Evento Medieval
Três Gerações e uma história de amor… Um olhar sobre a Rainha Santa, D. Pedro I e Inês de Castro
Sandra Cruz
Três Gerações e uma história de amor…
I PARTE- A Rainha Santa
PROGRAMA PARA DIAS 8 / 7 NOITES 1º Dia – Chegada aeroporto Porto
Alojamento HF Ipanema Park?? Jantar na Ribeira Tertúlia Historia da Rainha Santa: Nascida em local de pouco consenso, Saragoça e Barcelona disputam-lhe o berço, por volta de 1150. Neta de um Conquistador, o rei Jaime I e filha de D. Pedro, o Grande, Isabel de Aragão nasce rodeada de bons auspícios. Conta-se que nasceu envolta numa membrana espessa que a protegia de todos os olhares. Sua mãe D. Constança, haveria de guardar essa capa protetora numa caixinha de prata. Devota desde a infância, sentia o chamamento do frio das pedras das capelas e catedrais que a cercavam; cedo se mostrou piedosa e de muita fé. Era bonita, mas não da beleza majestática que é própria de quem nasce em berço real, beleza sua de traços fortes e com uma energia radiante.
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Três Gerações e uma história de amor… Aquando do seu nascimento, a discórdia reinava entre seu avô e seu pai. Será ela o elemento apaziguador. O seu sorriso e candura derreteram o gelo instalado no coração dos dois, trazendo finalmente a paz. Este será um dos seus atributos ao longo de toda a sua vida, conciliar, apaziguar, servir de meio para por termo às desavenças familiares. Cedo casou, obrigação natural das infantas. O noivo: D. Dinis. Face à importância crescente do reino de Portugal, convinha uma aliança. D. Pedro, seu pai, via em Portugal a oportunidade de colocar uma coroa em sua filha, sendo um reino próximo e sem parentescos que necessitassem dispensas papais. A partida não se fez tardar. D. Pedro, contam as crónicas, despediuse com pesar da sua filha, tendo dito: “Ó minha filha, viste o homem mais desafortunado do que o teu pai? Eduquei-te, instruí-te, e não posso fazer mais nada por ti. És a mais delicada das criaturas, e partes para terras estrangeiras!”1
2º Dia – Porto» Belmonte/Trancoso Alojamento Caria / Figueira de Castelo Rodrigo – Check -in
Jantar Medieval em Trancoso Tinha então 12 anos e D. Dinis 19. “ A primeira vista que tivemos vossa”, no dizer do rei luso, seria em
Trancoso, pequena vila da Beira que se engalanou para receber a sua soberana.
Estávamos em Julho, no ano de 1282. Celebram-se então os esponsais entre Isabel de Aragão e D. Dinis, na capela de São Bartolomeu em Trancoso.
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Manuscrito Casanatense
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Três Gerações e uma história de amor…
3º Dia – Belmonte /Viseu /Coimbra Visita Belmonte De agosto a setembro passaram à Guarda, recebidos com aprumo pelos locais, ladeada por um verdadeiro cortejo real, destinado a encantar o povo, mas também este encantou a sua nova rainha.
Paragem na Quinta de Cabriz – Prova de vinhos Pedro e Inês Alojamento em Coimbra – Check-in Quinta das Lagrimas Continuaram por Viseu até Coimbra, local onde permanecem durante algum tempo. A corte nestes tempos de contendas não se fixa, há que acorrer a todas as partes e mostrar que El-Rei é senhor dos seus domínios. Isabel encontrou então algo que se já conhecera em menina, a contenda entre familiares, neste caso entre Afonso de Portugal, bastardo de D. Afonso III, e seu marido, o rei. Os levantamentos e as insurreições constantes, as tréguas de pouca dura, os aguisados entre irmãos desassossegavam Isabel, que com a sua sábia diplomacia foi acalmando as hostes. Em 1290 nasce o primeiro filho, ainda não o herdeiro, seria a vez de D. Constança, nome de sua avó. No ano seguinte nasce Afonso, futuro D. Afonso IV. E por aqui ficariam os filhos legítimos.
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Os anos passam, e Isabel ocupar-se-á dos pobres e desvalidos, distribuindo generosamente agasalhos para o corpo e para a alma, não olhando a gastos, mesmo sob as reprimendas de D. Dinis.
Será também graças a ela que se dará a refundação do mosteiro de Santa Clara a Velha em Coimbra, a construção de um hospital para os pobres e uma nova Igreja. Foi seu desejo aqui ser sepultado. O seu feito mais conhecido é o milagre das rosas… A sua persistência em ajudar os pobres, os seus jejuns prolongados, exasperavam D. Dinis, que certo dia de Inverno, conta a lenda, lhe terá questionado o que trazia no regaço, ao que a rainha terá respondido: “São rosas senhor, são rosas!”. Desconfiado, duvidou por não ser tempo delas, mas o “milagre” aconteceu e o rei as rosas viu. Também se conta que o inverso se passou, que dada a míngua a que o rei a sujeitou, terá distribuído rosas aos pobres. Estes quando chegaram a casa, viram as flores transformarem-se em moedas de ouro. A História não nos deixou factos, apenas uma bonita lenda de uma rainha, ao que se diz, santa.
Experiencie a Meditação das Rosas (opcional)
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Três Gerações e uma história de amor…
Viveu as traições de D. Dinis, acolhendo todos os bastardos na corte, educando-os de igual forma. Assistiu novamente a uma guerra civil na família, entre seu filho D. Afonso e D. Dinis. A afeição de D. Dinis por Afonso Sanchez, foi longe demais aos olhos do filho legítimo. Esta disputa desgastou o rei nos seus últimos anos de reinado, culminando na Batalha de Alvalade, onde mais uma vez a intervenção da rainha pôs cobro a uma guerra. Diz-se que seguia numa mula e atravessando o campo de batalha, os fez parar e evitar uma guerra, sanando um problema que há muito devastava o país. D. Dinis morre em Janeiro de 1325, sob a vigília atenta da Rainha Santa, prestando-lhe toda a atenção necessária, nunca o abandonando. Foi rei num período glorioso, fez muito pelo seu país na justiça, na administração central e na cultura, responsável pela primeira Universidade portuguesas sendo um poeta e trovador de mérito próprio.
Serenata de Tuna Académica e Fado de Coimbra Junto a Fonte das Lágrimas
4º Dia Coimbra / Batalha – Mosteiro da Batalha /Tomar Alojamento em Tomar – Check-in Hotel dos Templários D. Dinis por acordo diplomático. Apoiou os cavaleiros portugueses da Ordem de Santiago, que pretendiam separar-se do seu mestre castelhano. Salvou a Ordem dos Templários em Portugal, passando a chamar-lhes Ordem de Cristo.
Jantar tertúlia os templários em Portugal
Visita ao convento de Cristo
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Três Gerações e uma história de amor… Fim da Primeira Parte
II PARTE- Uma descendência Afonso em nada era semelhante a seu pai D. Dinis, colérico, violento e impetuoso, lutará pela sua coroa e fará frente a quem o afrontar. Foi o caso com o seu genro Afonso XI, que de forma infame repudia D. Maria, sua filha. Há-de subir Afonso ao trono e exilar o seu meio-irmão, mas sempre, e no fim com um acordo de paz patrocinado por sua mãe. Incansável, atenta, para alguns prodigiosos. Do casamento de seu filho, com Beatriz de Castela nascerá um dos outros protagonistas desta história: D. Pedro. O cognome o Bravo, vem-lhe desse temperamento irascível, não tanto da bravura militar ou heroica como poderíamos supor. Temos poucos testemunhos dele, as crónicas são tardias, ficará na História mais pelo episódio dramático com Inês de Castro. Assim, chegamos aos frutos do casamento entre Afonso IV e Beatriz de Castela, dos sete filhos nascidos, destaque para D. Pedro, quarto filho varão, o único que sobreviveu à infância. O seu nome, Pedro, foi talvez um agrado feito à Rainha Santa, filha de D. Pedro III. Foi sinal de tréguas e esperança de paz. A Rainha Santa, tinha nesta altura 59 anos. Parece que prevendo o futuro, oferece a D. Pedro a proteção do mártir São Vicente. D. Afonso IV lutará pela dignificação de sua filha D. Maria, contra Afonso XI, o Justiceiro, cujos amores por D. Leonor de Gusmão o levaram a mover céus e terra para legitimar os bastardos, em vão. O trono será de D. Pedro, o Cruel. Por cá, D. Afonso IV também não teve melhor cenário. É por esta altura que começam os preparativos para o segundo casamento do seu herdeiro, as negociações para assegurar boa descendência ao reino. O casamento com Branca de Castela fora infrutífero e a noiva repudiada. A causa, problemas mentais e alguma fraqueza física apresentada por esta prima de D. Pedro. Na época, o grau de parentesco não é relevante para a consumação dos casamentos, basta para isso uma dispensa papal. A sua sucessora é Constança Manuel, que por mais caricato que pareça, é neta da Rainha Santa… Se não vejamos:
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Três Gerações e uma história de amor…
Toda a história que se segue tem a sua principal causa neste último casamento. Com 20 anos, casa com D. Constança Manuel, filha do maior inimigo de Afonso XI (e já por ele repudiada). Uma saborosa vingança de Afonso IV, pelos males feitos à sua filha D. Maria. A vinda de D. Constança para Portugal, não se fez sem bulício e querelas entre Afonso IV e Afonso XI. Isabel de Aragão surgirá uma última vez nesta história mostrando, mais uma vez, a sua bondade e a sua determinação. Os desentendimentos são desta feita entre o seu genro Afonso XI e o seu neto. Já fraca e sofrendo de febre intensa, a Rainha Santa vai novamente na sua mula até Estremoz , por termo ao conflito. É bem-sucedida, contudo foi o seu último esforço. Faleceu acompanhada dos seus, conciliados pai e filho. Do seu féretro, conta a lenda, exalava um perfume a rosas. Encontra-se sepultada no mosteiro de Santa Clara, em Coimbra.
5º Dia Tomar / Estremoz / Monsaraz Paragem em Portalegre Visita a Estremoz – Igreja da Rainha Santa Isabel Alojamento Monsaraz – Check – in Horta da Moura
Monsaraz encerra histórias eternas; de lutas e conquistas, de amores e "desamores”
6º Dia Monsaraz Será palco de Feira e Tornei Medieval 7º Dia Monsaraz – Lisboa 8|Página
Três Gerações e uma história de amor…
III PARTE- Os amores de Pedro e Inês
Resolvida a vinda de D. Constança, a maior batalha para esta rainha virá no seu séquito, chama-se Inês de Castro. Apesar de ser uma época onde escasseiam os retratos físicos fidedignos, para Inês vários autores a denominam de formosa, gentil e graciosa. Camões eterniza-a: “Estavas, linda Inês, posta em sossego, De teus anos colhendo doce fruito, Naquele engano da alma, ledo e cego, Que a fortuna não deixa durar muito, Nos saudosos campos do Mondego, De teus fermosos olhos nunca enxuito, Aos montes insinando e às ervinhas O nome que no peito escrito tinhas”.2 D. Pedro cedo se apercebe da presença de D. Inês, da amizade rapidamente brotou um amor que encheu páginas de histórias, o seu final trágico acentuou este romance. O cenário deste idílio: Coimbra. À parte disso vive D. Constança, conhecedora do romance mas de pouco lhe valeria a revolta, consumiu-se em tristeza. Deu à luz dois filhos, D. Maria e D. Fernando, futuro rei. Assistiu aos amores de Pedro, como todas as suas antecessoras, com a dignidade possível. Numa tentativa de os separar, convida D. Inês para madrinha de um filho. Contudo, a ligação Pedro e Inês trazia mais implicações que não as românticas, implicações políticas que poderiam por a independência do país em causa. Assim sendo, D. Afonso IV não o permitiria. De forma repentina, em 1345 D. Constança morre, deixando D. Pedro viúvo, livre para seguir o seu coração. Ele assim o fez. Tira Inês do exílio, em Albuquerque e passa alguns anos fora da corte, a norte de Portugal. Esquece por tempos as suas obrigações enquanto herdeiro, vive como um simples homem apaixonado. Assim nascem D. João, D. Dinis, D. Beatriz e D. Afonso. A Rainha Santa já não chegaria a conhecer estes bisnetos. Conhece Inês, e talvez tenha adivinhado a importância que ela tinha para o seu neto. Apesar de distantes na idade, são tão próximas na História.
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Luís de Camões, Os Lusíadas, Canto III
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Três Gerações e uma história de amor… Ambas são as duas maiores figuras femininas da História de Portugal, uma mais devota, outra brilhante, as duas numa mesma beleza. Ambas têm sangue real, são mães de reis e amadas de forma incansável pelo seu povo. Ambas espanholas vivendo em Portugal, e até na mesma cidade, Coimbra. O mesmo abrigo no mosteiro de Santa Clara, que testemunhou as provações e austeridade da rainha santa bem como a infelicidade e o martírio de Inês. Após o período de luto e das várias tentativas de seu pai para um novo casamento real, D. Pedro traz D. Inês para Coimbra, o que logo causou escândalo. Neste local ficará célebre a Fonte dos Amores: "As filhas do Mondego, a morte escura Longo tempo chorando memoraram E por memória eterna em fonte pura As Lágrimas choradas transformaram O nome lhe pôs que ainda dura Dos amores de Inês que ali passaram Vede que fresca fonte rega as flores Que as Lágrimas são água e o nome amores"3
D. Pedro, não recusa as propostas do pai, para não o exasperar, mas adia a decisão. A sua escolha há muito que estava feita. Temendo uma nova guerra no reino entre filhos legítimos e bastardos, D. Afonso IV, ele próprio sofredor desse mal, não hesita e manda matar D. Inês. Corre o ano de 1355. Numa noite de Inverno, com D. Pedro fora de Coimbra, os algozes degolam sem piedade, aquela que tinham apelidado de A bela garça. Aqui tem lugar o momento mais trágico e inclemente. Não dá para imaginar a desorientação e dor de D. Pedro. Clama por vingança e vai em busca dela, revolta-se contra o pai, intervém desta feita sua mãe D. Beatriz. Promete perdão aos assassinos, mas no seu íntimo nunca o fará. Quando seu pai morre em 1357, D. Pedro inicia a sua vingança. Cinco anos após a morte da sua amada, declara ter casado com ela em segredo, que depois de morta, D. Inês foi rainha. Obriga, numa cerimónia macabra, a que todos lhe prestem homenagem, embora não tenhamos factos que comprovem essa cerimónia. Comprovada está a cerimónia das exéquias, em que D. Inês é transladada para Alcobaça, morada dos reis e rainhas de Portugal. Vingou-se de dois dos assassinos da sua amada, tirando-lhes o que nele já havia deixado de bater, o coração. Ganhou assim o cognome de o Justiceiro. Morre em Estremoz em 1367, será 3
Idem
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Três Gerações e uma história de amor… depois transladado para Alcobaça juntando-se a D. Inês. Nos seus túmulos, colocados lado a lado, aguardando a eternidade, esperam que o seu amor se cumpra. Atualmente os túmulos estão frente a frente. Espera-se assim que acordem de frente um para o outro e que encontrem, finalmente, a felicidade. Três gerações concentram duas das mulheres mais carismáticas da nossa História, inspiram até hoje leigos e investigadores, apaixonados e devotos. Dificilmente o verbo esquecer fará parte das suas histórias.
8º Dia Lisboa – Regresso Brasil Final do dia
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