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João Dantas, residência e natureza

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THE FLOATING BEAR

THE FLOATING BEAR

Alexandra Aguirre

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Fui convidada pelo editor da babEL, o artista visual Armando Mattos, para assistir ao processo de residência, na Bienal de Artes de Búzios (BAB), do alagoano João Dantas: as transformações produzidas pela experiência do deslocamento, diálogo e leitura. Meu primeiro contato com o jovem artista foi na exposição alinaescada, uma ocupação no atelier coletivo e centro de exposição alinalice, dirigido pelo também artista visual Leo Ayres. O alinaescada: João Dantas dispunha sobre o vão da escada do antigo sobrado operações de tensão e equilíbrio entre materiais de peso, textura e maleabilidade em contraste, resultando na suspensão de pedras tensionadas por barbantes e fios de algodão. Como nestes trabalhos de tensão material, se questionam os predicados, atribuídos aos elementos – peso e leveza, dureza e flacidez, entre outros –, naturalizados por nossa experiência empírica. A desnaturalização destes atributos nos leva a questionar predicados nem sempre materiais, mas tão efeitos da vivência empírica quanto o peso de uma pedra e a maleabilidade de um barbante. A questão da natureza – e os predicados de originário e anterioridade – reaparece numa conversa com o artista, quando ele propõe o trabalho a ser resultado da residência.

Estudando a história de Búzios, Dantas descobre a presença de povos originários, quilombolas e indígenas, na região e questiona se há outra forma de destacar esta ausência, senão por meio de elementos da natureza. A natureza primitiva, anterior à civilização, original que está irrevogavelmente nas pedras suspensas de alinaescada, que seu gesto de suspender questiona o que os sentidos, a ciência e as gerações confirmam. A este gesto questionador, Dantas dá o nome de “intenção” ou “tenção”, num jogo homófono com a “tensão” produzida entre materiais. A tenção para o artista tem o sentido de projeto, de movimento em direção a, uma ultrapassagem para além de si. E assim são seus trabalhos que buscam por meio do fazer um espaço ficcional para além do vivido e do que se é.

A natureza idealizada em seu primitivismo foi questionada por mim, uma vez que, sendo um termo compreendido em oposição à cultura, não pode ser senão sua contraparte, e, enquanto oposição à natureza humana – a cultura –, ela não poderia sequer ser habitada. O artigo “Cidade, natureza e ilusão: Ítalo Calvino e a épica moderna nas des- venturas de Marcovaldo ou As estações na cidade”, da cientista social Camila Pierobon (2012), passou a ser o lugar de discussão para o conceito de natureza. A autora identifica no personagem de Calvino, o indivíduo blasé de Georg Simmel que, por ser intensamente estimulado na cidade moderna pela “diversidade, multiplicidade, heterogeneidade, velocidade, fugacidade” (PIEROBON, 2012, p. 104), não pode senão reagir pelo intelecto e racionalidade. Os sentidos embotados pelo excesso de estímulos só funcionam numa ordem altamente subjetiva e interiorizada, fazendo Marcovaldo – personagem de Calvino – idealizar em natureza primitiva e acolhedora a vida dura do campo, os animais embalados no supermercado, a brancura da rua tomada por uma nevasca.

Observando a fantasia de Marcovaldo percebemos a busca pela natureza romantizada e o sonho de um retorno a um passado bucólico como espaço de felicidade, como uma utopia, que nos contos estabelece uma relação de inversão da realidade que a personagem experimenta cotidianamente.

(PIEROBON, 2012, p. 103)

A entrada de Calvino, Marcovaldo e Simmel na residência deu a João Dantas a consciência da obra como espaço ficcional subjetivo e interior que, longe de se conter em si – como para Marcovaldo –, busca se projetar em direção ao outro, tenciona o diálogo e o encontro com a cidade moderna. A natureza deixou de ser o tema nostálgico e irrecuperável de um passado idealizado, para tornar-se o vão, o espaço “entre”, a abertura a ser vivida como ficção nas obras. Em resposta ao texto apresentado de Pierobon, Dantas mostrou-me as fotografias que bidimensionam o espaço produzido pelo tensionamento de materiais, por meio da superposição de imagens. Há sempre um espaço, um deslocamento irreprimível e irrevogável, em seus trabalhos.

Referências bibliográficas

PIEROBON,

BRÍGIDA BALTAR

--------- Mensagem encaminhada ---------

De: armando mattos <projetoconcreto@gmail.com>

Data: seg., 12 de set. de 2011 às 19:48 Assunto: coleta 2 distancia entre o ponto de cotato entre o coletor e a areia, te mando um preview em baixa, de uma olhada

Oi Brigida hj achei o tempo mais propicio ao clima do seu trabalho, meio nublado, sem a ventania buziana caracteristica da estação.

--------- Mensagem encaminhada ---------

De: brigida baltar <baltar.brigida@gmail.com>

Data: ter., 13 de set. de 2011 às 18:53

Oi Armando, tudo bem? Só agora estou conseguindo ver as imagens.

Você pode colocar A coleta da maresia como título maior 10 a ou b3 ou b4 e um close lindo como a 12a ou 14a ou 11a. estar próximo ao design pode sugerir!

Um beijo grande Bri

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