Recompor - Preenchimento de lacunas na Rua da Matriz (Livro do TG)

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO ARQUITETURA E URBANISMO Andressa Zerbinatti Oliveira e Silva

Recompor Preenchimento de lacunas na Rua da Matriz

Trabalho de graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco como requisito para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista. Orientador: Nilson Pereira

RECIFE Dezembro - 2019


Figura 01: Telhados do Recife. Fonte: MAGALHĂƒES, AloĂ­sio. O sobrado na paisagem recifense, 1952.


“A proteção estratégica dos tecidos urbanos antigos e a sua reapropriação pelas populações que os habitam, em lugar de os consumir, passam por uma outra via: a de uma tomada de consciência geral, seguida de uma ação que lhe esteja concertada” (CHOAY, 1992, p.204).



Agradeço a todos que contribuíram durante a jornada da graduação,

Especialmente à minha mãe, Rosi, por proporcionar todo o necessário e estar sempre disponível para ajudar como fosse possível, assim como as minhas tias Magda, Sandra e toda minha família. Ao meu namorado, Gustavo, que me incentivou e foi minha paz nos momentos de estresse. Ao meu grupo de amigos e futuros arquitetos, que se fizeram presentes tanto na vida acadêmica quanto na vida pessoal, me ajudaram ao longo do curso e sem os quais não alcançaria da mesma forma as etapas finais da graduação: Victória, Camila, Carol, Eduardo, Felipe, Hugo, Natália, Thais e Vanessa. Aos professores de Arquitetura e Urbanismo que proporcionaram todo o conhecimento necessário para o desenvolvimento do trabalho final de graduação. Agradeço à professora Amélia Reynaldo, que desde o primeiro período nos passou seu amor pela cidade e pela preservação do patrimônio arquitetônico, incentivando diretamente na minha escolha por um tema dentro da área de intervenção. À professora e coordenadora Paula Maciel, por orientar a primeira etapa do trabalho, e por toda a positividade e carinho nas mensagens motivacionais aos alunos concluintes. Ao professor Nilson Pereira, por orientar o trabalho até sua conclusão, por todas as referências e sugestões, que enriqueceram o trabalho e meu conhecimento dentro do tema abordado. Obrigada.



APRESENTAÇÃO O presente trabalho apresenta um estudo do perfil da Rua da Matriz, sua composição e alteração ao longo das décadas, para posteriormente propor a recomposição do conjunto histórico e preenchimento das lacunas urbanas por meio da inserção de novas edificações. O estudo se desenvolve com base nos princípios de intervenção em sítios históricos, para criar edificações contextualizadas, que irão abrigar o uso misto e favorecer a dinâmica urbana da área de ocupação. O trabalho se divide em conceituação, estudo do território, referencias projetuais e diretrizes, concluindo com o desenvolvimento da proposta final.



Sumário 1. Introdução .....................................................13 1.1 | Justificativa 1.2 | Objetivos 1.3 | Procedimentos Metodológicos

15 19 20

2. Preenchimento de lacunas urbanas..................25 2.1 | Patrimônio 2.2 | Os Restauradores e a Teoria do Restauro 2.3 | Cartas Patrimoniais 2.4 | Construir no Construído

25 27 29 33

3. Bairro da Boa Vista..........................................51 3.1 | Evolução urbana 3.2 | Patrimônio 3.3 | Legislação 3.4 | Rua da Matriz 3.5 | Análise territorial 3.6 | Reconstituição do perfil da Rua da Matriz 3.7 | Área de intervenção

52 56 63 64 69 88 94

4. Referências projetuais.....................................97 4.1 | Convento Lorette - Drbstrt / dmvA 99 4.2 | Conjunto Habitacional Rue des Poissonniers / MAAST 107

5. Proposta.......................................................113 5.1 | Diretrizes projetuais 5.2 | Uso e dimensionamento 5.3 | Desenvolvimento da volumetria 5.4 | Memorial descritivo

115 117 118 120

Lista de figuras....................................................133 Lista de quadros..................................................137 Lista de tabelas....................................................137 Lista de gráficos...................................................137 Referências..........................................................138



Introdução



1. INTRODUÇÃO Constituídas pela ocupação urbana tradicional e sua posterior expansão, as cidades retratam a diversidade da sociedade, uma expressão material, com conjuntos de edificações representantes das diversas épocas históricas e do fazer cultural testemunhados. São figuras estáticas, porém mutáveis, que surgem das necessidades humanas e se moldam aos seus desejos. Ao decorrer do tempo, as cidades passam por transformações, como o espalhamento do tecido urbano e as alterações dos sítios históricos, que comprometem a sua integridade. No entanto, a memória é elemento fundamental da construção identitária, e o patrimônio cultural, constituído pelos bens materiais e imateriais, assume papel importante nos processos de identificação, com base nos valores simbólicos que o tornam singular, e a existência de espaços de sociabilidade e vivência cultural. Ou seja, o lugar funciona como suporte da memória coletiva e da identidade social (HALBWACHS, 2006), identidade essa que se redefine no dia a dia, criando uma continua reiteração e recriação das manifestações culturais de grupos e comunidades (IPHAN, 2014). No Brasil, durante o regime do Estado Novo, surge uma política cultural voltada para construção de uma identidade nacional. As primeiras medidas oficiais para conservação começam em 1936, com o parecer de Mario de Andrade e outros intelectuais sobre arte, história, tradição e nação, através da criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan). A organização e proteção do patrimônio se dá pelo Decreto-lei nº 25 1937, no entanto, como o movimento nacionalista se associava ao movimento moderno, a visão da arte e da cultura como valores internacionais valorizou o passado colonial, representativo da origem da nação, enquanto afastava-se do regionalismo para garantir ao país o reconhecimento de nação moderna. A partir de 1967, as práticas de preservação se alinham ao processo de desenvolvimento e aos parâmetros internacionais de preservação, e durante a redemocratização do país, a participação da comunidade se torna parte da política cultural (FONSECA, 1996). O SPHAN, posteriormente denominado IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1970, é responsável por “promover o tombamento, a conservação, o enriquecimento e o conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional” (BRASIL, 1937, art. 46). No ano de 1975, a criação do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC) busca atender as diferentes formas de produção cultural e seus modos de circulação e consumo nas comunidades e grupos sociais locais. Foi posteriormente integrada à Fundação Nacional Pró-Memória, órgão executivo do IPHAN, onde se amplia a noção de patrimônio e a representação da cultura brasileira. A população é reconhecida como coautora das políticas culturais. Apesar das medidas tomadas para proteção dos centros históricos, estes que originalmente se caracterizavam por abrigarem todas as funções urbanas existentes e diferentes classes sociais, encontram-se hoje em processo de degradação. Os novos meios de transporte e a postura higienista adotada durante o movimento moderno, que estigmatizou os sobrados e casas térreas como ambientes insalubres, acarretam o esvaziamento do núcleo inicial de ocupação através das suburbanizações iniciadas no século XX, associadas a ideia do “morar saudável”. Esse esvaziamento abre espaço para as atividades não residenciais se instalarem, alterando o padrão funcional do espaço,


que posteriormente vem a disputar com as novas centralidades geradas pela oferta comercial e de serviços nos novos bairros. O surgimento dos shopping malls na década de 1980 agrava a desvalorização do centro tradicional, que, antes representante da totalidade da cidade, hoje se classifica como centro histórico 1 . Como consequência, torna-se necessária a salvaguarda do patrimônio e sua integração à vida contemporânea, de forma a garantir a sua conservação espiritual, cultural, econômica e social, através de um amplo leque de atividades, evitando a segregação das classes sociais e cumprindo sua função social 2 . Desta forma, é função do arquiteto e urbanista pensar possibilidades de aproveitamento dos espaços ociosos e estoque construtivo existente, incentivando o adensamento da cidade como um todo e dedicando atenção especial aos centros históricos, onde se enquadra o termo “Construir no construído”, ou seja, intervir na malha urbana existente. O Centro Antigo do Recife, dividido entre áreas de preservação e renovação, teve seu zoneamento definido pelo Plano Diretor de 2008 (Lei nº 17.511/2008). As zonas de preservação instituidas pelo município são denominadas ZEPH (Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural), delimitadas em 1996, na revisão da LUOS (Lei de Uso e Ocupação do Solo) com o objetivo de preservar o patrimônio histórico-cultural, representado pelos sítios, ruínas e conjuntos antigos. Apesar da destruição de boa parte do antigo traçado urbano no começo do século XX para modernização da cidade, o valor histórico do Centro Antigo é irrefutável, e em decorrência disto, o presente estudo irá abordar o patrimônio e sua preservação, quando a unidade da paisagem urbana é interrompida pelo aparecimento de lacunas. O intuito do estudo é a recomposição da leitura do conjunto histórico na Rua da Matriz, localizada na área da ZEPH 8.1 no bairro da Boa Vista através da inserção de uma nova edificação em contexto preexistente, preservando a identidade do conjunto e propondo um adensamento habitacional. O estudo parte da justificativa para escolha do tema, seguido pelos objetivos a serem alcançados e os procedimentos metodológicos. Após essa apresentação inicial do trabalho, a fundamentação se dá pela conceituação temática, que aborda a temática do patrimônio histórico, o desenvolvimento da sua salvaguarda e das ações de intervenção ao longo dos anos, baseando-se principalmente nos autores GRACIA (1992), ANDRADE JÚNIOR (2006) e as teorias de intervenção e restauro. O referencial será fundamental para intervir numa ZEPH, respeitando a ambiência urbana dos conjuntos e as características das edificações específicas, de modo a resgatar seu valor cultural na paisagem urbana. Logo após, a análise do território traz o estudo do bairro da Boa Vista e sua história, aprofundando-se nas tipologias predominantes, sobrado e casa porta e janela, componentes do processo de formação da área, que vem sendo modificados constantemente. Após a análise de algumas referências projetuais, por fim, é iniciada a proposta, a partir da distinção de diretrizes projetuais, onde se encontram os principais pontos a serem desenvolvidos no anteprojeto; o programa para o qual irá se desenvolver o projeto de intervenção e seu pré-dimensionamento.

[1] BERNARDINO (2015) [2] Manifesto de Amsterdã (1975)


1.1 JUSTIFICATIVA No centro antigo do Recife, o bairro da Boa Vista surge a partir da expansão urbana, e se configura como articulador de deslocamentos desde 1870, com o acesso promovido pela construção das pontes. O bairro possui um importante sítio histórico delimitado pela ZEPH 8.1, que sofreu com o esvaziamento iniciado no século XX, e continua ocorrendo nas últimas décadas, transformando essa localização central em um espaço de intenso fluxo de passagem, que no entanto possui baixa densidade habitacional 3 . A alteração do fluxo que se dirigia ao centro, em termos de intensidade, natureza e renda, assim como os insuficientes investimentos públicos e privados para o desenvolvimento dessas áreas, comprometem a convervação do conjunto antigo, que passa por um processo de deterioração 4 . De acordo com BERNARDINO & LACERDA, 2015, a rejeição à moradia no centro se dá pela avaliação negativa da qualidade do ambiente, infraestrutura e serviços públicos, principalmente a segurança. Tabela 01: Informações demográficas do bairro da Boa Vista.

Bairro Boa Vista

Área Const.

População

Domicílios

Dens. Pop.

Dens. Hab.

Moradores por

(ha)

(habitantes)

(habitações)

(habitantes/ ha)

(habitações/ ha)

Domicílio

176

14778

5999

98,5

34,08

2,4

Fonte: CENSO Demográfico, 2010. Disponível em: <www.recife.pe.gov.br>. Gráfico desenvolvido pela autora.

Figura 02: ZEPH 8.1 e entorno. Fonte: Desenvolvido durante a disciplina de Ordenamento Urbano e Territorial, 2018.1. Atualizado pela autora. [3]De acordo com Jane Jacobs, a densidade habitacional mínima é de 250 habitações por hectare. (JACOBS, 2000 apud SILVA, 2016) [4]VARGAS, 2006


O uso comercial e de serviço foi se instalando em parte do estoque construtivo que se encontrava sem uso, ocupando porém apenas os térreos e gerando modificações na morfotipologia das edificações predominantes, para que se adequassem à um uso incompatível, que rasgou os térreos, aslterou as fachadas e volumetrias. Estas alterações são responsáveis pela descaracterização de boa parte das edificações encontradas na área de preservação. No entanto, mais devastador do que o uso indevido, tem sido o abandono completo de edificações históricas, que por vezes chegam a ruir, permanecendo apenas as fachadas externas, ou um terreno vazio.

Figura 03: Padrão funcional na ZEPH 8.1 e entorno. Fonte: Desenvolvido durante a disciplina de Ordenamento Urbano e Territorial, 2018.1. Atualizado pela autora.

A Rua da Matriz, no coração do sítio histórico do bairro da Boa Vista foi escolhida para o projeto de intervenção. A potencialidade da sua localização entre áreas de predominância comercial e residencial, além da sua característica histórica e proximidade à espaços públicos, permite a sua transformação em um eixo conector. Em relação ao conjunto edificado, se encontra ainda preservada em partes, apesar de possuir lacunas na composição, representadas por edificações descaracterizadas através da ocupação do comércio e depósito de carroças, subutilizadas ou abandonadas, assim como terrenos vazios nos quais os antigos sobrados e casas porta e janela foram demolidos. Dentre a arquitetura que permanece caracterizada ou pouco modificada, aparecem também problemas relacionados à falta de manutenção, que abrem espaço para ação danificadora do tempo e de agentes naturais, como fungos, intempéries e crescimento de vegetação.


Figura 04: Edificações abandonadas, subutilizadas e descaracterizadas na esquina da Rua da Matriz com a Rua Velha. Fonte: Google Street View, 2018. Acesso em 25 de ago de 2019.

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Figura 05: Vazios urbanos na ZEPH 8.1 e entorno. Fonte: Desenvolvido durante a disciplina de Ordenamento Urbano e Territorial, 2018.1. Atualizado pela autora.


A existência desses espaços ociosos na malha histórica, sejam estes terrenos vazios, edificações vazias ou subutilizadas é uma consequência do abandono/desocupação das edificações residenciais, apropriação indevida dos espaços públicos e ocupação inadequada das edificações, que se torna pretexto para procedimentos de intervenção, com o intuito de recuperar a forma física e a funcionalidade de imóveis ou áreas em estado crítico, garantindo a sua função social e devida ocupação, com adensamento construtivo e populacional na medida do possível, sem interferir na malha histórica e nas características da sua paisagem.


1.2 OBJETIVOs Elaborar um estudo preliminar para reintegração de edificações descaracterizados e preenchimento de lacunas urbanas no conjunto antigo da Rua da Matriz, ZEPH 8.1: Bairro da Boa Vista. Específicos:  Reconhecer as estruturas existentes como base para uma nova configuração estética e funcional nos vazios e edificações descaracterizadas do conjunto antigo  Propor volumetrias para os terrenos vazios, em consonância com a preexistência  Contribuir para o adensamento populacional da área incentivando a reinserção do uso habitacional no conjunto  Elaborar um estudo de recomposição de fachadas para edificações descaracterizadas  Inserir o Patrimônio Histórico Edificado na vida contemporânea, de forma a contribuir para sua valorização e, consequentemente, prevenir sua degradação


1.3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Quadro 01: Procedimentos metodológicos.

Intervenção em Sítios Históricos Revisão do referencial teórico sobre intervenção no Patrimônio Histórico Edificado, com foco nos livros de Francisco de Gracia e na tese de Nivaldo de Andrade Júnior.  Os Restauradores – BOITO (1884)  Cartas Patrimoniais  Teoria da Restauração – BRANDI (1963)  Construir en lo construído: La arquitectura como modificación – GRACIA (1992)  Metamorfose arquitetônica: intervenções projetuais contemporâneas sobre o patrimônio edificado – ANDRADE JUNIOR (2006) Território: ZEPH 8 Boa Vista Estudo da história do bairro, sua evolução no decorrer dos anos e da legislação vigente. Estudo das tipologias sobrado e casa porta e janela, assim como das modificações que as mesmas sofrem ao decorrer dos anos. Análise territorial da área de estudo. Estudo do perfil da Rua da Matriz.  O Lugar como categoria de análise - a definição de zonas de interesse no Bairro da Boa Vista, Recife/PE – GARCIA (2012)  Sobrados e casas térreas no Recife: tipos em transformação – NÓBREGA & PEREIRA (2016) Visita de campo  Coleta de dados sobre a situação atual do conjunto edificado  Elaboração de mapas


Referências projetuais Escolha de referências relacionadas ao preenchimento de lacunas em contexto preexistente, analisando as soluções projetuais utilizadas a partir das seis características abordadas em ANDRADE JÚNIOR (2006), assim como a resolução espacial.  Convento Lorette - Drbstrt, Bélgica – dmvA Arquitetos (2014)  Conjunto Habitacional Rue des Poissonniers - MAAST (2013) A Proposta Formulação das diretrizes projetuais, programa e dimensionamento. Desenvolvimento da volumetria. Memorial descritivo. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.



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Figura 06: Ilustração da Praça Maciel Pinheiro. Fonte: SETTE, 1948. 5

6 SETTE, Mario. Arruar: História pitoresca do Recife Antigo. Rio de Janeiro, RJ: Livraria-Editôra da casa do estudante do Brasil, 1948.


2.Preenchimento de lacunas urbanas As cidades são espaços mutáveis que derivam de seus núcleos originários, denominados sítios históricos. Essas paisagens estabelecidas, assim como as demais áreas urbanas, devem manter sua característica de adaptabilidade, não devendo ser congeladas para preservação de seu valor e memória, mas sim integradas ao cotidiano. Com o intuito de melhor adequar esses centros históricos aos tempos atuais, as ações interventivas, por vezes, tornam-se necessárias, sendo preciso para sua realização a análise do contexto existente. “Alterar os lugares existentes só se justifica se o fazemos mais adequados para a vida do homem” (GRACIA, 1992, p.178). A conceituação do seguinte capítulo aborda então o patrimônio edificado, sua salvaguarda, e as características dos diferentes tipos de intervenção.

2.1 Patrimônio histórico cultural “obras e obras-primas das belas artes e das artes aplicadas, trabalhos e produtos de todos os saberes e conhecimentos humanos” (CHOAY, 1992, p.11).

O termo Patrimônio Histórico se refere à um fundo destinado para o uso da comunidade, o qual é constituído por elementos variados que surgiram no decorrer dos anos, bens culturais, classificados de acordo com sua natureza. Essa classificação é representada primeiramente entre bens imateriais, que seriam as práticas e domínios da vida social, e os bens materiais, os quais se subdividem entre móveis e imóveis. Os bens móveis se constituem de elementos como coleções e acervos, enquanto os imóveis são as cidades históricas, sítios arqueológicos e paisagísticos, dentre outros (IPHAN, 2014). Estes Patrimônios fazem parte da construção identitária das comunidades, a partir dos valores simbólicos que o tornam singulares. Para desenvolvimento do estudo, são abordados os bens materiais imóveis, em especial o sítio histórico, marcado pela existência de espaços de sociabilidade e vivência cultural, onde o lugar funciona como suporte da memória coletiva e da identidade social (BERNARDINO, 2011 apud HALBWACHS, 2006). Os bens imóveis são também denominados monumentos ou monumentos históricos, sendo o monumento aquele que surge de forma deliberada, ao passo que o monumento histórico se converte em tal, a partir do reconhecimento do seu valor, seja ele educativo, econômico ou artístico. De acordo com CHOAY (1992), o nascimento do monumento histórico pode ser situado em Roma, por volta de 1420, quando Martinho V estabelece a sede do papado em uma cidade destruída, à qual pretende devolver o prestígio do passado. É apenas na segunda metade do século XVIII, que os processos de intervenção em edificações deixam de seguir exigências práticas, voltadas para as adaptações necessárias, e passam a ser baseados em análises sistemáticas mais rigorosas, acompanhadas do conhecimento histórico. No século XIX, a restauração se consolida como ação cultural, onde o


monumento histórico é considerado insubstituível, e a industrialização contribui para acelerar as legislações de proteção do monumento e demais ações mais concretas em favor da salvaguarda do patrimônio, que surgem ao início do século XX. Com o intuito de preservar a identidade do patrimônio, pensadores denominados Restauradores versaram sobre as formas de preservação das edificações históricas, tendo seus ideais compilados em 1884, por Camilo Boito. Suas contribuições fazem parte da atual fundamentação teórica da restauração dos bens culturais, tema abordado também pelas cartas patrimoniais a partir de 1931 e por Cesare Brandi em 1963, determinando critérios para a salvaguarda do patrimônio e ações interventivas. Por volta dos anos 1960, o monumento histórico entra na sua fase de consagração, e em 1965 surge a associação do patrimônio cultural e natural a serem conservados de forma conjunta, durante uma conferência nos Estados Unidos, quando se cria a Fundação do Patrimônio Mundial, que promoveu a cooperação internacional para preservação de áreas naturais e sítios históricos. Em 1972 a Conferência Geral da UNESCO adota um texto único denominado de Convenção sobre a Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural, explicitando a necessidade do equilíbrio entre as duas áreas. O patrimônio passa a ser visto como instrumento do progresso. No Brasil, durante o regime do Estado Novo, surge uma política cultural voltada para construção de uma identidade nacional. As primeiras medidas oficiais para conservação começam em 1936, com o parecer de Mario de Andrade e outros intelectuais sobre arte, história, tradição e nação, através da criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Sphan). A organização e proteção do patrimônio se dá pelo Decreto-lei nº 25, no entanto, como o movimento nacionalista se associava ao movimento moderno, a visão da arte e da cultura como valores internacionais valorizou o passado colonial, representativo da origem da nação, enquanto afastava-se do regionalismo para garantir ao país o reconhecimento de nação moderna. A partir de 1967, as práticas de preservação se alinham ao processo de desenvolvimento e aos parâmetros internacionais de preservação, e durante a redemocratização do país, a participação da comunidade se torna parte da política cultural (FONSECA, 1996). O SPHAN, posteriormente denominado IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) em 1970, é responsável por “promover o tombamento, a conservação, o enriquecimento e o conhecimento do patrimônio histórico e artístico nacional” (BRASIL, 1937, art. 46). No ano de 1975, a criação do Centro Nacional de Referência Cultural (CNRC) busca atender as diferentes formas de produção cultural e seus modos de circulação e consumo nas comunidades e grupos sociais locais. Foi posteriormente integrada à Fundação Nacional Pró-Memória, órgão executivo do IPHAN, onde se amplia a noção de patrimônio e a representação da cultura brasileira. A população é reconhecida como coautora das políticas culturais.


2.2 Os Restauradores e a Teoria do Restauro “Entende-se por restauração qualquer intervenção voltada a dar novamente eficiência a um produto da atividade humana”. (BRANDI, 1963, p.25)

A obra sintetizadora de Camilo Boito, denominada Os restauradores, reúne experiências e conceitos relacionados à restauração, através de uma reelaboração crítica para o período, baseando-se na conferência apresentada durante a exposição de Turim, em 1884. Previamente, opunham-se duas doutrinas: a intervencionista, defendida por Viollet-le-Duc, predominante na maioria dos países europeus; e a anti-intervencionista, representada pela Inglaterra nas figuras de John Ruskin e William Morris. De acordo com BOITO (1884), Viollet-le-Duc pretendia alcançar o estado completo do edifício, mas de forma idealizada, sem se importar se para tal fosse necessário apagar as marcas do tempo sobre a obra através de alterações e substituições; enquanto que John Ruskin defendia o respeito pela matéria original e da pátina (marca da passagem da obra pelo tempo), aconselhando manutenções periódicas e admitindo a possível “morte” de edificações. No final do século XIX, Camilo Boito, através da análise das diferentes experiências apresentadas, consolida uma terceira via, onde estabelece alguns princípios da restauração, com um posicionamento que recolhe o melhor de cada um para formular uma síntese dos ideais defendidos por Viollet-le-Duc e John Ruskin. Considera a conservação como obrigação da sociedade e do governo, de forma a evitar a necessidade do restauro, que por vezes se caracteriza como atitude oposta à conservação. Evidencia a relevância dos valores históricos e estéticos, e aponta também os perigos de completar obras existentes, podendo produzir falsificações. “pode surgir a necessidade de restaurar. Concedamos. Olhe-se bem nos olhos tal necessidade e compreenda-se o que significa. É a necessidade de destruir. Aceitem-na como tal, destruam o edifício, dispersem as pedras, façam delas lastro ou cal se quiserem; mas façam isso honestamente, e não coloquem uma mentira no lugar do verdadeiro. (BOITO, 1884, p.56 apud Venezia, Fontana, 1882)

Os sete princípios fundamentais enunciados em BOITO (1884) foram a ênfase no valor documental dos monumentos; evitar acréscimos e renovações, mas garantir a clara distinção da preexistência, sem entrar em dissonância, quando estes venham a ser realizados; os complementos de partes deterioradas ou faltantes devem ser de material distinto do original ou ter a data da intervenção gravada, ou possuir formas simplificadas; obras de consolidação devem se limitar ao estritamente necessário; respeitar as fases do monumento, sendo as remoções admitidas em casos de qualidade artística “manifestamente inferior à do edifício”; registrar as obras antes, durante e depois da intervenção, com descrições e justificativas; colocar uma lápide que indique a data e quais obras foram realizadas. Tornam-se destaque então a distinguibilidade e a mínima intervenção, além do princípio da reversibilidade.


“Convém deixar incompleto e imperfeito tudo aquilo que se encontra incompleto e imperfeito. Não é necessário permitir-se corrigir as irregularidades, nem alinhar os desvios, porque os desvios, as irregularidades, os defeitos de simetria são fatos históricos repletos de interesse, os quais frequentemente fornecem os critérios arqueológicos para confrontar uma época, uma escola, uma ideia simbólica. Nem acréscimos, nem supressões”. (BOITO, 1884, p.59 apud Mérimée, 1837)

Os estudos de Gustavo Giovannoni, dão continuidade à teoria de Boito e elaboram desde 1913 o conceito de arquitetura menor, termo que passa a fazer parte de um novo tipo de monumento, o conjunto urbano antigo, a partir do qual se funda a doutrina de conservação e restauro do patrimônio urbano. “Uma cidade histórica constitui em si um monumento” (CHOAY, 1992, p.123 apud GIOVANNONNI, 1932), ao mesmo tempo que se apresenta como tecido vivo, possuindo um valor museológico, e de utilização, sob a condição de nestes não se instalarem atividades incompatíveis com a sua morfologia e escala. A doutrina fundada por Giovannoni presa pela integração de qualquer fragmento urbano antigo em planos de ordenamento, assim como pelos procedimentos de preservação e restauro, não devendo nenhum monumento ser isolado do seu entorno. A Teoria da Restauração, texto escrito por Cesare Brandi em 1963, define a restauração como momento de reconhecimento da obra de arte, produto da atividade humana, de valor estético e histórico, que deve ser transmitida ao futuro. Assim como BOITO (1884), BRANDI (1963) ressalta a importância da restauração preventiva, ou conservação, como forma de evitar a restauração de extrema urgência, visto que esta se caracteriza por uma ação interventiva, que apesar do intuito de conservar a obra de arte da forma mais íntegra possível, pode produzir alterações do conteúdo original. A arquitetura, apesar de se caracterizar também como obra de arte, possui particularidades referentes à sua espacialidade, de forma que o restauro arquitetônico deve considerar em primeiro lugar a estrutura formal da arquitetura, que constitui a relação espacial entre o monumento e o seu entorno. A problemática das alterações em sítios históricos se dá pela característica do entorno, que assim como o objeto arquitetônico, se constitui como monumento, do qual o objeto é elemento indissolúvel. O conceito de unidade define então os limites da restauração, sendo a obra de arte composta por partes não autônomas, que no contexto ao qual pertencem perdem valor individual e são reabsorvidas pela unidade. A remoção de qualquer fração altera a legibilidade e compreensão do todo, devido à quebra da composição original e ao aparecimento de lacunas, “será como ler palavras em um dicionário, as mesmas palavras que o poeta havia reagrupado em um verso e que, se dele retiradas, voltam a ser grupos de sons semânticos e nada mais” (BRANDI, 1963, p.43). A alteração da espacialidade pode chegar a invalidar um monumento como obra de arte e, por isso, se deve buscar quando possível a unidade potencial preexistente, de acordo com o que sugerem os fragmentos ou testemunhos da unidade original, não devendo ameaçar a autenticidade da obra para tal.


“Vale dizer que, ao contrário da maioria dos produtos da atividade humana, a obra de arte não é composta de partes e, como tal, não pode ser decomposta. Será exatamente o reconhecimento dessa especial unidade formal que irá permitir a intervenção restaurativa” (DOURADO, 2003).

Os princípios enunciados em BOITO (1884) são reforçados em BRANDI (1963). Com a instância histórica e estética como norteadoras da restauração, não devem ser cometidos falso artístico ou falso histórico, de forma que a integração necessita ser de fácil reconhecimento, permitindo a clara distinção entre o conteúdo original e a intervenção, ao mesmo tempo que possibilita a leitura da unidade. Devem também existir o respeito pela pátina, marco da passagem da obra pelo tempo, desde a criação até o presente, e permitir que, no futuro, novas intervenções sejam feitas. No caso particular das ruínas, ao invés da integração, a restauração deve corresponder apenas à consolidação e conservação de seu estado atual, devido ao seu valor histórico enquanto peça da ação humana, mutilada, porém reconhecível. Do ponto de vista histórico, são legítimas as conservações das adições, devendo as remoções serem justificadas. No entanto, como a essência das obras de arte se encontram na sua própria artisticidade, se a adição interfere na leitura do objeto, deverá então ser removida, tendo o cuidado da conservação à parte e documentação dessa passagem histórica. As reconstruções, repristinações e cópias não se enquadram no tema da restauração. “A adição pode completar, ou pode desenvolver, sobretudo na arquitetura, funções diversas das iniciais; [...] O refazimento, ao contrário, pretende replasmar a obra, intervir no processo criativo de maneira análoga ao modo como se desenrolou o processo criativo originário, refundir o velho e o novo de modo a não distingui-los” (BRANDI, 1963, p.73).

2.3 Cartas Patrimoniais As Cartas Patrimoniais surgem no início do Século XX após a Segunda Guerra Mundial, com o intuito de indicar orientações em função da salvaguarda do patrimônio. A Carta de Atenas de 1931 é a primeira delas, e aborda as preocupações da época em relação a aspectos legais, técnico-construtivos e norteadores da ação de conservação. A Carta opta por evitar a restauração, favorece a conservação da autenticidade dos monumentos e recomenda sua manutenção regular, além de mencionar a necessidade das organizações nacionais e internacionais voltadas para preservação e restauro do patrimônio. A Carta de Veneza em 1964 acaba com “a noção de monumento histórico entendido como uma criação isolada que constitui testemunho de uma civilização” (BARACHO, 2013) e, de acordo com as Normas de Quito (1967) e a Carta do Restauro (1972), os bens patrimoniais são instrumentos de progresso que devem ser habilitados sem alteração da sua identidade, permitindo novos usos para o cumprimento da sua função social, desde que não sejam incompatíveis quanto a sua tipologia e


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䌀愀爀琀愀 搀攀 䈀愀最 ㈀ 㜀 挀愀爀琀愀 搀攀 戀爀愀猀氀椀愀 ㈀ ㄀ Figura 07: Linha cronológica das cartas patrimoniais utilizadas para o estudo. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


espacialidade, devendo a valorização destes se relacionar com o desenvolvimento socioeconômico. A Carta do Restauro (1972) define restauração como qualquer intervenção designada a manter o funcionamento, facilitar a leitura e transmitir as obras ao futuro. Em 1974, a Resolução de São Domingos recomenda que os centros históricos façam parte do turismo e das políticas de habitação, podendo a iniciativa privada apoiar financeiramente para sua conservação e valorização. Define-se a necessidade de oficinas para formação da mão de obra qualificada para o restauro e políticas que integrem o patrimônio ao cotidiano da coletividade. O Manifesto de Amsterdã, de 1975, aponta além da habitação, a ambiência dos conjuntos históricos e suas características plurais que permitem a diversidade de usos e evitam a segregação das classes sociais, trazendo também a noção de conservação integrada, onde técnicas da restauração se aliam as pesquisas de funções apropriadas. A Recomendação de Nairóbi, 1976 reforça as determinações prévias e determina “uma parte suficiente de créditos previstos para construção de habitações sociais destinada à reabilitação de edificações antigas” e cuidado especial no controle de novas edificações para que estas sejam consonantes com a preexistência. A Carta de Petrópolis (1987) entende o Sítio Histórico Urbano - SHU como expressão material do fazer cultural, distinguindo-se das demais regiões da cidade por sua condição de área crítica. O SHU, assim como todo espaço edificado, é proveniente da produção social, sendo sua substituição injustificável enquanto possuir potencial sociocultural. A preservação é uma forma de garantir a manutenção do patrimônio e a expressão da cidadania, devendo também assegurar a permanência das populações residentes e atividades tradicionais que são compatíveis com a ambiência. Alguns dos instrumentos legais para preservação são: tombamento, inventário, normas urbanísticas, isenções e incentivos, declaração do interesse cultural e desapropriação. O valor social da propriedade deve prevalecer sobre seu valor comercial. A Carta de Washington, também em 1987, afirma que todas as cidades são históricas, pois representam de forma material a diversidade das sociedades e, para garantir sua salvaguarda, devem ser feitas além das manutenções, melhorias das habitações. As novas funções devem se adaptar às características do tecido histórico, podendo haver introdução de elementos contemporâneos que não perturbem a harmonia do conjunto. A Recomendação Europa (1995) evoca a necessidade do equilíbrio entre a sociedade e seu meio ambiente, através da conservação integrada das áreas de paisagens culturais. São propostas medidas para conservação e evolução controlada, inspiradas nos princípios de desenvolvimento sustentável. A poluição visual de instalações ou equipamentos técnicos deve ser evitada, assim como a má locação de árvores, zonas florestais ou projetos construtivos. Por serem constituídas de recursos sócio-econômicos não renováveis, as áreas de paisagem cultural devem ter seu uso planejado, preservando sua integridade. Na Carta de Bagé (2007), foi abordada de forma específica as reservas de água potável, a necessidade da biodiversidade e do pluralismo cultural, sendo as paisagens pontos de união entre povos vizinhos. Os procedimentos de salvaguarda devem garantir assistência aos


usuários da paisagem e suas populações existentes, assegurando condições de sustentabilidade. Por último, na Carta de Brasília (2010), é apontado o princípio da sustentabilidade, que determina que devemos suprir as necessidades atuais, sem afetar a habilidade das gerações futuras de suprirem as suas próprias necessidades. Ao decorrer dos anos, as Cartas Patrimoniais avançam desde a preservação do monumento de forma singular, para a preservação do seu entorno e posteriormente dos sítios históricos como um todo, até a conservação da paisagem cultural, sendo esta a definição mais abrangente, que pode apresentar todos os bens indicados pela Constituição. Desta forma, a noção atual de conservação engloba todos os bens de natureza material e imaterial testemunhos do relacionamento existente entre os indivíduos e seu meio, representando a memória do povo e a identidade cultural das comunidades. Dentre eles estão os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico e paisagístico, em um sistema dinâmico onde os elementos naturais e culturais se encontram em constante interação.

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倀愀椀猀愀最攀洀 挀甀氀琀甀爀愀氀 Figura 08: Diagrama da evolução da salvaguarda do patrimônio. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


2.4 Construir no construído Deve-se aceitar que toda intervenção altera o genius loci, sendo a modificação de usos, funções e significados, ações conscientes relacionadas à dinâmica da cidade, desde que dentro do contexto e garantindo a estabilidade da identidade. O genius loci, segundo Rossi seria a “relação singular e, no entanto, universal que existe entre certa situação local e as construções que estão naquele lugar” (GRACIA, 1992 apud ROSSI, 1996, p. 185). As diferentes possibilidades na ação interventiva variam de acordo com o nível de intervenção, tipo, padrão e sua relação com o entorno. No contexto do edifício, é possível identificar três diferentes níveis de intervenção: a modificação circunscrita, a modificação do locus e a pauta de conformação urbana. Para cada nível derivam tipos de intervenção. (GRACIA, 1992) (ANDRADE JÚNIOR, 2006) a) Primeiro nível - A modificação circunscrita (Modificação interna de edificações preexistentes): Intervenção que se resume ao edifício, tratando da manipulação de um elemento que entra em regeneração, cresce ou se modifica, preservando a sua configuração urbana, com leve repercussão no entorno. “Nesse nível se cobra, especialmente, a expressão deixar o edifício falar” (GRACIA, 1992, p. 190). A modificação pode ocorrer dos seguintes modos:  Atualização Funcional ou Renovação: A função do edifício histórico é mantida, enquanto que são feitas alterações para atender as novas demandas, que podem surgir a partir de mudanças na legislação. Variam da modificação total da espacialidade interna do edifício existente, quando se preserva apenas as fachadas e estrutura mural; até a preservação total da edificação.  Adaptação a Novos Usos ou Reciclagem: Intervenções que por vezes se confundem com o restauro, porém vão além da conservação ou restauração, pois consideram as necessidades do novo programa e as consequentes modificações. A tipologia da edificação é de grande relevância quanto à escolha de novos usos, pois a configuração espacial deve ser compatível com a preexistente. “O restauro crítico se baseia na ideia de que é impossível intervir em um monumento sem realizar escolhas críticas precisas, identificando e recuperando aqueles elementos que lhe conferem o valor de obra de arte ou valor histórico.” (ANDRADE JUNIOR, 2006, p. 61)  Ampliação Interna: Intervenções com aumento significativo da área útil coberta, sem a adição de volumes. Ocorre a partir da construção de pavimentos subterrâneos ou fechamento superior de pátios e poços internos.


Figura 09: Vista do Grande PĂĄtio do British Museum em Londres. Fonte: Foster and Partners. DisponĂ­vel em: <www.fosterandpartners.com>. Acessado em 19 abril 2019.



b) Segundo nível - A modificação do locus (Modificação externa de edificações preexistentes): Intervenções que repercutem no âmbito urbano constituído, porém se limitando ao projeto de arquitetura. Alteram o genius loci e a configuração urbana do edifício, tendo impacto variável de acordo com o entorno do edifício ou edifícios em que se opera. Alguns exemplos são: as ampliações de certa dimensão, corpos autônomos com conectores, novos volumes capazes de atuar como conexão entre outros preexistentes.  Atualização Simbólica ou Restyling: Intervenções de renovação ou ampliação de edifícios históricos, que modifica a sua configuração externa em partes da fachada, substituindo a imagem da preexistência por uma nova. Representam suturas urbanas, onde a aparência exterior se altera para diminuir o contraste entre a edificação e o contexto em que se insere. Se encontram nessa categoria também: empacotamento do edifício com novos materiais, tornando sua aparência original imperceptível; edifícios-holograma, que transformam a superfície em elemento instável fruto da tensão entre matéria e tempo a partir da mudança da imagem sem alteração da conformação tectônica; fachada diafragma, dependente das condições contextuais ou introdução de novos elementos funcionais.  Ampliação Externa: Intervenção que torna a ampliação e a preexistência em elementos percebidos como um todo, sendo definida pela construção perceptível desde o espaço urbano. Pode ser feita pela sobreposição da nova estrutura à preexistente, chamada de ampliação em altura ou ampliação vertical, porém, deve-se estar atento para não descaracterizar a edificação à qual se acresce.  Utilização de Ruína: Intervenção em ruína para restabelecer seu uso original, adaptar a novos usos ou torná-la utilizada enquanto ruína. É possível preservar sua característica de ruína e adicionar estruturas e organizar percursos e fluxos para visitação, integrando-a ao cotidiano.

Figura 10: Intervenção no Museu das Missões em São Miguel das Missões. Fonte: Igor Fracalossi, 2011. Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acessado em 19 abril 2019.


c) Terceiro nível - Pauta da conformação urbana (Construção de nova edificação em contextos preexistentes): Intervenções que correspondem à novas unidades, vinculadas a edifícios ou conjuntos de valor cultural significativo. Sugerem uma forma de construir a cidade, afetando o caráter morfológico de onde se inserem e com grandes variações nas escalas do projeto. Essas práticas modificadoras tentam concretizar cheios e vazios, podendo apresentar-se em áreas onde a paisagem preexiste não necessita ser aceita como predominante ou em espaços não consolidados. São intervenções desta natureza:  Anexo: Nova construção, vinculada à antiga para ampliar a área do edifício, sem ser, no entanto, percebida como parte do edifício-matriz ou, obrigatoriamente, possuir conectores entre o novo e o antigo. Costuma ser de ordem funcional.  Edifício em Contexto Preexistente: Edificação nova implantada em terrenos vazios dos sítios históricos e em vizinhanças imediatas de monumentos. Deve ser analisada pela relação estabelecida com a preexistência. As edificações não devem ser vistas como objetos individuais, e, portanto, as intervenções consideram as relações formais a partir de técnicas contextuais conduzidas por padrões de atuação. GRACIA (1992) identifica cinco padrões de atuação: a) Primeiro padrão - Conformação do tecido urbano: Intervenções concentradas na recomposição do sistema, constituído pelo tecido urbano “de volumes construídos com espaços residuais, ou de vazios organizados entre sólidos” e que produzem uma formalização espacial. As operações de sutura de áreas fragmentadas aumentam a densidade construtiva e melhoram sua estruturação. b) Segundo padrão - Oclusão do espaço urbano: Intervenção de oclusão no sentido de delimitação de espaços urbanos parcialmente indeterminados, através da ocupação de vazios, tornando a definição da volumetria desses espaços mais precisa. c) Terceiro padrão - Continuidade de imagem: Intervenções que potencializam a relação visual entre novo e antigo, voltadas principalmente para aspectos plásticos da arquitetura. É necessário evitar os maneirismos, como a falta de relação entre interior e exterior, porém, quando bem solucionadas, estabelecem uma relação sutil entre a nova contribuição e a preexistência.


Figura 11: Consolidação da lacuna no Neue Museum Berlin. Fonte: Linus Lintner. Disponível em: <www.kardorff.de/en/project/neues-museum>. Acessado em 25 agosto 2019.



Figura 12: Diagrama de restabelecimento da forma + figura do Neues Museum Berlin. Fonte: Cortesia David Chipperfield Architekten Berlin. Disponível em: BRENDLE, 2017.

d) Quarto padrão - Recriação de formas tipológicas: Intervenção que supõe a preservação da memória, seguindo o impulso racional e usando condições locais. As formas vernáculas buscam a perfeição essencialista, ao mesmo tempo que permitem materiais e técnicas contemporâneas. d) Quinto padrão - Colisão de estruturas formais: Intervenção como crítica arquitetônica mediante a oposição ao passado e confrontação formal com o construído. Entende a continuidade como uma impossibilidade e se incorpora ao lugar através do contraste, se distanciando das leis de formação da cidade.

Figura 13: Centro Georges Pompidou. Fonte: Come To Paris. Disponível em: <www.cometoparis.com>. Acessado em 19 abril 2019.


Alguns princípios norteadores para intervenção na preexistência, de acordo com BOITO, 1884, e o certificado GBC Historic Building, 2104, são:  O princípio de reversibilidade: Possibilita a reversão da intervenção, sem danificar o patrimônio. Visa permitir que futuras gerações, com tecnologias possivelmente mais avançadas do que as nossas, elaborem um maior grau de conservação e de maneira mais respeitosa. As técnicas tradicionais ou contemporâneas devem garantir a autenticidade e a estética.  O princípio da distinguibilidade: Quando adições se fazem necessárias, estas devem se distinguir dos elementos históricos em materialidade ao mesmo tempo que respeitam a sua forma original.  O princípio da compatibilidade: Concerne a durabilidade do trabalho para posterioridade, podendo ser aplicado a diversos elementos que alcançam desde as formas em que a edificação pode ser usada, até os materiais usados nas superfícies arquitetônicas e para consolidação estrutural. As intervenções no Sítio Histórico pressupõem a compreensão da morfotipologia do contexto existente. A compreensão de aspectos formais como volumetria, implantação, escala, densidade ou massa, ritmo, e cores e texturas dos materiais de acabamento possibilitam definir relações de consonância ou dissonância da nova arquitetura com a preexistência. De um modo geral, deseja-se a consonância, entendendo essa como uma intervenção com identidade temporal, mas que dialoga com a preexistência. Mesmo no caso de dissonância, em geral, busca-se que ocorra da forma mais integrada possível. Autores como GRACIA (1992) e ANDRADE JÚNIOR (2006) aprofundam esta temática e são a base teórica para a compreensão da influência dos aspectos formais na leitura urbana e definição de proposta de intervenção. a) Volumetria: Forma geral ou morfologia do objeto arquitetônico, que determina a sua aparência final. As novas edificações se encontram em consonância com a preexistência quando possuem volumetria semelhante, e em dissonância quando o novo volume é feito de forma distinta do padrão encontrado no entorno. O volume sofre influência direta da forma como a edificação é implantada, e da sua escala. (ANDRADE JÚNIOR, 2006)


Figura 14: Exemplificação de volumetria consonante e dissonante. Fonte: Desenvolvida na disciplina de Atelier de Projeto VIII, 2018.2.

b) Implantação: Corresponde à localização da nova edificação com relação ao espaço urbano e às preexistências. A implantação de novas edificações se encontra em consonância quando respeita o traçado urbano original, e em dissonância quando quebra sua lógica. Como exemplo, em Sítios Históricos nos quais as edificações se implantam lado a lado, sem recuos, a intervenção consonante segue este padrão, enquanto a dissonante será recuada das demais edificações. Além dos recuos, características tipológicas como pilotis conformariam a dissonância com o tecido histórico. (ANDRADE JÚNIOR, 2006)

Figura 15: Exemplificação da implantação consonante e dissonante. Fonte: Desenvolvida na disciplina de Atelier de Projeto VIII, 2018.2.


c) Escala: Dimensão das edificações, não apenas em relação ao gabarito, mas também à proporção. Escalas consonantes com a preexistência são aquelas que possuem proporções gerais aproximadas ao contexto em que se inserem, enquanto as escalas dissonantes se distanciam dessa proporção. Em Centros Históricos, edificações de gabarito muito elevado ou que quebrem a lógica do parcelamento do solo, serão dissonantes. Numa boa relação entre a intervenção e o entorno em que se insere, o gabarito se repete, e o parcelamento do solo é demarcado através da volumetria ou outros artifícios. (ANDRADE JÚNIOR, 2006)

Figura 16: Exemplificação de escala consonante e dissonante. Fonte: Desenvolvida na disciplina de Atelier de Projeto VIII, 2018.2.

d) Densidade ou massa:

Figura 17: Exemplificação de densidade consonante e dissonante. Fonte: Desenvolvida na disciplina de Atelier de Projeto VIII, 2018.2.

Referente à massa, densidade ou peso aparente do objeto arquitetônico, através dos materiais e da relação de cheios e vazios. Se relaciona ao volume, pois pode reforçar ou tornar mais sútil a volumetria, de acordo com os materiais. A utilização de estruturas e materiais leves e transparentes


costuma gerar uma relação de dissonância para intervenções em tecidos históricos, com arquitetura densa e pesada. Para obter uma relação de consonância, o projeto deve ser pensado para reinterpretar e se apropriar das relações existentes entre volume, materialidade e fenestrações. (ANDRADE JÚNIOR, 2006) e) Ritmo: Definido pela repetição de elementos compositivos das fachadas, como: fenestrações (aberturas), estrutura (quando aparente), elementos decorativos salientes ou escavados, mudanças de cores, materiais e acabamentos. Uma situação de consonância se caracteriza pela repetição do ritmo da preexistência, podendo esta repetição se desenvolver de forma abstrata, enquanto a dissonância quebra o ritmo existente na composição. Mesmo quando outros dos elementos abordados se encontram em dissonância, novas edificações podem manter uma relação mais consonante através do ritmo. (ANDRADE JÚNIOR, 2006)

Figura 18: Exemplificação de ritmo consonante e dissonante. Fonte: Desenvolvida na disciplina de Atelier de Projeto VIII, 2018.2.

f) Cores e texturas dos materiais de acabamento: Características dos materiais de acabamento dos elementos-massa. As cores e texturas são capazes de ressaltar uma edificação e sua forma, ou transmitir uma sensação de continuidade. A consonância é representada pela repetição do padrão do entorno, quando esse existe, e a dissonância pela quebra do padrão. Quando não há uma predominância em relação a esse aspecto, considera-se que a nova edificação se encontra em consonância. (ANDRADE JÚNIOR, 2006)


Figura 19: Exemplificação de cores e texturas dos materiais de acabamento consonante e dissonante. Fonte: Desenvolvida na disciplina de Atelier de Projeto VIII, 2018.2.

Das relações entre o contexto preexistente e a nova arquitetura, existem algumas categorias de intervenção a serem apontadas. São estas:  Arquitetura de contraste: Rejeita a continuidade homogênea da preexistência, reafirmando sua individualidade pela descontinuidade  Arquitetura historicista: Adota a continuidade a partir da reprodução/mimese e reinterpretação/analogia  Arquitetura folclórica: Usa a mimese e os padrões históricos, porém sem base historiográfica, como forma de reinvenção estilística, podendo também se referir a relações autenticas com a especificidade regional  Arquitetura de base tipológica: Projetadas a partir das tipologias da preexistência, sem usar o mimetismo figurativo;  Arquitetura do fragmento: Fundamentada no princípio da multiplicidade, sem criticar nem assumir a ordem contextual, estimulando novas relações urbanas  Arquitetura contextual: Estabelece uma simbiose com o contexto através da indagação formal da preexistência. Integrada ambientalmente, é reconhecida por seu pertencimento à sua época. Em geral, busca-se uma arquitetura contextualizada, de boa relação com o entorno. É importante ressaltar o seu oposto, representado pela arquitetura descontextualizada, que apesar de seu carater negativo, tem sido o tipo predominante de construção em sítios históricos desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Estes projetos, por vezes obras autorreferentes de famosos arquitetos,


decorrem “da ausência de referimento teórico e de uma abordagem históricocrítica que conduza a definição de princípios, posturas e critérios na formulação do projeto do novo na preexistência” (BRENDLE, 2017, p.282). Sem considerar as questões atreladas à preexistência, produzem uma arquitetura apenas de interesse comercial, que confronta a imagem histórica consolidada e causa a perda de sua identidade. Como conclusão da questão de intervenção em sítios históricos, vale retomar a problemática do preenchimento de lacunas, ao qual o presente estudo apresentará uma proposta de intervenção. Essas ações têm o intuito de requalificar espaços urbanos esvaziados ou em decadência, construindo sobre o já construído, “aproveitando o já existente como base para uma nova configuração tanto funcional quanto estética” (DOURADO, 2003). Ao se tratar da inserção de novas edificações em ambientes consolidados, como os sítios históricos, a intervenção deve buscar a recuperação da leitura figurativa preexistente, propondo o preenchimento das lacunas urbanas com formas simplificadas, segundo a documentação dos elementos desaparecidos da composição preexistente e pelos dados espaciais oferecidos pelo próprio entorno, fazendo uso de técnicas e materiais contemporâneos. Ou seja, as construções de novos edifícios devem manter uma relação de consonância com o entorno, ao mesmo tempo que se garantem a distinguibilidade entre novo e antigo, para que não haja falso artístico ou histórico.




Territรณrio


Recife

Centro

Boa Vista


3. Bairro da boa vista

Figura 20: Mapa de localização do bairro da Boa Vista. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


1855

1906

1932

1943/45

1965

1980 Figura 21: Desenvolvimento histรณrico da Boa Vista. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


3.1 Evolução urbana “O Bairro da Boa Vista é abordado como um bem cultural apropriado pelas pessoas e categorizado como Lugar através da concepção estabelecida pelo Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC)”.

O bairro da Boa Vista surge através do acesso promovido pela ponte de mesmo nome. A reconstrução da Ponte da Boa Vista em meados do século XVIII faz nascer o aterro da Boa Vista, onde antes, se encontravam apenas áreas alagadiças. O bairro se configura, a partir de 1870 como núcleo de articulação da expansão urbana, e em 1906 pode-se verificar seu adensamento, favorecido pelo traçado das linhas de bonde e estradas de ferro, que definem os percursos principais pelo bairro, sendo em 1932, a área central restringida ainda ao núcleo histórico da Boa Vista. A reconstrução da ponte Duarte Coelho em concreto armado no ano de 1943 desencadeia o posterior alargamento da Avenida Conde da Boa Vista e sua verticalização, acompanhada pelas demais modificações do bairro. O esvaziamento ocorrido entre as décadas de 1940 e 1950 é consequência da expansão urbana para a periferia, e da estigmatização da morfotipologia entremedianeiras pela doutrina higienista, como inadequada e insalubre. O abandono do bairro pela população residente abre espaço para a instalação do comércio e serviço, complementados pelo centro político-administrativo e equipamentos culturais. A demolição de imóveis históricos para a construção de edificações modernas é acompanhada pela descaracterização dos exemplares remanescentes. O território começa a apresentar os atuais contornos em 1965, com os processos de drenagem e aterro, consolidando sua forma em 1980. No mesmo ano, a inauguração do Shopping Recife, na zona sul da cidade, começa a constituir uma nova centralidade no bairro de Boa Viagem, alterando novamente o fluxo da Boa Vista. Remanescem no centro histórico o comércio e o serviço popular, além dos usos educacionais e institucionais, concretizando então a transformação do padrão funcional da Boa Vista, de habitacional para terciário e da mudança do padrão social dos seus usuários. É apenas em 1996, com a revisão da LUOS, que surge um zoneamento delimitando quais áreas devem ser preservada e quais são passíveis de renovação. A ZEPH 8: bairro da Boa Vista demarca uma porção do bairro para preservação histórica, que hoje contrasta com as áreas de renovação, por manter sua predominância morfotipológica original, mesmo que pontuada por modificações. É na ZEPH que se concentra o maior percentual da população remanescente, hoje constituída por uma parcela majoritariamente adulta, na faixa etária de 25 a 29 anos, e constitui, junto dos idosos, 70% dos moradores do bairro. O envelhecimento da população residente é consequência da contínua evasão de moradores, devido à desvalorização do centro histórico e a visão negativa da legislação de proteção por proprietários, usuários e possíveis investidores, que consideram seu caráter restritivo como um obstáculo. “O reconhecimento do valor histórico e cultural das edificações por parte deles é, nesse sentido, fundamental para o processo de salvaguarda das edificações” (BERNARDINO & LACERDA, 2015).


Figura 22: Ponte da Boa Vista. Fonte: A autora, 2018.



3.2 Patrimônio Constituído inicialmente como um bairro predominantemente habitacional e horizontal, caracterizado pelas tipologias sobrado e casa porta e janela, a Boa Vista hoje é retratada pelo contraste entre o novo e o antigo, trazido pela arquitetura moderna. Seu potencial, com uma localização central, irrigada por importantes vias; atendida por boa parte das linhas de transporte coletivo; presença de usos variados, mesmo que estes se encontrem setorizados; e o valor histórico-cultural; diversidade social e cultural, não impede o alto quantitativo de edificações ociosas ou subutilizadas. Os fluxos são representados em sua maioria por movimentos pendulares, pedestres passageiros em um trajeto inevitável, que concentram principalmente ao redor dos equipamentos de grande porte, em horários comerciais. A escassez de residências/baixa densidade habitacional se torna ainda mais evidente nos horários não comerciais, demonstrando a necessidade da habitação e ocupação do território para a vitalidade urbana. Vale ressaltar que o uso habitacional não se configura como garantia da preservação, e sim a completude de usos e a compreensão do valor do patrimônio. (...) não é a manutenção do uso residencial que assegura a preservação de bens. Porque o uso residencial também modifica, por quê? Porque ele pede puxadinho, né? Cansou de fazer pintura todo ano, às vezes ele coloca uma cerâmica horrível lá na frente. [...] Não é bem assim, pelo diagnóstico a gente concluiu que não. Não é o uso residencial que vai assegurar coisa alguma. Na verdade, não é o uso, é o mau uso que não preserva” (VELOSO apud GARCIA, 2012).

Dentre os elementos que são considerados patrimônio cultural, se destacam os Marcos Referenciais Urbanos, aqueles que são apropriados pela população e proporcionam a sensação de “lugar”, relação sentimental que reforça a identidade coletiva da sociedade. Edificações, praças, conjuntos históricos ou eixos urbanos, podem ser considerados marcos, a partir do momento que caracterizam a paisagem e demarcam seu período histórico. Os ambientes naturais também podem ser marcos referenciais. “Assim como as cidades, os marcos referenciais também podem transformar-se, modificando a sua forma física e seu significado, devido à dinâmica que as relações de produção, troca, gestão e consumo estabelecem” (MIURA, 2006). Desta forma, tanto novos elementos podem se tornar marcos, quanto antigos referenciais podem perder seu significado ao decorrer dos anos, a partir das alterações sofridas no entorno em que se encontram. Um antigo referencial que perde sua conotação, pode voltar a ser apropriado coletivamente após passar por um processo de intervenção, ou ser ressignificados, como nos casos em que edificações tem seu propósito funcional alterado. Em entrevistas feitas por GARCIA (2012) à população ativa na vida cotidiana da Boa Vista e aos especialistas que tem o bairro como objeto de estudo, os questionados sobre quais bens eram ou deveriam ser protegidos, gerou uma lista (Tabela X), encabeçada pela Igreja Matriz da Boa Vista,


edificações próximas ao Pátio de Santa Cruz e Praça Maciel Pinheiro, constituindo a parte primitiva do bairro, além das pontes. Essa lista retrata alguns dos bens protegidos por lei que se tornaram referenciais para a população, visto que, se sobressaem aos demais representantes do patrimônio cultural, em relação à sua presença na memória coletiva. Em relação aos conjuntos históricos, é característico do bairro da Boa Vista, e do Centro como um todo, a predominância das tipologias sobrado e casa térrea, formadoras do tecido e da paisagem urbana.

Quadro 05: Classificação dos bens citados pelos entrevistados, em ordem pela quantidade de citações. Fonte: Entrevistas à população ativa na vida cotidiana da Boa Vista e aos especialistas que tem o bairro como objeto de estudo, GARCIA (2012).

Além do patrimônio material, o bairro se caracteriza pela presença do patrimônio imaterial. Nas entrevistas conduzidos por GARCIA (2012), os entrevistados relatam a memória do cotidiano, “as idas à Sorveteria Guemba, ao Cinema São Luiz e ao Cinema da Soledade, a loja de discos Rozenblit, a boate localizada no Edifício Novo Recife; o banho no Rio Capibaribe; e o parque de diversões no Pátio de Santa Cruz; os estudantes dos tradicionais colégios, [...] as pensões que abrigavam os migrantes e do Bar Escritório localizado no Mercado da Boa Vista”. Dentre as manifestações culturais, consideradas como patrimônio imaterial, encontra-se o carnaval, com “as saídas das La Ursas, os blocos carnavalescos, as orquestras de frevo, os desfiles das agremiações e o corso. As festas católicas com suas procissões, a festa de São João, as missas de Natal e a antiga festa de Santana. [...] Também não foram deixadas para trás as lembranças de quando ocorriam os desfiles de 07 de setembro”.


Figura 23 Igreja Matriz da Boa Vista. Fonte: A autora, 2018.

Figura 24: Igreja de Santa Cruz, vista do Pรกtio de Santa Cruz. Fonte: A autora, 2018.


Figura 25: Mercado da Boa Vista. Fonte: A autora, 2017.

Figura 26: Cinema SĂŁo Luiz. Fonte: A autora, 2018.


Marcos da Boa Vista

Legenda 1. Igreja Matriz da Boa Vista 2. Igreja de São Gonçalo 3. Instituto Psiquiátrico 4. Rua Velha 5. Igreja de Santa Cruz 6. Igreja Rosário da Boa Vista Ig 7. Teatro do Parque 8. Igreja das Fronteiras 9. IAHG PE 10. Escola Manoel Borba 11. Cinema São Luís 12. Ponte da Boa Vista Mercado da Boa Vista 13. Me 14. Faculdade de Direito 15. Casa de Clarice Lispector 16. Ponte Velha 17. Rua de Santa Cruz 18. Rua da Matriz 19. Colégio Marista 20. Ponte Duarte Coelho 21. Praça Maciel Pinheiro 22. Colégio Salesiano 23. Pátio de Santa Cruz 24. Casa Manuel Bandeira

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Figura 27: Mapa marcos da Boa Vista. 17 Fonte: Desenvolvido durante a disciplina de Ordenamento Urbano e Territorial, 2018.1. Atualizado pela autora. 02

16

Escala 1:10000


Padrão Morfotipológico

Legenda Até 4 pavimentos 5 - 10 pavimentos Acima de 10 pavimentos Entremedianeiras Solto no lote

Figura 28: Mapa padrão morfotipológico. Fonte: Desenvolvido durante a disciplina de Ordenamento Urbano e Territorial, 2018.1. Atualizado pela autora. Escala 1:10000


Legislação

Legenda ZEPH - SPR ZEPH - SPA IEP

Figura 29: Mapa legislação. Fonte: Desenvolvido durante a disciplina de Ordenamento Urbano e Territorial, 2018.1. Atualizado pela autora. Escala 1:10000


3.3 Legislação O bairro da Boa Vista possui diferentes manchas legislativas, que dividem as áreas entre preservação e renovação. Em relação à preservação, se destaca a ZEPH, definida pelo Art. 14 da LUOS (lei nº 16.176/96) como “as áreas formadas por sítios, ruínas e conjuntos antigos de relevante expressão arquitetônica, histórica, cultural e paisagística, cuja manutenção seja necessária à preservação do patrimônio histórico-cultural do Município”. Apesar da importância dessas áreas, com sua diversidade de tipologias arquitetônicas, derivadas de diferentes épocas, uma parcela dessas edificações se encontra em processo de degradação, devido à falta de manutenção, usos incompatíveis ou mesmo abandono. Adotada com intuito de auxiliar na preservação, a legislação por vezes é vista como obstáculo para os proprietários, usuários e possíveis investidores, devido ao seu caráter restritivo. “O reconhecimento do valor histórico e cultural das edificações por parte deles é, nesse sentido, fundamental para o processo de salvaguarda das edificações” (BERNARDINO & LACERDA, 2015). A área de intervenção faz parte do Setor de Preservação Rigorosa (SPR) da ZEPH 8.1, que segundo a lei nº 18.046/2014 possui um plano específico para o bairro da Boa Vista. Não são propostos parâmetros urbanísticos para tal setor, pois os projetos de intervenção devem passar por análise e ser aprovados pelos órgãos responsáveis (DPPC e IPHAN), de acordo com as diretrizes estabelecidas na LUOS 1, requisitos especiais de ocupação e aproveitamento para garantir a adequação dos projetos ao entorno: • Reconhecer a diversidade da área promovendo o seu equilíbrio morfológico e ambiental, consolidando-a como transição entre os Setores de Preservação Rigorosa (SPR) e as demais zonas da cidade; • Promover o uso e a ocupação ordenada das quadras, compatibilizando as suas características físicas, sociais e culturais; • Reconhecer e preservar os elementos significativos do patrimônio construído; • Definir parâmetros urbanísticos específicos, por face de quadra, de forma a atender às diretrizes preconizadas para a Preservação do Patrimônio Histórico e Cultural.

Quadro 03: Parâmetros Urbanísticos da ZEPH - SPR. Fonte: Desenvolvido durante a disciplina de Atelier de Projeto VIII, 2018.2. [1] LEI Nº 16.176/96 ANEXO-11 CONDIÇÕES DE OCUPAÇÃO E APROVEITAMENTO NAS ZONAS ESPECIAIS DE PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO - CULTURAL - ZEPH


A - Análise especial para cada caso o critério do órgão competente, objetivando a restauração, manutenção do imóvel e/ou sua compatibilização com a feição do conjunto integrante do sítio, sendo permitida a demolição dos imóveis cujas características não condizem com o sítio, ficando a parecer final o critério da CCU; U - ZEPH selecionada com proposta de plano Específico;

3.4 RUA DA MATRIZ A Rua da Matriz surge a partir do aterro de meados do século XVIII, que decorreu da reconstrução da Ponte da Boa Vista. “A zona que se estendia da Rua da Aurora e do Cais José Mariano às ruas do Hospício e da Matriz integrava-se ao leito maior do Rio Capibaribe, com ilhotas e manguezais. Tudo era lama e areia, pontilhadas de verdes touceiras de mangas” (GOETHE, 2016). O aterro se tornou uma área requisitada, onde em 1784 se inicia a construção da Igreja da Matriz da Boa Vista, a partir da doação de terras pelo rei à Irmandade do Sacramento da Santa Cruz. A construção termina apenas em 1889, alguns anos após a inauguração da Praça Maciel Pinheiro, em 1876. A praça representa o coração do bairro, da onde partem suas principais ruas, e se tornou reduto da colônio judaica e ponto de encontro dos imigrantes.

Figura 30: Praça Maciel Pinheiro e vista da Igreja da Matriz. Fonte: Acervo Josebias Bandeira, FUNDAJ. Disponível em <http://revista.algomais.com/exclusivas/7-fotos-do-bairro-da-boa-vista-antigamente>. Acesso em 25 ago 2019.


As tipologias predominantes neste núcleo de formação do bairro são o sobrado e a casa térrea. Ambas se caracterizam pela sua implantação no paramento da rua, sem recuos frontais ou laterais, sendo as paredes vizinhas usadas como apoio estrutural, com altas empenas que costumam ser cobertas por duas águas, no sentido rua-lote. Aos fundos, os recuos formam pátios reclusos. Os sobrados possuem um mínimo de dois pavimentos, podendo chegar no Recife até seis, e sua verticalidade indica a tendência das construções urbanas, que aproveitam em altura o que se perde em superfície de solo. (DIMAS, LEENHARDT e PESAVENTO, 2006, p. 207). Pela sua configuração morfotipológica, de planta profunda e pouco iluminada, os sobrados costumavam ter seus pavimentos divididos em apenas dois cômodos, para que houvesse luz e ventilação natural. No Recife, os sobrados eram predominantemente de tijolos ou de pedra e cal (FREYRE, 2013). Até o fim do século XVIII, a arquitetura possuia forte influência portuguesa, mas com a abertura dos portos em inícios do século XIX, Pernambuco passa a sofrer influência das manifestações culturais de demais países europeus, em destaque Inglaterra e França. O ecletismo se torna sinônimo de modernidade e contribui para formação de uma linguagem, com a construção simultânea de diversas edificações, que formaram conjuntos urbanos através da unidade formal e até mesmo a modificação de edificações mais antigas para se adequar ao estilo. “Entendemos o ecletismo na arquitetura como uma corrente cultural caracterizada pela reutilização mais ou menos livre do vocabulário formal de estilos do passado”, no caso do Recife, principalmente o vocabulário greco-romano (SILVA, 1993, p. 180). Ao mesmo tempo, os arquitetos exploravam produtos industrializados (tijolos e revestimento cerâmicos) e novos materiais (ferro e vidro), para atender às demandas dos programas na sociedade pós-industrial, que no entanto, nem sempre tinham seu potencial estrutural aproveitado. O estilo resistiu até a década de 40 no Recife, chegando a coexistir com o estilo neocolonial.


Figura 31: Faculdade de Direito, construída no estilo eclético. Fonte: Acervo Josebias Bandeira, FUNDAJ. Disponível em <http://revista.algomais.com/cultura/pernambuco-antigamente/6-fotos-antigas-da-arquitetura-ecletica-no-recife>. Acesso em 25 ago 2019.

As transformações sofridas pelos sobrados coloniais durante o período da arquitetura eclética são estabelecidas após a chegada da coroa portuguesa ao Brasil “com a instituição das posturas municipais estabelecidas por João Bloem” (NÓBREGA, 2016), e se referem às suas fachadas e seu estilo, possibilitando a introdução de ornamentos. Estas modificações não causaram a descaracterização do tipo, porém, a partir do final da década 1960, os processos de transformação das edificações históricas se intensifica a partir do esvaziamento do centro e alteração do seu parão funcional. Estas consequentes alterações nas edificações, ameaçam o desaparecimento destes tipos predominantes, pertencentes ao Patrimônio Histórico Edificado. De acordo com NÓBREGA (2016), dentre as modificações frequentes estão: • Abertura de portas largas no térreo • Acréscimo de altura da platibanda • Marquise aposta na fachada • Mudança de inclinação da coberta • Modificações nas aberturas que compõe o corpo do edifício • Mudança de materiais • Interligação de dois ou mais imóveis


Quando estas edificações são tão alteradas que se tornam descaracterizados, perdem sua característica individual de bem histórico. O imóvel descaracterizado é aquele que não remete à sua morfologia original, pela ausência de elementos construtivos ou composição de fachada, que possam fazê-lo reconhecível. Além destas transformações, estão presentes as substituições completas de edificações históricas por novas volumetrias, muitas vezes em relação dissonante com a preexistência. Dessa forma, é desejável a valorização dos tipos históricos, suas características, e sua composição como um conjunto.

Figura 32: Alterações do sobrado. Fonte: NÓBREGA, 2016.


Boa Vista

Ă rea de estudo

Rua da matriz


3.5 ANÁLISE territorial

Figura 33: Mapa de localização da Rua da Matriz. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


Cheios e Vazios

Figura 34: Mapa cheios e vazios. Fonte: Elaborado pela autora, 2019. Escala 1:5000


A relação entre cheios e vazios apresentada deixa claro as épocas de consolidação das peças urbanas, pelas características dos lotes e implantação das edificações. No período de formação do bairro, os lotes eram estreitos e compridos, com a implantação das edificações no paramento da rua, entremedianeiras, deixando apenas o recuo de fundos, para utilização individual dos moradores. As novas edificações que surgem no tecido histórico nem sempre respeitam sua lógica, questão percebida principalmente na Avenida Conde da Boa Vista, mas também de forma mais pontual no total do território, com edificações que quebram o padrão do loteamento e da implantação, através de remembramentos, recuos frontais e/ou laterais. As áreas onde os padrões originais foram mantidos são protegidas por legislação, se encontrando dentro da ZEPH, fato que demonstra a relevância das zonas de preservação, que embora ainda falhas, preveniram a perda total de diversas edificações históricas. É necessário maior fiscalização do cumprimento da legislação vigente, para garantir a permanência das características do conjunto hitórico. Na Rua da Matriz, encontram-se os seguintes tipos de implantação:

Figura 35: Implantações na rua. Fonte: Google Earth. Acesso em 30 de ago de 2019. Editado pela autora.

Figura 36: Exemplos de implantação encontrada. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


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Figura 37: Mapa gabarito. Fonte: Parcialmente desenvolvido durante a disciplina de Atelier de Projeto VIII, 2018. Atualizado pela autora.

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Na área de estudo, a predominância do gabarito varia entre térreo e quatro pavimentos, resultantes das tipologias sobrado e casa porta e janela, tornando a percepção da ambiência mais horizontal. No entanto, existem edificações que fogem do padrão, principalmente ao se aproximar da Avenida Conde da Boa Vista, onde o gabarito se eleva, com edificações acima de 10 pavimentos, entrando em dissonância com a preexistência. Na Rua da Matriz, o gabarito não é uniforme, havendo uma variação, de acordo com as diferenças de altura representadas pela intercalação das casas térreas e sobrados.

Figura 38: Diferentes alturas na Rua da Matriz. Fonte: Google Earth. Acesso em 01 de jun de 2019. Editado pela autora.

Figura 39: Diagrama do gabarito na Rua da Matriz. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


Usos Legenda Habitação Misto Comércio Serviço Religioso Saúde Insti Institucional Cultural Educacional Depósito Vazio/ Sem Uso/ Em construção

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Figura 40: Mapa usos. Fonte: Parcialmente desenvolvido durante a disciplina de Atelier de Projeto VIII, 2018. Atualizado pela autora.

Escala 1:5000


O entorno é demarcado pela predominância de dois usos, que, no entanto, se encontram setorizados, criando uma clara delimitação entre a área habitacional e a terciária, estando a mancha residencial sobreposta à de preservação. A separação dos usos por zonas desencadeia uma falta de completude, é responsável pela baixa vitalidade urbana em determinados períodos. Em ruas como a da Imperatriz, o comércio proporciona vitalidade durante o período comercial, mas a ausência de usos que funcionem em outros horários torna os espaços públicos vazios durante a noite e finais de semana. O grande quantitativo de lotes/edificações sem uso agrava essa situação. Na Rua da Matriz, a existência de alguns edifícios de uso misto garante certa vitalidade na rua, com moradias nos pavimentos superiores e térreo ativo, assim como a existência de outros usos variados. Sua localização demarca o eixo de encontro entre comércio e habitação, tendo o potencial de se tornar um conector entre estes usos e o espaço público da Praça Maciel Pinheiro. No entanto, atualmente, possui um número alarmante de edificações ou terrenos sem uso, além do uso de depósito, que não contribui para vitalidade e é prejudicial em relação à preservação do conjunto. 3% 7%

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15%

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18%

Figura 41: Análise dos usos na Rua da Matriz. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


Tipologias Legenda Casa porta e janela Casa porta e janela modificada Sobrado Sobrado modificado Edifício caixão Edifício sobre pilotis Casa solta sol no lote Casa com recuo frontal Casa geminada Galpão Templo Mercado Torre Singulares Singula

Figura 42: Mapa tipologia. Fonte: Parcialmente desenvolvido durante as disciplinas de Atelier de Projeto VII e VIII, 2018. Atualizado pela autora.

Escala 1:5000


O sítio de estudo se localiza em um bairro com mais de 300 anos, caracterizado por tipologias históricas, sendo as mais comumente encontradas os sobrados e casas porta e janela. No entanto, grande parte dessas edificações sofreram mudanças no decorrer dos anos, sejam as aberturas de portas largas para o comércio e serviço, a mudança no corpo do edifício para atender ao uso habitacional, a alteração do material da coberta, ou o remembramento de lotes e edificações. Hoje, a predominância se divide entre os exemplares preservados das tipologias supracitadas e suas versões descaracterizadas. Nas extremidades da área delimitada, encontram-se maiores variações de tipologias. A Rua Dr. José Mariano se caracteriza pelos galpões quando adentra o bairro dos Coelhos, enquanto a Avenida Conde da Boa Vista apresenta exemplares do movimento moderno, de gabarito elevado e implantação solta no lote, completo oposto do traçado histórico. Na rua da Matriz, são poucas as novas edificações, representadas por edifícios caixão, enquanto os demais imóveis se encaixam nas tipologias predominantes, com exceção da igreja.

Figura 43: Vista aérea das edificações na Rua da Matriz. Fonte: Google Earth. Acesso em 01 de jun de 2019. Editado pela autora.


VAZIOS Legenda Terrenos vazios / subutilizados Edificações em ruínas Edificações Vazias

Figura 44: Mapa vazios. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Escala 1:5000


Em todas as quadras do polígono de estudo pode-se perceber a presença de vazios urbanos, embora o percentual varie entre estas. As zonas ocupadas pelo uso habitacional costumam possuir menos vazios, enquanto ruas como a Dr. José Mariano, da Matriz e a extensão da Rua Velha entre estas duas concentram um maior quantitativo de vazios. A existência desses vazios urbanos causa problemas sociais, interferindo na vitalidade da rua e interfere na salvaguarda do patrimônio, pois edificações sem uso costumam se deteriorar mais rapidamente, pela ausência de manutenção. Como exemplo disso, as edificações em estado de ruína e os eventos que desencadearam demolições ou abandono de algumas edificações. Na Rua da Matriz destaca-se o caso do sobrado Nº 124 que sofreu um incêndio (Figura x) em 2013. A edificação servia de depósito de material reciclável, e devido ao risco de desabamento foi demolida pela prefeitura, assim como o desabamento de parte das paredes da coberta do sobrado de número 97 sobre o sobrado de número 89 (Figura x), causando o desalojamento de 26 moradores e 3 feridos. Além destes, se encontram em estado crítico os sobrados:  Nº 146, esquina com a Rua Velha, descaracterizado, mantido fechado e usado como ferro velho  Nº 68 e 78 representantes do resultado da falta de manutenção  Nº 116, 120, 121 e 136, abandonados e fechados, restando de alguns deles apenas a casca 5% 10%

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Figura 45: Análise dos vazios na Rua da Matriz. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


Figura 46: Interior do imóvel número 124, após o incêndio em 2013. Fonte: Cleide Alves, Jornal do Comércio. Disponível em: <www.jconline.ne10.uol.com.br>. Acessado em 19 abril 2019.

Figura 47: Interior da edificação número 89, após o desabamento parcial do sobrado número 97, em 2018. Fonte: Nicácio Jr., G1. Disponível em: <www.g1.globo.com>. Acessado em 19 abril 2019.


A partir do levantamento do perfil da rua, e com base nas leituras de ANDRADE JUNIOR (2006) e PEREIRA (1988), é possível analisar algumas características compositivas do conjunto, como a proporção das edificações, dos coroamentos e das aberturas, elementos que sofrem com maior frequência ações de descaracterização. A proporção das edificações se refere a relação de largura e altura das fachadas a partir da vista do pedestre, sendo um resultado do parcelamento do solo e gabarito das edificações, e se relacionando com o item ritmo abordada em ANDRADE JUNIOR (2006). No conjunto da Rua da Matriz, as edificações variam em proporção, devido às diferentes dimensões dos lotes e à alternância entre sobrados de até três pavimentos e casas térreas, possuindo assim uma variação na leitura das fachadas, que são predominantemente verticais, mas existem exceções levemente horizontais. Os remembramentos quebram a leitura dessa característica no conjunto, pois a partir da junção de lotes ou edificações, produz-se a leitura de uma massa única horizontal. A igreja se destaca no conjunto, pela sua proporção intencionalmente distinta das demais edificações, estando na Rua da Matriz sua fachada lateral, de proporção horizontal, com uma escala dissonante do conjunto.

Figura 48: Exemplo da proporção e ritmo das fachadas. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

O coroamento, acabamento superior visto nas platibandas, pode delimitar as etapas de intervenção nos imóveis. A repetição da platibanda em linha reta é característica das edificações mais antigas, enquanto o coroamento de formas variadas, com elevações que acentuam a marcação e elementos decorativos marca uma segunda etapa. Em intervenções mais recentes ocorre a perda de marcação da platibanda, sendo o coroamento resumido a uma testada sem quaisquer elementos. No entorno percebe-se a alternância entre edificações com coroamento reto e com elementos decorativos, havendo também algumas edificações sem quaisquer elementos. As aberturas existentes possuem um padrão, derivado da proporção e frequência das portas e janelas, que possuem dimensões aproximadas, assim como a distância entre elas. A repetição de fenestrações estreitas no sentido vertical cria um ritmo no conjunto, que é quebrado com as alterações como o alargamento das aberturas no térreo ou corpo do edifício, ou em novas edificações que ignoram o contexto preexistente.


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Figura 49: Exemplo de quebra do ritmo das edificações. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Essas alterações também prejudicam a densidade das edificações, percebida através da proporção de cheios e vazios, sendo a predominância no conjunto de fachadas densas, devido à sua materialidade em alvenaria de tijolo e à presença de menor quantidade de áreas vazias (aberturas). As cores e texturas dos materiais de acabamento, por não possuirem uma repetição, não formam um padrão. Na maioria das edificações, é feita apenas a pintura, em cores variadas, enquanto algumas outras possuem revestimento em cerâmica. Desta forma, quaisquer materiais similares aos utilizados na preexistencia, estarão em consonância.



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3.6 Reconstituição do perfil Após as análises, foi feita a reconstituição do perfil da rua a partir da documentação fornecida pela DPPC, constituída do levantamento e fotografias da década de 1980 e plantas da COMPESA (Companhia de Saneamento de Pernambuco) da década de 1930, de quase todas as edificações na rua. A comparação do perfil atual com as reconstituições permite a percepção das alterações que o conjunto sofreu ao longo dos anos, e a classificação do grau de caracterização e estado de conservação em que as edificações se encontram. O perfil da década de 1930 se caracteriza como o momento de consolidação do conjunto; o da década de 1980 remete ao momento de reconhecimento do valor histórico e necessidade de preservação, inclusive por meio de legislação; e por fim, o do ano de 2019 permite a avaliação do atual estado. Segundo PEREIRA (1988), o grau de caracterização compreende a situação atual em que os elementos construtivos ou adornos se encontram, podendo a edificação sob análise ser classificada como preservada, modificada ou descaracterizada. Os imóveis preservados são aqueles perfeitamente identificáveis, por manterem a fachada e volumetria originais; os modificados são aqueles que perderam elementos, mas ainda possuem suas características principais; enquanto que os imóveis descaracterizados se referem às edificações antigas que por terem sido demasiado modificadas, perderam sua leitura morfotipológica. Já o estado de conservação se dá pela análise externa e leva em consideração aspectos gerais da fachada, como alvenaria, esquadrias, telhados e azulejos. No estudo da Rua da Matriz, foi feita apenas a análise externa para ambos os quesitos, levando em consideração a caixa volumétrica, através da visita ao local e imagens de satélite. As modificações mais comuns são os alargamentos das aberturas, a remoção de adornos, o acréscimo de marquises e as alterações de material e/ou inclinação da coberta. Quando ao estado de conservação, os maiores problemas encontrados são o entaipamento de edificações, a presença de rachaduras e vegetação na alvenaria da fachada e a degradação do material original nas cobertas e esquadrias. Como consequência de um estado de conservação precário, por vezes ocasionado pelo abandono das tipologias históricas, algumas destas edificações se encontram num processo de arruinamento, havendo situações em que apenas a murada sobreviveu à passagem do tempo, assim como terrenos vazios, onde ocorreu a demolição integral do imóvel.



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Figura 58: Nível de Caracterização e estado de conservação das edificações. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


SÉRIE 1 Série 1 Edificações modificadas Abertura de portas largas (A) Transformação de janelas em portas (B) Marquise aposta na fachada (C) Acréscimo de platibanda (D) Mudança de inclinação na coberta (E) Modificação no material da coberta (F) Conjugação de imóveis (G) Edifícios descaracterizados

28 25 4 9 1 10 14 4 11

5 da Matriz. 10 15 20 25 pela 30 Gráfico 01: Modificações sofridas nas edificações0 da Rua Fonte: Elaborado autora, 2019. Imóvel

Modificações

6 10 18 22 28 32 36 44 46 58 60 68 78 84 90 94 98 108 114 116 120 124 130 136 146

A/E/F A/C/F A/C/D/F A/C A A A/E/F

136 123 121 117 111 109 103 101 97 89 83 77 69 61 S/N IGREJA

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Estado de Conservação Bom Regular Regular Regular Regular Regular Bom Bom Regular Regular Bom Precário Precário Bom

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Precário Precário Bom Bom Bom Precário Precário Bom Bom Regular Regular Regular

Quadro 04: Tabela geral das edificações na Rua da Matriz. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


3.7 Área de intervenção A partir da análise da Rua da Matriz, percebe-se uma maior quantidade de edificações descaracterizadas no intervalo entre os números 146 e 84. Esta lacuna se configura também pela presença de três lotes vazios, onde os sobrados e casas térreas foram demolidos (nº 124, 90 e 94); edificações em estado de pré-arruinamento, atualmente com o acesso vedado (nº 120 e 116); e uma edificação classificada pela DPPC em sua vistoria do ano de 2007 como “imóvel totalmente descaracterizado, sem interesse para preservação”, devido ao excesso de modificações sofridas (nº 98). A partir disso, será feito nessa lacuna o estudo de recomposição de fachada para as edificações descaracterizadas (nº 136, 130, 120, 116, 114, 108) e a proposta de volumetrias para ocupação dos lotes disponíveis (nº 124, 98, 94, 90). Vale ressaltar que os terrenos entre os números 94 e 89 se configuram atualmente como um espaço único, onde a área de solo natural serve como estacionamento para o sobrado do lote 89. A proposta de intervenção não deverá considerar o remembramento em seu desenvolvimento, visto que de acordo com os princípios de intervenção em sítios históricos, não se deve alterar o parcelamento do volume㄀ 㠀inserido㤀㠀em relação ㄀㐀㘀 solo, evitando ㄀㌀㘀 ㄀㌀ assim a ㄀㈀㐀dissonância ㄀㈀ ㄀㄀㘀 do㄀㄀㐀 㤀㐀 ⼀ 㤀 ao conjunto 㠀㐀 preexistente.

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Figura 59: Área de intervenção. Fonte: Skyline desenvolvido durante a disciplina de Paisagismo II, 2017.2, pelos alunos Andresa Santana, Lucas Mello, Maria Júlia Jaborandy, Matheus Golçalves, Gabriela Coutinho, Natalia Ribas, Sara Romeiro, Tainara Terto, Thaís Martinez. Atualizado pela autora..


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Figura 60: Os terrenos. Fonte: Elaborado pela autora, 2019. 䔀猀挀愀氀愀 ㄀㨀㔀



ReferĂŞncias Projetuais


Figura 61: Fachada da edificação. Fonte: Bart Gosselin, 2014. Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acessado em 12 agosto 2019.


4.1 Convento Lorette – APARTAMENTOS DRBSTR / dmvA Localização: Bélgica Ano: 2014 O projeto dos apartamentos Drbstr realizado pelo escritório dmvA faz parte de uma intervenção maior, que possuiu o intuito de revitalizar o terreno ao redor do Convento Loretta, consistindo na reforma de edifícios históricos e na implantação de um novo empreendimento. Na estreita rua Drabstraat, onde se localiza a intervenção, as fachadas das edificações medievais foram refeitas de forma uniforme durante o século XIX, em decorrência dos ideais classicistas em curso no período. Os monumentos protegidos foram restaurados e receberam novos usos, de escritório e residência.

Figura 62: Imagem da localização do projeto de intervenção. Fonte: Google Earth. Acesso em 22 de ago de 2019. Editado pela autora.

a) Volumetria: A volumetria do entorno se apresenta por edificações que ocupam os limites do lote e consequentemente tomam sua forma, variando então de acordo com o parcelamento do solo. São predominantemente de três à quatro pavimentos, com cobertas inclinadas, podendo estas serem no sentido rua-lote ou lote-lote. A quantidade de águas na coberta varia.


O novo volume inserido pelos arquitetos também se adequa ao formato do lote, porém entra em dissonância por possuir um deslocamento na volumetria, responsável pelo ponto de contato com a edificação Hooghuys. Os terraços cobertos gerados através de linhas inclinadas quebram a bidimensionalidade da fachada e proporcionam maior dinamismo.

Figura 63: Diagrama da quadra de intervenção. Fonte: dmvA Arquitetos, 2014. Disponível em: <http://www. dmva-architecten.be/v2/index.php#apartments|101>. Traduzido pela autora.

b) Implantação: A implantação das edificações costuma ter como referência o formato dos lotes, em sua maioria alongados e um tanto estreitos. As edificações são entremedianeiras, coladas no paramento da rua e com recuo de fundos, com algumas exceções, quando se encontram recuos laterais. Assim como no contexto preexistente, o projeto da nova edificação acompanha o paramento da rua, tendo no entanto recuos laterais que possibilitam a permeabilidade para o centro da quadra, onde se encontra o pátio comum acessível aos habitantes da cidade. c) Escala: A escala do entorno é delimitada pelo loteamento, que produz uma massa horizontal de edificações entre três à quatro pavimentos. Individualmente, a predominância é vertical, devido à proporção entre altura e largura, havendo casos em que esta proporção produz volumes horizontais. A nova edificação é consonante com a escala do entorno, tanto em relação à dimensão do objeto arquitetônico quanto ao seu gabarito, que segue as pequenas variações do entorno.


Figura 64: Escala do projeto de intervenção. Fonte: Bart Gosselin, 2014. Disponível em: <www.archdaily. com.br>. Acessado em 12 agosto 2019. Editado pela autora.

d) Densidade ou massa: No entorno, as edificações costumam ser densas, devido à sua materialidade, representada pelo tijolo, além da quantidade e tamanho das aberturas, que produz uma proporção quase equivalente entre cheios e vazios. Assim como na preexistência, o projeto de intervenção faz uso dessa materialidade densa e mantém a proporção entre cheios e vazios percebida no entorno, sendo por isso consonante.

Figura 65: Proporção das aberturas na nova edificação e no entorno. Fonte: Bart Gosselin, 2014. Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acessado em 12 agosto 2019. Editado pela autora.


e) Ritmo: As aberturas são claramente demarcadas por um ritmo, que é influenciado pelo tamanho destas, pela sua quantidade e pelo tipo de abertura. De forma geral, o ritmo é constante do térreo até os últimos pavimentos, variando apenas na largura e espaçamento das aberturas, de acordo com a edificação. O projeto faz uso do ritmo preexistente e cria um jogo de aberturas dinâmico, que embora não repita a composição de fachada do entorno se encontra em consonância por manter a proporção em seus rasgos.

Figura 66: Ritmo do projeto de intervenção e edificação vizinha. Fonte: David Yeow, 2016. Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acessado em 04 abril 2019. Editado pela autora.

f) Cores e texturas dos materiais de acabamento: No entorno, é predominante o uso do tijolo aparente em diferentes tons, por vezes revestido. A nova edificação faz uso do mesmo material, em tom claro, e por isso está em consonância.


Figura 67: Fachada da edificação. Fonte: Bart Gosselin, 2014. Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acessado em 12 agosto 2019.


Figura 68: Plantas e corte do projeto de intervenção. Fonte: dmvA Arquitetos. Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acessado em 12 agosto 2019.



Figura 69: Fachada da edificação. Fonte: Cecile Septet, 2013. Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acessado em 12 agosto 2019.


4.1 Conjunto habitacional Rue des Possoinniers / Maast Localização: França Ano: 2013 O projeto do escritório MAAST se encontra em uma área histórica da cidade de Paris, que atualmente se encontra em fase de grandes mudanças. A proposta do conjunto habitacional se insere no contexto preexistente a partir de uma relação consonante, preservando a morfologia do tecido urbano e a paisagem do conjunto. O conjunto se constitui de seis habitações divididas entre os sete pavimentos , de forma que cada unidade possui as vistas leste e oeste, uma vez que as laterais do edifício se encontram no limite do lote.

Figura 70: Imagem da localização do projeto de intervenção. Fonte: Google Earth. Acesso em 01 de set de 2019. Editado pela autora.

a) Volumetria: No entorno, se encontra predominantemente edificações em forma de prisma retangular, chanfrados quando se implantam nas esquinas e de coberta levemente inclinada. O conjunto habitacional também parte de um prisma retangular, e embora possua maior inclinação da coberta, e encontra em consonância b) Implantação: A área do projeto de intervenção, é constituida por um tecido urbano denso, com as edificações no paramento da rua e sem recuos laterais, sendo as quadras permeadas por pátios e pequenos jardins internos e externos. O conjunto habitacional segue as características da preexistencia para sua implantação, encontrando-se também no paramento da rua e sem recuos laterais, possuindo recuo de fundos para criação de um pátio interno.


Figura 71: Volume do projeto de intervenção. Fonte: Google Earth. Acesso em 01 de set de 2019. Editado pela autora.

c) Escala: As edificações do entorno possuem em média de 6 pavimentos e um parcelamento do solo similar, que produz volumes verticais, apesar do gabarito reduzido. O projeto de intervenção segue o alinhamento da rua e alcança a altura dos 6 pavimentos.

Figura 72: Escala do projeto de intervenção. Fonte: Google Street View, 2016. Acesso em 01 de set de 2019. Editado pela autora.


d) Densidade ou massa: Como consequência da materialidade no entorno, de alvenaria pintada, e da proporção das fenestrações, as edificações são densas. No conjunto habitacional, apesar do uso de novos materiais, mantém-se a proporção das aberturas, de forma que o volume ainda se apresenta como denso, estando em consonância com o entorno. A dinamicidade criada pelos painéis, que podem ser deixados completamente abertos ou fechados, altera a percepção de densidade da edificação.

Figura 73: Percepção da densidade a partir das alterações causadas pelos painéis móveis. Fonte: Cecile Septet, 2013. Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acessado em 12 agosto 2019.

e) Ritmo: O ritmo do entorno é facilmente percebido, pela repetição do gabarito e da distância entre as aberturas. No projeto do escritório MAAST, através da reinterpretação das aberturas exsitentes buscou-se criar um dinamismo, com o jogo de aberturas em diferentes proporção, que no entanto seguem o alinhamento horizontal do conjunto preexistente.


Figura 74: Ritmo do projeto de intervenção. Fonte: Google Street View, 2016. Acesso em 01 de set de 2019. Editado pela autora.

f) Cores e texturas dos materiais de acabamento: A preexistência se caracteriza por edificações em alvenaria pintada de tons claros, criando uma uniformidade na paisagem, à qual o conjunto habitacional entra em consonância pela escolha do uso de materiais na cor branca.

Figura 75: Planta baixa do pavimento térreo da edificação. Fonte: MAAST Arquitetos, 2013. Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acessado em 12 agosto 2019.


Figura 61: Plantas baixas da edificação. Fonte: MAAST Arquitetos, 2013. Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acessado em 12 agosto 2019. Figura 76: Planta baixa do 3º pavimento e corte da edificação. Fonte: MAAST Arquitetos, 2013. Disponível em: <www.archdaily.com.br>. Acessado em 12 agosto 2019.



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Figura 61: Igreja da Matriz. Fonte: A autora, 2019.


5.1 Diretrizes A partir da conceituação temática, análise do território e referências projetuais, foram elaboradas diretrizes projetuais, que irão nortear a seguinte etapa do presente trabalho. Estas diretrizes visam criar um ponto de partida para o projeto de intervenção, de forma que se atendam os objetivos elaborados previamente. Quadro 05: Diretrizes propostas.

Diretrizes Gerais

Diretrizes segundo ANDRADE JÚNIOR (2006) Volumetria: Inserir novas edificações de volume consonante com o entorno e suas tipologias Implantação: Manter o recuo frontal e lateral zero Escala: Garantir a consonância com a escala preestabelecida, tanto vertical quanto horizontal, e evitar remembramentos Densidade ou massa: Restabelecer a densidade nas edificações modificadas, de acordo com o padrão tipológico dos exemplares preservados Densidade ou massa: Propor nas novas edificações densidade similar à da preexistência Ritmo: Demarcar o ritmo da preexistência em edificações que sofreram alterações em sua fachada Ritmo: Fazer uso do ritmo encontrado no entorno para o desenho de fachada das novas edificações Cores e texturas dos materiais de acabamento: Garantir a distinguibilidade dos novos materiais Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Específicas: - Separar os acessos residencial e não residencial - Permitir o fluxo entre os lotes no térreo - Garantir o conforto térmico e acústico dos espaços internos


IMPLANTAÇÃO

ESCALA

Figura 77: Diagramas das diretrizes de implantação e escala. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


VOLUMETRIA

Figura 78: Diagrama da diretriz de volumetria. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

5.2 uso E DIMENSIONAMENTO Devido à necessidade do uso habitacional para completude dos espaços urbanos, e a sua presença insuficiente na Rua da matriz, a proposta de intervenção será de uso misto, incluindo habitação multifamiliar nos pavimentos superiores, comércio e espaços de uso comum no térreo, colaborando para vitalidade da rua e do entorno.

Tabela 01: Dimensionamento. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


5.3 Desenvolvimento da volumetria

Figura 79: Desenvolvimento da volumetria. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


Figura 80: Zoneamento. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


5.4 Proposta O presente trabalho tem como objeto de estudo a Rua da Matriz, localizada na área central do Recife, dentro da área de preservação da ZEPH 8.1: Bairro da Boa Vista (Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural). O estudo do referencial teórico aplicado às leituras do contexto urbano e referencias projetuais, permite a busca da recomposição urbana da Rua da Matriz, a partir da reconstituição do seu perfil histórico e ocupação dos lotes vazios. A intervenção proposta tem como objetivo o resgate da identidade, pela elaboração de um estudo preliminar para reintegrar as edificações descaracterizadas e preencher a lacuna urbana no conjunto antigo da Rua da Matriz. A reconstituição do perfil da rua se deu pela análise externa da caixa volumétrica, levando em consideração apenas as fachadas. É realizada através da documentação disponibilizada pelo acervo da DPPC (Diretoria de Preservação do Patrimônio Histórico Cultural), que consiste no levantamento e fotografias realizados na década de 80, - quando a DPPC levava o nome DPSH (Departamento de Preservação dos Sítios Históricos) – assim como as plantas da COMPESA, datadas da década de 30. Ao analisar a documentação para reconstituição, tornou-se evidente a maior descaracterização no lado par da rua, assim como a maior presença de lotes vazios, onde as edificações foram demolidas ou descaracterizadas à ponto da perda de seu valor histórico. Com isso, o anteprojeto tem sua implantação realizada nos lotes de número 124, 98, 94 e 90, criando uma unidade compositiva, ao mesmo tempo que demarca o parcelamento existente do solo e mantém as características morfotipológicas do entorno.

RUA DA MATRIZ - Do números 146 ao número 6 Lacunas no conjunto histórico

Figura 81: Lotes para preenchimento de lacuna. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


O processo de desenvolvimento das volumetrias se dá a partir da análise do entorno e dos elementos compositivos da arquitetura histórica, com o intuito de criar uma proposta contemporânea consonante com a preexistência, que recomponha o perfil da rua, ao mesmo tempo que afirma sua época. As novas edificações possuem térreo ativo, com comércio, serviço e áreas comuns, enquanto os demais pavimentos abrigam habitação social, com o intuito de reinserir o uso habitacional e contribuir para o adensamento populacional no entorno.

Figura 82: Análise da implantação. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

Seguindo a implantação tradicional dos lotes compridos e estreitos, as novas edificações não possuem recuos frontal ou lateral, com sua volumetria derivada do tipo sobrado. Para solucionar a problemática da iluminação e ventilação, o volume é dividido em dois blocos ao ser rasgado ao meio pelos pátios centrais, que concentram a circulação horizontal e vertical, enquanto a unidade volumétrica é mantida através de uma coberta única por lote, com pergolado sombreando as áreas verdes. A escala se adequa ao entorno e aproveita o potencial construtivo, evitando o remembramento para manter a leitura individual dos lotes e atingindo o gabarito máximo de três pavimentos, com variações na composição da fachada e coberta para representar a variedade de alturas encontradas na Rua da Matriz. A proposição volumétrica permitiu um apartamento por andar em cada bloco, somando um total de seis apartamentos por lote, com áreas entre 24m² e 52m².


A composição das fachadas foi elaborada a partir de uma malha obtida durante a análise de densidade e ritmo, configurando aberturas verticais, que por vezes se projetam em direção à rua, em analogia às sacadas da tipologia sobrado. Os painéis móveis permitem maior dinamicidade à fachada, e proporcionam aberturas maiores sem quebrar com a proporção de cheios e vazios do entorno. Os frisos entre pavimentos fazem a marcação das linhas de força encontradas nas edificações vizinhas.

Figura 83: Análise da volumetria. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


escala

densidade

ritmo

Figura 84: Anรกlise da escala, densidade e ritmo. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.



Figura 85: Perspectiva externa do lote 124. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.


Figura 86: Perspectiva externa dos lotes 98,94 e 90. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.



Figura 87: Perspectiva interna dos lotes 98,94 e 90. Fonte: Elaborado pela autora, 2019.




Referências bibliográficas



LISTA DE FIGURAS Figura 01:Telhados do Recife...........................................................................................................02 Figura 02: ZEPH 8.1 e entorno..........................................................................................................15 Figura 03: Padrão funcional na ZEPH 8.1 e entorno.......................................................................16 Figura 04: Edificações abandonadas, subutilizadas e descaracterizadas........................................17 Figura 05: Vazios urbanos na ZEPH 8.1 e entorno..................................................................................17 Figura 06: Ilustração da Praça Maciel Pinheiro.......................................................................................24 Figura 07: Linha cronológica das cartas patrimoniais utilizadas para o estudo.................................30 Figura 08: Diagrama da evolução da salvaguarda do patrimônio.......................................................32 Figura 09: Vista do Grande Pátio do British Museum em Londres...................................................34-35 Figura 10: Intervenção no Museu das Missões em São Miguel das Missões........................................36 Figura 11: Consolidação da lacuna no Neue Museum Berlin...........................................................38-39 Figura 12: Diagrama de restabelecimento da forma + figura do Neues Museum Berlin....................40 Figura 13: Centro Georges Pompidou.....................................................................................................40 Figura 14: Exemplificação de volumetria consonante e dissonante....................................................42 Figura 15: Exemplificação da implantação consonante e dissonante.................................................42 Figura 16: Exemplificação de escala consonante e dissonante............................................................43 Figura 17: Exemplificação de densidade consonante e dissonante.....................................................43 Figura 18: Exemplificação de ritmo consonante e dissonante.............................................................44 Figura 19: Exemplificação de cores e texturas dos materiais de acabamento consonante e dissonante...............................................................................................................................................45 Figura 20: Mapa de localização do bairro da Boa Vista....................................................................50-51 Figura 21: Desenvolvimento histórico da Boa Vista...............................................................................52 Figura 22: Ponte da Boa Vista..............................................................................................................54-55


Figura 23: Igreja Matriz da Boa Vista........................................................................................................58 Figura 24: Igreja de Santa Cruz, vista do Pátio de Santa Cruz...............................................................58 Figura 25: Mercado da Boa Vista..............................................................................................................59 Figura 26: Cinema São Luiz......................................................................................................................59 Figura 27: Mapa marcos da Boa Vista......................................................................................................60 Figura 28: Mapa padrão morfotipológico...............................................................................................61 Figura 29: Mapa legislação.......................................................................................................................62 Figura 30: Praça Maciel Pinheiro e vista da Igreja da Matriz.................................................................64 Figura 31: Faculdade de Direito, construída no estilo eclético.............................................................66 Figura 32: Alterações do sobrado............................................................................................................67 Figura 33: Mapa de localização da Rua da Matriz.............................................................................68-69 Figura 34: Mapa cheios e vazios...............................................................................................................70 Figura 35: Implantações na rua...............................................................................................................71 Figura 36: Exemplos de implantação encontrada..................................................................................71 Figura 38: Mapa gabarito..........................................................................................................................72 Figura 38: Diferentes alturas na Rua da Matriz.......................................................................................73 Figura 39: Diagrama do gabarito na Rua da Matriz................................................................................73 Figura 40: Mapa usos................................................................................................................................74 Figura 41: Análise dos usos na Rua da Matriz.........................................................................................75 Figura 42: Mapa tipologia.........................................................................................................................76 Figura 43: Vista aérea das edificações na Rua da Matriz........................................................................77 Figura 44: Mapa vazios..............................................................................................................................78 Figura 45: Análise dos vazios na Rua da Matriz.......................................................................................79 Figura 46: Interior do imóvel número 124, após o incêndio em 2013..................................................80 Figura 47: Interior da edificação número 89, após o desabamento parcial do sobrado número


97, em 2018.................................................................................................................................................80 Figura 48: Exemplo da proporção e ritmo das fachadas.......................................................................81 Figura 49: Exemplo de quebra do ritmo das edificações......................................................................82 Figura 50: Proporção e coroamento, lado ímpar...................................................................................83 Figura 51: Proporção e coroamento, lado par.......................................................................................84 Figura 52: Densidade e ritmo, lado ímpar...............................................................................................85 Figura 53: Densidade e ritmo, lado par...................................................................................................86 Figura 54: Fotomontagem da Rua da Matriz..........................................................................................87 Figura 55: Reconstituição do perfil da rua..............................................................................................89 Figura 56: Perfil da rua na década de 1980..............................................................................................90 Figura 57: Situação atual da rua..............................................................................................................91 Figura 58: Nível de caracterização e estado de conservação das edificações.....................................92 Figura 59: Área de intervenção.................................................................................................................94 Figura 60: Os terrenos................................................................................................................................95 Figura 61: Fachada da edificação.............................................................................................................98 Figura 62: Imagem da localização do projeto de intervenção...............................................................99 Figura 63: Diagrama da quadra de intervenção...................................................................................100 Figura 64: Escala do projeto de intervenção.........................................................................................101 Figura 65: Proporção das aberturas na nova edificação e no entorno...............................................101 Figura 66: Ritmo do projeto de intervenção e edificação vizinha.......................................................102 Figura 67: Fachada da edificação..........................................................................................................103 Figura 68: Plantas e corte do projeto de intervenção..................................................................104-105 Figura 69: Fachada da edificação..........................................................................................................106 Figura 70: Imagem da localização do projeto de intervenção............................................................107 Figura 71: Volume do projeto de intervenção......................................................................................108


Figura 72: Escala do projeto de intervenção........................................................................................108 Figura 73: Percepção da densidade a partir das alterações causadas pelos painéis móveis.........109 Figura 74: Ritmo do projeto de intervenção........................................................................................110 Figura 75: Planta baixa do pavimento térreo da edificação..............................................................110 Figura 76: Planta baixa do 3º pavimento e corte da edificação.........................................................111 Figura 77: Diagramas das diretrizes de implantação e escala...........................................................116 Figura 78: Diagrama da diretriz de volumetria....................................................................................117 Figura 79: Desenvolvimento da volumetria.........................................................................................118 Figura 80: Zoneamento..........................................................................................................................119 Figura 81: Lotes para preenchimento de lacuna.................................................................................120 Figura 82: Análise da implantação........................................................................................................121 Figura 83: Análise da volumetria...........................................................................................................122 Figura 84: Análise da escala, densidade e ritmo..................................................................................123 Figura 85: Perspectiva externa do lote 124...................................................................................124-125 Figura 86: Perspectiva externa dos lotes 98,94 e 90.....................................................................126-127 Figura 87: Perspectiva interna dos lotes 98,94 e 90......................................................................128-129


LISTA DE QUADROS Quadro 01: Procedimentos metodológicos....................................................................................20-21 Quadro 02: Classificação dos bens citados pelos entrevistados, em ordem pela quantidade de citações.......................................................................................................................................................57 Quadro 03: Parâmetros urbanísticos da ZEPH – SPR............................................................................63 Quadro 04: Tabela geral das edificações na Rua da Matriz............................................................93 Quadro 05: Diretrizes propostas.....................................................................................................115

LISTA DE TABELAS Tabela 01: Dimensionamento................................................................................................................117

LISTA DE Gráficos Gráfico 01: Modificações sofridas nas edificações da Rua da Matriz....................................................93


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