VANDER A DE OLIVEIRA
ZERO ABSOLUTO MANUAL PRÁTICO PARA LIDAR COM SITUAÇÕES EXTREMAS
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O ÚNICO CAMINHO QUE CONHEÇO PAGE 001
O FRIO
Eu nunca tinha ido no Ibirapuera, morava afastado de lá. Numa cidade chamada Guarulhos. Morar nos subúrbios de São Paulo é como viver num limbo. Não é cidade pequena, não é cidade grande. Mas principalmente não é bonito. Definitivamente, nunca senti prazer em voltar. Mas nessa tarde eu tinha ido a sede do exército em São Paulo. Ia disputar uma vaga na concorridíssima Academia das Agulhas Negras. Estava fazendo cursinho, minha vida ia bem. Tinha decidido fazer carreira militar como meu tio. Eram mais ou menos duas horas de ônibus e após me inscrever voltei tranquilo para casa, para minha tribo.
Naquele época como todo adolescente andava com o dinheiro contado e já sonhava com a comidinha gostosa que minha mãe a "Dona Mariazinha" preparava. Fui me aproximando de onde morava e uma sensação estranha tomou conta de mim, ao ir chegando perto da porta de entrada lateral da casa. Não havia levado a chave e chamei por várias vezes e ninguém atendeu. Atravessei a rua e minha vizinha me olhava com um semblante preocupado e me disse: Já sabe como está seu pai? Eu meio atordoado, perguntei, como assim? E ela, com aquele prazer estranho, que certas pessoas tem de dar más notícias, me disse: Seu pai está com o corpo todo queimado, sofreu um grave acidente e está na UTI. Ali seria a primeira vez que eu sentiria aquele frio, o frio do zero absoluto.