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Editorial

Museus para que vos quero (?)

Nesta edição publicamos uma notícia sobre a reconfiguração do projeto existente, de há quase duas décadas, para a construção de uma albergaria/estalagem e de um museu do azeite em São Marcos da Serra, pela Câmara Municipal de Silves.

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Por vicissitudes várias, a obra foi abandonada em 2009 e assim tem permanecido. Recentemente, a autarquia decidiu inverter essa situação, propondo alterações ao projeto inicial, convertendo o espaço da albergaria num centro de acolhimento de idosos, considerado muito necessário na freguesia. Mas mantém a ideia da construção de um museu do azeite. E aqui se lança a questão, a mesma levantada em 2006 quando o Executivo Camarário da altura anunciou a intenção de construir um “triângulo de museus”, em São Marcos da Serra seria o Museu do Azeite, em São Bartolomeu de Messines o Museu do Traje e em Armação de Pêra o Museu do Mar.

Lembro-me dos argumentos apresentados para a implementação destes museus e de me terem parecido simplesmente superficiais: São Marcos da Serra ficaria com um Museu do Azeite porque existia um antigo lagar no edifício intervencionado; Messines teria um Museu do Traje porque o Rancho Folclórico dispunha de várias peças de vestuário que podiam ser expostas; e Armação de Pêra ganharia um Museu do Mar porque obviamente tem ligação ao mar…. Passados todos estes anos, até à data apenas foi construído o Museu do Traje que sobrevive à entrada da Vila de Messines sem qualquer relevância ou iniciativa que perdure. Na mesma Vila, outro espaço museológico, a Casa Museu João de Deus, vive uma situação semelhante, quase encerrada e com iniciativas dispersas, enquanto o edifício adquirido mais recentemente pela Câmara Municipal, a casa onde nasceu o poeta João de Deus, espera por um projeto de ocupação viável e sério que não se vislumbra. E eis a dúvida: será que faz sentido construir em 2022/23 um Museu do Azeite em São Marcos da Serra, uma ideia concebida em 2006? Qual será a atividade/ dinâmica que poderá desenvolver? Qual será a estratégia de divulgação e capacidade de atração de visitantes? Ou visto por outro prisma: se nos últimos 20 anos se investiu na promoção de São Marcos da Serra como uma freguesia ligada ao folar e ao pão, fará sentido criar um museu do azeite, quando finalmente essa campanha começa a ganhar expressão? Inquieta-me que este futuro museu possa vir a ser mais um “mono”, a atrair meia dúzia de visitantes esporádicos, tal como o Museu do Traje, no qual nada se passa… Uma casa na qual a autarquia terá de investir largos milhares de euros, sem que venha a existir um retorno para a comunidade (recorde-se que o projeto inicial estava orçado em quase um milhão de euros)… Talvez me possam dizer, mas antes haver um museu do azeite do que não haver nada… mas gostaria que fossem divulgados planos de promoção, de atividades, circuitos e estimativas de visitantes… números e factos que fizessem sentido para qualquer um – que mostrassem a justeza da ideia e do investimento. Porque um museu não pode ser só uma ideia, paredes, equipamentos e um funcionário a abrir a porta… e depois logo se vê… Tem de ter cultura, história, ligação à comunidade, direção inteligente e criativa, boa gestão financeira e capacidade de cumprir o seu papel primordial: o de defender a nossa essência para a projetar no futuro, contribuindo para a melhoria e o progresso da nossa comunidade, do ser humano.

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