Ano 24 - nº 194 - Set/09 R$ 7,50
Assunto do Mês
A vida ao
ritmo da
Palavra Fé e Razão
O primeiro Mandamento
Conversando com Sciadini Se tu és...
Arte e Espiritualidade
jesus cristo O Pantocrator de Monreale
Só Família
A era virtual: s algumas repercurssõe na educação dos filhos
E D I T O R I A L
A vida ao ritmo da Palava
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alvez hoje sejamos convidados a viver embalados por diversos ritmos. O que não falta é diversidade para todos os gostos. Mas o que é mesmo viver embalado ao ritmo da Palavra? O que significa dizer isso? Deixar que a Palavra de Deus paute nossas vidas para que esta torne-se uma doce melodia, como o Magnificat, cantado por Maria. Renovar o amor e o zelo pela Palavra de Deus é um dos principais objetivos desta edição da Shalom Maná. Fazer a experiência de que a Vontade de Deus é porto seguro para nós, luz para nosso caminho, é descobrir a verdadeira felicidade. Como é importante perceber a beleza e a grandeza do amor de Deus quando quis constituir um povo, e não se contentando, quis relacionar-se com ele, dando-nos Leis e Leis de amor. Por isso, o Instituto Parresia no Fé e Razão nos esclarece acerca do primeiro mandamento, explorando a riqueza dos Mandamentos de Deus e sua aliança conosco. No Sacramento e Liturgia veremos que Cristo está presente em toda oração verdadeira, mas está, sobretudo, na oração litúrgica da Igreja, a qual não só os padres, monges e consagrados são chamados a rezar, mas todo povo de Deus. “Toda lei Divina se resume no amor...” Foi com estas palavras que Bento XVI iniciou sua homilia de conclusão do Sínodo dos Bispos de 2008, cujo tema era “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Esta Palavra que salva e tem poder de nos tirar de nossas paralisias, é contemplada também no Entrelinhas, onde você vai encontrar o famoso diálogo de Jesus com a Samaritana. O desejo de Jesus de entrar em nossas vidas, de curar as nossas feridas e mudar o percurso da nossa história. E, em se tratando de nossas vidas, o que fazer diante do grande dom e ao mesmo tempo, grande desafio, que tem sido a Era virtual dentro das famílias? Como fazer da Internet uma aliada na educação dos filhos? Você encontrará respostas e orientações seguras no Só Família, escrito por nossa querida psicopedagoga Laura Martins, que nos traz importantes orientações acerca desse assunto. Essas temáticas e outras pertinentes à nossa condição de cristãos, você encontrará nesta edição! Shalom!
E X P E D I E N T E Coordenação Geral
RICARDO MOREL LOPES Cristiano Tuli
Coordenação Editorial Andréa Luna valim eliana gomes lima
Equipe de Redação
Andréa Luna valim andréia gripp eliana gomes Lima José Ricardo F. Bezerra
Revisão
José Ricardo F. Bezerra Sandra Viana rejane nascimento
Editor de Arte
AUGUSTO F. OLIVEIRA SERVIÇO DE APOIO AO ASSINANTE CE 040 - s/n - Km 16 - Divineia - Aquiraz/CE - 60170-000
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Gerente Comercial
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Jornalista Responsável
Shalom Maná | Setembro/2009
Lane Marques Egídio Serpa
SUMÁRIO
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Só Família
A era virtual: algumas repercussões na educação dos filhos
do Mês 19 Assunto A vida ao ritmo da Palavra
30
Liturgia e Sacramento
41
Entrelinhas
Liturgia das horas: O encontro com o cristo Ressuscitado
O Segredo da Samaritana
do Papa 04 AA Palavra Palavra de Deus na
vida e na missão da Igreja
com a Palavra 08 Orando Eu, porém, vos digo... e Espiritualidade 10 Arte jesus cristo
O Pantocrator de Monreale
13 Fé e Razão
O primeiro Mandamento
com Sciadini 28 Conversando Se tu és...
35 Atualidade
A cabana. De qual deus fala o livro?
39 Espiritualidade Você sabe rezar o Pai-Nosso? 44 Divirta-se
no Mundo 45 Acontece República checa prepara
visita papal refletindo sobre “Caritas in Veritate”
Vaticano prepara documento sobre a formação dos seminaristas Mobilização no Facebook contra proibição dos crucifixos na Espanha
www.edicoesshalom.com.br
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A PALAVRA DO PAPA
Deus A Palavra de
na vida e na missão da Igreja
Todos nós que participamos dos trabalhos sinodais, levamos conosco a consciência renovada de que a tarefa prioritária da Igreja, no início deste novo milênio, é antes de tudo alimentar-se da Palavra de Deus, para tornar eficaz o compromisso da nova evangelização, do anúncio nos nossos tempos.
Homilia de Bento XVI na Conclusão do Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus
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Shalom Maná | Setembro/2009
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ueridos irmãos e irmãs! deve ser excluído deste âmbito. É pormenores específicos, como no A Palavra do Senhor, precisamente o nosso pensamento caso do objeto dado em penhor por que há pouco ressoou no que se deve conformar com o pen- um destes pobres (cf. Êx 20,2526). Neste caso é o próprio Deus Evangelho, recordou- samento de Deus. nos que toda a Lei Divina se Depois, Jesus acrescenta algo que se faz de fiador na situação resume no Amor. O Evangelista que, na realidade, não tinha sido deste próximo. Mateus narra que os fariseus, de- perguntado pelo doutor da lei: Na segunda Leitura podemos pois de Jesus ter respondido aos “O segundo é semelhante ao ver uma aplicação concreta do gransaduceus fechando-lhes a boca, primeiro: amarás o teu próximo de mandamento do amor numa das reuniram-se para o pôr à prova (cf. como a ti mesmo” (v. 39). O as- primeiras comunidades cristãs. São 22, 34-35). Um destes, um doutor pecto surpreendente da resposta Paulo escreve aos Tessalonicenses, da lei, perguntou-lhe: Mestre, na de Jesus consiste no fato de que fazendo-lhes compreender que, Lei, qual é o maior mandamento?” Ele estabelece uma relação de apesar de conhecê-los há pouco (v. 36). A pergunta deixa trans- semelhança entre o primeiro e o tempo, os aprecia e sente por eles parecer a preocupação, presente segundo mandamento, definido afeto. Por isso indica-os como na antiga tradição judaica, de também agora com uma fórmula um “modelo para todos os crentes encontrar um prinda Macedônia e da cípio unificador das Acaia” (1Ts 1,6-7). Amarás ao Senhor teu Deus com todo o várias formulações Não faltam certateu coração, com toda a tua alma e com da vontade de Deus. mente debilidades e Era uma pergunta toda a tua mente. É este o maior e o primeiro dificuldades naquela difícil, considerando mandamento.” comunidade fundada que na Lei de Moirecentemente, mas é o sés são contemplados 613 preceitos bíblica tirada do código levítico amor que tudo supera, tudo renova, e proibições. Como discernir, entre de santidade (cf. Lv 19,18). E eis, tudo vence: o amor de quem, constodos eles, o maior? Mas Jesus não portanto que, na conclusão do ciente dos próprios limites, segue hesita, e responde imediatamente: trecho, os dois mandamentos são docilmente as palavras de Cristo, “Amarás ao Senhor teu Deus com associados no papel de princípio- Mestre divino, transmitidas através todo o teu coração, com toda a tua base no qual se fundamenta toda de um seu fiel discípulo. “Vós vos alma e com toda a tua mente. É a Revelação Bíblica: “Destes dois tornastes imitadores nossos e do este o maior e o primeiro manda- mandamentos dependem toda a Senhor, escreve São Paulo, acomento” (vv. 37-38). lhendo a Palavra com a alegria do Lei e os Profetas” (v. 40). Na sua resposta, Jesus cita o A página evangélica sobre a Espírito Santo, apesar das numeroShemá, a oração que o israelita qual estamos a meditar realça que sas tribulações”. “Partindo de vós, se piedoso recita várias vezes ao dia, ser discípulos de Cristo significa divulgou a Palavra do Senhor, não sobretudo de manhã e à tarde (cf. pôr em prática os seus ensinamen- apenas pela Macedônia e Acaia, Dt 6,4-9; 11,13-21; Nm 15,37- tos, que se resumem no primeiro e mas propagou-se por toda a parte a 41): a proclamação do amor ínte- maior mandamento da Lei divina, fé que tendes em Deus” (1Ts 1,6-8). gro e total devido a Deus, como o mandamento do amor. Também Os ensinamentos que tiramos da único Senhor. O realce é dado à a primeira Leitura, tirada do Livro experiência dos Tessalonicenses, totalidade desta dedicação a Deus, do Êxodo, insiste sobre o dever experiência que na verdade irmana enumerando as três características do amor; um amor testemunhado qualquer comunidade cristã auque definem o homem nas suas concretamente nas relações entre têntica, é que o amor pelo próximo estruturas psicológicas profundas: as pessoas: devem ser relações de nasce da escuta dócil da Palavra coração, alma e mente. A palavra respeito, de colaboração, de ajuda Divina. É um amor que aceita tammente, diánoia, contém o elemento generosa. O próximo a ser amado bém provações duras pela verdade racional. Deus não é apenas objeto é também o estrangeiro, o órfão, da Palavra Divina e precisamente do amor, do compromisso, da von- a viúva e o indigente, aqueles por isso o verdadeiro amor cresce e a tade e do sentimento, mas também cidadãos que não têm “defensor” verdade resplandece em todo o seu do intelecto, que, portanto, não algum. O autor sagrado desce a esplendor. Como é então imporwww.edicoesshalom.com.br
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pensamento
Deus não é apenas objeto do amor, do compromisso, da vontade e do sentimento, mas também do intelecto, que, portanto, não deve ser excluído deste âmbito. É precisamente o nosso pensamento que se deve conformar com o pensamento de Deus. tante ouvir a Palavra e encarná-la na vida pessoal e comunitária! Nesta celebração eucarística, que encerra os trabalhos sinodais, ouvimos de modo singular o vínculo que existe entre a escuta amorosa da Palavra de Deus e o serviço abnegado aos irmãos. Quantas vezes, nos dias passados, ouvimos experiências e reflexões que revelam a necessidade hoje emergente de uma escuta mais íntima de Deus, de um conhecimento mais verdadeiro da sua Palavra de Salvação; de uma partilha mais sincera da fé que se alimenta constantemente na mesa da Palavra Divina! Queridos e venerados Irmãos, obrigado pela contribuição que cada um de vós ofereceu ao aprofundamento do tema do Sínodo: “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”. Saúdo-vos a todos com afeto. Dirijo uma saudação especial aos Senhores Cardeais Presidentes, delegados do Sínodo e ao Secretário-Geral, ao qual agradeço a constante dedicação. Saúdo-vos a vós, queridos irmãos e irmãs, que viestes de todos os continentes trazendo a vossa experiência enriquecedora. Regressando a casa, transmiti a todos a saudação
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Shalom Maná | Setembro/2009
afetuosa do Bispo de Roma. Saúdo os Delegados fraternos, os Peritos, os Auditores e os Convidados especiais, os membros da Secretaria Geral do Sínodo, quantos se ocuparam das relações com a imprensa. Dirijo um pensamento especial aos Bispos da China Continental, que não puderam estar representados nesta Assembleia Sinodal. Desejo fazer-me aqui intérprete e dar graças a Deus, do seu amor a Cristo, da sua comunhão com a Igreja Universal e da sua fidelidade ao Sucessor do Apóstolo Pedro. Eles estão presentes na nossa oração, juntamente com todos os fiéis que estão confiados aos seus cuidados pastorais. Pedimos ao “Pastor supremo do rebanho” (1Pd 5,4) para que lhes dê alegria, força e zelo apostólico para guiar com sabedoria e com clarividência a comunidade católica na China, que nos é tão querida. Todos nós, que participamos nos trabalhos sinodais, levamos conosco a consciência renovada de que a tarefa prioritária da Igreja, no início deste novo milênio, é antes de tudo alimentar-se da Palavra de Deus, para tornar eficaz o compromisso da nova evangelização,
do anúncio nos nossos tempos. Agora é necessário que esta experiência eclesial seja levada a todas as comunidades; é necessário que se compreenda a necessidade de traduzir em gestos de amor a Palavra ouvida, porque só assim se torna credível o anúncio do Evangelho, apesar das fragilidades humanas que marcam as pessoas. Isto exige em primeiro lugar um conhecimento mais íntimo de Cristo e uma escuta sempre dócil da sua Palavra. Neste Ano Paulino, fazendo nossas as palavras do Apóstolo: “Ai de mim se não evangelizar” (1Cor 9,16), faço votos sinceros para que em cada comunidade se sinta mais forte a convicção deste anseio de Paulo como vocação ao serviço do Evangelho para o mundo. Recordei no início dos trabalhos sinodais o apelo de Jesus: “a messe é grande” (Mt 9,37), apelo ao qual nunca nos devemos cansar de responder apesar das dificuldades que podemos encontrar. Muitas pessoas estão em busca, por vezes até sem se dar conta, do encontro com Cristo e com o seu Evangelho; muitas têm necessidade de reencontrar n’Ele o sentido da
sua vida. Dar testemunho claro e partilhado de uma vida, segundo a Palavra de Deus, confirmada por Jesus, torna-se, portanto, um critério indispensável para testemunhar a missão da Igreja. As leituras que a Liturgia oferece hoje à nossa meditação recordam-nos que a plenitude da Lei, como de todas as Escrituras Divinas, é o amor. Portanto, quem pensa que compreendeu as Escrituras, ou pelo menos uma parte delas, sem se comprometer a construir, mediante a sua inteligência, o duplo amor de Deus e do próximo, na realidade demonstra que ainda está longe de ter compreendido o seu sentido profundo. Mas como pôr em prática este mandamento, como viver o amor de Deus e dos irmãos sem um contato vivo e intenso com as Sagradas Escrituras? O Concílio Vaticano II afirma que “é necessário que os fiéis tenham amplo acesso à Sagrada Escritura” (Const. Dei Verbum, 22), para que as pessoas, encontrando a verdade, possam crescer no amor autêntico. Trata-se de uma exigência hoje indispensável para a evangelização. E dado que, com frequência, o encontro com a Escritura corre o
risco de não ser “um fato” de Igreja, mas exposto ao subjetivismo e à arbitrariedade, torna-se indispensável uma promoção pastoral robusta e crível do conhecimento da Sagrada Escritura, para anunciar, celebrar e viver a Palavra na comunidade cristã, dialogando com as culturas do nosso tempo, pondo-se ao serviço da verdade e não das ideologias atuais e fomentando o diálogo que Deus quer ter com todos os homens (cf. ibid., 21). Com este fim, deve ser dada a máxima atenção à preparação dos pastores, destinados depois à necessária ação de difundir a prática bíblica com subsídios oportunos. Devem ser encorajados os esforços em ato para suscitar o movimento bíblico entre os leigos, a formação dos animadores de grupos, com particular atenção aos jovens. Deve ser apoiado o esforço de fazer conhecer a fé através da Palavra de Deus também a quem está “afastado” e, sobretudo, a quantos estão em busca sincera do sentido da vida. Deveriam ser acrescentadas muitas outras reflexões, mas limito-me a ressaltar por fim que o lugar privilegiado no qual ressoa
a Palavra de Deus, que edifica a Igreja, como foi dito tantas vezes no Sínodo, é sem dúvida a Liturgia. Nela sobressai que a Bíblia é o Livro de um povo e para um povo; uma herança, um testamento entregue aos leitores, para que atualizem na sua vida a história da salvação testemunhada por escrito. Há, portanto, uma relação de recíproca pertença vital entre povo e Livro: a Bíblia permanece um Livro vivo com o povo, seu sujeito, que o lê; o povo não subsiste sem o Livro, porque nele se encontra a sua razão de ser, a sua vocação, a sua identidade. Esta pertença recíproca entre povo e Sagrada Escritura é celebrada em cada assembleia litúrgica, a qual, graças ao Espírito Santo, ouve Cristo, porque é Ele quem fala quando na Igreja se lê a Escritura e se acolhe a aliança que Deus renova com o seu povo. Portanto, Escritura e Liturgia convergem no único fim de levar o povo ao diálogo com o Senhor e à obediência à vontade do Senhor. A Palavra que saiu da boca de Deus e testemunhada nas Escrituras volta para Ele em forma de resposta orante, de resposta vivida, de resposta que brota do amor (cf. Is 55,10-11). Amados irmãos e irmãs, rezemos a fim de que da escuta renovada da Palavra de Deus, sob a ação do Espírito Santo, possa brotar uma autêntica renovação na Igreja universal e em cada comunidade cristã. Maria Santíssima, que ofereceu a sua vida como “Serva do Senhor” para que tudo se cumprisse em conformidade com a vontade divina (cf. Lc 1,38) e que exortou a fazer tudo que Jesus nos dissesse (cf. Jo 2,5), nos ensine a reconhecer na nossa vida a primazia da Palavra, a única que pode dar a salvação. Assim seja! www.edicoesshalom.com.br
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Orando com a Palavra
Eu, porém, vos digo... A contemplação dos mistérios de Deus é uma graça, um dom gratuito, que requer apenas uma atitude de recolhimento, abertura, aceitação, abandono e confiança.
José Ricardo F. Bezerra Missionário da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE
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omemos o Evangelho segundo São Lucas, Lc 6,27-38. Leia atentamente pelo menos quatro vezes os versículos propostos, em voz alta, ou em
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meia voz, procurando responder à pergunta: O que o texto diz? Em seguida releia, silenciosamente, ouvindo de Deus o que o texto lhe diz pessoalmente. Esta é a meditação. Diante de tudo o que lhe foi
revelado, faça sua oração, seja de louvor, súplica ou intercessão. E, por fim, continue o momento de oração, deixando-se amar pelo Senhor da vida, escutando no coração aquilo que ele desejar.
Para mim, esse é um dos trechos mais desconcertantes, embaraçosos, difíceis e desafiadores dos evangelhos. As orientações de Jesus são claras: “Amai”, “Fazei o bem”, “Abençoai”, “Orai”, “Emprestai”, “Perdoai”, “Dai”. E ainda: “Sede misericordiosos”, “Não julgueis”, “Não condeneis”. E com quem praticar também: “Os vossos inimigos”, “aos que vos odeiam”, “os que vos amaldiçoam”, “os que vos difamam”, “os que te ferem na face”, “os que te tiram a capa”, “os que te tomam o que é teu”, “os que te pedem”. Amar o próximo como a si mesmo quando o próximo é amigo, é até fácil de entender e aceitar. Agora amar os inimigos, os que nos odeiam, amaldiçoam, difamam, roubam ou tomam o que é nosso é coisa totalmente inédita. No Antigo Testamento era permitido o olho por olho e o dente por dente (lei do talião). O Novo é mais exigente. A virtude da Justiça manda dar a cada um o que lhe é devido. Portanto o que Jesus pede é ir além da justiça. Amar e fazer o bem aos que os amam, os pagãos também o fazem. Mas a quem quiser escutá-lo, Ele pede mais e apresenta as razões: “Será grande a vossa recompensa”, “sereis filhos do Altíssimo” e “porque ele é bom para com os ingratos e maus”. Veja as palavras que o anjo Gabriel anuncia a Maria sobre Jesus: “Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo...” (Lc 1,32). Ou seja, a recompensa é o próprio Jesus, ser como Ele. Se ele nos pede é por que é possível e Ele mesmo dá o exemplo. “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Os apóstolos não estariam errados se invocassem a justiça e o direito diante dos judeus que prenderam e flagelaram Jesus. Mas Ele não permite que Pedro use a espada para defendê-lo ou o pede
o socorro das legiões de anjos para livrá-lo. Nem faz um milagre diante de Herodes ou faz ameaça Pilatos para escapar da morte. Ele sabe que cumpre a Vontade do Pai e que a justiça definitiva pertence a Deus. A Ele só cabia amar, orar e perdoar os que o condenavam, “pois não sabiam o que estavam fazendo...” (cf. Lc 23,34). Que tal iniciar sua oração não pelos “inimigos” que talvez você não identifique, mas pelos que o ofenderam, ou o agrediram seja com palavras ou com atos. Ou pelos que não lhe deram a atenção, ou enfim pelos que lhe pediram alguma coisa e você não atendeu. Peça perdão por não ter sido capaz de praticar esta passagem naquela ocasião. Se conseguir identificar seus “inimigos”, também ore por eles. Suplique a graça de amar como Jesus amou, dando sua vida. Interceda por todos os que lhe prejudicaram intencionalmente ou não. Peça a misericórdia de Deus por você e por eles. Abra-se à ação do Espírito Santo que é capaz de mudar corações de pedra por corações de carne, sensíveis à Vontade de Deus. Relembre as vezes que você amou os difíceis, perdoou, não condenou e nem julgou os outros. Sinta a alegria de ter imitado Jesus, tornando-se filho de Deus. Louve e agradeça, pois foi graça e não mérito seu. A contemplação dos mistérios de Deus é uma graça, um dom gratuito, que requer apenas uma atitude de recolhimento, abertura, aceitação, abandono e confiança. Então se recolha ao mais íntimo do seu coração. Abandone-se no Amor. Confie n’Aquele que só sabe amar e deseja habitar em nós transformando-nos na imagem do Seu Filho. Termine este momento, anotando em seu caderno as graças recebidas para que nada se perca. Jesus eu tenho confiança em vós! Shalom!
amar
Amar o próximo como a si mesmo quando o próximo é amigo, é até fácil de entender e aceitar. Agora amar os inimigos, os que nos odeiam, amaldiçoam, difamam, roubam ou tomam o que é nosso é coisa totalmente inédita.
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Arte E Espiritualidade
Jesus Cristo O Pantocrator de Monreale Quando se entra na catedral de Monreale, um êxtase de maravilha e estupor toma conta do peregrino que fica sem fôlego e sobrelevado pelo senso da beleza e grandiosidade. São 8.000 m² de mosaicos coloridos e de ouro.
Cassiano Azevedo Missionário da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE
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ma palavra sobre a Guglielmo II (1172-1189) que a mina os olhares dos que entram Catedral e o entor- ofertou à Virgem Mãe de Deus. no templo. no de Monreale. Sua arquitetura é uma fusão das As proporções da imagem são A harmônica dis- influências da civilização ociden- impressionantes: a cabeça com posição das linhas arquitetônicas, tal latino-germânica, do Oriente a barba mede 3m; a mão direita a profusão dos mosaicos ico- bizantino e árabe. mede 1,80m, sendo 7m a altura tonográficos e a rica tal e 13,30m a largura simbologia fazem total até a base. A Catedral de Monreale foi construída deste edifício um A sua cabeça é durante o reinado de Guglielmo II dos mais sacros e envolvida por um (1172-1189) que a ofertou à Virgem Mãe belos do mundo. nimbo de ouro cruEstá situado no de Deus. Sua arquitetura é uma fusão das ciforme onde está vértice do monte influências da civilização ocidental latinoescrito à direita e à Caputo sobre um esquerda em grego: germânica, do Oriente bizantino e árabe.” platô que domina a Jesus Cristo o Panconcha d’ouro, chatocrator. Ele estende mada assim porque quando o sol Descrição e interpretação da obra a mão direita e abençoa ao modo bate nas plantações de laranjas da A grandiosa imagem do Cristo grego segurando os dois últimos sua encosta, percebem-se reflexos Pantocrator (Onipotente), centro dedos com o polegar indicando dourados. De sua torre se vê o de convergência do Antigo e do o número oito; isto significa que golfo de Palermo, a concha d’ouro Novo Testamento está repre- a primeira criação foi feita em e a vizinha cidade de Palermo, sentada em mosaicos na imensa seis dias e no sétimo descansou; capital da Sicília, a maior ilha ábside (1 quarto da esfera) do enquanto a nova criação feita pelo meridional da Itália. presbitério, no centro de toda a sangue do Cordeiro de Deus que A Catedral de Monreale foi concepção arquitetônica e deco- obedeceu até a morte de cruz foi construída durante o reinado de rativa da catedral. Daí, Ele do- restaurada num só dia, o oitavo.
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O cabelo cai nas costas por detrás das orelhas que ficam à mostra. A barba é curta deixando aparecer o queixo. Com a mão esquerda, Ele segura o livro do Evangelho aberto na página onde em grego e em latim se lê: “Eu sou a luz do mundo, quem me segue não andará nas trevas” ( Jo 8,12). Os fiéis sempre o veneraram como terrificante maravilha e o chamaram de O Pai Eterno de Monreale. Entre as várias representações do Pantocrator esta é uma das mais célebres e das mais inesquecíveis. Tem o rosto comprido, os olhos largos e penetrantes, o nariz levemente arqueado; a sobrancelha, www.edicoesshalom.com.br
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DIVINDADE
Ele veste uma túnica vermelha dourada que simboliza a humanidade e um manto azul que traduz sua divindade. o olhar, o bigode e a boca direita compreendem uma expressão severa de justo juiz, enquanto o conjunto esquerdo nos transmite a misericórdia. A imagem de Cristo adulto aparece nos mosaicos da catedral por 67 vezes e todas são do mesmo tipo, tanto nos lineamentos do rosto como no modo de pentear os cabelos. O mesmo vale para a roupa e os calçados que não variam se não em poucos casos. Aqui se quer exprimir antes de tudo a sua natureza humana e a sua paixão indicada pela cruz representada no nimbo; depois, a sua missão entre os homens, expressa nas palavras do Evangelho e, enfim, a sua divindade recordada pelo título de Pantocrator. O seu olhar chega a cada ponto e a cada ângulo da igreja e permanece impresso de modo incancelável. Ele veste uma túnica vermelha dourada que simboliza a humanidade e um manto azul que traduz sua divindade. A luz sai de seu Corpo como em toda representação iconográfica dos santos, pois nos lembra que todos nós receberemos um corpo glorioso como o de Cristo. Seu pescoço é muito grosso, pois sua garganta está cheia do sopro do Espírito Santo a ser ministrado para a Igreja. Ele é o Ressuscitado que por ter passado pela Cruz, recebe do Pai o domínio sobre todo o universo para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos seres celestes, terrestres e dos que vivem sob a terra e para glória de Deus, o Pai, toda língua confesse: Jesus é o Senhor Pantocrator. Que assim seja!
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Fé E RAzÃO
O primeiro
Mandamento
Interrogado sobre qual é o maior Mandamento da Lei, Jesus respondeu: “Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro Mandamento. O segundo é semelhante a esse: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”1. Jesus ensina-nos, portanto, que o amor é a plenitude de toda a Lei.
Josefa Alves Missionária da Com. Católica Shalom em Aquiraz/CE
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abemos, porém, que o amor não é sentimento, mas ato livre da vontade, fidelidade à aliança que tem em Deus a sua fonte e o seu modelo. Poderíamos nos perguntar: “Por que o amor é apresentado como uma lei, um mandamento, algo que devemos obedecer?” A resposta a esta pergunta, segundo Santo Agostinho2, é que existem dois modos de induzir o homem a fazer ou não certa coisa: por constrição, com a ameaça do castigo, ou por atração. O amor o induz do segundo modo. Somos atraídos por aquilo que amamos. Neste sentido, o amor é uma lei, um mandamento, que cria no homem um dinamismo que, espontaneamente, o leva a amar e a fazer a vontade de Deus, a amar tudo aquilo que Deus ama. Eu sou o Senhor, teu Deus Primeiro Deus libertou o povo da escravidão do Egito (Ex 1-15),
depois se revelou como o artífice daquele milagre fundamental e central da história do povo eleito, selando com ele uma aliança (Ex 24,3-18); e de forma ainda mais admirável, única e definitiva, deuse a conhecer por meio da Encarnação e da obra redentora do Filho. Diante desta incomparável doação de amor, a única resposta lógica que o homem pode dar a Deus é a fé, numa adesão livre e total: “com todo o coração, com toda a alma e de todo o entendimento”. Portanto, ao Deus que se doa totalmente, a resposta mais completa do homem é a doação total de si por meio da fé, da esperança e da caridade. As virtudes teologais como resposta ao primeiro mandamento O primeiro mandamento “abrange a fé, a esperança e a caridade”3, portanto, na vivência das virtudes teologais, o homem
chega a Deus, seu princípio e fim último, e dá a Ele a adoração que lhe é devida: “Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele prestarás culto” (Mt 4,10). A adoração, por sua vez, não pode ser um ato privado, pois tem caráter de culto (latria) a Deus. A fé, como resposta a Deus, é a fonte da nossa vida religiosa, moral e espiritual (CIC 2087), e não devemos considerá-la como um salto no escuro ou como conhecimento puramente intelectual de verdades reveladas. Ela é um dom de Deus, do Deus que ama, salva, cura e perdoa. O Catecismo nos ensina que crer em Deus consiste em dar testemunho dele (cf. CIC 2087). Devemos ainda, conhecer e nutrir a nossa fé, de forma afetiva e efetiva, pois a virtude da fé se manifesta e se fortalece em cada ato do cristão. www.edicoesshalom.com.br
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Em Mt 10,32, Jesus nos diz que indiferença, a ingratidão, a tibieza, aspecto: 1. deve ser exercitada em a fé deve ser confessada. Portanto, a acídia ou preguiça espiritual e o espírito e verdade, na humildade renegar a fé é, por si só, um pecado ódio a Deus. e em espírito de dependência de mortal. Na primeira parte do primei- Deus. 2. a adoração liberta o ho“O primeiro mandamento ro mandamento, contemplamos mem de si mesmo, do pecado e do manda-nos alimentar e guardar Deus como nosso único Senhor mundo.10 com prudência e vigilância nossa a quem adoramos e servimos A oração é uma das condições fé e rejeitar tudo o que se lhe por meio das virtudes teologais. indispensáveis para podermos obeopõe.”4 Na segunda parte contemplamos decer aos mandamentos de Deus11 O mesmo Deus a quem de- Deus como nosso único Senhor, e nasce da necessidade que o coravemos amar é também o objeto o único a quem se deve o culto ção humano tem de estar unido ao da nossa esperança. Segundo São sagrado. A virtude da religião nos seu Criador. De fato, como disse Santo Agostinho, o Paulo, o conteúdo nosso coração estará da nossa esperança é Na primeira parte do primeiro inquieto enquanto a revelação da glória mandamento, contemplamos Deus não repousar em do Cristo RessusciDeus.12 tado e a transforma- como nosso único Senhor a quem adoramos e 5 ção do mundo. O servimos por meio das virtudes teologais.” Outros atos da primeiro mandavirtude da religião mento também visa são: o sacrifício, que os pecados contra a esperança, que dispõe a tal veneração. Esta virtude deve ser sempre uma expressão são o desespero e a presunção; pois é o laço que liga o homem a Deus do sacrifício espiritual de quem o quando amamos a Deus acima de (religião vem de religio = religar), cumpre. Todos os nossos sacrifítodas as coisas e o adoramos com fonte de todo bem; por meio dela cios, se unidos ao único e definitivo a nossa vida, cremos no seu amor o homem reconhece e confessa sua sacrifício de Cristo na cruz, adquie Nele esperamos salvação, alegria, dependência de Deus através de rem valor pleno e contribuem para consolo, sabedoria, porque Ele é atos interiores e exteriores. a edificação do corpo de Cristo: as fiel e não permitirá que sejamos O primeiro ato da virtude promessas, os votos, o dever social tentados além das nossas forças.6 da religião é a adoração, ou seja, e o direito à liberdade religiosa. Quanto à virtude teologal da “reconhecê-lo como Deus, como Somente na obediência ao pricaridade, que é a maior,7 ela é o Criador e Salvador, o Senhor e o meiro mandamento que o homem fundamento de toda a nossa vida Dono de tudo o que existe, o Amor será plenamente livre. O Deus moral e, segundo S. Tomás de infinito e misericordioso. “Adora- amor, é um Deus pessoal, que Aquino, o amor a Deus faz com rás o Senhor, teu Deus, e só a Ele ama o homem, ao mesmo tempo que o homem viva a vida de Deus prestarás culto” (Lc 4,8), diz Jesus, Ele é o Altíssimo, o Eterno, acima e, pelo amor, seja transformado no citando o Deuteronômio (6,13).”9 de todas as categorias humanas; é amado8. O Catecismo expõe como A adoração (cultus latriae) é devi- o Criador do Céu e da terra e o pecados contra o amor de Deus, a da somente a Deus e tem duplo Redentor do homem; é o Único.
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A esse Deus, somente a Ele o homem deve adorar. É por meio da adoração ao Deus Único que a vida humana é unificada, visto que a idolatria é uma perversão do sentimento religioso inato do homem. O Senhor deve ser sempre o primeiro para nós, não devemos pôr nada na frente do único Deus: nem ídolos, nem superstições, nem o dinheiro, nem a nossa carreira, nem o nosso futuro, nem as nossas preocupações.
A oração é uma das condições indispensáveis para podermos obedecer aos mandamentos de Deus11 e nasce da necessidade que o coração humano tem de estar unido ao seu Criador.”
Notas 1. Mt 22,37. 2. Comentário ao Evangelho de S. João, 26,4-5. 3. CIC 2086. 4. CIC 2088. 5. Cfr. Rm 8,19-21 e 1Cor 2,9. 6. Cfr. 1Cor 10,13. 7. Cfr. 1Cor 13,13. 8. Cfr. Summa Teológica III Sent., d.29, q.1, a.3, ad 1; III Sent., d.27, q.1, a.1. 9. CIC 2096. 10. Cfr. CIC 2097. 11. Cfr. CIC 2098. 12. Cfr. Santo Agostinho, Confissões, I,1.
cURSO: EVANgELIzAÇÃO E EXERcÍcIO DA RAzÃO
Quando Deus não é o primeiro na nossa vida, caminhamos para a dúvida, a incerteza, o relativismo, o egoísmo, para a mentira, para o vazio. E dado que uma das fortes características humanas é a busca da felicidade e do amor, é necessário compreender que o amor antecede e preside a nossa existência. Mas quais são os meios pelos quais podemos conhecer este Amor, que, por ser também a Verdade, é o único que preenche os anseios do coração humano? A resposta a essa pergunta você poderá obter no curso Evangelização e Exercício da Razão, que o Instituto Parresia estará promovendo nos dias 12 e 13 de setembro em Fortaleza, e que poderá também promover na sua missão, comunidade, paróquia ou ministério. www.edicoesshalom.com.br
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SÓ FAMíLIA
A
ra virtual:
algumas repercussões na educação dos filhos Poderíamos comparar a internet com uma grande feira, ou um enorme Shopping Center, onde encontramos de tudo o que precisamos e também aquilo que nos poderia prejudicar...
Laura Martins Missionária da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE
E
stamos vivendo na era virtual. Quanta rapidez em adquirir informações! Quantas descobertas através da interatividade que liga o mundo todo entre si! Quanto lazer acessível a todos através da telinha do computador! Realmente é fantástica a evolução tecnológica do homem! Porém, é importante que o ser humano domine a máquina e não que esta o domine! Parece uma frase feita, sem maiores reper-
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cussões. Mas não é bem assim... Vejamos! Poderíamos comparar a internet com uma grande feira, ou um enorme Shopping Center, onde encontramos de tudo o que precisamos e também aquilo que nos poderia prejudicar... Quando vamos às compras, precisamos refletir sobre o que realmente precisamos, sobre aquilo que nos é ofertado nas promoções e aquilo que é realmente importante e valioso e que devemos adquirir.
BEM ESTAR
Alguns sábios afirmam, com propriedade, que tudo fora do equilíbrio, que é abusivo e excessivo, é prejudicial ao ser humano, uma vez que escasseia outras vivências necessárias ao bem estar e à felicidade da pessoa. Nossos reais valores cristãos devem ser norteadores de nosso viver, a fim de não sermos como um barco à deriva nas águas do mundo... É preciso ter na mente e no coração, o sentido da nossa vida, a fim de navegarmos nesta direção e conquistarmos a felicidade e a realização como pessoas humanas. Aquela felicidade que não se compra, ao contrário do que diz a mídia. Aquela felicidade que se constrói de dentro para fora, que nos realiza como seres humanos, criados para amar, servir, crescer e construir um mundo de paz e fraternidade. Na internet encontramos valiosos tesouros da sabedoria, impres-
sionantes e belíssimas imagens que realmente nos fazem contemplar a beleza dos seres humanos e da natureza criada por Deus! No entanto, nela também encontramos o que poderíamos chamar de lixo da humanidade, ou seja, a expressão de nossas más inclinações que favorecem o abuso hedonista e egocêntrico dos falsos valores. Estes impulsionam o ser humano a práticas violentas de desrespeito ao outro, à sua dignidade de pessoa. Não precisamos descer aos detalhes para citar tais “lixos” que às vezes são clicados ou aparecem como flashes a sugerir um click, pois toda pessoa, como ser racional, traz em si, a consciência que sinaliza os frutos (bons ou ruins) de suas escolhas a cada momento do seu cotidiano. Como nossa família tem se relacionado com a “telinha” do computador? Para sabermos, basta observar os comportamentos no cotidiano familiar: • As horas passadas no computador (a recomendação dos estudiosos do comportamento humano são duas horas para
crianças e adolescentes; para os adultos, com exceção dos que utilizam o computador como instrumento de trabalho, ou de estudo, deve ser de, no máximo, três horas); • Qualidade daquilo que estamos acessando (sites que não firam os valores que você escolheu para orientar o seu viver e a sua família); • Qualidade dos relacionamentos que estabelecemos no ambiente doméstico, ou seja, o convívio familiar onde existe diálogo, afeto, paciência, atenção cuidadosa com o outro, cumprimento das responsabilidades de cada um (trabalho, estudos, tarefas domésticas, etc.); • A qualidade no desempenho de outras atividades importantes na vida, tais como: os estudos, a atividade física, o lazer em família, os relacionamentos sociais, as tarefas domésticas, entre outros.
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FUgIR
“Na internet temos o “poder” de fugir rapidamente daquilo que nos incomoda... Nela, temos a facilidade de fantasiar, de sair da realidade concreta...”
Alguns sinais de alerta: • Irritabilidade e agressividade excessivas sinalizam estresse e cansaço mental que também são favorecidos pelo sedentarismo, pelos jogos violentos de internet e o desgaste cognitivo inerente às muitas horas passadas diante da telinha; • Fechamento e isolamento familiar; • Indiferença e individualismo excessivos; • Sedentarismo, com suas consequências, como: excesso de peso, preguiça, entre outros prejuízos à saúde. • Fadiga, sentimentos depressivos, tais como: apatia, falta de motivação para os relacionamentos sociais, desmotivação para os estudos, desvalorização da própria vida, perda de sentido existencial, entre outros; • Hedonismo (busca desmedida de prazer. Ex: comer excessivamente, vícios adquiridos na área da sexualidade, entre outros). Alguns sábios afirmam, com propriedade, que tudo fora do equilíbrio, que é abusivo e exces-
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sivo, é prejudicial ao ser humano, uma vez que escasseia outras vivências necessárias ao bem estar e à felicidade da pessoa. Alegrias autênticas e a realização plena são construídas na relação concreta com os nossos semelhantes. Para isso é necessário o convívio, pois é nele que cresce o conhecimento mútuo necessário ao crescimento como pessoa. A socionomia ensina que o indivíduo é ferido na relação e também é curado pelas relações. No convívio, ela aprende a amar, a se dar, a respeitar, a colocar-se no lugar do outro, a perdoar, a usufruir do afeto e do carinho, aprende também a solucionar conflitos, a se expressar, a dialogar, a enfrentar desafios. Na internet temos o “poder” de fugir rapidamente daquilo que nos incomoda... Nela, temos a facilidade de fantasiar, de sair da realidade concreta, que muitas vezes, se apresenta desafiadora, e exige enfrentamento.
Os jogos violentos, e certas posturas de personagens fictícios, tais como: sarcasmo, humor negro, pessimismo, desvalorização da vida (já que se mata ou morre com tanta facilidade), vão gerando sutis comportamentos de desrespeito ao fraco, ao idoso, aos pais; rebeldia; insensibilidade em relação ao que é belo e bom e à transcendência. As crianças e os adolescentes são os mais atingidos, uma vez que estão mais vulneráveis em vista de suas fases de desenvolvimento. É possível que estes, abusando dos jogos e das más influências da “telinha”, diante de uma situação limite (estresse emocional, por exemplo), reajam de forma extremamente negativa, prejudicando tragicamente a si, e aos semelhantes. O Criador nos dotou de uma grande capacidade de mudar, de evoluir e construir sempre novas vivências que nos realizem e nos tragam alegrias autênticas! É preciso buscar com criatividade tais vivências para a nossa família e, para os filhos, dentro de suas necessidades específicas, oportunizando e até provocando a adesão a atividades mais saudáveis e prazerosas também. “Arregacemos as mangas” para lançarmo-nos à busca da verdadeira felicidade e realização humanas. Sem esforço não chegaremos lá!
ASSuntO DO MÊS
A vida
ao ritmo da Palavra
“Deus se revela na sua Palavra e a Palavra de Deus deve ser, para cada membro, a suprema regra a ser vivida”. Sabendo ser essa a vontade de Deus não só para os membros da Comunidade Shalom, mas para todos os filhos de Deus, é que juntos, neste artigo, iremos descobrir a alegria e o sabor de viver no ritmo da Palavra e a ter uma relação com Deus abrindo espaço no nosso dia a dia para a ação transformadora que só Ele opera.
Gleidson Bezerra Missionária da Com. Católica Shalom em Aquiraz/CE
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ejamos dois pequenos textos dos Estatutos da Comunidade Shalom: “A Palavra de Deus é a fonte de toda a revelação (cf. Jo 17, 17b). Conhecê-la, segundo S. Jerônimo, é conhecer o próprio Cristo e desconhecê-la é ignorá-lO. Esta é a razão pela qual temos por meta a
dedicação diária do período de uma hora para orar e meditar a Palavra do Senhor. A Palavra, desta forma, é alimento e direcionamento para nossas vidas. Nosso estudo da Palavra é oracional. Aproximemo-nos das Sagradas Escrituras em espírito de oração e escuta, desejosos de não perder o essencial da Palavra de Deus, que nos foi dada
para ser vivida. Estejamos atentos para não cairmos em tentações de intelectualismos ou fundamentalismo, mas com o auxílio do Santo Espírito, apoiados na Tradição e Magistério da Igreja e utilizando o método da Lectio Divina, firmemos a nossa busca do próprio Deus e de Sua Sabedoria revelada nas Sagradas Escrituras.” (ECCSh, 36). www.edicoesshalom.com.br
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REVELAÇÃO
A Palavra é a própria fonte da Revelação, aprendendo a me relacionar com ela eu aprendo a me relacionar com o próprio Cristo, Vivo e Ressuscitado. E ainda: “Deus se revela na Sua Palavra e a Palavra de Deus deve ser, para cada membro, a suprema regra a ser vivida. Abracemos e nos submetamos a esta Palavra que nos é transmitida e interpretada corretamente segundo o Magistério da Igreja.” (ECCSh, 81) Tais textos dizem-nos o quanto a Palavra de Deus é importante e como ela deve ser vivida a cada dia. A Palavra não é simplesmente dados históricos ou apenas algo bonito ou importante. É a fonte da verdade e da vontade de Deus. Por isso, podemos afirmar que todas as pessoas que trilham um caminho de relacionamento com Deus, em que a base, a fonte e a primazia não é a Palavra, fundamenta essa relação em falsas
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imagens de Deus e, consequentemente, se relaciona de forma errada com Ele. A Palavra é a própria fonte da Revelação, aprendendo a me relacionar com ela eu aprendo a me relacionar com o próprio Cristo, Vivo e Ressuscitado. Vejamos uma maneira simples, pedagógica e eficaz de vivermos no nosso dia a dia a Lectio Divina: a vida ao ritmo da Palavra de Deus. Lectio Divina: A vida ao ritmo da vida da Palavra de Deus No dicionário ritmo significa: andamento constante e regular que permite organizar o próprio tempo. Tempo – hora, dias, semana, ano. Dentro desse entendimento podemos dizer que, se uma pessoa
está fora do ritmo, ela não está em um andamento constante e regular. Toda vida tem um ritmo, cada pessoa tem um ritmo. Cada pessoa tem um andamento constante e regular que permite organizar o próprio tempo. Então, como viver e organizar o ritmo da vida à luz da Palavra de Deus? O essencial é que dita o ritmo da vida de cada pessoa. Portanto, o ritmo da vida de cada pessoa é concebido de acordo com o objetivo que cada um tem para sua vida. Vamos dizer que se o objetivo da vida de uma pessoa é ganhar muito dinheiro, ela vai ditar o ritmo de cada dia, cada semana, cada mês e cada ano, para o seu objetivo: ganhar muito dinheiro. Provavelmente vai arriscar perder
muitas coisas, talvez seja capaz de arriscar perder até a própria família, até a própria paz, pois o objetivo da vida passa a ser o essencial da vida e o essencial da vida dá o ritmo da vida. Uma pessoa sem objetivo na vida tende a ser uma pessoa ansiosa e insegura, não sabe que ritmo ditar. Vive à mercê dos ventos de doutrina1 (cf. Ef 4, 14). O que é essencial na vida necessita de espaço. O essencial não pode ser negado nem mesmo um único dia. Tudo o que pode passar mais de um dia sem ser vivido não é essencial. O essencial é o que diariamente precisa de espaço na minha vida. Tudo gira em torno do que é essencial na vida de uma pessoa. A alimentação é algo essencial na vida, e por isso, a humanidade é organizada por esse aspecto imprescindível da vida. Todo mundo dita seu ritmo a partir do café da manhã, do almoço, do jantar. Todos têm (de uma maneira geral) o horário certo para cada refeição. Quando se compreende o que de fato é essencial na vida, significa dizer que a vida passa a ser regida por esse essencial e este tem sempre espaço no meu dia. Se é verdade que Deus é tão central e essencial na nossa vida isso significa dizer que em nenhum dia pode ser negada essa relação, o nosso encontro com Deus, pois o que é essencial na vida de uma pessoa dita o ritmo dela e ela sente falta quando não tem. Assim, a Palavra de Deus que é a fonte da Revelação, da sabedoria, da vontade de Deus deve ter espaço privilegiado na nossa vida, e não pode ser negado nem mesmo por um dia. A nossa vida necessita girar em torno da Palavra de Deus. Independente de como estejamos, o que é essencial não pode
deixar de ter espaço na nossa vida. Uma pessoa pode estar incapaz de comer, em coma, mas há uma alimentação que mesmo em coma, ela recebe. Pois a alimentação é essencial à vida. Lectio Divina: A liturgia diária em cada manhã A Palavra de Deus deve ditar o ritmo da nossa vida. Ela não pode deixar de estar presente nem mesmo por um dia na nossa vida. Se Deus é o essencial da nossa vida, logo a sua Palavra necessita falar como devo caminhar. É assim que a Igreja se organiza, porque o essencial da Igreja é exatamente buscar ser fiel à Palavra de Deus, o Verbo feito carne. Podemos dizer que ela é ritmada pelo ciclo litúrgico: Advento, Natal, Tempo Comum, Quaresma, Páscoa, Tempo Comum. Para cada tempo da liturgia existe uma palavra de Deus que dita o ritmo do tempo litúrgico. Nossa vida também é um ciclo, podemos entender cada acordar, cada dia, cada semana, cada mês como um ciclo. E assim como na Igreja, esse ciclo necessita ser ritmado pela Palavra de Deus. Precisamos entender que no começo do meu ciclo, ou seja, a cada manhã, Deus nos chama. Ele nos chama através da sua Palavra, da liturgia diária. E essa liturgia diária deve ditar o ritmo de cada dia. A cada dia Deus nos chama e pede algo de nós. A liturgia de hoje dita o ritmo do meu dia hoje, pois ela não nos pede algo para amanhã. Hoje devo responder ao que Deus me pede. A Palavra de cada dia deve dar o sentido e direção ao mesmo. Vejamos quatro passos importantes para deixar que a Palavra de Deus dê ritmo a nossa vida.
hoje
A liturgia de hoje dita o ritmo do meu dia hoje, pois ela não nos pede algo para amanhã. Hoje devo responder ao que Deus me pede.
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compromisso
O que Deus estar a manifestar através da sua Palavra deve ditar o ritmo daquele meu dia e devo viver os compromissos iluminados pela Palavra de Deus que é uma lâmpada para os meus pés.
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Primeiro passo: Lectio Matutina A Palavra de Deus que nos é dirigida pela Igreja hoje (através da liturgia diária) vai dizer para onde devo caminhar. A cada manhã essa liturgia diária precisa ser lida e meditada e esse primeiro contato é como que o “bom dia” de Deus para nós. Como algo essencial, necessita ser uma das primeiras coisas a serem feitas na nossa vida. O primeiro passo da minha Lectio Divina é então a minha Lectio matutina, ou seja, reservar na minha manhã um horário para ler e rezar com essa palavra. Não podemos “sair da nossa casa” sem esse bom dia de Deus. Com esse primeiro contato, Deus vai dar uma direção clara para o meu dia. Deus vai dizer a sua sabedoria para o meu dia. Por isso, esse primeiro contato é tão importante, pois podemos apenas viver à mercê da nossa organização, dos nossos compromissos, do que achamos importante e não inserirmos em meio a tudo isso a sabedoria de Deus revelada na sua Palavra de cada dia. O que Deus estar a manifestar através da sua Palavra deve ditar o ritmo daquele meu dia e devo viver os compromissos iluminados pela Palavra de Deus que é uma lâmpada para os meus pés (cf. 119,105). Por exemplo, se eu rezo hoje com a Palavra de ICor 13 que fala da caridade, do amor, posso compreender que a caridade é o ritmo que devo viver hoje. Durante todo o meu dia devo buscar viver a caridade, de forma ainda mais intensa, em meio as minhas atividades diárias. A maneira como vou viver essa caridade é o próprio Deus que vai nos dizer por meio da sua Divina Providência. Porque Ele é o essencial. A cada um de nós cabe neste dia viver a caridade, porque
esta foi a Palavra que Deus me deu para viver. Dei esse exemplo da caridade, mas o ritmo, a sabedoria de Deus depende da Palavra do dia, depende da liturgia diária. Deus pode nos dar uma palavra de louvor, de combate espiritual, de provação, de convite a uma oração mais larga, de testemunho, de um novo chamado a carregar a Cruz, de eleição, etc. Deus sabe o que cada um necessita e qual a sua vontade para cada pessoa. O importante é de maneira direta e objetiva ser regido pela Palavra de Deus em meio às atividades de cada dia. Não podemos ser guiados simplesmente pela nossa agenda pessoal, ou pela nossa organização de cada dia. Isso tem seu valor, mas está abaixo da sabedoria de Deus revelada nas Sagradas Escrituras. Vivendo essa experiência experimentamos como Deus está vivo, como o que Ele me fala ganha sentido durante todo o meu dia. Se Deus me fala de serviço e caridade, então minha regra suprema a ser vivida naquele dia é o serviço e a caridade. Devemos sair da nossa Lectio matutina com uma Palavra que Deus nos deu naquele dia, uma Palavra que deve governar o nosso dia. As coisas do ordinário vão continuar, mas o foco da nossa vida é a fidelidade à Palavra que nos foi dada. Devemos sair da Lectio matutina com um foco que dite o ritmo do nosso dia. Segundo passo: A Lectio escrita As Sagradas Escrituras são a revelação de Deus de forma escrita. Segundo Amadeo Cencini “A escrita é a forma mais profunda e elevada de manifestar um pensamento”, por isso, Deus se manifesta pela Palavra escrita. Por isso, o segundo passo da Lectio é a escrita.
Após essa Lectio experimentamos em tudo que Deus é vivo. No nosso trabalho, nas circunstâncias do dia a dia, nos imprevistos contemplamos a Deus que é vivo e presente. Deus nos dará oportunidades para vivermos o nosso rhema.”
Se, por exemplo, eu rezo com ICor 13, eu devo ler pelo menos umas três vezes essa passagem e depois dessa leitura devo ficar com um versículo ou uma palavra mais forte. Depois da leitura, o passo seguinte é transcrever para um caderno o versículo e o que compreendo de direção de Deus para mim através desse versículo. É importante não somente pensar e refletir, mas escrever. Devo escrever tudo o que a Palavra está gerando, o que me faz recordar, entender, pensar, lembrar, rezar, etc. A Palavra de hoje, da liturgia diária tem um efeito para hoje. A Palavra de Deus deve me governar hoje. O que Deus me disse hoje tem efeito hoje, sua salvação tem poder hoje, é a sua vontade hoje. Preciso terminar o momento da Lectio escrita sempre com uma direção muito clara. Devo sair com uma decisão: a palavra final fruto do que Deus me disse. Podemos escolher um rhema, uma direção. Após essa Lectio experimentamos em tudo que Deus é vivo. No nosso trabalho, nas circunstâncias do dia a dia, nos imprevistos vamos contemplamos a Deus que é vivo e presente. Deus nos dará oportunidades para vivermos o nosso rhema. A Virgem Maria é nosso grande exemplo de alguém que acolheu a Palavra: “Faça-se em mim segundo a vossa Palavra”. Maria acolheu a Palavra, e foi visitar a sua prima Isabel por obediência a Palavra de Deus. Vemos nas atividades da Virgem Maria os frutos e as provas da Palavra de Deus em sua vida. Vemos a prova que passou com São José, vemos João Batista estremecer no ventre de sua mãe, vemos a Palavra se cumprir, vemos a vontade de Deus em sua vida e essa vontade purifica e santifica.
A Palavra vem ao encontro da nossa necessidade, vem nos falar e vem gerar vida e ressurreição. A sabedoria revelada na Sagrada Escritura desta palavra que Deus me deu hoje é para hoje. Esse é o princípio da liturgia diária, significa liturgia para cada dia, uma palavra, uma fonte, uma ação de Deus para cada dia. Terceiro passo: A Palavra continuada A Palavra que me foi dada na minha oração e que se tornou escrita em meu caderno de oração deve se encarnar na minha pequena e humilde história, que é a história daquele dia, do acordar ao dormir. Aqui a Palavra se torna fato, acontecimento, verdade. Foi o que também aconteceu com a Virgem Maria. A Palavra de Deus não se torna vida em mim apenas no momento da minha Lectio, mas é uma obra de Deus que acontece durante todo o meu dia. O momento da Lectio é, sobretudo, o momento de acolher, de compreender, de entender o que Deus está dizendo, mas não é nesse momento que acontece toda a ação de Deus. Maria nos ensina a todos os dias dizer aquela Palavra que nos foi dada “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. A manifestação desse ‘faça-se’ é durante o dia, é a Palavra continuada que não pode em nenhum instante sair do nosso pensamento, em tudo que formos viver e fazer. Tudo deve ser baseado, governado e regido pela Palavra acolhida na minha oração. A Palavra dada pela manhã deve me reger durante todo dia. Um dia em que não conseguir fazer esses passos pela manhã (lectio matutina e escrita), preciso, pelo menos, fazê-la durante alguns minutos. www.edicoesshalom.com.br
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Não posso começar o dia sem saber o que Deus quer de mim. Posso, por exemplo, na missa pela manhã sair com um versículo e me deixar reger por aquela liturgia. O momento da Lectio é sempre o acolhimento da obra de Deus nunca a obra de Deus completada. Não termino uma Lectio dizendo o que Deus fez. Ele falou e eu acolhi. Agora Deus vai fazer durante minha pequena e humilde história, vai realizar a sua Obra de amor. Naquele dia devo apostar na Palavra, ela deve reger as minhas escolhas, discernimentos, tudo que vou fazer e viver, acontecimentos e etc. Nossa resposta ao ritmo daquele dia não pode ser fruto somente da
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nossa inteligência, da reflexão, do que achamos melhor, mas sim fruto da sabedoria de Deus. A Palavra continuada ganha vida, tem poder na nossa vida. Experimentamos do Cristo Vivo e Ressuscitado, Ele que governa a nossa vida, Ele que vem sobre nós. Por isso, devo sempre diante de tudo o que vou decidir, discernir, viver naquele dia; trazer em minha mente e em meu coração a Palavra que Deus me deu. Essa é a Lectio continuada, a Palavra de Deus que se faz carne ao longo da minha pequena história. Passamos assim a depender de Deus, não podemos viver um dia sequer sem saber o que Deus quer de nós. Isso é depender de Deus,
é estar abandonado em suas mãos. É decidir a nossa vida de cada dia a partir da Palavra, ao passo que viver sem a Palavra é viver segundo o nosso pensamento, que pode ser bom, mas pode não ser a sabedoria de Deus. A sabedoria de Deus muitas vezes é loucura para os gentios, estranha aos pagãos, é insensatez para o mundo grego e os gentios. Os pagãos e os gregos podem estar dentro de nós, mas até para estes, Cristo é poder de Deus, sabedoria de Deus. Vamos aprendendo a nos submeter, vamos aprendendo a obediência a Deus (cf. Hebreus). Deus pode nos pedir algo muito difícil naquele dia, mas
devemos acolher a palavra e dizer “Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Temos sempre que depender de Deus e não da nossa força, a obra vem de Deus cabe a nós acolher, deixar aquela Palavra nos reger. Obediência a Deus, não a nossa inteligência. Esse é um exercício que nos leva a santidade e o objetivo a nossa relação com a Palavra de Deus é exatamente a santidade. Quarto Passo: Lectio noturna No final do nosso dia podemos terminá-lo com as completas2 ou com uma revisão de vida. Muitas vezes corremos o risco de vivermos este momento de maneira infrutífera, seca, porque fazemos pensando no nosso dia, no que fizemos de errado. A nossa revisão de vida, nosso Kyrie Eleison (Senhor tende piedade), nosso último grito do dia, deve levarnos a rever se fomos fiéis ou não ao que Deus nos pediu naquele dia. Assim, nossa revisão de vida tem razão de ser. Então nosso ato penitencial não será um momento de lembrarmo-nos do nosso dia, do que fizemos de errado, mas sim revisarmos o grau da nossa obediência a Deus. Vamos rever nosso dia e ver todas as infidelidades que possivelmente cometemos tendo como referência a voz de Deus, o que Ele me falou nesse dia, o que Ele manifestou. Se Deus me pediu serviço naquele dia, então devo recordar as vezes em que eu não o fiz. Nosso pedido de perdão será a nossa falta de serviço. De maneira mais profunda devemos pedir perdão pela falta de obediência a Deus, que é o maior de todos os nossos pecados. É assim que entra o mal no mundo. Sempre vamos ter ao final da noite que clamar a misericórdia
de Deus porque é difícil sermos fiéis ao que Deus nos disse pela manhã até o fim do nosso dia. Somos levados pelas paixões, pelo que pensamos, pela nossa inteligência. Muitas vezes damos um jeito, burlamos o que Deus nos disse, tomamos uma decisão de manhã, mas à tarde nós seguimos outro caminho. No fundo é a nossa independência, nosso orgulho, nossa fraqueza. Nossa revisão de vida é para clamar a misericórdia de Deus pela falta de obediência. Terminamos o dia clamando a misericórdia. Terminamos o dia também nos alegrando pelas vezes que conseguimos ser fiéis. E assim podemos cantar: “Deixai, agora, vosso servo ir em paz, pois meus olhos viram a vossa salvação” (Lc 2, 29-31). Nossa vida termina neste momento quando o ritmo daquele dia acaba. Assim vamos aprendendo a viver a teologia do hoje que Cristo nos fala no seu Evangelho (cf. Mt 6, 34). Se acordarmos no outro dia é porque Deus tem outro plano, outra Palavra e uma obra a realizar. E no final de cada dia devemos dizer: “Deixai agora vosso servo ir em paz” e no começo de cada dia escutar o “bom dia” de Deus. Dessa forma vamos viver uma Lectio Divina rica e profunda. Uma Palavra viva e ressuscitada, que tem poder, atua e realiza grandes coisas em nossa vida. É o Cristo Vivo e Ressuscitado que nos fala de manhã e opera milagres durante todo o nosso dia. Notas 1. Vemos no mundo de hoje muitas pessoas buscando felicidade fora de Deus ou buscando um Deus que faça a sua vontade. Vemos pessoas fora do ritmo de Deus e da sua vontade. 2. Liturgia das horas. www.edicoesshalom.com.br
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CONVERSANDO COM SCIADINI
Se tu és... É uma noite agitada. Hoje, não tive aquele equilíbrio necessário no trabalho, trabalhei demais e concluí pouco, me achando dono do tempo e afinal o tempo me dominou por completo.
Frei Patrício Sciadini, ocd Diretor do Centro Teresiano de Espiritualidade, na cidade de São Roque/SP
C
oisas que acontecem a todos nós, pobres mortais. E quando se chega a fazer o exame de consciência no fim do dia, aquela avaliação rápida, mas sincera de como foi o dia, o que ganhamos e o que perdemos e no que empatamos, nos encontramos mais ou menos em déficit. E isto não nos faz bem. Comecei a rezar e me veio à mente um gesto dos Padres da Igreja. Não lembro o autor que diz: “Se tu és...” Se tu és Simão de Cirene: assume a tua missão com alegria, sabendo que tu és chamado a ajudar a carregar também a cruz que não é tua, para que o outro consiga continuar o caminho. Tu não tens
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vontade de carregar nem a tua cruz e tampouco a dos outros, mas alguém te obriga a carregar a cruz. E tu o fazes. Mesmo obrigado, a cruz carregada com amor pode tornar-se leve e te fazer sentir algo de grande no teu coração, te fazer descobrir o mistério da solidariedade. Se tu és Pedro: que na tua vida renegaste Jesus e disseste gritando com toda a voz que não pertence ao seu grupo, que não sabe quem é e que nunca o viu, e por medo continuas a negá-lo vergonhosamente, não desanimes porque um dia Jesus passará perto de ti como passou perto de Pedro e o teu olhar se encontrará com o dele e aí tu te converterás e assumirás a coragem de seguir Jesus e viver
até a morte por ele. Não importa se tens fugido para longe, voltarás como Pedro e serás rocha e pedra para os demais. Se tu és Zaqueu: que tens medo de ti mesmo, da própria situação, mas tens no coração o desejo de ver Jesus porque ouviste falar dele, tu correrás bem à frente e subirás numa árvore para ver e não ser visto. SE ÉS pequeno de estatura moral, quem sabe injusto, ganancioso, amante do prazer e da bela vida, às custas dos outros, não desanimes, saibas que Jesus olhará para o alto e vendo-te ridículo entre os ramos da árvore da vida, te convidará a descer porque ele, hoje, “quer ficar na tua casa”. É necessário que
AMOR
O amor de Deus é maior que o teu pecado e um dia você vai deixar cair das tuas mãos as pedras prontas para serem lançadas contra todos os pecadores e pecadoras. entre em nós a salvação através do encontro com Cristo. Se tu és de coração duro, hipócrita como os fariseus e como os mestres da lei e passa o teu tempo para encontrar razões que justifiquem os teus pecados e o que fazes, se tu também “arma armadilhas” para pegar Jesus e assim mostrar tua superioridade, não perca a coragem. O amor de Deus é maior que o teu pecado
e um dia você vai deixar cair das tuas mãos as pedras prontas para serem lançadas contra todos os pecadores e pecadoras, o questionamento de Jesus vai te desarmar e serás obrigado como tantas vezes eu fui, a dizer: “Senhor, tende piedade de mim!” Se tu queres ser como Jesus, levanta-te e anda! Não pares de buscar a verdade, passa como Jesus a tua vida amando, perdoando a
todos! Passa fazendo o bem, partilhando a cruz do outro, assumes a cruz como dom e amor. Não tenhas medo das derrotas e das dificuldades, sê como Jesus que corre atrás dos discípulos que se afastam, dos pecadores, enfim, da ovelha perdida. Não devemos gastar nossas energias no que se é, mas sim, no que queremos ser. E todos nós queremos ver e ser como Jesus. www.edicoesshalom.com.br
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Liturgia das horas: O encontro com o Cristo Ressuscitado Rezar a Liturgia das Horas (LH), ou antes chamada Ofício Divino ou Breviário, não é somente um chamado para os padres, religiosos, monges, enfim, mas para todos os batizados, como bem ensina o Concílio vaticano II. 30
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Foto: Augusto F. Oliveira
LItuRGIA E SACRAMEntO
Márcio André Teixeira Barradas Missionário da Com. Católica Shalom em Aquiraz/CE
T
odos nós, não por súplica para a salvação dos homens. é o louvor proposto pela recitação obrigação, mas por Os Apóstolos e as comunidades diária da oração da Liturgia das amor a Deus, somos primitivas cristãs também seguiram Horas que cada batizado é chachamados a rezar os passos de Cristo. Nós, batizados, mado a viver. uma oração litúrgica. Unindo- também somos chamados a orar Ato de Cristo, se assim a toda Igreja, a fim de sem cessar. Dentre as diversas forSacerdote celeste santificar e consagrar o seu dia, mas de oração Cristã, a Igreja dá “Cristo está presente em toda a e também unir-se de forma mais preferência à oração litúrgica, na oração verdadeira, mas está, sobreplena a Cristo. Seja no acordar, qual reconhece “natureza muitíssitudo, na oração litúrgica da Igreja, ao surgimento de um novo dia, mo superior” em relação às outras na qual e com a qual também ele rezando as Laudes, no fim da tarde, (SC 13). Para o maior louvor a suplica e salmodia” rezando as Vésperas, (SC 7; IGLH 13). O Cristo está presente em toda a oração ou ainda, no fim da sacerdócio de Cristo verdadeira, mas está, sobretudo, na noite, antes do sono, deu-se de uma forrezando as comple- oração litúrgica da Igreja, na qual e com a qual ma pela a sua oração tas. Por isso vamos também Ele suplica e salmodia.” de louvor a Deus e refletir em cinco súplica em favor aos pontos acerca da importância da Deus, a Igreja dispõe somente da homens, e que esse aspecto do saLH para a vida de todo batizado: Liturgia das Horas que exprime cerdócio de Cristo encontra-se de plenamente a Igreja orante como tal Consagração forma particular na oração litúrgica e a sua permanência constante na do tempo da Igreja (SC 7), por isso o sacerdóoração e que “A LH é o exercício e A história da LH tem como a realização mais elevada da missão cio de Cristo não é cessado aqui na princípio o exemplo e mandamen- perene orante confiada por Cristo à terra, mas é prolongado e realizado por nós e a LH propõe aos fiéis to de Cristo, que é a participação sua Igreja” (IGLH 10; 13). esse caráter de rememorar a vida de no mistério salvífico e no êxodo O caráter escatológico da oração levada por Jesus, concorrendo pascal de Jesus. E assim, Jesus, os Liturgia das Horas para a salvação dos homens. apóstolos e os primeiros cristãos Como será a oração da Igreja rezavam usando os salmos (cf, Mt Fortalecimento ascéticono céu? Essa pergunta que deve 27,46; Lc 23,46; Cl 3,16). Com místico e apostólico isso, a LH refere-se à oração em mover os nossos corações enA LH capacita os fiéis nas lutas que se realiza em cada momento quanto habitantes aqui na terra já e difi culdades no caminho de santiespecífico do dia, santificando-o pode ser respondida aqui mesmo dade, que são apresentadas ao longo e consagrando-o como realidade na terra, já que, se a LH tem o seu do dia, fazendo crescer no caminho fundamental da nossa existência, caráter horário, também tem o das virtudes e enriquecendo-nos para que em determinados mo- seu caráter escatológico, pois se “a na graça. Da mesma forma, vem mentos do nosso dia possamos materialidade sacramental e a sua a nos encorajar no nosso caminho rezar em unidade com toda a eficácia regeneradora, cessará no apostólico, já que o auxílio divino Igreja, e que no nosso coração e paraíso, porém o louvor perene de é indispensável nesse caminho de em nossos lábios não cessem os Deus será a função eterna e jubilosa na assembleia celeste. A LH serviço da vinha do Senhor. Assim, louvores devidos a Deus. ocorre neste meio de glorificação a atitude de fé e escuta da Palavra Igreja é tida como contínua, que, sublimada e trans- de Deus, louvando e suplicando a Comunidade Orante figurada, jamais cessará” (IGLH Deus ao longo do nosso dia, nos faz Cristo é o modelo da fidelidade 15- 16). Assim, o Louvor que não dar o sentido de toda a nossa luta da oração ao Pai como caminho se acabará que é a oração no céu, e da nossa oferta diária, renovando de Louvor contínuo a Deus e de sob esse caráter universal e perene, as nossas forças e dando a certeza www.edicoesshalom.com.br
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que não estamos lutando sós, pois Deus fala concretamente por meio da sua Palavra e nos une com toda a Igreja. Os elementos da
Liturgia das Horas
A LH é introduzida pelo Invitatório, que consta o verso: “Abri os meus lábios, ó Senhor, e minha boca anunciará o vosso Louvor” (Salmo 94). Assim, os fiéis são convidados a cantar os louvores a Deus e se abrirem à escuta da Palavra de Deus, sendo que podem ser substituídos pelo salmo 99, 66 ou 23. A LH dispõe também dos Hinos (principal elemento poético de criação eclesiástica), que são destinados aos louvores a Deus porque contém elementos populares que expressam muitas vezes mais claramente do que outras partes da LH, dando o verdadeiro sentido de cada hora canônica e o sentido piedoso da celebração litúrgica. A Salmodia reflete uma riqueza insuperável aos fiéis na LH, já que nos apresenta os salmos para meditarmos e rezarmos por conta da “virtude que é dada de elevar a mente dos homens a Deus, despertar piedosos e santos afetos, ajudá-los maravilhosamente a agradecer na prosperidade e dar-lhes na adversidade consolo fortaleza e ânimo” (Introdução Geral à Liturgia das
Horas). Quem salmodia, abre-se ao sentimento dos salmos, seja de lamentação, louvor, confiança, ação de graças, ou outros gêneros. Por isso, quem salmodia não faz tanto em nome próprio, e sim da Igreja e do próprio Cristo, pois muitas vezes reza salmos de lamentação quando está feliz ou reza salmos de júbilo quando está triste. A LH apresenta três elementos que auxiliam a compreensão dos salmos: os títulos, as orações sálmicas e as antífonas. Os títulos, a luz do Novo Testamento e dos Padres da Igreja, dão um convite a rezar com o salmo num sentido cristológico; presente no suplemento do livro da LH, as orações sálmicas a fim de ajudar a recitar e interpretar os salmos no sentido cristão; As antífonas ajudam-nos a destacar determinado pensamento digno de atenção que pode nos passar despercebido, e também
Seu auxílio
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pode tornar mais agradável a recitação dos salmos. Os cânticos do Antigo Testamento e do Novo Testamento também compõem dentre os elementos da LH, sendo que entre os salmos intercala-se um cântico do Antigo Testamento ou do Novo Testamento, na oração da manhã e da tarde respectivamente. Após a salmodia há a leitura do Apóstolo, que é uma breve citação de alguma Carta Paulina, e que se conclui com os cânticos evangélicos do Benedictus, Magnificat, Nunc Dimitis. Por fim, a LH contém ainda a Leitura dos Padres da Igreja, Preces, Oração do Senhor e Oração conclusiva. Para melhor compreensão sobre os elementos da LH, nos artigos dos próximos meses será explicada especificamente cada oração das LH: como rezar as Laudes (oração da manhã), Vésperas (oração do fim da tarde) e Completas (oração da noite).
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Atualidade
A Cabana. De qual deus fala o livro? Recebi uma análise bem interessante de alguém que leu o livro e percebeu muita coisa contraria à fé católica. Como esse livro tem sido muito comentado e muita gente boa tem lido, estamos publicando a análise que virá dividida em três edições da Revista.
Carmadélio Souza Missionário da Com. Católica Shalom em Fortaleza/CE
E
ssas analises vão ser importantes para nos ajudar a: – Perceber nas entrelinhas do livro, ou em outros que venhamos a ler, a ideologia de esvaziamento de pontos essenciais de nossa fé católica; • Ajudar-nos a perceber nossa atitude diante daquilo que lemos, principalmente em obras de cunho religioso ou “autoajuda”, que adentram na dimensão espiritual/espiritualista que interessam a nós católicos; • Ajudar-nos a despertar o senso critico – não neurótico, mas atento – para filtrar à luz de nossa fé aquilo que vale a pena
ler ou não. A oferta hoje é tamanha e exige de nós critérios para não perder tempo, nem dinheiro, com aquilo que nada acrescenta de consistente à nossa fé ou a nossa vida. Ás vezes impressiona a incapacidade que muitos têm de não perceber, dentro daquilo que estão lendo, onde tem verdade ou não. Alguns não conseguem ver nada errado onde qualquer olhar mais atento percebe tudo! Estará em itálico o diálogo de análise e questionamento com algumas colocações feitas no livro. A proposta não é analisar todo o livro, mas apenas algumas partes
na esperança que possa despertar naqueles que ainda vão ler, se tiverem “estômago”, uma nova percepção e naqueles que já leram uma confirmação daquilo que provavelmente haviam percebido. Desnecessário se faz dizer que a análise foi feita a partir da fé católica, o que poderá tornar algumas colocações não muito claras para quem não está razoavelmente por dentro da doutrina básica de nossa fé. “A cabana” – análise do livro sob a ótica católica. a. O livro é muito bem escrito e atraente no seu enredo simples, no assunto e no estilo. A linwww.edicoesshalom.com.br
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guagem, porém, com algumas lhos tem sua caçula sequestrada e pelo Filho e pelo Espírito, quanto por citações bíblicas feitas de for- morta enquanto está sob a água, Mack. Sabemos que João Paulo II afirmas indiretas, traz uma profu- tentando salvar o outro filho, que ma que Deus é Pai e Mãe quanto ao são de sofismas capaz de iludir se afogava sob um bote. Após cuidado, ao coração misericordioso, as o leitor menos atento. (lembro quatro anos de tristeza e desilusão, entranhas de misericórdia, tão típicas que a “metodologia” do sofisma, recebe uma carta de Deus, que de uma mãe. Entretanto, o Deus que muito utilizado na filosofia se apresenta como Papai convi- Jesus nos veio revelar é o Deus que é grega antiga, consiste em tomar dando-o a voltar à cabana onde o Pai, ainda que afirme em Mt 5 que uma verdade ou duas verdades crime contra sua filha havia sido Ele tem entranhas de mãe. A justificativa do “pai” para apresentar-se como e combiná-las com uma ou cometido. Relutante, aceitou. mulher é o fato de Mack mais inverdades ter rejeição ao seu pai O livro é muito bem escrito e atraente de f o r m a q u e biológico (p. 83). Esta tudo pareça verno seu enredo simples, no assunto e mulher, entretanto, não dadeiro ou que no estilo. A linguagem, porém, com algumas é mãe, mas pai. Seus tudo pareça falso, citações bíblicas feitas de formas indiretas, traz afazeres são, segundo de acordo com o uma profusão de sofismas capaz de iludir o ela mesma, de coziobjetivo de quem nheira e governanta. sofisma). O livro leitor menos atento.” Este pai mulher traz traz em seu próAté aqui, nada anormal. A as cicatrizes de Jesus, como se o Pai prio enredo incoerências entre a trama e o que é dito pelas ficção, afinal, dá direito a todo não fosse puro espírito, mas tivesse um tipo de imaginação. O inadequa- corpo de homem, isto é, de mulher. “pessoas” da “trindade”. Em um esforço de fazer “Deus b. A editora do mesmo (e isso é do começa quando este homem, muito importante ao comprar Mack, encontra a “trindade” na mais perto de nós”, o autor acaba por ou ler um livro) dedica-se a cabana. Naturalmente, como autor, esbarrar no grotesco. Além da descrição livros de autoajuda ou assuntos Young goza o direito de utilizar sua do Pai como uma enorme negra que se não comprovados nem pelo imaginação, sua bela linguagem, autointitula governanta-cozinheira próprio livro nem pela ciência, suas descrições do Pai como uma e traz cicatrizes no corpo (???), teologia e, por vezes, o bom senhora negra que cozinha, o Filho destacam-se algumas situações espesenso. É bastante ler a lista como um judeu cujo nariz enorme ciais. Perguntado por Mack sobre que dos seus “clássicos”, na ultima o deixa feio e o Espírito como uma música estava ouvindo, respondeu: página do livro. A exceção é O moça asiática feita de luz. “Um barato da Costa Oeste”. É Ele tem o direito, sim, de imaMonge e o Executivo. ginar a trindade como um autor um disco que ainda nem foi lanO livro conta a história de um leigo ignorante da boa teologia çado, chamado Viagens do Coração, homem que, em um acampamento e eclesiologia e influenciado pela tocado por uma banda chamada nas montanhas com os f i - Nova Era, pelo Espiritismo e pelo Diatribe. Na verdade – ela piscou Relativismo. Nós é que temos o para Mack – esses garotos ainda dever de distinguir o que é bom nem nasceram. do que não é. A narrativa é tão en– É mesmo, reagiu Mack basvolvente, que os deslizes de Young tante incrédulo. – Um barato da quanto à fé, à eclesiologia e à moral Costa Oeste, hein? Não parece podem passar despercebidos para muito religioso. a pessoa mais bem formada. Veja– Ah, acredite: não é. É mais mos alguns: tipo funk e blues eurasiano com uma mensagem fantástica. – Ela veio I. O PAI O Papai é apresentado como uma bamboleando na direção de Mack, mulher (Young parece decidido a que- como se estivesse dançando, e bateu brar todos os paradigmas) e chamado palmas. Mack recuou. (!!!) de papai durante todo o livro, tanto – Então Deus ouve funk?
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– Ora, veja bem, Mackenzie. Você não precisa ficar me rotulando. “Eu ouço tudo e não somente a música propriamente dita, mas os corações que estão por trás delas.” (p. 81) Os rótulos são especialmente detestados na nova era e no relativismo, e ainda o “pai” dá uma explicação completamente esdrúxula para ter-se revelado como pai e não como mãe: “…assim que a Criação se degradou, nós soubemos que a verdadeira paternidade faria muito mais falta do que a maternidade. Não me entenda mal, as duas coisas são necessárias, mas é essencial uma
Em um esforço de fazer ‘Deus mais perto de nós’, o autor acaba por esbarrar no grotesco. Além da descrição do Pai como uma mulher enorme que se autointitula governanta-cozinheira e traz cicatrizes no corpo (???)...” ênfase na paternidade por causa da enormidade das consequências da função paterna” (p. 84). Creio que tal absurdo dispensa comentários. O autor não leva em conta o que a Bíblia e a Igreja dizem da missão do homem, do pai, da mulher e do homem na criação, na família, na sociedade. Aliás, esta é uma das características do livro. Não lhe importa o que diz a Palavra ou a Igreja e esta, como todas as instituições, são desprezíveis aos olhos da “trindade”, que orienta Mack a desprezá-las. Ao definir o que Ele é, desautoriza o que os homens pensam e definem dele (embora não cite diretamente a Igreja e os teólogos, fica implícito pelas palavras que usa). No final, felizmente diz que é “acima e além de tudo o que você possa perguntar ou pensar.”(p. 88) Na página 89, o pai faz uma afirmação capaz de fazer tremer os céus: “Quando nós três penetramos na existência humana sob a forma do Filho de Deus, nos tornamos totalmente humanos. Também optamos por abraçar todas as limitações que isso implicava. Mesmo que tenhamos estado sempre presentes nesse universo criado, então nos tornamos carne e sangue. Seria como
se este pássaro, cuja natureza é voar, optasse somente por andar e permanecer no chão. Ele não deixa de ser pássaro, mas isso altera significativamente sua experiência de vida.” E continua a confusão teológica sobre 3 Pessoas em um só Deus dizendo: “Ainda que por natureza Jesus seja totalmente Deus, ele é totalmente humano e vive como tal (!!!) Ainda que jamais tenha perdido sua capacidade inata de voar, ele opta, momento a momento, por ficar no chão. Por isso (!!!) seu nome é Emanuel, Deus conosco, ou Deus com vocês, para ser mais exata.” De uma tacada só, além de destruir o dogma da Santíssima Trindade, (somente o Filho se faz homem e, embora as outras duas pessoas estejam com ele e nele, não se pode dizer que os três se fizeram homem) atinge a união hipostática e a profecia de Isaías. A impressão que dá é que o autor “ouviu o galo cantar, mas não sabe onde”. Por mais que se queira justificar tais afirmações com o fato da intenção do autor não ser teológica, ele insiste, como outros autores de livros metade cristãos-metade autoajuda, em colocar o Evangelho, a Palavra e a Igreja a serviço de sua ideia e objetivo e não o contrário. Depois, infelizmente, vem algo ainda pior, que fazemos questão de transcrever: “ – Mas, e todos os milagres? As curas? Ressuscitar os mortos? Isso www.edicoesshalom.com.br
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MISSÃO
O autor não leva em conta o que a Bíblia e a Igreja dizem da missão do homem, do pai, da mulher e do homem na criação, na família, na sociedade.
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não prova que Jesus era Deus… você sabe, mais que humano? – Não, isso prova que Jesus é realmente humano. – O quê? – Mackenzie, eu posso voar, mas os humanos, não. Jesus é totalmente humano. Apesar de ele ser também totalmente Deus, nunca aproveitou sua natureza divina para fazer nada. Apenas viver seu relacionamento comigo do modo como eu desejo que cada ser humano viva. Ele foi simplesmente o primeiro a levar isso até as últimas instâncias: o primeiro a colocar minha vida dentro dele (??) o primeiro a acreditar (??) no meu amor e na minha bondade, sem considerar aparências nem consequências. Tal comentário, além de dizer que Jesus precisava da virtude Teologal da fé, deixa de fora todos os profetas, todos os patriarcas, João Batista, José e Maria. Desclassifica tudo o que Jesus fez, não somente os milagres, mas o milagre maior do amor de total entrega na Cruz e na Eucaristia. “– E quando curava os cegos? – Fez isso como um ser humano dependente e limitado que confia na minha vida e no meu poder de trabalhar com ele e através dele. Jesus, como ser humano, não tinha poder para curar ninguém.” (p. 90). Este é mais um golpe inacreditável na união hipostática, mas consegue piorar no parágrafo seguinte: “– Só quando ele repousava em seu relacionamento comigo e em nossa comunhão, nossa comumunião, ele se tornava capaz de expressar meu coração e minha vontade em qualquer circunstância determinada. Assim, quando você olha para Jesus e parece que
ele está voando, na verdade ele está… voando. Mas o que você realmente está vendo sou eu, minha vida nele. É assim que ele vive e age como um verdadeiro ser humano, como cada humano está destinado a viver: a partir de minha vida” (p. 90). Este é um dos sofismas mais disfarçados e sutis do livro, o que torna a afirmação aparentemente verdadeira para os mais distraídos, mas totalmente absurda para alguém mais atento: uma verdade – cada ser humano é chamado (não destinado!) e várias inverdades, a partir da primeira linha (então quer dizer que Jesus ora “repousava em seu relacionamento com Deus e Sua vontade, ora não??? Este raciocínio mentiroso é coroado com uma última inverdade: Jesus vive e age como verdadeiro ser humano. NÃO É ISSO o que Jesus quis dizer quando afirma que faz o que vê o Pai fazer, que aprendeu tudo do Pai, que Ele e o Pai são um! Jesus É totalmente homem e totalmente Deus e é um com o Pai, gerado, não criado, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus Verdadeiro. Em um dado momento, o mesmo Pai, que nos pede para não chamar o irmão de “Racca”, sob pena do fogo do inferno (Mt 5), diz: “– Homens! algumas vezes são tão idiotas! Ele não podia acreditar. – Ouvi Deus me chamar de idiota? – gritou pela porta de tela. Viu-a (“ela” é Deus) dar de ombros antes de desaparecer na virada do corredor. Depois ela (o “pai”) gritou em sua direção: – Se a carapuça serve, querido. Sim, senhor, se a carapuça serve…”
espiritualidade
Você sabe rezar o
Pai-Nosso?
Obviamente que sua resposta a essa pergunta é sim. Quem não sabe rezar o PaiNosso? Talvez você espere que, com esse título, eu esteja a ponto de dizer coisas do tipo:“Não, você não sabe rezar o Pai-Nosso porque você não sabe perdoar aos que lhe tem ofendido”.
Pe. Leonardo Wagner Missionário da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE
O
b viamente que sua resposta a essa pergunta é sim. Quem não sabe rezar o Pai-Nosso? Talvez você espere que, com esse título, eu esteja a ponto de dizer coisas do tipo: “Não, você não sabe rezar o Pai-Nosso porque você não sabe perdoar aos que lhe tem ofendido”. Bem, isso até pode ser verdade, pode até ser... Mas não é exatamente isso que eu quero lhe falar. Quero saber se você sabe dizer as palavras da oração que o Senhor nos ensinou. “Que absurdo!” – você pode protestar – “Está pensando que por acaso eu sou um analfabeto religioso? Que nunca fui ao catecismo?”. Bom, calma, claro que não penso isso. Mas tenho observado algumas
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PERDOAI-NOS
Ah, peguei você não foi? Duvido muito que a maioria das pessoas diga “perdoai-nos”. Pois é, redundante ou não, é assim que está no Missal, a versão oficial: perdoai-nos.
coisas engraçadas na nossa liturgia que ocorre, não só entre pessoas simples e de humilde condição, mas até mesmo em rádios católicas, entre as pessoas que se dizem informadas e preparadas. Não é por culpa de alguém, mas sim porque simplesmente muitas vezes não prestamos atenção a certos detalhes ou nos viciamos em erros banais.
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Vamos lá: - Pai nosso que estais nos céus... Até aqui acho que quase ninguém erra. É plural e somos mesmo habituados a dizer no plural. Uma coisa importante antes de continuar: toda oração litúrgica, ou seja, as orações oficiais, que estão nos livros litúrgicos tais como o Missal, os livros dos sacramentos, dirigem-se a Deus na terceira pessoa do plural. Preste atenção, na missa e nos diversos sacramentos só se dirige a Deus, Jesus, o Espírito Santo, com o “vós”. Esse é chamado o plural majestático, mas isso não tem importância para nós agora, o importante é saber que, na liturgia, não tratamos nenhuma Pessoa Divina com o pronome “tu” ou “você”. Voltemos ao Pai-Nosso: - Seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu. Agora sim, um erro comum, pois muita gente coloca o plural aqui, mas aqui é no singular! Então decore bem e veja se você não está rezando errado: o primeiro é “nos céus” e o segundo é “no céu”. Alguém poderia me argumentar que na Bíblia (algumas versões) coloca tudo no singular, tanto o primeiro quanto o segundo. Porém, o correto é a versão oficial, litúrgica, presente em latim e em todas as outras traduções. Nem vou comentar que tem muita gente – muita gente mesmo! – que diz assim: - Venha a nós ao vosso reino.
Meu Deus, o que quer dizer essa frase? Nada! Está completamente errada, tão errada que não tem sentido. O certo (e acredito que os meus leitores sabem) é: - Venha a nós o vosso reino. Bom, até agora eu acredito que a maioria dos que estão lendo esse artigo admita que nunca errou, e que sempre reza o Pai-Nosso como eu estou ensinando. Ok. Vamos ver agora se você diz isso: - Perdoai-nos as nossas ofensas... Ah, peguei você não foi? Duvido muito que a maioria das pessoas diga “perdoai-nos”. Pois é, redundante ou não, é assim que está no Missal, a versão oficial: perdoai-nos. Agora tente rezar lendo pausadamente o Pai-Nosso, como Jesus nos ensinou e a Santa Igreja nos transmitiu: Pai nosso que estais nos céus, santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Ah, já ia me esquecendo, na Missa não se diz o amém no final do Pai-Nosso. Espero que eu tenha feito jus ao ditado que diz que ninguém pode ensinar Pai-Nosso a vigário!
EntRELInHAS
samaritana O segredo da
Creio que valha a pena nos determos no que acontece entre o encontro de Jesus com essa mulher e a partida dela, em missão, em aberta evangelização na região onde vivia. O que acontece entre o primeiro passo e o resultado dele é o encontro de amor com o Esposo.
Elena Arruguy Sala Missionária da Com. Católica Shalom em Israel/Haifa
O
s textos do evangelho de S.João são sempre emblemáticos para quem os lê e com eles reza. Eles se entranham em nós e são fecundos de vida. A Palavra ilumina e faz
expandir aquilo que somos diante de Deus e do que Ele é para nós. Assim que fazemos a opção por Jesus, depois de uma experiência forte com o Espírito Santo, quando passamos a assumir nossa identidade de filhos de Deus e
ultrapassamos a barreira do ritualismo e da mera tradição cultural católica, descobrimos a Palavra de Deus e começamos a devorá-la. A palavra é exatamente essa: devorar. É a fome e a sede mais profunda da alma que se manifesta e que www.edicoesshalom.com.br
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a partida dela, em missão, em aberta evangelização na região onde vivia. O que acontece entre o primeiro passo e o resultado dele é o encontro de amor com o Esposo. É Jesus quem toma a iniciativa de puxar evangelizar conversa. Ele está à espera. Isso nos dá a certeza de que, como evangeEla que se lizadores, semeadores da Palavra e torna grande construtores do Reino, (aquilo que e corajosa somos chamados a ser quando asevangelizadora, sumimos a vocação Shalom), nosso papel é levar a pessoa, qualquer após ter ela pessoa, todas elas, ao encontro de mesma bebido Jesus, onde Ele a espera, o espera. da água viva Jesus espera aqueles que são seus oferecida por e lhes foram dados pelo Pai e com Jesus, e não eles trava um diálogo de verdade de, na verdade, começando um somente da água relacionamento pessoal que vai ao do poço de Jacó. encontro de tudo o que a pessoa passa a ser saciada com aquilo que sente, quais os desejos mais autên- precisa para se tornar adoradora e verdadeiramente a sacia. E o evan- ticos, que espírito move o coração livre em ‘espírito e em verdade’. gelho de S.João oferece verdadei- do Deus dos cristãos, que o descubra Seguindo os passos da Saros banquetes para a alma. Quase e se abasteça do que nos revela maritana e vendo esta conversa sem perceber decoramos partes dos João, o caçula dos apóstolos. acontecer, notamos que o Senhor textos, e passamos a nos referir aos Um dos encontros mais belos a alcança onde está a sua maior capítulos e seus respectivos temas e do quarto evangelho é o de Jesus vulnerabilidade: na sua vida sexual, personagens com a maior liberda- com a Samaritana. Muito conhe- nos seus afetos e emoções, nos seus de. Falamos do cego de nascença cido, muito explorado, já exaus- relacionamentos amorosos com ( Jo 9), do Bom o sexo oposto. Pastor ( Jo 10), Sem que Ele O que há de novo na Palavra de Deus que nos de Nicodemos alcance esta difaça crescer na vivência concreta e ( Jo 3), da oramensão da sua ção de Jesus por diária do Evangelho?” existência ela nós ( Jo 17), da não poderia se pecadora pública de Jerusalém, tivamente comentado o diálogo tornar aquilo que ela vem a ser: pega em adultério e perdoada ( Jo travado entre esta mulher pagã, um testemunho livre e eficaz. 8), do discurso sobre a Eucaristia não judia, com Jesus. Ela que se Não sei se entre nós há muitas e o Pão da Vida ( Jo 6)... E assim, torna grande e corajosa evangeliza- pessoas que tenham tido cinco sucessivamente, personagens e dora, após ter ela mesma bebido da maridos ou cinco mulheres, cinco relatos nos revelam Jesus Cristo, água viva oferecida por Jesus, e não ‘companheiros ou companheiras’, nosso Deus e Senhor, aquele que somente da água do poço de Jacó. com quem tenham vivido marimorreu e ressuscitou, e como Ele Entretanto, o que há de novo neste talmente. Mas creio que entre nós se comunica e relaciona com aque- encontro que seja luz para nós? O há inúmeros corações que amaram les que são seus. O discípulo que se que há de novo na Palavra de Deus e se apaixonaram e se envolveram auto-alcunha de discípulo amado, que nos faça crescer na vivência emocionalmente e até fisicamente revela como ninguém o amor de concreta e diária do Evangelho? com cinco ou até mais do que cinco Creio que valha a pena nos pessoas. E é aí que Jesus quer tocar, Jesus, o Amor do Pai, as entranhas do coração de Deus. Se alguém determos no que acontece entre o quer pensar as feridas (sendo Ele quiser saber como se parece, como encontro de Jesus com essa mulher e mesmo o Bom Samaritano!), quer
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soprar ressurreição. Jesus não se escandaliza absolutamente com nada que diz respeito a nós, pois ele sabe o que há no coração humano, mas Ele seguramente quer nos dar um sopro de vida que nos sacie a sede de amor, libertando-nos de tantos jogos e comportamentos que só nos tem levado à dor, à solidão e ao pecado. Ele quer se apresentar a nós como o Esposo, ensinandonos a não mais buscar nas pessoas aquilo que somente Deus pode dar. Ele é o Esposo que nossas vidas anseiam sofregamente encontrar. Quando a Samaritana replica e pede: “Dá-me de beber!”, ela pede a Jesus o dom do Espírito para conseguir libertar-se de suas desordens afetivas. E aí aparece o Esposo que se apresenta e pede água e dá água viva! Seguramente naquele tempo, mesmo havendo fofoca e falatório, não poderia haver tanta exposição das desordens sexuais-comportamentais à luz do dia como vemos hoje na TV, no cinema, na internet e no ambiente social que nos cerca e no qual vivemos. Mas seja às claras, seja escondido, pois as realidades existenciais do ser humano são atemporais, o Senhor nos espera para que a Ele entreguemos todas as desordens sexuais e relacionais presentes em nossa história. Não adianta abafar, não adianta esconder, nem tampouco negar as marcas deixadas em nós, no corpo, na mente, nos afetos e na alma, pelas concupiscências de nossa própria carne e da carne dos outros em nós! Quantas pessoas sofreram agressão sexual, abuso sexual! Quantas pessoas sentem em si mesmas a desordem e a compulsão manifestada no homossexualismo, na masturbação, nos jogos de sedução e manipulação do próprio corpo e do corpo alheio, entre homens e mulheres, entre
mulheres e homens! Quanto mau uso do corpo humano em busca de amor e de segurança! Mesmo que já estejamos ativamente empenhados na evangelização, o Senhor nos convida a não esconder nada dele, a não deixar qualquer sombra maculando nossa alma. O Senhor quer fazer brilhar a limpidez da água viva onde se encontram as vergonhas e a mesquinhez, nosso calcanhar de Aquiles, nosso pecado e tudo o que ficou distorcido como consequência dele no entendimento que temos sobre nós mesmos. Jesus quer nos ensinar a viver plena e livremente o dom da nossa sexualidade e identidade, o dom de nosso corpo. Jesus não nos quer vivendo de aparências, com vida dupla ou de discursos. Jesus pede que chamemos ‘os nossos cinco maridos’ – e cada um sabe o nome que cada um assumiu em sua história de vida! – e os apresentemos a Ele. Só assim Ele pode se tornar verdadeiramente nosso Esposo. E nesse caminho, é a graça da castidade, dom do Espírito, que fará de Jesus verdadeiramente o Esposo. É o dom da castidade que torna Jesus o grande amor de nossas vidas, e coloca aos poucos a ordem do amor original em nós. Seja qual for nosso estado de vida Jesus não nos quer impuros ou puritanos, reprimidos ou depravados. O mais belo de todos os homens, quer fazer este novo em nós: quer arrancar-nos das mentiras e das manipulações da cultura secular que nos empurra para o pecado e para a mentira, e quer fazer de todos nós belos e belas como Ele, almas esposas. Só assim nosso testemunho será fecundo como foi o da Samaritana. Só assim daremos prova de verdadeira conversão. E que o Esposo nos ajude a jamais desanimar...
não adianta
Não adianta abafar, não adianta esconder, nem tampouco negar as marcas deixadas em nós, no corpo, na mente, nos afetos e na alma, pelas concupiscências de nossa própria carne e da carne dos outros em nós!
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DIvIRtA-SE
Personagens relacionados ao Apóstolo Paulo por José Ricardo Ferreira Bezerra horizontais 1. Sergio Paulo/ 2. Priscila/ 3. Silas/ 4. Apolo/ 5. Felix/ 6. CESAR/ 7. LOIDE/ 8. EStEvÃO/ 9. Judas/ 10. Gamaliel/ 11. Barnabé/ 12. tito/ 13. trofimo. Verticais 1. Filemon/ 2. Eunice/ 3. Marcos/ 4. Elimas/ 5. Ananias/ 6. Pedro/ 7. Eutico/ 8. Jesus/ 9. Porciofesto/ 10. timoteo/ 11. Lidia/ 12. Aquila/ 13. tertulo.
hORIzONTAIS 1-Pró-consul da Ilha de Pafos convertido por Paulo (At 13,7) 2-Esposa de Áquila, encontrada por Paulo em Corinto (At 18,2) 3-Companheiro de prisão de Paulo em Filipos (At 16,19) 4-Judeu de Alexandria que Paulo encontrou em éfeso (At 18,24) 5-Governador e esposo de Drusila que ouviu Paulo (At 24,24) 6-Imperador a quem Paulo apelou para ser julgado (At 25,11) 7-Avó de timóteo, que Paulo considerava um filho (2tm 1,2.5) 8-Primeiro mártir da Igreja que Paulo aprovou a morte (At 8,1) 9-Enviado com Paulo, Barnabé e Silas após o Concílio de Jerusalém (At 15,22) 10-Mestre judeu cuja escola Paulo frequentou (At 22,3) 11-Apresentou Paulo aos Apóstolos (At 9,27) 12-Filho na fé que Paulo deixou em Creta (tt 1,4-5) 13-Efésio que Paulo levou ao templo de Jerusalém (At 21,29) VERTIcAIS 1-Colaborador ao qual Paulo pediu por Onésimo (Fm 1.1.10) 2-Mãe de timóteo, que Paulo considerava um filho (2tm 1.2.5) 3-Companheiro de Paulo que separou-se dele na Panfília (At 15,38) 4-Mago que ficou cego com a palavra de Paulo (At 13,8) 5-Impôs as mãos, rezando pela cegueira de Paulo (At 9,17) 6-Apóstolo exortado por Paulo em Antioquia (Gl 2,11) 7-Jovem que levou uma queda numa pregação de Paulo (At 20,9) 8-A quem Paulo perseguia na pessoa dos cristãos (At 9,5) 9-Governador que substituiu Félix (At 24,27) 10-verdadeiro filho na fé de Paulo (2tm 1,2) 11-Primeira mulher convertida por Paulo em Filipos (At 16,14) 12-Esposo de Priscila encontrado por Paulo em Corinto (At 18,2) 13-Advogado que acusou Paulo diante de Félix (At 24,1)
Boas maneiras – Filipe — argumentava a professora — suponha que somos convidados para almoçar na casa de um Amigo. Acabado o almoço, o que devemos dizer? – Cadê a sobremesa!
Labirinto
A formiguinha
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Filme:
Santa Teresa de Los Andes
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ma superprodução com duração de 400min., dividida em cinco partes distribuidas em 3 DVDs. Traz a emocionante história de Juanita Fernández, que aos dezoito anos entrou para a vida religiosa no carmelo de Los Andes, no Chile, onde recebeu o nome de Teresa de Jesus. Jovem de saúde frágil, nada realizou de extraordinário. Em sua breve existência, conseguiu superar as dificuldades que a vida religiosa, no carmelo, lhe apresentou. Após onze meses de uma vida de intensa oração e trabalho morreu de tifo, com apenas vinte anos de idade. Teresa de Jesus foi proclamada santa pelo papa João Paulo II no dia 21 de março de 1993.
ACOntECE nO MunDO
República Checa prepara visita papal refletindo sobre
“Caritas in Veritate” ÉTIcA E EcONOMIA
A viagem apostólica na República Checa, segundo Macek, será a primeira internacional após a publicação da encíclica e, portanto, converter-se-á em uma oportunidade para refletir sobre a ética na economia e sobre questões sociais.”
S
acerdotes, professores e autoridades da República Checa refletirão sobre a encíclica de Bento XVI, Catitas in veritate, durante uma conferência que se celebrará em Brno no dia 19 de setembro, uma semana antes da visita do Papa ao país. O anúncio foi feito no dia 17 de agosto por David Macek, expoente do Partido Democrata Cristão, em declarações transmitidas pela Rádio Vaticano. A viagem apostólica na República Checa, segundo Macek, será a primeira internacional após a publicação da encíclica e, portanto, converter-se-á em uma oportunidade para refletir sobre a ética na economia e sobre questões sociais.
Após chegar ao aeroporto internacional de Praga no dia 26 de setembro, o Papa visitará o famoso “Menino Jesus” na igreja de Santa Maria da Vitória e terá encontros com as autoridades políticas e civis. Presidirá as vésperas na catedral dos santos Vito, Venceslau e Adalberto. No dia seguinte, programou-se a celebração da missa no aeroporto Tu any, de Brno. Logo depois, acontecerá o Ângelus e, posteriormente, um encontro ecumênico no arcebispado da capital e com o mundo acadêmico na Sala de Vladislav, no Castelo de Praga. Na segunda-feira, 28 de setembro, a visita será concluída com a celebração da santa Missa na memória litúrgica de São Venceslau, padroeiro da nação checa.
Vaticano prepara documento sobre a formação dos seminaristas
O
Vaticano prevê publicar um texto “breve, forte e muito claro” sobre a formação dos seminaristas, ao finalizar o Ano Sacerdotal. Para preparar o documento, o prefeito da Congregação para a
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Mobilização no contra proibição dos crucifixos na Espanha
Francisco Caamaño Ministro da Justica Espanhola
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anúncio do ministro da Justiça, Francisco Caamaño, da intenção do Governo espanhol de proibir a presença dos símbolos religiosos nos centros educativos públicos provocou a mobilização no Facebook. Com este motivo se criou o grupo “Sim ao crucifixo”, que teve mais de 700 usuários na rede social, pouco depois de ter sido criado. “O sinal da cruz é o sinal universal do amor e da paz”, dizem os promotores no Facebook. O grupo é promovido pelo site da revista Ecclesia. Nos foros de discussão, alguns dos participantes retomaram as
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declarações do Cardeal Eduardo Martínez Somalo, carmalengo emérito e antigo prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica. Após a reunião com Pedro Sanz, presidente do Governo de La Rioja, o purpurado espanhol reconheceu que “não entende” por que o Governo espanhol propõe mediante uma lei tirar crucifixos dos colégios públicos.
a quem os crucifixos podem agredir?”, “ainda que não seja católico?”w Cardeal Eduardo Martínez Somalo
O cardeal confessou que desconhece “a quem os crucifixos podem agredir”, “ainda que não seja católico”. Não se entende, disse, como “para chegar à pluralidade e para ter uma autêntica democracia tenha de se suprimir um elemento da pluralidade, que é o catolicismo, ou não respeitar a grande maioria, que são crentes”.
Educação Católica prevê propor, nos próximos meses, a convocatória da comissão permanente de membros de vários dicastérios, que se ocupa da formação dos candidatos ao sacerdócio. Esta Congregação, responsável pela formação dos seminaristas, quer fazer compreender esta mensagem aos que se preparam para o sacerdócio: “Foste escolhido, é uma honra, sejas feliz por ser sacerdote”. Dom Brugues constata que “boa parte dos jovens que se apresentam às casas de formação em países como Itália, Espanha, França, Alemanha e Estados Unidos têm uma boa formação profissional, às vezes formação universitária de alto nível, mas carecem de uma cultura geral e, sobretudo, de uma cultura cristã”. Atualmente, a Congregação para a Educação Católica tem a responsabilidade por 2.700 seminários e também por 1.200 universidades católicas e 250.000 escolas católicas em todo o mundo. Nessas instituições, está sendo desenvolvida uma cultura da excelência, pondo especial ênfase na formação integral da pessoa, especialmente em sua dimensão espiritual, que corre o risco de ser esquecida em uma sociedade secularizada.
Litúrgia diária
Pão da Vida
Com textos de: Frei
Patrício Sciadini, ocd. LIGUE E ASSINE
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