CURSO
Ministrante: Dra. María Cristina Ravazzola Florianópolis, 06 e 07 de novembro de 2009. Violência Familiar Contribuições a Compreensão do Fenômeno da Violência Familiar Somar contribuições feministas, sistêmicas e do construcionismo social, e dos estudos sociais e políticos dos autoritarismos. Ter em consideração o Esquema do sistema de manutenção dos circuitos autoritários (Ideias, Discursos e interações, Emoções, Estruturas). Tomar em consideração os Atores protagonistas: homens vitimarios e mulheres vítimas. Importância de desenvolver estratégias para trabalhar com os homens (construção de masculinidades sem violência). Considerar o lugar e função do 3er ator, testemunha. Importância de reconhecer Subjetividades parciais, múltiplos, fragmentadas, encarnadas, em relação dos Atores. Importância de reconhecer os signos da síndrome de Lavagem de Cérebro nas mulheres maltratadas; Dissociação; ( para lhes ajudar a se defender). Homologação de todos os sistemas de abuso. Importância de reconhecer a Linguaguem como construtor social de Realidades Relacionais (contextos de impunidade e justificação). De – construções. Tomar em consideração os Atores protagonistas: homens vitimarios e mulheres vítimas. Importância de desenvolver estratégias para trabalhar com os homens (construção de masculinidades sem violência). Considerar o lugar e função do 3er ator, testemunha. Importância de reconhecer contextos que facilitam a violência como a Equidade nas Diversidades. Gerar âmbitos de Relações Democráticas (alternativas a violência).
Dra. María Cristina Ravazzola
Influência dos estereótipos de gênero na manutenção das relações de violência no âmbito doméstico. Alguns contextos perpetuadores de a Violência Familiar Contexto de justificação. (Explicações acerca de por que se produziu o episodio) Contexto social de Impunidade. Contexto social de Corrupção. Paradigmas Culturais que enfatizam Vinganças e Rivalidades, Competências, Transgressões. Contexto sócio‐cultural de Discriminação. (Não respeito pela Diversidade), de Iniquidades Contexto de descrença e desconfiança na informação Quadro do Esquema Original do Circuito de Abuso Familiar Atores
Pessoa Abusadora (A1) Pessoa Abusada (A2) Pessoa Testemunha (Contexto) (A3)
Dra. María Cristina Ravazzola
Ideas (teorías explicativas ou crenças) Mitos Genero Familia Lógicas das relações
A pessoa abusadora não pode se controlar. Foi “provocada”. É vítima dessas provocações. A pessoa abusada é inferior. As mulheres devem ser cuidadosas e complacentes sempre e com toda familia. A família deve se manter unida a qualquer custo. Os homens são quem devem exercer o poder e a autoridade na família. Deve exercer domínio. Em questões familiares não devem intervir os de fora. Teorias psicológicas do masoquismo feminino
Discursos Ações Emoções Estruturas Contextos
As provocações e os maltratos são elementos frequentes e naturais nas conversações. Vergonha alheia Medos Estão reificadas. São consideradas por cima das pessoas, como coisas reais. Mantém a organização com hierarquias fixas naturalizadas ou essencializadas. De impunidades, de justificações De iniquidades, de valores de competitividades
Alguns Mitos sobre a violência familiar Os casos de violência familiar não representam um problema de grande magnitude. São situações excepcionais. Os violentos e suas vítimas padecem de algum tipo de enfermidade mental. A violência familiar é um problema associado a pobreza e a falta de instrução. A pessoa que abusa não pode se controlar. Em questões familiares não devem intervir os de fora. Se intervém arrisca a unidade da família, que é primordial. O alcoolismo ou o abuso das drogas são causantes e se associam a violência. As mulheres devem gostar, pelo contrário não ficariam em essa situação. Dra. María Cristina Ravazzola
Não qualquer mulher é vítima de violência. As vítimas de maltrato o buscam de alguma maneira. O provocam. São responsáveis. A violência ocorre normalmente em lugares fora do lar e por parte de estranhos O mau‐trato emocional é menos grave que o maltrato físico. A conduta violenta é algo inato, essencial do ser humano. Qualquer um pode perder o controle. Em uma família se há violência não pode haver AMOR. E vice‐versa. A violência está associada a experiências sofridas na infância. Operadores: Ideas e Crenças Defesa Denegación psicológica
Racionalização
Minimizações
Identificação
Mitos / barreiras Isto só ocorre em outras partes do mundo e com outra classe de gente. Isto não é algo que ocorra a nossos pacientes. Não quero reconhecer isso quando vejo. Isto passou a mim mais não quero admitir. É um assunto privado. Não é de minha incumbência. Creio que não tenho tempo para prestar atenção a isto. Se formulo perguntas, isso poderia me causar problemas legais. As vítimas não querem realmente falar da questão. As pacientes se incomodarão se se perguntar acerca da violência no seus lares. A mulher deve haver feito algo para provocar a violência. De todos modos, não posso fazer nada. Isto ocorreu no passado e não pode estar afetando‐a agora. O caso que ela não tenha muitos machucados, não pode haver sido uma situação tão grave. Isto nunca poderia passar a mim, de modo que não pode haver ocorrido a uma mulher em situação parecida a minha. Era evidente a razão do seu companheiro para espancar. Dra. María Cristina Ravazzola
Intelectualização
Uma mulher espancada deve ir de casa. A pessoa supera essas questões em períodos breves Somente nos ocupamos de problemas médicos.
Fenômenos dissociativos na Vítima Componentes da síndrome de desconexão na mulher maltratada Não registra maus‐tratos (anestesiada). Conta dramas rindo. Trivializa. (Isto gera desqualificação e retiro de empatia em quem as escuta) Crer e convalida a seu agressor. Repete seu discurso sem pensar desde si mesma. Supõe que o necessita como a um nutriente. Consulta a quem se mostrou como seu inimigo. Protege, justifica, se identifica com ELE. Uma parte dela é advogada, delegada e representante DELE. Podem aparecer agressivas e mal‐tratadoras com quem as ajuda se isso ameaça a ELE. Não pode irrita‐se com ELE. Se somente, engana e traí a quem a está ajudando (teme que prejudique a ELE). Pensa que seus problemas acabariam se ela pudesse ser capaz de comprazer a ele. Lentidão de resposta (como em um transe). Passividade (como estonteada). Bloqueios, falta de memória, inseguridades, sonolência, irritabilidade, ansiedade, distrações, distorção da realidade. Enfermidade Física: diarréias, cefaléias, sufoco, palpitações, insônia, dores, acidentes a repetição.
Não exerce eficazmente sua própria defesa.
Fenômenos dissociativos do vítimario Minimiza sua agressão. Justifica sua ação e propõe uma explicação acerca dela. Insensibilidade adquirida. Não registra o mal‐estar da sua vítima. Não a vê como outro, com iguais direitos a quem respeitar. Dra. María Cristina Ravazzola
Fenômenos Comunicacionais a) Alguém conta agora, neste momento, algo muito importante e grave que sucedeu faz tempo, com o efeito de que quem recém escuta pela primeira vez recebe um considerável impacto ao que os outros já se acostumaram (por exemplo, que a sido maltratado durante sua infância, sofrendo abusos). b) Um agressor pede desculpas a um agredido, e ao mesmo tempo explica por que o agrediu. Desta maneira a desculpa fica anulada e à ação aparece justificada. c) Há formas de conversar que mostram que o falante tem um diálogo com outra pessoa que não está presente, ao mesmo tempo que fala com nós. “Sim, já disse isso ao meu marido”. d) Superposição de vozes ou de discursos que fazem impossível que os interlocutores estejam escutando. Falam “um em cima de outro”. e) Alguém (habitualmente a vítima) está falando, outro (habitualmente o vitimario) a interrompe, as vezes com algo francamente pouco importante, e ela se "envolve" com a interrupção e se esquece do que estava fundamentando. f) Às vezes não é claro a quem vai dirigido um mensagem. Se fala de alguém que está presente como se não estivesse aí. Nenhum termina por sentir‐se autorizado como interlocutor. Watzlavick, Beavin e Jackson chamaram "triangulação" a esta forma de causar um efeito tão poderoso. g) A pergunta a B algo sobre C que B desconhece, mas que ambos coincidem em supor que B "deveria" conhecer, com o efeito de que B se sente em falta. Alguns papéis sociais, como o de mãe, se prestam para este efeito de "todo uso". h) Uso incongruente do tempo do verbo. “Antes me preocupava o que ele fazia”. O tempo passado indica que algo terminou e anula a possibilidade presente, salvo que a mensagem está sendo expressado no presente e convém clarificar‐lo. “E agora.como é?” ¿já não te preocupa mais?” i) Alguém não responde o que se pergunta, ou comenta algo que não tem nada que ver com o que se está falando. (Usa o “modo destrator” do que falava Virginia Satir) j) Incongruência do sujeito. Alguém é porta‐voz (parlante – que fala muito, tagarela, fofoca) de outro que fala por ele. O que diz é o que "deveria" dizer o outro. Confunde sobre a quem deveria pertencer o desejo expressado. "Quero que ele queira", “quero que ele se cuide”. “Minha mãe quer que eu me defenda”. Outra forma de esta incongruência de sujeito se produze quando alguém diz coisas de estilo: “que se pode esperar de um violento como eu”. O falante se auto atribui uma qualificação que anula a possibilidade de que o outro se a atribua. Dra. María Cristina Ravazzola
k) Alguém troca bruscamente, um modo conversacional por outro, por exemplo o verbo muda de modo de indicativo a imperativo. Ex. :" Ele pode chegar a tratar a sua mãe como a pior pessoa, mas não tem que dizer‐lhe nada porque em seguida passa " (Ela faz eco com o uso do imperativo do terrorismo com que ele amedronta a quem quer incomodá‐lo) l) O interlocutor sente grande impacto ao que se relata. Ou se sente compulsado a responder de uma maneira muito predeterminada. As provocações e os transbordos emocionais produzem esse efeito. m) Alguém diz algo muito prejudicial sobre uma pessoa presente ou não, porém o enquadra como proveniente de outra pessoa que não está presente. (gossip) Síntese operacional 1. Conversar com serenidade, com cuidado e com firmeza. 2. Programar psicoterapia individual y grupal para aprendizagem de CONTROLE (ele), AUTO‐DEFESA (ela) e RESSOCIALIZAÇAO. 3. Sair do silêncio e do ocultamento (contar a seus familiares e a seus filhos). Convocar a rede. 4. Promover a aliança entre os distintos sistemas intervenientes (policial, judicial, terapêutico). 5. NÃO "normalizar", nem brincar, nem minimizar os maus tratos relatados 6. Ajudar a recordar (anestesias, dissociação defensiva). 7. Pôr limites muitos claros. 8. DEBATER: acerca de distintos temas da FAMILIA, rol de MULHERES e de HOMENS, sexualidade na família, trato equitativo entre seus membros, e revisar crenças que propiciam o sistema violento. 9. Identificar trucos comunicacionais. 10. Usar registros (áudio ou vídeo gravações) para desbaratar ditos trucos. 11. É bom que terapeutas e clientes estejam acompanhados e não em relações um a um. 12. Nunca é bom perguntar: por quê passou? A explicação ajuda a justificar e dá lugar a que volte a ocorrer. 13. Criação de Redes para sensibilizar, assistir, defender eficazmente as vítimas, capacitar, investigar. Telefones Refúgios Dra. María Cristina Ravazzola
Leis. Medidas cautelares Ampliación de propuestas ‐Grupos de Homens. Grupos de Mulheres. ‐Grupos de Madres para o exercício de sua autoridade. (Amor e autoridade) ‐Capacitações e Treinamentos em efeitos comunicacionais para membros do Sistema Legal e do Sistema de Saúde. ‐Identificação de padrões comuns de abuso. Prevenção Inespecífica. ‐Trabalho de Apoio a tarefa de Tribunais/Juízos. ‐Cuidado das Equipes. Entrevistas de Tribu. ‐Geração de Propostas de interação alternativas a Violência Familiar. ‐Creação de âmbitos de não litígio, não competência, para refletir e exercer poder/com..., não para ganhar, mas para não prejudicar. ‐Propiciar valores igualitários. ‐Propiciar relações democráticas na família. ‐Apoiar e considerar resultados de investigações sobre sinais de “lavagem de cérebro” e outras consequências dos maltratos e opressões. ‐Apoiar e propiciar investigações e ações em Prevenção de Violência através de Programas de Democratização Familiar. Sua importância nas Políticas Públicas. ‐Apoiar Investigações sobre a socialização masculina. ‐Apoiar Investigações sobre a socialização feminina. Recursos de auto cuidado Para todos os ABUSOS é importante: Aprender AÇOES POSITIVAS DE AUTOCUIDADO Identificar RISCOS: visibilizar Dra. María Cristina Ravazzola
mencionar evitar afrontar Pedir AJUDA Reconhecer FRAGILIDADES e DIREITOS Reconhecimento de Direitos direito a ser igualmente protegida pela lei e ser livre de discriminação por ser mulher. direito a não sofrer torturas, castigos ou tratos cruéis ou degradantes. direito a gozar do mais alto nível possível de saúde física e mental. direito a ser considerada em posição de igualdade, em relação com os demais integrantes da família. Aspectos a serem evitados em terapia familiar a partir do olhar das questões de gênero a) Aceitar definições que desqualificam as mulheres ou as mães, assim como culpas, atribuições, etc., ainda que manifestadas pelas próprias mulheres. b) Aceitar alianças “salvadoras” ou “cuidadoras” dos sistemas (familiar, conjugal, etc.). c) Aceitar distribuições desiguais e não recíprocas (incluindo os maus tratos), com o argumento de que “não são o problema pelo qual consultam”. c.1.1) Supor que as mulheres e os homens registram, avaliam, expressam e legitimam as mesmas necessidades, vontades, raivas, etc. c.1.2) Ignorar que as mulheres são socializadas para treinar‐se em centrar e considerar os outros mais do que a si mesmas, e que então dependem em grande medida da opinião do marido, dos filhos, da própria mãe, etc., para sua auto‐estima. d) Supor responsabilidades equivalentes entre os membros da família ainda que sejam de gêneros distintos e, às vezes, responsabilidades ainda maiores quando se trata de mulheres. Levamos em conta especialmente a suposição de que as mulheres deveriam ter cuidado de não provocar o descontrole dos homens. e) Deslize de diferentes audições para esforços, capacidades e tentativas, segundo estes sejam realizados pela mãe ou pelo pai. f) Supor que são mais benéficas, saudáveis ou valiosas as condutas de autonomia ou separação que as de solidariedade ou empatia. Dra. María Cristina Ravazzola
g) Supor que se deve assumir o ponto de vista da vítima e defendê‐la, subestimando sua capacidade de defendê‐la a si mesma em vez de criar contextos que a mobilizem a partir de visualizações claras dos preconceitos e suas dificuldades e suas possibilidades alternativas. h) Esquecer de confrontar situações segundo o sexo daqueles que intervêm. i) Deixar circular estereótipos de gênero como verdades objetivas. O item a pode ser um caso do item 1. j) Supor‐nos neutros, ou conhecedores do modo como os clientes deveriam viver, incluindo a definição de gênero. Perguntar‐nos sistematicamente, se na família que faz a consulta, a mulher pode e está em condições de: 1) Não responder as demandas e recriminações dos membros homens de sua família quando estes se mostram necessitados ou “mal”. 2) Dar‐se a possibilidade de rejeitar – dizer não – a demandas exageradas de atenção. 3) Considerar a levar em conta suas próprias vontades e gostos. 4) Registrar para ela as conseqüências que têm suas próprias renúncias, avaliá‐las e reservá‐las . Registrar a atitude do resto da família nestes processos e avaliá‐los. 5) Estabelecer fronteiras claras com os membros da família. 6) Pensar que alguns dos problemas de SUA família podem não ser produto da SUA FALHA. 7) Sentir‐se no direito de compartilhar as tarefas domésticas (o famoso meu marido “me” ajuda ), e portanto, exigir uma distribuição mais justa das atividades e encargos. É útil revisar como negociam as tarefas do fim de semana ou férias, ou simplesmente da chegada da noite todos os dias, quando há filhos pequenos. 8) Exigir reconhecimento do que faz. 9) Pedir ajuda a mulheres e a HOMENS de sua família. 10) Exercer sua AUTORIDADE na família. 11) Aceitar diante de si mesma que alberga emoções negativas para com os membros de sua família. 12) Sentir‐se com direito de desenvolver seus próprios projetos. 13) Sentir‐se com direito de questionar a validade das asserções e pensamentos dos outros e desenvolver idéias próprias. Fonte: Ravazzola, María Cristina. Revista Sistemas Familiares.
Dra. María Cristina Ravazzola