A Vadia Que Sua Mãe Sonhou #4

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A VADIA QUE SUA Mテウ SONHOU


Sa ra ra crioulo


ÍNDICE DE FEMINISTAS PARA TODXS - 3 MY PUSSY É... - 5 PERSONALIDADE - 9 CUTUCADA - 11 CRÉDITOS - 13

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Arte: Elisa Riemer


FINALMENTE CHEGAMOS À TÃO PROMETIDA (E SONHADA) QUARTA EDIÇÃO DA AVQSMS, UMA VITÓRIA EM MEIO A TANTOS COMPROMISSOS E ESCOLHAS DO QUARTO ANO DE FACULDADE. AH, TEM OUTRA VITÓRIA QUE NÃO PODEMOS DEIXAR DE MENCIONAR, VENCEMOS O PRÊMIO DE COMUNICAÇÃO E INOVAÇÃO DO EXPOCOM NO INTERCOM SUL 2014 COM A EDIÇÃO PASSADA (AVQSMS +18) – VADIAGEM NÃO É BAGUNÇA! DEIXAMOS AQUI, NOVAMENTE, NOSSO AGRADECIMENTO A TODXS XS COBALORADORXS, INDEPENDENTE DA EDIÇÃO, E É CLARO: A VOCÊS, LEITORXS!

VAMOS AO QUE INTERESSA, O QUE TEM NA QUARTA EDIÇÃO? NA QUARTA EDIÇÃO DA AVQSMS OUSAMOS TRAZER UM ENSAIO FOTOGRÁFICO PRODUZIDO POR NÓS MESMOS TRATANDO DA RESISTÊNCIA DE MULHERES ÀS POLÍTICAS DE BRANQUEAMENTO. SÃO MULHERES QUE NÃO DEIXAM QUE O PADRÃO DE BELEZA *BRANCA, MAGRA, LOIRA E DE CABELOS LISOS* FAÇA SUAS CABEÇAS (LITERALMENTE) E SE EMPODERAM E EMBELEZAM POR MEIO DOS TRAÇOS NEGROS QUE POSSUEM. DESEJAMOS A(A) TODXS UMA ÓTIMA LEITURA!

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my pu AV QS MS 5


ussy é... AV QS MS 6


Os meus olhos coloridos me fazem refletir Eu estou sempre na minha e não posso mair fugir... Meu cabelo enrolado todos querem imitar Eles estão baratinados Também querem enrolar... AV QS MS 7


Você ri da minha roupa Você ri do meu cabelo Você ri da minha pele Você ri do meu sorrisso... A verdade é que você (Todo brasileiro tem!) Tem sangue Crioulo Tem cabelo duro... *Olhos coloridos - Sandra de sá

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PERSONALIDADE

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Eu descobri que tinha o cabelo crespo aos 16 anos, me senti como alienada da minha própria natureza. Antes disso, quando bem pequena, com 2 ou 3 anos as fotos mostravam meu cabelo exatamente como é agora, livre. Mas, maior um pouco, meu pai, gene dominante que definiu meu cabelo, decidiu que “já que eu não gostava que penteasse o cabelo”, ia ter o cabelo curtinho, igual “de menino”. Mas me diga, com aquele cabelo, qual o pente que me penteava? Ele definitivamente não sabia. Aos 10 anos decidi deixar o cabelo crescer, era difícil não deixar “armado”: pentear cabelo crespo? Arma! Alisei e, nossa, ficou horrível. Naquela época não haviam tantas tecnologias pra deixar o seu cabelo com um aspecto menos doentio quando se alterava sua natureza. Tive esse cabelo alisado, quebrado, odiado e preso até os 15 anos, quando resolvi, rebelde e roqueira, raspar a cabeça. Aos 16, deixando crescer, formaram-se pequenos chachinhos que me surpreenderam de todo. Graças a um personagem de Malhação, aprendi a usar uma tiara pra que as pessoas não estranhassem tanto que eu assumisse minha raiz africana. O cabelo demorou muito pra crescer, a cada centímetro uma volta a mais no cacho encolhia meu cabelo. Mas eu perseverei, aprendi que só podia desembaraçar quando molhado e sentia repulsa pela “efeito molhado” que os cremes pra pentear proporcionavam às cabeças tímidas em assumir que sim, nosso cabelo era seco e armado. E quando ele chegou ao ombro, as pessoas me diziam que meu cabelo era lindo, que queriam pôr a mão, que eu tinha muito estilo. Eu pensava: estilo? Genética agora é estilo?Era, assumir era. Tanta gente gostava do meu cabelo que me dizia que queria muito ter o cabelo crespo como o meu, que na verdade o seu era pouco enrolado, que não ficava assim, tão massa. Outras muitas libertaram seus cabelos encorajadas com o que viam em mim. Percebi o quanto nós, crespas, éramos ocultadas na mídia, como eram felizes as pessoas que podiam finalmente ver beleza em cabelos como os seus, que alisar as enfeiava, que o modelo de beleza branco era cruel e estratégicamente inalcansável. Eu percebi que meu cabelo era político, que o povo negro era de certa forma, contemplado com a liberdade que dei aos meus cabelos, que eu sentia muito orgulho dos meus traços negros e que me fazia muito feliz representar minhasantepassadas e estimular outras pessoas e naturalizar minha natureza. Negra é linda! AV Ana Lúcia Nucci, militante do movimento feminista, de mente, alma, corpo e cabelo.

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CUTUCADA O meu cabelo é duro SIM e não tem pente que me penteie!

A escolha do tema vem de uma constatação chocante de quem vos escreve: fiz um mochilão pelo Nordeste brasileiro no início do ano (região que conta com 35,8 milhões de afrodescendentes, dos 91 milhões de pessoas que se declararam de cor/raça negra ou parda no Brasil – segundo pesquisa do PNAD de 2005) e observei as tentativas de apagamento dos traços negros com a valorização de características brancas. Deixemos mais evidente o que quero dizer: a progressiva está dominando as mulheres! Apenas no Rio de Janeiro e em Salvador, onde há grande resistência de movimentos de mulheres e do movimento negro, observei o quanto as mulheres se orgulham de seus cabelos crespos. É preciso resistir! E digo como um desabafo: sou uma mulher negra que cresceu em um ambiente peculiar, pois fui adotada por uma família de descendentes de italianos e passei a infância no centro-oeste catarinense – sofri racismo até mesmo dentro de casa, quando meus primos apontavam para meu cabelo e usavam as palavras “Black Power” para se referir de maneira pejorativa a ele, ou quando algum tio se vangloriava de suas origens europeias chamava meus antepassados de macacos. Isso sem contar a escola e demais espaços públicos em que minha mãe, branca, ousava aparecer com sua filha, negra. E nem venham dizer que sou “café com leite”, “morena”, “mulata”, “parda” porque me ofende – eu me considero uma mulher negra, tenho traços bem evidentes de afro descendência e meu cabelo é sarará! AV QS MS 11

Convido às leitoras a se despirem do branqueamento e também se assumirem negras. Resistamo! Camille Balestieri


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