). Também muito jovem, estava grávida de oito meses. 18

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Não tinham medo da morte porque amavam a Cristo apaixonadamente. Ele primeiro nos amou e se entregou por nós (cf. 1Jo 4,18-19). Tinham consciência nítida e inteira confiança de que morriam pela fé porque não são as forças humanas que vencem o mundo, mas a fé em Cristo (cf. 1Jo 5,4). Perpétua, 22 anos, de família nobre e pagã, ficou famosa por sua conversão ao cristianismo. Era casada e mãe de um pequeno filho. Felicidade era sua escrava. Também muito jovem, estava grávida de oito meses. Ambas eram amigas e, além de catecúmenas, eram autênticas propagadoras da fé. Após serem presas na casa de Perpétua, foram levados também quatro outros escravos já convertidos à fé cristã. Jogados no calabouço viveram terríveis dias de suplício até o momento do martírio na arena de Cartago que, é possível existir até hoje. Perpétua e Felicidade foram batizadas na fé cristã ainda na prisão, para a grande alegria delas. O pai de Perpétua, pagão, visitando-a na prisão, tudo fez para que a filha voltasse atrás na sua confissão de fé para que fosse livre da morte, mas ela – mesmo sentindo um grande pesar por seu pai – não voltou atrás na sua fé e assim motivou também Felicidade a não desanimar. Com um extraordinário brilho ela mesma narra esse fato no seu escrito da prisão, enquanto estava diante do juiz inquisidor e do seu pai que a implorava para renunciar a fé. Olhando para seu pai e apontando uma bandeja lhe disse: Pai, como se chama esta vasilha? “Uma bandeja, filha”, respondeu ele. Pois bem meu pai, “essa vasilha deve ser chamada de bandeja, e não de pote ou colher, porque

ela é uma bandeja. E eu que sou cristã, não posso me chamar pagã, nem de nenhuma outra religião, porque sou cristã e o quero ser para sempre”. Felicidade veio a ter o filho na prisão, mesmo em meio a dores e ao deboche dos soldados. Estava agora pronta para o grande momento. Antes do martírio, Perpétua, Felicidade e os outros escravos, fizeram na prisão a última ceia como era de costume e direito aos condenados. Testemunha-se que eles chegaram, de alguma forma, a receber a Comunhão, o Pão Eucarístico e, após esse momento,

Não trocaram o céu por alguns anos a mais de vida, nem pelos seus filhos, parentes e mesmo pelos prazeres deste mundo. motivaram-se uns aos outros e se alegraram esperando os últimos instantes para entrarem na arena onde, uma multidão, instigada a se saciarem com o espetáculo cruel e bárbaro, aguardavam-nos. Os companheiros foram destroçados pelos ferozes leopardos. Perpétua entrou com sua amiga Felicidade na arena cantando um Salmo de confiança no Senhor, e logo uma “vaca feroz” começou a golpeá-las com seus chifres, mas não chegou a matá-las. Um fato comovente: Perpétua já ferida se põe de pé e vai erguer Felicidade ajeitando suas vestes para que morram devidamente cobertas, tamanha era a pureza do seu coração e também demonstrando seu amor por Felicidade. Ali elas morriam

não mais como senhora e escrava, mas como filhas de Cristo e da Igreja, amigas e irmãs na fé. Já feridas foram colocadas no centro da arena e, despedindo-se ainda com “o beijo da paz” (ósculo santo)2, foram degoladas pelos gladiadores. Quão forte testemunho deixaram para a humanidade essas duas mulheres que viveram a fé até as últimas consequências. Não trocaram o céu por alguns anos a mais de vida, nem pelos seus filhos, parentes e mesmo pelos prazeres deste mundo. Foram inebriadas pelo amor de Cristo e foram capazes de ir até as últimas consequências por causa desse amor. Perpétua e Felicidade são duas santas da Igreja e para elas queremos olhar e suplicar a intercessão por todos nós que precisamos dar testemunho alegre e corajoso da fé em Cristo, mesmo que nos comportem desprezos, humilhações e até a própria vida. Também Perpétua e Felicidade são um grande rastro luminoso com que Deus atravessou a história. Vemos nelas verdadeiramente um testemunho que resiste ao tempo, porque, morriam naquela arena diante das trevas da ignorância daqueles que as condenaram, mas, Cristo a Luz da luz, devolvia a vida a elas para não mais morrerem, como também a memória de seus testemunhos para a vida da Igreja. Assim seja! Notas: 1 Artigo: DIGEST, Readr´s Editora. Depois de Jesus, o triunfo do Cristianismo, 1999, Cap. 5 Os antigos Documentos que narram o martírio destas duas santas, eram muito estimados pelos cristãos da antiguidade. Santo Agostinho diz que a leitura de tais textos nas igrejas era de grande crescimento e estímulo na fé dos cristãos. Os escritos foram acabados por Tertuliano e, posteriormente, deram origem ao Livro: “Paixão de Perpétua e Felicidade”. 2 A tradição do beijo no rosto trocado pelos cristãos era um forte símbolo de unidade e reconciliação, como sinal do amor de Cristo pela Sua Igreja. Na hora do martírio simbolizava essa comunhão com Cristo e uns com os outros. www.edicoesshalom.com.br

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FÉ E RAZÃO

“Eu servi ao Senhor com toda a humildade, com lágrimas, e no meio das provações que me sobrevieram pelas ciladas dos judeus” (At 20,19).

Josefa Alves Missionária da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

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experiência a caminho de Damasco, que mudou radicalmente a vida de Paulo, tornou-se o centro de onde emanava toda a força para a realização da sua missão. Evangelizar, testemunhar aquele amor, tornouse a sua meta, e a grandeza dessa missão recompensava qualquer luta, perseguição, sofrimento. Porque associado a Cristo, seu sofrimento era enraizado na alegria (2Cor 7,4). A possibilidade de alegrar-se em meio às tribulações, não é estranha àqueles que vivem uma misteriosa participação aos sofrimentos e glórias de Cristo. Existe aqui, uma íntima união entre tribulação e consolação: “Na verdade, assim como os sofrimentos de Cristo são copiosos para nós, assim também por Cristo é copiosa nossa consolação” (1Cor 1,5). Paulo compreendeu que, o mistério da Paixão está contido no mistério

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Pascal; que as testemunhas da Paixão de Cristo são, necessariamente, testemunhas da sua Ressurreição. Esta foi a sua experiência, este foi o seu testemunho vivido, pregado e escrito; ele compreendeu que o sofrer não é um absurdo, nem uma crueldade de Deus, mas um grande dom de amor.

Paulo compreendeu que, o mistério da Paixão está contido no mistério Pascal... Como o Bom Pastor ( Jo 10) que dá a vida por suas ovelhas, Paulo expôs a própria vida pela salvação daqueles que o Senhor lhe havia confiado; ele sabe que ser pastor significa também guardar o rebanho de todo perigo e não subtrair nada do plano de Deus. No livro dos Atos dos Apóstolos, encontramos um emocionante discurso de Paulo aos anciãos de Éfeso, onde, em meio à dor da separação ele declara: “Eu servi

ao Senhor com toda a humildade, com lágrimas, e no meio das provações que me sobrevieram pelas ciladas dos judeus” (At 20,19). Lendo estas palavras recordamos de súbito tantas das expressões com as quais Paulo descreve nas suas cartas, as fadigas suportadas para anunciar o Evangelho. Aqui ele recorda aos presbíteros que a grande característica do seu ministério foi este “servir o Senhor1”, “com humildade2”, “entre as lágrimas3” e “provas4”. Seus opositores eram principalmente os judeus, seus correligionários de um tempo, que o consideravam um renegado e um traidor. Não faltavam hostilidades também por parte dos pagãos. As lágrimas de Paulo são o oposto da alegria do pastor que reconduz ao redil a ovelha perdida, a alegria do pai misericordioso que encontrou o filho perdido. Isso quer dizer que as suas lágrimas expressam a dor, a inquietude, a angústia e a preocupação diante do perigo ao qual estão expostos alguns cristãos, podendo perder a salvação, ou seja, a vida eterna.


“Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que amou e se entregou a si mesmo por mim”

Na segunda carta aos Coríntios temos o testemunho de um verdadeiro apóstolo, de alguém que ofertou-se livremente por amor a Cristo e aos seus filhos espirituais: “Aquilo que os outros ousam apresentar – falo como insensato – ouso-o também eu ... Muito mais, pelas fadigas; muito mais, pelas prisões; infinitamente mais, pelos açoites. Muitas vezes, vi-me em perigo de morte. Dos judeus recebi cinco vezes os quarenta golpes menos um. Três vezes fui flagelado. Uma vez, apedrejado. Três vezes naufraguei. Passei um dia e uma noite em alto-mar. Fiz numerosas viagens. Sofri perigos nos rios, perigos por parte dos ladrões, perigos por parte dos meus irmãos de estirpe, perigos por parte dos gentios, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos por parte dos falsos irmãos! Mais ainda: fadigas e duros trabalhos, numerosas vigílias, fome e sede, múltiplos jejuns, frio e nudez! E isto sem contar o mais: a minha preocupação cotidiana, a solicitude que tenho por todas as Igrejas!”

Somente quem sabe manter acesa a chama do amor de Cristo pode vencer as mais duras e humilhantes provas! Os pseudoapóstolos rapidamente cedem as armas ao verem despontar os primeiros obstáculos e perigos. Após ter sido conquistado por Cristo (cf. Ef 3,12) toda a sua vida encontrou sentido somente naqueles que por amor se entregou: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim. Minha vida presente na carne, eu a vivo pela fé no Filho de Deus, que amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gal 2,20). Sua experiência, embora muito pessoal, tornou-se testemunho e modelo para aqueles que, conquistados por Cristo, sentiam o apelo de participar plenamente da Sua vida. Ele “comunica a sua própria descoberta e alegra-se por todos aqueles a quem ela pode servir de ajuda – como o ajudou a ele – para penetrar no sentido salvífico do sofrimento”5.

São profundas e inesgotáveis as riquezas e os benefícios do mistério de Cristo – da sua kenosis, da sua vida terrena, da sua Paixão, Morte e Ressurreição – por isso o apóstolo é feliz por ser inserido em tal mistério: “Agora eu me regozijo nos meus sofrimentos por vós, e completo, na minha carne, o que falta das tribulações de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja” (Col 1,24). Com esta frase, Paulo não quer dizer que a Paixão de Cristo foi incompleta; seria absurda tal afirmação. Ele afirma que apesar na eficácia do sacrifício de Cristo, ainda são necessárias fadigas e sofrimentos para difundir o Reino de Deus até os extremos confins da terra. Essa missão é confiada aos apóstolos de todos os tempos. Mas tais sofrimentos não têm um valor em si mesmos, somente enquanto unidos a Cristo e inseridos no poder redentor da Sua cruz. Em todos os seus escritos, Paulo testemunha uma clara consciência do valor salvífico do sofrimento de Cristo, por isso pode afirmar, com autoridade: “que os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós. Pois a criação anseia pela revelação dos filhos de Deus” (Rm 8,18). Notas: 1 Cf. Fil 1,1. 2 Cf. Fil 4,12. 3 Cf. Fil 3,18. 4 Cf. 1Tes 3,5. 5 Cfr. João Paulo II, Salvifici Doloris, 1. www.edicoesshalom.com.br

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TESTEMunHO

Deu s ultrapassa Maria

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ostaria de dirigir estas linhas a todos os jovens, garotas e rapazes. Uma garota talvez possa compreenderme melhor a partir do interior, se infelizmente lhe aconteceu uma experiência como a minha. Que estas palavras sejam para você uma mensagem de esperança. Partilhando com vocês essa passagem da minha vida gostaria, antes de tudo, de dar graças a Nosso Senhor, que me salvou e me permitiu renascer, pelo seu Amor que ultrapassa todo amor. Gostaria também de gritar: “Respeitem o outro no seu corpo, na sua intimidade. Respeitem a si mesmos também”. Tenho vinte e oito anos. Tinha treze quando me aconteceu o que vou lhes contar. Quinze anos se passaram e eu nada esqueci. Todo o “filme” desse fato que dilacerou

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tudo o que podemos imaginar...

Partilhando com vocês essa passagem da minha vida gostaria, antes de tudo, de dar graças a nosso Senhor, que me salvou e me permitiu renascer, pelo seu Amor que ultrapassa todo amor. Gostaria também de gritar: “Respeitem o outro no seu corpo, na sua intimidade. Respeitem a si mesmos também”. a minha vida está gravado em mim para sempre. Óbvio, pois foi escrito não sobre a “rocha”, mas sobre “argila em formação”, numa página branca, virgem. Mas agora, através do amor de Jesus, tudo se transformou. Aos treze anos eu ainda era uma “menininha”. Feliz da vida, sem problemas, querendo amar o mundo inteiro, mas querendo amar a Deus mais que tudo, com toda a força do meu pequeno coração. Utopia? Não, não creio. É a ingenuidade das “crianças”. Possível, então? Sim, ainda hoje eu penso, apesar da dureza deste mundo, graças à força de Deus.

Freqüentemente eu dizia a mim mesma: “Eu quero permanecer pura até o casamento. Entretanto, eu sentia no coração um chamado para amar só a Deus durante toda a minha vida. Parecia-me que só Deus poderia saciar toda a sede de amor que havia em mim. E eis que, de repente, numa esquina, sou, gratuitamente e sem razão, vítima de toda a violência de um ser humano. Era uma sexta-feira, uma hora de torturas sexuais, de gestos, um lugar, gravados para sempre. Palavras como: “Eu quero matá-la”, que ferem atrozmente. Eu estava encurralada entre algumas tábuas e o muro de um cemitério. Ninguém


para socorrer-me. Como eu gostaria de ir ao encontro daqueles mortos do outro lado do muro... O que pode fazer uma menina de treze anos para se defender da maldade de um homem de vinte ou vinte e cinco anos? Nada. Eu desejava o nada. Aquele Jesus que havia feito um apelo ao meu coração ficara surdo de repente? Por que tudo aquilo? Por que tanta violência? Quantas perguntas fiz a mim mesma... Durante onze anos! Onze anos, como é longo! Creia-me. Principalmente quando você carrega esse peso sozinha... Quando cheguei em casa – meus pais estavam ausentes por alguns dias –, eu só tinha Eu precisava deixar-me amar. uma idéia na cabeça: a morte. Mas isso era muito duro para Tentei o suicídio... Acordei mim. Eu precisava tornarapós ter dormido por dois dias. Mas a idéia do suicídio me criança outra vez. Santa não me deixava e não me Teresa do Menino Jesus deixaria tão cedo. Eu não era ajudou-me muito: “Quanto a mesma pessoa. Havia um mais você for pobre, mais “antes” e havia um “depois”. Jesus a amará. Se você se Esse “depois”, eu o detestava de antemão. Eu me detestaafastar ele irá longe, bem va. Eu me tornara um lixo. longe, buscá-la...”. Um corpo e um coração sem gosto pela vida. Um coração? Não sei se eu ainda possuía um. Todo amor que ele até aí guardara transformou-se em ódio contra o ser humano, pois Deus é amor. Ele nos mostra isso todos os dias, mostrou-o na minha própria vida. principalmente contra o sexo masculino. Os anos passaram. Pouco a pouco eu recomecei Então, por que continuar a viver se eu não era mais nada? Apenas a morte poderia libertar-me. a rezar. Sem perceber, creio, pois eu me sentia terEra o que eu pensava. Essa idéia me perseguia com rivelmente só. Eu procurava alguém a quem falar. tenacidade. Os dias corriam sem me trazer nada de Hoje posso dizer que nunca, nem por um segundo, o novo. Jesus, a fé, tudo em que até então eu crera de Senhor largou a minha mão. Fui eu que larguei a dele. repente evaporou. Não havia mais amor em mim. Por O Senhor podia restituir-me a pureza que eu perdera ninguém. Nem por mim. A segunda tentativa de sui- sem querer. Apenas ele podia me recriar. No final desses onze anos de desgosto, de tristeza, cídio também fracassou. Então, forjei uma barricada em torno de mim. Essa barricada, eu a queria o mais encontrei um padre com quem pude me abrir. Atraresistente possível para que ninguém, nunca, encon- vés do sacramento da reconciliação, através de seu trasse nela uma brecha. Meus pais não entenderam a coração, pude dar para Jesus todo o ódio acumulado, mudança. Meu caráter foi se tornando cada vez mais e pouco a pouco, com a ajuda do Senhor, recuperei a duro. Eu me sentia mal, muito mal por estar assim, paz. Jesus tinha encontrado uma brecha na barricada mas era quase contra a minha vontade. Eu era vítima que eu havia levantado com a força dos meus braços. e me sentia culpada. Quantas vezes, durante o sono, Suavemente, mas com firmeza, ele fez seu trabalho revivi a cena do estupro. Era indelével. Gostaria de de Salvador. Ele não parava de chamar-me pelo meu ter matado aquele homem. nome. Para ele eu era como sempre uma criança. Eu Não era mais necessário que me falassem de Deus; era como antes. Em alguns meses a barricada desmoeu projetava nele toda a minha tristeza, todo o meu ronou. O Senhor só desejava uma coisa: poder morar desgosto. Era quase culpa dele o que me acontecera, no meu coração para me dar incessantemente o seu pois ele não tinha ido me libertar. Agora, eu compre- amor. Ele repetia sem cessar: “Você é única aos meus endo como durante todo esse tempo ele sofria comigo, olhos e eu a amo” (Is 43,4). www.edicoesshalom.com.br

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Eu precisava deixar-me amar. Mas isso era muito duro para mim. Eu precisava tornar-me criança outra vez. Santa Teresa do Menino Jesus ajudou-me muito: “Quanto mais você for pobre, mais Jesus a amará. Se você se afastar ele irá longe, bem longe, buscá-la...”. Compreendi também que no madeiro da cruz Jesus havia assumido todos os meus sofrimentos. Esse sofrimento oferecido permitiu que, por minha vez, pouco a pouco, eu lhe oferecesse o meu. Isso não aconteceu num só dia. Foram necessárias horas e horas de doçura, de delicadeza, de paciência por parte do Senhor para reabilitar-me comigo mesma. Eu readquiria a alegria de viver. Um dia, ao assumir o meu serviço no hospital, tive uma enorme surpresa. Diante de mim, num leito de doente... ele! Aquele rapaz que tanto me fizera sofrer, que desejara matarme, contra quem secretamente eu alimentara um ódio incrível, estava lá, naquele leito de hospital, sofrendo, pobre e enfraquecido. Durante onze anos, mesmo sem revê-lo, seu rosto ficara gravado em mim e agora ele surgia novamente na minha vida. Passado o choque da surpresa eu compreendi que, teoricamente, deveria cuidar dele. Na prática, aquilo parecia estar acima das minhas forças. Ele estava lá, nas minhas mãos, à minha disposição, esperando – como doente – que eu o aliviasse. Então, todo o ódio que eu sentia por ele e que começava a atenuar-se, tornou-se mais forte, mais lancinante, mais presente. Eu podia vingar-me: eu podia matá-lo. E não se tratava de palavras vãs. Eu poderia muito bem injetar-Ihe algo em dose mortal. Pensei nisso. Desde o início. Pensava nisso à noite, em casa, sabendo que no dia seguinte o reencontraria. Eu pensava que, matando-o, me sentiria livre para sempre. Eu sentia que Jesus me pedia para perdoar. Mas isso parecia estar além das minhas forças. Houve

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uma luta em mim em relação a esse perdão. Eu iria dá-lo ou recusá-lo? Eu pensava que perdoá-lo não mudaria nada para mim, não apagaria o que eu tinha vivido. Então, para quê? Mas, se eu o recusasse, estaria uma vez mais fechando a porta do meu coração ao amor de Jesus. Ele não nos pediu para perdoar os nossos inimigos? Por outro lado, recusando-me a dar esse perdão, eu sabia que estaria “mantendo” no pecado, longe de Deus, esse moço que me agredira. Mas eu continuava evitando... Então, levei tudo isso para a oração, pedindo uma só coisa: que eu fosse verdadeira ao conceder esse perdão. Que ele fosse realmente o desejo do meu coração e a vontade do Senhor. Eu também me confiei à Mãe do Céu, pedindo-Ihe para tornar o meu coração dócil ao espírito de Jesus. Um belo dia, pude colher esse perdão como uma flor que acaba de desabrochar, e oferecê-lo a Jesus no sacramento da reconciliação. Uma paz imensa invadiu-me. É verdade que não foi um passe de mágica que me fez esquecer tudo que eu vivera; mas, oferecendo esse perdão, tudo foi transformado. Eu quero assegurar-lhe que foi o Senhor, por sua graça, que me permitiu dar-Ihe o perdão. Sem ele meu coração nunca teria consentido em perdoar. Eu sou tão pobre... Eis as maravilhas do amor do Senhor. Você não acha que ele ultrapassa tudo o que podemos imaginar? Você não acha que ele está sempre ao nosso alcance? Que vale a pena percorrer com ele um trecho do caminho para conhecê-lo melhor? Eis o mais belo milagre do Senhor: “Ele transforma em estrelas os seus pontos negros... se você lhe dá um pouco do seu coração!”. Nota: Transcrito de: Ange, Daniel. Teu corpo feito para o amor. São Paulo: Loyola, 1995, pp. 184-189.


ESPECIAL

“Estado do vaticano: território mínimo indispensável para o exercício de um poder espiritual.” (Papa Pio XI) Eliana Gomes Missionária da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

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om uma exposição, um congresso acadêmico e um concerto que contou com a presença do Papa Bento XVI, a Santa Sé comemorou os 80 anos do nascimento do Estado Vaticano. No dia 11 de fevereiro completaram-se oito décadas da assinatura dos Pactos de Latrão. A exposição foi inaugurada em 12 de fevereiro no Braço de Carlos Magno, junto à Praça de São Pedro. Nela, os visitantes conheceram como era a Santa Sé antes de 1929, como foi a construção do Estado Vaticano e como aconteceu a assinatura dos Pactos de Latrão. Os Pactos de Latrão ou Pactos Lateranenses (11 de fevereiro de 1929) foram negociados quando o rei da Itália era Victor Manuel III. São chamados de “pactos”, pois se trata de três acordos: um pacto reconhece a independência e soberania da Santa Sé e cria o Estado da Cidade do Vaticano; uma concordata define as relações civis e religiosas entre o governo e a Igreja na Itália – resume-se no lema “Igreja livre em Estado livre”; e, em terceiro lugar, uma conven-

ção financeira proporciona à Santa Sé uma compensação pelas perdas sofridas na anexação dos Estados Pontifícios à Itália, em 1870. Os pactos foram revisados em 1984, quando o socialista Bettino Craxi era primeiro-ministro. Uma seção foi dedicada a Pio XI, em cujo pontificado aconteceu aquele acordo histórico que permitiu o reconhecimento mútuo entre o então Reino da Itália e a Santa Sé. Igualmente se dedicou outra seção aos pontífices que sucederam Pio XI e ao desempenho de cada um deles como chefes do Estado Vaticano. A segunda iniciativa consistiu no congresso denominado “Um pequeno território para uma grande missão” que aconteceu dos dias 12 a 14 de fevereiro e que contou com a presença do cardeal Jean-Louis Tauran, presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-Religioso.

No congresso foram analisados temas como a independência do Papa e do Estado Vaticano, as instituições da Santa Sé, as imagens e mitos diante da opinião pública, Pio XI como fundador e construtor do Estado, os anos difíceis da guerra e do pós-guerra, as reformas do Vaticano, a presença e influência de João Paulo II, a Rádio, o Estado Vaticano, o Estado Italiano, entre outros. O evento concluiu-se com uma mesa redonda na qual se discutiu a frase do Papa Pio XI com a qual definiu a razão de ser do Estado Vaticano: “esse território mínimo indispensável para o exercício de um poder espiritual”. A terceira iniciativa foi o concerto comemorativo de “O Messias” de Haendel, a cargo de Our Lady’s Choral Society e da RTE Concert Orchestra de Dublin, com a presença do Papa Bento XVI. www.edicoesshalom.com.br

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ATuALIDADE

Prof. Guzmán Carriquiry Lecour Subsecretário do Pontifício Conselho para os Leigos

S

e observamos os diversos povos, culturas e civilizações que se sucederam sobre a face da terra, o que podemos encontrar de mais humano que a sede de verdade, do anseio pela felicidade, que a necessidade de justiça e o desejo de amor que se unem, indestrutíveis e inextinguíveis, no coração de cada pessoa? A humanidade é unida por uma experiência fundamental, um conjunto original de evidências, desejos e exigências constitutivas do nosso coração, da nossa razão e da nossa afetividade. Não entramos em contato com a realidade como uma tabua rasa. Cada um traz consigo um dote, constituído pelos recursos comuns à natureza humana com os quais podemos relacionar-nos com o real em torno a nós. A própria natureza nos introduz no conhecimento de nós mesmos, dos outros, da história, das coisas, fornecendo-nos, como instrumento universal de confronto, aquele mesmo impulso que cada mãe transmite da mesma forma aos seus filhos. A exigência da verdade – ou seja, do sentido da vida e do significado geral da realidade –, a exigência de felicidade – ou seja, da plena realização de si, do cumprimento das próprias potencialidades –, a exigência de justiça – ou seja, do respeito pela dignidade própria e comum –,

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“É este o nosso grito – exclamou o Servo de Deus João Paulo II durante a sua última viagem à América Latina, na basílica-santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, em 23 janeiro 1999 –, uma vida digna para todos!”.

a exigência de amor –, ou seja, da reciprocidade e da gratuidade da comunhão –, constituem a fisionomia fundamental, a energia profunda e a trama existencial com que os homens de cada tempo e lugar desenvolvem a própria humanidade, afrontando seriamente a vida, relacionam-se com os eventos e descobrem e guardam a esperança. Esses anseios tornam-se perguntas inquietantes, às vezes verdadeiros gritos que acompanham a condição humana nas diversas circunstâncias e travessias da


existência. De onde venho e para onde vou? Qual é o significado último da existência? Que sentido há no sofrimento e na morte? Como alcançar a felicidade? Realmente, vale a pena viver? Quais as razões para viver, conviver, sofrer, lutar, amar, esperar? É a nossa própria vida que é colocada em discussão com essas perguntas, com esses gritos. O coração do homem permanece inquieto enquanto não encontra respostas realmente satisfatórias. A razão, que é a abertura à realidade na totalidade dos seus componentes, pede para conhecer o significado integral dessas coisas, não pode contentar-se de silêncios e divagações, fugas na superficialidade, posturas frustrantes de cinismo ou de conformismo. De fato, o homem foi criado para o infinito. Desejos e necessidades do seu coração não admitem limitações. Estamos à procura da verdade por inteiro, começando pelos conteúdos, e os indispensáveis “porquês”, da nossa infância até as pesquisas científicas, às reflexões metafísicas, à inteligência da fé. Sabemos que o particular encontra o seu significado à luz do inteiro, e isso impulsiona a nossa sede de verdade até o fim, à raiz da totalidade do real. Gostaríamos de ser plenamente felizes, e não aceitamos que a felicidade se reduza a uma experiência passageira, ofuscada e interrompida por dores, sofrimentos e fracassos. Rebelamo-nos diante das injustiças que devem sofrer outras pessoas, grupos sociais e povos oprimidos, expropriados e excluídos dos bens destinados a todos, a começar pelo bem da própria vida e pela dignidade humana. Gostaríamos de construir um mundo no qual reine, definitivamente, a justiça, onde as espadas sejam transformadas em arados e cessem as guerras, tiranias

Gostaríamos de ser plenamente felizes, e não aceitamos que a felicidade se reduza a uma experiência passageira, ofuscada e interrompida por dores, sofrimentos e fracassos. www.edicoesshalom.com.br

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e escravidão. Gostaríamos de amar e superar todo ça e de amor, que exigem uma realização. A esperança limite, mais forte que a morte, um amor sem fim, é a estrutura própria da natureza humana, a essência total, para sempre. “É este o nosso grito – exclamou da alma; a vida é uma promessa que espera e implora o Servo de Deus João Paulo II durante a sua última o seu cumprimento. viagem à América Latina, na basílica-santuário de Somente a “hipótese-Deus”, somente a afirmação Nossa Senhora de Guadalupe, em 23 janeiro 1999 do Mistério como realidade que transcende as nos–, uma vida digna para todos!”. sas capacidades puramente humanas, corresponde à Quanto mais esses desejos, essas perguntas pal- estrutura original do homem. É o mesmo Deus que pitam no coração, quanto mais é advertida a sua colocou esse anseio no coração do homem, criando-o importância totalizante, quanto mais arde o desejo à sua imagem e semelhança, e vem ao encontro do e se levanta o grito que exige respostas totais a essas homem na história, para doar-lhe a promessa certa ânsias, tanto mais se sofre pela impotência e pela alie- da sua plena realização. O diálogo de Deus com o nação humana, pela incapacidade de alcançar uma tal coração do homem teve o seu cume: o Mistério que completa satisfação. Não conseguimos alcançar toda tudo criou, no qual tudo consiste e subsiste, o Deus a verdade, toda a justiça e todo o amor que natural- procurado e desejado pelo homem em todo o tempo, mente, intimamente, cultura e religião, o infinitamente deseMistério a quem o jamos ardentemente homem direcionou Rebelamo-nos diante das injustiças que com nossas próprias a imaginação, a radevem sofrer outras pessoas, grupos forças limitadas, dezão e a oração, se fez sociais e povos oprimidos, expropriados e sordenadas, finitas. homem irrompendo Fazemos o mal que na história, em um excluídos dos bens destinados a todos, a não queremos e não tempo e em um lugar começar pelo bem da própria vida e pela o bem que queríadeterminados, em dignidade humana. mos. Caim continua um instante decia ser o assassino do sivo para a vida do seu irmão, permamundo, de todo o nece uma desordem interior profunda, que nenhuma universo. Ele revela o verdadeiro rosto de Deus, e mudança de estrutura consegue curar, enquanto a com ele o rosto do destino do homem, o significado morte inexoravelmente devora os nossos grandes último do nosso ser. Confessamos e experimentamos desejos e ideais que todo o nosso ser procura e recla- que Jesus Cristo é o Verbo de Deus encarnado, a reama. Seria contra a natureza, irracional, injusto que os lização do Amor misericordioso e redentor, a presença desejos e as necessidades que constituem o nosso ser irrevogável de Deus no meio de nós; é o caminho, a fossem condenados a ser frustrados. A vida não é – verdade e a vida, resposta totalmente satisfatória, aliás, não pode ser! – uma “paixão inútil”, como dizia Jean- superabundante para os desejos e as necessidades do Paul Sartre. Não pode ser condenada a terminar no coração humano. nada. Os anseios do coração humano não podem ser No coração do homem existe um inextinguível considerados arbitrários: miram um além, reclamam desejo de infinito... Somente o Deus que se fez fialgo a mais. O nosso coração tem em si uma exigência nito para romper a nossa finitude e conduzir-nos à última, imperiosa, de verdade e de felicidade, de justi- sua dimensão infinita pode realmente responder às

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exigências da nossa natureza. O texto mais citado no Magistério do Servo de Deus João Paulo II é o parágrafo 22 da Gaudium et Spes: “Na realidade somente no mistério do Verbo encarnado encontra verdadeira luz o mistério do homem”. O Deus feito homem, o “novo Adão”, “o homem perfeito” “desvela plenamente o homem a si mesmo e lhe manifesta a sua altíssima vocação”. Portanto – conclui S.S. Bento XVI na homilia inaugural do seu pontificado – “quem deixa entrar Cristo, não perde nada, nada – absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. [...] Somente nessa amizade se abrem realmente as grandes potencialidades da condição humana. [...] Ele não tira nada, e doa tudo. Quem se doa a Ele, recebe o cêntuplo”. E a vida eterna. Esperanças no hoje da América Latina E retornemos à nossa história... Quais são as esperanças seculares, terrenas, hoje em vigor na América Latina? São sinais de esperança as mais de três décadas de duração e de propriedade dos processos de democratização em quase toda a América Latina, tanto mais importantes enquanto deixam atrás de si períodos recorrentes de instabilidades e “golpes de estado”, a terrível dialética entre violências insurrecionais e repressões liberticidas, as práticas aberrantes de assassinatos políticos, “desaparições” e torturas. Trata-se de uma esperança que precisa-se guardar e cultivar. Essa continuará a ser tal, se fundada sobre o respeito dos direitos naturais e das liberdades fundamentais das pessoas e dos povos: a libertas ecclesiae, que está na origem de toda liberdade e é solidária com essas, é um critério

sensível para medir e garantir este respeito. Crescerá essa esperança se se consegue dar séria continuidade e credibilidade às instituições dos poderes públicos, se se rompe o círculo dos sistemas de poder e das lutas políticas auto-referenciais, se não se torna escravos das idolatrias do poder e das suas tendências autocráticas, se se sabe combater a corrupção e garantir uma autêntica ordem pública e segurança cidadã. Reforçar-se-á, essa esperança, se animada por vasta inclusão e participação popular na vida pública, movida por valores e ideais enraizados e presentes na tradição cristã dos nossos povos. Existe a necessidade de autênticas democracias que se mostrem realmente capazes de afrontar a complexidade e a dramaticidade dos problemas e dos desafios sociais, indo além da persistente luta entre facções, a jaula de permanentes contraposições, acusações e descréditos entre “inimigos”, as exasperações tendencialmente violentas, sabendo fazer confluir vastas convergências populares e nacionais rumo a grandes objetivos de reconstrução, desenvolvimento e justiça social, e mobilizar as capacidades de trabalho, empreendimento e criatividade, sacrifício e solidariedade das pessoas, das famílias, dos mais diversos setores sociais e das associações e obras da sociedade nessas tarefas. É fundamental, para guardar e cultivar essa esperança, a guia dos três princípios basilares da doutrina social da Igreja: a dignidade da pessoa humana, a subsidiariedade e solidariedade. Existem hoje na América Latina modelos virtuosos para essa esperança e não poucas ameaças. Um outro horizonte de esperança foi aberto pelo fato de que os países latino-americanos estão

vivendo uma grande onda de crescimento econômico, graças sobretudo aos altos preços dos produtos agro-alimentares, minerais e energéticos. Mas será possível imprimir um crescimento auto-sustentável também em conjunturas que já se apresentam menos favoráveis e mais críticas, em meio ao terremoto que se expande nas grandes instituições financeiras e com o clima de recessão que se respira nos Estados Unidos e na Europa ocidental? Em que medida estão efetivamente reinvestindo as riquezas obtidas a nível tecnológico, produtivo, educativo e de decisões políticas de equidade social? Nos tempos das “vacas magras” se poderá avaliar adequadamente quais tenham sido as políticas virtuosas, que regem o choque destas conjunturas críticas, e quais, ao invés, que levam a novas situações de instabilidade e depressão. É ainda sinal de esperança o fato que diversos setores populares até ontem excluídos do mercado e da função pública não são mais “marginais”, resignados e silenciosos, mas irrompem na cena das nações, com uma carga que é ao mesmo tempo de humilhação, exasperação e esperança de vida melhor. Especialmente as comunidades e os movimentos indígenas mobilizamse tornando-se protagonistas. Bemvinda a valorização de “todas las sangres” – como diz o título do novo livro do peruano José M. Arguedas – e que se renda a devida dignidade e justiça àqueles que foram os mais humilhados e explorados. A dramática questão indígena é uma questão nacional, de terra e de cultura, em uma pátria comum, sem exclusões. Não servem, porém, as chamadas anacronistas e míticas para as civilizações pré-colombianas, as apologias do neolítico, as meras reservas para os indígenas, a retowww.edicoesshalom.com.br

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mada de cosmogonias, o retorno de bruxos e magos, o indianismo anti-católico de ideologias confusas ou desonestas que retomam a “lenda negra”. Não servem nem mesmo as formas de desagregação da unidade nacional e latino-americana a partir de forçadas contraposições étnicas. “Não somos [...] uma soma de povos e etnias que se justapõem”, reafirmam os Bispos latinoamericanos no documento da V Conferência Geral em Aparecida (n. 525). Inclusive aqueles que chamamos “indígenas” são na sua grande maioria etnicamente e culturalmente mestiços, ainda que marginalizados. A verdadeira questão é saber como ajudar estes setores populares a tornarem-se concidadãos, no século XXI, da construção das nações, promovendo a sua educação, formação e condições de vida que lhe tornem capazes de dialogar com o tremendo poder da cultura, do trabalho e da “polis” do nosso tempo. Aqui reside o quid de uma autêntica esperança de resgate. Uma esperança viva desde o tempo dos “Libertadores”, emersa periodicamente com rostos diversos e formas históricas na vida dos países latino-americanos, é aquela esperança da construção de uma “pátria grande”, de uma grande nação capaz de incluir toda a verdade e a riqueza de povos irmãos, no subcontinente que mais que outros pode contar com os fatores de unificação a nível mundial. Bento XVI intuiu claramente esta vocação original, recordando aos representantes diplomáticos da Santa Sé as palavras que João Paulo II disse durante a inauguração da IV Conferência de Santo Domingo (12/10/92), quando falou de “povos unidos definitivamente no caminho da história da mesma geografia, fé cristã, língua e cultura”. O seu processo de integração parece fundamental para afrontar os desafios colocados pelo crescimento e o inserimento “na dinâmica mundial condicionada sempre mais pelos efeitos da globalização” (idem). “Uma e plural, a América Latina é a casa comum, a grande pátria de irmãos [...]” mesmo que despedaçada por profundas desigualdades. “É a grande pátria” da qual falaram “Puebla” e “Santo Domingo”; e a V Conferência exprime a sua firme vontade de prosseguir com este compromisso” (cf. Documento de Aparecida, n. 525-527). Mais concretamente, os Bispos em Aparecida evidenciam também “melhoramentos significativos e prometedores nos processos e nos sistemas de integração dos nossos países nos últimos vinte anos. As relações econômicas e políticas intensificaram-se. Existe uma nova e mais estreita comunicação e solidariedade entre o Brasil e os países hispano-americanos e caribenhos”. Apesar disso, “existem graves bloqueios que param esses processos”. O documento cita a fragilidade e a ambiguidade de

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“uma mera integração comercial” e a sua redução a “questões relacionadas às cúpulas políticas e econômicas”, sem que se aprofundem raízes na vida e na participação dos povos. Sobretudo revela-se que, “apesar da linguagem política sobre integrações abundantes, a dialética de contraposição parece prevalecer sobre o dinamismo de solidariedade e amizade”. Alimentar as convergências políticas, intensificar, articular e institucionalizar uma sempre maior cooperação econômica, construir redes de comunicação física, energética e midiática, desenvolver os intercâmbios educativos e culturais, promover diversos movimentos e obras de solidariedade social, em vista da edificação de uma união sul-americana, no horizonte da “grande pátria” latino-americana, é um caminho de esperança no presente e para o comum porvir. Dessa não podem ser símbolos comuns aquelas antigas civilizações indígenas (que nunca tiveram uma consciência comum e, na atualidade os indígenas não chegam a ser 10% da população latino-americana), mas o são certamente Nossa Senhora de Guadalupe, o Cristo de “Los Andes” e o Cristo Redentor do Corcovado. Alguns veem no modo de construção do “socialismo do século XXI” na América Latina um caminho de esperança. E algo que deve ser submetido a ulteriores apreciações e que abre sérios debates. Não basta confundir o “socialismo” com a concentração do poder político e uma dinâmica estatal. Corre-se o risco de tornar-se retórica ideológica e errada se não está fundamentada sobre o árduo dever de refazer seja um balanço das falências, misérias e devastações provocadas pelas experiências históricas do “real socialismo”, que inclua necessariamente uma crítica radical dos paradigmas ideológicos de um marxismo-leninismo que perdeu força persuasiva, atrativa e propulsora; seja também da social democracia encharcada em um pragmatismo confuso e remodelada pelo hedonismo e pelo relativismo que prevalecem na sociedade do consumo e do espetáculo. Permanece árduo o dever, teórico e prático, de refazer, realistas e audazes, novos e originais modelos de desenvolvimento para o bem comum dos povos latino-americanos, além do anacronismo e das misérias de um neo-liberalismo e de um socialismo que mata a liberdade. A fonte e o horizonte de toda verdadeira esperança A promoção de um crescimento econômico persistente e auto-sustentável, a incorporação tecnológica e a modernização dos setores produtivos com alto valor complementar, a exaltação dos níveis educacionais em quantidade e qualidade humana, a


reconstrução da base familiar e social, a gradual superação dos muros de desigualdade e de exclusão, o alargamento e o aprofundamento ideal de uma autêntica democracia participativa, a construção de um Estado que não seja ineficiente e sufocante e de um difuso empreendimento de mercado que seja inclusivo, o caminho de integração de um mercado comum e de uma confederação sul-americana e latino-americana... são grandes e exigentes tarefas que pedem serena inteligência, firme paciência e sólida esperança. Pedem sobretudo uma maturidade humana das pessoas e dos povos. Somente um amor maior que as nossas misérias humanas é revolucionário e abre verdadeiros horizontes de esperanças, não limitados a “aquilo que se esperava – afirma o Papa na Spe Salvi 35 – que as autoridades políticas e econômicas nos oferecessem [...]. Somente a grande esperança-certeza de que, apesar de todos os fracassos, a minha vida pessoal e a história no seu conjunto são guardadas no poder indestrutível do Amor e, graças a isso e por isso possuem sentido e importância, só uma tal esperança pode (não obstante todos os fracassos) dar ainda coragem de agir e de continuar” (cf. n. 35ss). “Eis o tesouro inestimável do qual é rico o continente latino-americano, eis o seu patrimônio mais precioso [...]. Esta é a vossa força, que vence o mundo – afirmou o Papa na sua homilia em Aparecida –, a alegria

que nada nem ninguém poderá tirarvos, a paz que Cristo vos conquistou com a sua cruz! É esta a fé que fez da América o Continente da Esperança. Não uma ideologia política, não um movimento social, não um sistema econômico; é a fé em Deus amor, encarnado, morto e ressuscitado em Jesus Cristo, o autêntico fundamento dessa esperança [...]”. Não existe melhor servo à esperança que aquele da missão evangelizadora da Igreja. O documento conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Aparecida ilustra e propõe brilhantemente as razões e os caminhos dessa esperança na missão. Na missão está em jogo o destino das pessoas e das nações. Não existe construção verdadeiramente humana – construção da pessoa e da sociedade – se Cristo não é reconhecido como a “pedra angular”. Cristo nos doa tudo e não nos tira nada – como disse S.S. Bento XVI na primeira homilia do seu pontificado (24.04.2005) – daquilo que torna a vida livre, bela e grande, daquilo que é autenticamente verdadeiro e bom para a vida das pessoas, dos povos e das nações. “Somente de Deus – disse Bento XVI em Verona (19.10.2006) – pode vir a mudança decisiva do mundo” e a inauguração de um mundo novo, que penetra continuamente o nosso mundo, o transforma e o atrai a si. É a “revolução do amor”, à qual o Papa chamou os jovens em Colônia, que é mais forte que todo limite

e opressão, vitória sobre a morte (21.08.2005; cf. Spe Salvi, n.35ss). Sendo conscientes do fato de que são ainda mais de 80% os latino-americanos batizados na Igreja católica, valor que constitui mais de 40% dos católicos a nível mundial, pode-se afirmar que, apesar de todos os nossos limites, as nossas incoerências e misérias, o destino dos povos latino-americanos e a missão da Igreja católica estão em grande parte interligados, ao menos pelas próximas décadas do século XXI. Caindo em refluxo a tradição católica, e se não se procede com um intenso trabalho de educação da fé para converter os batizados em autênticos discípulos e testemunhas de Cristo, se não desencadeiam realmente energias missionárias por uma “nova evangelização”, se essa tradição católica não se torna alma, inteligência, força propulsora e horizonte de crescimento, de maior justiça e fraternidade, de maturidade humana, os nossos povos sofrerão e perderão a sua maior riqueza. E se os nossos povos permanecem submersos pelos ciclos periódicos de exaltações utópicas e depressões críticas, de idolatrias e messianismos temporais que geram novas formas de escravidão, de crescimento econômico mas que trazem desigualdades intoleráveis, de atrasos e marginalidades no concerto mundial, o catolicismo é que sofrerá. Deus sustenta a nossa esperança, muitas vezes contra toda esperança.

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orando com a palavra José Ricardo Ferreira Bezerra Missionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE

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ocê que é leitor antigo desta Revista sabe que o objetivo desta seção é levá-lo a ler e meditar com a Palavra de Deus através do antigo e comprovado método da Lectio Divina que consiste em quatro passos: leitura, meditação, oração e contemplação. Os leitores novos ou os que tiverem dúvida podem consultar as revistas anteriores ou escrever-nos: josericardo@comshalom.org. Antes de continuar, peça o auxílio do Espírito Santo, Aquele que inspirou os autores sagrados a escreverem aquilo que Deus quis, para que você entenda o quê e o para quê foi escrito. Hoje vamos tomar a oração que Jesus nos ensinou. Tomemos o evangelho segundo São Lucas (11,1-4) e a passagem paralela do Evangelho de Mateus (6,7-15). Leia com calma, primeiramente em Lucas, quando os discípulos pedem a Jesus que os ensine a orar e depois o texto de Mateus que é a fórmula consagrada da oração da Igreja com os sete pedidos. O Pai-Nosso é a mais perfeita das orações como disse Santo Tomás de Aquino. “Percorrei todas as orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não esteja incluído na oração do Senhor”, afirmou Santo Agostinho. O objetivo aqui não é fazer um estudo profundo do Pai-Nosso. O Magistério da Igreja e inúmeros santos já escreveram e meditaram sobre a oração que o próprio Jesus nos ensinou. Uma boa base está no Catecismo da Igreja Católica nos números 2759 a 2865. No “Pai-Nosso”, os três primeiros pedidos têm por objeto a Glória do Pai: a santificação do Nome, a vinda do

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Quando orardes, dizei:

Pai nosso... O Pai-nosso é a mais perfeita das orações como disse Santo Tomás de Aquino. “Percorrei todas as orações que se encontram nas Escrituras, e eu não creio que possais encontrar nelas algo que não esteja incluído na oração do Senhor”, afirmou Santo Agostinho.

Reino e o cumprimento da Vontade divina. Os quatro seguintes apresentam lhe nossos desejos: esses pedidos concernem à nossa vida, para nutri-la ou para curá-la do pecado, e se relacionam com nosso combate visando à vitória do Bem sobre o Mal (CIC 2857). Pai. A oração inicia chamando a Deus de Pai. São Pedro Crisólogo afirma: “A consciência que temos de nossa situação de escravos nos faria desaparecer debaixo da terra, nossa condição terrestre se reduziria a pó, se a autoridade de nosso Pai e o Espírito de seu Filho não nos levassem a clamar: ‘Abba, Pai!’ (Rm 8,15)... Quando ousaria a fraqueza de um mortal chamar a Deus seu Pai, senão apenas quando o íntimo do homem é animado pela Força do Alto?” Peça então ao Espírito Santo esta ousadia. Clame a Deus, chamando-o de Pai ou Paizinho. Comece assim: “Paizinho, eis-me aqui! Sou teu filho! Foste Tu que me geraste e me teceste no seio de minha mãe. Tu me conheces bem, desde antes de eu nascer. E hoje em tua presença eu clamo a ti, Paizinho. Com toda confiança de uma criança em seu Pai, venho a ti. Transforma o meu duro coração, Pai...” Continue sua oração no seu caderno, conforme o Espírito Santo lhe inspirar. Pai nosso. “Pai, dá-me a consciência de que somos todos irmãos e teus filhos. Paizinho, eu tenho confiança em ti, pois Tu és o nosso Pai e Tu nunca nos abandonas...” (continue do seu jeito...) Que estais no céu. “Sei, Pai, que o céu não é um ‘lugar’, mas uma maneira de ser. Tu não estás longe de mim, Tu és um Deus-conosco, um Deus próximo. O céu já começou com a tua vinda. Pai nosso que estais

no céu, Tu me ultrapassas em grandeza e majestade, mas é para ti que vou, é para o céu que me criaste. Pai nosso que estais no meu e nos corações de todos os teus filhos...” (continue...) Santificado seja o vosso Nome. “Pai, sei que és Santo, sois o Deus três vezes Santo. Sei que teu nome é Santo. O Filho, Jesus, que nos deste é Santo. Santificadas são as tuas obras. Santificadas sejam as tuas obras em mim. Que eu seja santo como Tu és santo! Santifica-me, Paizinho, torna-me aquilo para o que Tu me criaste, a santidade...” (vá em frente...) Venha a nós o vosso Reino. “Sim, Pai, que o teu Reino venha logo. Reino de amor, paz e justiça. Sei que o teu Reino já começa aqui. Que eu faça a minha parte na construção do teu Reino. Que eu não me esconda e nem esconda os talentos que Tu me deste para ajudar-te na construção do teu Reino. Que todas as vezes que eu te pedir a vinda do teu Reino, eu possa me comprometer em fazer a minha parte e apressar a tua vinda. Maranatha! Vem, Senhor!...” (siga sua inspiração...) Seja feita a vossa vontade. “Sei que a tua Vontade é que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade. Dá-me, pois, a perseverança na oração para que eu conheça a tua vontade a cada dia. Dá-me a coragem para cumprir a tua Vontade por mais desafiadora que ela seja. Dá-me a aceitação da tua Vontade quando ela me parecer difícil de aceitá-la. Pai, que a tua Vontade prevaleça sempre em minha vida...” (continue...) O pão nosso de cada dia, dai-nos hoje. “Tu sabes Paizinho, de todas as minhas necessidades materiais www.edicoesshalom.com.br

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e espirituais. Sei que este pão que te peço não é só para mim, mas para nós, pois é o nosso pão. Que eu aprenda a repartir o pão que Tu me dás. Que eu tenha consciência de que o pão que me sobra, falta na mesa de outros. Que eu leve o pão da tua Palavra a muitos que não te conhecem. Tu és o verdadeiro Pão do céu, o alimento verdadeiro para os homens. Como os apóstolos, eu também te peço: Dá-me sempre deste pão. Envia mais sacerdotes para consagrarem e distribuírem a Eucaristia...” (continue...) Perdoai as nossas ofensas, assim com nós perdoamos a quem nos tem ofendido. “Paizinho, eu me reconheço pecador e necessitado do teu perdão. Reconheço as muitas vezes que te ofendi e aos teus filhos, meus irmãos. Perdoa-me, pois estou disposto a perdo-

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ar a todos os que me ofenderam. “Sei, Pai, que o céu Pai que eu não guarde mágoas e ressentimentos em meu coração. não é um ‘lugar’, Ensina-me a perdoar incondiciomas uma maneira nalmente. Que eu busque sempre o de ser. Tu não estás sacramento da Reconciliação para longe de mim, Tu és receber o teu perdão e tua graça...” (continue...) um Deus-conosco, Não nos deixeis cair em tentação. um Deus próximo. “Pai, não me deixes entregue a mim mesmo e às minhas cobiças. Não me permitas entrar no caminho que conduz ao pecado. Dá-me, Senhor, o Espírito de discernimento e de fortaleza e a graça da vigilância e a perseverança até o fim. Pai, eu sei que este mundo jaz sob o poder do maligno, mas eu tenho confiança em ti, pois venceste o mundo. Sei que não permitirás que eu seja tentado acima das minhas forças, mas na provação me darás os meios para suportá-las e vencê-las contigo. Dá-me um coração vigilante e atento para fugir das ocasiões de pecado...” (continue...) Mas livrai-nos do mal. “Paizinho, livra-me do Maligno, do Diabo (aquele que divide). Com a tua Igreja, eu te peço que manifestes a tua vitória, pois Jesus já venceu Satanás, o ‘Príncipe deste mundo’. Pai livra-nos de todos os males presentes, passados e futuros causados pelo Mal. Pai que o teu Reino venha logo e reine assim a tua paz para nós...” (continue...) Amém! “Sim, Pai, que assim seja! Que tudo isto que te pedi se cumpra, hoje e sempre! Que o meu Amém expresse meu compromisso contigo, de fazer a minha parte. Amém! Amém! Amém!...” Você continuou a sua oração após cada frase? Se não o fez, retome a oração do Pai nosso e reze conforme o Espírito Santo lhe inspirar. O objetivo da Lectio é orar com a Palavra. Se você não rezar, pouco ou nada adiantará. Lembre-se de que a sua oração, só você pode fazê-la. Caso você não tenha escrito sua oração tome agora o seu caderno e anote as principais graças, e os compromissos que Deus lhe inspirou hoje. Ó Maria santíssima, filha predileta do Pai, mãe de Jesus e esposa do Espírito Santo, rogai por nós! Shalom!


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O sentido

do dar

Não é uma ação qualquer Que se faz sem olhar o porquê, Mas, uma expressão que requer Sentido em tudo saber, Que o amor recebido gera Resposta naquele que espera. Não é peso, perda, desgaste Ou troca de favor, empate Que faz do outro devedor, E de quem dá um constante cobrador. Assim, dar é riqueza sem igual Que cura o coração do mal Do egoísmo, soberba e então, Faz do que recebe um irmão. E aquele que aceita a oferta Decerto mais rico ele fica De bens que na alma desperta, Gratidão, alegria e sinal de alerta Para também de graça dar, E o ciclo do amor gerar. Tereza Brito


EnTREvISTA

Temos visto na mídia uma crescente preocupação com o aumento do fenômeno da intolerância religiosa. Até mesmo no Brasil, onde há uma grande diversidade étnica, cultural e, portanto, religiosa, o fenômeno está ganhando força e torna-se um desafio para a sociedade. Afinal, o diálogo entre as religiões está intimamente ligado ao problema da justiça e, ambos, à questão da paz. Para falar sobre o desafio do diálogo interreligioso e sua relação com a justiça e a paz, entrevistamos a jornalista e teóloga Maria Clara Bingemer, Decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PuC-Rio.

Maria Clara Bingemer Jornalista e teóloga

Por Andréa Gripp Missionária da Com. Católica Shalom no Rio de Janeiro/RJ

Q

ual o papel das religiões na promoção da paz? Maria Clara Bingemer – As religiões têm como papel lembrar o ser humano dos valores essenciais: qual é o sentido da vida, em que consiste sua dignidade de ser humano. E, ao mesmo tempo, fazê-lo experimentar sua identidade profunda de ser alguém capaz de Deus, aberto ao transcendente, capaz por graça de, em sua finitude, tocar o Infinito, comunicar-se com o Absoluto. A religião abre para o ser humano horizontes novos e mais amplos, que transcendem a imediatez e o tamanho reduzido e raquítico das ideologias e das propostas materiais. Por isso, promovem a paz, estimulando a tolerância, o diálogo, abrindo círculos mais vastos de comunhão.

Os indicativos mostram que as pessoas estão cada vez mais desorientadas interiormente, o que prova que, ao contrário do que se prega em muitos setores da sociedade, o progresso e o desenvolvimento econômico não se traduzem em paz de espírito. A que se deve essa realidade, em sua opinião? Creio que o melhor que posso fazer é invocar as recentes declarações do novo superior geral da companhia de Jesus, Padre Adolfo Nicolás. Ele diz que em tempos como os nossos, quando o consumo material se torna uma tirania e suga todas as nossas energias, quando há uma fadiga da caridade, as soluções externas ajudam pouco. Há que se cultivar o caminho interior, como ele chama, designando, assim, a espiritualidade, a vida de oração. Na verdade, o ser humano pode www.edicoesshalom.com.br

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estar cheio de recursos materiais, mas isso não o realiza. O verdadeiro sentido de sua vida se encontra na autotranscendência, no encontro com o Absoluto. E numa época como a nossa, quando o absoluto está quase varrido do horizonte, quando tudo é relativo, as pessoas ficam extremamente desorientadas. Um dos princípios fundamentais das religiões é a justiça. Pode haver paz sem justiça? Não, não pode haver paz sem justiça, justamente porque a injustiça é a maior das violências. Ela impede o ser humano de ser justamente humano. Frei Betto diz, com muita razão, que no Brasil e em outros países falamos muito em direitos humanos, mas na verdade ainda estamos lutando pelos direitos, digamos, “animais”: comer, ter um lugar para se abrigar das intempéries, engordar a cria. Se a justiça não se fizer, não avançar, e a brecha entre ricos e pobres se alargar ainda mais, podemos estar certos de que a violência acompanhará diabolicamente esse crescimento. Lutar pela justiça é lutar pela paz. Já dizia o saudoso Papa Paulo VI, em sua Encíclica Populorum Progressio, que fez 40 anos este ano: “o desenvolvimento é o novo nome da paz”. Em sua opinião, qual o caminho para a paz? O único caminho para criar comunhão é o caminho interior. As pessoas podem ser de culturas, línguas diferentes, mas se têm sintonia interior, espiritual, aí elas experimentam proximidade. A proximidade geográfica não é garantia para nada, sobretudo hoje. Nas grandes cidades, às vezes não conhecemos nossos

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vizinhos e vamos nos reunir com pessoas no outro extremo da cidade. Por quê? Por sintonia, afinidade, que pode ser cultural, artística, estética. Mas, sobretudo, espiritual, experiencial no sentido mais profundo. Papa João XXIII, na Encíclica Pacem in Terris fala da importância da liberdade religiosa, princípio também constitutivo da Doutrina Social da Igreja. Qual o papel do diálogo religioso no estabelecimento da paz? Sem dúvida a tolerância e a liberdade religiosa são um exercício prático para a paz. Na medida em que olho a religião do outro, sua fé diferente da minha como legítima e a respeito, embora dela não partilhe, estou instaurando uma dinâmica de paz, de diálogo, de abertura, e, portanto, de paz. O ecumenismo, entre os cristãos, e o diálogo interreligioso, são defendidos pelas diferentes tradições religiosas. Mas, então, por que é tão difícil viver isso na prática? Porque para nós é muito difícil aceitar o diferente, aquilo que não somos nós, aquilo que não reproduz o que somos integralmente. A religião do outro, a fé do outro, me instiga, porque revela a mim a diferença e que eu não sou dono da verdade. O outro revela que tenho que abraçar a verdade em que creio com espírito de pobreza, daquele que sabe não possuí-la por inteiro. Nossa inclinação natural é reduzir o outro ao mesmo de nós. Só a graça de Deus nos permite abrir-nos à diferença, respeitá-la, contemplá-la amorosamente e até aprender dela, sem renunciar ou negligenciar ao que somos, ao que acreditamos.


As religiões têm como papel lembrar o ser humano dos valores essenciais: qual é o sentido da vida, em que consiste sua dignidade de ser humano. E, ao mesmo tempo, fazê-lo experimentar sua identidade profunda de ser alguém capaz de Deus, aberto ao transcendente, capaz por graça de, em sua finitude, tocar o Infinito, comunicar-se com o Absoluto. www.edicoesshalom.com.br

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PAPO JOvEM

Jesus e a ditadura É triste perceber que nós, jovens e adolescentes, muitas vezes nos tornamos alvos fáceis da artilharia do consumismo. Quando nascemos o mundo já girava nesse ritmo e, por não sabermos como sair dessa, nos deixamos engolir por esse furacão vertiginoso.

Renata M. Bezerra

S

ábado. Anoitece em um dos maiores shoppings da cidade. Sombras se multiplicam em movimento entre os corredores, entrando e saindo das lojas, na praça de alimentação. Ao fundo, o som de brinquedos eletrônicos mistura-se a uma “música ambiente” quase inaudível e ao barulho de milhares de vozes, formando uma sinfonia ensurdecedora, que poucos chegam a perceber. Ninguém se importa. Há uma espécie de hipnose em gente que sonha vestir as mais badaladas grifes e estar sempre na última moda. As vitrines seduzem as pessoas como lâmpadas fascinam mariposas. Em outros centros comerciais a paisagem muda, mas o comportamento é idêntico. O consumo cresce. Empresas gastam milhões em novas lojas, que têm

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o ambiente projetado para atrair e encantar. São pequenas fábricas de dinheiro cuja matéria-prima é a vaidade, o desejo imoderado de atrair atenção. Somos todos vistos como consumidores em potencial, e é o “consumo que tem feito o mundo girar”, segundo especialistas. É triste perceber que nós, jovens e adolescentes, muitas vezes nos tornamos alvos fáceis da ar-

tilharia do consumismo. Quando nascemos, o mundo já girava nesse ritmo e, por não sabermos como sair dessa, nos deixamos engolir por esse furacão vertiginoso. Sabemos que a adolescência é o período em que a personalidade começa a “tomar corpo”. Nesse tempo temos oportunidade de fazer uma escolha mais livre e consciente dos valores que nortearão nossas vidas. Também nesse


momento despertamos para a busca da nossa identidade, queremos descobrir quem somos, tememos a rejeição e necessitamos ser aceitos, amados... Daí o fato de ser muito comum nessa fase uma certa identificação com o grupo de amigos (ou com “ídolos”) no modo de falar, de se portar e vestir... O fato de estarmos ainda descobrindo quem somos nos torna frágeis, vulneráveis aos constantes ataques da mídia, que investe alto para nos transformar em consumidores, para nos convencer da “necessidade” que temos dos produtos que estão sendo anunciados. Não é à toa que o chamado “mercado jovem” é um dos mais lucrativos. Chega a ser “golpe baixo” o que as grandes marcas e a ditadura da moda fazem conosco. Elas sabem das nossas inseguranças, do desejo que temos de ser aceitos, e por isso tentam nos convencer de que valemos o que vestimos, de que somos o que vestimos e que se usarmos a marca “tal” seremos bem-vistos, bem-aceitos etc. E acabamos entrando nesse jogo. Vestimos as marcas, submetemo-nos à moda e esperamos que ela nos proporcione aquilo que promete: segurança, identidade, aceitação, valor... e quando isso não acontece nos frustramos e corremos em busca de outras marcas, de novas aquisições que nos façam sentir alguém, que diminuam o gosto amargo do vazio que fica em nossa boca... A frustração e o vazio só aumentam, e no meio desse turbilhão é difícil perceber quão paradoxal é essa situação e quão contraditórias acabam sendo nossas atitudes: superestimamos nossa imagem, mas queremos ser amados pelo que há dentro de nós; nos portamos e vestimos igual a todos, mas lutamos para provar que somos diferentes...

Somos levados a supervalorizar o que está fora, a “embalagem”, as roupas de marca, o corpo “sarado”, os acessórios da moda...e muitas vezes sofremos quando não temos no guarda-roupa “aquela calça” (ou seja lá o que for) que vimos na semana passada (e que nem sempre tem a nossa cara, mas como todo mundo está usando, acabamos nos acostumando)... E isso é tão perigoso! Não raro encontramos pessoas que investem todo o seu tempo livre, inteligência e saúde, sua vida nisso! É por essa escravidão que muitos trocam a liberdade que nos foi dada por Deus! Alguém pode estar pensando: “Ih, lá vem! Daqui a pouco você vai dizer que temos de andar em farrapos!” Não, claro que não! Definitivamente não é isso que Deus quer. Certamente, Ele deseja que cuidemos com zelo e amor daquilo que Ele mesmo nos confiou; e andar sujo e mal vestido não é, de modo algum, sinal de desapego; é antes sinal de desleixo, de falta de zelo. O que Ele quer é que fique bem claro para nós que não precisamos da escravidão que os modismos tentam nos impor. Não pertencemos às marcas, não pertencemos nem a nós mesmos, somos propriedade de Deus, fomos comprados por um alto preço: o sangue de Cristo! (cf. 1Cor 6,20). Precisamos deixar que em nosso meio e dentro de nós reine Jesus e não a ditadura da moda. A nossa maneira de vestir não deve ser algo vindo de fora para dentro, mas reflexo do nosso ser interior, daquilo que verdadeira-

mente somos, e daquele que em nós habita. Em vez de tentar nos identificar com modas ou marcas que jamais conseguirão conter a totalidade do nosso ser, por que não procuramos nossa identidade onde seguramente a encontraremos? Em Jesus, não só seremos capazes de desvendar nossa identidade, como também de enxergá-la revestida de uma dignidade e valor que marca nenhuma no mundo seria capaz de nos dar. Somos filhos muitíssimo amados de Deus, nele encontramos todo amor e acolhida. Ele, mais que ninguém, é capaz de dizer quem somos (afinal, quem melhor do que o Autor para falar de sua obra?). Então, em vez de optar pela escravidão de nos encaixar naquilo que a mídia, a moda e os outros esperam que sejamos, experimentemos a liberdade de descobrir e ser o que Deus pensa de nós!

Somos todos vistos como consumidores em potencial, e é o “consumo que tem feito o mundo girar”, segundo especialistas.

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acontece no mundo Complementando o selo, um fundo azul e alaranjado, simbolizando o alvorecer de um novo tempo.

Brasil: selo em homenagem de

Dom Helder Camara

O

s Correios do Brasil lançaram no dia 7 de fevereiro um selo comemorativo do centenário de nascimento de Dom Helder Camara. De acordo com os Correios, o lançamento ocorreu em duas

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cidades significativas na vida do homenageado: Fortaleza/CE, local de nascimento de Dom Helder, e Recife/PE, onde atuou como arcebispo por mais de duas décadas. O selo traz a imagem de Dom Helder Camara soltando uma pomba branca, símbolo universal

da paz. Ao lado, em tamanho menor, a imagem de agricultores representa alguns dos importantes movimentos sociais dos quais participou, como a Pastoral da Terra, Pastoral do Negro e Pastoral do Índio. Ao fundo, a imagem rebaixada e em silhueta da Igreja das Fronteiras, local em que viveu até sua morte. Complementando o selo, um fundo azul e alaranjado, simbolizando o alvorecer de um novo tempo. O design ficou a cargo da artista Silvania Branco, que utilizou técnicas de ilustração vetorial e computação gráfica na elaboração da imagem. A tiragem é de 1.020.000 unidades. Dom Helder Camara nasceu em 7 de fevereiro de 1909, no Ceará, e faleceu em Pernambuco, em 27 de agosto de 1999.


Nomeação do chefe de escritório na

Doutrina da Fé

B

ento XVI nomeou o sacerdote mexicano Pedro Miguel Funes Díaz, dos Cruzados de Cristo Rei, como chefe de escritório na Congregação para a Doutrina da Fé, onde até agora trabalhava como ajudante de estudo, segundo anunciou neste sábado a Sala de Imprensa da Santa Sé. O Pe. Pedro Miguel Funes nasceu na Cidade do México em 1958. Ele é um dos primeiros sacerdotes da Sociedade de Cruzados de Cristo Rei,

surgida em 25 de janeiro de 1971 em Naucalpan (México). Comentava que a sociedade tem como fim estender o Reino de Cristo nos homens e nas sociedades através do ministério sacerdotal

inspirado nas palavras de Cristo, que ensina aos seus apóstolos: Quem quiser ser o primeiro, que seja o último e o servidor de todos. Ele explica que o serviço da sociedade consiste em promover o amor

Jovens dos cinco

continentes – Oração pela

paz na Terra Santa

M

ilhares de jovens dos cinco continentes se uniram em um dia de oração de 24 horas ininterruptas, que aconteceu com Eucaristias e Adorações em cerca de 400 cidades do mundo inteiro. De Jerusalém a Roma, Nova York, Cracóvia, assim como na Argentina, Brasil, Espanha, França e em alguns países da África, Austrália

e Ásia rezou-se pela paz na Terra Santa. Também houve uma Missa com esta intenção na paróquia do Patriarcado Latino da Sagrada Família de Gaza. A Cidade do Vaticano também participou desse dia internacional com uma Eucaristia concelebrada pelo cardeal Raffaele Farina, prefeito da Biblioteca Apostólica Vaticana, com a Comunidade Salesiana da Tipografia Vaticana.

e a obediência ao Papa; pesquisar, ensinar e difundir com fidelidade a mensagem da salvação, atendendo ao ambiente cultural e à variável problemática dos tempos; acatar as disposições dos bispos, colaborar com o clero, com os institutos religiosos, as sociedades de vida apostólica etc., fomentando seu respeito e estima; e apoiar e impulsionar, espiritual, moral e doutrinalmente os leigos para que cumpram sua missão de impregnar e aperfeiçoar toda a ordem temporal com o espírito evangélico.

O Dia Internacional de Oração pela Paz nasceu da intenção de responder às palavras pronunciadas por Bento XVI no Ângelus de 28 de dezembro passado, no qual pediu aos cristãos “orações intensas” pela paz. A iniciativa foi promovida por várias associações juvenis católicas, como a Associação Nacional “Papaboys”, o Apostolado “Jovens pela Vida”, as Capelas da Adoração Perpétua na Itália, os grupos de Reunião Eucarística e outros. O Dia de Oração recebeu também a adesão de muitos grupos de oração, leigos, consagrados, de sacerdotes de todo o mundo, e de muitas paróquias salesianas, das Missionárias da Consolata e dos Missionários do Preciosíssimo Sangue. Jovens do mundo inteiro aderiram no Facebook “Queremos a paz na Terra Santa” (Vogliamo la pace in Terrasanta). www.edicoesshalom.com.br

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DIvIRTA-SE

Personagens bíblicos iniciados por “H” ou “I” por José Ricardo Ferreira Bezerra HORIZONTAIS: 1- Segundo nome de Judas, o traidor (Mt 10,4) 2- Primeiro filho do profeta Eli (1Sm 1,3) 3- Sacerdote que encontrou o Livro da Lei (2Cr 34,14) 4- Rei de Tiro que ajudou na construção do Templo de Salomão (1Rs 5,15) 5- Filho de Fineias cujo nome significa a Glória de Israel foi exilada (1Sm 4,21) 6- Mãe de Adonias, o quarto filho de Davi (2Sm 3,4) 7- Pai de Coré que se revoltou contra Moisés (nm 16,1) 8- Mandou matar João Batista (Mt 14,10) 9- Foi arrebatado para que não experimentasse a morte (Hb 11,5) 10- Filho de Saul feito rei de Israel por dois anos (2Sm 2,10) 11- Profetizou o nascimento do Emanuel (Is 7,14) 12- Profeta enviado a Daniel na cova dos leões (Dn 14,37) 13- Terceiro filho de Aarão (nm 3,2) 14- General de nabucodonosor, segundo homem do Reino (Jt 2,4)

As aparências enganam

A

ugusto era um menino prodígio e muito astuto. Certo dia, quebrou uma barraca de frutas de um ambulante, espalhando as frutas por toda a rua. O pobre homem reclamou ao pai do garoto, que prontamente pagou pelo prejuízo. Embora o pai soubesse que o filho era dado a travessuras, estava também consciente de que não era peculiar ao menino prejudicar uma pessoa com suas ações. Não desejando passar-lhe uma reprimenda, o pai perguntou-lhe qual o motivo daquele comportamento. “Observei o homem arrumar as frutas no carrinho,” defendeu-se. “Ele colocou frutas estragadas e de qualidade inferior por baixo, então cobriu tudo com uma

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fina camada de frutas de primeira. Estava tentando enganar os fregueses, que iriam pensar serem todas de boa qualidade. Era meu dever proteger compradores desavisados de serem roubados por uma pessoa desonesta.” Já na infância, Augusto manifestava tanto sua inteligência quanto o senso de justiça.

Horizontais 1. Iscariotes/ 2. Hofni/ 3. Helcias/ 4. Hiram/ 5. Icabod/ 6. Hagit/ 7. Isaar/ 8. Herodes/ 9. Henoc/ 10. Isbaal/ 11. Isaias/ 12. /Habacus/ 13. Itamar/ 14. Holofernes. Verticais 1. Iditun/ 2. Isabel/ 3. Irad/ 4. Hamital/ 5. Hanani/ 6. Israel/ 7. Isaac/ 8. Idaias/ 9. Herodiades/ 10. Hazael/ 11. Ismaias/ 12. Heliodoro.

VERTICAIS: 1- Seus filhos ficaram como porteiros do Templo (1Cr 16,42) 2- A mãe de João Batista (Lc 1,58) 3- Filho de Henoc e neto de Caim (Gn 4,18) 4- Mãe de Sedecias que reinou onze anos em Jerusalém (2Rs 24,18) 5- Pai do profeta Jeú, que falou contra o rei Baasa (1Rs 16,7) 6- O nome mudado de Jacó (Gn 32,29) 7- O filho de Abraão e Sara (Gn 21,3) 8- Do ouro de sua família, Zacarias fez coroas para ungir Josué (Zc 6,10) 9- Cunhada com quem Herodes se casou (Mc 6,17) 10- Rei de Aram ungido por Elias (1Rs 19,15) 11- um dos chefes dos Trintas de Davi (1Cr 12,4) 12- Foi chicoteado pelo Céu por atacar a sala do tesouro (2Mc 3,34)

Filme: O Vaticano de Bento XVI

A

o longo de 23 Filme: anos, o cardeal Nossa alemão vida Joseph Ratzinger foiGrace o braço sem

direito de João Paulo II e John poderosos Cusack inum dos mais terpreta pai que integrantes da Cúriaum Romana. Hoje,perde ele é o o rumo na DVD vida traz quando sua a Papa Bento XVI. Este a biografi mulher é morta em serviço no do Sumo Pontífice e uma entrevista inédita, Iraque. Sem forças para contar em que ele revela seus locais preferidos no o ocorrido para as filhas, ele as Vaticano e conta como foi sua trajetória leva em uma viagem até um até se tornar um influente líder da Igreja parque de diversões. Sabendo Católica. Em nunca antesdurar vistas, queimagens a diversão não pode Bento XVIpra nossempre, acompanha em umenconpasseio ele luta para pelo menor Estado independente do trar as palavras que vão mudar mundo e nos guia por lugares maravilhosos as vidas de suas filhas. e inacessíveis ao público. Dos arquivos da Santa Inquisição aos cemitérios e museus, o Papa nos apresenta um mundo que ninguém conhece tão bem quanto ele. Numa visita que vai muito além do mistério e dos portões de bronze que cercam o Vaticano, mergulhamos em uma fascinante viagem pelo universo de Bento XVI.


EnTRELInHAS Maria Emmir Oquendo Nogueira

O precioso dom do

limite pessoal neste começo de ano, Deus me deu um presente inusitado. Enquanto todos faziam grandes planos para em 2009 melhorar neste ou naquele aspecto, o que Deus me pediu foi fazer planos para respeitar meus limites humanos, amá-los e utilizá-los como instrumentos preciosos para “garimpar” a humildade.

C

omo um filme cada vez mais longo, o Senhor me foi mostrando o quanto eu era presunçosa, como “só queria ser a tal”, como se diz no Nordeste. A medida do meu limite era a necessidade do outro, ainda que o que ele necessitasse ou pedisse fosse

muito difícil ou quase impossível para mim. Adotei isso como um projeto de vida: ao amar Jesus e meu irmão, diria sempre “sim”. Faria sempre o que fosse necessário, ainda que não soubesse fazê-lo. Para ser sincera, creio que, enquanto Deus permitiu, esse projeto de vida “funcionou”. Se eu

não sabia fazer, estudava, aprendia, tentava, desde que ajudasse. Se não podia fazer, sacrificava o sono, a saúde, mas fazia o necessário para os outros e – imagine o atrevimento! – para Deus!!! O resultado é que presenciei o poder de Deus cada dia de minha vida. O que eu não sabia, Deus sawww.edicoesshalom.com.br

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bia. O que eu não podia, Deus podia. No fim, sempre dava certo. Por outro lado, aprendi de tudo um pouco e Deus me usou pacientemente, provavelmente com um sorriso no canto da boca. Aprendi também algo importante, talvez tarde demais: o que as pessoas julgam necessário nem sempre o é de fato. Existem falsas “necessidades”, carências, ilusões, fantasias, apegos, expectativas, idolatrias. Existe até uma saudável convivência com a necessidade que leva as pessoas a Deus e ao amadurecimento através da oração, da reflexão, da luta diária para amar. Meu projeto de sempre corresponder às necessidades dos outros escondia uma fraqueza de base: não saber quando e como dizer “não”. Dizendo melhor: não saber discernir à luz do Espírito Santo quando Deus realmente queria que eu servisse àquela pessoa da forma que ela pensava “necessitar” ou de outra forma, como, por exemplo, a intercessão e penitência escondidas. Sabe que com isso quase me colocava no lugar de Deus? Pior, quase me colocavam no lugar de Deus! Meu raciocínio sincero era: “Se para Deus nada é impossível, posso ser instrumento para o impossível que só Deus pode fazer. Aí, então, essa pessoa encontrará o Senhor e o amará mais”. Em contrapartida, o raciocínio sincero das pessoas era: “Se ela

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Meu projeto de sempre corresponder às necessidades dos outros escondia uma fraqueza de base: não saber quando e como dizer “não”. rezar por mim, fico curado. Se ela me der uma bênção, fico bom, se ela pregar, vem gente”. Veja só: me colocavam no lugar de Deus! Também pudera! Eu mesma me colocava aí! Eu mesma ia agindo conforme o que as pessoas pediam e nem sempre segundo o que Deus pedia!

Foi aí que o Senhor me ensinou mais uma vez que só Ele é, só Ele ama verdadeiramente, só Ele pode, só Ele sabe, só Ele realmente resolve... Resultado: exaustão, que é um termo politicamente correto para uma série de sintomas extremamente desagradáveis. É a pura verdade que o amor não sabe calcular, que não cansa e nem se

cansa, que tudo crê, tudo espera, tudo suporta, como afirmam Teresinha e Paulo. Ora, se eu estava exausta, era sinal que não estava amando com autenticidade, verdadeiramente fazendo a vontade de Deus, realmente ouvindo a Deus sobre Sua vontade para o irmão. Foi aí que o Senhor me ensinou mais uma vez que só Ele é, só Ele ama verdadeiramente, só Ele pode, só Ele sabe, só Ele realmente resolve e, como um bom artesão de nossas almas, usa o instrumento apropriado para cada obra. Quanto a mim, sou um instrumento, digamos, um pincel, que um dia fica “careca” ou uma plaina que um dia fica cega. Um bom artesão, naturalmente, não usará um pincel para aplainar um tampo, nem uma plaina para fazer pátina. Em meu orgulho disfarçado de presunção de onipotência, quis ser plaina, pincel, martelo, chave de fenda e sabe Deus o que mais. Resultado: exaustão, pincel careca, plaina cega, martelo frouxo. Deus, naturalmente, pode nos utilizar como quiser ou pode, simplesmente, deixar-nos ver nossos limites com tanta evidência que isso será para nós salvação. No meu caso, o grande problema, a causa da exaustão, parecia ser não saber dizer “não”. A grande chaga, porém, era achar que eu, pecadora, criatura humana, pudesse me dar a esse luxo!




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