Revista o I CNPCF

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6 a 10 de dezembro – Hotel Radisson – Maceió-AL


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Apresentação A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) realizou, de 06 a 10 de dezembro de 2010, em Maceió (AL), o I Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais. O evento é uma evolução do Encontro Nacional dos Peritos Criminais Federais, realizado de 2004 a 2009 em diferentes cidades brasileiras. O novo formato reflete o crescimento vivido pela Associação nos últimos anos e possibilita uma amplitude maior na discussão sobre o trabalho do perito criminal, a fim de que a sociedade enxergue o papel da categoria na persecução penal. Cerca de 300 peritos criminais federais de todo o país estiveram presentes durante os cinco dias do Congresso, que contou com painéis temáticos e conferências. Foi uma grande oportunidade para o intercâmbio técnico e científico com outros profissionais da categoria e para um debate sobre os rumos da perícia federal. Além de promover uma maior interação entre os profissionais da criminalística de todo o país, o I Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais também teve como finalidade a conscientização da importância da prova material como ferramenta de auxílio à justiça na elucidação dos mais variados crimes.

Também estiveram presentes ao Congresso procuradores, juízes, advogados, membros do Ministério Público, autoridades dos governos Federal e alagoano e da Prefeitura de Maceió, educadores e estudantes universitários. Em complemento à agenda técnicocientífica, foram realizadas atividades de entretenimento, como coquetéis e coffee breaks, oportunidades especiais para a troca de informações e conhecimento entre os participantes. Nesta publicação, está a cobertura das principais atividades do I Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais. Boa leitura!


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Solenidade de abertura

Expediente

Importância da perícia nas investigações policiais é destaque na cerimônia de abertura

Publicação do I Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais

Maceió-AL, 06 a 10 de dezembro de 2010

Entrevista

www.apcf.org.br Realização:

Hélio Buchmüller

Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) Coordenação:

Novo presidente da APCF avalia o I Congresso e fala sobre os principais desafios de sua gestão frente à Associação

Hélio Buchmüller Lima Organização:

Arana Eventos, Haia Eventos & Turismo e F7 Comunicação Comunicação Social:

F7 Comunicação e ETC Comunicação

Jornalista responsável:

Alessandro Mendes (Azimute Comunicação) Textos:

Jirlan Biazatti, Pedro Lacerda (F7 Comunicação), Taynara Figueiredo, Denise Margis (ETC Comunicação), Alessandro Mendes e Iara Vidal (Azimute Comunicação) Fotos: Jirlan Biazatti (F7 Comunicação), Alessandro Mendes (Azimute Comunicação), Roosewelt

Pinheiro (Agência Brasil), Flávia Batista (Instituto do Meio Ambiente de Alagoas), José Ronaldo, Amílton Cruz e Tamohiro Camurupim Projeto gráfico e diagramação:

Luísa Vieira e Victor Papaleo

PAINÉIS painel 1

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Perícia intensifica combate aos crimes ambientais em Alagoas

painel 2

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“O dia em que Alagoas não foi mais a mesma”

painel 3

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Peritos criminais debatem fraudes em grandes obras de infraestrutura

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Notas Comunicação:

Leia sobre o encerramento do Congresso e temas discutidos nas conferências

instrumento indispensável no I Congresso

A rica exposição e os debates ocorridos nos cinco dias de atividades contribuíram para o desenvolvimento de importantes ações de divulgação elaboradas pelas equipes de Comunicação da APCF

Fotos do evento

Convênio entre perícia criminal federal e Banco Central amplia combate à falsificação de moedas

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Copa e Olimpíadas no alvo da perícia criminal federal

painel 4

18 painel 5

20 painel 6

A perícia criminal na luta contra as drogas

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Entrevista – Hélio Buchmüller Lima

Em defesa da

categoria e da sociedade

O

perito Hélio Buchmüller Lima acaba de assumir a presidência da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) para o biênio 2011/2012. Bacharel em biologia e mestre em genética pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em Ciências pela Fiocruz, Buchmüller é especialista em genética forense e trabalha no estudo e elaboração de projetos de leis que normatizem os bancos de dados de DNA no Brasil. Nesta entrevista, Buchmüller avalia a primeira edição do Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais e fala sobre pontos que serão prioritários em sua gestão, como a capacitação dos peritos e o acompanhamento da Lei Orgânica da Polícia Federal e da Lei 12.030/09, que trata da autonomia da Perícia Criminal.

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I CONGRESSO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS

As discussões foram de altíssimo nível, o que seria de se esperar, por termos excelentes palestrantes. Certamente a fórmula deu certo.”

REVISTA DO I CONGRESSO

Hélio BUchmüller

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Hélio BUchmüller

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Hélio BUchmüller

dos, pois são cada vez mais relevantes e de grande impacto na sociedade. Também tivemos discussões sobre a preparação para grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016, e sobre perícias em moedas falsas. A qualidade dos palestrantes fez com que todos os painéis de discussão fossem igualmente elogiados pelos participantes. Outro tema importante foram as legislações relativas à perícia criminal, com especial atenção à lei 12.030/09 e aos projetos de Lei Orgânica da Polícia Federal e do Novo Código do Processo Penal. Um dos principais resultados desses painéis foi a troca de experiências entre os participantes. Temos hoje mais de mil peritos criminais em atividade e é fundamental que haja eventos como este, multidisciplinares, para que todos tenham a oportunidade de conhecer experiências de sucesso que estão sendo obtidas em diversos setores. Já estamos trabalhando na segunda edição do Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais, que, além das ferramentas utilizadas na primeira edição, trará novidades de grande impacto para a perícia brasileira.

Como surgiu a ideia de transformar em Congresso o antigo Encontro Nacional dos Peritos Criminais Federais, realizado durante seis anos pela APCF? Com o grande crescimento da APCF nos últimos anos, nosso evento anual foi tomando proporções cada vez maiores, e inserimos nele diversas discussões científicas, de modo que naturalmente o Encontro se transformou em um Congresso. O grande diferencial foi o incremento nas discussões científicas de alguns temas da perícia criminal. O papel da Associação em nossos eventos anuais é manter a tradição de discutir temas afetos à Criminalística, bem como trazer a público os avanços nas ciências forenses, apresentando novidades para torná-las mais atrativas aos demais operadores da Justiça e da Segurança Pública. Qual é a sua avaliação do I Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais? O evento atingiu os objetivos traçados pela Associação? O I Congresso foi um grande sucesso em todos os sentidos, o que foi percebido pelas manifestações de participantes, palestrantes e autoridades presentes. As discussões foram de altíssimo nível, o que seria de se esperar, por termos excelentes palestrantes. Certamente a fórmula deu certo. Quais foram os principais temas discutidos no evento? E, em sua opinião, quais foram – em termos práticos – os principais resultados dos debates? Temas como combate à corrupção, investigação de crimes ambientais e combate qualificado ao narcotráfico não poderiam deixar de ser discuti-

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Hélio BUchmüller

Você acaba de assumir o mandato de presidente da APCF. Quais serão os principais desafios da categoria em 2011? Além dos constantes desafios inerentes à carreira de perito criminal, como trabalhos, pesquisas e estudos para se manter atualizado


Entrevista – Hélio Buchmüller Lima

nas diversas disciplinas das ciências forenses, a categoria deverá ficar muito atenta à tramitação de alguns projetos de lei que estão em discussão na Câmara dos Deputados, como a Lei Orgânica da Polícia Federal e o Novo Código de Processo Penal. Será um ano de muitas discussões nesse sentido. Há também uma grande expectativa a respeito do início das atividades do Conselho Nacional de Segurança Pública. REVISTA DO I CONGRESSO Hélio BUchmüller

Qual será o modelo de gestão utilizado em sua administração? A gestão de uma associação deve ser sempre participativa e transparente. É impossível fugir disso, pois a Diretoria Executiva perderia, dessa forma, sua legitimidade para representar a categoria. A APCF tem um histórico de muita luta, com presidentes e diretores que se doaram à causa da Perícia Federal. Temos que honrar esse legado e aproveitarmos os avanços já conquistados da melhor forma possível, tendo sempre em mente nosso papel na sociedade e os objetivos da categoria.

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REVISTA DO I CONGRESSO

Hélio BUchmüller

REVISTA DO I CONGRESSO Hélio BUchmüller

Como será a atuação da APCF em relação a temas polêmicos, como a Lei 12.030, a Lei Orgânica da PF e a reestruturação de cargos e salários? A APCF tem um histórico de defender não só sua categoria, mas, principalmente, o interesse público. É impossível obter sucesso em um pleito se este está em desalinho com as necessidades de atendimento à sociedade. Iremos trabalhar fortemente para que os conceitos inseridos na lei 12.030/09 sejam incorporados à Lei Orgânica da Polícia Federal, pois esta não é uma bandeira apenas da APCF, e sim da sociedade brasileira, como demonstrado diversas vezes, em particular na I Conferência Nacional de Segurança Pública e no Plano Nacional dos Direitos Humanos. Qual é a sua opinião em relação à independência da perícia criminal federal? A independência da perícia criminal é uma garantia de que a prova será produzida com qualidade e isenção. É inevitável. Inserir na Lei Orgânica da Polícia Federal as garantias para a independência funcional dos peritos


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criminais federais é fundamental para a própria Polícia Federal e para a manutenção de sua credibilidade junto à sociedade. A independência da perícia não está relacionada somente à prerrogativa de o perito criminal elaborar seus laudos sem pressões externas. A independência pressupõe um modelo de gestão em que as necessidades orgânicas da criminalística, como capacitação específica, quantitativo e quadro de lotação de peritos, entre outros, sejam respeitadas dentro da Polícia Federal. REVISTA DO I CONGRESSO

Hélio BUchmüller

Como você vê hoje a participação da perícia criminal nas investigações conduzidas pela PF? O que será feito em sua gestão para aumentar ainda mais a produção de provas de qualidade, como previsto no novo modelo de gestão adotado pela PF? A prova pericial é fundamental para a persecução penal. Em sua fase préprocessual, ou seja, na investigação policial, a prova produzida pelos peritos criminais federais é peça chave para materialização e autoria de um delito. É importante ressaltar que a prova pericial produzida nessa fase, diferente de outros indícios colhidos pela polícia, não é repetível, sendo considerada uma prova cautelar. Assim, torna-se crítica a independência da perícia na produção de uma prova qualificada e isenta. Infelizmente, o que foi divulgado como sendo um novo modelo de gestão da Polícia Federal não traz nada de inovador com relação à qualidade da prova. Muito pelo contrário. O que vimos nesses últimos anos foram verdadeiras afrontas à inde-

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pendência da perícia, principalmente no que diz respeito à gestão da criminalística. Como aceitar o discurso de valorização da prova quando a ex-direção geral do órgão encaminha solicitação de concurso para todas os cargos da Polícia Federal, menos para peritos criminais federais? Ou quando a ex-diretoria geral se omite frente aos absurdos cometidos contra os peritos criminais federais na Superintendência Regional de Minas Gerais? Esses e vários outros fatos nos dão a certeza que o “novo modelo de gestão” não passa de retórica, num discurso de pseudoavanços. Temos a expectativa de que a nova direção geral da Polícia Federal corrija esses maus procedimentos e coloque a instituição no rumo que a sociedade brasileira espera e merece. REVISTA DO I CONGRESSO Hélio BUchmüller

Sua principal área de atuação dentro da perícia são os bancos de dados de DNA. Por que eles são importantes? Os bancos de dados de DNA são uma necessidade para a segurança pública. São uma ferramenta que revolucionou o conceito de investigação criminal em todos os países onde foram implantados. Representam uma verdadeira mudança de paradigma. Entretanto, é fundamental termos uma legislação que normatize o uso dos bancos de dados de DNA e, principalmente, quem será cadastrado nesse banco. É inaceitável a quantidade de crimes violentos, como homicídios e estupros, que ocorrem todos os dias e que poderiam ser evitados com o uso do banco de dados de DNA. A APCF apoia fortemente a implantação desta ferramenta. (Alessandro Mendes e Iara Vidal)


Solenidade

Importância da perícia nas

investigações policiais é destaque na cerimônia de abertura

A

cerimônia de abertura do I Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais reuniu peritos criminais de todo o país, além de procuradores, juízes, integrantes do Ministério Público, autoridades dos governos Federal e alagoano e da prefeitura de Maceió, educadores e estudantes universitários. Os participantes destacaram a enorme importância da perícia nas investigações policiais e elogiaram a iniciativa da Associação dos Peritos Criminais Federais (APCF) em promover o Congresso e possibilitar a discussão de temas de grande relevância para o trabalho policial.

Durante a solenidade, o então presidente da APCF, Otavio Brandão, ressaltou sua satisfação pelos quatro anos passados à frente da associação. Bastante emocionado, despediu-se do cargo e agradeceu a todos os peritos criminais federais pelo apoio e confiança dispensados a ele como defensor dos interesses da categoria.

O atual presidente da APCF, Hélio Buchmüller, eleito para o biênio 2011/2012, destacou a importância da repaginação do evento, que pela primeira vez foi realizado em forma de congresso, dando mais destaque e importância a toda Perícia Criminal Federal.

“Esse trabalho não vem de hoje, mas desde o começo da minha carreira na atividade pericial. São 30 anos de Polícia Federal e de luta em defesa dos direitos dos peritos”,

“O Congresso é muito importante para o intercâmbio de ideias entre os integrantes da categoria, além, é claro, de uma oportunidade para todos se atualizarem em relação às novidades na perícia criminal”,

destacou Brandão.

observou Buchmüller.

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O secretário adjunto da Secretaria de Estado da Defesa Social, delegado José Washington Luiz Santos, representou o governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho. Ele falou sobre um homicídio de grande repercussão ocorrido na década de 80, no qual o trabalho pericial foi considerado mais contundente do que a própria confissão do suspeito do crime. “A prova técnica é a melhor prova que se tem dentro de uma investigação. O trabalho da perícia é indispensável”,

avaliou Santos


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O diretor técnico-científico do Departamento de Polícia Federal (DPF), perito criminal federal Paulo Roberto Fagundes, ressaltou a evolução da PF nos últimos dez anos e, em especial, nos últimos seis, devido a um aporte efetivo de infraestrutura técnico-científica e a investimentos em recursos humanos. “Não tenho dúvidas de que nessa evolução da PF, a APCF sempre foi um braço muito forte”,

O ouvidor nacional de Direitos Humanos, Fermino Fechio, cumprimentou a iniciativa da APCF em realizar o I Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais e elogiou os temas escolhidos para os painéis temáticos do evento. “O Congresso discutirá temas de grande importância, como perícia em crimes ambientais, o futuro da perícia e custos reais de obras públicas”,

elogiou Fagundes. destacou Fechio. O representante do Centro de Perícias Forenses de Alagoas, Severino Lira dos Santos, deu as boas-vindas, em nome do estado, a todos os participantes do evento. Ele ressaltou que a perícia alagoana não tem medido esforços para desvendar os crimes sob sua responsabilidade, apesar de não dispor de um contingente adequado para atender a toda demanda local. “Apesar das dificuldades, entendo que precisamos trabalhar de forma a dar respostas à sociedade, mesmo com a falta de recursos”,

O superintendente regional em exercício do Departamento de Polícia Federal em Alagoas, João Batista Estanislau, destacou a importância do perito criminal em qualquer investigação. “A prova que mais pesa para a Justiça, sem dúvidas, está no laudo pericial. É preciso expandir a atividade para que se possa fazer mais pela sociedade”

observou Estanilau. A reitora da Universidade Federal de Alagoas, Ana Deise Rezende Dória, afirmou que um trabalho em parceria entre peritos criminais federais e pesquisadores universitários pode contribuir para que a população seja mais bem atendida. “Nós nos colocamos à disposição da dire-toria da APCF. O Brasil precisa de pessoas com coragem e iniciativas no âmbito federal”,

afirmou Ana Deise.

afirmou Santos.

(Taynara Figueiredo)

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Painel

Perícia intensifica

combate aos crimes ambientais em Alagoas Número de laudos produzidos sobre o tema no estado aumentou doze vezes nos últimos dois anos

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Polícia Federal (PF) está endurecendo o combate aos crimes ambientais em Alagoas. Nos últimos dois anos, segundo dados apresentados no painel A perícia em crimes ambientais, o número de laudos sobre o tema no estado cresceu doze vezes. Entre os principais problemas encontrados estão lixões irregulares, extração de argila de forma desordenada e ocupação de áreas de mangues e restingas, entre outros. “Em 2008, fizemos apenas cinco laudos ambientais. Em 2010, foram 60, nas áreas de meio ambiente, engenharia e patrimô-

nio. Além disso, temos cerca de 30 pendências na espera por perícia”, informou o perito criminal federal Luiz Guilherme Barros Cocentino, do Setor Técnico-Científico (SETEC) da Superintendência da Polícia Federal em Alagoas. O perito federal Petrônio Falcomer Júnior, também do SETEC, destacou que o aumento de laudos se deve não somente a um esforço da PF, mas também ao crescimento no número de crimes ambientais no estado. “Esse cenário aumenta a importância da perícia na constatação dos crimes e na obtenção de provas para punir

O desmatamento florestal é um dos crimes ambientais mais comuns em Alagoas

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os culpados. E temos trabalhado fortemente nesse sentido. Alagoas tem hoje um dos maiores índices de laudos produzidos por perito do Brasil”, destacou. Segundo Falcomer, as agressões ao meio ambiente mais comuns em Alagoas são desmatamento florestal; caça predatória; ocupação de áreas de preservação em restingas e mangues; extração mineral irregular de granito, areia e argila; poluição de mananciais e rios; e existência de lixões. O delegado da PF Felipe Vasconcelos Correa comentou quatro casos citados por Falcomer, com


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Em 2008, fizemos apenas cinco laudos ambientais. Em 2010, foram 60, nas áreas de meio ambiente, engenharia e patrimônio”

A equipe da perícia da Polícia Federal constata um fato, o comprova e traz as provas para o Ministério Público viabilizar as ações penal e civil pública”

Esse cenário aumenta a importância da perícia na constatação dos crimes e na obtenção de provas para punir os culpados”

Realizamos duas prisões em flagrante de pessoas que estavam extraindo saibro na Praia do Francês sem licença ambiental”

ênfase na ação preventiva e repressiva adotada pela Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico (DELEMAPH) da PF alagoana no controle das cada vez mais frequentes invasões em áreas de restinga e mangue da Praia do Francês, um dos principais pontos turísticos de Alagoas. Correa também destacou a exploração irregular de areia no local. “Realizamos duas prisões em flagrante de pessoas que estavam extraindo saibro na Praia do Francês sem nenhuma licença ambiental.

Esse bom trabalho foi resultado da operação em conjunto com a perícia”, explicou. Criada em 2003 e estruturada em 2009, a Delemaph é responsável por investigar crimes ambientais ocoridos nas unidades de conservação do estado. O procurador da República Bruno Baiocchi elogiou o trabalho da perícia federal nos casos ligados ao meio ambiente, com a obtenção de provas que permitem ao Ministério Público comprovar as suas alegações nos inquéritos. “

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A equipe da perícia da Polícia Federal constata um fato, o comprova e traz as provas para o Ministério Público viabilizar as ações penal e civil pública. Ela tem agido com coragem, muitas vezes indo contra o interesse de pessoas poderosas, o que gera críticas infundadas ao seu trabalho. Sou testemunha do trabalho isento da perícia federal e sempre irei utilizar as provas produzidas por ela na hora de defender os interesses do público alagoano”, finalizou. (Jirlan Biazatti)


Painel

“O dia em que Alagoas não foi mais a mesma” Especialistas e autoridades revelaram detalhes da Operação Taturana, deflagrada pela Polícia Federal, que investigou um dos maiores esquemas de corrupção que se tem notícia no estado

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m dezembro de 2007, a Polícia Federal deflagrou, em Alagoas, a Operação Taturana, que investigou o desvio de recursos da folha de pagamento de pessoal da Assembleia Legislativa do estado, além de fraudes na obtenção de empréstimos e financiamentos bancários e em restituições de Imposto de Renda, lavagem de dinheiro e apropriação indébita previdenciária, entre outros. Os alvos foram deputados estaduais, empresários, servidores da Assembleia, funcionários e diretores de instituições bancárias, acusados de fazer parte de um grande esquema de corrupção e de lavagem de dinheiro. O caso

foi manchete dos principais jornais e, após três anos, continua a repercutir no estado. A participação da perícia foi decisiva para o sucesso da Operação Taturana, avaliaram os palestrantes do painel Perícias em crimes financeiros. Segundo o perito criminal federal Francisco José Fernandes Braga Rolim, desde o princípio havia claros indícios de irregularidades em diversos pontos das contas bancárias dos investigados, que indicavam uma movimentação bancária não condizente com a remuneração do funcionário. “Fizemos uma análise mais detalhada e criteriosa daquelas pessoas

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que tinham fortes indícios de irregularidades. A partir daí, conseguimos identificar quem eram os laranjas e os principais mentores dos crimes”, explicou. A estratégia, informou, foi solicitar junto à Receita Federal um relatório de todos os investigados e consolidar as informações de cada CPF e CNPJ consultado. O perito Agadeílton Menezes explicou a estratégia utilizada para identificar uma das modalidades de fraude utilizadas pelos deputados da Assembleia alagoana. “Pela minha experiência, convenci o delegado Janderlyer (Gomes Lima, delegado da Polícia Federal encarregado da Operação Taturana) sobre a importância de se fazer uma análise pericial das verbas de gabinete. Vimos que muitos denunciados tinham grandes despesas com essas verbas. E o que comprovou as condutas ilícitas foi justamente o que se relaciona aos gastos com as verbas de gabinete”. Ele destacou ainda que, infelizmente, a prestação de contas no Brasil é, na verdade, “um faz de contas”, e o que ocorreu em Alagoas parece ser uma realidade de quase todas as Assembleias Legislativas do país. Para a promotora Karla Padilha, a Operação Taturana foi um divisor de águas no estado ao


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resultar no indiciamento de 112 pessoas e na prisão de 12 deputados. “Foi um fato inédito, teve até festa na cidade. Nós tivemos a alma lavada com essa operação. Foi o dia em que Alagoas não foi mais a mesma”, relembrou Karla. A promotora ressaltou a importância do trabalho da perícia criminal para o êxito da ação. “O trabalho de investigação consistiu na análise dos documentos apreendidos e na confecção de laudos de evolução patrimonial e movimentação financeira e sobre as verbas de gabinete”, comentou, ao detalhar os procedimentos dos peritos criminais durante a operação. O procurador da República Paulo Roberto Olegário de Souza relembrou que as primeiras suspeitas da existência de um esquema de corrupção no Poder Legislativo de Alagoas surgiram após o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), órgão do Ministério da Fazenda, apontar indícios de movimentações incompatíveis com a renda

de determinados funcionários. “E isso era apenas a ponta do iceberg de uma investigação muito maior”, ressaltou. Os parlamentares envolvidos, afirmou o procurador, declaravam à Receita Federal retenções de Imposto de Renda em valores superiores aos efetivamente retidos, além de se beneficiarem de restituições indevidas feitas a falsos funcionários. Com a fraude, os deputados obtinham restituição maior ou reduziam substancialmente o imposto a pagar. “Isso era possível porque a Receita Federal não conseguia visualizar a fraude. Além disso, verificamos a participação de vários órgãos do governo no esquema”, observou. Posteriormente, interceptações telefônicas feitas mediante autorização judicial comprovaram toda a negociação com os agentes políticos. “A folha de pagamento da Assembleia era uma grande barganha, havia uma grande negociação”, observou. Para o delegado da Polícia Federal encarregado das inves-

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tigações da Operação Taturana, Janderlyer Gomes Lima, o sucesso do trabalho se deve ao esforço conjunto entre os órgãos envolvidos. “Foi feito um trabalho coordenado com a Receita Federal, o Banco Central, o COAF, a Secretaria de Fazenda de Alagoas, o Ministério Público Estadual e Federal, além da perícia criminal”, pontuou. Lima destacou a importância do trabalho pericial na obtenção de provas técnicas que deram rumo às investigações na Operação Taturana. “Tudo que era sabido pelas pessoas começava a ser provado. E isso só foi possível por meio das provas técnicas”, destacou. O delegado criticou ainda a atuação de parte da imprensa na cobertura das ações da operação. “A imprensa marrom funcionava à base do denuncismo, sempre fazendo duras críticas, mas tendo em vista seus próprios interesses, uma vez que é dominada por ex-políticos. Aqui eu vi o que há de mais forte em matéria de coronelismo”, lamentou. (Pedro Lacerda)


Painel

Peritos criminais debatem fraudes em

grandes obras de infraestrutura

Especialistas abordaram as dificuldades da perícia criminal para detectar desvios de recursos públicos em construções públicas

O

desenvolvimento de novas metodologias de análise para identificar indícios de fraudes em grandes obras públicas de infraestrutura foi o fio condutor do painel Custos reais em obras públicas, que contou com apresentações dos peritos criminais federais Marcos Cavalcanti Lima e Raimundo Azevedo Filho. Lima argumentou que é preciso desenvolver um sistema de faturamento que determine com maior precisão o custo real das obras de infraestrutura. De outro modo, alertou, a perícia criminal pode

ser inviabilizada por não conseguir comprovar uma suposta fraude. “É preocupante quando, em algumas investigações, os delegados conseguem interceptar ligações que comprovam o pagamento de propinas, mas nossas análises periciais não conseguem comprovar o superfaturamento”, comentou. O perito explicou ainda que tais situações ocorrem porque os sistemas de faturamento utilizados no país possuem uma “gordura”, impedindo a previsão real do custo das grandes obras públicas. “É preciso estudar mais detalhadamente

Perito vistoria concreto para verificar se material corresponde ao previsto em contrato

esse sistema de fundos, para que tenhamos preços de referência que representem o valor mais próximo do real. Por isso a necessidade de se dar maior precisão a esses sistemas”, argumentou. Para Lima, é essencial estar atento aos gastos públicos, principalmente nesse período que antecede a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. O perito destacou que a preocupação da Justiça é ter tudo dentro da legalidade, mas isso não basta para afastar a possibilidade de corrupção. “Sabemos que quando estiver próximo da Copa e das Olimpíadas, vai ser preciso colocar dinheiro público, porque possivelmente as obras estarão atrasadas, e a Polícia Federal vai precisar investigar essas obras”, afirmou.

Superfaturamento

O perito Azevedo Filho, por sua vez, destacou que o superfaturamento ocorre principalmente nas grandes obras públicas. Ele relatou que, em diversas situações, a Polícia Federal demonstrou a existência de corrupção, conluio e pagamento de propinas, inclusive em licitações contratadas e executadas por preço aparentemente dentro dos padrões aceitáveis. Para contornar o problema, Azevedo Filho reforçou a necessidade

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I CONGRESSO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS

É preocupante quando, em algumas investigações, os delegados conseguem interceptar ligações que comprovam o pagamento de propinas, mas nossas análises periciais não conseguem comprovar o superfaturamento”

O que temos feito é trabalhar na póselaboração de laudos. Esse trabalho consiste em acompanhar todo o processo com o intuito de explicar ao juiz o que está sendo feito, para que não se encerre o prazo processual e as punições possam ser aplicadas”

de criação de uma taxa referencial que contribua para minimizar o superfaturamento por sobrepreço. “Essa ferramenta racionalizaria a elaboração do orçamento de licitações de obras públicas, tanto na parte de fiscalização quanto de controle”, afirmou o perito. Outra contribuição importante da perícia criminal, segundo Azevedo Filho, ocorre na fase processual, auxiliando o juiz na interpretação dos laudos técnicos.

“O que temos feito é trabalhar na pós-elaboração de laudos. Isso consiste em acompanhar todo o processo com o intuito de explicar ao juiz o que está sendo feito, para que não se encerre o prazo processual e as punições possam ser aplicadas”, informou. Ambos os peritos reforçaram a necessidade de se trabalhar em conjunto com os demais órgãos de controle, como o Tribunal de Contas da União (TCU) e a Controla-

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doria-Geral da União (CGU), além do Ministério Público e de outros órgãos do governo, com o objetivo de coibir as atividades ilícitas. “A gente tenta levar nossa expertise para outros órgãos. Nosso manual de cálculo de superfaturamento, por exemplo, foi compartilhado com a Caixa Econômica Federal, que o utilizou como base para elaborar seu próprio manual”, concluiu Marcos Lima. (Pedro Lacerda)


Painel

Convênio entre perícia criminal federal e Banco Central amplia

combate à falsificação de moedas Prática está em terceiro lugar no ranking das maiores contravenções combatidas pela PF em 2009

A

s medidas preventivas e repressivas contra falsificações de moedas e a importância do convênio firmado entre a Polícia Federal (PF) e o Banco Central (BACEN) para ampliar o intercâmbio de informações foram os principais assuntos abordados no painel Perícia em moedas falsas. A falsificação de cédulas e moedas é a terceira infração com maior número de inquéritos na Polícia Federal, com mais de 3,5 mil em 2009, atrás somente dos crimes de estelionato e de contrabando e descaminho. A perícia criminal federal tem investido em novas ferramentas para combater essa modalidade criminosa, que gera enormes prejuízos para a economia do Brasil. O perito criminal federal Carlos André Xavier Villela ressaltou que a cooperação entre a PF e o BACEN é essencial para o sucesso das operações contra falsificação de notas. “Apenas 6% das cédulas apreendidas passam por órgãos policiais, enquanto 94% são retidas por entidades bancárias. Nossa visão é restrita, enquanto a dos bancos é muito maior”, afirmou. Vilella mostrou dados do BACEN que mostram as notas mais falsificadas em 2009:

em primeiro lugar, R$ 50, seguida por R$ 100 e R$ 20. Villela comentou ainda a importância de adotar-se medidas tanto preventivas quanto repressivas para lidar com esse crime. As ações preventivas devem estar direcionadas ao combate à falsificação, por meio de medidas que desestimulem a contrafação da moeda brasileira e possibilitem a evolução dos elementos de segurança do Real. Já a ação repressiva, acredita o painelista, deve atuar na identificação do derrame de notas falsas, na identificação dos falsários, no desmantelamento das gráficas e na aplicação da Lei Penal. O representante do Banco Central, Alberto Rachelli, destacou os procedimentos de identificação de notas falsas adotados pelo banco desde setembro de 2009. Segundo ele, as falsificações passaram a ser classificadas por semelhanças físicas e gráficas e submetidas à análise de eventuais evoluções de tipo de falsificação, circulação, distribuição e lógica de trabalho. “Isso permite mais agilidade na identificação dos tipos de falsificação que mais ameaçam a credibilidade das cédulas legítimas”, ressaltou. Rachelli frisou ainda que

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esse novo modelo facilita a ação tanto do Banco Central quanto da PF ao direcionar melhor as investigações e a consequente prisão de falsários. Antes, relembrou Rachelli, as cédulas suspeitas eram submetidas a testes de legitimidade, e as reveladas falsas, à apuração do tipo de falsificação utilizado. “A nota examinada não era associada, por nenhum critério, a outras falsificações. Isso tornava extremamente difícil qualquer investigação de sua origem”, comentou. O perito criminal federal Ânderson Flores Busnello avaliou como positiva a mudança de procedimentos implementada pelo BACEN para identificar notas falsas. A partir de um monitoramento focado nas características gráficas e físicas, informou o perito, é possível organizar as cédulas falsas em classes específicas, facilitando a identificação dos falsários. “Já foram identificadas classes de notas compostas por mais de 21 mil cédulas, contendo cerca de 13 mil alfanumerações distintas”, comentou. Busnello lembrou que os recursos tecnológicos cada vez mais acessíveis facilitam a grande variedade de cédulas falsificadas. (Jirlan Biazatti)


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Apenas 6% das cédulas apreendidas passam por órgãos policiais, enquanto 94% são retidas por entidades bancárias. Nossa visão é restrita, enquanto a dos bancos é muito maior”

A nota examinada não era associada, por nenhum critério, a outras falsificações. Isso tornava extremamente difícil qualquer investigação de sua origem”

Já foram identificadas classes de notas compostas por mais de 21 mil cédulas, contendo cerca de 13 mil alfanumerações distintas” 19


Painel

Copa e Olimpíadas no alvo da perícia criminal federal

Peritos destacaram a necessidade de maior integração com os comitês organizadores locais dos eventos

N

os próximos anos, o Brasil sediará diversos eventos de grande porte, como os Jogos Mundiais Militares, este ano; a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), em 2012; a Copa das Confederações, em 2013; a Copa do Mundo de Futebol, em 2014; e os Jogos Olímpicos, em 2016. A perícia criminal terá um importante papel em todos os eventos, com ações preventivas e reativas que contribuam para a segurança dos participantes e do público.

A perícia em grandes eventos foi tema do quinto painel do I Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais. Para o perito criminal federal Adauto Zago Pralon, é imprescindível que haja uma maior integração entre a Polícia Federal e os comitês organizadores dos eventos. “A perícia precisa estar inserida desde o planejamento. Em grandes eventos, a segurança é tratada como um elo da cadeia, enquanto deveria ser o ponto mais importante”, afirmou. Para Pralon, uma melhor integração com os comitês organizadores dos grandes eventos é

importante para evitar barreiras como as encontradas pelos peritos durante os Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, realizados em 2007. Mas apesar das dificuldades, o perito destacou a importância da competição para o aprimoramento da perícia em grandes eventos no Brasil. “O Pan foi um divisor de águas em nossa história. Contamos com um grande aporte de recursos e, ao todo, foram mais de 400 especialistas envolvidos. Nossas dificuldades, erros e acertos embasaram muito do que será feito no futuro”, comentou.

Robôs antibomba, como os utilizados no Pan do Rio de Janeiro, estão entre os aparatos usados pelos peritos em grandes eventos

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I CONGRESSO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS

A perícia precisa estar inserida desde o planejamento. Em grandes eventos, a segurança é tratada como um elo da cadeia, enquanto deveria ser o ponto mais importante”

Segundo o gerente de Segurança de Instalações da Copa de 2014, Aggeu Lemos Bezerra Neto, a Polícia Federal já está promovendo intercâmbio com os comitês locais, o qual ainda precisa ser aprimorado. “Colegas da Polícia Federal participam das estratégias de segurança das 12 sedes, mas

Colegas da Polícia Federal participam das estratégias de segurança das 12 sedes, mas não há uma uniformização das ações”

não há uma uniformização das ações. Em geral, as estratégias não destoam tanto, mas cada local tem suas particularidades”, disse. Bezerra Neto destaca que os grandes eventos precisam necessariamente contar com aparatos mais sofisticados de proteção, o que pode ser preenchido com a

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capacidade técnica da perícia da Polícia Federal. Entre esses aparatos estão, por exemplo, kits avançados antibomba, que contam com viatura customizada, robô avançado, detectores de radiação e químicos, espuma, tenda balística e respirador autônomo, entre outros. (Jirlan Biazatti)


Painel

A perícia criminal na luta

contra as drogas Novas ferramentas desenvolvidas no Instituto Nacional de Criminalística prometem revolucionar as ações de combate ao narcotráfico

“A

repressão deve ser utilizada quando todas as outras formas de combate ao tráfico de drogas falharem”. A declaração do perito Marcos Almeida Camargo, da Divisão de Controle de Produtos Químicos da Polícia Federal, feita durante o Painel Temático Ciência no Combate ao Narcotráfico, sintetiza uma nova visão das autoridades policiais: a de que o trabalho de prevenção ao consumo de drogas deve ser prioridade, e não apenas as ações de repressão ao tráfico. Duas novas ferramentas desenvolvidas pela perícia da Polícia Federal têm esse foco: o Projeto Quantificativo de Analitos Tóxicos (QuanTox), que permite estimar o nível de consumo de drogas nas grandes cidades por meio do monitoramento da malha de esgoto, e o Projeto Perfil Químico das Drogas (PeQui), que determina, após análises laboratoriais, a procedência dos tóxicos e entorpecentes apreendidos durante as operações policiais. Segundo o perito criminal federal Adriano Maldaner, as duas ferramentas são complementares e podem ser utilizadas por órgãos de segurança pública para otimizar a utilização de recursos materiais e humanos na tarefa de combate ao tráfico. “Este é um trabalho das

ciências forenses que contribui para gerar indicadores de saúde pública. As ferramentas podem orientar políticas públicas, ações de saúde pública, campanhas educativas. É preciso compreender esses dados e fazer com que eles sejam úteis”, destacou. O projeto QuanTox foi desenvolvido pela Polícia Federal, no Instituto Nacional de Criminalística (INC), em parceria com a Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), a Universidade de Brasília (UnB) e a Companhia de

Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB). Após analisar amostras de seis estações de tratamento de esgoto do DF, o estudo revelou números significativos do consumo local de cocaína. Os primeiros testes, segundo Maldaner, estimaram que o consumo da droga na capital federal é de duas toneladas por ano. “Antes do QuanTox, era difícil saber se as quantidades apreendidas pela PF eram significativas em relação ao combate ao tráfico. Com as análises, podemos fazer melhor

Perito faz exames de química forense em busca de substâncias ilícitas

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Com essa ferramenta, foi possível calcular a quantidade de droga consumida em um determinado período, em quais lugares o uso da substância foi mais assíduo e se está ocorrendo a manipulação industrial da droga. Esses indicadores contribuem para determinar qual tamanho do problema das drogas na região”

esse tipo de avaliação, direcionar o trabalho de investigação e também intensificar a repressão”, afirmou. A pista deixada pelos usuários de cocaína é uma substância química chamada Benzoilecgonina, expelida na urina. Em regiões onde há consumo da droga, geralmente a análise encontra quatro partes de Benzoilecgonina para cada uma de cocaína pura. Por outro lado, explica Maldaner, se a relação se inverte e grandes quantidades da droga em estado puro são encontradas, é provável que na região ocorra a lavagem de objetos usados na fabricação do entorpecente. “Com essa ferramenta, foi possível calcular a quantidade de droga consumida em um determinado período, em quais lugares o uso da substância foi mais assíduo e se está ocorrendo a manipulação industrial da droga. Esses indicadores contribuem para determinar qual o tamanho do problema das drogas na região”, afirmou Maldaner, que ressaltou ainda a necessidade de investir em

recursos humanos para expandir o projeto a outras cidades. Outra ferramenta apresentada durante o painel foi o projeto PeQui, que determina a origem das drogas apreendidas nas operações policiais. O perito criminal federal Marcos Camargo explicou que o estudo permite traçar o perfil químico da substância – uma espécie de DNA da droga – e, consequentemente, estabelecer conexões entre grupos criminosos de diferentes estados, ampliando a capacidade de combate ao comércio de entorpecentes e ao crime organizado. Camargo apresentou também dados da Operação Alquimista, que investigou o desvio de finalidade de produtos químicos controlados, como cafeína, lidocaína, procaína e benzocaína em diversos estados brasileiros. “Esses produtos são usados licitamente em indústrias químicas e laboratórios farmacêuticos. Porém, são comumente utilizados para mistura na cocaína, com

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a finalidade de aumentar seu volume e, consequentemente, os lucros”, disse. O perito explicou que a análise dos produtos químicos consegue projetar quanto foi produzido e qual material foi utilizado, entre outros indícios. “Quando o desvio é constatado, nós temos que demonstrar essa ilicitude. O PeQui nos ajuda a demonstrar que a destinação dos produtos é para o tráfico de drogas. E esses laudos são extremamente importantes para o processo judicial”, enfatizou. Para ambos os peritos, essas novas ferramentas científicas vão revolucionar as ações de combate ao narcotráfico no país e redefinir o papel da polícia frente ao problema. “Somos meros participantes ou somos protagonistas? Isso depende mais da gente do que dos outros. Há custos e benefícios, mas certamente queremos ser protagonistas”, concluiu Maldaner. (Pedro Lacerda)


Notas

Foto oficial da perícia criminal federal presente no evento

Cerimônia de encerramento Um momento marcado pela emoção e muitos aplausos. Assim foi encerrado o I Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais, no início da tarde do dia 10 de dezembro. Na ocasião, a diretoria executiva da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) prestou uma homenagem ao então presidente Octavio Brandão com a entrega de uma placa em reconhecimento aos quatro anos dedicados à associação.

“Fico muito feliz em ter aprendido com o Brandão, principalmente sobre o posicionamento em relação às outras categorias da Polícia Federal. Cabelos brancos são muito importantes na hora de uma discussão”, destacou o novo presidente da entidade, Hélio Buchmüller. Brandão ressaltou o sucesso do evento e agradeceu a todos. “Sempre serei grato pela consideração que tiveram por mim. Ninguém faz nada sozinho, e a participação de cada um dos

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diretores sempre levou a uma construção. Recebo esta homenagem de todos os companheiros com muito carinho”, frisou. Ao declarar encerradas as atividades do evento, Brandão finalizou emocionado: “nós investimos quatro anos na pessoa que hoje é o novo presidente. Desejo que o mesmo apoio dado a mim seja dado aos colegas que assumem agora esse compromisso com vocês. Vamos juntos pra onde Deus quiser nos levar”, afirmou.


I CONGRESSO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS

Conferências discutem temas importantes para a categoria Durante o I Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais, foram realizadas conferências para discutir assuntos de interesse da categoria. Essas atividades, restritas aos peritos criminais federais associados à APCF, abordaram temas polêmicos que marcaram o ano de 2010, como a Lei Orgânica da Polícia Federal, hoje um dos assuntos mais discutidos dentro da PF. Trechos da proposta em tramitação na Câmara dos Deputados ainda geram dúvidas e desacordos entre as diferentes categorias.

Representante da papiloscopia é recebido no Congresso Uma das propostas do ex-presidente da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais, Octavio Brandão, é unir as classes da Polícia Federal para que todas sejam atendidas na Lei Orgânica da corporação. Nesse sentido, no dia 10 de dezembro, o presidente da Associação Brasileira dos Papiloscopistas da Polícia Federal (Abrapol), Celso Zuza da Silva Neto, foi convidado a expor aos peritos presentes no I Congresso Nacional dos

A Lei da Perícia Outro tema de discussão nas conferências foi a Lei 12.030, que garante autonomia à perícia criminal oficial. Embora a lei esteja em vigor desde 2009, ainda não foi aplicada dentro do Departamento de Polícia Federal. Nesse sentido, a APCF, representada pela diretoria executiva, continua o trabalho no firme propósito de alterar o texto da Lei Orgânica da PF, de forma a ajustá-lo à realidade da nova Lei da Perícia.

Peritos Criminais Federais os principais pontos defendidos por sua categoria. O presidente da Abrapol ressaltou a importância de unir as categorias da PF em prol de um objetivo comum, que seria o fortalecimento da perícia como um todo. “Estamos abertos ao trabalho de cooperação para a construção da perícia, em todos os seus âmbitos”, destacou. O perito criminal federal Adriano Villanova, diretor regional da APCF/MG, destacou o encontro como uma ótima oportunidade para a prática da democracia. “O objetivo da APCF é buscar sempre o diálogo”, afirmou.

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A Lei das Perícias Oficiais, sancionada pelo presidente da República, em 17 de setembro de 2009, assegura ao perito autonomia técnica, científica e funcional, com exigência de concurso público e formação acadêmica específica para o provimento do cargo. O texto especifica como peritos oficiais de natureza criminal os peritos criminais, peritos médico-legistas e peritos odontolegistas com formação superior específica detalhada em regulamento, de acordo com a necessidade de cada órgão e por área de atuação profissional.

O presidente da Abrapol ressaltou a importância de unir as categorias da PF em prol de um objetivo comum


Comunicação

Comunicação:

instrumento indispensável no I Congresso

C

rimes ambientais, crimes financeiros, custos reais de obras públicas, moedas falsas, perícias em grandes eventos e combate ao narcotráfico. Temas de grande relevância que contam com atuação direta da criminalística no país foram amplamente abordados no I Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais. A rica exposição e os debates ocorridos nos cinco dias de atividades contribuíram para o desenvolvimento de importantes ações de divulgação elaboradas pelas equipes de Comunicação da Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) com objetivo de gerar visibilidade ao evento, tanto em âmbito interno (cerca de 1200 associados em todo o país) como externo (em mídia local e nacional). Todo o trabalho realizado, como elaboração de releases, contatos com a imprensa, criação e alimentação de hotsite e coberturas jornalísticas em palestras e conferências, buscou informar, com clareza e dinamismo, os principais acontecimentos do evento, antes, durante e após a sua realização.

mais de mil associados da entidade em todo o país, além de delegados e autoridades convidadas. Foi desenvolvido, com antecedência, um hotsite exclusivo do congresso (acessado pelo site institucional da APCF: www.apcf.org.br), contendo diversos serviços e informações, como: local, programação, notícias, vídeos, reportagens, viagem e hospedagem, inscrições, contatos, patrocinadores, apoio e realização. Estrategicamente, o hotsite ficou disposto na página principal do site durante os cinco dias de evento, para que as informações sobre o I Congresso, como a cobertura jornalística produzida e disponibilizada pela equipe logo após cada palestra ou conferência, fossem facilmente acessadas. A equipe de comunicação interna também coordenou um batepapo entre os peritos aposentados presentes ao evento, entre eles

fundadores do Instituto Nacional de Criminalística (INC). Os momentos de interação, realizados em três dias consecutivos, com relatos marcantes sobre a história da perícia no Brasil, foram registrados em áudio e vídeo e servirão para a produção de um documentário, a ser disponibilizado no futuro Museu da Perícia, importante projeto que está sendo realizado pela APCF. Para aprimorar ainda mais a comunicação da entidade com seu público interno, a equipe deu início, no evento, a uma pesquisa de opinião entre os peritos presentes, com o objetivo de avaliar a eficácia dos canais de informação utilizados atualmente pela associação. O questionário, enviado também aos demais associados que não puderam comparecer ao evento, busca ainda avaliar a possibilidade de criação de novos canais de comunicação. A parte

O hotsite trouxe as principais informações sobre o evento

Comunicação interna Todos os canais internos de comunicação da APCF – site institucional, boletim eletrônico quinzenal, comunicados especiais, convites e revista semestral – foram aproveitados na divulgação do Congresso, tornando o evento conhecido pelos

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I CONGRESSO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS

organizacional do evento, como elaboração de material gráfico, como banners, flyers, credenciais, pastas e programação, além de aberturas cerimoniais de painéis temáticos e conferências, também contou com o suporte técnico da equipe de comunicação interna.

Comunicação externa A equipe de comunicação externa da APCF obteve resultados significativos em sua tarefa de divulgação e relacionamento com a mídia. Duas semanas antes do evento, a Folha de S.Paulo, maior jornal do país, fez uma reportagem de meia página sobre atividades da perícia criminal federal. O espaço destinado à matéria, caso fosse comprado em publicidade, custaria aos cofres da entidade cerca de R$ 200 mil. Vale ressaltar que as matérias produzidas pelos grandes veículos de imprensa muitas vezes são reproduzidas por jornais de menor porte espalhados pelo Brasil, além de sites e blogs. As matérias de cobertura jornalística produzidas pela equipe de comunicação externa da APCF também foram disponibilizadas no hotsite do evento. A equipe de assessoria produziu e distribuiu, ao todo, dez releases para a imprensa de Alagoas e demais estados do Brasil, por meio de um amplo mailing de profissionais e veículos de imprensa (Maxpress). O trabalho garantiu diversas matérias em rádios, TVs e sites alagoanos, que

Foram veiculadas diversas reportagens sobre o Congresso

corresponderam a cerca de R$ 30 mil em termos publicitários. Foram veiculadas reportagens nas TVs Alagoas (afiliada Globo) e Pajuçara (afiliada Record), na Rádio Gazeta AM e nos três jornais de maior circulação em Alagoas. Já no primeiro dia de atividade, o Jornal Primeira Edição esteve no Hotel Radisson para conversar com alguns participantes sobre a importância da perícia criminal. Na ocasião, o então vice-presidente da APCF, Hélio Buchmüller, hoje presidente da entidade, explicou sobre a repaginação do evento, destacando que o formato congresso permite uma amplitude maior na troca de informações sobre o trabalho do policial federal

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criminal, a fim de que a sociedade enxergue o papel do perito na persecução penal. Foram entrevistados também os PCFs Petrônio Falcomer, de Alagoas, Alexandre Moreira Vaz, de Goiás, e Renato Barbosa, de Brasília. Também no dia 06 de dezembro, Buchmüller concedeu entrevista ao vivo à TV Alagoas, durante o programa Bom Dia Alagoas. Outra entrevista ao vivo foi no dia 8, com o PCF Agadeílton Menezes, durante o programa Pajuçara Manhã (TV Pajuçara). O assunto abordado foi a perícia em crimes financeiros, tema do segundo painel do evento, com citações sobre a Operação Taturana, da Polícia Federal. (Denise Margis e Taynara Figueiredo)


Fotos

Fotos do evento

Cerimônia de abertura

Coquetel de abertura

Música ao vivo anima coquetel de abertura

Compuseram a mesa de abertura o superintendente regional em exercício do Departamento de Polícia Federal, João Batista Estanislau; o representante do Centro de Perícias Forenses de Alagoas, Severino Lira dos Santos; o secretário adjunto da Secretaria de Estado da Defesa Social, delegado José Washington Luiz Santos; o então vice-presidente da APCF, Hélio Buchmüller; o então presidente da APCF, Octavio Brandão Caldas Netto; o diretor técnico científico do DPF, Paulo Roberto Fagundes; o ouvidor nacional de Direitos Humanos, Fermino Fechio; e a reitora da Universidade Federal de Alagoas, Ana Deise Rezende Dória

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I CONGRESSO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS

O diretor financeiro da APCF, Agadeílton Menezes, concede entrevista ao jornal local Pajuçara Manhã, transmitido pela filiada da TV Record

O perito criminal federal Marcos Camargo concede entrevista à filiada da Record em Alagoas

O Atual presidente da APCF, Hélio Buchmüller, concede entrevista à TV Gazeta, filiada da Rede Globo em Maceió

Diretores regionais participam ativamente das discussões sobre as necessidades dos associados em cada estado

A participação dos diretores regionais valorizou o I Congresso Nacional dos Peritos Criminais Federais

Banda Os Criminalistas, composta por peritos criminais federais, toca em noite de confraternização

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Fotos

Procurador da República Paulo Roberto Olegário de Souza, perito criminal federal Francisco Jose Fernandes Braga Rolim, promotora de Justiça de Alagoas Karla Padilha, diretor financeiro da APCF, Agadeílton Menezes, e delegado de Polícia Federal Janderlyer Gomes Lima

Peritos criminais federais Marcos Cavalcanti Lima e Raimundo Azevedo Filho falaram sobre desvio de verbas em obras públicas

Felipe Vasconcelos Correa, Petronio Falcomer Junior, Luiz Guilherme Barros Cocentino e Bruno Baiocchi

O perito criminal federal Carlos André Xavier Villela disse que a união entre a PF e o BC é essencial para o sucesso das operações contra a falsificação de cédulas e moedas

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I CONGRESSO NACIONAL DOS PERITOS CRIMINAIS FEDERAIS

O gerente de Segurança de instalações da Copa 2014, Aggeu Lemos Bezerra Neto, e o perito criminal federal Adauto Zago Pralon participaram do painel que abordou o planejamento de segurança da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016

Diretoria executiva da APCF participa do encerramento: Sérgio Aguiar, Hélio Buchmüller, Octavio Brandão, Maurício José da Cunha, Sergio Cibreiros e Renato Barbosa

Perito criminal federal Marcos Camargo fala sobre o combate ao narcotráfico

Hélio Buchmüller, Octavio Brandão e Maurício José da Cunha

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