A VOZ DE RIO DAS PEDRAS 60

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Robson Jardim, organizador da Roda Cultural de RP e comerciante, fala da sua paixão pela favela que considera única e da sua luta para manter a Roda e seu comércio ativos.

REURBANIZAÇÃO Se você, morador de Rio das Pedras, tem alguma dúvida sobre o projeto recém anunciado pela prefeitura, escreva para o nosso jornal que encaminharemos à equipe técnica da prefeitura e publicaremos a resposta em nossa rede social e na nossa próxima edição. contato@avozderiodaspedras.com.br

ANO V - N0 60 - RIO DE JANEIRO, 13 DE OUTUBRO DE 2017

I N F O R M A Ç Ã O

E

C I D A D A N I A

ESTA EDIÇÃ0: 10 MIL EXEMPLARES DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

www.avozderiodaspedras.com.br / Facebook: A Voz de Rio das Pedras / jornal on-line: http://issuu.com/avozderiodaspedras

AFINAL, QUE PROJETO É ESSE? ESTA É A DÚVIDA QUE NOSSA COMUNIDADE QUER ESCLARECER FOTO DIVULGAÇÃO

O projeto prevê a construção de prédios de 12 a 14 andares, num total de 35 mil apartamentos, que serão financiados pela Caixa Econômica através do sistema programa Minha Casa Minha Vida, com direito a título de propriedade e RGI

BIÓLOGO MARIO MOSCATELLI SOBRE O PROJETO

“TANTO MORADORES COMO O AMBIENTE SÓ TERÃO A GANHAR” FOTO DIVULGAÇÃO

FOTOSDIVULGAÇÃO / CÂMARA DOS VEREADORES

FOTO A VOZ DE RIO DAS PEDRAS

Nas fotos ao lado, o biólogo Mário Moscatelli, o plenário da Câmara de Vereadores na audiência pública sobre o projeto, e uma moradora e seu cão acompanhando a manifestação de protesto na Rua Nova REPRODUÇÃO

A manchete desta edição de retorno foi a síntese que chegamos após conversa esclarecedora com o biólogo e ambientalista Mario Moscatelli, ao lermos praticamente todas as matérias que circularam nas redes sociais e grande imprensa, contra e a favor do projeto de reurbanização da nossa comunidade, e sobre as respostas obtidas junto à prefeitura após encaminharmos algumas dúvidas de moradores e de nossa equipe. É só o primeiro passo. Ainda estamos atrás das respostas. Algumas já oferecemos nesta edição para você, comerciante e morador da nossa comunidade, que anseia há décadas por melhorias que são urgentíssimas, mas temem pela perda de conquistas históricas. Entendemos que, por falta de uma comunicação ágil e direta, surgiram dúvidas que elevaram a temperatura de parte da população, que se insurgiu contra o projeto muito antes de ele chegar ao seu desenho final.

Desde o n0 Zero, a nossa luta para virar bairro

Já a frase que destacamos do biólogo Mario Moscatelli, defensor implacável do meio ambiente nesta região onde nossa comunidade está encravada, resume a opinião de um especialista reconhecidamente insuspeito no trato com a coisa pública. Crítico incisivo de governos estaduais e municipais ao longo de seus quase 30 anos de militância como ambientalista, Moscatelli não poupa empresas e população, seja ela de baixa renda ou da nossa elite, que para ele se inserem na “cultura democrática da degradação”. Com a responsabilidade de assumir a missão de fazer o meio campo entre as partes envolvidas, mas sempre comprometidos na defesa do povo de Rio das Pedras, voltamos a circular. A partir desta edição, nos comprometemos a promover um debate de alto nível, cujo objetivo é, única e exclusivamente, defender a melhoria da qualidade de vida da nossa gente. Boa leitura!


O projeto se propõe ordenar o uso do solo, hoje uma verdadeira ‘casa da mãe joana’, e dar aos moradores infraestrutura básica de qualidade" Mário Moscatelli, biólogo ambientalista

O medo do novo é típico no ser humano, principalmente numa cidade que pouco investiu na qualidade de vida das populações de menor renda"

2 RIO, 13 DE OUTUBRO DE 2017

Moscatelli, sobre as manifestações

A VOZ DO BIÓLOGO AMBIENTALISTA FOTO DIVULGAÇÃO

azizahmed@uol.com.br

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aquilo que

conheço do projeto que me foi apresentado, tenho certeza que tanto os moradores como o ambiente só terão a ganhar.” A afirmação é do biólogo Mário Moscatelli, conceituado batalhador pela despoluição e preservação do sistema lagunar da Baixada de Jacarepaguá e do meio ambiente da cidade. Em entrevista a este jornal, Moscatelli — que vem sendo consultado pela equipe técnica que elabora o projeto — disse que o uso do solo de Rio das Pedras, “atualmente uma verdadeira ‘casa da mãe joana’, será ordenado e fornecido aos moradores infraestrutura básica de qualidade.” E foi taxativo: “Do jeito que está, é uma receita certa para um desastre envolvendo milhares de famílias.” Eis a entrevista: Como profundo conhecedor dos problemas ambientais dessa região, o senhor tem sido consultado pela equipe que elabora o projeto de reurbanização de Rio das Pedras? — Sim, no que diz respeito as ações necessárias visando a recuperação do que foi ambientalmente degradado. Há três anos, em entrevista ao nosso jornal, o senhor alertava que se não fosse estancado o crescimento desordenado da nossa comunidade, era questão de uma ou duas décadas ocorrer uma tragédia de proporções bíblicas nesta área. O senhor mantém essa previsão? — Crescimento urbano desordenado é uma chaga sóciourbano-ambiental histórica em nossa cidade, onde no final quem paga é inicialmente o ambiente e, em seguida, a qualidade de vida dos moradores dessas áreas. Do jeito que está, a situação é uma receita perfeita para um desastre socioambiental, seja em consequência de alguma chuva torrencial que um dia irá acontecer novamente (isso é certo) como das alterações no nível do mar previstas pelos especialistas em mudanças climáticas. As pessoas precisam perceber que essa história de mudanças climáticas e suas consequências são uma realidade e não apenas uma probabilidade ou filme de sessão da tarde. E mais do que

isso, colocam em perigo a vida de milhares de pessoas. A implantação desse projeto da prefeitura afastaria essa ameaça? — Aquilo que se propõe com o atual projeto é ordenar o uso do solo, atualmente uma verdadeira "casa da mãe joana", e fornecer aos moradores infraestrutura básica de qualidade e não a atual situação, que é de uma clara e profunda precariedade e insalubridade. O que o projeto oferece é cidadania e qualidade de vida, fato quase que inexistente atualmente. Na sua avaliação, estão corretas as intervenções anunciadas pelo projeto? — A atual ocupação é completamente fora de qualquer parâmetro urbanístico e ambiental aceitável, o que se reflete diretamente na qualidade de vida daquela população. Como já disse, é uma "casa da mãe joana" que repete os mesmos erros cometidos nos últimos 100 anos nas demais ocupações desordenadas da cidade do Rio de Janeiro, reflexo direto da histórica nenhuma importância que as autoridades públicas deram para o assunto de moradias para as populações de baixa renda. As intervenções apresentadas vão oferecer serviços básicos que qualquer outro cidadão e cidadã de nossa cidade tem o direito em receber, isto é, esgoto coletado e tratado, gás encanado com segurança, fornecimento de luz de qualidade e estável, áreas de lazer, serviços comerciais. Enfim, tudo o que está garantido nas leis, mas que, infelizmente, na maioria das vezes, não passa de letra morta. Está prevista a construção de 35 mil apartamentos em prédios de 12 a 14 pavimentos. Especialistas em estruturas são categóricos em afirmar que o solo de Rio das Pedras não comporta imóveis de mais de um andar, por ser composto de ar-

RIOS E LAGOAS DA REGIÃO DEIXARÃO DE SER LATRINAS Sobre como será feita a recuperação ambiental das áreas degradadas pela poluição e falta de saneamento, Moscatelli explicou: — A falta da universalização do serviço de coleta e tratamento de esgoto tem sido uma das duas principais causas para a transformação dos rios e lagoas da região

MOSCATELLI AFIRMA QUE O PROJETO OFERECE CIDADANIA E QUALIDADE DE VIDA, O QUE QUASE NÃO EXISTE HOJE NA FAVELA gila e turfas. Pelo que o senhor conhece do projeto, esse problema pode ser resolvido? — Os solos são diversificados na região, mas, de uma forma geral, são realmente muito ruins para edificações, muito instáveis (uma geleia) e, portanto, necessitarão de investimentos para torná-los estáveis e suficientemente seguros para suportarem as futuras edificações de maior porte. As técnicas para buscar essa estabilidade e segurança visando as futuras construções são variadas, conforme os tipos de solos, fato que já vêm sendo mapeado, visando identificar as técnicas que terão de ser empregadas, bem como os custos envolvidos. Sem dúvida, construir qualquer coisa naquela região, como tem sido feito, sem um preparo do solo adequado, é uma outra receita para um futuro desastre. O senhor tem uma visão positiva desse modelo de urbanização? — Minha opinião é que do jeito que está, esse modelo, repito, é uma receita certa para evitar um desastre envolvendo centenas, milhares de vítimas, visto que o nível topográfico desta comunidade é muito baixo, altamente vulnerável tanto à eventos climáticos excepcionais pontuais (chuvas torrenciais, comuns de tempos

em imensos valões e latrinas respectivamente. Essa situação tem condenado esses ecossistemas (rios, lagoas, manguezais, brejo) — que poderiam gerar milhares de empregos diretos e indiretos por meio do ecoturismo, criação de marinas, pesca esportiva e comercial, lazer náutico e esportes aquáticos — numa situação praticamente terminal, onde sua função acaba sendo de uma imensa latrina e ou uma lata de lixo que interfere diretamente na saúde das pessoas. Portanto, a partir do momento em que é instalada uma rede coletora e o esgoto é devidamente tratado,

em tempos na nossa cidade), como para mudanças climáticas permanentes. Reitero que a questão da elevação do nível dos oceanos impactará não apenas as populações da baixada de Jacarepaguá, como das baixadas Fluminense e de Sepetiba. Em resumo, o que estiver situado nas baixadas e não estiver preparado para essa nova e breve realidade ambiental, pagará caro por essa miopia e excessivo otimismo sem causa. Tem havido, porém, manifestações contrárias ao projeto. — Manifestações contrárias sempre existirão em qualquer tipo de mudança para qualquer tipo de projeto, tanto por um processo natural de acomodamento diante da atual situação, de interesses econômicos contrariados de determinados grupos, desinformação, enfim. O medo do novo é típico no ser humano, principalmente numa cidade onde, apesar do despejo de dinheiro ocorrido nos últimos anos em consequência das Olimpíadas, estimados em 40 bilhões de reais (público e privado), pouco ou quase nada foi investido comparativamente em ambiente e na qualidade de vida das populações de menor renda. Acha que faltou diálogo com a comunidade para explicar os detalhes e tirar as dúvidas sobre o projeto? — Se faltou ou não diálogo, serei sincero, não tenho como avaliar em particular essa situação. Mas daquilo que conheço do projeto que me foi apresentado, tenho certeza que tanto os moradores como o ambiente só terão a ganhar. O importante é que, quem tiver dúvidas, que busque as respostas junto à prefeitura, analise profundamente cada um, pelo seu ponto de vista, a proposta que vem sendo amadurecida, visando produzir o melhor resultado possível para as expectativas das pessoas e dos diversos grupos com

essa carga de degradação diária é de imediato removida do interior das lagoas que começam a respirar. Além disso, o projeto leva em conta a recuperação dos manguezais e áreas de brejo que margeiam as lagoas da Tijuca e Camorim, o que, por sua vez, causará junto com o saneamento, de imediato, o incremento da biodiversidade, isto é, mais espécies animais usando as lagoas e manguezais. Isso pode não parecer, mas afeta diretamente a qualidade de vida humana, porque muitas dessas espécies animais silvestres combatem outras espécies animais nocivas ao homem, como

variados interesses que vivem na comunidade. Quais as considerações finais que gostaria de fazer sobre o projeto? — Repito, do jeito que está, não dá para ficar e muito menos continuar. O nível de agressão ao ambiente, por meio dos aterros permanentes, do crescimento a qualquer custo em solos completamente inadequados, do lançamento de esgoto sem tratamento, do lançamento de resíduos de todos os tipos, usados tanto para a criação de novos terrenos ou diretamente na lagoa da Tijuca, será cobrado pela Natureza. Pode parecer que não, mas essa cobrança se dará, caso ainda não tenha se dado, através da gradativa e permanente perda da qualidade de vida dos moradores, da saúde dos mesmos, da expectativa de vida dos mesmos. Atualmente, já é impressionante a intensidade do cheiro de ovo podre que emana da lagoa da Tijuca e do rio que dá nome à comunidade, 24 horas por dia, 365 dias por ano, que é constituído por gases que vêm do fundo podre da lagoa e do rio (gás metano e sulfídrico). A médio e longo prazos, além da produção de doenças respiratórias e neurológicas, poderá levar à óbito pessoas com a saúde mais debilitada. Qual o recado que daria para a comunidade? — Sugiro que os moradores conheçam a fundo a proposta/projeto, deem sugestões, participem do processo de criação dessa nova realidade e não percam a oportunidade de transformar a atual realidade de degradação, que é uma receita certa para uma breve catástrofe humana e ambiental, num exemplo a ser repetido em outras comunidades que sofrem dos mesmos sérios problemas. O tempo está contra nós e a fatura ambiental vencida está batendo em nossas portas.

mosquitos, baratas e ratos, utilizando-as como alimento. O que precisa ficar claro para todos é que a Natureza não se protege, mas se vinga das agressões que cometemos diariamente contra ela. Em contrapartida, quando trabalhamos a favor dela, eu não tenho dúvida que a mesma Natureza, anteriormente vingativa, nos agradece com melhor qualidade de vida e inúmeras opções econômicas para aproveitá-la sem destruí-la. Isso é fato!


Os proprietários de imóveis e os comerciantes serão indenizados. Os donos de comercio não irão perder o investimento que fizeram” Marcelo Crivella, prefeito do Rio

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O projeto prevê não só a construção de praças, prédios e lojas, mas também engloba novas escolas, creches e clínicas da família” Marcelo Crivella

A COMUNIDADE PERGUNTA, O PREFEITO RESPONDE E ESTAMOS DE OLHO FOTO DE EVALDO REIS

contato@avozderiodaspedras.com.br

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projeto de urbanização de Rio das Pedras não prevê a remoção de moradores. Foi o que garantiu o prefeito Marcelo Crivella em resposta a uma pergunta feita pelo morador Paulino Conrado, administrador de edifício, a ele encaminhada pela nossa reportagem. Através da sua assessoria de imprensa, Crivella respondeu a outros questionamentos da comunidade por meio do nosso jornal. Ele informou que o investimento previsto pela prefeitura nos estudos para transformar a comunidade em bairro é avaliado em R$ 5,4 bilhões, que serão aplicados em infraestrutura urbana (R$ 2 bilhões) e na construção de residências (R$ 3,4 bilhões). Respondendo a outra demanda dos moradores, o prefeito esclareceu que projeto prevê não só a construção de praças, prédios e lojas, mas também engloba novas escolas, creches e clínicas da família. Leia com atenção o que os moradores perguntaram e as respostas do prefeito.

O senhor tem demonstrado especial interesse por Rio das Pedras, a ponto de lançar esse grande projeto para transformar a favela em bairro. Qual a razão dessa iniciativa, considerada até pela sua equipe como ousada e sem precedentes no estado? — Em razão das condições insalubres em que vivem as famílias da comunidade de Rio das Pedras, escolhi a região para receber as obras de urbanização e infraestrutura. Em modelo similar ao já adotado na Zona Portuária do Rio de Janeiro (leia matéria ao lado). A expectativa é utilizar Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) para implantar na comunidade um projeto que vai transformá-la em bairro. Em que consiste o projeto que o senhor chama de verticalização? — A construção de prédios de 12 a 14 andares, num total de 35 mil apartamentos. Quais os locais que sofrerão intervenção? — As 12 empresas que farão o estudo de viabilidade da construção também irão apontar as localidades possíveis. Que tipo de intervenção? — A proposta prevê a construção de prédios comerciais e residenciais na área. A prefeitura quer um plano de implantação de parques e praças, arborização, despoluição e recuperação ambiental de rios e margens das lagoas na área de intervenção, captação e aproveitamento de águas pluviais, sistema de redução energética, iluminação pública sustentável. As intervenções em infraestrutura (saneamento básico, drenagem, redes de abastecimento de energia elétrica e telecomunicações subterrâneas, gás), vias e passeios pavimentados. Projeto de segurança para pedestres e controle de velocidade dos veículos (traffic-calming) também fazem parte da proposta. A comunidade passa a ser um bairro com novos espaços públicos e de lazer, ampliação das áreas destinadas a pedestres e a criação de circuito de ciclovias. Haverá desocupação de imóveis para permitir a urbanização? — O projeto não prevê a remoção de moradores. Eles irão residir definitivamente em prédios seguros e modernos, com título de propriedade em um terreno vizinho. Esse projeto é embasado pela pesquisa com 22.223 moradores,

DÚVIDAS E QUESTIONAMENTOS DE MORADORES SOBRE O PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DE RIO DAS PEDRAS FORAM ENCAMINHADAS PELA NOSSA REPORTAGEM

na qual 76% declararam desejo de ter imóvel regularizado, com título de propriedade? — Os 76% desejam regularizar a sua moradia e pagar os custos por isso. No dia da apresentação do projeto, no Palácio da Cidade, o vice-presidente da Caixa Econômica garantiu que financiaria as 35 mil moradias dentro do programa Minha Casa Minha Vida. Este compromisso está sacra-

mentado? — Sim. Os imóveis serão vendidos aos moradores por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, com financiamento da Caixa Econômica Federal. O seu governo anunciou o empenho de sanear o sistema lagunar de Jacarepaguá e implantar um sistema de transporte aquaviário para ligar condomínios da Barra à linha 4 do Metrô. O viceprefeito e secretário de Transportes, Fernando MacDowell, tem afirmado que as obras de saneamento básico para Rio das Pedras estarão incluídas no escopo desse projeto. É viável esse tipo de transporte ligar Rio das Pedras à estação Jardim Oceânico do Metrô? — A proposta desenhará um plano de mobilidade para a região com adequação para implantação de vias para pedestres, com incremento do sistema viário existente e interligação com os modais de transporte de forma sustentável. O escopo do Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) exige Estudo Ambiental. O slogan do seu governo é “cuidar das pessoas”. Uma das mais frequentes demandas das pessoas da comunidade é por vagas em creches e na educação básica. No corpo desse projeto, tais demandas serão atendidas? — O projeto prevê não só a construção de praças, prédios e lojas, mas também engloba novas escolas, creches e clínicas da família.

CONHEÇA MAIS DETALHES SOBRE O PROJETO NAS PÁGINAS 4 E 5

O senhor tem reclamado da precariedade de recursos para tocar a rotina da Prefeitura. Uma solução pela verticalização requer, objetivamente, caros investimentos em infraestrutura urbana e saneamento básico. Haverá recursos para isso? — O investimento previsto pela prefeitura nos estudos que antecederam o Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) é avaliado em R$ 5,4 bilhões que serão aplicados em infraestrutura urbana (R$ 2 bilhões) e na construção de residências (R$ 3,4 bilhões). As melhorias em infraestrutura poderão ser custeadas pelos Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs), pagos pelos investidores dos novos empreendimentos do setor imobiliário. A viabilidade dessas operações é parte do conjunto de estudos desenvolvidos no escopo do PMI. Há um movimento na comunidade contrário a esse projeto. O comércio da Rua Nova, por exemplo, teme perder seus negócios, assim como possuidores de imóveis que vivem de aluguel. O que o senhor tem a dizer para tranquilizar essas pessoas? — O projeto levará em consideração a atividade econômica local. Os proprietários de imóveis e os comerciantes serão indenizados. Os donos de comercio não irão perder o investimento que fizeram. Além disso, a reurbanização irá fomentar a geração de emprego e renda.


Todas as ruas de Rio das Pedras receberão um completo circuito cicloviário, permitindo o deslocamento rápido às localidades vizinhas.

A derrubada da Perimetral para construção do Porto Maravilha também sofreu críticas, que acabaram sepultadas nos escombros da demolição.

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Mudanças geram reações, com a nossa comunidade não foi diferente e é legítimo que a população vá para às ruas reivindicar esclarecimentos.

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Moradores estão lutando pelas suas histórias, cultura e enraizamento. Cabe à prefeitura mostrar que ninguém será prejudicado.

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SEM INFORMAÇÃO, PARTE DA POPULAÇÃO E DOS COMERCIANTES PROTESTA FOTOS A VOZ DE RIO DAS PEDRAS

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om uma história de luta, resistência e desconfiança do Estado, uma parte da comunidade reagiu contra ao tomar conhecimento do projeto, ao mesmo tempo que outra parte recebeu bem a ideia de transformação da favela em um bairro de verdade. Cumprindo a função que nos cabe, de dar voz à comunidade, esclarecemos para você, morador e comerciante de Rio das Pedras, informações do grupo de especialistas e técnicos da prefeitura envolvidos na elaboração do projeto.

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O projeto consistirá em implantar infraestrutura completa e total em toda área atualmente ocupada pela comunidade Rio das Pedras, com superfície de 854.000 m2, incluindo saneamento universal com lançamento do esgoto tratado na rede da Barra e emissário submarino, abastecimento de água, energia elétrica, gás canalizado, rede de informática, drenagem, iluminação pública, construção de vias públicas passeios, praças, parques de lazer, construção de escolas, creches e rede de saúde pública.

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Todas as ruas de Rio das Pedras receberão um completo circuito cicloviário, permitindo o deslocamento rápido às localidades vizinhas.

Tão logo o projeto foi anunciado moradores se mobilizaram e saíram às ruas da comunidade com o slogan “Melhorias sim, remoção não!” protestando contra possíveis arbitrariedades que o prefeito garantiu que não vão ocorrer (foto à esquerda). Na última sexta-feira (6/10), em audiência pública na Câmara dos Vereadores, comunidade reafirmou sua posição (à direita) FOTOS DIVULGAÇÃO

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Além desses investimentos de infraestrutura, o projeto prevê a melhoria da mobilidade urbana, com construção de novos acessos e ligação à Barra, Itanhangá e Jacarepaguá, com pontes, elevados, viadutos e mergulhões de forma a permitir melhor escoamento do transito da região.

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Está também prevista a implantação do sistema de transporte aquaviário e a ligação à estação do Metrô pelo sistema BRT.

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Rio das Pedras receberá novo traçado arquitetônico, com avenidas, parques e ruas projetadas, com a consequente criação de quadras residenciais e comerciais, regularizadas e legalizadas.

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Croqui do projeto de reurbanização com as intervenções apresenta uma nova feição da comunidade com infraestrutura completa de um bairro de classe média, mas moradores estão apreensivos com os impactos que essas mudanças causarão em suas histórias edificadas em anos de luta para terem uma vida digna, mas pedem para ser ouvidos

Está prevista a construção de um mercadão, com 1.500 lojas, que será administrado pela associação de moradores.

O novo traçado permitirá a implantação e construção de edifícios de 12 a 14 pavimentos destinados a apartamentos, lojas e escritórios, através do sistema Minha Casa Minha Vida, com financiamento da Caixa Econômica Federal, com direito à título de propriedade e registro geral de imóvel. Será um modelo de revitalização total de uma comunidade, onde, pela primeira vez no Brasil, uma prefeitura investirá na completa infraestrutura de serviços e transformará residências informais, em unidades habitacionais de qualidade e dignidade humana para os seus cidadãos e moradores. O desejo dos moradores de ver a favela de Rio das Pedras transformada em bairro, segundo a prefeitura, será realizado.

MODELO SIMILAR TAMBÉM SOFREU DURAS CRÍTICAS ANTES

FOTOS PORTO MARAVILHA/DIVULGAÇÃO

O modelo do Porto Maravilha, anunciado como similar ao projeto de reurbanização de Rio das Pedras, também foi lançado em meio a uma grande polêmica e não menos ruidosos protestos. Teve grande repercussão na mídia a decisão da prefeitura de demolir o Elevado da Perimetral, não só pelos transtornos que causariam à mobilidade urbana na região, como por se tratar de uma obra sólida e importante. As críticas acabaram sepultadas nos escombros da demolição. O Porto Maravilha recuperou a infraestrutura urbana, os transportes, o meio ambiente e os patrimônios histórico e cultural da Região Portuária, com a melhoria das condições habitacionais e a atração de novos moradores para a área de 5 milhões de metros quadrados. A chegada de gr andes empresas, os novos incentivos fiscais e a prestação de serviços públicos de qualidade

estimulam o crescimento da população e da economia na região que engloba os bairros do Santo Cristo, Gamboa, Saúde e trechos do Centro, Caju, Cidade Nova e São Cristóvão. Mudou totalmente o conceito de mobilidade urbana na Região Portuária e no Centro, privilegiando o transporte público coletivo, valorizando a ideia de morar perto do trabalho, criando mais espaços para pedestres, implantando ciclovias, contemplando recursos de acessibilidade e integrando os meios de locomoção na área, centrado na conexão inteligente entre os modais. Com rede de 28 Km, o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) integra todos os meios de transporte do Centro e da Região Portuária – barcas, metrô, trem, ônibus, rodoviária, aeroporto, teleférico, terminal de cruzeiros marítimos e, futuramente, o BRT Transbrasil.

DEPOIS


No EDI EmĂ­lia Maria, as aulas foram suspensas porque crianças, adolescentes e adultos tomavam banho na caixa d'ĂĄgua nos fins de semana ou Ă noiteâ€? Fernanda Ramos, moradora, dizendo-se revoltada

Caixas d'ĂĄgua de nossas crianças contaminadas Parece matĂŠria repetida, mas alguns filhos da mĂŁe continuam entrando nas escolas, tomando banho nas caixas d’ågua e defecando dentro delas. Na edição anterior, recebemos a mensagem de Fernanda Ramos. Disse ela: “Estou revoltada. Mais uma segunda-feira que deparamos com a mesma situação no EDI EmĂ­lia Maria: Aulas suspensas porque crianças, adolescentes e adultos tomam banho na caixa d'ĂĄgua durante o final de semana ou Ă noite. É revoltante uma comunidade nĂŁo dar valor a uma coisa que ĂŠ usada por ela mesma. Nunca vi isso na vida. Meu Deus, aonde vamos parar? Peço a todos meus amigos para nos unirmos. Isso nĂŁo pode mais acontecer.â€? Agora, fazemos o registro de que esse absurdo tambĂŠm vem acontecendo na creche OtĂĄvio Henrique. Uma mĂŁe, que prefere nĂŁo se identificar, conta que jĂĄ entraram na escola, quebraram brinquedos e janelas. E denuncia: “A direção jĂĄ entrou em contato com tudo o que ĂŠ possĂ­vel, sem conseguir solução para o caso. VĂĄrios professores jĂĄ pegaram infecção por conta da ĂĄgua contaminada. Peço ao jornal que nos ajude a divulgar o hĂĄbito desses inconsequentes para que possamos sair desta situação precĂĄria.â€?

NĂŁo encontrei mais o jornal Recebemos de Paulo Gleivison a seguinte mensagem: “OlĂĄ, a todos da equipe de A Voz de Rio das Pedras. Sempre admirei esse projeto, o trabalho de informação que vocĂŞs executam no nosso bairro. ParabĂŠns, mesmo! Mas nunca mais encontrei o jornal nas ruas. NĂŁo estĂŁo distribuindo as ediçþes? E outra pergunta: jĂĄ pensaram em criar um quadro humorĂ­stico, com charges ou caricaturas no jornal? Eu quero concorrer Ă vaga de chargista! rsrs Um abraço a todos!â€? Nota da Redação - Nossa circulação em jornal impresso ficou suspensa em razĂŁo da crise, mas nosso trabalho voluntĂĄrio continuou ativo nas mĂ­dias sociais Quanto ao seu trabalho, suas charges (como a que publicamos nesta pĂĄgina) serĂŁo bem-vindas, assim como outras colaboraçþes voluntĂĄrias de moradores tĂŞm sido acolhidas. Afinal, aqui a comunidade tem voz.

Construindo o saber Fernanda CalĂŠ escreve para anunciar o projeto "Construindo o Saberâ€?. Diz: "Somos um projeto comunitĂĄrio, funcionamos hĂĄ nove anos no Caic, e com a ajuda de vocĂŞs poderĂ­amos ajudar mais pessoas." Nota da Redação Oi, Fernanda. Pode contar conosco.

#Nemtodomundoodiavaocris Tunika Nunes compartilhou um vĂ­deo de Cristiano FalcĂŁo e escreveu estas saudosas palavras: “ Esse era nosso guerreiro, que pegava os mĂŁos de onça, valorizava trabalhador, se divertia com as crianças, dava incentivo, aconselhava, tentava ajudar a todos, era amigo. Guerreiro Cristiano FalcĂŁo, que papai do cĂŠu continue sempre o guardando em seu braço. Descansa em paz, guerreiro inesquecĂ­vel dos pobres. VocĂŞ serĂĄ sempre lembrado por nĂłs que te amamos como o amigo que era, #nemtodomundoodiavaocris. â€?

Desaparecido Adilson de Oliveira Souza faz um apelo. “Gente, preciso desesperadamente encontrar a famĂ­lia de um menor chamado JoĂŁo Vitor conhecido como Sonic. A famĂ­lia dele mora numa comunidade do Rio das Pedras, tem cerca de 1m68 de altura cabelos lisos castanhos escuros, moreno bem claro, bem magro e tem marca de queimadura de Ăłleo na perna esquerda na altura dos joelhos. Ele ĂŠ usuĂĄrio de crack. A mĂŁe dele tem um microcomĂŠrcio na comunidade. Ele vivia na Nova Holanda, JacarĂŠ e Bandeira 2, foi jurado de morte por um segurança do FundĂŁo e desde entĂŁo sumiu repentinamente. JĂĄ estive em todos esses lugares, mas nĂŁo o encontrei. EntĂŁo, estou na tentativa de localizar a famĂ­lia dele para que juntos possamos desvendar esse mistĂŠrio. Me ajudem divulgando. Quem tiver notĂ­cias favor en-

DIRETOR-RESPONSà VEL Aziz Ahmed Reg.10.863 – MTPS azizahmed@uol.com.br

SĂŁo 3h55 da madrugada e tem um bar na rua Luiz Carlos da Conceição, em frente ao Ula Ula, com a porra de um som berrando desde Ă s 20hâ€?

6 RIO, 13 DE OUTUBRO DE 2017

Mano Luiz, morador do Areal 1

A VOZ DO LEITOR

trar em contato com este jornal. �

Desaparecido II Ana Luiza Martins e famĂ­lia estĂŁo inconformados: “Galera, meu gato Theodoro (Theo) estĂĄ desaparecido hĂĄ semanas. Fugiu de casa e nĂŁo voltou atĂŠ o momento. Ele nunca fez isso e estamos muito preocupados. Moro no Pinheiro, Rio das Pedras. Se alguĂŠm tiver alguma notĂ­cia, entre em contato comigo. Ele tem dois anos, nĂŁo usa coleira porque nĂŁo gosta, destrĂłi todas e ĂŠ um pouco arisco. Se alguĂŠm o viu, me ajudem informando ao jornal A Voz de Rio das Pedras.â€?

Bar “ulhoâ€? Mano Luiz escreveu: “Bom dia, SĂŁo 3h55 da madrugada e tem um bar na rua Luiz Carlos da Conceição, no Areal 1, em frente ao Ula Ula, com a porra de um som berrando desde de Ă s 20h de sexta-feira. Isso ĂŠ um abuso. Todo dia ĂŠ a mesma coisa. NĂłs moradores jĂĄ nĂŁo aguentamos mais. A gente chega tarde e cansado do trabalho querendo descansar e o infeliz nĂŁo deixa ninguĂŠm dormir. Isso ĂŠ uma falta de respeito, estĂĄ parecendo uma favela que cada um faz o que quer e nĂŁo respeita os outros. É por isso, entre outras coisas, que estĂŁo querendo derrubar nossas casas e fazer prĂŠdios. Aqui estĂĄ uma zona, uma falta de respeito com os moradores. JĂĄ liguei para associação que me disse que nĂŁo pode fazer nada. Onde jĂĄ se viu isso? A associação no mĂ­nimo tinha que notificar o bar advertindo que aqui ĂŠ um lugar residencial. Local de som alto ĂŠ no Top Dance. Deixo aqui minha indignação por esse descaso. Isso estĂĄ me desanimando de continuar morando aqui.“

Projeto provoca polĂŞmica Marcelly Santos nos enviou a foto de uma camisa escrita “#SOUMAISCRIVELLA - É, a mamada vai acabar - RP COM CRIVELLA“. Eis os comentĂĄrios na nossa mĂ­dia social. Tamara Cardoso respondeu: “SĂł se for pra ela a mamada. Tudo aqui que conseguimos foi com muito trabalho. Aqui a maioria ĂŠ trabalhador que lutou muito pra conseguir ter uma renda na velhice, que, por sinal, nĂŁo ĂŠ crime nenhum. NĂŁo estamos contra o Crivella em fazer melhorias para nossa comunidade. A Ăşnica coisa que queremos ĂŠ que nĂŁo nos tire da nossa casa pra nos colocar em apartamento, pra pagar algo que jĂĄ ĂŠ nosso. SĂł isso.“ JĂĄ Shirley Rodrigues afirmou: “Concordo. Muita gente sĂł pĂ´s tijolo em cima de tijolo e emendou o encanamento, nem deu uma boa estrutura pras casas. Se dĂĄ problema e vai reclamar com o proprietĂĄrio, ainda corre risco de ser despejado. Cobram um absurdo em um quarto com banheiro! Batem no peito pra dizer que foi construĂ­da com sacrifĂ­cio. SacrifĂ­cio esse que nĂŁo valorizam de quem necessita pagar pra morar. AĂ­ fazem um projeto de melhoria e querem protestar. Querem continuar na lama? Continuem, mas sem pĂ´r culpa em terceiros. As pessoas que trabalham e moram de aluguel, a maioria sabe que Ă s vezes a conta de energia vem mais alta do que a do aluguel. AĂ­ pede alguns dias pra pagar e nĂŁo tĂŞm compreen-

REDAĂ‡ĂƒO Laerte Gomes gomes.laerte@gmail.com Ricardo de Souza rdszavozderiodaspedras@gmail.com

sĂŁo, nĂŁo querem saber se tem crianças ou o que comer. Vamos rever os fatos e apurar melhor quais os prĂłs e contras. Todos tĂŞm direito a ter uma moradia com dignidade, viver em um lugar limpo, arejado e dar conforto aos seus.â€? Joilken Alves disse: "Apoio o Crivella. Vem Crivella, mudar essa bagunça.â€? Luis Henrique respondeu: “Joilken Alves, acabar com a bagunça eu te apoio. Agora largar o povo sem casa, vagando na rua igual cracudo, eu nĂŁo aprovo. Poderia melhorar a comunidade, mas derrubar as nossas casas nĂŁo, nĂŠ? Foram identificadas falhas em 56,4% dos imĂłveis do Minha Casa Minha Vida. Essas sĂŁo as casas que querem vender pra gente? Melhor matar logo o pobre. E as pessoas que jĂĄ tĂŞm suas casas, vĂŁo ter que entrar em um novo financiamento? NĂŁo quero comprar outra casa, entrar em um financiamento, depois de comprar a minha com sacrifĂ­cio. NĂŁo tenho dinheiro pra pagar condomĂ­nio com elevador. Esse projeto nĂŁo ĂŠ pra pobre.â€? Davyd Souza escreveu: “AlĂŠm de uma dĂ­vida de 30 a 35 anos com 'Minha Casa Minha ‘DĂ­vida’, muitos nĂŁo terĂŁo crĂŠdito aprovado pelo banco, que exige entrada e comprovação de renda. Sem falar que prĂŠdios de 12 andares exigirĂĄ elevador e terĂĄ condomĂ­nio caro. O plano do Crivella sĂł tem dois grandes ganhadores: ele e os empreiteiros, que ganharĂŁo tanto vendendo os apartamentos no Rio das Pedras em pĂŠssima qualidade de acabamento, quanto podendo aumentar o gabarito das construçþes na Barra. A comunidade quase toda votou no Crivela e ele passou a perna em todos.“ Felipe Silva ponderou: “VocĂŞs tĂŞm que pelo menos entender que aquelas lojas na beira do valĂŁo vĂŁo ter que ser removidas! NĂŁo adianta chorar. JĂĄ foram demolidas um monte de casas antes, agora fizeram um monte de lojas! Povo imbecil, nĂŁo pode ver um espaço! Aprendam tambĂŠm a jogar o lixo na caçamba. Ajudaria muito. Seja menos porco que o Rio das Pedras agradece.â€? Rony Saavedra se manifesta confiante: "Eu estava contra o projeto, mas me aprofundei melhor no assunto e mudei minha opiniĂŁo. Acho que vai melhorar se tirarem aquelas barracas que estĂŁo Ă margem do valĂŁo. Elas atrapalham tudo, principalmente o trânsito e para fazer a dragagem do valĂŁo.â€? Gleysi Sorrab convoca: “Essa luta ĂŠ de todos precisamos divulgar. Vamos meu povo vamos lutar pelos nossos direitos. Deixando bem claro: a nossa manifestação nĂŁo ĂŠ contra o prefeito Crivella e sim pelo projeto que ele quer trazer pro Rio das Pedras. Melhorias sim, retirada das nossas casas nĂŁo! Juntos somos mais fortes! Querendo saneamento sim, saĂşde sim, asfalto sim, escolas sim, ĂĄrea de lazer sim, melhorias sim. Sair de nossas casas, nĂŁo. Vamos nos deixar ser enganados novamente? No vĂ­deo de campanha, o prefeito era contra o aumento do IPTU.â€? Gabriela Marinho acrescenta: “Fazer manifestação para pararem de jogar lixo nas ruas ninguĂŠm faz, povinho hipĂłcrita, entre aspas porque nĂŁo sĂŁo todos, mas a grande maioria aff ,đ&#x;˜ đ&#x;˜ vĂŁo fazer isso pra melhoria dessa ‘lixaiada’, pra comunidade ficar limpa, pra nĂŁo morrerem na merda, porra.â€? Luis Henrique publicou na nossa linha do tempo: “

Impresso na Gråfica Infoglobo Claudia Gonzaga contato@avozderiodaspedras.com.br. Comunicação e Participaçþes S.A. CONSULTORA Clåudia Franco Corrêa

Tenho a comentar que o registro definitivo dos imĂłveis do Rio das Pedras pode ser dado com ou sem a verticalização. Basta vontade polĂ­tica e menos ganância. Como vai ser indenizado? JĂĄ sabe o valor do m² pago hoje na comunidade? Estação de tratamento de esgoto jĂĄ tem 03. Falta colocar para funcionar. ClĂ­nica da FamĂ­lia ĂŠ uma excelente ideia, mas nĂŁo atende Ă ganancia polĂ­tica, nĂŁo tem retorno de mĂ­dia nem financeira para o prefeito e os seus. Quanto Ă falta de informação, isso ĂŠ verdade. Mas depende de qual lado o Crivella estĂĄ falando. Porque as reuniĂľes Ă s escondidas nĂŁo podem permitir a informação livremente. O prefeito fala que a população nĂŁo serĂĄ removida. Explica como serĂĄ essa mĂĄgica de realizar a obra proposta sem remoção. Onde vĂŁo ficar as famĂ­lias? Jogadas? Na verdade, pelo projeto serĂŁo 35.000 aptos x R$ 150.000,00 = R$ 5.250.000.000. 5 bilhĂľes e 250 milhĂľes. Retorno de 3 bilhĂľes e 250 milhĂľes para os envolvidos nesse projeto. Isso se for R$ 150.000,00 e se custar R$ 250.000,00?. O retorno passarĂĄ para R$ 6 bilhĂľes e 750 milhĂľes. Essa ĂŠ a verdade que precisa ser registrada." Paulino Conrado, administrador de edifĂ­cio e morador de Rio das Pedras desde 1996 nos escreveu: “Tenho acompanhado pelos jornais notĂ­cias sobre o projeto de urbanização e verticalização da comunidade de Rio das Pedras. Gostaria de saber quais os locais que sofrerĂŁo intervenção, que tipo de intervenção? Os imĂłveis que vĂŁo ser demolidos serĂŁo avaliados pelos valores hoje praticados no mercado local? Em quais locais da comunidade desejam construir condomĂ­nios? Que tipo de pesquisa e amostragem foram realizadas na comunidade para que o prefeito possa afirmar tal intervenção? Quais os resultados da pesquisa e por que nĂŁo foi amplamente divulgada? Dos moradores que conheço, ninguĂŠm foi entrevistado! NĂŁo ĂŠ po7r que o prefeito mora em condomĂ­nio que pode tomar como certeza que as pessoas do Rio das Pedras assim desejam. Precisamos da atenção do poder pĂşblico, mas nĂŁo de forma exagerada, descabida e sem parâmetros. Se entendi, vĂŁo demolir os imĂłveis dos moradores e vender os apartamentos aos mesmos moradores que lĂĄ residiam. Quem antes nĂŁo pagava aluguel nem prestação, vai deixar de receber os alugueis, outros vĂŁo perder seus lugares de trabalho (pequenas lojas), tendo que ficar 30 anos pagando prestação para a Caixa. Este projeto nĂŁo atende Ă necessidade da comunidade e sim a de um grupo de empresĂĄrios. HĂĄ a necessidade de ver o que estĂĄ por trĂĄs dessa ideia. A comunidade precisa de atitudes prĂĄticas: ordenar as ruas, dragar os valĂľes, construir garagens e alugar a preços populares retirando assim veĂ­culos das ruas, normalizar o comercio local estimulando e auxiliando a formalização dos negĂłcios, atuar no saneamento bĂĄsico, usar a ideia do romântico projeto, do ora prefeito, chamado de Cimento Social e fazer os embolsos externos dos prĂŠdios inacabados. Construir condomĂ­nios e vender aos moradores que hoje vivem de forma livre e nĂŁo pagam sequer aluguel ĂŠ uma ideia fadada ao fracasso. Morar em condomĂ­nio requer disciplina, ĂŠ uma luta constante, ainda que sejam os moradores pessoas nascidas e crescidas em condomĂ­nio.â€?

Uma publicação da Livraria e Editora Citibooks Ltda. Rodovia Washington Luiz 3000 – Duque CNPJ: 05.236.806/0001-05 de Caxias – RJ - Telefone (21) 2534-9579 Rua Jardim Botânico 710, CEP 22.460-000 Tiragem desta edição: 10 mil exemplares DISTRIBUIĂ‡ĂƒO GRATUITA


A nossa Roda é autorizada e reconhecida pela prefeitura com publicação das datas no Diário Oficial e acontece quinzenalmente." Robson Jardim

Somos uma favela como nenhuma outra na cidade. Temos todos os gêneros musicais e existe uma harmonia entre eles. Não tem atrito.”

7 RIO, 13 DE OUTUBRO DE 2017

Robson Jardim

REECONTRO com Robson Jardim rdszavozderiodaspedras@gmail.com

U

m dos líderes e organizadores da Roda Cultural de Rio das Pedras (RCRP), membro do Cine&Rock e representante genuíno da cultura da comunidade em eventos pela cidade, Robson Jardim, com sua emblemática saudação “Meu Povo e Minha Pova”, trocou uma ideia com a nossa VOZ e traçou o panorama do rap em RP, na ZO e sobre a favela que ama.

ÍCONE DA RESISTÊNCIA CULTURAL E ECONÔMICA DE RP FOTO A VOZ DE RIO DAS PEDRAS

Como você está? O que o Robson está fazendo além da loja e como está a loja? — Além da Loja do Robson Jardim (que fica na Rua José Carlos da Silva 550, antigo 21, Areal), abri uma hamburgueria artesanal ao lado da loja e estou na luta, como todo comerciante, esperando passar essa crise que atingiu todo mundo. Cheio de dívidas, estou trocando seis por meia dúzia, tentando manter a loja aberta, mas sem desistir nem desanimar. Além da loja eu faço uma festa aqui outra ali, faço parte do Coletivo Cine&Rock e desenvolvo, paralelamente à Roda, algumas ações fora de Rio das Pedras e, quando dá para colocar o bar, eu coloco para ajudar a pagar os custos para fazer eventos. Como está a Roda de RP, evoluímos muito desde a primeira edição? — A nossa Roda é autorizada e reconhecida pela prefeitura com publicação das datas no Diário Oficial e acontece quinzenalmente. Fazemos parte da Liga ZO, que é a união de todas as Rodas Culturais da Zona Oeste, e agora estamos nos integrando à Liga RJ, que reúne todas as rodas do estado. Vamos montar um estatuto que visa conseguir mais apoio da prefeitura e do estado e para derrubar o “nada opor” exigido atualmente. Não tem cabimento a documentação exigida para uma Roda Cultural ser a mesma para um evento de final de ano na praia. Além da Roda, com as batalhas, o que mais rola nos eventos? — Agregamos vários valores além da Roda, como o Escambo Literário, a Poesia Sem Ritmo e a troca de informações sobre a cena do rap, algumas intervenções de teatro, literatura e, paralelo à Roda, algumas edições do sarau Elas da Corrente e, desde a primeira edição até agora, estamos seguindo na resistência. Além da autorização da prefeitura, não temos apoio financeiro algum para a realização dos eventos. Tudo depende da venda do bar e do movimento da loja. Alguém da comunidade está despontando na cena do rap carioca? — Da comunidade temos várias promessas como Quadrilha MPJ, Resistência Rap, Diablo C, que são promessas do rap que, se continuarem a investir na carreira deles como estão fazendo, daqui a pouco vão despontar. Tá faltando apenas aquele empurrãozinho. Fora daqui tem o MC OZ da Rocinha, Mano Rip de JPA, que eu também acredito muito nele, que está com um trabalho muito bom. Na ZN tem o Nêgo Zu, que também está com um ótimo trabalho na pista. Fiquem de olho nesses talentos porque daqui a pouco eles vão despontar. É só o momento certo para acontecer. Apareceu algum novo talento em Rio das Pedras? — Leonardo Prold é um garoto que tem letra, tem flow. Ele gosta de se apresentar, de se comunicar. Tem o Axel T Santos, o pessoal do Zubumafu, o Dj Will, que faz trap e é da comunidade e está com uns trabalhos maneiros na pista, além do Luiz Fernando, do Vira-Latas MCs. É um garoto muito bom que toca nos intervalos da Roda ou quando o DJ Will não pode tocar. Ele se apaixonou pelo rap vendo as ações que fazíamos aqui na loja. Você mora aqui há um bom tempo (20 anos?). Como enxerga a favela hoje em rela-

ção à época em que chegou? — Somos uma favela como nenhuma outra no Rio de Janeiro. Aqui tem todos os gêneros musicais e em meio a todos os estilos existe uma harmonia. Pode estar rolando uma festa de rap e em frente um pagode e não rola atrito, o pessoal se respeita. Existe uma harmonia que não gera atrito. Além disso, temos uma outra coisa que acho muito positiva: aqui você encontra todas as religiões e todas as religiões se respeitam. Há uma harmonia na música e na religião, o que é muito difícil. E Rio das Pedras está sempre se renovando. Basicamente somos uma favela de nordestinos, de cearenses que vieram e fincaram raízes, mas existe um fluxo. Tem uma temporada que vêm os baianos, outra do Maranhão, os paulistas e aí volta o pessoal da terrinha e Rio das Pedras está sempre se renovando. E o que vejo hoje, infelizmente, é reflexo do que acontece em todo o Rio de Janeiro com o desemprego, o aumento da população de rua, a falência das escolas que, por mais esforço que o pessoal da área da educação faça, não adianta. Mas no geral aqui é um lugar muito legal de se morar ainda. Ano que vem tem eleição, quais as principais demandas de Rio das Pedras? — Minha opinião particular. Aqui tem

A arte do reencontro Após quase dois anos nossa Voz de Rio das Pedras ouviu novamente personagens que marcaram história nas páginas da nossa edição impressa e no Facebook, fazendo uma verdadeira viagem no tempo. Vinimax, Cleusa da Cruz, Kakau Moraes, Leandro Ice, Robson Jardim e outras personalidades da comunidade contaram o que fizeram no período, como veem Rio das Pedras atualmente e, principalmente, falaram sobre o futuro da comunidade que todos amam de forma incondicional.

mais gente pra justificar do que pra votar. Aqui não tem um comitê eleitoral, de partido nenhum aqui dentro. O que acontece é que sempre aparece muito aproveitador que promete mundos e fundos, faz uma coisinha aqui, outra ali e depois da eleição some. Nossas demandas são saneamento básico e aumentar o número de escolas e creche, além de uma praça arborizada com equipamentos para levar as crianças, uma quadra poliesportiva. Como você está vendo esse projeto do Cri-

vella? A população está devidamente informada? — Como até agora eu não li o projeto e o que tem saído na mídia e o que até mesmo o prefeito tem falado é que até agora foi autorizado apenas um estudo de viabilidade técnica e o projeto não está pronto, eu não tenho o que opinar. Preciso ver o projeto, o que realmente vai ser feito e o que ele propõe para os moradores e comerciantes. Enquanto o projeto não estiver pronto, não tiver algo concreto, mas apenas especulação e disse-me-disse, fico aguardando. Deixe seu recado. — Quem não conhece Rio das Pedras venha conhecer. A Roda Cultural tem uma coisa de diferente. Quem vem pra Roda vem pela cultura, pelo amor ao rap e o hip hop. Nossas batalhas são temáticas e o clima é de harmonia. Venha conhecer o Cine&Rock, porque esse movimento foi criado para desmistificar a imagem do roqueiro como sujo e drogado. Eu quero deixar um abração para Sandra Lima, que fez um documentário lindíssimo sobre a diversidade cultural de Rio das Pedras, para o pessoal do Elas da Corrente e agradecer a Associação de Moradores que sempre nos apoiou desde o começo e estamos na luta.


Nascemos no dia 10 de maio de 2013 com objetivo definido, claro como o preto no branco da nossa primeira manchete: “Queremos virar bairro.”

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Estamos de frente para “o assunto do ano”: a urbanização da comunidade. Afinal, que projeto é esse? É o que vamos procurar responder.

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DESDE SEMPRE, A VOZ DE RIO DAS PEDRAS!

CENSO DE RIO DAS PEDRAS REVELOU QUE 86% DOS MORADORES (QUASE NOVE EM CADA DEZ) QUEREM QUE A COMUNIDADE SE TORNE BAIRRO, MESMO PAGANDO IPTU, CONTA DE LUZ, ÁGUA E GÁS

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ascemos no dia 10 de maio de 2013 com objetivo definido, claro como o preto no branco da nossa primeira manchete: “Queremos virar bairro.” Desta data até o dia 15 de dezembro de 2015, foram 58 edições ininterruptas, colocadas nas ruas pelo trabalho de uma equipe forjada no orgulho de defender, de forma intransigente, o comerciante e o morador de Rio de Rio das Pedras. Foram manchetes e mais manchetes cobrando das autoridades que olhassem para a nossa comunidade, como mostram as reproduções de algumas delas nesta página. E conseguimos. Com manchetes como “A Comlurb ouviu a nossa voz”, “A Light também ouviu a nossa voz”, “A Light na cadeira elétrica”, “Queremos escola, mas sem perder nosso futebol”, “Queremos rodoviária”, “Queremos praça”, “Não somos ladrões” e “Estamos bebendo cocô?”, entre tantas outras, que nos identificamos como o veículo comunitário voltado a ser A Voz de Rio das Pedras. Não arredamos pé nesta luta para que esta favela seja transformada em bairro. A hora é esta. Estamos de frente para “o assunto do ano”, que é o projeto de urbanização da nossa comunidade, anunciado pelo prefeito Marcelo Crivella. Afinal, que projeto é esse? É o que estaremos procurando responder. Diante do impacto da notícia e de algumas informações ainda não devidamente esclarecidas entre prefeitura, comerciantes e moradores, de como vai ser efetivamente a intervenção que promete mudar a cara de Rio das Pedras, vamos ocupar o espaço que nos cabe, que é de esclarecer, tirar dúvidas, dar vez e voz aos envolvidos. Foi essa postura – de defesa incondicional da nossa gente –, que garantiu a conquista do nosso respeito diante dos órgãos de governo, autarquias, grande imprensa e, principalmente, da comunidade. Estamos juntos para continuar sendo A Voz de Rio das Pedras.

OS NÚMEROS DO RAIO X DA FAVELA Há interesse em ter uma moradia regularizada, com título de propriedade? Esta pergunta foi feita aos nossos moradores pelo Núcleo de Pesquisas e Cidadania da UniverCidade em Rio das Pedras: 76% deles responderam que sim, 22% não e 2% não responderam. Num Censo que ouviu 23.223 habitantes da comunidade, os pesquisadores também perguntaram: Gostaria que Rio das Pedras se tornasse um bairro, mesmo pagando IPTU, conta de luz, água e gás? Nada menos de 86% dos moradores (quase nove em cada dez) responderam sim, ante apenas 14% que disseram não. Há outros números emblemáticos: 60% dos moradores disseram morar de aluguel e 39% em casa própria. No caso de ser própria, 54% disseram que o imóvel não é regularizado pela prefeitura, enquanto 70% afirmaram ter interesse em que sua moradia seja regularizada, com título de propriedade. A advogada e pesquisadora Cláudia Franco, coordenadora do Núcleo e que comandou o Censo, ouvida na ocasião da divulgação desses números pela nossa reportagem, concluiu: — Rio das Pedras é uma cidade, sem o ser oficialmente.


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