03 oceanos de fogo

Page 1

1

RE V I I S O RA S RT S S É R I E I RM Ã S MÁGICAS LI V R O 3

Oceanos de Fogo Christine Feehan Disponibilização, tradução, revisão, formatação: Comunidade RTS – ORKUT:

Tradução e Formatação: Jossi Slavic Revisão: Cris Skau


2

Como a terceira filha de uma linhagem mágica, Abigail Drake nasceu com uma afinidade mística com a água e possui um vínculo especialmente forte com os golfinhos. Passou sua vida inteira estudando-os, aprendendo com eles e nadando entre eles nas águas de seu povoado natal, Sea Haven. Até o dia que Abigail presencia um assassinato a sangue frio na costa e se encontra fugindo por sua vida... justamente para os braços de Aleksander Volstow. Ele é um agente da Interpol que está seguindo a pista de antiguidades russas roubadas, um homem implacável que consegue aquilo que persegue... e o homem que rompeu o coração de Abigail. Mas ele não vai deixar que a única mulher que amou seja ferida... ou se livre do seu abraço.

Capítulo 1 Brilhantes cores; laranja, rosa e vermelho se estendiam pelo céu, convertendo o oceano em uma chama viva enquanto o sol ficava sobre o mar. A vinte pés sob a superfície da água Abigail Drake ficou imóvel, hipnotizada pela súbita e estranha beleza do fogo entrando em torrentes no mar como lava fundida. Os golfinhos que nadavam em círculos preguiçosos ao redor dela tinham uma aparência completamente diferente com bandas de laranja brilhando na água arrojando sombras por toda parte. Foi súbita e agudamente consciente da queda da noite e de estar sozinha a poucos metros da lôbrega escuridão que tão facilmente ocultava o perigo. Sabia que era melhor não mergulhar sozinha. Essa era uma das coisas mais estúpidas que tinha feito, mas tinha sido incapaz de resistir quando o dia tinha sido tão perfeito e divisou os golfinhos selvagens e soube que tinham vindo procurá-la. Sea Haven, no norte da costa da Califórnia era sua cidade natal. Abigail era uma das sete irmãs, nascidas da sétima filha da mágica família Drake, cada uma dotada de talentos únicos. As irmãs Drake eram bem conhecidas em Sea Haven, protegidas, apreciadas inclusive, e esse era o único lugar que podiam relaxar e ser elas mesmas. Exceto Abigail. Só ali, no mar, estava realmente em paz. A costa do norte da Califórnia era também lar de várias espécies de golfinhos e ela conhecia a maioria deles, não só de vista, mas também por seus assobios. Um assobio era tão bom como um nome e a maioria dos investigadores estavam de acordo em que os golfinhos utilizavam os nomes de outros quando se


3 comunicavam. Esse grupo de golfinhos em particular tinha um assobio para Abigail e ela os tinha ouvido chamá-la quando estava em pé na varanda do capitão da casa de sua família. Tinha estado longe durante meses investigando outros oceanos longínquos, mas quando voltou os golfinhos lhe deram as boasvindas a casa, como sempre. Poucos anos antes tinha trabalhado com esse grupo de golfinhos em particular enquanto ganhava seu PHD, catalogando cada contato, cada avistamento, prestando especial atenção à comunicação. Estava intrigada por sua linguagem e queria ser capaz de entendê-los. Tinha trabalhado com dois machos e conseguido entender alguns sinais. Com o passo dos anos, cada vez que voltava para casa, visitava-os, mantendo a relação. Embora nenhuma de suas irmãs tinham estado disponível para mergulhar com ela, a chamada de "seus" golfinhos tinha sido irresistível e tinha tirado seu bote para unir-se a eles. A lei federal exigia uma permissão especial para nadar com golfinhos selvagens nos Estados Unidos e Abigail tinha sido bastante afortunada para que fosse concedida uma permissão para investigar na costa da Califórnia pela segunda vez, mas tinha cuidado em se manter discreta, sem desejar atrair atenção sobre a presença dos golfinhos. Podiam viajar cinqüenta milhas com facilidade e normalmente eram difíceis de rastrear, mas esse grupo, igual a outros muitos, com freqüência a chamavam utilizando o mesmo assobio. Era muito incomum que os golfinhos a identificassem e lhe dessem um nome e estava particularmente agradada que soubessem que ela havia retornado de sua longa ausência. Abigail girou e nadou estômago com estômago com o Kiwi, um grande macho adulto que tinha estabelecido um firme vínculo com o Boscoe, outro macho. Os dois machos normalmente nadavam em sincronização, seus movimentos eram um assombroso balé subaquático. Boscoe curvou seu corpo em um movimento exato, precisamente ao mesmo tempo em que Kiwi e nadou perto de Abigail. Enquanto os três faziam um preguiçoso movimento juntos vários dos outros golfinhos dançavam em um grande círculo como se houvessem coreografado cada movimento previamente. Dançar com os golfinhos era algo inexplicável. Abigail estudava, fotografava e registrava golfinhos, mas esta noite estava simplesmente desfrutando com eles. Sua equipe, sempre com ela, ficou quase esquecida enquanto executavam o estranho e intrigante balé durante os seguintes quarenta minutos. A princípio o vermelho do sol poente enfocou a atenção sobre eles com um dourado feroz, mas quando caiu o crepúsculo e a noite obscureceu, resultou muito difícil continuar por muito que quisesse ficar. Relutantemente, Abigail assinalou para a superfície e trocou de posição para começar sua ascensão. Os golfinhos nadavam ao redor dela em círculos soltos, seus corpos flexíveis, sem impedimentos apesar de seus pesados músculos e enorme força. Era surpreendente como os golfinhos podiam propulsar-se através da água, inundando-se tão profundamente como faziam e utilizando tão pouco oxigênio. Abigail os achava fascinantes. Saiu à superfície, empurrando os óculos ao alto da cabeça e flutuando de costas enquanto levantava a vista para a grande bola redonda no céu. Sua suave risada ressonou através da água. As ondas lambiam seu corpo e se estrelavam


4 sobre sua face. Permitiu que suas pernas se afundassem gentilmente para poder espernear na água enquanto olhava com respeito reverencial as brancas cristas, convertidas em cintilantes jóias pelo brilho da lua cheia. Junto a ela, um golfinho saiu à superfície, rodeando-a com um gracioso giro. O golfinho sacudiu a cabeça de um lado a outro, emitindo uma série de chiados e estalos. Ela foi nadando para seu bote, um avanço preguiçoso, assobiando aos golfinhos o curto e gorgolejante adeus que sempre utilizava. Levou uns poucos minutos colocar no bote sua câmara e gravadora antes de subir. Inquieta, olhou de novo seu relógio. Suas irmãs estariam preocupadas e estava a ponto de escutar um sermão que sabia merecer. Os golfinhos tiraram as cabeças da água, sorrindo abertamente para ela, os olhos negros brilhavam com inteligência. -Vou ter grandes problemas graças a vocês. - disse aos dois machos. Sacudiram suas cabeças para ela em perfeita sincronia e afundaram juntos, desaparecendo sob a superfície só para sair ao outro lado do bote, assobiando e chiando. Abigail sacudiu a cabeça firmemente. -Não! Está escuro ou estaria se a lua não estivesse tão cheia. Vocês dois realmente estão tentando que eu ganhe um dos sermões de Sarah. Quando começa, todas nós nos encolhemos de medo. Enquanto tinha tudo fresco em sua mente, afundou-se no assento acolchoado e rabiscou apressadamente notas sobre suas observações. Registrava tudo para examinar mais tarde, mas sempre ditava enquanto conduzia o bote depois das primeiras notas de detalhes sobre os avistamentos e qualquer sinal de novos golfinhos na área. Era importante para seu estudo conseguir amostras de DNA para provas em busca de pesticidas e qualquer outra toxina sintética nos sistemas dos golfinhos, enfermidades contagiosas e é obvio vínculos familiares. Boscoe assobiou, uma nota distintiva que a fez sorrir. Abigail se inclinou sobre o flanco do bote. -Obrigada por me dar um nome, meninos, mas não é suficiente para fazer que arrisque a um sermão de Sarah. Os verei amanhã se não tiverem ido embora. Tinha deixado que lhe escapasse o tempo e na realidade a escuridão já era pronunciada enquanto redigia suas notas. Ainda estava a uma boa distância de casa e soltou um suspiro, sabendo que não escaparia ilesa essa vez. Sarah, sua irmã mais velha, estaria com certeza esperando, tamborilando com o pé, com as mãos nos quadris. A imagem a fez sorrir. A lua se derramava brilhantemente sobre a água, dando forma a místicos charcos de fantasia de prata líquida sobre a superfície. Pequenas cristas brancas refulgiam através do mar até onde ela podia ver, acrescentando-se à beleza. Virou o rosto para cima e pode sentir a ligeira brisa enquanto ligava o motor e começava a dirigir-se de volta para o pequeno porto onde guardava o bote. Entrou várias milhas no mar para unir-se aos golfinhos e agradeceu a lua enquanto tomava velocidade para alcançar a linha da costa. Boscoe e Kiwi corriam junto a ela, zumbindo como foguetes através da água e saltando jocosamente.


5 -Presunçosos - gritou, rindo. Suas acrobacias a deleitavam e a seguiram diretamente através do vale sob a ponte até o interior do porto. Sem advertência, os dois golfinhos machos correram diretamente diante de seu bote, cruzando tão perto que ela se assustou surpreendida por seu comportamento e aterrada por eles. Continuaram repetindo a manobra, uma e outra vez até que não teve mais escolha que deter o bote dentro do porto, com o atracadouro à vista. -Kiwi! Boscoe! O que estão fazendo? Vou machucar vocês! - O coração de Abigail saltou a sua garganta. Os golfinhos com freqüência saltavam sobre o bote, e seguiam a corrente, mas nunca cruzavam repetidamente tão perto diante do bote. Os grandes machos se mantinham na superfície, lado a lado, mantendo-se sobre as caudas e estalando para ela. Não teve mais remédio a não ser deter o motor completamente e ficar à deriva no mar para evitar que se ferissem. Ali, as ondas eram maiores, assim o bote era um pouco sacudido pelas ondas mais pesadas da boca do porto. No momento em que o motor sossegou, Kiwi e Boscoe voltaram para o flanco do bote, cuspindo água para ela pela comissura de suas bocas e sacudindo as cabeças vigorosamente para lhe dizer algo. Vários dos outros golfinhos apareceram, saltando enquanto olhavam para o atracadouro. Sabia que saltar era uma prática comum que golfinhos e baleias utilizavam para ver o mundo exterior de seu ambiente aquático simplesmente tirando suas cabeças sobre a superfície. Pareciam estar procurando algo fora da água. Abigail se sentou imóvel durante um momento, perplexa pelo incomum comportamento. Nunca tinha visto nenhum dos golfinhos machos atuar de semelhante maneira. Estavam muito agitados. Os golfinhos eram enormemente fortes e rápidos e podiam ser perigosos e os machos de focinho de garrafa algumas vezes formavam coalizões com outros machos e perseguiam uma fêmea solitária até que a capturavam. Certamente, não estavam fazendo semelhante coisa com ela. Tinham formado uma coalizão com o resto dos machos do grupo para mantê-la fora do porto? Passou a vista a seu redor. A lua derramava luz através das escuras águas e nas pranchas de madeira que se acabavam sobre a água. Os edifícios se elevavam, dois restaurantes com vidraças de cara para o mar, iluminadas pela luz da lua, mas os negócios estavam fechados e o porto estava desprovido do bulício de atividade que tinha lugar durante o dia. Seu bote se elevou com as ondas e deslizou mais profundamente nas águas mais calmas do mesmo porto. Os sons foram à deriva pela baía, vozes, amortecidas ao princípio, depois subindo com fúria. Abigail segurou imediatamente seus equipamentos e focou sua atenção no atracadouro. Um bote de pesca esportiva estava atracado como era normal junto ao restaurante. Um pouco mais à frente havia uma segunda embarcação diante de um edifício de metal. Um bote de pesca estava ancorado ali, o que era altamente incomum. Os botes de pesca estavam acostumados a ficarem do outro lado do atracadouro e ela nunca tinha visto um atracado perto dos negócios. Uma pequena lancha, uma zodiac, com o motor zumbindo brandamente, estava ancorada junto ao pesqueiro. Podia divisar ao menos três homens. Um, vestia uma camisa xadrez e estava com o braço estendido e ao olhar


6 atentamente ela tremeu de repente, pois parecia segurar uma arma. Um segundo homem ficou em pé. A ação lhe colocou diretamente sob a luz da lua. Esta se derramou sobre ele revelando seu cabelo grisalho, camisa azul marinho e a arma em sua mão. Ambas as armas estavam apontadas para um terceiro homem que estava sentado. Brancos farrapos de névoa tinham começado a flutuar desde o mar para a costa, dando forma a dedos fantasmagóricos, obstruindo sua visão quando seu bote foi à deriva mais perto do atracadouro. Ela soprou brandamente no ar, elevando os braços ligeiramente para atrair o vento. Esse soprou atendendo-a, levando com ele os retalhos de névoa cinza, esclarecendo o olhar através da extensão de água. Alguém falou asperamente o que soou como a russo. O homem sentado replicou em inglês, mas o oceano golpeava contra a embarcação enquanto seu bote se aproximava mais e não pôde ouvir as palavras. Abigail conteve o fôlego quando o homem sentado se lançou para o de camisa xadrez. O homem com a camisa azul marinho recolheu um colete salva-vidas, sustentando-o sobre o canhão da arma e pressionando-o contra a nuca da vítima enquanto esse lutava desesperadamente pela posse da outra arma. -Dispare já, Chernyshev! Dispare já! - A voz chegou claramente, com um acento russo. Ouviu a explosão amortecida, um som que Abigail sabia que sempre a perseguiria. O corpo da vítima desmoronou lentamente e caiu ao fundo do bote. O pesqueiro perto do atracadouro se moveu ligeiramente e os homens viraram as cabeças à outra pessoa gritando uma ordem. Ofegando, ela compreendeu que o pesqueiro era um que reconhecia. Gene Dockins e três de seus filhos levavam um negócio de pesca no Noyo Harbor. A família vivia em Sea Haven e era bem conhecida. Para seu horror viu Gene levantar-se lentamente de onde tinha estado agachado no fundo de sua embarcação. Suas mãos estavam elevadas em rendição. Era um homem grande como um urso, com amplos e encurvados ombros e cabelos que caíam por suas orelhas em uma juba tão selvagem e indomável como o homem do mar que era. O fôlego ficou preso na garganta e seu coração começou a palpitar. O homem gesticulou com sua arma para que Gene subisse no seu bote. O pescador foi para a escada, fez uma pausa e mergulhou no mar justo quando as armas disparavam. Abigail soube pela forma que seu corpo sacudiu ao cair, que Gene estava ferido, mas pôde ver que seus braços se moviam quando golpeou a água e afundou. Ainda estava vivo. Os outros dois homens amaldiçoaram e começaram a disparar às obscurecidas águas, as armas cuspiam através do coletes salva-vidas em um intento de amortecer o som. Abigail soltou o assobio de Boscoe, lançando o braço para frente em uma ordem, esperando que o golfinho obedecesse. Embora tivesse só uma pequena habilidade telepática com suas irmãs, tinha uma conexão muito mais forte com os golfinhos e com freqüência eles a entendiam, ou se antecipavam ao que desejava. Boscoe se lançou como um foguete, dirigindo-se para o atracadouro instantaneamente e irrompendo em vários chiados e assobios que eram claramente sinais para os outros golfinhos.


7 Enquanto ela se esticava em busca do rádio para pedir ajuda, os dois homens a avistaram. Imediatamente o homem de cabelo grisalho virou e levantou os braços. O sangue de Abigail congelou com súbito medo. Além da afiada faca de submarinista que levava no cinto e um comprido arpão afiado, um aparelho de sua própria feitura que levava como precaução contra tubarões no caso destes a atacavam durante uma imersão, não tinha armas. Nenhuma forma real de proteger-se. As balas entraram assobiando na água e golpearam seu bote. Agarrando rapidamente o arpão, afundou-se. Algo quente deslizou por suas costas e ombro quando golpeava a água. O sal se acrescentou à dor ardente, mas depois ficou intumescida pela combinação de adrenalina e a explosão gelada do oceano. Subiu ofegando, preocupada com algo mais que o par de assassinos armados. Normalmente só a areia e uns poucos tubarões tigre habitavam o porto. Os pescadores eram meticulosos em evitar que ficasse peixe algum nas águas do porto, mas várias das espécies mais perigosas de tubarões habitavam as águas com o passar do litoral, preferindo os canais pouco fundos. A zona era conhecida por ter grandes tubarões brancos e uma colônia de focas próxima. Com ela e Gene sangrando nas águas do porto sabia que tinha que ficar a salvo logo que fosse possível. Afastou o rosto do porto, voltando-se para os escarpados de Sea Haven, elevando os braços e tirando-os fora da água, ainda aferrando o arpão na mão enquanto chamava o vento e o enviava através do oceano em uma mensagem a suas irmãs. Os homens estavam no bote e disparavam contra ela. As balas assobiavam através da água, uma cortou o ar tão perto de sua orelha que ouviu como assobiava ao passar e penetrava a água atrás dela. Afundou de novo, chutando com as pernas para cima para conseguir um rápido empurrão para as águas mais profundas, seu coração palpitava quando o bote lhe veio em cima, a hélice cortando perigosamente perto. Tinha que apressar-se, tinha que aproximar-se de Gene. Boscoe estava mantendo Gene na superfície, seria vulnerável ao ataque dos tubarões, algum se sentiria atraído até o porto. O golfinho não poderia manter a tona muito tempo o pescador ferido se os tubarões ficassem agressivos. Olhando através do movimento da água, pôde ver os dois homens esquadrinhando pela amurada de seu bote agora detido, tentando conseguir uma pista dela. Moveu-se cuidadosamente, sabendo que tinha que subir em busca de ar e atacar, tudo ao mesmo tempo. Kiwi se roçou contra ela tranquilizadoramente e tomou posição no lado oposto, atraindo a atenção dos dois homens saltando subitamente fora da água quase na cara do homem da camisa xadrez. Kiwi fez gestos com uma série de estalos enquanto saltava e Abigail se equilibrou fora da água pelo lado oposto do bote. A arma de Chernyshev estava seguindo o golfinho quando seu sócio caiu para trás alarmado. Chernyshev disparou uma rajada no momento que Abigail lhe cravou a ponta do arpão na panturrilha e o acionou. Ele gritou quando o golpe foi feito com tremenda força, o som ficou amortecido quando Abigail desapareceu de volta sob a água. A água se fechou sobre sua cabeça e Abigail chutou de novo fortemente, nadando uns poucos pés para baixo procurando cobertura nas lamacentas profundidades e dirigindo-se mar adentro, longe de onde esperariam que saísse à


8 superfície. Quase instantaneamente sentiu o impulso da água puxando, aferrando seu corpo e fazendo-o girar. Estava saindo à superfície em um canal pouco fundo e o retrocesso da onda a estava arrastando para baixo. Kiwi a golpeou, deslizando a barbatana quase sob sua mão em um convite e se aferrou a ela mais por instinto que conscientemente. Ele a levou através da aguda areia com uma explosão de velocidade e se dirigiu como um foguete para as águas mais calmas do porto, diretamente para o embarcadouro. Quando já não pôde conter mais o fôlego, soltou-se e chutou fortemente para a superfície, tossindo ao sair, girando grosseiramente para manter a embarcação dos assassinos à vista. Eles estavam junto a seu próprio bote e o homem de camisa xadrez se inclinou para agarrar algo, antes de sair para mar aberto. Kiwi a golpeou de novo com o focinho, apresentando a barbatana. Estava estalando e chiando, empurrando-a com urgência. Ela agarrou e afundou, deixando que a levasse através da água a uma velocidade que nunca teria sido capaz de conseguir por si mesma. Kiwi se deteve abruptamente quando Abigail estava segura de que seus pulmões ficariam para sempre vazios de ar. Chutou com força, ansiosa por alcançar a superfície. Algo roçou suas costas. Estranhamente, sentiu como se pontas de dedos deslizassem por suas omoplatas e virou para encontrar-se cara a cara com um homem morto. Seus olhos estavam abertos e a olhavam fixamente com uma espécie de macabro horror, seu cabelo escuro flutuava como fios de algas marinhas e sua face estava pálida sob a água. Seus braços estavam estendidos como em cruz, embora se balançassem com o movimento da água e virava com o golpe das ondas, o corpo batendo contra o seu. Seu estômago se revolveu e ofegou, perdendo seu último retalho de ar e tragando água salgada. Chutou desesperada por alcançar a superfície, sua cabeça surgiu enquanto tossia e se engasgava. Ardiam-lhe os olhos por causa do sal, ou possivelmente das lágrimas, mas atraiu o ar a seus pulmões e se agarrou a Kiwi pela terceira vez. Algo arranhou a parte de atrás de sua perna enquanto o golfinho a empurrava através da água. Uma sombra cinza se deslizou silenciosamente. Abigail lutou contra a urgência de procurar a superfície. Sabia que a pele de um tubarão estava coberta por duras escamas parecidas com dentes chamadas dentículos dérmicos e quando se esfregava da cauda à cabeça pareciam lixa, a sensação exata que sentia na parte de trás da perna. O que fosse que a tinha arranhado a estava seguindo, tentando rodeá-la, mas Kiwi a levava através da água a uma velocidade vertiginosa. A eco localização de Kiwi era tão precisa que quase golpearam Boscoe, que ainda estava tentando corajosamente manter o rosto de Gene sobre a água. Atônita, Abigail observou vários golfinhos começarem a golpear duramente aos tubarões, conduzindo-os ao fundo com tanta força que o lixo se elevava do fundo do oceano e se agitava em uma escura massa. Os tubarões tigres estavam excitados pelo aroma do sangue. Se um tubarão branco estivesse nas imediações, estava segura de que atravessaria a água como um foguete para unir-se ao frenesi.


9 Ela se somou a luta, empurrou o arpão contra um pequeno tubarão e acionou o bloqueio de pressão para atirar um forte e enérgico golpe no focinho dele, em um esforço por dissuadi-lo. Recarregou o arpão tão rapidamente como foi capaz e nadou para o atracadouro. Atirando o arpão sobre as pranchas de madeira, Abigail tentou empurrar-se fora da água. Ardia-lhe as costas e seus braços protestaram. Caiu de volta ao mar quase em cima de um pequeno tubarão. Kiwi investiu, golpeando-o com força, conduzindo-o de volta para o fundo enquanto ela fazia outro intento. Utilizando um dos golfinhos como ponto de apoio, foi capaz de arrastar-se fora da água o suficiente para alcançar um pedaço de madeira que utilizou como cabo. Imediatamente se agachou e agarrou a camisa de Gene, puxando-o e liberando Boscoe para que os golfinhos pudessem nadar longe dos tubarões. Agarrou-lhe por debaixo dos ombros e o arrastou, fazendo uma careta quando arranhou as costas contra a madeira. Era um homem grande e sua roupa molhada acrescentava peso. Lutou por erguê-lo, assobiando aos golfinhos, implorando mais ajuda. Boscoe voltou, utilizando sua enorme força para empurrar para cima e fora da água o homem inconsciente. Abigail foi capaz de puxar Genne quase até a superfície do atracadouro, embora suas pernas pendurassem pela borda. Viu Kiwi sair em um mergulho, soprando água por seu respiradouro e arrastando o homem morto pelo braço. Quando ela se agachou para segurar o desconhecido, ficou horrorizada ao ver sangue sobre o golfinho. Uma bala provavelmente o tinha atingido enquanto a salvava. Arrastou o homem morto até em cima do atracadouro, puxando-o até colocá-lo atrás dela e longe de Gene. Abigail fez gestos o Kiwi para que saísse ao mar, e se dirigisse a Sea Lion Cove. Mais que nada lhe queria a salvo depois do que tinha feito por ela, mas tinha que tentar salvar Gene. Sabia que suas irmãs estavam na varanda do capitão. Preocupadas. Esperando. Prontas para ajudar. -Vamos, Senhor Dockins, não pode morrer - sussurrou. Não tinha nem idéia de como ele se colocou nisso, mas não acreditava nem por um momento que pudesse ter feito nada ilegal. Conhecia-lhe toda a vida. Sua esposa, Marsha, tinha-a consolado com freqüência quando os outros meninos tinham medo de brincar com ela. Gene a tinha colocado em seu bote com freqüência e lhe contava histórias sobre o mar. Podia ver onde as três balas tinham esmigalhado seu corpo, uma no ombro, uma no peito e uma tinha barbeado a pele de seu crânio. Estava sangrando profusamente agora, assim fez pressão com força sobre as duas piores feridas. Sua nuca se arrepiou com alarme. Em algum lugar, mar dentro, um golfinho chiou uma advertência. Virou-se, estendendo o braço em busca do arpão, uma arma ridícula contra uma pistola. -Não se mova - A voz era baixa e tremia de raiva e o acento não era tão marcado, mas era definitivamente russo. Abigail ficou congelada, seu estômago se encolheu. Os golfinhos não podiam ajudá-la agora. Sua única esperança era que suas irmãs tivessem enviado ajuda e esta estivesse em caminho. Sentiu movimento atrás dela, mas


10 não ouviu pisadas. Seu corpo inteiro se enrijeceu. Trocou de posição lentamente, o suficiente para que ao virar a cabeça, pudesse ver sapatos e calças. Ele estava em pé sobre o homem morto. Uma profusão de maldições russas saiu de sua boca. Adiantou-se e a segurou por sua trança, jogando bruscamente sua cabeça para trás para lhe pressionar o canhão da pistola entre os olhos com força. Seu coração se deteve. Seu olhar colidiu com um par de olhos azul meia-noite, negros por uma fúria gelada. Houve um momento de absoluto terror e depois o reconhecimento lutou por abrir passo até seu cérebro. Seu coração reassumiu seu frenético palpitar. Chutou-lhe, subitamente furiosa consigo mesma, separando com um tapa a pistola de sua face. -Afasta essa maldita coisa de mim! -Se acalme. Não vou machucar você. - Ele tentou se esquivar de seus chutes. - Maldita seja, Abbey, que demônios está fazendo aqui? Me olhe! Me conhece. Sabe que nunca faria mal a você. Acabou. Está a salvo. Não vou deixar que aconteça nada a você. Ela conteve um soluço e deu-lhe as costas, tentando recuperar a compostura. Não tinha visto esses olhos em quatro anos. Aleksander Volstov, agente da Interpol e extraordinário “rompe coração”. Era a última pessoa que tinha esperado ver ali. A última pessoa que teria desejado enfrentar estando à beira da histeria. Maldito fosse de todos os modos. Tinha direito a estar histérica depois que lhe empurrou uma pistola à cara. Evitando olhá-lo, engatinhou de novo até Gene e pressionou as mãos sobre as feridas para tentar deter o fluxo de sangue. Estava mortalmente pálido e seus pulmões estavam lutando por respirar. -Quem é esse, Abbey? Ela não levantou o olhar. -Dois homens em uma Zodiac. Saíram do porto e se chamar o xerife e a guarda - costeira, talvez possam agarrá-los. -Conseguiu vê-los? -Estou tentando manter Gene vivo e isso requer concentração. Não posso responder a suas perguntas agora. -Esse homem que está morto é meu companheiro, Abbey. Quem é este? Havia gelo em sua voz, uma advertência. Ela sentiu em estremecimento descer por sua espinha, mas manteve sua atenção concentrada no pescador. -Chama a guarda - costeira e a uma ambulância. Duvido que sejam tão estúpidos para levar a embarcação por mar aberto quando poderiam ser capturados, mas pode ser que tenha sorte. Há umas poucas cavernas com o passar do litoral o suficientemente grandes para ocultar uma embarcação tão pequena e esta noite há calma, assim se souberem o que estão fazendo é onde estarão. Aleksander se agachou junto a ela e captou numa olhada o sangue em suas costas descendo pela parte de atrás de sua perna. -Está ferida! -Estou trabalhando em Gene - protestou ela quando tentou aproximá-la dele. -Sinto muito, lyubof, mas não há possibilidade de que esse homem viva.


11 Seu tom amável, uma carícia de negro veludo, foi quase sua perdição e se voltou contra ele, furiosa, lutando por conter as lágrimas. -Não me diga que não viverá! Os golfinhos arriscaram suas vidas por ele e não vou render-me. Simplesmente mantenha seus inimigos longe de minhas costas enquanto faço isto. Não era justo estar zangada com ele. E possivelmente não o estivesse. Seu corpo estava tremendo devido à surpresa e a sobrecarga de adrenalina. E podia sentir suas próprias feridas, ardendo e palpitando. Principalmente sentia medo por Gene e sua família. Ela não era Libby ou Elle ou sequer Hannah com seus tremendos poderes. Inclusive Sarah seria melhor que Abigail, mas ela era tudo o que Gene tinha. -E tampouco me chame de meu amor. Não sou nada sua. Elevou os braços sobre a cabeça e atraiu ao vento, um canto sussurrado, uma prece, uma necessidade de união e enviou o vento mar adentro para o oceano, para a casa do escarpado onde sabia que suas irmãs esperavam. Onde sabia, sempre saberia, que era aceita, defeituosa ou não, e sempre viriam em sua ajuda quando fosse necessário. Ouvia as sirenes aproximando-se rapidamente. Ouvia o estalo do mar, a canção das baleias e o batimento de seu próprio coração. Havia um ritmo de vida ali, um fluxo vazante que era contínuo e forte. E encontrou o batimento do coração de Gene. Lento. Vacilante. Fora de sincronia com o fluxo universal. -Tenho você - sussurrou brandamente. - Não vou deixar você partir. Abigail não tinha um estojo de primeiro socorros, mas tinha a magia Drake. Fluía como uma fonte, um poder procedente das profundidades de seu interior, alimentado pelo vento e o mar. Podia sentir-se conectada com Hannah e Sarah, sentia a força alagando-a quando colocou a palma de uma mão sobre a ferida da cabeça de Gene e outra sobre o pequeno buraco de seu peito. O vento se elevou sobre a superfície do mar. Os golfinhos saltaram e deram saltos mortais. Na distância, várias baleias responderam. O poder rangeu no ar a seu redor. Através dele sentiu Elle, sua irmã mais jovem unindo-se, a quebra de onda de poder fluiu para cima procedente de algum lugar dentro de Abigail, ardendo braços abaixo até as palmas. A força de Kate se somou à corrente estável. Joley se uniu, sua voz forte no vento, seu poder alagando Abigail. E então, na distância, Libby se uniu a elas, contribuindo com seu tremendo dom de cura. A quebra de onda foi tão intensa que a sacudiu com sua força, o ardor de suas palmas era tão pronunciado que resultava difícil manter as mãos firmes sobre as feridas. O vento golpeou sua face e trouxe com ele a névoa, obscurecendo toda visão da água, envolvendo-a em um casulo prateado, ajoelhada ali sobre o atracadouro com Gene estendido tão imóvel e o corpo de Aleksander esquentando-a. O alívio quase a afligiu. Hannah, Joley e Elle eram freqüentemente condutores de poder, mas nunca Abigail. Era ao mesmo tempo aterrador e hilariante sentir a força e o calor alagando-a até entrar no pescador mortalmente ferido. Não se parecia com seu próprio dom, mas sim era muito mais forte e mais concentrado. Sentiu a pele do homem arder sob suas palmas como se absorvesse


12 as propriedades curadoras. Sentiu o peito elevar-se como se Gene lutasse por respirar e soube que viveria, embora suas feridas fossem graves. Quando o poder decaiu, suas pernas falharam e caiu sentada sobre o atracadouro tremendo, com os braços e pernas como chumbo. O terrível preço de ter e utilizar o poder era uma tremenda debilidade posterior. Ficou deitada indefesa, escutando as ondas saltando e o uivo das sirenes enquanto os veículos enchiam o estacionamento do porto. -Abbey - A voz de Aleksander era amável. Tirou a jaqueta e a estendeu sobre o corpo dela que tremia violentamente- Os paramédicos estão aqui. Qual a gravidade de seus ferimentos? Levantou o olhar para ele. As linhas e planos do seu rosto lhe eram tão dolorosamente familiares. As lágrimas embaçaram sua visão. A névoa formou redemoinhos sobre sua cabeça. Sabia que suas irmãs jaziam sobre a almena do capitão, ou onde quer que estivessem quando tinham completado a união, tão drenadas de força como ela. O vento revoou brandamente sem o poder das irmãs Drake e ouviu decair as últimas notas da incrível voz de Joley. Trovejaram pisadas em sua direção. As pranchas de madeira do atracadouro chiaram e gemeram em protesto, tremendo sob o peso de gente correndo. Perguntou-se se as juntas agüentariam ou se voltaria a cair no oceano para deleite dos tubarões. Estava definitivamente histérica. Não era um bom momento para estar olhando aos olhos d Aleksander perguntando-se por que suas pestanas eram tão largas. Ou perguntando-se por que nunca podia tirar essa face de seus sonhos. Por que ouvia sua voz chamando-a através dos oceanos. Abigail fechou os olhos e virou a cabeça longe dele. -Você. Ponha-se em pé lentamente com as mãos onde eu possa ver. Retrocede afastando-se dela. - Reconheceu Jonas Harrington, o xerife. Estava utilizando sua voz de total autoridade, coisa que fazia com freqüência, mas dessa vez carregava um indício de algo letal. O coração de Abbey se contraiu. Seus olhos se encontraram com os de Aleksander. A expressão dele era dura, olhos tão frios como o mar ártico. Sabia que ele podia matar um homem rápida e eficientemente, passando da imobilidade à ação em só um batimento de coração. -Não faça mal a ele. - As palavras escaparam, tão baixas que foram apenas discerníveis, mas Aleksander pôde ler o medo claro em sua face. E não era por ele. -Sou o xerife e ordeno que ponha as mãos onde possa ver e retroceda afastando-se da mulher. -Por favor - Ela sussurrou a súplica ao russo. Junto a ela, Aleksander se levantou com pausada facilidade. Tranqüilo. Frio. Nunca desconcertado. Virou-se para enfrentar Jonas, com as mãos em alto e as palmas para fora. -Você - Jonas quase cuspiu a palavra. Embainhou sua arma e estendeu o braço para comprovar o pulso do homem que jazia tão imóvel- Volstov. Deveria ter sabido que estaria envolto nisto de algum modo. Esse homem está morto. Quem é? -Meu companheiro. Os que lhe assassinaram estão ali fora em alguma parte. - Aleksander assinalou à extensão de mar mais à frente do porto.


13 Jonas examinou Gene a seguir. Seus olhos se encontraram com os do russo e exalou um suspiro enquanto seguia para Abigail. Jonas se agachou junto a ela, tomando sua mão. Jackson, um de seus ajudantes permanecia em pé a suas costas, de cara ao mar, mas sua postura corporal era claramente protetora. -Traz aqui aos paramédicos, Jackson. A Abigail ocorreu que Jackson estava sendo atraído ao círculo da família Drake quisesse ele ou não. Jonas sempre tinha estado ali. Rude. Inflexível. Alguém com quem contar quando as coisas ficavam feias. Fechou os dedos ao redor de seu pulso e se reteve ali. Ele olhou dela ao Aleksander e sua face se endureceu perceptivelmente. -Qual a gravidade, Abbey? Ela fez um esforço por dizer que Gene necessitava de ajuda imediata. Jonas sacudiu a cabeça. -Ele estará a caminho num momento, carinho, o levaremos a São Francisco. Os paramédicos estão com ele. Quero que te examinem. -Casa – Se esforçou para pronunciar a palavra, estendida de costas olhando para cima aos látegos de névoa errante. Queria ir para casa onde estaria segura. Rodeada por suas irmãs e protegida pelas paredes de sua casa. -Quero que lhe examinem, Abbey e não me vou sentir culpado por isso disse Jonas, retrocedendo para deixar espaço aos paramédicos, mas retendo a posse de sua mão. -Libby - disse ela, tentando apartar sua mão para poder empurrar aos paramédicos. -Libby não. Ela estará tão fraca como você. Possivelmente mais. A velha e boa medicina terá que servir - replicou Jonas firmemente enquanto lhe acariciava o cabelo para trás. Aleksander se inclinou sobre ela. -Que aspecto tinham? - As pontas de seus dedos roçaram as gotas de água salgada do rosto dela com deliciosa gentileza. As pontas de seus dedos deslizaram sobre a bochecha e depois sobre o lábio inferior. Queria contar-lhe mas no momento em que o rosto dele esteve diante da dela, as lágrimas arderam e lhe doeu, por dentro e por fora. Seu tato enviava mariposas a bater as asas em seu estômago. Por muito que tentou formar as palavras para descrever o que tinha presenciado, nada saiu. Afastou a face, fechando os olhos com desespero. Jonas trocou de posição imediatamente, fazendo que Aleksander se visse obrigado a retroceder e romper o contato com Abigail. -Pode falar Abbey? - perguntou. Sua voz era tão amável que quis lhe dizer que deixasse de ser agradável. Realmente teve que lutar contra as lágrimas. Sacudiu a cabeça. -Terá que deixar as perguntas para depois, Volstov - disse Jonas bruscamente. Aleksander levantou o olhar até a face do outro homem, uma fria avaliação que teria detido a um homem inferior, mas Jonas nem sequer se sobressaltou. -Vamos mover você, Abbey - disse o paramédico. Abriu os olhos e piscou várias vezes para esclarecer a visão. Tinha ido à escola com o Bob Thornton. Assentiu e ajudou a dar a volta para que pudessem


14 ver a parte de atrás de sua perna e ombros. Doía mais quando se movia. De repente foi agudamente consciente das feridas, quando antes tinha sofrido uma letargia. -A bala atravessou a pele, Jonas, mas não parece muito mal - informou Bob- Olhe isso, é um pouco mais profunda no músculo de seu ombro, mas relativamente superficial ao longo das costas. -Graças a Deus – disse Jonas, com claro alívio em sua voz- O que aconteceu na perna? -Eu diria que um tubarão arranhou sua perna ao passar. -Maldita seja, Abbey - Jonas esfregou o polegar sobre a mão dela- Parece pálida, Bob. Está certo de que vai ficar tudo bem? Aleksander deixou escapar um pequeno som, um grunhido em sua garganta que poderia ter sido um protesto ante as feridas dela. Rodeou Jonas até o outro lado de Abbey. Ela mantinha os olhos firmemente fechados e ele não fazia muito ruído quando se movia, mas sentiu lhe roçar o braço antes de lhe rodear o pulso e atrair a palma da mão até sua coxa. Estava tremendo e não podia parar sem importar quanto o tentasse. O corpo dele estava quente contra o seu e infelizmente, colocada de flanco como estava, ele estava pressionado diante dela. Tão molhada como estava, deixou a imaculada camisa dele molhada também. -Está em estado de choque, Jonas - disse Bob- Não estaria você? Alguém lhe disparou. Um tubarão quase a agarra. Tirou Gene da água, ao menos isso parece. E há um morto aqui. Eu diria que tem razões para estar pálida. Isto vai doer, Abbey - advertiu ele. Fosse o que fosse que utilizou em sua perna e costas lhe roubou o último ar que ficava nos pulmões. Quase escapou do paramédico e Jonas, desesperada por escapar do fogo que corria por sua pele, mas terminou virtualmente no colo de Aleksander. Ele a agarrou em um firme apertão e a manteve imóvel enquanto o paramédico trabalhava nas feridas. -Eu posso fazer isso, Volstov - ofereceu-se Jonas- Estou seguro que tem coisas mais importantes para fazer. - deteve-se durante um momento enquanto os outros paramédicos levantavam o pescador inconsciente em uma maca e corria com ele para o helicóptero- Gene já está a salvo, Abbey - acrescentouEstão levando-o para São Francisco. -Não quero danificar sua cena do crime - replicou Aleksander antes que Jonas pudesse lhe despachar- Meu companheiro está morto. Não há muito que possa fazer até que Abbey me conte o que sabe. Você vá na frente e faz o que tenha que fazer e eu me ocuparei de Abbey. -Meus investigadores são os únicos que entram na cena do crime. Meus oficiais sabem o que fazem. Aleksander ignorou o fio na voz de Jonas, negando-se a renunciar seu lugar segurando Abigail. -Terá que ir ao hospital - disse a Abbey. -Casa, Libby - ela foi inflexível- Jonas. Me leve para casa. -Não se preocupe, Abbey - tranqüilizou-a Jonas- Assim que esteja preparada, farei que Jackson leve você, mas vou precisar de resposta logo que se sinta melhor.


15 -Não posso deixá-la ir para casa - protestou Bob- Abbey, sabe que não posso fazer isso. Necessita uma verificação realizada por um médico. Tem sérias feridas. -Libby é médica -disse Jonas- Bob, sabe que tem que ir para casa. -Eu a levarei - disse Aleksander com decisão- Se sua irmã for médica e não está em perigo de sangrar até morrer, a levarei para sua casa. -Não, não levará. - disse Jonas firmemente- Ficará aqui e me contará em que demônios está envolvido e por que tenho um homem morto, outro morrendo e Abigail Drake ferida. -E em perigo - falou Aleksander.

Capítulo 2 Aleksander não fez caso de Jonas e levantou Abigail nos braços. -Eu estou molhado. Não há nenhuma necessidade que os dois nos molhemos. Além do mais, tenho que lhe fazer umas perguntas quando se sentir melhor. Seguiu andando, sem dar a Jonas possibilidade de protestar enquanto a levava ao veículo do xerife e deslizava no assento traseiro com ela em seus braços. Necessitava de respostas e entrar no recinto sagrado da casa Drake era a


16 única maneira das conseguir. Ignorou o olhar feroz de Jonas e simplesmente apertou seus braços ao redor de Abigail. Aleksander raramente exteriorizava emoções. Era um professor em ocultar seus sentimentos a outros, mas Abigail lhe conhecia. Sabia que estava enfurecido pela morte de seu companheiro, embora parecesse aceitar com absoluta tranqüilidade. Conhecendo também Jonas sabia que esse suspeitava dele porque não tinha dedicado ao corpo de seu companheiro mais que uma inspeção superficial. Mas Jonas não tinha estado ali uns minutos antes quando Aleksander lhe tinha apoiado a ponta de sua arma contra sua testa e ela tinha olhado fixamente à morte. Ele estava em pleno controle com total disciplina, mas ela sentia sua raiva interior sob a superfície. Permaneceu muito tranqüila embalada perto de seu peito. -Dou-me conta que não tem feito nenhuma pergunta sobre Abbey e por que não pode mover-se. - disse Jonas, fechando de repente a porta. - Quanto ouviu falar das irmãs Drake? Abigail estremeceu. Aleksander conhecia de primeira mão os estranhos dons e talentos que ela possuía. Mais de uma vez a tinha visto utilizá-los e ficar drenada de toda energia. Ele conhecia suas capacidades e debilidades muito bem. As lágrimas lhe queimaram e um pequeno som de desespero lhe escapou. Aleksander acariciou com a boca o alto de sua cabeça. Sustentá-la em seus braços outra vez, parecia-lhe um milagre. Ele não era homem que acreditasse em milagres, até que a encontrou. Inclusive com seu companheiro morto no atracadouro, com a raiva e a necessidade de vingança que o consumia, por um momento tinha tido a cabeça bastante clara para reconhecê-la, uma pequena esperança tinha nascido em seu coração. Estava acostumado a ocultar seus sentimentos. Na Rússia tudo era política e a expressão incorreta, um sussurro de escândalo, qualquer coisa podia ser o final de sua carreira, e agora, com as apostas tão altas, agradecia aquela formação. Ele e Danilov tinham tropeçado em algo maior do que tinham esperado e tinham matado-o. A última coisa que precisava era a distração de Abigail Drake, mas se Jonas pensava que se livrou de Aleksander quanto à investigação ou a Abigail, equivocava-se. Jonas poderia estar saindo com Abby agora... certamente se dava ares de proprietário a seu redor... mas Aleksander tinha uma reclamação prévia. Não ia entregá-la sem lutar e tampouco daria as costas a sua investigação. -Abigail está comprometida comigo. - Anunciou sem vacilar, olhando fixamente sua face, às duas pestanas em forma de meia lua vermelho-douradas, desafiando-a a lhe olhar. Os olhos dela se abriram e ela piscou. Aleksander pôde ver as chamas incorporar-se a seus olhos. Abigail sempre lhe recordava ao mar, tranqüilo, pacífico e consolador, ou turbulento e selvagem. Afastava-se da maior parte das discussões e simplesmente desaparecia em vez de lutar, mas tinha os cabelos vermelhos por uma razão. Era absolutamente capaz de rebelar-se, como um tubarão silencioso das profundidades que te ataca de improviso. Naquele momento estava eternamente agradecido pela maldição das Drake de debilidade depois de utilizar seus poderes.


17 -Isso é impossível- disse Jonas. Aleksander sustentou o ardente olhar de Abbey com o próprio. Não voltou atrás, fazendo-a saber que havia mais de uma razão para ele estar em Sea Haven e que não iria partir. -Tenha certeza que não. Abigail sacudiu sua cabeça e fechou os olhos outra vez, gemendo brandamente. Aleksandr examinou sua face. Recordava cada curva, a sensação de sua pele, a risada em seus olhos. O amor. Não ia deixar escapar uma segunda vez. Não queria brigar, ou assustá-la, mas estava zangado com ela. Zangado porque não tinha lhe dado uma segunda oportunidade, zangado porque quase se matou. Zangado porque seu noivo americano estava sentado no assento dianteiro e dizendo o que podia ou não fazer. Porque tinha um noivo americano. Algum noivo absolutamente. Seu coração deveria estar fechado, devastado sem ele o seu o tinha estado sem ela. Sentiu o impulso repentino de sacudi-la e soube que não era bom sinal. Seu controle se desvanecia e isso era muito perigoso. -Muito estranho que não tenha me dito nenhuma palavra do compromisso. - disse Jonas. - Ou a alguma de suas irmãs. - Não se incomodou em ocultar a nota de incredulidade em sua voz. -Muito estranho, - esteve de acordo Aleksander. Abigail se enrijeceu em seus braços, mas o esforço de lutar contra ele também a deixava esgotava pelo visto e relaxou outra vez, com expressão obstinada. Se tivesse conservado essa expressão na face ele poderia haver-se aproveitado de sua debilidade e beijá-la ali mesmo diante de seu novo amante. Empurrou esse pensamento longe, sentindo-se cruel. Já era bastante ter perdido Danilov sem ter que descobrir que outro homem tinha estado com sua mulher. -O que aconteceu esta noite, Volstov?- Jonas o olhou através do retrovisor. -Abbey é parte disto? -Não. - Aleksander agradeceu a interrupção de seus pensamentos. - Fiquei tão surpreso de encontrar Abbey na cena como você. - Inclinou-a e roçou com os dedos o que esperou fosse uma mancha e não uma contusão que se começava a formar entre seus olhos. Ela conseguiu mover a mão para lhe dar uma palmada no braço. Esperou até que se tranqüilizou e seguiu esfregando com a ponta do dedo. Pequenas carícias, em círculo. Suave. Doces. Com seu toque lhe explicava que ele não ia a nenhuma parte. A débil marca não desapareceu. Ela estava pálida, sua pele era quase de alabastro e recordou que se machucava facilmente. Era uma forma infernal de anunciar sua volta, mas como a marca, estava de volta em sua vida para ficar e ela ia ter que tratar com seu passado gostando ou não. -Assim, o que faziam você e seu companheiro em meu condado? perguntou-lhe Jonas - Introduziu-se no lugar, mas se esqueceu de dizer que iria deixar cadáveres em nosso porto. -Estivemos trabalhando neste caso há algum tempo e rastreamos três embarques nos passados dois anos e meio até esta costa. Houve uma corrente estável de antiguidades roubadas, incluindo uma coleção impressionante de jóias, saindo da Rússia. Meu companheiro, Andre Danilov, conseguiu um trabalho em


18 um navio de pesca do porto e não deixava de vigiar qualquer atividade suspeita. Faz algum tempo que sabemos que os objetos passaram por contrabando através de uma rota até aqui, mas esta era a primeira vez que conhecíamos a carga real e quando ia chegar. Jonas ficou silencioso durante um momento e logo suspirou. -Gene Dockins veio faz uns meses dizendo que estava preocupado porque algo acontecia no mar com um dos navios... o Treasure Chest. O capitão é um homem chamado John Fergus e o conheço há anos. Nunca deu problemas. Vários homens de negócios locais são proprietários do navio e todos eles viveram na zona a maior parte de suas vidas. A maioria são proprietários de outros negócios. Levei a cabo uma pequena pesquisa discreta pelos arredores do porto e deleguei à vigilância a guarda - costeira, mas, que eu saiba, não encontraram nada estranho. Não me disseram nada e supus que não acontecia nada. Obviamente, equivoquei-me. -Na realidade Gene Dockins ficou em contato com a Interpol, dizendo que pensava que havia um fluxo contínuo de contrabando. Acreditava que eram drogas, mas com o problema do terrorismo tinha medo que pudesse acontecer uma bomba de contrabando nos Estados Unidos por meio desta linha da costa. Ele e seu filho Jeremy tinham estado fazendo um pouco de trabalho encoberto e conseguiram tomar imagens de algo que era descarregado no Treasure Chest. Quando soubemos que esta área estava quente, continuamos nós com suas pesquisas e aceitamos sua oferta de seguir ajudando. Jonas amaldiçoou em voz alta. -Por que diabos não foram a mim? Na realidade, você deveria ter vindo verme em vez de usar a um vizinho para seu trabalho encoberto. Jeremy é somente um menino. Maldição!- Fechou de repente a palma aberta contra o volante. Deveria ter sabido. Sabia que Gene estava preocupado, mas acreditei que uma vez que abandonei a investigação também ele o tinha feito- Suspirou. - Enviei Jackson a sua casa para dar a notícia à esposa de Gene mas deveria lhe haver advertido que seguisse de perto ao Jeremy. Esse moço não tem o sentido comum de ter medo e me amaldiçoarei se lhe acontecesse algo. Se vier querendo ajudar tomando o lugar de seu pai, diga-lhe que não. Aleksander esperou para responder até que Jonas terminou a chamada a seu ajudante alertando do perigo para Jeremy Dockins. -Seu relatório à guarda - costeira se filtrou através da Interpol aproximadamente ao mesmo tempo em que Gene Dockins nos enviou as fotografias e nos falou de suas preocupações. Pusemo-nos em contato com o Sr. Dockins e ele consentiu em ajudar colocando um agente secreto em seu navio e nos moles trabalhando com ele. Era a cobertura perfeita para Danilov. - Que lhe condenassem se ia dar a Jonas a satisfação de demonstrar sua pena. É obvio estava muito aborrecido pela morte de seu companheiro e porque o pescador civil estivesse próximo à morte, mas Aleksander fazia seu trabalho e em sua posição de alto risco o perigo estava à ordem do dia. A perda de Danilov era um golpe tremendo, tanto profissional como pessoalmente. Ele tinha sido o apoio de Danilov e tinha chegado muito tarde para protegê-lo. Pouco importava que Danilov não lhe houvesse dito que sairia com o Dockins essa noite; Aleksander se sentia responsável.


19 - Investiguei um pouco você, Volstov desde que se apresentou. Havia muitas lacunas em seus primeiros anos. Grandes lacunas. Mas averigüei que esteve vários anos trabalhando para apanhar à máfia russa. É uma organização particularmente violenta. Está seguindo uma pista deles? Eu gostaria de saber se tiverem um pé em minha jurisdição. -Estão em São Francisco, - admitiu Aleksander. - Mas provavelmente isso já sabe. Esperávamos que não estivessem implicados nisto, mas pouco passa na Rússia ao longo das rotas dos contrabandistas sem a implicação da máfia. -Seu nome está em uma lista negra?- Perguntou-lhe Jonas sem rodeios. Alexander notou que Abigail se enrijecia entre seus braços. Seus olhos se abriram e lhe manteve o olhar enquanto confessava em voz baixa. -Sim. Muito perto do início. Abigail piscou e virou a cabeça apartando-se dele. Jonas virou o carro entrando no caminho que conduzia a uma casa que se estendia sobre os escarpados. A casa era uma visão imponente, três pisos de altura com uma torre, balcões quase em cada cômodo e uma varanda estendendo-se por volta do mar. Os ciprestes açoitados pelo vento e os arvoredos de folha perene e sequóias se estendiam pela ladeira e a cor explorava entre verdes brilhantes com flores campestres lutando por ter espaço entre a natureza. Uma pesada grade de ferro lavrada com símbolos da terra e estrelas se abriu de repente quando o veículo se aproximou. -O que aconteceu esta noite, Volstov? - Perguntou Jonas. Aleksandr estudou as terras com cuidado, tomando nota de cada caminho e cada grade fechada com chave. -Esta noite recebi uma chamada de Danilov que dizia que tinha algumas prova que um envio de objetos roubados que tínhamos estado procurando tinha parado ao mar enquanto era transferido de um cargueiro a um navio de pesca. Tinha feito imagens e uma testemunha. Deve ter saído com o Dockins em seu navio sem me informar antes de partir. -Seu olhar fixo deslizou sobre a casa e mentalmente registrou a posição de todas as janelas e portas que pôde ver. Saídas. Rotas de escape. Seu estilo de vida. Jonas estacionou o carro e virou para estudar o agente da Interpol. Aleksander Volstov parecia tranqüilo, quase inexpressivo, inclusive suave, até que examinava seus olhos. Jonas tinha conhecido homens como Volstov anteriormente, tinha lutado junto a eles. Eram inimigos implacáveis, amargurados, desumanos e os mais leais amigos. Era o tipo de homem que queria a seu lado quando era necessário porque nunca lhe abandonariam e entrariam no fogo para salvar o companheiro. Volstov não aceitaria com calma a perda de seu companheiro e não ia parar até encontrar o último homem comprometido na morte de Danilov. E isso poderia significar uma matança em Sea Haven e as cidades circundantes se a máfia russa estava implicada. -Isto não é a Rússia, - sentiu-se obrigado a assinalar Jonas. Aleksander simplesmente lhe olhou com frios olhos siberianos, logo saiu do carro levando Abigail em seus braços. -Assim que esta é a casa Drake.


20 -Obviamente é consciente de que se debilitam após utilizar seus dons. Todas as irmãs de Abbey estarão no mesmo estado. Não gostarão de sentirem-se vulneráveis perto de você, - advertiu Jonas. -Obviamente você presenciou esse efeito secundário em mais de uma ocasião, - assinalou Aleksandr enquanto Jonas abria espaço ao longo de um caminho tortuoso para a porta principal. -Eu sou família, - disse Jonas. -Já que Abbey está prometida e vai casar se comigo, eu terei que reclamar o mesmo, - respondeu Aleksander tranqüilamente. Abigail se removeu em seus braços, abrindo os olhos com outro tempestuoso olhar, o qual ele ignorou. A porta foi aberta por uma atraente mulher de meia idade, com perspicazes e sábios olhos azuis e uma abundante cabeleira loira grisalha recolhida na nuca. -Tia Carol! -Jonas a envolveu em seus braços e beijou sua bochecha. - Não sabia que estava aqui. - apartou-se, segurando a porta para permitir que Aleksander levasse Abbey para dentro. -As garotas não sabiam, - assegurou-lhe Carol. - Cheguei faz umas poucas horas, pensando em ajudar a planejar as bodas e encontrei todas neste estado. Aqui, - dirigiu-se a Aleksander. - Ponha sobre o divã. -O seguiu. - Fiz chá, Abbey. Estará melhor em meia hora. -Está molhada de água do mar. - protestou Alexander. - Há algum lugar onde possa lhe tirar a roupa molhada? - Ele sentiu o corpo de Abbey remover-se outra vez protestando e apertou os braços para impedir que alguém a visse sacudir a cabeça. -Onde estão as demais?- perguntou Jonas, rodeando o corpo de Libby, que estava tombada no chão, com um travesseiro sob sua cabeça. Elle estava caída em uma cadeira. Ambas tinham uma xícara de chá a seu lado. Manter Gene Dockins vivo obviamente havia enfraquecido muito a todas elas. Jonas tinha visto as irmãs Drake muito vulneráveis depois do uso de seus poderes, mas nunca até tal ponto. Gene devia ter estado perto da morte para drená-las tão profundamente. Olhou afetuosamente para cima. - Tia Carol, estão bem? -Sim, querido. Eu não podia as descer pela escada. Estão deitadas na varanda. -Eu as trarei- Jonas já se movia, subindo os degraus de dois em dois, deixando Aleksander para enfrentar à tia de Abbey. Carol o avaliou com as mãos nos quadris. -Conseguirei uma manta para envolvê-la. Não me parece bem que lhe tire a roupa. -Sou seu noivo. - declarou Aleksander sem o menor remorso. - Por favor, só me mostre seu quarto e eu farei o resto. Ante sua declaração, tanto Libby como Elle trataram de levantar-se, embora sem nenhum êxito. Carol não pediu mais explicações, mas sim lhe guiou acima ao quarto de Abbey. Seu dormitório era espaçoso com portas francesas que conduziam a um amplo balcão que dava para o mar.


21 -Será melhor que esteja dizendo a verdade, jovenzinho. Não careço de dons próprios e esse encantador acento não salvará você da minha ira se estiver mentindo. - Fechou a porta antes que ele pudesse responder. -Sei que está zangada, Abbey, - disse Alexander enquanto a estendia sobre uma manta no chão - mas você procurou isso. Dei-lhe muito tempo. - começou a lhe tirar o traje de mergulho, uma tarefa incrivelmente difícil quando era tão cômodo como uma segunda pele. - Tive muita paciência. - Envolveu-a em um robe no momento em que a despiu e tratou de não olhar seu corpo. Não que isso importasse. Inclusive com os olhos fechados recordava a sensação de seu corpo, suas curvas exuberantes, generosas, quentes e suaves, a pele pressionada fortemente contra ele. Abbey em seus braços. Encaixava tão perfeitamente. Rodeou-lhe a bata ao redor da cintura, cuidadoso com suas feridas e retorceu uma toalha ao redor de sua grosa tranca vermelha para absorver o excesso de água. Empurrou-lhe com mãos débeis. -Zangada é pouco. Vá embora. -Não. Não essa vez. Levou quatro anos para te alcançar. Não há nenhum modo de me afastar. Especialmente quando se mesclou nessa confusão. Se a máfia russa está implicada, Abbey, isto vai ficar sujo. E Jonas Harrington pode ir ao diabo se pensar que pode reclamar você. Estamos prometidos e não vou deixar você escapar. -Realmente não pensa que vou deixar você entrar outra vez em minha vida! - pressionou os dedos contra as têmporas- Preciso estar lá embaixo com minhas irmãs. Estava recuperando sua voz e isso não era bom. -Onde está sua roupa? Não vou levar você para baixo com Jonas lá, já que não leva nada embaixo desse robe. Sua sobrancelha se elevou mostrando a segunda gaveta, sem esbanjar energia em discutir com ele. A verdade era que estava surpreendida de vê-lo. Mal podia suportar lhe olhar, lhe ver, tão sólido e real em vez do homem que freqüenta seus sonhos. Aleksander a segurou em seus braços e a vestiu com suas calças de chandal. -Te levarei, mas não cometa o engano de trocar olhares com Jonas. -Cala a boca, Sasha. - O apelido escapou inconscientemente. Ele sempre tinha tido uma veia ciumenta e isso a incomodava imensamente. Tudo em Aleksander a incomodava, especialmente sua absoluta confiança. E sua atitude. Como se ele tivesse todo o direito de estar zangado com ela. -Quer me dizer o que fazia sozinha no mar? - Deu-lhe uma pequena sacudida entre seus braços. - E deveria ter suficiente senso para não ficar ao descoberto enquanto as balas voam. - Quando se zangava, seu acento se fazia mais evidente. Enquanto isso em todo momento seus braços eram suaves. Não queria recordar isso dele. -Eu não tenho que dizer nada a você. -Sim, tem. Tem que responder por me tirar dez anos de vida, por não mencionar os quatro perdidos entre nós. - Baixou a pernadas a escada e entrou


22 na sala de estar como se fosse sua casa, como se ela não pesasse mais que uma menina. Como se ele estivesse no controle. -Ponha no chão. - dirigiu Carol, assinalando a um ponto onde tinha estendido umas almofadas. Aleksander apoiou Abigail contra o sofá e se sentou junto a ela. Perto. Sua coxa tocava o sua. -Tem uma ferida de bala ao longo das costas e um tubarão lhe raspou a parte interna da perna. -OH, querida. - Carol cobriu a boca com uma mão. - Trouxe seu chá, mas isso não ajudará com suas feridas. -Os paramédicos as desinfetaram mas se negou a ir ao hospital. Libby se moveu então, arrastando-se através dos poucos metros que a separavam de Abigail e estendeu o braço para tocar a perna de sua irmã. Abigail sacudiu sua cabeça violentamente e tratou de pôr sua perna fora de alcance. -Não, Libby. Está muito fraca. - Ofegou as palavras, lutando por reunir energia só para falar. -Só descansa, Libby. - repreendeu Carol. - Não pode curar a outra pessoa depois do que passou. Bebe seu chá. - Converteu-o em uma ordem. - Todas vocês. - Olhou Aleksander. - Passo fora alguns anos, crescem e esquecem tudo o que lhes ensinamos. É bom que tenha retornado. Libby agarrou a mão de Abbey. -Sinto muito. - sussurrou. Abbey sacudiu a cabeça. Libby tinha o dom de cura das irmãs Drake. Através dela, podiam conseguir resultados incríveis, mas pagava muito caro por isso, freqüentemente tomava a dor e a enfermidade do ferido ou doente que ela ajudava. -Estamos bem. Todas estão bem. - assegurou a sua irmã. Aleksander pressionou a xícara de chá na outra mão de Abigail e a ajudou a levá-la a sua boca. Não lutou contra ele, em vez disso observou como Jonas voltava da varanda levando sua irmã Hannah. Hannah olhou Aleksander com olhos curiosos. -Quem é? - articulou. -Ninguém que importe a você. -respondeu-lhe Jonas. - Prestou a mínima atenção como estava perto da borda? Quase caiu pelo corrimão, Hannah. Outra polegada e poderíamos haver perdido você. -Calma, querido. - Carol acariciou Jonas como se ele fosse um menino. Não há modo de saber quando golpeará a debilidade. Hannah comanda os ventos. Tem que estender as mãos ao mar. Não a maltrate quando nem sequer pode defender-se. -Esse é o melhor momento, - resmungou Jonas. - De fato agora seria um bom momento para dar a todas um sermão sobre segurança. Compreendem que Abbey estava mergulhando sozinha no mar? -Traz para cá Sarah, Kate e Joley, Jonas. - disse Carol. – Nos asseguraremos que Abbey não volte a fazer semelhante tolice. - Deu-lhe um pequeno empurrão para a escada.


23 Aleksander quis rir da expressão do xerife. A tia Carol tinha reduzido a imagem perigosa de Jonas a de um menino mal educado com umas poucas palavras acertadas e seu tom. As mulheres Drake eram realmente perigosas para o sexo oposto, mas ele já sabia isso de primeira mão. Sua mão deslizou sobre a de Abbey até entrelaçar seus dedos com os dela. Olhou-a. Nadavam lágrimas em seus olhos e o coração lhe saltou com força no peito. Nunca tinha sido capaz de confrontar suas lágrimas. Aquele dia, o dia que nenhum deles esqueceria jamais, não tinha ido a ela porque suas lágrimas teriam mudado o curso de sua vida e ele não teria sido capaz de permitir-se aquele resultado. Inclinou-se, bloqueando a vista de outros. -Não chore, lyubof. Você é meu coração, meu mundo. - Murmurou as palavras em sua própria língua porque esse era o único modo em que podia dizer-lhe. Nunca tinha deixado de amá-la. Não tinha nada sem ela. Tinha aprendido isso em seu vazio e violento mundo. Nas viagens intermináveis e os tristes quartos de hotel. Não havia nenhum lar sem ela, nem sequer em sua amada Rússia. Abigail sacudiu a cabeça. -Parta Sasha, não volte aqui outra vez. Ele levou sua mão à boca, seus lábios deslizaram sobre os nódulos, sua língua a saboreou. Sal e mar. Era Abigail. -Vou porque não se pode falar com você quando está nesse estado. E levou um bom susto, mas voltarei e esclareceremos isso. Aleksander se levantou quando Jonas retornava com outra das irmãs Drake. -Vou, mas já sabe onde estou. Por favor, tenha a cortesia de me informar sobre qualquer informação que consiga. -Oh, não se preocupe, Volstov. Vou te procurar no momento em que saia daqui - assegurou-lhe Jonas. - Quer que chame para que lhe levem? Aleksander sacudiu sua cabeça e deliberadamente olhou Abbey. -Estou perto para poder vigiar as coisas. - Fez o que podia para reafirmar sua reclamação, mas conhecia Abbey o bastante para saber que ia estar desgostada por ter estado tão vulnerável e ele ter se aproveitado. Condenado Jonas Harrington por ter acesso ao interior da casa. Carol lhe mostrou a porta. -Eu cuidarei dela - assegurou-lhe, - Não há necessidade de preocupar-se com Abbey. Logo que Libby se sinta melhor, cuidará de sua irmã. Carol fechou a porta e imediatamente se apressou para Abigail. -Está bem, querida? Chamo a sua mãe? - Sua expressão traía sua ansiedade. - São muito graves suas feridas? - Deu uma olhada à porta. - E este seu noivo tem um acento tão sexy. Quando falou em russo quase caí ao chão. Abigail não queria estar de acordo com sua tia, mas tinha agradecido encontrar-se já no chão. Não importa quantos pesadelos, não importa com que freqüência voltasse a reviver o comportamento de Aleksander, no momento em que o viu, ouviu sua voz e o tocou, soube que teria que ter muito cuidado. -Estarei bem, Tia Carol. - assegurou-lhe Abbey. - Só quero dormir. -Não antes que me conte isso tudo. - decretou Jonas, depositando Joley em uma cadeira ao lado de Kate. De repente ficou de joelhos ao lado de Abigail e tomou a mão que Aleksander havia sustentado. Respirou. Parecia que não tinha


24 respirado em várias horas. - Realmente me assustei por você, Abbey. O vi em pé sobre você. Vi a arma e os dois homens abaixo. Havia sangue por toda parte e durante um momento pensei que lhe tínhamos perdido. - Suspirou e esfregou o queixo, seus olhos evitaram os dela. - Estive a ponto de lhe matar sem advertência. Estava assustado - Abaixou a cabeça por um momento. - Quase apertei o gatilho só para enviá-lo ao inferno, longe de você. -Jonas. - Abigail deixou escapar o fôlego. - Foi horrível, é obvio que teria pensado que ele tratava de me fazer mal. -Quase matei um homem a sangue frio, Abbey. Não quero voltar a me sentir assim outra vez. - passou-se a mão pelo rosto. - Fiz muitas coisas em minha vida, mas nunca matei um homem inocente. Ela apertou os dedos ao redor de sua mão. Sem advertência sua pele formigou e elevou a vista para ver Aleksander olhá-los fora da janela. Sua expressão se endureceu e seus olhos se mostraram inclusive mais frios, se isso era possível. Seu coração saltou e começou um batimento selvagem que não podia controlar. Ele seguiu olhando-a fixamente durante um momento e depois virou e desapareceu de sua vista. Abbey esclareceu a garganta e arrancou seu olhar da janela. -Isto não vai voltar a acontecer, Jonas. Tomarei cuidado. -Será melhor - Tomou a xícara de chá que Carol lhe oferecia e imediatamente bebeu a sorvos a bebida quente e rejuvenescedora. - Obrigado, Tia Carol. Foi um inferno de noite. - deixou-se cair para trás, descansando a cabeça contra o sofá e olhou ao redor às irmãs Drake. - Abigail presenciou um assassinato essa noite e temo que a máfia russa possa estar implicada. É um grupo muito violento e sujo. Não quero nenhuma de vocês implicada nisso, e Abbey, você ficará malditamente longe de Volstov. Não sei por que reclama ser seu prometido e não tenho nem idéia se o conhece de algum lugar anterior a esse, mas é um homem muito perigoso e seu pescoço está metido nessa confusão. Sarah despertou para agitar sua mão. -Afirma ser o prometido de Abbey? Abigail pôde sentir o calor subir pelo pescoço e rosto quando todas suas irmãs, sua tia Carol e Jonas a olharam fixamente. Bebeu mais chá para dar-se tempo e pensar numa resposta. -Abbey? -Apontou Kate. -Bom, - Abbey desejou evitar responder. - Sim. Quero dizer não. Não realmente. Talvez. - Recolheu as pernas. - Estou confusa. -Desde quando conhece esse homem?- exigiu Jonas. Abigail apertou os dentes. Detestava ser o centro das atenções. -Não quero falar disso, Jonas. Ele ficou calado durante um momento enquanto bebia o resto do chá. -Me conte o que aconteceu essa noite, Abbey. E não exclua nada, inclusive o mínimo detalhe que pense que possa ser insignificante. Abbey pôs a xícara de chá no chão entre eles enquanto relatava os acontecimentos da tarde. Podia sentir a tensão elevando-se entre suas irmãs mas nenhuma delas a pressionou para que desse detalhes ou explicações e sabia que não o fariam até que Jonas partisse. Uma vez que fosse realmente teria coisas


25 que explicar e já estava conseguindo a clássica dor de cabeça da sobrecarga mágica. -Oh, Deus. - Carol rompeu o silêncio depois que Abbey terminou. - Isto poderia ser um caso de espionagem internacional, ou igualmente fascinante. Fiquem todas aqui mesmo. Terei que conseguir a câmara. Deveríamos registrar isto para os filhos de seus filhos. - apressou-se a entrar na cozinha. -O assassinato não é muito fascinante, Tia Carol, - Gritou Sarah atrás dela. -Só é repugnante. E temos um aspecto horrível. Não pode nos fazer fotos assim. -Querida, - Carol voltou agitada à habitação com uma pequena câmara em sua mão - essas são as melhores fotos de todas. Improvisadas e ainda assim significativas. O momento em que todas empreenderam um caso internacional de luta contra delito que implica a espiões estrangeiros e bonitos agentes. - Ela sorriu para Abbey. - Conheço uma dúzia de boas poções de amor e inclusive mais feitiços, querida. - Disparou com a câmara, tirando fotos de vários ângulos. - Tão somente me avise se as necessitar com seu jovem. -Eu não tenho um jovem - protestou Abbey. -Ele parece pensar que sim. - disse Carol. - Tem que aprender a entender questões do coração. Hannah, querida, deixa de me fazer caretas. Deveria estar acostumada que te fotografem. -Não sem quinze maquiadores assistindo-a. - disse Jonas. -Me deixe - disse Hannah, agitando o braço. - Estou muito cansada para brigar com você. - Ignorou Carol que fazia fotos instantâneas ferozmente. -Até consegue parecer elegante enquanto me manda embora, Hannah. disse Jonas, levantando-se. - Tenho que ir, mas estarei de volta mais tarde para comprovar como estão todas. Alguém quer que lhe ajude a subir até seu quarto antes que me parta? -Está doente? Nunca me chama de Hannah. – Endireitou-se e avaliou Jonas com um olhar preocupado. - Está bem? Sua grossa mata de cabelos loiros lhe caiu sobre o ombro e se acumulou em espirais sobre as costas do canapé. Ele afastou o olhar ela, negando-se a encontrar seus olhos. -Jonas, - Hannah insistiu, -podemos ajudar você a se sentir melhor. Só nos dê um minuto. Seu sorriso foi cansado. -Obrigado, mas não vou permitir que gastem mais energia em minha direção. Só tenho um gosto ruim na boca. Não é agradável averiguar que, nas circunstâncias adequadas, poderia estar disposto a matar alguém a sangue frio. -É humano, Jonas. - disse Sarah brandamente. - Somos sua família. É obvio que se sente protetor conosco. E a magia ata a todos nós juntos com um vínculo muito mais forte. Não sabemos como funciona isso em circunstâncias extremas. Não o matou. Fez o correto e trouxe Abbey para casa conosco. Isso é tudo o que importa. -Nunca em minha vida me alegrei tanto de ver alguém. - acrescentou Abbey. - Sinto-me mal pela família de Gene. Devem estar muito assustados agora mesmo. Ele tinha má aparência. -Teria morrido sem você, Abbey, - confirmou Jonas. - Se viver, deve isso a todas vocês. Tenho muito trabalho a fazer esta noite, mas me chame se recordar


26 algo mais, Abbey. Virei dar uma olhada mais tarde e aumentarei as patrulhas nesta área também. -Obrigado, Jonas. - disse Sarah. – Nos asseguraremos que Abbey tome cuidado. -Todas devem tomar cuidado, - insistiu ele. - Se for a máfia russa, não vacilarão em matar todas. -Oh, querido, - disse Carol e se abanou com a mão. - cheguei no momento adequado. -Tia Carol, - protestou Kate, - não tem medo? -Vim para casa esperando voltar a pôr excitação em minha vida. - explicou Carol. - Ainda sou uma mulher bastante jovem para encontrar um bom homem. Amei meu querido Jefferson, mas ele se foi faz cinco anos e estou cansada de me sentar nessa enorme casa do sul absolutamente sozinha, rodeada por meus álbuns de fotos e nada mais. Adoro meu trabalho como assessora do Cretive Memories, mas quero fazer minhas lembranças, não só advogar a outros a preservar as suas. -Alegra-nos que tenha vindo, Tia Carol, - disse Kate. - Sobre tudo necessitamos ajuda para o planejamento das bodas. - Olhou Sarah. - Ou deveríamos dizer as bodas? Sarah e eu queremos ter bodas duplas. -E Abbey? - disse Joley maquiavelicamente, dando um golpe em Abbey com seu pé nu. - Talvez tenhamos três noivas. -Muito gracioso, Joley. Tia Carol, tira uma foto de Joley. Fará uma fortuna na Internet. Estrela do rock vadiando em casa com seu pijama de super estrela favorito. Poderia vendê-la aos periódicos sensacionalistas. - sugeriu Abigail. Joley simplesmente fez rodar seu tornozelo em pequenos círculos preguiçosos. -Será melhor que cuspa tudo, Abbey. Tenho a mãe de todas as dores de cabeça e quão mínimo pode fazer é nos explicar como pode estar e não estar comprometida com um forasteiro russo que, além disso, é um espião. -Não é um espião, - disse Abbey. -Como sabe, querida? - perguntou Carol enquanto inclinava a câmara para conseguir um melhor ângulo de Joley. - Joley, move a cabeça só um pouco. Recolho uma luz deslumbrante. -Não pode recolher uma luz deslumbrante. - protestou Joley, virando a cabeça para olhar para trás. - Está escuro fora. -Certamente estou captando uma luz na janela. Oh, foi-se. Deve ter sido a lua. Fez-se um silêncio repentino. As sete irmãs Drake se olharam com inquietação. Hannah elevou os braços e o vento se precipitou através da casa, fazendo que dançassem as cortinas fechando-se nas janelas. Joley desenhou um complicado patrão no ar. Imediatamente símbolos prateados saltaram à vida, faiscando e desvanecendo-se tão rápido como surgiram. -O que viu Sarah? - perguntou Carol, sua voz tinha perdido as notas zombadoras e se tornou séria. - Porque eu não gostei do que vi. Carol tinha o dom "da visão" igual Sarah. Ela era a mais velha de suas sete irmãs. Sarah e Carol intercambiaram um longo olhar e logo se voltaram para Abigail.


27 Abbey sentiu um estremecimento descer por sua coluna. -O que aconteceu na Rússia, Abbey? - Perguntou-lhe Sarah. - Há morte entre esse homem e você. Vejo o sangue, a morte e a violência. Não havia nenhuma acusação na voz de Sarah, nada em sua expressão, mas Abbey desejou que o chão se abrisse e a tragasse. Ela era diferente. Defeituosa. Seu crime algo inexplicável. Sacudiu a cabeça. -Não posso. Por favor, não me perguntem. Tudo mudará e são o único refúgio que fica além do mar. Se me quiserem, não me peçam explicações. -É por que lhe queremos, - disse Sarah amavelmente. Abigail se levantou com lágrimas nos olhos. -Sinto muito. Não posso falar disso. - Não podia falar disso, não podia pensar nisso, fechando de repente a porta de sua mente evitava atirar-se por um escarpado. Nunca se livraria do que tinha feito, do dano que tinha causado. E nunca se liberaria de Aleksander Volstov.

Capítulo - 3


28 Oculto na zona de arbustos ao pé da colina, Aleksander ficou com o olhar fixo na casa no escarpado. Abbey Drake. Tinha-o enfeitiçado fazia anos. Sabia qual era seu quarto. Dava à ladeira, com vistas ao oceano desde seu balcão. As portas de vidros com trilhos estavam totalmente abertas e as cortinas brancas de algodão dançavam com a brisa que entrava do oceano. Tinha sido do mais cuidadoso observando cada ponto de entrada, cada debilidade da casa, quando tinha estado dentro. Inclusive tinha provado os chiados da escada. A casa era enorme e parecia coberta por um halo de segredos. A névoa jazia pesadamente ao redor e entre as árvores, como se guardasse a estrutura e seus ocupantes. Os fios de névoa eram estranhos entre os prateados raios da lua, envolvendo os balcões e as janelas em um cinza fantasmagórico. Ela estava lá em cima, nessa casa. Nessa habitação. Só a poucos metros dele, já não a meio mundo de distância. Não poderia escapar dele esta vez. Havia-lhe devolvido cada carta que cuidadosamente lhe tinha escrito. Tinha posto toda sua alma nessas cartas e ela as havia devolvido sem nem sequer as abrir. Algumas das cartas tinham viajado por vários países para alcançá-la. Ele ainda tinha cada uma delas, marcadas com meia dúzia de carimbo. Havia dito a si mesmo que era um parvo, mas não podia deixá-la passar. Não podia esquecê-la. Não podia evitar a forma em que aparecia em sua mente cem vezes ao dia e permanecia em seus sonhos noite atrás de noite. Deu um passo cauteloso na propriedade. As nuvens giravam ao redor da lua, lançando uma estranha mescla de sombras e luz oscilante sobre a paisagem. Árvores e arbustos se bambolearam como se guardassem a ladeira oculta sob a densa folhagem de folhas e ramos. Alguns ramos se elevavam para o céu enquanto que as outras se inclinavam retorcidas, lançando formas para o chão, compridos braços inclinados dissuadindo aos intrusos. Era como se a própria propriedade quisesse mantê-los afastados. Outra vez ficou imóvel, percebendo o ritmo da noite, o desassossego se arrastou até sua mente e seu corpo fazendo que sentisse arrepiar os cabelos da nuca. Agachou-se instintivamente, seu corpo consciente da névoa e da luz da lua entre as árvores quase antes que seu cérebro registrasse a informação. Estava sintonizado com cada som noturno, cada grilo e rã. Os fios de névoa que encobriam a casa se estendiam como serpentes macabras, retorcendo-se através da densa folhagem, obscurecendo mais a visão, mas ele confiava em seus instintos, não na vista. Ele deslizou mais profundamente entre as sombras e ficou imóvel outra vez, seus sentidos se intensificaram e estava completamente alerta. Não ouvia nada, não via nada, mas sabia que não estava sozinho. Esperou pacientemente, trocando de posição só quando tinha algo com que cobrir-se. Finalmente captou uma forma escura movendo-se sorrateiramente através das árvores. A névoa e arbustos obstaculizavam sua visão, mas escutou o roçar de pés com sapatos sobre as rochas e se atirou ao chão. Aleksander era um homem grande e necessitava sigilo para aproximar-se do caçador. Tirou sua arma e se arrastou pela erva. Um homem estava na sombra das árvores observando fixamente a casa através de binóculos. O coração


29 de Alexander saltou quando se deu conta de que os binóculos pareciam estar dirigidos diretamente ao quarto de Abigail. As cortinas sobre as portas francesas se balançaram e Alexander se esticou quando viu Abigail sair ao balcão e encarar o mar. Usava calças de pijama e uma camiseta estreita que não cobria seu ventre plano. Apoiou os cotovelos no corrimão e ficou com o olhar fixo sobre o oceano. O vento ondeou sua larga juba de cor mogno e empurrou sua pequena camiseta sobre seus seios. Seus cabelos caíam até debaixo da cintura como uma larga cascata, o vento banhava sua pálida pele. Recordou a sensação dos fios sedosos, suaves e sensuais, deslizandose sobre ele. Requereu todo seu autocontrole não lhe gritar uma advertência. Avançou pouco a pouco e com dificuldade para o homem entre as sombras. Este virou a cabeça ligeiramente e o intestino de Alexander se encolheu e começou a rodar. Prakenskii. Considerava-o um assassino brutal e existia uma ordem de acabar com ele fazia anos. O que estava fazendo no pequeno povo de Sea Haven? Aleksander se arrastou até o ter a tiro. Não podia permitir o luxo de deixar a Prakenskii mais espaço para manobrar. Seu mundo inteiro se estreitou a sua tarefa. Matar Prakenskii e manter Abigail a salvo. Nada mais importava nesse momento, ou poderia importar. -Mantém as mãos justo onde estão, Ilya Prakenskii. - ordenou Aleksander, com um tom de voz baixo. - Fique onde está. Prakenskii ficou rígido e levantou suas mãos ligeiramente. -Aleksander. Não tinha nem idéia de que estava na vizinhança. Encontramo-nos nos lugares mais estranhos. - Um pequeno sorriso tocou sua boca. – Recuperou-se de nossa ultima pequena "conversação"? -Completamente. - disse Aleksander agradavelmente. - Umas poucas semanas de recuperação. - deu de ombros. - Assim é a vida. E você? -Um pequeno aviso quando faz frio, mas obrigado por perguntar. -O que traz você para esta parte do mundo? -Estava a ponto de perguntar o mesmo. - disse Prakenskii. - Embora, agora que vi à mulher, não necessito uma explicação. Havia um rumor que tinha perdido o interesse Por ela. -Os rumores se equivocaram. -Não é a do escândalo? Você quase perdeu sua carreira e criou um muito amargurado inimigo. -Tenho-me feito minha cota de inimigos, - concordou Aleksander com um pequeno encolhimento de ombros. - Igual a você. É nosso modo de vida. -Certo. Esperava que seus superiores mandassem você embora, mas parecem lhe dar crédito e lhe conservaram. -Inclinou a cabeça. - Ou tem muito mais poder do que eu acreditava. -Vire-se, Ilya. - Aleksander se negava a ser atraído a um debate de política. Ambos sabiam de primeira mão que a papelada burocrática das diversas organizações governamentais, seções e colegas de trabalho ciumentos podiam ser um campo minado. -Ninguém gosta de olhar que está perto, Aleksander. - remarcou Prakenskii enquanto se virava, com as mãos ainda a plena vista, os binóculos chamativos


30 em seu punho esquerdo- É uma bela mulher. Sempre é uma vergonha quando morre uma bela mulher, não acha? -Felizmente meus inimigos me conhecem, Ilya, assim ela não corre nenhum perigo. Seguiria a pista e mataria a quem lhe fizesse mal. E mataria a suas famílias, a seus amigos e a cada associado até que me capturassem. - Aleksander falou contundentemente. Deu de ombros, mas a arma permaneceu firme como uma rocha- Inclusive a Interpol levaria muito tempo para me apanhar e haveria um banho de sangue antes que ocorresse. Deixa cair os binóculos e não quero ver seu ombro mover-se. Abre a mão e deixa-os cair ao chão. -Veja Aleksander, estes são muito caros. Não pode esperar que... -Ilya atirou os binóculos, que golpearam com força contra o peito de Aleksander e se precipitou para frente para tratar cruelmente de lhe tirar a arma da mão. Quase muito tarde, Aleksander viu a pequena folha afiada na mão de Ilya enquanto deslizava para o estômago de Aleksander. Os assassinos como Prakenskii utilizavam veneno, recobrindo a afiada folha com uma dose tão letal que com a mais ligeira das feridas sua vítima estava morta em poucos minutos. Saltou para trás fazendo que a folha lhe falhasse por pouco e golpeou com a culatra de sua arma o dorso da mão de Ilya fazendo que a faca caísse ao chão. Elevou seu pé, batendo duramente contra o flanco do joelho de Ilya, paralisando a perna, obrigando a cambalear-se. Isso deu suficiente tempo a Aleksander para colocar sua arma em posição enquanto Ilya tirava sua segunda arma e lhe apontava entre os olhos. Agüentaram cara a cara, ambos preparados para morrer em um só pulsar. Aleksandr pensou no Prakenskii espreitando Abbey, lhe cravando uma faca ou lhe disparando até que seu corpo sem vida jazesse ensangüentado e quebrado. Um movimento era tudo o que necessitava para evitar que ela morresse, apertar lentamente o gatilho. -Eu sou o mensageiro, não o remetente. - assinalou Prakenskii, lendo a morte nos olhos do outro homem. - Se quiser que ela viva, necessita que eu retorne aos outros e dê sua mensagem. Não lhe querem atrás deles. É isso, ou ambos morremos aqui. -Acredito que ambos morreremos. Prakenskii negou com a cabeça. -É estúpido esbanjar sua vida. Acredito que fará o que diz e irá atrás de qualquer um que faça mal a garota. Não tenho desejo de ter que olhar continuamente por cima de meu ombro buscando você durante o resto de minha vida. Não tocarei na sua mulher e entregarei a mensagem de que a deixem em paz. Aleksander estudou a cara impassível de Ilya. Sabia que o assassino era muitas coisas, mas mentiroso não era. -Matou Danilov? Houve um pequeno silêncio. -Não conheço Danilov. -Era meu companheiro. Ilya negou com a cabeça. -Não fui eu. Nunca ouvi falar dele.


31 Alexander acreditou e isso fez que a presença de Prakenskii fosse até mais misteriosa. -Se você se meter em minha investigação, Ilya, ou se está envolto de qualquer forma, terei que matar você. Sabe disso. -Pode tentar Aleksander, mas ambos terminaremos com mais cicatrizes e minha artrite será pior em minha velhice. -Se não deixar de trabalhar para o Sergei, não viverá para ser um homem velho. -Parto Alexander. - Prakenskii deu um cauteloso passo atrás. - Não há razão para fazer isto. Não vim matar à mulher. -Por que está aqui então? Prakenskii vacilou, um pequeno sorriso tocou brevemente sua fria boca. - Curiosidade. Quis ver que tipo de mulher poderia ter a tantos homens atados com um nó. -Quem? - Quão último Alexander queria era que Sergei Nikitin estivesse interessado em Abigail Drake. Ficou com a boca seca ante a idéia. Prakenskii não era o único assassino que trabalhava para o Nikitin. E alguns dos outros não tinham a disciplina ou o respeito de Prakenskii. Não tinham treinado com o Aleksander e não conhecia sua reputação ou suas capacidades como Prakenskii. – Por que estaria Nikitin interessado em Abigail? -Vou, Aleksander. Permaneça fora do meu caminho. Alexander o seguiu passo a passo, a arma nunca vacilou enquanto se moviam como bailarinos em uma coreografia. -Ouvi que meu nome estava no mais alto na lista, Ilya. É por isso que veio? -Mataria você para defender minha vida, Aleksander, mas inclusive eu tenho um código. Não estou aqui por você. - O capanga deu de ombros. Sua resposta disse a Aleksandr que Prakenskii se sentia de forma muito parecida como o fazia Aleksander. Criaram-se juntos e havia muito poucas pessoas às que fossem leais. Isso ainda importava. Era uma das razões pelas que Alexander nunca se esforçava muito em agarrar Prakenskii. As pessoas nunca sabiam se realmente era o assassino que tinha a reputação de ser, ou se simplesmente tinha feito inimigos capitalistas no lugar equivocado. Tal como tinha feito Aleksander. -Trabalha para o Nikitin e ouvi que compartilha a cama com o Ignatev. Aleksandr cuspiu o nome para ver o que tirava. -As mulheres dão problemas, Aleksander, deveria lembrar-se disso. Prakenskii arriscou um olhar para a casa do escarpado. - Ignatev é um homem vingativo e seu ódio é muito profundo. É um homem que deseja ardentemente o poder e o obterá como é. Aleksander manteve sua arma apontando para Prakenskii e continuou movendo-se com ele passo a passo, cuidando de lhe manter a vista. Era um homem muito perigoso, mas ele tinha um estranho código ético. Aleksander podia entendê-lo. Ambos tinham crescido e tinham sido adestrados na mesma escola, ambos aperfeiçoando a arte de matar. Aleksander tinha cansado da política da espionagem e escolheu o trabalho policial. Prakenskii havia se tornado impossível de controlar e o governo tinha ditado uma ordem de terminar com ele. Todos os que tinham sido enviados contra ele tinham sido devolvidos em


32 uma bolsa. Aleksander e Prakenskii se conheciam fazia muitos anos e se evitavam, a não ser que Prakenskii estivesse no lado equivocado em um dos casos de Aleksander. Suas reuniões no geral terminavam em uma sangrenta batalha que nenhum ganhava. Estaria ela mais segura com o Prakenskii morto ou vivo? Matá-lo custaria a ele sua própria vida. Não tinha nenhuma dúvida a respeito disto e sua morte deixaria Abbey sem proteção contra Sergei Nikitin. Aleksander arriscou um olhar para o balcão. Abbey tinha entrado ignorando os dois homens que se enfrentavam na ladeira que conduzia a sua casa. Expulsou o fôlego com um suspiro de alívio e continuou seguindo Prakenskii, esperando um engano por parte do assassino. Ilya não perdeu pé na costa levantada, nem apartou o olhar fixo de Aleksander, enquanto abria caminho para o carro astutamente escondido depois de uns arbustos selvagens. -Vigia suas costas, Aleksander. - Aconselhou Prakenskii enquanto deslizava atrás do volante de seu Acura negro. Sua arma permaneceu apontada à cabeça de Alexander. - Há coisas que é melhor deixar em paz. -É melhor deixar em paz Abigail Drake - replicou Aleksandr. -Ela é uma debilidade que pode ser explorada. -Ela é a morte para quem tentar lhe fazer dano. Prakenskii arrancou seu carro. -Tem muitos inimigos aqui, meu amigo. E nem todos parecem inimigos. Aleksander deslizou sua arma de volta ao coldre de seu ombro enquanto via Prakenskii afastar-se. Só quando esteve seguro que o homem se foi voltou sua atenção para o balcão de Abbey e as portas francesas abertas. No que estava pensando ela deixando um convite a todo mundo? Especialmente depois de presenciar um assassinato e quase ser assassinada? Ele se apressou pela costa através das árvores para a casa do escarpado. Esta era a réplica de uma casa de campo que ele tinha visto no sul da França, também com muitas janelas, balcões e uma torre. A que estava na França era utilizada como um hotel e certamente era o bastante grande para isso. Ele olhou diretamente para os alicerces do edifício. A estrutura se elevava sobre três pisos e, é obvio, o balcão de Abigail estava no ponto mais alto. Colocou-se sob o balcão e estudou as paredes cobertas de trepadeiras em busca da melhor forma de subir. Não foi fácil e não foi rápido, mas o fez com lentidão estável, mais incomodado que nunca por que alguém poderia ter entrado na casa. Pior, encontrou sinais e apoios onde não deveria haver, como se uma escada invisível escavada na parede da casa para ele, ou qualquer outro. Ganhando o balcão, passou sobre o corrimão de ferro e se sentou por um momento no chão, escutando em busca de sons de movimento. Levou alguns minutos para comprovar os terrenos abaixo antes de entrar no quarto de Abigail, no caso de Prakenskii ter retornado. Enquanto atravessava atrevidamente as portas abertas, sentiu uma curiosa descarga elétrica atravessar seu corpo e o ar pareceu iluminar-se com diminutas faíscas muito parecidas com vaga-lumes. Piscou e a particular sensação desapareceu como se nunca tivesse acontecido. Abigail jazia sobre a cama sob uma colcha grossa, seu punho apertava as suaves dobras. Seus cabelos vermelhos brilhantes se derramavam pelo travesseiro e acumulava sobre os lençóis. Ele não produziu nenhum som quando


33 cruzou o quarto e se sentou na cama de quatro postes de tamanho extra. As pestanas dela estavam molhadas como se tivesse estado chorando, mas quando abriu seus olhos, não havia lágrimas, só ardente cólera resplandecente mesclada com pânico quando se equilibrou contra ele. Ele a apanhou e a jogou para trás sobre o colchão, vaiando para ela. -Não quererá despertar suas irmãs. - Até esse momento, não se tinha dado conta da fúria que pulsava sob a superfície. Talvez os acontecimentos da noite a tinham alimentado, talvez suas ações descuidadas e inclusive o perigo que se abatia sobre ela contribuíam, mas mais que nada, era sua determinação implacável de não lhe dar nenhuma oportunidade. O tinha jogado de seu lado tão facilmente, sem um enfrentamento, sem ter falado uma só palavra, sem ter em conta nenhuma explicação. Aleksander tomou fôlego e o deixou escapar lentamente, cuidando que sua sujeição não tivesse possibilidade de machucá-la. Abbey levantou o olhar para os amplos ombros e a face familiar. Adorava sua face. Adorava os ângulos, planos e linhas profundamente gravadas que lhe falavam de adversidades. Agora mesmo seus olhos eram frios como gelo e ela soube que falava a sério, mas não se importou. -Quer dizer que você não quer que desperte. Chamarão Jonas e será levado ao cárcere. Não será tão mau como o que aconteceu para mim, mas você não gostaria. Aleksander a soltou. -Vá e grite, Abbey. Deixe que suas irmãs chamem a seu desagradável amigo. Mas deve saber que não estou com humor para ser generoso esta noite. inclinou-se para tirar os sapatos. - Será sua culpa se ocorrer algo. Eu estou muito cansado para que me importe. -O que está fazendo? - Abbey se incorporou, seus olhos ardiam de fúria. -Já te disse. Estou cansado. Foi um dia infernal. Vou recostar-me enquanto falamos. -Em minha cama? - Sua voz saiu estrangulada pelo ultraje. - Acredito que não. - Olhou grosseiramente ao redor em busca de seu robe. - É um maldito pomposo, acredita que pode entrar em meu dormitório e se arrastar até minha cama como se nada tivesse ocorrido. Sai antes que perca as estribeiras. Não tem nem idéia do que poderia acontecer. - Nem ela tampouco, mas por um momento desejou ser Hannah e poder convertê-lo em um razoável horrendo sapo. Antes de poder pôr as mãos sobre o robe ele a agarrou no punho e a lançou através do quarto. -Estava se pavoneando em seu balcão para que todo mundo visse você... incluindo um capanga russo, um particularmente eficiente. - Fulminou-a com o olhar. - Não acredito que necessite se cobrir para falar comigo. Isso a deteve. Ficou olhando, horrorizada. -O que quer dizer com um “capanga russo”? Aqui? Me espreitando? Minhas irmãs e minha tia estão em perigo? - Levantou da cama e passeou acima e abaixo pela habitação. Aleksander não lhe mentiria sobre isto. – Tudo isso por que ouvi um nome? -O que ouviu?


34 -Um nome, isso é tudo. Alguém chamava Chernyshev. Por que enviariam um capanga por mim? -Não sei se veio por você. Só sei que é um homem muito perigoso. Chernyshev é um sobrenome bastante popular em meu país. - Ele suspirou pesadamente. - Se pertencer à máfia, é muito violento. -Era muito violento. Estava disparando a todo mundo e a tudo, incluindo os golfinhos. - passou a mão pelos cabelos enquanto passeava. – Irei me separar da minha família. Não as porei em perigo. -Tranqüila, Abbey. Inclusive não sabemos o que está acontecendo. -O que está acontecendo? Tem que sabê-lo ou não estaria em Sea Haven. De repente temos russos matando-os uns aos outros e assassinos a rondando a casa de minha família. Por que está aqui, Sasha? Por que veio para cá? - Se voltou para ele, ajoelhou-se no chão junto à cama e cravou seus incríveis olhos nele. Tinha esquecido como eram seus olhos vistos de perto. Poderiam ser tão claros e formosos ou tão turbulentos e selvagens como o mar que ela tanto amava. Ajoelhada ali com seus abundantes cabelos vermelhos caindo em cascata para a curva de seu traseiro, parecia à bruxa que algumas pessoas a chamavam. A bruxa que sua gente tinha atirado a um lado depois de fazê-la passar um inferno. Ele tinha reclamado cada favor que lhe deviam, havia inclusive utilizado velhos contatos e rotas que tinha conhecido pelo trabalho policial, para tirá-la de forma segura do país. Ela sabia os riscos que ele tinha confrontado ou as conseqüências de suas ações. Não soube do banho de sangue deixado atrás de sua marcha. Mas ela sabia que ele tinha sido o responsável que o governo a agarrasse em primeiro lugar. Era responsável por um montão de coisas. Principalmente da cautela nos olhos dela. O medo. Na realidade ela não tinha tido nunca medo até que o conheceu. -Devolveu cada uma de minhas cartas sem abrir. - recostou-se, com os dedos entrelaçados atrás da cabeça. -Por que está aqui? - Repetiu-lhe ela. -Porque você está aqui. Abigail fechou os olhos, permitindo brevemente que a dor se derramasse sobre ela. Tinha vivido com o coração destroçado tanto tempo que agora era parte dela. Detestava ser patética, detestava as mulheres choronas que não podiam viver sem o homem que lhes tinha quebrado o coração. Ela sempre tinha sido forte. Nunca tinha tido problemas em seguir adiante. E ninguém a tinha apanhado. Até Aleksander. Era fraca de vontade com ele. Era só porque desejava a oportunidade de jazer a seu lado, sentir sua crua força, seu calor, só uma vez mais? Aleksandr punha seu bem ordenado mundo do avesso. Ele podia fazer que seu corpo cobrasse vida com um olhar ardente. Com um toque. Só caminhando para ela. Realmente havia se tornado patética. A fúria varreu através dela, seu temperamento se elevou até proporcionar ajuda a seus instintos de auto conservação. Não voltaria a atravessar o inferno. Tinha uma pequena quantidade de auto respeito. Bom… talvez não. Talvez fosse auto conservação, porque ele quase a tinha destruído. Tinha arruinado sua alegria de viver, e tinha destroçado


35 sua confiança em si mesma. Tinha prejudicado várias das qualidades que definiam Abigail Drake e lhe tinha deixado uma concha vazia. -Maldito seja, Sasha. Fora. Minha casa é o único refúgio que restou. -Tudo o que tinha que fazer era ler minhas cartas, Abbey. Não teve sequer essa cortesia. Ela virou sua cabeça para lhe olhar, repentinamente furiosa. Fluiu uma fonte quente de fúria e a permitiu ferver até revoar. Saltou para cima, detestando a imagem de uma mulher ajoelhando-se a seus pés. -Cortesia? Crê que devo cortesia? Deixou que me levassem a rastros e me tratassem como a um animal. Sabia o que iriam me fazer. Quer saber quantas vezes me golpearam? Durante quantas horas fui interrogada? Esbofeteada? Inspecionada? Quer os feios detalhes? Ou já os tem? - ficou olhando seu rosto fixamente. Sua face de aparência agradável e cinzelada que não expressava nada. Quis lhe esbofetear assim apertou os dedos e lutou por controlar-se. Traiu-me. Traiu tudo o que éramos juntos. Maldito seja por isso. Ante o som de passos correndo no vestíbulo abaixo, Abigail se virou para a porta e ondeou a mão. Os ferrolhos se fecharam automaticamente. -Abbey! - A voz de Hannah gritou de fora. - Vai tudo bem? -Fique fora, - ordenou Abigail. - Estou perfeitamente bem. -Não está bem - insistiu Joley. - Podemos sentir tudo que você sente. -Eu me encarrego disto. - disse Abigail. - Por favor, voltem para a cama. Preciso fazer isto. Houve um pequeno silêncio. -Se for o que quer, Abbey. - disse Hannah. -É o que necessito - disse ela e se virou para olhar Alexander. Ele elevou a mão para tocá-la. Sabia que era um engano assim que o fez, mas não pôde resistir. Os olhos dela continham muito pesar, muitas sombras, e isso atacava as fibras de seu coração. A luz da lua se derramada sobre seu corpo, banhava sua face e seus cabelos fazendo-a parecer uma tentação, uma visão ruiva que não poderia separar de sua mente. Sua mão deslizou entre a sedosa cabeleira; seu polegar acariciou a suave pele enquanto lhe emoldurava o rosto. -Sonho com você cada noite. -Eu tenho pesadelos sobre você - por que não podia afastar-se dele? Qualquer outro homem estaria retorcendo-se no chão. Por que a fazia tão débil? Por que lhe desejava tão ardentemente como se fosse uma terrível droga? Ela não tinha sido uma mulher débil até que ele tinha entrado em sua vida. - Quase me destruiu. Pensa de verdade que quero ter algo que ver com você? -Te ocorreu que isso quase me destruiu também? Te amo, Abbey. É meu coração e minha alma. Alguma vez, embora só uma, perguntou-se o que estava acontecendo? -É obvio que o fiz. Amava você. - Deliberadamente utilizou o tempo passado. Obteve sua atenção. Seus olhos brilhavam intensamente para ela, uma advertência, mas a ela não importou. - Não queria acreditar que me trairia e me deixaria quando mais necessitava de você, mas o fez. Não quis ouvir nenhuma explicação. Pensava que era importante para você. Obviamente não fui, assim segui adiante. Assim é a vida, Aleksander.


36 -O que há entre você e seu amigo policial, Harrington? - Aleksander manteve a voz suave, mas suas vísceras se agitavam. Abigail era uma mulher teimosa. Se tivesse idéia de não lhe dar uma oportunidade, seria quase impossível mudar sua decisão. Sua única esperança era que ao menos estava discutindo com ele. Abigail se afastava dos enfrentamentos. Uma vez tinha acreditado que a aterrava seu temperamento e recusava permitir-se ser colocada em qualquer posição em que desejasse tomar represálias. Também era muito leal. Tinha-o aprendido da forma mais dura. Nos dias de interrogatório, ela recusou lhe trair, guardando silêncio sem importar com o que a ameaçassem ou o que lhe fizessem. Passou a mão pela face, apartando os pesadelos de observar as cintas. Tinha estado tão sozinha. Tão assustada. E não tinha sabido que ele estava trabalhando freneticamente atrás das câmaras para libertá-la, para fazer que a deportassem. Não tinha sabido que as coisas tinham ido tão drasticamente mal. -Mantenha-se longe de Jonas Harrington. Havia um feroz amparo em sua voz. E afeto. Sobressaltou-se ante este fato. -O que é ele para você? -Não é seu assunto. -Perdi meu companheiro, Abbey. Quase lhe mato. Acabo de ter um encontro com um homem muito perigoso que tratou de me matar fora de sua casa. Mais que nada estou preocupado por você porque quando ele vai a caça, não falha. - E isso não tinha sentido para ele. Se houvessem mandado Prakenskii matar Abigail Drake já o teria feito sem vacilar. Que outra razão podia ter para estar ali? Aleksander esmagou a urgência de ir atrás do homem. Tinha aprendido uma dura lição a respeito de atuar sem todos os fatos e não queria cometer outro possivelmente fatal engano. -Me conte mais sobre ele - urgiu Abigail. -Seu nome é Ilya Prakenskii. Criamo-nos juntos em uma casa do estado e nos guardamos um as costas do outro. Tinha que ser assim. Inclusive ali, quando éramos jovens e eles nos treinavam para nosso trabalho, havia sempre em marcha jogos de poder. É uma forma de vida de onde eu venho. -Conhece-lhe? -Provavelmente melhor que qualquer outro. - confirmou. - Se houver um homem que respeito e gosto, é Ilya, mas nossos manipuladores não fomentavam a amizade. Ele escolheu um lado e eu ao outro. Mas Ilya não falha. Não sei por que está aqui, mas disse que não conhecia Danilov e acredito. Tem reputação de trabalhar para Sergei Nikitin e Nikitin é a máfia, um homem muito violento que gosta de resolver os problemas de formas extremas. O coração de Abigail saltou em sua garganta. -Disse que você mesmo é um alvo. Está aqui por você? -Diz que não. -Mas ele estava aqui e sabia que você viria. Por que vigiaria esta casa e a mim se não tivesse nada a ver por eu ter presenciando a morte de seu companheiro ou para chegar a você? É a única explicação lógica. Aleksander assentiu.


37 -É certo, mas não acredito que eu seja seu alvo. Advertiu-me que tenho inimigos capitalistas. -Você? -É obvio. Não estaria onde estou sem ter feito inimigos. Tem que entender a dinâmica de meu país. Houve muitas mudanças nos últimos vinte anos, tantas mudanças no poder, que ninguém quer entregá-lo. -O que fez que fosse tão mau para que alguém marcasse você como alvo? Houve um pequeno silêncio. O coração de Abigail se afundou. Sentou-se na beirada da cama. - Teve algo a ver com minha saída da Rússia, verdade? -Sim. - Não ia mentir. - Tinha inimigos que não conhecia e que aproveitaram a oportunidade que se apresentou depois do que aconteceu. Ela inspirou fortemente, elevando a mão para lhe deter. -Cale-se. Simplesmente cale-se. Não fale disso. -Se não falarmos disso, nunca saberá o que aconteceu - disse-lhe brandamente. -Não quero saber o que aconteceu. Não agora. Nem alguma vez. Tem a menor idéia do que aconteceu? Arrancou-me o coração e lhes deixou me golpear. Maldito seja, Sasha, não finja que não sabia o que estavam fazendo. Soube em todo momento. Tinha muitos contatos para não saber. Deixou-lhes. - Estava doente outra vez. Seu estômago protestava, uma enfermidade que nunca pareceu ir sem importar quantos antiácidos tomasse. -Não soube até que foi muito tarde e logo removi céu e terra para tirar você rapidamente. E maldita seja, você sabe por que. Ela cobriu o rosto com as mãos. -Não quero pensar nisso. Não quero pensar nunca mais nisso. Bem poderia ter apertado o gatilho eu mesma. Esse pobre homem e sua pobre prisão. Tenho que viver com a responsabilidade de sua morte. Isso sei mas não merecia o que fez. Se essa for sua idéia de castigo... -Alto! - Pela primeira vez elevou a voz em uma lista de maldições em russo. - Não foi um castigo. Nunca foi responsável pela morte desse homem. Houve todo tipo de coisas que conduziram a isso, em nenhum dos quais você teve nada que ver. Sua morte foi uma terrível tragédia, e uma que lamento, mas não teve nada que ver com você. - Forçou seu corpo a relaxar-se, forçou ar fortemente através de seus pulmões. - É isso o que realmente acreditou? Que estava castigando você? -Deixou-me completamente sozinha. Sei que desertou quando mais necessitava de você. Entregou-me às autoridades e lhes deixou que me interrogassem. Sabia o que queriam e não fez nada. -Como acredita que saiu do país? Não está apodrecendo em uma prisão. Deportaram-lhe e a tiraram do país a poucos dias de sua detenção. Crê que isso ocorre realmente na Rússia? Se acreditava que a tinha abandonado, por que não me acusou? Por que não me nomeou quando lhe estavam pedindo informação? Abigail se afundou na beirada da cama. -Não sei. Não sabia o que estava acontecendo. - Sacudiu a cabeça outra vez. - Acreditei que merecia como me trataram depois do que tinha acontecido. Deveria ter sabido que ele se sentia culpado pela morte da filha, não que era culpado dos outros crimes. Não deveria haver tido nenhuma noção preconcebida


38 quando entrei nesse quarto. Todo mundo soava tão seguro de que ele a tinha assassinado, de que era o que estava matando aqueles meninos, mas não deveria ter me deixado influenciar. Você estava fazendo-lhe tantas perguntas, as disparando uma e outra vez, e os outros policiais estavam fazendo o mesmo. Parecia culpado. Ele queria confessar algo. Algo. Quando lhe perguntei se era culpado e disse que sim, senti que não estava bem, mas estava muito ocupada escutando aos oficiais, a você. - interrompeu-se e cobriu a face outra vez. - Traí meu próprio dom. Fiz as perguntas equivocadas e ele confessou sua culpabilidade, tal como eu lhe induzi a fazer. E logo ele tratou de alcançar a arma que o estúpido oficial tinha colocado ali tão chamativamente. -Se lhe induzimos a cometer suicídio todos nós somos culpado, não vocêdisse-lhe. -Se? Se? Não há se. Ele acreditou que tinha a culpa pela perda de sua menina. Ninguém lhe reconfortou. Ninguém lhe aconselhou. Sentia-se culpado porque estava vigiando-a enquanto sua esposa estava ausente e dormiu. -Tinha estado bebendo. Bebeu muito e foi dormir pela tarde. -Exime-nos isso do que fizemos? Ele não era o assassino, mas você suspeitava que não fosse. Suspeitava inclusive quando lhe trouxe para interrogar, certo? -Sempre suspeitamos primeiro dos pais. -Mas você não me falou de suas suspeitas. Já tinha um suspeito. -Não tinha provas, Abbey. Tinha que seguir o procedimento. Trouxe o pai e interroguei tal como teria feito com qualquer outro suspeito. -Mas você não acreditava que fosse culpado. Todo mundo foi muito duro com ele e eu simplesmente me uni. - Abigail mordeu os nódulos com agitação. Noite atrás de noite via a cara do homem e suas próprias mãos cobertas de sangue. - Eu ajudei a lhe matar. -Demônios, Abbey. Deu-se um tiro. Interrogamos suspeitos todo o tempo. Não se matam. -Você pode se absolver de toda responsabilidade, Aleksander, mas eu não posso. E o que me fez depois é indesculpável, e não são as ações de um homem apaixonado. Pode querer deitar-se comigo, mas eu não estou disposta a me conformar com isso. -Estava acontecendo mais coisas naquele quarto do que sabíamos. passou-se a mão pelas escuras ondas de seus cabelos. – Eu tinha subido na hierarquia rápido e havia resolvido casos, tinha chamado a atenção de meus superiores rapidamente. Tinha uns antecedentes… - ele vacilou. - Fui um agente com muito êxito antes de ser polícia. Converti-me em detetive quando aos outros tinha levado anos chegar até ali. Também tinha gente em altas esferas que me devia favores. Sabia como passar através da papelada burocrática e esquivar as lutas de poder. Quando isso acontece, pisa em pés e se faz inimigos dos que nem sempre é consciente. Abigail lutou por respirar, por pensar além desse traumático momento quando o jovem pai estendeu a mão para a arma. Ela não tinha podido deter o tempo ou ralentizá-lo ou reviver os minutos antes que tivesse apertado o gatilho. -Esse oficial, que deixou perto sua arma, estava esperando sua oportunidade. Trabalhava para um homem chamado Leonid Ignatev. Minha


39 carreira tinha ultrapassado a do Ignatev e ele aproveitava cada engano que eu cometia e cada vulnerabilidade que tinha para sabotar minha carreira. Eu sabia que estava sujo. Suponho que todos estamos até certo ponto, temos que trabalhar contra o relógio para chegar a toda parte mas Ignatev estava encalacrado com a máfia. Tinha um infiltrado em minha equipe e quando as coisas se voltaram caóticas, como freqüentemente passa em um interrogatório, seu homem permitiu ao suspeito agarrar sua arma. Deveria ter sabido o que estava acontecendo quando ele não foi detido imediatamente também, mas estava concentrado em você. Estava seguro que meu nome te manteria a salvo, mas Ignatev tinha a seus trabalhando sobre você. Abigail tomou um profundo fôlego e lhe olhou. -E então se acabou, muito bruscamente depois de dois dias, e os novos homens estavam muito assustados, podia cheirar seu medo. Isso foi ainda mais aterrador. Você fez isso, não é?- Seu coração palpitava tão forte agora que o peito lhe doía. Não queria a verdade porque não podia enfrentar essa parte dele. Sabia que era desumano, mas não sabia se poderia ver quão profundo esse rasgo corria nele. Os homens que a estavam interrogando tinham sussurrado entre eles, lhe lançando olhadas, obviamente muito assustados de falar sequer com ela. Tinha tido medo, ao princípio, de que lhe fossem disparar “acidentalmente” mas então ouviu o nome de Aleksander sussurrado e as coisas que disseram a tinham aterrorizado. -Fiz o que tinha que fazer para proteger você e tirá-la de forma segura do país. Ao fazê-lo assim, fiz-me um inimigo amargo e implacável que tomou represálias pondo preço a minha cabeça. Abigail sacudiu a cabeça. Não queria saber o que ele tinha feito para tirá-la do país. Alegrou-se em ir e tinha agradecido sair, mas a assustava muito mais o custo em vidas e já havia suficiente sangue em suas mãos. -Aleksander, como pode estar tão tranqüilo? Como pode sentar aí tão tranqüilamente e me dizer que há alguém tentando matar você? -É uma forma de vida, Abbey. É a única forma que conheço. -Pois bem, é horrível. -Eu sei. Ele a estava olhando com o coração nos olhos. Sem implorar. Aleksander nunca implorava, mas de todos os modos, olhava-a como se lhe pertencesse. Ela negou com a cabeça ferozmente. -Esse não é meu mundo. Eu não posso viver assim e você não pode retirar tudo o que aconteceu. Simplesmente não pode. -Não estou tratando de retirá-lo. Houve enganos, admitirei isso, mas temos que encontrar o caminho de volta um ao outro. Sei que não ama Jonas Harrington. E eu não posso olhar outras mulheres. O que vamos fazer separados? Abigail sacudiu a cabeça, sua mão indo defensivamente a seu coração. -Não há volta. Não estou disposta a arriscar quem e o que sou outra vez. Não confio em você o suficiente para entregar-lhe nem minha vida nem minha magia outra vez. -Maldição, Abbey. Tem que entender que não podia me implicar de maneira nenhuma. Em meu país sempre há um bode expiatório. Estava tão perto de


40 apanhar o assassino. Se me tirassem do caso, ele teria tido meses, talvez anos para continuar. Levou muito tempo para me aproximar dele. -Seja o que for que fez para me tirar do país, agradeço, mas entregou-me a eles. Sacrificou-me. -Não havia outra escolha. Seria presa e interrogada, mas sabia que com meus contatos poderia liberar você e tirá-la imediatamente do país. Nunca me ocorreu que Ignatev escolheria essa oportunidade para investir. Deveria havê-lo feito, mas não o fiz. - Alexander podia ver a dor em sua face. Era profunda e se odiava por havê-lo posto ali. - Estava tão perto, Abbey, de apanhar esse assassino de crianças. Poderia estender a mão e lhe tocar. Se colocasse você na frente, o teria perdido e seria responsável pelas mortes de quantos garotos tivesse matado depois disso. Cada um de meus instintos queria proteger você primeiro, meu coração e minha alma, mas isso teria sido egoísta. -Seria egoísmo dizer a verdade? Salvou sua carreira e obviamente conseguiu uma ascensão. Trabalha com a Interpol assim ainda mantém uma boa posição. Não foi você o que foi esbofeteado e ao que chutaram nessa sala de interrogatórios. Não foi você que tinha o sangue daquele pobre homem por toda a roupa. Nem sequer deixaram me trocar. Na realidade não importa o que acreditasse que estava bem. Deixou-lhes me agarrar. Foi uma traição mesmo se o quer vê-lo como se não. Deixou-lhes que me agarrassem. -Maldição, Abbey. - Aleksander esfregou duramente a face para desfazer-se da imagem dela chorando, coberta de hematomas, dois homens erguendo-se sobre ela para intimidá-la, gritando e acusando-a. - Se isso não tivesse sido pelas crianças, não crê que o teria impedido? -Não sei, Aleksander. Como posso sabê-lo? Estive no inferno e nem sequer podia vir para casa e conseguir consolo de minhas irmãs. Como podia lhes explicar o que tinha feito, pelo que era responsável? Um homem morreu por minha culpa. Utilizei meus dons para algo no que nunca deveria ter estado envolta por você. Porque o amava e teria feito qualquer coisa por você. Porque acreditava em você. Tirou-me isso tudo. Inclusive isto isso. - Abriu os braços para abranger a casa. - Não me deixou nada. Tocou-a porque tinha que fazê-lo, embora soubesse que ela se afastaria dele. -Nunca tive intenção de fazer dano a você. -Pois bem, fez. Destruiu-me. Não sei por que está aqui, Aleksander, a verdadeira razão, e não vou perguntar isso. Já não utilizo essa parte de mim. Por nenhuma razão. Meu dom é defeituoso, ou possivelmente eu sou, mas faz mais dano que bem. - Abbey se levantou de um salto antes que ele pudesse detê-la e passeou pelo quarto outra vez. - Não entendo como a casa deixou você entrar. -A porta estava totalmente aberta. Estou dizendo que isso, Abbey, é perigoso. Têm que ter um firme sistema de segurança até que averigüemos o que Prakenskii está fazendo aqui. -A casa nunca deixaria entrar um inimigo. Fomos descuidadas uma vez e quase nos matamos. Inclusive Tia Carol nos ajudou esta noite e ela é muito poderosa. - Falava mais para si que para ele. -Eu não sou seu inimigo. Até sua maldita casa sabe isso, Abbey. Prestará atenção ao que é importante? Coloca sua cólera por mim de lado o suficiente para


41 dar conta de que está em perigo. Suas irmãs poderiam estar perigo. Prakenskii não estaria aqui espreitando sua casa se alguém não estivesse interessado em você, inclusive se for por sua relação comigo. E seus amigos não são agradáveis. -Já suponho que não são. Tomarei cuidado, Aleksander. - Tinha que recordar chamá-lo por seu nome mais formal em vez da forma russa mais íntima. Poderia acabar facilmente devastada por ele. Era um homem forte, rude e duro por dentro e por fora, inclusive letal, mas com ela ele sempre tinha sido tão carinhoso, gentil e protetor. Dizia-lhe coisas que soavam a pura poesia… até que lhe necessitou. E então, no momento decisivo, ele tinha negado tudo entre eles e a tinha deixado sozinha, para ser aterrorizada e humilhada. - Agora, por favor, vá. Independentemente do que veio fazer aqui, não quero formar parte disso. Aleksander suspirou. Sua boca suave estava fixa em uma linha teimosa e não importava o que ele dissesse, não lhe escutaria. Não se permitiria lhe escutar. - Irei, Abbey, mas isto não acabou entre nós. - olho os sapatos outra vez, tomando-se tempo enquanto lhe observava em silêncio. - Não vou partir tão tranqüilamente. Isso ainda não acabou. - ficou em pé, erguendo-se sobre ela. Toma algumas precauções. Todas vocês. Faz entender às demais com o tipo de gente que estamos tratando. -Lógico que o farei. Sai pela porta. Guiarei você até lá embaixo. - A idéia dele descendo pela parede da casa era aterradora. -Sairei da mesma forma que entrei. - Caminhou diretamente para ela. Abbey não retrocedeu, mas ele sabia que não o faria. Abbey era uma mulher forte e não permitia que muitas coisas a ameaçassem. – Mantenha-se longe de Harrington até que resolvamos isso. Abigail mal podia respirar com ele tão perto. -Não vou dignificar isso com uma resposta. Ele inclinou a cabeça para o rosto elevado dela até que seus lábios estiveram a um fôlego de distância. -Conhece-me melhor que qualquer pessoa viva. Sabe a verdade a respeito de quem e o que sou. Dei-lhe a verdade quando me pediu isso. Lógico que te amava com todo meu ser. Não amo facilmente, mas amo completamente. Quero recuperar você, Abbey, e vou fazer o que for necessário. Por um momento ela pensou que ia beijá-la. Pôde ver em seus olhos. A necessidade. O desejo. Mas se virou e abandonou seu dormitório.


42

Capítulo – 4 -Joley, venha já. Acorda! - Abbey sacudiu sua irmã. Joley gemeu e atirou as mantas sobre sua cabeça. -Está louca? Ainda está escuro. Nunca me levanto tão cedo. Não é são. -Levanta. Tem que vir comigo. -Abbey, é uma louca fanática. Volta para a cama. Definitivamente não me levantarei até que o sol esteja alto. Meio-dia. Desperta-me a meio-dia. -Nada de meio-dia… agora! Acredito que um de meus golfinhos está ferido. Quero ir vê-lo. Joley retirou a colcha para poder olhar fixamente sua irmã. -Crê que está ferido? Congela de frio o oceano. E há tubarões. Isto não está acontecendo. Não me ouviu? Sou uma grande celebridade. Eu não madrugo. -Tira seu traseiro da cama. - Abbey lhe arrancou a manta e golpeou Joley na cabeça com um travesseiro. - Nesta casa não é a estrela de nada. Necessito alguém comigo e você foi escolhida. -Por que eu?- queixou-se Joley, sentando-se. -Por que, além da Hannah, é a que tem as habilidades que necessito. E se algo sai mal, Hannah não é muito boa nadadora. -Genial, isso soa ameaçador. Bom pelo menos poderia ter feito uma xícara de chá. E poderia me contar algo sobre seu convidado misterioso de ontem à noite. Foi um inferno tentar dormir perguntando-me o que estava acontecendo. -Não quero falar dele. Agora não. Talvez nunca. -Genial. Isto é genial, Abbey, me despertar e nem sequer dar alguma boa fofoca. Eu não madrugo. -Ouço os golfinhos me chamando, Joley - disse Abbey. - Algo vai mal. -Oh, de acordo. Mas me deve uma grande. E os golfinhos também. Pode lhes dizer que vai levar-me para nadar com você quando sair a próxima vez e têm que ser amáveis e me aceitar. - Joley atravessou com dificuldade o chão para o banheiro. - Necessito de um traje de mergulho? -Não, mas poderia trazer uma arma.


43 Joley apareceu com a cabeça pela porta, com a escova de dentes na boca. -Uma arma? - Sua cara se iluminou grandemente. - Por que necessito de uma arma? Em quem tenho que disparar? -Não tem que disparar em ninguém, imbecil. É só no caso de precisar. Além disso, é boa atiradora. -Melhor que Hannah. - reconheceu Joley - Ela fecha os olhos quando aperta o gatilho. Isso faz que Jonas suba pelas paredes. -Provavelmente por isso o faz, embora possa acertar a um alvo imóvel nove de cada dez vezes. Só que você acerta no alvo cada vez. E Hannah na realidade não mataria ninguém e você sim. -Poderia ser se me tirar fora da cama tão cedo outra vez. - advertiu Joley. Mas perdoarei você se me proporcionar alguma fofoca sobre seu visitante da meia-noite… - Parecia esperançosa. Quando Abbey sacudiu a cabeça e franziu o cenho, Joley suspirou e capitulou. - Aonde vamos? Acreditava que seu barco estava flutuando mar adentro em algum lugar ou Jonas o rebocou? -É obvio que Jonas fez rebocar a barco; sempre se ocupa de cada pequeno detalhe. Mas os golfinhos estão em Sea Lion Cove assim não teremos que sair com o barco se tivermos sorte. -Isso é bom. Realmente necessito uma arma? -Sim. E poderá ter que usá-la. Algum capanga muito bom estava espreitando nos arredores a noite passada. -Por Deus, Abbey, temos que chamar Jonas. - Joley colocou umas calças cômodas e uma camisa. - Em que mundo se colocou? Eu sou normalmente a dos problemas. Você é a boa garota. Abbey estudou sua irmã. -Como consegue ter esse aspecto a primeira hora da manhã? Nada de maquiagem, nem sequer se penteou, mas está com o aspecto de um milhão de dólares. Juro, você e Hannah fizeram algo bom em outra vida. Não me importaria despertar e me parecer com você. Joley lhe soprou um beijo. -Isso foi muito amável, especialmente depois de não ter tido a decência de me trazer uma xícara de chá. Se não vamos de barco, como vamos descer à baía? Desceremos pelos escarpados? Minhas habilidades de escalada deixam muito que desejar. -Pensei em utilizar a rota dos velhos contrabandistas. Tenho a chave do velho moinho. Kate o está renovando com a ajuda de Matt, embora estejam tão ocupados com seus planos de bodas que ainda não trabalharam muito nisso. Há uma velha escada que conduz através do túnel até a baía. Kate me disse que era a rota de uns velhos contrabandistas faz cem anos ou algo assim. Não quero perder tempo conduzindo até o porto, por isso a escada será o caminho mais rápido. -Por que tenho o pressentimento de que estamos a ponto de nos colocar em um grande problema? - Perguntou Joley enquanto tirava uma arma de sua gaveta, carregava-a e a deslizava no interior de sua bolsa. -Por que tem sua própria arma? - Perguntou-lhe Abbey. - Acreditava que utilizaríamos a que Jonas deixou aqui por amparo, ou talvez uma das de Sarah.


44 -Por que recebo cartas estranhas de fãs enlouquecidos que me assustam como o inferno algumas vezes. - respondeu Joley. - Contei-lhe isso, agora me confesse algo. - Baixou nas pontas dos pés a escada, grudada em Abigail. Começa com o ardente russo com o que pode ou não estar comprometida. A partir daí, segue até o capanga de primeira. Abbey se deteu na escada. -O que quer dizer com recebe cartas estranhas de fãs enlouquecidos? Disse algo sobre isso no Natal. O que está acontecendo? Joley deu de ombros. -Isso vem com o trabalho. Hannah é uma conhecida modelo e está acostumada. Kate escreve livros e também teve umas quantas. Eu vendo uns poucos milhões de álbuns, subo num cenário e canto ante quarenta ou cinqüenta mil pessoas de uma vez e as recebo também. Não é grande coisa, mas às vezes me amedronta. -Céu santo. Não tinha nem idéia. Disse a Sarah? Ela tem toneladas de experiência. Sempre trabalhou em segurança. E ao Jonas? Ele teria uma ou duas idéias. Joley riu. -Ele faria que deixássemos tudo e nos encerraria em um armário. O problema é que estamos no olho público onde pessoas perturbadas podem fixarse em nós e logo nos ameaçar quem sabe por que razões. Uma ligeira percepção talvez. Mas você trabalha com os golfinhos no oceano. Os assassinos a salário de primeira não deveriam estar interessados em você. -Não, não deveriam. Possivelmente estava interessado em uma de vocês. Abbey franziu o cenho. - Não pensei nisso porque o homem assassinado ontem era russo e os homens que o mataram obviamente eram russos. Aleksander é russo e trabalha para a Interpol em algo grande que obviamente ocorre por aqui. Ia chamar Jonas, mas tenho que ver se posso ajudar primeiro aos golfinhos. Eles me salvaram a vida. E se Gene vive, salvaram sua vida também. Joley seguiu Abbey fora da casa. -Por que estariam os russos remotamente interessados em você... ou em mim? Não posso imaginar a nossa pequena Hannah ou Kate os enchendo o saco. E como demônios conheceu esse incrivelmente lindo Aleksander? -Recorda quando estive mergulhando na Patagônia, estudando golfinhos escuros? - replicou Abigail. Abriu a porta principal com cautela, não querendo despertar suas outras irmãs. - Joley, crê que os feitiços vinculantes que utilizamos em casa funcionam? Recorda a época em que Sarah protegia Damon, antes que se comprometessem e aqueles homens forçaram a entrada e foram nos disparar? -Certamente muda de tema rapidamente. - resmungou Joley. - Cada vez que quero uma resposta a algo simplesmente salta a outro tema. O que tem isso a ver com o ardente russo? -Não lhe chame ardente. Não quero pensar nele estando quente ou frio ou qualquer outra coisa. Desejaria que voltasse para a Rússia. - Abigail tocou com a ponta do pé uma das duas bolsas que tinha preparado e que esperavam nos degraus. - Toma, segura esta. Não é a pesada. Joley a recolheu e fulminou com o olhar sua irmã.


45 -Está louca? Esta coisa pesa uma tonelada. E não me deixa exatamente livre a mão da arma. Se nos matarem a tiros, não vá me culpar. E para sua informação, Patagônia não é parte da Rússia. - Carregou a bolsa até o carro, murmurando a cada centímetro do caminho. -Sempre é assim? -Assim como? - Joley atirou a bolsa no assento traseiro e olhou carrancuda Abigail. -Choramingar, choramingar, choramingar. -Sim. As três em ponto da manhã sem chá ou café, sim absolutamente, choramingona. Os humanos não estão destinados a despertar antes do meio-dia e se quiser que seja agradável, então começa a me falar. - Joley deslizou no assento do passageiro e cruzou os braços. -É como um bebê. Ponha o cinto de segurança. E para sua informação, não são três da manhã, ocorre que são seis e meia. Joley deu de ombros. -É igual. Se quiser cooperação, volta ao ardente russo. É o único tema digno de discutir. -Me acredite, não vale à pena falar dele. Não se apaixone por ele tampouco. Joley soprou. -Eu não me apaixono pelos homens. Fujo tão rápido e longe como posso. Não quero olhadas enjoativas como Kate e Sarah. - estremeceu-se. - A idéia é categoricamente horrível. - O brilho zombador decaiu em seus olhos. - Por que está preocupada com a casa? -Deixou-lhe entrar. Ontem à noite. Todas nós acendemos as velas e realizamos o ritual para proteger a casa, mas ele foi capaz de entrar. Inclusive Tia Carol ajudou e ela é muito poderosa. Elle, você e Hannah podem todas lançar feitiços e ainda assim a casa lhe deixou entrar. Joley jogou um olhar de relance a Abigail e logo apartou a vista. Esclareceuse garganta. -Ele? O russo? - Joley manteve o tom casual. -Sim, é obvio que o russo. - Abbey admitiu através dos dentes apertados. A névoa ia à deriva como com freqüência fazia cedo pelas manhãs e se posava espessa na retorcida estrada. Conduziu devagar, sem arriscar quando tinha vontades de correr para afastar-se das implicações de que sua casa aceitasse ao agente da Interpol. - A casa lhe permitiu entrar depois que todas juntas lançássemos o feitiço. Nossa magia não está funcionando. -Essa poderia ser uma explicação, - aventurou cautelosamente Joley. Os dedos de Abigail se apertaram ao redor do volante até que seus nódulos ficaram brancos. -Essa é a única explicação. Terei que fazer saber às demais que a casa não é segura. -A casa não mantém todo mundo fora, Abbey. Os noivos de Sarah e Kate podem ir e vir com as portas fechadas. Não recorda como a grade fechada com cadeado se abriu de par em par para Damon a primeira vez que viu Sarah? -Conheci Aleksander antes de que a profecia começasse a desdobrar-se e em qualquer caso, Matt e Damon são os prometidos de Sarah e Kate. Isto é


46 completamente diferente. - Abigail fulminou com o olhar Joley, desafiando-a a seguir com a conversação. -Hmmm. - Joley estudou suas unhas. - Acredito ter ouvido o rumor de que estava comprometida com esse homem. -Se cale. Não posso conduzir se me distrai. Joley riu enquanto entravam no caminho que conduzia ao velho moinho. -Parece estar dirigindo bem enquanto fala. Caso me pergunte isso, lógico. -Coisa que não fiz. - Abigail estacionou o carro tão perto do velho edifício como pôde. O moinho tinha estado à venda durante anos, até que sua irmã tinha decidido recentemente comprá-lo. A construção se estendia sobre Sea Lion Cove e tinha sido uma vez um pequeno mas próspero negócio que escondia um negócio muito mais lucrativo relacionado com o contrabando. O moinho tinha uma grande história por trás. Kate Drake queria preservar tanto do velho edifício como fosse possível quando o renovasse para sua livraria e cafeteria. Uma vez as renovações fossem completadas, um grande terraço e uma parede do chão ao teto de vidro de cara ao oceano ofereceriam uma vista impressionante da acidentada costa da Califórnia. -Alguma vez desejou ser normal, Joley? - Perguntou Abigail enquanto tirava uma bolsa pesada do carro. Joley deu de ombros, examinando a face de Abigail cuidadosamente. -O que é normal, Abbey? Temo-nos umas às outras e isso é o que realmente importa na vida. Temos a nossas tias e a nossos pais e primos. Nossa família é diferente, sim, e talvez paguemos um preço por nossos dons, mas o bom peso mais que o mau. - estendeu-se para o assento traseiro e tirou a outra bolsa. -Leva uma pesada carga há algum tempo. Não crê que é hora de compartilhá-la conosco? Abigail apartou o olhar dela, seu corpo rígido pelo rechaço. -Não estou pronta ainda, Joley. -De acordo, Abbey, - disse Joley. - Só recorda que lhe queremos e não importa quão mal seja, encontraremos uma forma de ajudar. Abigail piscou contendo as lágrimas. -Dava minha magia por certa durante muito tempo, Joley. Isso não se faz. Não creia que pode simplesmente se sentir cômoda com ela e utilizá-la sem pensar. - Girou a face longe de sua irmã por volta do mar. - Ouve-os? Joley tinha um milhão de perguntas mas apertou os lábios e assentiu. Abigail lhe parecia frágil. Muito frágil. Ia ter que falar com Libby e ver se ela poderia ajudar a aliviar qualquer que fosse o problema que levava Abigail nas costas. De repente Joley sentiu muito medo por sua irmã. Tragou-se qualquer pergunta e procurou algo para dizer que aliviasse a repentina tensão. -Acredito que os ouço, Abbey. Lembro todo seu trabalho, escuta durante horas com auriculares e explora sua metragem de vídeo todo o tempo, mas nunca prestei muita atenção a isso. Soam como estalos e assobios, verdade? Abigail abriu a porta do moinho. -Cada som se usa por uma variedade de motivos. Todos parecem ter um assobio como assinatura bem como seu nome. Acredito que isso identifica ao indivíduo e chamam uns aos outros utilizando esse assobio específico. Muitos dos


47 investigadores acreditam, como eu, que se comunicam a uma escala muito maior do que pensamos em um primeiro momento. -Têm sua própria língua? - Joley tinha o que dizer. Abigail estava tão dedicada aos golfinhos e a sua investigação que seu tom se aliviou grandemente. -Acredito que sim, mas certamente não se parece em nada a nossa língua. -Sempre parecem tão inteligentes e felizes. Sempre que os vejo tenho este impulsiono louco de me inundar no oceano e me unir a eles. E você me conhece em relação ao oceano. -Só tenha presente que são selvagens, Joley. Os golfinhos podem ser agressivos e certamente poderiam fazer mal a alguém nas circunstâncias adequadas. Muito freqüentemente as pessoas interpretam mal o que um golfinho faz simplesmente porque parecem estar sorrindo. -Bom, na realidade não estou planejando mergulhar no mar com eles, confessou Joley. - Só quis dizer que o impulso está ali. Sei que você o faz, mas eu gosto de guardar a distância com algo que pesa mais que eu. Abbey sorriu abertamente para sua irmã. - Isso inclui os homens? -Endemoniadamente certo. Desde que essa grade se abriu e a profecia começou a desdobrar-se nem sequer tenho encontros. Nem sequer olho! Eu não. Não. Nem pensar, - declarou Joley. Observou como Abigail abria uma segunda porta que conduzia abaixo até o porão. - Não foi aqui onde o terremoto rompeu o selo e permitiu que aquele espírito escapasse? -Tremeu. - Realmente necessito uma xícara de chá. -Todo este tempo acreditei que você fosse a aventureira. -Sou muito aventureira depois do meio-dia, - indicou Joley. - E uma verdadeira rocha depois da meia-noite. Abigail riu. -Cuidado com estes degraus; são velhos e estão desmoronando. Kate me disse que há um lugar onde o túnel se derrubou, mas que poderemos passar através dos escombros. -Que excitante, - disse Joley, pondo os olhos em branco. - Deve-me um grande favor por isso - Desceu pela escada do porão e esperou enquanto Abigail procurava a entrada ao túnel que conduzia à baía. -Alguma vez conheceu algum homem com o que considerasse casar? perguntou Abbey. Joley sacudiu sua cabeça. -Não é provável. Nenhum poderia me suportar. Tenho muito mau humor. Abbey riu. -Está realmente louca. Não deixa que ninguém lhe de ordens, mas é uma das pessoas mais agradáveis que conheço. Joley lhe soprou um beijo. -Obrigado, Abbey, mas me ocorre que não conhece muita gente... de fato, foge das pessoas, por isso esse não é testemunho válido. -Eu não fujo das pessoas. Eles fogem de mim. - Abigail encontrou a entrada e a atravessou, enrugando o nariz. - Aqui cheira a mofo e a pescado. E necessitaremos de uma lanterna.


48 -Trouxe uma arma, não uma lanterna. - Joley chocou com sua irmã quando Abbey se deteve procurando uma lanterna em sua bolsa. - Deveria ter sabido que estaria preparada. -Naturalmente. -As pessoas não fogem de você, Abbey, - disse Joley. Jogou uma olhada nervosamente ao túnel, logo respirou fundo e seguiu Abigail. -Sim, fazem-no. Não o faria você se não fosse minha irmã? Recorda todos aqueles anos na escola quando não podia controlar de todo meu dom? Tudo o que tinha que fazer era utilizar acidentalmente a palavra verdade e todos os que estavam ao meu redor diziam a verdade. Os meninos cuspiam todo tipo de coisas que não queriam que se soubessem. Quereria arriscar seu mais profundo e escuro segredo? Olhe o que passou quando Inez me recrutou para o comitê do desfile de Natal do ano passado. Causei um escândalo enorme. -Isso não foi tua culpa. Aquele espírito tinha escapado e causava estragos em todos nossos dons. Utilizou a palavra verdade em uma habitação e o amante de Sylvia Fredrickson confessou que estavam tendo uma aventura. -Foi tão horrível. Dois matrimônios se romperam por isso. E Sylvia me esbofeteou diante de todos. -Deveria havê-la posto verde - Joley escolheu seu caminho por entre os escombros que havia na estreita escada de pedra. - Está molhado e mofado aqui embaixo. -Eu fiz que acontecesse. Ela foi à escola conosco e sabia muito bem o que fiz, - disse Abigail com um pequeno suspiro. – Na realidade não a culpo por zangar-se. -Era ela a que estava atada com um homem cuja esposa estava a ponto de dar a luz. Sylvia vai sempre atrás do marido de alguma outra - respondeu Joley com um pequeno bufo. - E se ela foi a única que esbofeteou você, já pode sentirse afortunada. -Está molhado aqui embaixo. - Abbey dirigiu a luz à parede do túnel. A maior parte era rocha, mas havia uma seção onde a água se filtrava e gotejava sobre a escada, fazendo-as escorregadias - Vigia seus passos aqui. Parece como se alguém tivesse caído. Joley se esticou. - O que quer dizer com que alguém caiu? Katie e Matt não estiveram ainda aqui embaixo. Matt ia fechar. Pensou que era perigoso manter a escada. Veio ele aqui embaixo? -Pode ser ou os russos estão utilizando esta rota de contrabando para colocar algo no país, - disse Abbey. -Isso não tem graça. Talvez devesse tirar a arma de minha bolsa. -Na realidade, não brinco. - disse Abigail, detendo-se para estudar os sinais de derrapagem no barro lamacento. - Isto ocorreu recentemente. Teremos que perguntar a Matt se esteve aqui embaixo, o que é completamente possível, assim não entre em pânico. -Eu não ia sucumbir ao pânico. - protestou Joley. - Ia tirar a arma. Na realidade eu não gostei como soou o de capanga de primeira. Ninguém esteve nesse túnel em anos, Abbey. E ninguém tem acesso à baía. Não acredita que passem contrabando por aqui, verdade?


49 -É uma possibilidade que temos que considerar. -Genial, Jonas vai converte-se no ditador louco e tirano. Ficará louco porque foi a baía, Abbey. -Que quer dizer, que eu tenha ido à baía? Você está comigo. Joley riu. -Jonas não espera que eu exiba nenhum bom senso. Eu fui o bastante preparada para cultivar cuidadosamente minha aparência de ser absolutamente tola. Você, entretanto, tem todos esses impressionantes informes atrás de seu nome e escreve artigos em publicações e geralmente se espera que tenha um tremendo bom senso todo o tempo. - Examinou atentamente as marcas. -Matt é um homem grande. Acredita que ele possa ter feito isso? -É impossível dizê-lo. - Abbey encontrou o olhar fixo de sua irmã. - Olhe, Joley. Não esperava isto. Acredito que um tiro atingiu um dos golfinhos ontem à noite. Eles arriscaram suas vidas para me salvar e eu tenho que ir à baía e tratar de ajudar, mas você não tem ir. Por que não volta para casa, chama Jonas e lhe faz saber o que está passando? Não acredito que haja alguém aqui, mas é melhor nos assegurarmos. -Está louca se acredita que vou deixar você aqui, Abbey. Segue se movendo. Sou muito teimosa para ter medo. Fico louca quando pessoas me ameaçam ou alguém a quem quero, já sabe. Digo-o a sério, se mova. Abbey tocou o braço de Joley. -Obrigado, Joley. Não posso abandonar ao golfinho se necessitar ajuda médica. Entraram na baía... gostam da água pouco profunda... e poderei tratá-lo. Outros poucos passos e devemos estar quase na praia. Deixe ir primeiro no caso de ter algo estranho. Quando souber que está tudo bem, chamo você. -Vou junto. Abbey iluminou com a luz o fundo da escada. Era inútil discutir com Joley uma vez tinha decidido fazer algo. E sinceramente, Abigail agradecia sua presença. Seguiu a escada até uma estreita soleira que se abria a uma caverna natural. O teto tinha sido minuciosamente escavado para que se pudesse andar erguido até ganhar a entrada. A luz do sol que se filtrava pela boca da caverna proporcionava suficiente iluminação para que pudessem ver, sem necessidade da lanterna. O som do mar se mesclava com os assobios e gorjeios dos golfinhos. O vento soprava firmemente e as gotas salgadas chocavam contra as rochas ao longo das cavernas. -É uma formosa manhã, - disse Abbey. Joley esfregou o nariz e sorriu abertamente a sua irmã. -Fazia tempo que não via uma assim. Sim, é. - O sol se elevou sobre a água, dispersando raios de ouro e prata ao longo da superfície para formar atoleiros reluzentes na baía, brilhando como convite. - Não é de estranhar que passe tanto tempo no mar. Abbey a agarrou pelo braço antes que pudesse dar um passo fora da caverna. -Vai com cuidado. Vê aquelas pistas no barro? Várias pessoas estiveram aqui recentemente. -Poderiam ter sido crianças.


50 -Talvez sim ou talvez não. - Abbey olhou com cuidado ao redor da baía. A praia parecia deserta. Na água, vários golfinhos saltavam. Alguém a chamou, utilizando seu assobio. - Fique aqui, Joley e me cubra. Joley deixou a bolsa que levava e pegou sua arma da bolsa, completamente disposta. -Tome cuidado, Abbey. E se eu gritar, se atire ao chão. -Farei. - Abbey recolheu ambas as bolsas e percorreu rapidamente a areia grossa. Examinou cada rincão e fenda, cada buraco oculto que pôde ver enquanto se aproximava da beira da água. Uma vez ali, permitiu que seu olhar viajasse para cima para examinar o escarpado sobre a baía. Quando Abigail certificou que estava sozinha na baía, fez sinal a Joley e esperou que se unisse a ela. Joley olhou com respeito às cabeças lisas balançando-se no oceano. -Nunca tinha visto tantos golfinhos. -São formosos, não é? - Abbey entrou na água pouco profunda, assobiando brandamente. - Vigia a caverna e os escarpados, Joley. Vou chamar o Kiwi. Lançou um último olhar aos escarpados e mar adentro, em busca de um navio que pudesse estar camuflado entre as rochas assegurando-se de que não tivessem espectadores. Levantou o braço e fez um pequeno movimento circular e logo abaixou sua mão enquanto repetia um estranho assobio agudo. - Kiwi vem a caminho. O grande golfinho macho nadou até as águas profundas, até que esteve ao redor de um pé de água. Abigail andou o resto do caminho até ele. Joley conteve o fôlego. O golfinho era enorme de perto e de aspecto muito poderoso. Abigail lhe falou docemente e passou as mãos sobre o golfinho enquanto lhe examinava a ferida. -Está mau, Abbey? - Chamou-a Joley. Tinha uma vista clara do olho do golfinho. Era definitivamente inteligente e pareceu ficar nervoso quando olhou Joley. - Não gosta que eu esteja aqui, verdade? Abbey fez rodar o animal brandamente no fluxo para conseguir um melhor ângulo da ferida. -Não é isso. Sente-se muito vulnerável. Parecem ser capazes de saber quando estamos todas juntas assim duvido que esteja aborrecido por que esteja aqui. Estive tratando de averiguar como sabem os golfinhos quando nos estendemos em busca uma da outra. -Energia? Nós podemos sentir a energia, possivelmente eles possam. -Pode ser. - Refletiu Abigail. - As feridas de Kiwi não são muito graves, mas necessitará dos antibióticos que trouxe. A bala roçou a pele de minhas costas e ombros e a ferida de Kiwi se parece muito à minha. Ambos tivemos sorte. -Libby quererá dar uma olhada em você esta manhã, Abbey. Ela não vai deixar seu tratamento a um paramédico. -Não quero que esbanje sua força em mim. Dói um pouco, mas nada que não possa dirigir. Minha perna está pior. -Realmente te mordeu um tubarão? -Não! É obvio que não e não foi um ataque. - Abbey abriu rapidamente sua bolsa e pegou um bálsamo espesso e um frasco de pílulas. - Um tubarão tem a pele áspera e acredito que só me roçou enquanto fazia uma passada.


51 Joley fez uma careta. -Não fale disso. Sempre tenho medo quando vai nadar com os golfinhos. Estava acostumada a ter pesadelos sobre alguma criatura marinha te arrastando a uma tumba marinha. -Seriamente? - Abbey riu. -Eu sempre amei o mar e o encontro uma maravilhosa terra de fantasia. É interessante e diferente cada dia. Eu gosto que haja um aspecto de perigo que me faz estar alerta todo o tempo. -Abbey, o que está fazendo? - Joley observava enquanto sua irmã lubrificava uma espessa massa sobre a ferida e depois se agachava na água perto da cabeça do golfinho. -Terei que tratá-lo várias vezes para me assegurar de que não se infecte. Joley é importante que não repita os sinais manuais que utilizei para lhe chamar ou os assobios e gorjeios. Ele confia em mim, mas se esta confiança se rompesse, não seria capaz de ter nenhuma espécie de relação com ele, nenhuma amizade. -Não vou romper o código de silêncio - disse Joley - Mas tenho que me opor a que ponha sua mão nessa boca de golfinho. Isso tem mais dente que um tubarão. - Seu alarme se estendeu rapidamente quando observou a mão de Abigail desaparecer na boca aberta. - O que faz? -Estou dando antibióticos oralmente. Necessita uma combinação. Não se preocupe. -Por favor, tira sua mão dai antes que eu saia correndo e grite ou faça algo igualmente estúpido. Realmente me assusta, Abbey. Preferiria ter ao assassino russo tentando algo. -Está sendo tão crédulo e bom - disse Abigail. - Verdade, Kiwi? - Indicoulhe por gestos que tinha terminado. - É um golfinho muito estável. São todos diferentes. Alguns deles são muito mais nervosos e inquietos. Estou lhe enviando de volta a mar aberto, mas o mais provável é que fique em águas pouco profundas. Não quero que ninguém os veja e os incomode. Os meninos podem ser tolos e às vezes cruéis. Realmente me desgostaria que alguém lançasse paus aos orifícios nasais. Aconteceu em alguns lugares que estive e pareço não ser capaz de controlar meu gênio. Joley riu brandamente. -Não teria que preocupar-se. Se diz a Hannah, só terão que fazê-lo uma vez e ela faria algo espetacular para lhes ensinar a lição. Seriamente, Sylvia até tem essa erupção recorrente no lado esquerdo da cara. Aparece-lhe em forma do rastro de uma mão cada vez que flerta. Abigail pôs os olhos em branco. -Hannah não eliminou isso? -Diz que só Sylvia pode fazê-lo fazendo o "correto". -E isso o que é? Não pode evitar flertar. A paquera a define. -Acredito que Hannah espera que se desculpe com você. -O mundo se acabará primeiro. Sylvia nunca se desculpou com ninguém que eu recorde, e fomos juntas ao jardim de infância. - Abigail olhou aos outros golfinhos quando se moveram ao redor de Kiwi. - Quero conseguir um par de imagens deles com ele. Eles sabem que lhe pus algo nas feridas. - Tirou a câmara de sua bolsa. – Se importa que fiquemos um pouco mais, Joley?


52 Joley sacudiu a cabeça, com um pequeno sorriso em seu rosto. Abigail já disparava longe com a câmara, captando imagens como uma louca, fazendo que sua tia Carol estivesse orgulhosa, entrando na água até a cintura para conseguir melhores fotografias, inconsciente da água fria que molhava seu jeans. O vento chegava desde o mar e as gaivotas voaram, dando voltas sobre elas enquanto os golfinhos começavam a formar pequenos grupos e partiam em diferentes direções para conseguir alimento. -Olhe o que fazem. - disse Abigail, obviamente excitada. - Vê como saltam e espiam? Comunicam-se quando começa a caça. Vê como se conduzem ao pescado a um grupo menor e mais apertado? Estão chamando a outros. -Que demônios faz, Abigail? - A voz rompeu o silêncio da manhã, espessa pela ira e um forte acento russo. Abigail quase deixou cair a câmara na água e fazendo malabarismo conseguiu impedir que caísse. Virou-se para enfrentar Aleksander Volstov. Estava muito bonito. Limpo. Com um traje imaculado. No mais mínimo enrugado ou molhado. Inclusive seu cabelo estava penteado. -Bom, como chegou aqui embaixo? Está em uma propriedade privada. -Deveria te sacudir. Tem tanto bom senso como um caranguejo. Joley tossiu delicadamente, ganhando um olhar fixo de sua irmã. -Não dorme alguma vez, Aleksander? - exigiu Abigail. - Jesus, Joley. Quão boa é com essa arma? Por que não lhe disparou simplesmente? Trouxe-lhe por uma razão e não foi contemplar a paisagem. Supunha que estava de guarda. Pensei que dispararia a todo aquele que se aproximasse. -Tem uma arma? - exigiu Aleksander, seu acento tão marcado que apenas lhe entendia. - Estaria dormindo se não tivesse que me preocupar porque ignora cada advertência que te dou. Maldita seja, Abbey, que demônios passa com você? Tem desejo de morrer? -Não, tenho uma arma. - respondeu ela tranqüilamente. - Tivemos muito cuidado. O que esperava que fizesse? Agachar-me em um buraco porque você diz que algum capanga poderia me disparar? Tenho um trabalho importante para fazer. Tenho uma vida aqui. Tenho duas irmãs que estão a ponto de casar-se e planejamos boda dupla. Eu não escapo por meu próprio pátio traseiro porque alguém possa me querer morta. Você é agente da Interpol. Prende-o e deixa de molestar-me. -Assim se fala, Abbey! - Joley lhe disse. Avançou e ofereceu sua mão. - Sou Joley Drake, a propósito, uma das muitas irmãs de Abbey. Te vi ontem à noite mas não fomos corretamente apresentados. -A cantora. - disse Aleksander. - Ouvi-a na rádio. Sua voz é formosa. -Obrigada. Abbey resmungou. -Por que está sendo amável com ele? É minha irmã. Não deixe que seu encanto a engane. -Eu estava admirando seus ombros e peito mais que seu encanto. confessou Joley piscando um olho ao russo. - Além disso, não ouvi que estava comprometida com ele. -Não estou comprometida com ele.


53 -Sim, está. - disse Aleksander. - Disse-me que sim quando lhe perguntei isso e pegou meu anel. Acredito que ainda o tem. Joley contemplou a sua irmã com os olhos bem abertos. -É assim? Alexander assentiu. -Era uma relíquia familiar. E na Rússia honramos nossa palavra. Ela consentiu em casar-se comigo assim estamos prometidos. Só temos que nos casar. -Definitivamente não era uma relíquia de família, mentiroso. Comprou em uma tenda. E não vamos casar. - corrigiu Abigail. -Por que não? -perguntou Joley. -Porque absolutamente lhe detesto - disse Abigail. - E se segue vindo à propriedade Drake, Sasha, farei que lhe prendam. -Seu noivo vai me prender? - Houve uma clara descida na temperatura da voz de Aleksander. A mudança foi de quente a frio polar. Joley estremeceu. -Eu pensava que você fosse seu noivo. -Sou seu prometido. Harrington é seu noivo. Joley lhe contemplou com uma mescla de choque e horror. Estalou em gargalhadas. -Moço, está avoado. Vendo que vai ser parte da família e tudo isso, me alegro em te pôr a par das coisas. Jonas não é seu noivo. -Não estou achando divertido Joley- disse Abigail. - Não lhe diga outra palavra a menos que seja para escoltá-lo fora da propriedade. De fato, é inútil como guarda-costas. Dê-me a arma. -Abbey, céu- disse Joley - tenho que recordar você que não acertou nenhuma só vez em todas as sessões de prática que tivemos? Estava muito ocupada observando as nuvens ou algum estranho bichinho que se arrastava pelo chão. -Bem, agora estou prestando atenção. -Harrington não é seu noivo?- Perguntou Aleksander a Joley, ignorando Abbey. -Jonas? Ele é virtualmente nosso irmão. - disse Joley. - Abigail e Jonas não estão saindo. Ele provavelmente desmaiaria se lhe dissesse que pensava que o faziam. Quer-nos muito a todas e nós lhe queremos, mas não somos exatamente o tipo de mulheres com quem ele sai. -Mas ele sai?- perguntou Abigail, distraída pela idéia. - Com quem sai? -Com você não. -disse Joley. Ela observou a Aleksander. - O que fez a minha irmã para que te deteste tanto? - Olhou fixamente Abbey. -É ele quem a casa deixou entrar Aleksandr suspirou com exasperação. -As casas não deixam entrar às pessoas. A porta de seu balcão estava aberta convidando a qualquer um. Joley sacudiu sua cabeça. -Nossa casa está protegida, Aleksander. Posso te chamar assim? É importante se a casa te deixou entrar na outra noite. -Joley. - A voz de Abigail era uma advertência.


54 Cada vez que estava perto de Aleksander, recordava o gentil que podia ser apesar de seu tamanho, como seu sorriso podia esquentar seus olhos. Não queria recordar nenhuma só coisa boa sobre ele. Ele a tinha feito acreditar que podia se encontrar, que seu talento era tão útil como todos os talentos de suas irmãs. Ele a tinha feito acreditar que ela era adorável, que apesar de todos seus defeitos, ele sempre estaria ali. Ela sabia o que era o amor e se negava a conformar-se com menos. Virou-se se afastando deles e se retirou a seu próprio mundo privado. Desejou estar em seu amado oceano nadando em um mundo de cor e som longe de onde estava agora. Ela ouviu o chapinho das ondas enquanto rodavam brandamente através da caverna como um convite. Ouvia o grito das gaivotas e o bate-papo dos golfinhos. O vento beijou sua face quando levantou a vista para as nuvens que foram à deriva. A água fria a golpeou no rosto. Sobressaltada, baixou o olhar para o golfinho que estava a tão só uns pés dela. Ele cuspiu água uma segunda vez. Foi consciente dos frenéticos estalos, dos corpos golpeando a água em vez de estar caçando seu alimento como deveriam. Golpeou com força seu ombro contra Aleksander, gritando a Joley enquanto o fazia. Aleksander era o objetivo maior e ela tinha que cobri-lo. Ele devia ter reconhecido a advertência também porque nesse mesmo momento seu braço se virou para empurrar Joley à água também. Quando o mar se fechou sobre eles, Aleksander tinha rodado para cobrir às mulheres com seu corpo maior.

Capítulo – 5 Aleksander sentiu o impacto de uma bala em suas costas. Tinha posto um colete a prova de balas, mas o golpe foi duro e o empurrou contra a areia removida. Não tinha tido tempo de tomar fôlego antes de mergulhar e duvidava que algumas das Drake tampouco o tivessem tido. Abigail segurava a manga de sua jaqueta para que seguisse seu exemplo. Ela conhecia a baía melhor que ninguém e tinha que confiar em seu julgamento. Diante dele, Abigail nadava com golpes fortes e estáveis para águas mais profundas, movendo-se entre os golfinhos para ganhar as rochas. Os pulmões lhe ardiam e profundamente em seu interior, a raiva era uma entidade viva e que respirava. Tinha muitos inimigos, mas ter a alguém disparando tão perto de Abigail era intolerável. Abigail assinalou para as formas escuras diante dela e tentou parar para alcançar Joley. Aleksander arrastou Joley para as rochas e manteve um braço firmemente ao redor de Abigail. Ela não ia afastar-se dele e tentar algo tão heróico e estúpido como atrair o fogo enquanto ele se escondia. Arrastando ar a seus pulmões, manteve a cabeça encurvada.


55 -Eles acertaram alguma bala? -Não. - disse Joley, - E consegui agarrar a arma. As ondas eram mais fortes, empurrando-os contra as rochas, assim Aleksander se aprumou e sustentou às duas mulheres longe dos cantos rodados gastos pela água. -Não podemos ficar aqui. A força das ondas vai nos esmagar. - Todos notavam a roupa pesada. A única coisa que tinham a seu favor era o fato de que o canal era relativamente pouco profundo. – disse Aleksander Abigail fez um gesto de assentimento com a cabeça. -Há uma série de cavernas logo ali. - Ela assinalou para o lado norte da baía. - A entrada é submarina e lhes custará um pouco achar. Sentirão claustrofobia e quererão tratar de alcançar a superfície, mas estará nadando através de um tubo de rocha e não há nenhum modo de conseguir ar. Terão que tomar um profundo fôlego antes que tentemos entrar nas cavernas. -Não podemos ficar aqui? -perguntou Joley. Uma espumosa onda passou sobre sua cabeça, fazendo-a rodar para baixo. Aleksander a puxou para cima antes que se estrelasse contra as rochas. Joley cuspiu água e tossiu, mas estava olhando fixamente os escarpados, mais furiosa que com medo. - Não quero que alguém nos espere em um navio ou sobre os escarpados. Prefiro me arriscar no mar. -Joley… - Abbey limpou a água salgada da cara, sentindo a rebelião e relutância de sua irmã. Joley era muito obstinada quando queria sê-lo e esse não era um bom momento. -Aterrorizam-me os lugares fechados- admitiu Joley. – Entro em pânico, Abbey. Nunca serei capaz de fazê-lo. Já foi bastante mau me obrigar a mim mesma a utilizar as escadas do moinho. E se ficamos presos na caverna… -Sinto muito, céu, deveria me haver lembrado, mas as cavernas são mais seguras que a baía. Supõe-se que deve haver um velho túnel que conecta com a escada dos contrabandistas de Kate. Trataremos de encontrá-lo e utilizar essa rota para retornar à estrada principal. - explicou Abigail. - É nossa única possibilidade se estiverem nos escarpados. Somos alvos no mar, Joley. - Não quis mencionar o fato que os grandes tubarões brancos freqüentavam a área, atraídos pela abundância de focas. O oceano era muito áspero, só e frio e esta seção em particular tinha águas muita revoltas. Com os tubarões, as rochas, e a ressaca do mar, dirigir-se para o oceano aberto lhes daria sérios problemas. Tinham que conseguir refugiar-se. Uma onda golpeou Abigail contra a rocha antes que Aleksander pudesse segurá-la. O ar abandonou seus pulmões de repente e elevou os braços, tentando encontrar um lugar onde agarrar-se com os dedos na escorregadia superfície. Imediatamente uma rajada de balas golpeou a rocha. Aleksander a puxou, aproximando-a e fechando seu braço ao redor dela para apertá-la contra seu peito. -Acertaram em você? Ela sacudiu a cabeça, inundando o braço na água fria. O dorso de sua mão picava onde partes da rocha a tinham golpeado. -Não podemos ficar aqui. As ondas são muito fortes. Se esgotará tratando de segurar nós duas, Sasha.


56 Aproximava-se outra onda e se deslizou sob a água, sem dar oportunidade a ser arrastada pela onda que passava. Tinham que mover-se. Era uma loucura ficar apanhados tal e como estavam. Estava furiosa consigo mesma por ter metido Joley naquela confusão. Se algo lhe ocorresse… Abigail não podia pensar nisso. Tinha que conseguir levá-los às cavernas. Aleksander tirou a jaqueta. A roupa lhe empurrava para baixo e tinha que reservar toda sua força para impedir que as duas mulheres fossem golpeadas contra as perigosas rochas. Fez gestos a Abigail para que mostrasse o caminho. -Permanece perto- advertiu ela a Joley. -Estou atrás de você. - assegurou-lhe Joley, mas havia lágrimas em seus olhos. A idéia de nadar em uma pequena caverna e ser incapaz de emergir era mais que aterradora para ela, mas não ia afastar Abigail da segurança. Sem advertência, o vento se precipitou lhes ajudando, dirigindo do mar aos escarpados, uma rajada feroz, uivando de cólera. A água salpicou no ar, vários redemoinhos giravam. Espuma branca coroava as ondas e os escombros do mar foram lançados pelo ar para a terra. As ondas se estrelavam altas contra os escarpados e se pulverizavam para cima como se procurassem uma presa. As gaivotas gritavam, juntando-se no céu desde qualquer direção e começaram a lançar-se como bombas sobre o escarpado, caindo com rapidez, diretamente para baixo, com compridos bicos curvados apunhalando a algo que se movesse no topo. Joley e Abigail intercambiaram um longo olhar. Ambas começaram a sorrir. -Me ponham a par - disse Aleksander, tratando de não ofegar quando outra onda quase golpeou aos três contra as rochas. -Hannah despertou e está magnificamente de saco cheio. - disse Joley. Vamos enquanto nosso atirador está ocupado. -Há um toque definitivamente de Elle nisto. - disse Abbey com grande satisfação. - As gaivotas são coisas de Elle. A Hannah gosta do drama, mas Elle vai pela jugular. - mergulhou, dando patadas fortemente para impulsionar-se e passar do fundo para o lado norte da baía. Joley a seguiu com o Aleksander atrás. Permaneceram em comunicação através do tato. A água estava fria e Aleksander temeu que a hipotermia se instalasse antes que qualquer um deles o notasse. Tanto Joley como Abigail tremiam continuamente embora nenhuma parecesse notá-lo. Ele sabia que a adrenalina que bombeava através deles lhes dava uma falsa sensação de calidez. Sentiu o roçar de um corpo maior e foi consciente de que os golfinhos estavam perto enquanto nadavam ao longo de um estreito canal. Quando estava seguro de que seus pulmões arrebentariam, Abigail se elevou para a superfície e tomou uma profunda baforada de ar. A ansiedade dela foi clara quando recordou a sua irmã. Os olhos de Joley estavam totalmente abertos com horror. Aleksander a segurou. -Me escute. - Ele utilizou sua voz amável. - Pode fazê-lo. Quando sentir pânico pela falta de espaço, se concentre em alguma outra coisa. Utiliza a letra de canções ou poesia. Faz uma canção e recorda que não está sozinha. Eu estarei tão perto que poderei tocar você.


57 -Irei diante de você, Joley. - tranqüilizou-a Abigail. – Eu nunca te abandonaria. Joley os avaliou por um momento, logo assentiu com a cabeça. -Estou preparada. -Um grande fôlego - advertiu Abigail e uma vez mais se inundou. Aleksander empurrou Joley diante dele, compelindo-a através das frias águas da caverna submarina. Seus ombros roçaram a parede quando passou pela entrada. Abigail tinha tido razão ao dizer que poderiam sentir claustrofobia. Cada instinto lhe dizia que subisse à superfície. Podia sentir a rocha sobre sua cabeça e a ambos os lados. Pior ainda, não podia virar. Se ele se sentia assim, sabia que Joley devia estar passando um inferno. Roçou-lhe a mão ao longo da perna várias vezes para tranqüilizá-la. Concentrou-se em assegurar-se de que ela passasse através das escuras águas. Abigail era consciente de que o tempo corria ao contrário. Tinham estado na água muito tempo e seu corpo se voltava languido. Joley raramente nadava no oceano e se cansaria facilmente. Abigail se impulsionou, tocando as paredes do túnel para orientar-se e emergir no pequeno interior da caverna ao fim. Sua cabeça saiu à superfície e ofegou em busca de ar inclusive enquanto estendia o braço para puxar Joley para cima. Joley tossiu e se aferrou a Abigail enquanto Aleksander se unia a elas. Ele ajudou ambas a saírem da água. Estava tão escuro que tiveram que medir o caminho até a beira da água para empurrar-se até as rochas secas. Por sorte, sem o vento constante, estava um pouco mais quente na caverna mas Aleksander estava preocupado por ambas as mulheres. Estavam tremendo incontrolavelmente. -Temos que lhes levar a algum lugar mais aquecido. - disse ele. Necessitamos de luz para ver o que fazemos. -Estava acostumado a ter uma tocha na parede norte. - disse Abigail, os dentes batendo. - Havia um acendedor guardado abaixo dela, na terra, no chão, para qualquer mergulhador que utilizasse a caverna. Ainda poderia estar ali. Aleksander apalpou ao redor até que suas mãos encontraram a tocha. Na base estava o acendedor. -Alguém mais conhece esta caverna? - Ele acendeu a tocha para iluminar a pequena gruta que o oceano tinha esculpido das rochas. -Só alguns mergulhadores e historiadores aficionados. Não estive aqui em aproximadamente cinco anos, não desde minha investigação sobre os golfinhos nesta área. - Ela esfregou com as mãos os braços de Joley para tratar de lhe dar algum calor. - Nunca utilizei a escada daí, mas sei que o túnel estava intacto faz cinco anos. -Como é que sou quão única que não sabe estas coisas? - perguntou-lhe Joley. - Cresci aqui.. qualquer um acreditaria que saberia coisas como cavernas ocultas. -Estava muito ocupada cantando, o que é boa coisa já que tem uma formosa voz. -assinalou Abbey, chutando as pequenas rochas já que estava preocupada que Joley pudesse tropeçar. - Aqui, Sasha. Pode trazer a luz? -E você passava todo o tempo no mar. - disse Joley. - Aleksander, obrigada por me ajudar na água. Eu não gostei nada de não poder ver. Por um momento


58 pensei que teria um ataque do coração e então tocou minha perna e tudo voltou a estar bem. -Alegra-me ajudar. Abigail caiu no silêncio, olhando diretamente abaixo a algo que Joley não podia ver. -Aleksander. Será melhor que dê uma olhada nisso, porque acredito que é real e não quero tocá-lo. Ele chegou a seu lado, real e sólido, seu corpo roçando o dela. -O que é Abbey? - Seu braço deslizou ao redor dela e a colocou sob seu ombro. - Está congelando. -Tem posto um colete. -O qual é boa coisa, se não estaria morto. Ela girou a cabeça bruscamente. -Acertaram-lhe? Onde? Deixe-me ver. A ansiedade na voz dela fez que lhe desse um tombo o coração. -Não é nada, baushki-bau, uma contusão, não mais. O que encontrou? -Não sei. Dê uma olhada. Aleksander se agachou para examinar o colar que pelo visto tinha caído em um descuido e agora estava meio enterrado entre os escombros. Abigail aproveitou a oportunidade de observar suas costas. Definitivamente havia provas de um buraco de bala no colete que tinha posto. O coração quase lhe saltou fora do peito. Pressionou uma mão sobre o pequeno buraco e olhou Joley. -Sinto muito, céu, nunca deveria te haver pedido que viesse comigo. -Está de brincadeira? A tia Carol tem razão. Esta é a aventura de minha vida. Necessitamos fotografias para pôr em nossos álbuns! - Joley sacudiu seu cabelo molhado e as arrumou para sorrir através dos dentes batendo de frio. Com que freqüência assassinos russos de primeira tentam te matar? -Não pode ter sido Prakenskii, - Disse Alexander enquanto tirava com cuidado o colar dos escombros e o levantava reverentemente. Joley colocou uma mão no quadril. -Não mate a diversão aqui, Aleksander. Estou tratando de ver o lado positivo. -Está ficando azul, Joley. Ponha-se em movimento. - disse Abigail. -Por que não pôde ser Prakenskii? Quanta gente está correndo por aí tratando de nos matar? -Evidentemente mais de um. - Aleksandr soava vago. Distraído. - Não foi Prakenskii ou estaríamos todos mortos. -É bom saber - disse Joley. - Quero ir agora. Tive suficiente drama para todo o dia. Nem sequer tomei uma xícara de chá ainda e pessoas já estão disparando. Encontrem a escada porque não quero nadar de volta por esse escuro buraco. -A entrada está aí. - Gesticulou Abigail, mas sua atenção estava no Aleksander. - Justo mais à frente, Sasha. O que é? Essa coisa é real, verdade? -Sim. - Aleksander soltou o fôlego devagar, baixando a vista para o pedaço de história que tinha em suas mãos. - Ao menos acredito que o é. Acredito que é um colar que esteve desaparecido durante anos. Em março de 1917 o Czar Nicolas II abdicou do trono do Império russo e um governo provisório foi colocado


59 em seu lugar. -A reverência se estendia a sua voz. -O czar, sua amada, a Imperatriz Alexandra Feodrovna e seus cinco filhos foram deportados a Sibéria. Dizia-se que tinham uma pequena coleção de jóias que o czar tinha guardado para sua esposa. Em 1918 a família inteira e quatro de seus criados mais fiéis foram executados em segredo. -Claro, é obvio que ouvi a história. - disse Abigail, sua nuca começava a arrepiar-se. Ela e Joley intercambiaram um olhar longo. - O que tem que ver essa historia com este colar? Aleksander se endireitou, com as pesadas jóias em suas mãos. -Há rumores que Nicolas tinha encarregado mandar fazer um colar muito especial para Alexandra antes de suas bodas. De fato, lhe tinha rechaçado porque se havia sentido menos que bem-vinda na Rússia. O colar foi feito só das mais perfeitas e estranhas pedras e pretendia demonstrar a Alexandra o muito que o czar a amava e admirava. -É esse certo? Ele deu de ombros. -Até agora, a única prova que tinha visto alguma vez que o colar existia foi uma pequena pintura. E essa pintura foi roubada de uma coleção faz aproximadamente quatro anos. Havia muitos rumores que o colar surgia aqui ou ali, mas em realidade ninguém pôde encontrar nunca a peça. Não tem nem idéia de quantos tesouros nacionais foram extraídos de nosso país. Pedaços de nossa história que pertencem a nossa gente. - Sacudiu a cabeça e voltou para olhá-las. -Estávamos no rastro de obras de arte. Se isto for autêntico, é um achado além do que alguma vez sonhei. Este é um tesouro inestimável. -Mas como pôde chegar a esta caverna?- perguntou Abigail. -Boa pergunta. - As duas mulheres trementes captaram a atenção de Aleksander - Me perdoem, devemos lhes conseguir um lugar quente. -Teremos que agarrar a tocha porque não temos uma lanterna. - disse Abigail. - Vamos, Joley, só um pouquinho mais e estaremos quentes. Joley seguiu sua irmã à entrada da escada. -Quer que suba isso?- Os degraus estavam recortados no escarpado mesmo, muito estreitos serpenteavam para cima na rocha. Estava escuro e o teto pingava em vários lugares e soava sinistro. Retrocedeu, sacudindo sua cabeça. Enfrentarei ao assassino. Abigail pôs seu braço ao redor de Joley. -Sei que você não gosta dos espaços fechados, mas a escada deveria conectar-se em algum ponto com a escada subterrânea de Kate e nos conduzir ao porão do velho moinho. -Abbey pode mostrar o caminho e eu estarei atrás de você. -tranqüilizou Aleksander a Joley. -Cantarei uma canção russa para você. - Riu brandamente. Uma canção de ninar é tudo o que sei cantar. Joley respirou fundo e assentiu. -Na realidade a maior parte do tempo não sou tão medrosa. Só tenho este problema com os espaços fechados. -Ninguém pensa que seja uma medrosa, Joley- disse Abigail. -Terminemos com isto. Hannah e Elle terão chamado Jonas e ele perderá a cabeça nos escarpados pensando que estamos mortos ou afogados. - Ela iniciou a ascensão


60 pelos escarpados degraus de pedra, sustentando a tocha com o punho de Joley fechado na barra de sua camisa molhada. -Se chamar busca e resgate me sentirei fatal. - disse Joley. - Pode imaginar os tablóides? Fariam uma festa. -Não os chamará até que Hannah ou Elle o digam. Elas sabem que estamos vivos. - disse-lhe Abigail. - Sasha, vai cantar ou não? Ele se esclareceu garganta. -Só estava animando sua irmã. A verdade é que não vou cantar diante dela. -Agora seria um bom momento Aleksander- disse-lhe Joley. Ele suspirou. -Farei, mas não o diga nunca a ninguém. Abigail se endureceu para o som de sua voz quando cantava. Anos antes, quando jazia entre seus braços avançada a noite, tinha-lhe cantado com sua rica e maravilhosa voz. Ele sempre cantava em sua própria língua e ela nunca tinha sido capaz de resistir quando lhe cantava. A canção era uma canção de ninar tradicional dos Cossacos e ela sabia que a cantava deliberadamente para fazê-la recordar. Sua voz pareceu vibrar seu corpo e tocar cada terminação nervosa até que arderam lágrimas atrás de suas pálpebras e teve que piscar rapidamente para esclarecer a visão. -Entendo algumas palavras. - disse Joley. - Algo sobre “o sonho de meu bebê, meu formoso bebê', mas então usa essa palavra, essa como chama Abbey. Baushki-bau. O que significa isto? -Não há tradução. É um apelido carinhoso. Freqüentemente a chamo meu formoso bebê também, mas não gosta. Abigail sacudiu a cabeça, não querendo lhe ouvir. Não querendo sentir ou recordar como tinha sido estar com ele. Ser abraçada por ele. Sempre tinha sido tão protetor... E essa tinha sido a maior ilusão de todas. -Tem uma formosa voz. Deveria ter sido cantor. - disse Joley, atônita. - Eu adoraria cantar algo com você. -Será bastante que seja capaz de cantar a nossos filhos para que durmam. Abigail apertou o punho ao redor da tocha. Não teria nenhum menino com ela. Quantas vezes tinham falado de ter filhos juntos? Ele queria uma grande família porque nunca teve uma própria. Nem irmãos nem parentes. Dizia que queria cinco meninos de cada sexo e ela ria e sacudia a cabeça, tratando de lhe convencer de um número muito mais razoável. Tinha que trocar o tema, conseguir que falasse de algo que não tivesse nenhuma implicação pessoal. Ele tinha que partir para onde ela não pudesse lhe cheirar, sentir pele contra pele contra seu corpo tão vividamente. -Nos conte mais sobre o que aconteceu ao colar. Joley apertou o punho na camisa de Abbey, uma silenciosa comunicação de entendimento. Poderia burlar-se de Abigail, mas agora mesmo, podia sentir a dor de sua irmã e queria aliviá-la. Independentemente do que tivesse ocorrido entre Aleksander e Abigail tinha sido terrível e o coração de Joley sentia por ambos. Durante um momento, lamentou não ter o dom de cura de Libby, assim teria podido curar qualquer que fosse a ferida que jazia entre o casal. -Depois de sua execução, os corpos dos Romanov foram conduzidos ao lugar de enterro eleito. Foi um ponto ao norte do Ekaterinburg. Aquela área em


61 particular era sobre tudo zona pantanosa, de turfa e poços mineiros abandonados. Os guardas despojaram os corpos e todos os objetos de valor. Por testemunho dos presentes sabemos que foram encontradas várias libras de diamantes nos corpos. Várias versões da história contam que a imperatriz tinha posto ou tinha o colar em sua pessoa e o tirou algum dos guardas, mas o colar nunca chegou às mãos do governo. Se o encontraram na família, tomaram e o manteve escondido. -Onde esteve todo este tempo?- perguntou Abigail. Sua voz tirante, a garganta estreita e áspera. Mantinha o olhar à frente, não querendo lhe olhar e ver a verdade em seus olhos. Ele a conhecia muito bem, sabia que não havia nada casual em sua reação para ele. -Boa pergunta. Antes de me excitar muito, quero ver se é autentico. Abigail se deteve tão repentinamente que Joley quase tropeçou nela. -Não posso dizer se esta é a caverna... ou se tiver golpeado uma parede e a entrada à escada de Kate está em alguma parte perto. - Passou a luz pela parede de rocha. Joley tremeu. -Encontra-a rápido, Abbey. Aleksander apoiou a mão brevemente no ombro de Joley. -Está aqui, não há dúvida, - disse com absoluta convicção. -Como sabe? - perguntou Joley. Foi Abigail quem respondeu. -Por que alguém utiliza as cavernas abaixo e estas escadas para colocar algo no país. Provavelmente seja o que Aleksander e seu companheiro estavam rastreando. Isso significa que tem que haver um caminho à superfície. -Ela tem razão, Joley, - esteve de acordo Alexander. - Só uns minutos mais e estaremos fora daqui. -Crê que quem nos disparou está ali? Abigail riu. -Há uma nota de esperança em sua voz. Não vai ter oportunidade de disparar a ninguém. Estou segura de que Jonas já está no lugar da cena do crime e o pistoleiro já partiu faz muito. Provavelmente Hannah e Elle lhe afugentaram com as gaivotas. -Bom, isso não me deixa feliz. Eu não tive meu chá da manhã e fui conduzida ao frio mar e embutida sob toneladas de rochas sobre minha cabeça. A vingança é a única solução que vai fazer me sentir um pouco melhor. -Por que ninguém recrutou você até agora? - perguntou-lhe Aleksander. Ali, Abbey. A abertura está aí mesmo. Vê como a rocha tem essa greta enorme? Não é natural, retrocede se por acaso houver algum tipo de armadilha. -Eu seria uma grande agente da Interpol - disse Joley. -Sou tão anônima. Lançou um sorriso rápido em sua irmã. -Na realidade Joley seria uma agente estupenda. - disse Abbey com orgulho. - É fria sob o fogo e é muito boa em artes marciais. Ela só pensa no que está fazendo e se é algo difícil para ela faz mesmo assim. - Retrocedeu, aproximando-se de sua irmã enquanto passava os dedos do alto ao fundo da greta. - Há um agarre aqui. -Me deixe passar - ordenou Aleksandr.


62 -Não há espaço - indicou Abigail. - Não podemos trocar de posições. - Seus dedos encontraram uma argola pendurando da pesada laje. Assim que a puxou a porta começou a abrir-se, rangendo e gemendo enquanto o fazia. Ouviu Joley conter a respiração e lhe agarrou a mão. - Quase no moinho de Kate, Joley, prometeu ela. -Mais rocha sobre minha cabeça. Isto parece com uma tumba. - Joley estremeceu. - Acabemos rápido. -Espera, Abbey, não entre. - advertiu Alexander. - Eu irei primeiro. -Entramos pela escada que conduz baixando até o mar do moinho - disse Abigail. - Não crê que se alguém fosse colocar uma armadilha, o teria feito já? -O lugar ótimo é onde está a ponto de pisar. - Sua voz tinha trocado de um tom suave e rico ao aço. - Não podem colocá-la na escada do moinho porque sua irmã ou alguém que estivesse trabalhando legitimamente poderia resultar ferido e haveria uma investigação. Um mergulhador poderia descobrir a caverna e subir as escadas para ver quanto sobe nos escarpado. Esta é a única zona que precisam proteger. Esta é sua rota de escape e o caminho à estrada principal por onde podem transportar facilmente o que seja que estão entrando no país. Abigail se apertou imediatamente contra a parede. -Joley, pode se encolher e ficar pressionada contra a parede para que Aleksander tente passar? -Genial - resmungou Joley. - Justo tinha que ser um homem grande com ombros tão amplos como o Mississipi. - Ela tentou esmagar-se contra a rocha. Aleksander as arrumou para apertar-se passando murmurando suas desculpas. Agarrou Abigail pelos ombros e tratou de deslizar-se por diante. No momento em que o corpo dela esteve aprisionado contra o seu, no momento em que sentiu sua suave pele, tão molhada como estava, cheirando a oceano, seu corpo a reconheceu. Encaixava. Pertencia-lhe. Cada parte dele, corpo e alma, desejava-a. Inclusive a necessitava. Amaldiçoou brandamente, seus dedos se apertaram sobre os ombros dela com força, retorcendo e muito mais capitalista do que esperava. Abigail elevou o olhar para ele, compelida pelo calor e a dureza de seu corpo, embora fosse quão último desejava. A tocha que sustentava iluminava a cara dele, os rasgos tão profundamente marcados, os olhos que tinham visto muitos horrores na vida. Tinha pensado que lhe conhecia, as coisas das que era capaz para impedir que machucassem a outros. Sempre tinha pensado que era uma das protegidas mas ele a tinha sacrificado exatamente do mesmo modo que fazia com outros que utilizava para conseguir informação. Por sua carreira. Para alcançar seu objetivo final. Agora o entendia e o tinha aprendido do modo mais duro. Abigail sacudiu a cabeça, negando a forma em que algo profundo em seu interior se estendeu para ele. Não se deixaria arrastar pela persistente melancolia em seus olhos. Não lhe deixaria tocá-la com sua tristeza, ou sua necessidade, ou inclusive sua terrível solidão. Não deixaria que a grandeza que via nele, persuadisse-a. Sim, ele dedicava sua vida a capturar monstros, a perseguir criminosos. Sabia que tinha sentido da honra e lealdade para sua pátria, mas também sabia que era desumano e tão cruel como qualquer dos criminosos que caçava.


63 Deixou-lhe vê-lo em seus olhos. Não se arriscaria a si mesma outra vez. Nem sua vida nem sua magia. Afastou o rosto. Joley apertou seus dedos ao redor dos de Abigail, chamando sua atenção. A magia as unia junto com seu sangue. O que alguém sentia, sentia-o a outra, e Joley piscou contendo as lágrimas, entendendo que algo traumático tinha ocorrido a Abigail. Abbey lhe apertou os dedos comunicando tranqüilidade. Não podia proteger a sua irmã pequena das fortes emoções que compartilhavam. Isto era quão último queria que ocorresse. Temia contar a suas irmãs o que tinha feito, mas sabia que não tinha escolha. Aleksander se inclinou, seus lábios pressionados contra o ouvido de Abigail. -Estava acostumado a ter uma mente aberta. O coração lhe saltou no peito. -Isso foi faz muito tempo. -Não para mim, baushki-bau, nunca para mim. -Está me fazendo mal.- As palavras lhe escaparam antes que pudesse as deter. Quatro anos era muito tempo e já deveria havê-lo superado, mas estava tudo ali, cada vívido detalhe, erguendo-se quando deveria ter estado faz longo tempo enterrado. Ele deslizou por diante dela sem outra palavra, tomando a tocha de sua mão. -Fiquem aqui até que lhes faça um sinal. Ele voltava a assumir o controle como se o pequeno intercâmbio nunca tivesse ocorrido. Abigail se aferrou a Joley, sem dar-se conta de que o fazia. Ele podia acender e apagar suas emoções à vontade. Por que não tinha visto isso quando tinha estado tão apaixonada por ele? Era um deslumbrante defeito que nunca deveria ter passado por cima. Joley fez um só som de angústia quando a luz da tocha se afastou delas, as abandonando na escuridão. -Não posso seguir com isso. Sinto muito, Abbey. Tenho que voltar. Não posso respirar. Meu coração vai explorar. -De acordo, carinho. Sinto muito. Esqueci-me completamente de sua claustrofobia. -Estou quase na outra escada, - chamou-as Aleksander. - Necessitarei uma ajuda, senhoritas. Joley, por que não canta para mim e assim saberei a que distância estão? -Aleksander - De repente Abigail tinha medo- Não se coloque com nada letal. Tão somente voltemos. O atirador deve haver-se ido já. Podemos nadar. -Quase estou ao outro lado, malutka. - Havia uma clara carícia que se arrastavam em sua voz. Abigail não confiava nele. Dizia as coisas corretas. Distraía Joley, sua voz era sexy e cheia de tranqüilidade e despreocupação, mas ao final, o que importava era que queria seguir a rota dos contrabandistas. Queria subir as escadas e ver aonde foram os contrabandistas. Tinha que recordar que sempre havia um propósito atrás de tudo o que ele fazia. -Sei que odeia cantar, Abbey, - sussurrou Joley-, mas este é o momento justo para fazê-lo.


64 Abigail fechou os olhos. Tinha que ajudar Joley já que ela a tinha colocado em uma situação tão incômoda e perigosa. Abigail tinha medo de usar sua voz. Joley tinha o controle sobre o feitiço de seu canto. Abigail não. Podia causar estragos com sua voz. Cantava aos golfinhos e baleias, a todas as criaturas do mar quando estava sozinha, mas não diante das pessoas. Começou uma das canções originais de Joley, uma melodia suave sobre a dor do coração, porque seu coração não só doía, estava se voltando a romper em pedaços. Podia sentir a intensidade do olhar surpreendido de Joley, mas Joley se uniu a ela, sua voz normalmente forte duvidou momentaneamente, mas agarrou forças quando harmonizaram. Aleksander deixou de mover-se quando escutou às duas vozes unidas cantando. As irmãs Drake tinham um poder incrível. Havia algo compelidor, quase hipnótico nas vozes. As pessoas podia perder-se no som, ser levado a outro tempo e lugar, sedução e paraíso ou tanta perda que alguém queria chorar. Sacudiu a cabeça, tentando romper o feitiço e encontrar a pequena armadilha escondida que sabia que tinha que haver no estreito túnel. -Ah, sim, aqui está, senhoritas. Um dispositivo muito simples mas eficaz. Isto é mais que um sistema de beiral para eles, permite-lhes saber se alguém usou a escada e tem descoberto sua rota. Duvido que a usem mais que uma vez ao mês, possivelmente inclusive menos. A canção se deteve repentinamente. -É perigoso, Aleksander?- Ele preferia que Abigail lhe chamasse pela versão mais íntima de seu nome, porque sabia que quando não o fazia, era porque não lhe estava mantendo a distância de um braço. Como fazia agora. Aleksander estudou o arame disparador. -Absolutamente. É um pequeno arame disparador unido a um pequeno pau. Se lhe dermos uma patada, saberão que alguém usou a escada e sua rota foi descoberta. Com a luz, ambas serão capazes de passá-lo, não há problema. Está seco aqui é completamente de rocha. Estou voltando para vocês. -Não se inteirarão de todos os modos?- perguntou Joley. -O amigável assassino deve saber que passamos por aqui. -Esse não foi o mesmo homem que esteve ontem à noite em sua casa. Conheço seu trabalho. Este é algum outro. - A luz da tocha se derramou sobre elas e Joley respirou visivelmente com alívio. - Quantos inimigos têm as Drake? -Foi em você que acertou o tiro - assinalou Abigail. Seu estômago se rebelou contra a idéia, dando tombos e rodando; pressionou uma mão com força contra ele em protesto. Aleksander não replicou mas sim se deu a volta para mostrar o caminho. O caminho era lento. No túnel tinha menos filtrações e era pura rocha, mas era extremamente estreito e o teto desigual e denteado em alguns lugares. -Cuidado aqui, - instruiu ele. - Passem por cima deste pequeno arame. Sustentou a tocha tão alto como foi possível no confinado espaço. -Vêem-no? Uma vez avistado não era difícil passar o obstáculo e se apressaram através da curta distância. -Nunca admitiu ter uma grande voz, Abbey. - disse Joley enquanto se moviam na pequena seção de escada que cruzava com a escada do moinho. -Tem um tom perfeito. Como eu podia não saber?


65 Abigail não respondeu. Olhou um ponto fixo entre as omoplatas de Aleksander e seguiu andando. - Ambas têm um elemento que não se encontra em outras vozes - disse Aleksander sem virar-se. - Suponho que seja magia. -Sim. - confirmou Joley. - Posso tecer certos feitiços, ajudar Libby a curar, fazer às pessoas mais felizes, esse tipo de coisas É um dom maravilhoso e trato de usá-lo sabiamente. Houve vezes que estive tentada a usá-lo quando alguém me incomodava realmente, mas Abbey nunca tinha cantado nenhuma só nota diante de mim. E minhas irmãs não podem saber de sua voz ou me haveriam dito. – Deu uma cotovelada em Abigail nas costas. - Por que esconde sua habilidade? -Não vou discutir isso - disse Abbey, com voz tensa. Aleksander lhe jogou uma olhada sobre seu ombro. -Parece haver um montão de temas que não quer discutir ultimamente. Sua voz é formosa e não deveria ocultá-la ao mundo. Freqüentemente falamos de nossos filhos e de lhes cantar canções de ninar, mas nunca se ofereceu a cantar para eles. O fôlego de Abigail escapou em uma rajada. A cólera formou redemoinhos para a superfície embora tentasse com força contê-la. -Sim, bom, ambos sabemos que as coisas vão mal com minha magia. Diferente da de Joley, a minha é defeituosa. Ou possivelmente quem a dirige é defeituosa. Nunca me arriscaria a fazer mal a um de meus filhos.

Capítulo - 6 Abigail sabia que não havia esperança de atrasar-se muito mais em seu banheiro. Suas irmãs estavam esperando-a escada abaixo para uma explicação. Pior até, Jonas estava desgastando um caminho no salão com seu andar. Deixando seus cabelos a secar ao ar depois da ducha quente, encontrou sua tia Carol no vestíbulo. Supunha-se que os membros de uma família não tinham favoritos, mas Carol tinha um lugar especial no coração de Abbey. Ela sempre


66 tinha feito sentir a cada uma das garotas incrivelmente especial. Ao longo de toda sua infância sempre as tinha chamado, enviava presentes e cartas, e as escutava. Abigail pôs os braços ao redor de sua tia e a abraçou. -Estou tão contente de que tenha vindo. -Sei que está acontecendo algo mau, Abbey, - disse-lhe Carol. Superaremos isto como sempre fazemos, como uma família. Não sei o que teria feito sem vocês quando Jefferson morreu. Apoiei-me em vocês tremendamente. Espero que saiba que pode fazer o mesmo. E seus pais voltarão para casa se os necessitar. Posso chamá-los por você. -Não, não, não faça isso. Mamãe e papai voltarão para casa antes das bodas. Estão passando um tempo tão maravilhoso juntos e não quero que nada lhes arruíne isso. - Abigail sorriu. - Todos aqueles anos nos criando, em realidade nunca tiveram tempo um para o outro, para estar sozinhos. Sei que ambos estavam desejando viver na Europa durante um par de anos. Nós somos adultas e não necessitamos que eles voltem correndo quando tropeçamos um pouco. Carol a abraçou até um pouco mais forte. -Isto é um tropeção ou uma queda? E me parece que se sente … triste. Dói. Não posso te beijar simplesmente para que melhore como eu gostaria. Abigail sorriu. -Quando te vi voltar para casa, o mundo foi um pouco mais brilhante e a carga mais leve. Estarei bem, Tia Carol. Sou uma Drake. Somos feitas de material forte. -Beijou sua tia na bochecha e começou a percorrer o vestíbulo para as escadas. -Teria estado tão orgulhosa de Joley. Sabe que sente pânico pelos lugares estreitos e agüentou como uma campeã. -É obvio que o fez - disse Carol. - Hannah e Elle despertaram ambas ao mesmo tempo e se apressaram a varanda do capitão. Ao resto de tomou algo mais de tempo, sinto dizê-lo, mas as garotas tinham tudo sob controle para quando chegamos a ajudar. - Ela bateu no ombro de Abigail, lhe recordando vividamente sua juventude. Carol a tinha reconfortado com freqüência quando era uma jovenzinha lutando por controlar sua magia. -Funcionará, carinho, já o verá. Abigail se tomou um minuto para estudar sua tia. Seus cabelos eram de uma rica cor champanha. Havia risada e calor em seus olhos azuis. Como sempre, levava uma câmara ao redor do pescoço. Adorava seu trabalho como assessora do Creative Memories e acreditava incondicionalmente em seu trabalho. Tinha animado a suas irmãs e logo a suas sobrinhas e seus sobrinhos a tomar fotos de cada acontecimento, escrever publicações e preparar formosos álbuns para seus descendentes. Abigail estava bastante orgulhosa de seus álbuns sobre golfinhos e os lugares aonde tinha ido investigar. Tinha descoberto que era uma forma de recordar os momentos divertidos, comovedores e perigosos. Não poderia imaginar Carol sem sua câmara ou seu sorriso e em certa forma tendo-a ali com sua calidez familiar dava a Abbey uma sensação de paz enquanto baixava a escada para enfrentar suas irmãs. Jonas deixou seu passeio quando ela entrou na sala. Suas irmãs ficaram caladas. Joley levantou uma mão e lhe lançou um sorriso deprimido e alentador. Carol trocou de posição aproximando-se mais, pressionando seu braço com dedos suaves.


67 -Trarei uma taça de chá, querida. E não comeu nada. -Está bem, Abbey? -perguntou-lhe Sarah. A mais velha das irmãs Drake, era a líder reconhecida. Abigail assentiu com a cabeça. -Não posso acreditar que me tenham disparado dois dias seguidos. Estou começando a pensar que alguém me tem como inimiga. -Talvez tenha razão - disse Jonas. -Só Sylvia Fredrickson e não posso imaginá-la contratando a um assassino. -Abigail se afundou em uma cadeira junto à Hannah e se inclinou para beijar a sua irmã na bochecha. - Obrigado. Elle e você nos salvaram. -Elle perdeu os estribos - explicou Hannah com um sorriso aberto. -Isso deve ter feito que seja mais fácil identificar a seu atirador, Jonas, - acrescentou felizmente. -E só no caso de está investigando a Sylvia, é mais provavelmente que vá por mim. -Isto é sério, Hannah, - disse Jonas. - Quero que todas me escutem, especialmente você, Abbey. Não tinha que ter ido a Sea Lion Cove depois do que ocorreu ontem à noite e sabe. -Realmente, tenho assuntos que não se podem adiar - corrigiu Abbey. -O golfinho estava ferido por arriscar sua vida por salvar não só a minha, mas também a de Gene. Necessitava tratamento e confiava em mim para dar-lhe. Não posso me esconder em meu quarto só porque algum pirado esteja por aí com uma pistola. -Tenho que estar de acordo com Abbey nisto, Jonas, -disse Sarah. -Não pode deixar que o golfinho desenvolva uma infecção e possivelmente morra por negligência. -Abbey, -disse Jonas, -presenciou o assassinato de um agente da Interpol. -Não lhes vi tão claramente. Até com a lua cheia, estava a uma boa distância, Jonas, -assinalou Abigail . -Se acreditarem que os posso identificar, não posso, assim estão sendo mais que ridículos arriscando-se a expor-se para me silenciar. Bem, a menos que me topasse com um deles, de frente, na rua. Ouvi o nome Chernyshev e já declarei por escrito tudo ao dar o relatório. -Então os viu. -Jonas voltou para o ataque com isso. Abigail deu de ombros. -Eles não têm que sabê-lo. -Sobre o homem de que estava falando Aleksander? -perguntou Joley. Estava seguro de que o homem não estava envolvido mas... - calou-se quando Abigail negou com a cabeça. -Que homem? -perguntou Jonas. Quando nem Joley nem Abbey responderam olhou fixamente a Abigail. -Não sou ninguém para dizer o que fazer… Um coro de risadas afogadas apagou o resto de sua advertência. -Jonas, - disse Kate, -Você sempre nos diz o que temos que fazer. -É tão mandão que resulta incrível - contribuiu Hannah. - É um ditador. -Não pode abrir a boca sem nos proporcionar um decreto viril, -disse Joley. -Aceita-o, Jonas. Nem sequer você pode dizê-lo com cara séria. -Só lhes aconselho quando claramente o necessitam - defendeu-se ele com um pálido sorriso. - Eu não posso evitar que isso seja todo o tempo. Se não


68 estivessem todo o tempo em alguma classe de problema, não teria que lhes dar sermões. -Realmente podia haver detido vários anos atrás, -disse Joley. -Os aprendidos de cor. Só nos dê uma indicação de qual deles é e lhe recitaremos. Meu favorito em particular é no que nos diz que não temos bom senso. -Há, há,há são todas tão divertidas! -Jonas, querido, sente-se - disse Carol. - Está me pondo nervosa com todas essas posturas. Começou a dar ordens às garotas quando tinha dez anos e não parou desde então. Não prestam atenção... verdade, garotas? -Sorriu a suas sobrinhas enquanto colocava uma bandeja carregada de sanduíches na pequena mesa diante delas. - Comam. Há muitos para você também, Jonas. -Aleksander Volstov é um homem muito perigoso. Nem sequer posso começar a dizer para você quão perigoso é, Abbey. - Toda a brincadeira tinha desaparecido da voz de Jonas, lhe deixando mortalmente sério. -Sei que se chama a si mesmo agente da Interpol e comprovei seus créditos, mas lhe posso dizer isso, não começou por esse caminho. - Jonas aproximou uma cadeira a Abigail, tratando de ler sua expressão. -Conhece-me, carinho. Sabe onde estive. Fui Ranger no exército. Estou dizendo isso, posso vê-lo nele. Há poucos homens em minha vida que me tenham assustado, mas este homem é um deles. Abigail retorceu os dedos enquanto percorria a sala com o olhar para suas irmãs. Pareciam alarmadas, tal como ela sabia que ficariam. Jonas poderia ser muito mandão, mas ele dizia a verdade e podia ser perigoso quando queria. Se ele dizia que Aleksander era um perigo para Abbey, suas irmãs brigariam com tudo o que tinham, incluindo a magia, para mantê-la a salvo. Foi Sarah quem perguntou -Por que diz isso, Jonas? -Está em seus olhos. A forma em que ele se comporta. - Jonas manteve seu olhar fixo na Abigail. - A outra noite quando fui a você, com ele erguido sobre você e eu tinha a arma lhe apontando, teve medo de que me matasse, verdade? -Sim, - respondeu ela muito baixinho. -Ele desfrutou que um treinamento extenso. - O que está fazendo na realidade aqui, Abbey? -Não sabia que estava aqui até que lhe vi no porto. Não tenho idéia de quanto tempo leva aqui tampouco. Sei menos que você. - Tentou manter sua voz inexpressiva. Jonas lhe apanhou o queixo em sua mão, inclinando o rosto para cima, estudando as suaves curvas. -Ele pôs este pequeno círculo nítido entre seus olhos, certo? Empurrou essa pistola contra você o suficientemente forte para fazer um machucado e teria apertado o gatilho se tivesse sido qualquer outra pessoa. -Não posso dizer o que teria feito, -protestou Abbey, tirando o rosto de entre suas mãos - e isto é uma mancha. Acreditou que eu tinha matado a seu companheiro. Você também estava bastante aborrecido essa noite. Todos estávamos. -Deveria havê-lo visto examinando o escarpado - disse-lhe Jonas. -Sabia exatamente que procurar. Viu algo que eu não vi. Retornei três vezes para tentar averiguar o que viu que passou por nós. Era como um maldito bruxo.


voz.

69 Havia desgosto consigo mesmo misturado com relutante admiração em sua

-É um bom detetive. Por que não podem trabalhar juntos? -Porque ele não está trabalhando comigo. Ele "teve a cortesia" de me contar que estava na zona. Somente disse que tinha a um homem infiltrado e só me deu uma breve informação de quem ia atrás. Abigail sacudiu a cabeça. -Eu não sei muito mais que você. -Sei que há algo entre vocês, Abbey. Realmente não quero colocar o nariz onde não me chamam, mas não posso, minha consciência não me permite deixálo correr. Ele é da Rússia. O mundo ali é muito diferente ao nosso. Suponho, pela forma em que se move e a forma em que atua, que está treinado em algo um pouco mais letal que o trabalho de polícia. Seu expediente, se a gente tratar de investigá-lo, é um mistério enorme. É certo que ele é um agente de inteligência operativo e eu não gosto dessa idéia absolutamente. -Está sendo melodramático e está fazendo que soe que é um espião. É um oficial de polícia, não muito diferente de você, e se fez indagações sobre ele sabe que é legítimo. -Abigail não tinha nem idéia de por que não podia deixar de defender ao Aleksander, mas as palavras resmungavam de sua boca apesar de ter toda a intenção de guardar silêncio. – Conheço você, Jonas. Se não acreditasse que é da Interpol, estaria em cárcere ou extraditado do país. Tem muitos amigos. -Ele tem mais. Seja o que seja, tem a um montão de gente importante detrás dele. As coisas funcionam de forma diferente em outros países. Antes que se zangue... -sustentou a mão em alto- Sei que viajou muito, mas há lugares onde a polícia simplesmente dispara ao suspeito antes de tentar lhe levar ante um juiz. E há um montão de coisas piores. Vi a homens como Volstov e ele não é só um policial. -Aqui ocorre o mesmo - apontou Abigail. -Mas entendo o que está dizendo e prometo que tomarei cuidado. -Abbey, eu não acredito que entenda o que estou dizendo. - Jonas se recostou e passou a mão pelos cabelos, deixando clara sua agitação. - Os homens como Aleksander Volstov podem estar no mesmo quarto com você e nem sequer saber que estão ali. Podem mover-se rápido e se piscar passa pela calçada em frente cai morto antes que seu corpo sequer golpeie o chão. Desaparecem simplesmente e ninguém é capaz de descrevê-los. Esse é o mundo em que vive e está cômodo nele e sem dúvida alguma, matará para protegê-lo. Poderia resultar ferida. Abigail evitou lhe olhar aos olhos. -Isso sei, Jonas. -O que é ele para você? Como implicada está nesta relação e pode retroceder nela? - Jonas se inclinou mais perto. -Não é só por você por quem me preocupo. Estas pessoas jogam sucintamente. Seu sócio foi assassinado. Em certa forma não penso que ele vá tomar isso com muita tranqüilidade. Esta marca entre seus olhos me diz isso. Conte-me o que sabe dele. Abigail quis negar qualquer relação. Não a tinham. Não a teriam outra vez.


70 -Só sei que era polícia na Rússia e que diz que trabalha para a Interpol. Isso é tudo o que sei. -Maldição, Abbey! -Jonas Harrington! Vigia sua boca nesta casa - admoestou-lhe Carol. - Não quero que pressione Abigail. Não deixarei embora seja o xerife. -Cuidado, tia Carol, ameaçará prender você. - disse Hannah. - A mim sempre está ameaçando. -Com razão. -disse Jonas. Inclinou-se e beijou a bochecha de Carol. - Você nunca prenderia. -Vai nos contar o que acontece em Sea Haven? -perguntou Kate. -Tem algo que ver com o velho moinho? -Sim, nos conte o que acontece, Jonas- disse Joley. -Se for ter que estar olhando sobre os ombros bem podemos saber o que é isso tudo. Jonas suspirou. -Oxalá soubesse o que lhes dizer. Vários meses atrás, Gene Dockins e seu filho menor, Jeremy, acreditaram ver um dos navios pesqueiros locais citando-se com um cargueiro em alta mar. Suspeitaram algo e falaram comigo a respeito disso e eu o notifiquei a guarda - costeira. Gene nunca me disse outra palavra sobre o incidente e, para ser honesto, como com tudo o que sobe e desce por costa não lhe dei mais importância. Logo faz um mês e pouco mais ou menos, Jeff Dockins... -Gerencia o posto de gasolina local, tia Carol - explicou Sarah. -É o filho mais velho de Gene, lembra dele? -É obvio que o recordo querida - disse Carol- É muito bonito. -Tia Carol! - Protestaram as sete irmãs. Carol estalou em gargalhadas e sua mão cavou seus cabelos. -Não sou tão jovem como estava acostumada a ser, garotas. Adulam-me. A minha idade dificilmente vou causar outro escândalo em Sea Haven. -Você nunca causa escândalos, Tia Carol! - Hannah lhe soprou um beijo - só remove as coisas um pouco, o que está bem de vez em quando. -Certamente não vou ganhar nenhum concurso de beleza - disse Carol, mas tenho intenção de renovar minha amizade com uns pouco velhos amigos. Jonas limpou o suor de sua testa, não gostava de suar tanto. As mulheres Drake podiam fazer isso a qualquer homem. Tudo o que precisava era o problema adicional de Carol e suas poções de amor. O rumor era que tinha havido mais de um escândalo e um bom número de brigas por ela. De fato, Inez, proprietária da loja de comestíveis, adorava contar como dois paroquianos romperam uma porta e três janelas em um baile em uma rixa pela Carol. Havia muitas dessas histórias e Jonas as tinha ouvido, e acreditado, em todas elas. -Nunca me aproximou de homens casados - disse Carol. -Pode ser fatal. O teria sido para qualquer mulher que viesse atrás do meu Jefferson. -Então não conheceste Sylvia Fredrickson. -disse Joley. -Estava na classe de Abbey e inclusive quando adolescente, ia atrás dos professores casados. Sua meta parece ser romper cada matrimônio de Sea Haven. -Agora não mais. - disse Hannah com ar satisfeito. Jonas lhe disparou um olhar repressivo.


71 -Teve algo que ver com esse prurido que segue aparecendo em seu rosto? -Quer dizer o da forma de uma bofetada que aparece cada vez que paquera com um homem casado? Por que crê que eu teria algo que ver com isso?Hannah examinou suas unhas. -Não posso esperar a me reencontrar de novo com Frank Warner, -disse Carol. -Era tão doce e me enviou um convite ao recolhimento de recursos de sua galeria na próxima terça-feira. Realmente estou desejando lhe ver. Jantamos imediatamente depois que meu marido morreu e estava muito interessado, mas eu não estava pronta para nova relação. Adoro aos artistas. São tão engenhosos. Jonas enterrou o rosto entre as mãos. -Onde diabos estão Matt e Damon? Necessito de alguns homens nesta família. Afogo-me aqui. -Matt está trabalhando e Damon teve alguma maravilhosa idéia que tinha que compartilhar com seus antigos chefes. Algo sobre um sistema de segurança do satélite. - Sarah deu de ombros. -Saiu na metade da noite para São Francisco. Um helicóptero o recolheu e o levou a alguma localização sem revelar para uma reunião. -Acreditava que estava completamente retirado desse trabalho - disse Kate, inclinando-se para diante, preocupada. -Estava tão cheio de cicatrizes quando veio aqui, de ambos os tipos físicas e mentais. Estão lhe pressionando para que volte para trabalho? Sarah negou com a cabeça. -Seu cérebro simplesmente trabalha em coisas. Não pode evitá-lo. Conhece os sistemas de defesa por dentro e por fora e quando averigua coisas que os fazem melhores, não pode evitar aperfeiçoar as idéias e querer compartilhar. -Basicamente, Damon voltou para tanque de cérebros do Departamento de Defesa - disse Kate. -Quanto tempo estará fora?- perguntou Libby. -Estamos em meio do planejamento de suas bodas. Sarah riu. -Ele pode desenhar um sistema de defesa, mas se lhe pergunta sobre bolos de bodas fica em branco. -Matt é justo o contrário - disse Kate. -Quer controlar todo o acontecimento. Acredito que é o arquiteto nele. -É porque é um Granitte e além disso mandão -disse Hannah e fulminou Jonas com o olhar. Ele levantou ambas as mãos em sinal de protesto. -Eu não sou um Granite. -Poderia sê-lo - disse ela. Jonas comeu dois dos sanduíches e os regou com chá. -Antes que ponha seu olhar no Frank Warner, Tia Carol, Aleksander Volstov está investigando o roubo de objetos roubados da Rússia. Warner possui uma florescente galeria e é colecionador de objetos de arte. Vi parte de sua coleção e é assombrosa. Também navega no Bay Area todo o tempo e é o co-proprietário do navio de pesca que Gene viu aproximar-se do cargueiro. E sei que guardará confidencialmente esta informação - Enquanto falava, seu olhar estava em Abigail.


72 -Oh, tolices - disse Carol. - Frank Warner não tem necessidade de traficar objetos roubados e foi parte desta comunidade há anos. - Tamborilou com as unhas sobre a mesa de café e deu um suspiro exagerado. -De acordo então, trabalharei encoberta para você. É óbvio necessita que o faça, embora eu não goste de espiar a meus amigos. Mas é da família, Jonas e se necessitar que consiga informação sobre ele, tenho minhas pequenas fórmulas e por causa de meu aspecto, os homens tendem a subestimar minha inteligência. -O que você está propondo? - acusou Jonas - Absolutamente não, Tia Carol. O proíbo. Sarah, fala com ela e faça-a entender que isto é muito perigoso e já há uma investigação em curso. Poderia arruinar as coisas ou resultar ferida, nenhuma das duas coisas é aceitável. Confiei essa informação para que lhe evite, não para que se comporte como uma vampiresca. -Mas tenho talento para este trabalho - protestou Carol. -Todo mundo está acostumado a ver me tirar fotos e posso lhe oferecer ajuda com seu velho álbum. Iniciou um a última vez que estive aqui. Naturalmente lhe trarei mais material Não seria bom ter imagens de seus objetos para compará-los com os roubados? Ela alargou seu sorriso. - Uma assessora do Creative Memories convertida em espiã. Poderei publicar minhas experiências. Estou muito entusiasmada te ajudando, Jonas. -Eu disse que não! E o digo a sério - disse Jonas. Percorreu a sala com o olhar para todas as Drake. - Já podem deixar de sorrir todas. Se algo ocorresse a Carol não ririam. Abigail permanece longe de Aleksander Volstov. E se recordar qualquer outra coisa sobre sua declaração me chame imediatamente e me dê a informação. E Tia Carol, você permanecerá longe de Frank Warner. - ficou em pé e jogou os cabelos para trás com a mão. Havia suor em sua testa. -Todas vocês estão me fazendo ficar louco. A boca de Hannah se retorceu atrás de sua mão e seus olhos dançaram quando Jonas partiu a pernadas da casa, fechando a porta com um ressonante estrondo. -Estou tão contente que tenha vindo, Tia Carol. Esta é a primeira vez que lhe vi nervoso. Carol lhe sorriu abertamente. -Suponho que não foi muito amável por minha parte, mas não pude resistir. -Acariciou o joelho de Abigail. – Incomodou você, verdade? Abigail negou com a cabeça. -Jonas sempre está cuidando de nós. Sei que tem boas intenções. Não é culpa dele que sejamos tantas e sempre estejamos metidas em algum problema. Hannah soltou um bufido zombador e muito pouco elegante. Retirou sua massa de cabelos loiros e pôs os olhos em branco. -Não lhe compadeça. Você não o escutou vociferar e desfazer-se em louvores sobre seu russo antes que descesse. E falando de seu russo, Abbey, conta-nos tudo. Está ou não comprometida com ele e onde lhe conheceu? -Faz quanto tempo que o conhece?- perguntou Kate. -É verdade algo que há dito Jonas dele?- quis saber Sarah. -Provavelmente tudo o que disse Jonas sobre o Aleksander é certo, mas honestamente não sei. Quando lhe conheci, faz quatro anos, era detetive. Eu estava fazendo turismo e ele estava em pé em uma esquina. Foi… - Abigail fez


73 uma pausa, procurando a palavra correta. -Incrível. Impressionante. Olhei seus ombros primeiro e logo seus olhos. Tinha que conseguir sua foto. -Intercambiou um pequeno sorriso com sua tia. -Certamente, querida - disse Carol, agradada. O sorriso de Abigail se ampliou ao recordar. -Tratei de fazê-lo sem que me visse, porque me pareceu uma tolice fazer uma foto de um desconhecido e o estava fazendo porque realmente estava bonito. É obvio ele o notou e não lhe emocionou muito que lhe estivesse fazendo uma fotografia. - Esfregou uma bolinha imaginária de suas estreitas calças. Moscou é um mundo tão incrivelmente velho. Os edifícios, as ruas … até com a aparência mais moderna, simplesmente é tão formoso e ele parecia tão parte desse mundo. Como um antiquado conto de fadas. Ele estava realmente em pé fora das portas do Kremlin e parecia um príncipe diante de um palácio. -Está se ruborizando - observou Joley, inclinando-se para frente. -Esse deve ter sido algum primeiro encontro. -Nunca tinha conhecido a ninguém como ele. Sorriu-me quando chegou e tudo o que eu podia pensar era que devia ser ilegal ter seu sorriso. Nem sequer notei quando tomou a câmara de minha mão. Ele era deslumbrante. Sarah intercambiou um largo olhar com Kate. -Parece que se apaixonou por ele, Abbey - aventurou ela amavelmente. Abigail piscou e se recostou em sua cadeira. -Quem não teria se apaixonado por ele? Ele era encantador, bonito e tudo o que um homem deveria ser. Joley se apoiou em sua irmã, recostando a cabeça sobre seu ombro. -Por que nenhuma vez nos falou do Aleksander? - Ela teve muito cuidado com seu tom, não querendo fazer que Abigail se sentisse culpada e não querendo consentir um “empurrão” de magia em sua voz. Abigail tragou o súbito nó em sua garganta. -Não podia. Doía muito. Sinto tudo isto, Joley. Sei que algo que deixa você louca são os espaços fechados. Não tinha nem idéia do que ocorreria ao fazer você entrar em uma caverna submarina. Eu nunca, nunca colocaria você voluntariamente em perigo. Joley deu de ombros. -Sinceramente, não é para tanto. Em realidade estou bastante orgulhosa de mim mesma por controlar meu medo o suficiente para atravessar a rocha e chegar ao moinho. Adoro os desafios e este foi muito refrescante. Consegui ver você com esse golfinho. Foi estupendo, Abbey, que ficasse a sua altura e confiasse em você para ajudá-lo. Foi assombroso. - Sorriu a sua irmã. - Mas isso ainda não explica Aleksander. Abigail estendeu as mãos em um gesto de confusão. -Não há forma de explicar Aleksander. Nem sequer posso lhes contar como foi. Ofereceu-se a me mostrar o lugar e passeamos pelo Plaza Vermelho e visitamos a Catedral do Vasily. Todo o tempo me falava da história dos edifícios. Sua voz, seu acento, tudo isso simplesmente acrescentou minha atração por ele. Sabia muito a respeito de tudo e me falava com tanto orgulho. Amava a seu país tanto como eu amava ao meu. Fez-me sentir a mulher mais bela e importante do mundo. Ríamos muito juntos e ele me segurava pela mão. Isso soa tão juvenil,


74 mas sabem que na realidade nunca tinha tido um encontro antes. Estava sempre tão concentrada em minha carreira e lá estava eu, passeando por essa incrível cidade com um homem bonito e atento. Queria permanecer em sua companhia para sempre. -Meu Jefferson me fazia sentir assim - disse Carol. -É obvio que queria estar com ele. -Passamos o dia juntos e logo ficamos acordados toda a noite falando. Era como se sempre tivéssemos de que falar. Adorava o som de sua voz. Seu sorriso, a forma em que seus olhos se iluminavam quando me olhava. - Abigail piscou para conter as lágrimas. - Nem em um milhão de anos pensei que alguma vez me sentiria assim com alguém. Ele não sabia absolutamente nada de mim. Não sabia que era uma Drake. Que tinha magia, que tinha irmãs formosas e com talento. Ele me viu. Abigail. E era suficiente. Fez silêncio na sala. Abigail sabia que suas irmãs eram empáticas e podiam sentir a punhalada repentina de dor que a atravessava. Libby cruzou os braços sobre seu estômago e Elle se curvou em uma pequena bola. -Tem que nos contar Abbey - pressionou Sarah. - Que bem faz guardar isso para você mesma? Todas sabemos que é infeliz. Não pode estar perto de nós e não fazer nos sentir isso. Abigail sacudiu a cabeça. -Fiz algo tão estúpido. Tão equivocado. Não sei como lhes contar isso Utilizei meu dom de um modo que não deveria ter feito e um homem morreu. Ele não merecia morrer, mas o fez. Sempre soube que não podia controlar o que me tinha sido entregue. Sempre foi mais do que podia dirigir. Na escola as crianças se ressentiam por isso. Os adolescentes se metiam em problemas e inclusive no Natal passado olhem o que ocorreu. Sabia que era melhor não usá-lo, mas queria lhe agradar. Quis me luzir a seus olhos. - cobriu-se o rosto com as mãos. Carol colocou seu braço ao redor de Abigail. -Não é a primeira Drake que se sente afligida pelo que temos. É uma terrível responsabilidade. Tem lido a profecia? Tem lido realmente? Acredito que cada uma de vocês deveria fazê-lo, garotas. Foi escrita faz várias centenas de anos e nela há de uma vez uma advertência e uma predição. Hannah ondeou as mãos e as velas saltaram à vida com o passar do primeiro piso, titilando e dançando. Aromas sopraram través da casa, mesclandose para proporcionar uma biografia de paz. Na cozinha o bule assobiou alegremente. Hannah se levantou de um salto, seu corpo alto e elegante encapsulado em uns jeans azuis e uma camisa branca de seda muito grande. -Farei uma xícara de chá, Abbey, algo tranqüilizador. -Obrigada, Hannah - respondeu Abigail, sorrindo. Junto com Libby, Hannah e Elle eram as mais empáticas das irmãs. -Acredito que todas evitamos ler a profecia muito atentamente quando pactuamos permanecer solteiras - esclareceu Sarah. - Eu tinha quinze anos nesse momento e pensamos que nos casar significava estar sob o polegar de um homem. Observávamos todas nossas amigas na escola voltar-se tolas, rir nervosamente e basicamente atuar como idiotas e nenhuma de nós queria ser assim por isso juramos renunciar às relações.


75 -Não só estar sob seu polegar. - esclareceu Kate - mas também nos converter em parvas. Sentíamos que nossas amigas estavam mudando e que acreditavam que queríamos um menino como elas. E nós crescemos com os moços... simplesmente não nos pareciam tão atrativos como noivos. Carol mexeu no cabelo e piscou para Abigail. -Deveria haver tomado-as sob minha asa garotas faz muito tempo. Ser uma mulher é francamente divertido e paquerar é a metade da diversão. E isso não lhes deveria ter impedido de estudar a profecia. Tenho umas poucas coisas a dizer a sua mãe quando a vir. -Lemos a parte sobre a grade que se abre em bem-vinda ao nosso verdadeiro amor, assim pusemos um cadeado à grade e guardamos a profecia com os jornais. - confessou Kate. -Não dissemos nenhuma só palavra a mamãe sobre nosso pacto. Ela nos empurrava a aprender a língua de alguns jornais e era muito aborrecido. -Naquele momento. - qualificou Sarah. -Após, aprendemos algumas duras lições sobre por que deveríamos havê-la escutado. Hannah retornou com a xícara de chá. -Isso ajudará você, Abbey. Dediquei-me a combinar algumas ervas e acredito que realmente relaxa e ajuda a aliviar a ansiedade e a tensão - Ela colocou a xícara nas mãos de Abigail. Abigail forçou um sorriso apenas perceptível enquanto contemplava sua irmã. Se houvesse favoritos dentro de uma família, Hannah seria a de todo o mundo. Abigail se sentia mais unida a ela e estava quase segura de que suas outras irmãs sentiam o mesmo. Não era que Hannah fosse uma Santa, não; Hannah tinha uma parte travessa muito definida, mas era muito pormenorizada e compassiva. Seu doloroso acanhamento fazia necessário que todas elas estivessem conectadas para proporcionar a Hannah liberdade em uma carreira. Ninguém tinha pensado quando fez seu primeiro trabalho de modelo que ela chegaria ao mais alto e teria tanto êxito, mas estavam todos orgulhos dela, especialmente sabendo o que requeria a Hannah aparecer em público. -Obrigado, Hannah, inclusive seu aroma é consolador. Carol olhou seu relógio de pulso com um pequeno cenho. -Vou ter que cancelar minha reunião para que possamos terminar esta conversa. -Que reunião? -perguntou Sarah com curiosidade. Carol não estava a nem um dia em Sea Haven. -Pertenço à Rede Hat Clube, querida, e vamos ter um pouquinho de diversão hoje. Alegrei-me muito de saber que tinham uma sede aqui em Sea Haven. Dará a oportunidade de restabelecer velhas amizades. Quero chegar a conhecer todas as senhoras da cidade outra vez. Podemos pôr nossos chapéus vermelhos e nossas camisas púrpuras e caminhar descalças pela praia. Inez Nelson está muito envolta e esperançada e espero que possa nos passar informação sobre o estado de Gene. Não ouvi nada ainda. Sarah inclinou a cabeça. -Inez é sempre uma maravilhosa fonte de informação. Preocupa-se com Sea Haven e é muito ativa no mundo dos negócios assim como também com todos os programas de teatro e baile. Esteve aqui faz uns dias para conseguir


76 consentimento para utilizar os nomes de Kate, Joley, e Hannah para a crítica sobre o grande acontecimento de Frank Warner. Se Frank o tivesse pedido, Inez sabia que teriam rechaçado o convite para assistir. -Se converterá no típico show. -disse Hannah, fazendo uma careta. -Não será muito mau se Kate e Joley estão ali. -Especialmente Joley - Kate lançou um rápido sorriso a sua irmã. -Parece ser um enorme centro de atenção. Acredito que as pessoas querem saber se os tablóides têm publicado com veracidade todas suas proezas. Joley riu. -Aw, seria ótimo ter a vida excitante que descrevem os periódicos. -Teríamos que repudiar você - disse Sarah. Abigail pressionou o peito com a mão. Sarah não tinha tido intenção de machucá-la. Era impossível que soubesse quão profundo cortariam essas palavras brincalhonas. -Abbey. -Sarah se levantou instantaneamente e se ajoelhou ante sua irmã, rodeando-a com o braço. -Sem importar o que acontecer, é nossa irmã, amada e apreciada sempre. Abigail sacudiu a cabeça. Como lhe tinham falhado os dons passados de irmã a irmã através dos séculos e de gerações? Nem uma vez tinha escutado histórias de magia falhando. De uma das irmãs tão imperfeita que causasse a morte de um homem inocente. Sarah era muito boa em tudo o que fazia. Kate era mágica, proporcionando paz interior aos que a necessitavam e mostrando grande coragem quando os elementos estavam fora de controle. Libby salvava vidas uma e outra vez. O dom da Hannah era poderoso e ela entregava a si mesma sem reservas para suas irmãs. Joley teve a voz de uma cantante feiticeira e podia utilizar seu dom para o bem. Elle era a mais poderosa, continha todos os dons em seu interior, embora fosse humilde e sensata e sempre disposta a ajudar. Só o dom de Abigail era defeituoso, incapaz de esgrimir o poder da verdade. Incapaz de utilizar a voz que lhe tinha dado. Incapaz de pôr em manifesto a magia pura. Por causa de suas debilidades, seu dom era retorcido, incontrolável e causava estragos aos que a rodeavam.


77 Capítulo – 7

-Abigail - A voz de Carol foi muito gentil. -Não pode continuar assim. Se não confiar em sua família para te amar e te ajudar nos piores momentos de sua vida, nunca poderá confiar em ninguém. -Não é questão de confiança, tia Carol. - explicou Abbey. - É só que se faz mais real se falar disso. Sempre me sinto tão à parte de tudo. -Abbey- disse Sarah. -a vida é para vivê-la. Se a viver, é certo que vai tropeçar com o passar do caminho. -Sempre?- Abigail saltou sobre seus pés e começou a passear. -Tenho mau gênio e quando era uma adolescente, não duvidei em utilizar meu dom por vingança. Quem por um acaso aqui já o fez? Joley levantou lentamente a mão, deslizando-se para baixo na cadeira enquanto o fazia. Hannah seguiu o exemplo, embora não parecia nem um pouco arrependida. Sarah deu de ombros e levantou a mão e olhou fixamente Elle, quem só sorriu envergonhada e levantou um par de dedos. Carol levantou a cabeça e agitou seu braço com entusiasmo. -Não! - Disse Abigail emocionada. -Não somos anjos- assinalou Sarah. -Especialmente Hannah e Joley. Lançou a ambas um olhar severo. -Como ia deixar que aquelas moças se metessem comigo ou com qualquer uma de vocês? -disse Hannah com um pequeno som desdenhoso. -Uma vez Sylvia Fredrickson disse diretamente diante da Anita Monroe que podia ter a qualquer menino da cidade. Incluindo Jonas Harrington, por certo. -Jonas- Isso conseguiu a atenção de todas instantaneamente. Hannah assentiu, com as mãos nos quadris. -Realmente me deixou louca a forma que estava falando dele. Ele estava na universidade, mas voltava para casa tão freqüentemente como era possível. Lembram-lhes de quando sua mãe esteve tão doente? Sylvia afirmou que ia a sua casa essa noite e meter-se às escondidas em seu dormitório pela janela. -O que fez, Hannah? -Perguntou Abigail, incapaz de conter-se. -Nada do outro mundo. Só aticei um pouco à fauna silvestre da zona. O pátio e particularmente o quarto de Jonas foram invadidos por todo tipo de répteis. Ela tinha um grito muito escandaloso- acrescentou com satisfação. -Não que tenha aprendido a lição. E esse idiota do Jonas suspeitou que eu pudesse havê-lo feito para me vingar por seus aborrecíveis comentários quando nos encontramos mais cedo aquele dia quando se referiu a mim como uma linda bonequinha Barbie. Kate e Libby intercambiaram um largo olhar. -Não acredito que isto seja muito justo. -disse Kate. -De fato estou ciumenta por não poder utilizar meu talento para nada exceto para o bem. Houve algumas pessoas que não foram muito agradáveis comigo na escola e teria gostado de fazer algo.


78 -Eu também. -esteve de acordo Libby. - O resto de vocês têm toda a diversão. -Não se preocupe. - disse Hannah. Ela, Joley, e Elle intercambiaram um largo e satisfeito sorriso. -Cuidávamos de você. Ninguém suspeitou nunca de suas irmãs mais novas. -E eu não acredito nem por um minuto que vocês duas nunca utilizaram seus dons inadequadamente - disse Carol. -Hora de confessar. Kate sorriu amplamente. -Não estou a ponto de perder meu halo. Basta dizer que eu experimentei alguma vez. -Não posso acreditá-lo. - Abigail olhou Libby. Ela era a irmã do meio, dotada para curar. Sempre mantinha um aspecto sereno, inclusive em meio de uma crise. Ela tinha uma espessa juba de cabelos curtos e negros e seus olhos eram de um verde surpreendente, muito intenso o que lhe dava uma aparência de outro mundo. De todas as Drakes, era a ela que os meninos chamavam de bruxa quando queriam ser cruéis. Abigail nunca a tinha visto reagir, embora de vez em quando ela tivesse chorado em seu quarto e isso enviava a Hannah, Joley, e Elle a sussurrar na varanda do capitão. - Elizabeth Jane Drake. Você também? Juro-lhes que todas minhas ilusões estão sendo destroçadas. -Não admito nada. A risada borbulhou em Abigail. Ao mesmo momento queria chorar. Em cada crise na família que ela pudesse recordar, suas irmãs tinham unido seus esforços. Sua mãe e suas tias tinham feito sempre o mesmo, assim como seus tios e primos. Estava muito agradecida pelo maravilhoso legado de devoção familiar que tinha herdado. -OH, querida. - disse Carol, justo quando Sarah se levantava e caminhava para a porta. Todas elas ouviram um golpe um minuto mais tarde. Abigail se congelou, com a mão na garganta, seu coração repentinamente começando a palpitar. -Relaxe querida. -disse Carol, -É só Inez e alguns outros membros da Rede Hat Clube. Vieram me buscar, por que ao final não as chamei. - Acarinhou o ombro de sua sobrinha e se apressou em encontrar seu chapéu vermelho ornamentado. -Deixei a grade aberta para meus amigos durante o dia. Várias senhoras entraram em torrentes na habitação, vestidas com calças ou saias soltas mas todas com brilhantes camisas púrpuras brilhantes e chapéus vermelhos em suas cabeças. Riram quando saudaram as garotas. -Carol estava ficando tarde e optamos por não deixá-la perdê-la reunião. A levaremos a força conosco e não esperem que retorne cedo! É nosso dia livre e temos intenção de nos divertir. -Estou preparada. - Carol falou agitando seu braço, sua câmara pendurada fortuitamente ao redor de seu pescoço. -A menos que me necessitem garotas… interrompeu-se, olhando Abbey. Abigail a beijou. -Não, estaremos bem. Simplesmente não se meta em muitos problemas. Isso provocou outra ronda de risadas provenientes das mulheres. -Como a vez que tivemos que tirar você sob fiança do cárcere. -disse Inez.


79 -Ou quando ficou presa na árvore com o Tommy Lofton e tivemos que chamar os bombeiros. - acrescentou Donna. -Tia Carol!- Hannah parecia orgulhosa. -Estou segura que inventam tudo! -Carol soprou beijos a suas sobrinhas e seguiu às mulheres para fora. As irmãs Drake escutaram as risadas das mulheres que se perdiam na distância. -Poderíamos ter que as tirar sob fianças, -advertiu Sarah. -Acredito que Carol vai ser uma muito má influência nesse grupo, e o pior, é que elas querem que o seja. -A maior parte delas foram à escola juntas. É tão agradável que tenham seguido sendo tão boas amigas, -disse Kate. Hannah se levantou da cadeira e se tombou sobre o estômago no chão, mostrando um lugar a seu lado como convite para Abigail. -Eu não sei muito a respeito de muitas coisas, Abbey, mas sei que a culpabilidade pode comer uma pessoa viva. Não pode permitir que isso ocorra a sua vida. A tia Carol nunca o faz. Ela pretende estar um pouco no lado louco, mas ela vive muito bem e é feliz. Uma a uma as outras Drake se estenderam no chão como quando eram pequenas. Cada uma estirou uma mão e a colocou em meio de seu círculo, uma em cima da outra em um gesto de solidariedade. Abigail tomou seu lugar ao lado da Hannah e sentiu o calor das mãos de suas irmãs sobre a sua. -Acredito que já estou muito velha para estar no chão. -disse Sarah. Necessitamos almofadas. -Notei que está envelhecendo, Sarah. -esteve de acordo Joley. -Sobre tudo desde que se comprometeu. Muita diversão, se me perguntar. Está se convertendo em uma anciã. Sarah atirou um guardanapo em Joley. -Não sou tão anciã. Já pode começar a correr antes que te esmurre. Joley fingiu um bocejo aborrecido. -Não vai ocorrer porque está tão ansiosa como eu por ouvir tudo sobre Aleksander, o russo ardente da voz sexy. Abigail se ruborizou. -De acordo. -concedeu- Tem uma voz sexy. Completamente sexy. -E canta, também. -acrescentou Joley. -Tem uma formosa voz. Estava acostumado a cantar para dormir. -Ela sorriu malvadamente. -Bom, depois de..., já sabem. O rubor de Abigail se fez mais intenso. -Eu não lhe disse isso! -Não teve que me dizer isso. Hannah levantou as mãos e fez intrincados patrões no ar. -Vou comer algumas bolachas recém tiradas do forno. Alguém mais quer? Abigail se recostou e esfregou o ombro com o queixo. -Sempre come bolachas quando temos uma reunião familiar. Como pode estar tão magra? Eu faço duas de você. -Jonas disse uma vez que sou um cabide de arame onde os desenhistas penduram sua roupa. - confessou Hannah. Houve uma nota de dor em sua voz. -


80 Ele é um porco às vezes. Depois ficou como louco comigo porque os sapos o seguiam a todo lado coaxando. Dizia que soava como se estivessem falando com ele. O que a propósito, poderia aconteceu com Aleksander se quer lhe fazer entender que não vai tomar em conta nenhuma de suas tolices. Abigail esfregou as costas de Hannah amavelmente. -Jonas merece sapos lhe seguindo, especialmente se esteve com a Sylvia. Quem é seu caso agora? -Alguém com um lindo corpo. -disse Hannah. -Seus ossos não lhe cravarão cada vez que a abrace. - Ela agarrou o prato de bolachas quando este começou a flutuar. Escutou-se um ofego coletivo. -Ele não disse isso a você! -OH, ele disse sim. Ele viu a revista com os vestidos do desenhista da Itália. Já sabem, aqueles com muito tecido nas costas e muito pouco na parte frontal Tem que fazer algum comentário sarcástico cada vez que vou fazer algum trabalho. Havia minha foto com um modelo masculino italiano com uma pose particularmente sexy e Jonas estava extraordinariamente horrorizado por ela. Teve sorte de que só fossem sapos lhe dando uma serenata toda a noite. Hannah fez circular o prato de bolachas com chocolate para suas irmãs. Aleksander diz coisas mesquinhas, Abbey? -Aleksander nunca fez nenhum comentário pessoal que me fizesse sentir menos que formosa. Justo o contrário. -Abigail mordeu uma parte de chocolate quente e o deixou derreter-se em sua boca enquanto pensava em Aleksander Volstov. -Fez me sentir formosa cada instante que estive com ele. Sempre atuava como se não existisse outra mulher. -Sorriu ao redor da dentada de bolacha. Mas me disse que tinha mau gênio, uma vez. -Bom, tem-no - disse Joley. Quando Abigail a fulminou com o olhar deu de ombros - Tem-no. Sabe que o tem. Não é tão mau como o meu, mas o tem. -Os homens são tão mandões. -disse Abigail. -Às vezes é muito desagradável. -Às vezes? -A sobrancelha de Joley subiu rapidamente. -É desagradável sempre. Não sei como alguém pode agüentá-lo. Sério Kate e Sarah, ambas deveriam pensar nisso antes de seguir com esta coisa do matrimônio. Homens tomando o controle. -Agarrou três bolachas e colocou o prato no centro das sete irmãs. -Aleksander é absolutamente do tipo mandão. -Não tem que me dizer isso - admitiu Abigail. -Definitivamente não lhe falta confiança. -E o que lhe falta? -perguntou Sarah, com voz amável. Abigail tomou um profundo fôlego e logo o expulsou. -Talvez seja eu, honestamente não sei, ou talvez esperasse um cavalheiro de brilhante armadura. Contei tudo sobre nós para ele. Tudo sobre nossos dons, o bom e o mau e tudo o que vem com o talento. Contei-lhe o difícil e quão estimulante pode ser de uma vez. E lhe disse como todas têm dons maravilhosos que parecem ser tão úteis e que o meu só fazia dano. Acredito que ao princípio era cético, mas é tremendamente intuitivo. Assim levou a cabo um pequeno teste, ao menos isso pensava eu que era, e finalmente me pediu que me sentasse no interrogatório de alguns de seus presos. Pela primeira vez em minha vida,


81 acreditei que meu talento tinha um sentido, realmente tinha um propósito. Sabia que lhe estava ajudando e fazendo algo que valia a pena. Houve uma ansiedade em sua voz que suas irmãs não podiam deixar de notar, mas Abigail não podia escondê-la. Pela primeira vez em sua vida se sentiu parte de algo e digna sendo uma Drake. -Não foi só o fato de estar trabalhando com ele, e que se sentisse orgulhoso de mim, mas sim significava que era como o resto de vocês e todas as irmãs Drake que nos precederam. -Abigail, - disse Libby, estendendo a mão para fechar os dedos ao redor do braço de sua irmã, - como pôde pensar isso? Imediatamente, com o toque de Libby, a dor de Abigail se aliviou. Lançou a Libby um débil sorriso. -Por isso. São tão extraordinária, todas vocês, as coisas que podem fazer pelas pessoas. Em todos estes anos em Sea Haven, alguém alguma vez me pediu ajuda? Evitam-me. A maioria nem sequer conversa comigo. Tenho alguns amigos fora desta família, mas não muitos. A gente do povoado está muito orgulhosa do resto e sempre estão lhes pedindo ajuda. Sei que não é fácil para vocês e não estou tratando de minimizar o fato do que isso lhes requer muito, mas que não me necessitem nunca me faz sentir tão longe do resto de vocês. - Abbey se voltou a olhar a suas irmãs. - Alguma o entende? Hannah assentiu. -Eu sou sempre a garota má. Provavelmente por ter que estar comigo mesma muito tempo. Gasto grande parte do tempo pensando em coisas que não deveria. Não o posso remediar e às vezes me pergunto como todo mundo pode ser tão bom. -Tomou uma bolacha de chocolate da mão de Joley e deu uma dentada. -Bom, exceto Joley, mas ela nunca consegue sermões por que todos esperam que seja assim. -Maldição, exatamente- disse Joley. -Ganhei minha reputação e segue crescendo mesmo que não faça nada. -Deixa de tentar parecer patética, Joley, -admoestou-a Sarah. -Não pode mudar isso. -Jesus. Não posso conseguir nenhum respeito nesta casa. Não é fácil de obter o tipo de publicidade que tenho. Meu favorito de sempre é a vez que alguém enviou a mamãe e papai, esse periódico sensacionalista com o titulo:” Surpreendida em flagrante: Confissões de uma viciada no sexo”. Mamãe me chamou e me disse que ela e papai abandonavam o país. Esqueceu-se de me dizer que tinham estado planejando a viagem durante anos, assim fiquei mortificada. As irmãs estalaram em vendavais de risadas. -Bom, não deveria ter confessado seu vício, -apontou Abigail. -Oxalá, -disse Joley. -Com quem diabos se supõe que vou ter sexo? Estou na estrada todo o tempo e paquero como uma louca mas todos temem minha reputação. -Ooo! -disse Hannah. -O que necessita Joley, é que façamos a cerimônia das roupas íntimas vermelha para você. Tem um par acima? Para todos que fizemos disseram que teve efeito.


82 -O meu funcionou, - recordou Abigail. -Aleksander adorava meu conjunto vermelho e fui muito, muito afortunada a noite que os coloquei. -De maneira nenhuma! -Joley sustentou em alto seus dedos formando uma cruz. -Não vou castigar a mim mesma com um homem tão arrogante e mandão como Aleksander. Vou procurar um tipo que possa dominar completamente. Ele me adorará e fará realidade cada um dos menores desejos de meu coração. Se a cerimônia das roupas vermelha consegue um ardente homem mandão dispenso. Olhou com curiosidade Hannah. - E você? Comprovou se funciona? Hannah estremeceu abertamente. -Deitar-se com alguém geralmente requer um encontro de algum tipo e ter encontros geralmente requer falar com alguém e como eu nunca fui capaz de falar realmente com um homem que eu gostasse sem parecer uma idiota, dispenso a cerimônia sagrada, muito obrigada. -Fala com Jonas. -assinalou Sarah. -Ele é realmente um homem? Eu acredito que é um andróide. - Hannah soltou um bufo desdenhoso- Duvido seriamente que ele conte e ninguém em seu são julgamento sairia alguma vez com ele. Todas olharam Elle. Ela levantou ambas as mãos. -Como não há forma que o controle de natalidade vá funcionar comigo, acredito que para meu melhor interesse devo permanecer o mais longe possível dessa cerimônia em particular. - Sorriu abertamente a Abigail. -Embora participei do ritual de Abbey pouco antes de sair de férias. Cantei, acendi velas, e me diverti muito bem e logo me escondi no armário mais próximo no caso de haver alguma reação reminiscência. Estou muito contente de ouvir que funcionou. -Definitivamente funcionou, - confirmou Abigail. -Jogou-me um olhar o dia que me pus isso e foi tão ardente que não acredito como chegamos a sua casa. Colocou-me contra a parede e… -Interrompeu-se abanando-se. -Basta dizer, que o ritual surtiu efeito. -Muito obrigada, Abbey. -disse Elle - Isto não é justo. Estou comendo a última bolacha e mereço isso. Todas observaram solenemente como Elle comia a última bolacha com partes de chocolate. -Assim fez você se sentir formosa, é genial na cama, preparado, divertido e canta para você. - aventurou Sarah. -Inclusive fez acreditar em si mesma e compartilhou seu dom. Então nos diga o que foi mau, Abbey. -Ele trabalhava muito duro em um caso. Tinha vários, mas esta investigação estava em curso e tinha estado trabalhando nela quase dois anos. Era horrível. Ao princípio ele não queria falar disso porque envolvia uma série de infanticídios brutais. Acreditava estar seguro de ter encontrado ao assassino. As coisas são muito diferentes ali e se frustrava às vezes pelo nível de cooperação e as ameaças de seus superiores. Sei que as mortes lhe perseguiam e se sentia responsável porque o assassino lhe evitava durante tanto tempo. -Que terrível. - Joley franziu o cenho. Apoiou uma mão sobre Libby. Hannah fez o mesmo. Todas eram empáticas, mas Libby o sentia mais, especialmente com sua irmã, e Abigail sentia dor. -Para todo mundo. Os pais, os meninos, Aleksander e para você também. Deve ter sido horrível para você experimentar o que ele e os pais estavam sentindo. Era consciente do empática que é?


83 -Como podia? Como podia alguém? Olhe como Irene Madison segue insistindo em que Libby sane seu filho, Drew, de câncer. Não tem nem idéia de quão perigoso seria inclusive tentá-lo. É o mesmo com todo mundo. E quando tentamos explicá-lo, não querem ouvir porque o que seja que estejam pedindo é importante para eles. Aleksander alcançou um ponto onde queria que me envolvesse porque tudo o que lhe importava era salvar aos meninos e eu estive de acordo. - Abigail se sentou erguida e apoiou a cabeça contra o sofá. Olhou-se as mãos. -Quantas vezes crê que iniciamos coisas com a melhor das intenções e terminamos machucando a outras pessoas? -Abbey, -disse Kate -todas nós temos feito coisas das que não nos orgulhamos. Todo mundo comete enganos. Todas fazemos escolhas apoiadas na informação que temos nesse momento. É normal e bom repensar e ver o que deveríamos ter feito, mas raramente sabemos que caminho é o melhor quando damos esse primeiro passo. -Quando fui à delegacia de polícia para me encontrar com Aleksander, disseram-me que havia trazido um suspeito, que estava em uma sala de interrogação esperando por mim para que lhe ajudasse a interrogar ao homem. Tudo o que eu sabia era que Aleksander me havia dito que estava muito perto de fechar o caso. Assumi que o suspeito em custódia era o homem que ele acreditava ser o assassino. Quando fui com os oficiais à sala todo mundo gritava ao suspeito. Elevavam-se por cima dele, golpeavam a mesa e lhe acusavam uma e outra vez. -Sinto-o tanto, Abbey,- sussurrou Sarah.- Isso não seria fácil para nenhuma de nós. Abigail sacudiu a cabeça. -Não sinta lástima por mim. Queria estar ali. Queria lhe ajudar a resolver os assassinatos. Queria ser importante para ele. -Ela esfregou a testa com a palma da mão. -Fui tão estúpida. Não pensava. Não fui ali pensando no suspeito ou sequer com uma mente clara. Entrei pensando em mim mesma. Minha própria glória, ajudar Aleksander e lhe fazer feliz - Golpeou a parte de atrás de sua cabeça três vezes contra as almofadas do sofá em uma agonia de recriminação. Estúpida. Estúpida. Estúpida. -É humana, Abbey, não estúpida. Amava esse homem e queria lhe ajudar. A magia necessita alguns passos, todas nós sabemos isso, mas todas nos saltamos esses passos no calor do momento. Imagino que foi muito emocional para todos os implicados. -Perguntei-lhe se era culpado. Mas não lhe perguntei de que crime ou o que tinha feito à menina, simplesmente lhe perguntei se era culpado. Os outros oficiais lhe gritavam perguntas e Aleksander estava utilizando sua fria e atemorizante voz e eu estava tão segura de que podia lhe fazer confessar sua culpabilidade. Ele disse que sim e depois tranqüilamente estendeu a mão e tomou uma arma que um dos oficiais tinha deixado muito convenientemente na mesa e disparou a si mesmo na cabeça. -OH, Meu Deus!- Kate estava horrorizada. -Querida, sinto-o muito. -Abigail.-começou Sarah. Abigail sacudiu a cabeça.


84 -Sabem qual foi seu crime? Ficou dormido enquanto se supunha que estava cuidando de sua filha. Tinha bebido e adormeceu e ela saiu da casa para jogar com seus amigos. O verdadeiro assassino a agarrou. É obvio que se sentia culpado. Que pai não o faria? Ele era o pai da menina... eu não sabia nesse momento. Não me disseram isso e, o que é pior, não me ocorreu perguntar. -Ela olhou a suas irmãs, as lágrimas brilhavam tenuamente em seus olhos. -Mesmo que disse que era culpado, eu soube que não o era, mas não tive tempo de dizêlo. Ele simplesmente agarrou a arma. -Elevou as mãos. -Tinha seu sangue sobre mim. Algumas noites acordo e ainda estou coberta de sangue e não posso limpála por muito que o tente. -Tem pesadelos. -disse Hannah. – Eu a ouço chorar mas sua porta não abre para mim. Abigail alargou sua mão para sua irmã. -Sinto muito, Hannah. Sei que te angustiei, mas não podia enfrentar a ninguém. Não podia explicar o que tinha feito. -É essa a razão pela que não quer nada com o Aleksander? -perguntou Joley. Abigail deixou escapar o fôlego. -Não sei. Só sei que foi um dos momentos mais horrendos de minha vida, e esperava que ele me reconfortasse... que fizesse algo... mas todos os oficiais começaram a falar realmente rápido, especialmente o dono da arma. Quão seguinte soube foi que era tirada da sala e que Aleksander simplesmente ficava ali em pé vendo como me levavam. Sarah franziu o cenho. -Não entendo. Acusavam-lhe de algo? O que fez ele? -Ficou ali muito quieto, seus olhos tão frios como o gelo e vendo como me tiravam a força da sala de interrogatórios como suspeita de um de seus assassinatos. Estava coberta do sangue do pobre homem e eles me passaram justo por diante de sua esposa. Olhei-a e ela cravou em mim seu olhar desesperada. Tinha perdido sua filha e em alguns minutos alguém viria e lhe falaria de seu marido. -Rato bastardo! -explodiu Joley-. E todo este tempo eu tramando um complô para que voltassem a estar juntos. -Os sapos não são suficiente para ele. -declarou Hannah. Sarah sustentou em alto sua mão para pedir silêncio. -Abbey, carinho, sei que é duro para você nos contar isso mas precisamos saber tudo o que ocorreu para ajudar. Abigail sacudiu a cabeça. -Para que assim Libby, você e todo mundo possa me fazer sentir melhor sobre o que fiz? Não posso voltar atrás. Esse pequeno momento no tempo que entrei nessa sala tão crente de mim mesma. Acreditava que apanharia a um assassino e Aleksander estaria agradecido. Tão segura de que minha magia seria esgrimida com tanto poder e mestria como as suas. -reclinou-se, lutando contra as lágrimas. -Nunca podemos deter o tempo. Ou voltar atrás. A vida não funciona assim, verdade? -Não, não é isso, Abbey. -disse Kate. -Mas continuamos. E aprendemos de nossas experiências. Nos conte o resto. Nos diga o que passou.


85 -Interrogaram-me durante dois dias e duas noites. Aparentemente o oficial que se descuidou da arma me acusou de contrariar ao prisioneiro com minhas perguntas. Foram horrendos, me pegando e gritando. -derrubou-se, negando com a cabeça. -Acreditei que fossem me matar. Queriam culpar a alguém pela morte do pobre homem e suponho que eu era o perfeito bode expiatório. Não tinha ninguém que me defendesse e não me permitiam chamar à embaixada. -Que aterrador. Isto não tem nenhum sentido. -disse Libby. -Nem sequer me deixaram trocar de roupa. Estava muito assustada e seguia pensando que Aleksander viria e me tiraria dali, mas não fez. -Abigail baixou o olhar a suas mãos. -Estava a muita distância de vocês e muito envergonhada para me estender para vocês. Estava muito assustada, mas até me assustava mais que soubessem o que tinha feito e nunca me perdoassem. Ainda não posso me perdoar. -E não pode perdoar a ele. -disse Sarah. Abigail sacudiu a cabeça. -Em algum lugar profundamente dentro de mim, sei que é egoísta desejar que ele me pusesse em primeiro lugar. Querer que me consolasse quando meu mundo se desfazia. -Não é egoísta, Abbey. -disse Joley. -É humano. Normal. Não é uma mártir, é uma mulher. É obvio que queria que seu homem ultrapassasse tudo e, pelo amor de Deus, te desse uma mão quando o necessitava. -Apertou o punho. Lamento não ter sabido tudo isto quando lhe estava permitindo me encantar. Lhe teria feito ver as estrelas. O vento chegou do mar, uivando quando golpeou a casa. As irmãs olharam Hannah. Ela deu de ombros. -Acontece quando estou realmente zangada, uma fresta da infância. Nem sempre posso controlá-lo. -Queremos saber o que lhe fizeram enquanto eles lhe interrogavam ou Hannah e Joley vão se por psicóticas. -disse Kate. Abigail sacudiu a cabeça. -Não vou falar disso. Foi horrível e foi a vez que mais assustada estive em minha vida, inclusive mais assustada que todas as vezes que estive mergulhando entre tubarões. Elle fechou os olhos e afastou o rosto, havia lágrimas em suas pestanas e correndo por sua face. - Golpearam-lhe uma e outra vez. Um homem te esbofeteou a cara muitíssimo. -Sua voz soava distante e havia linhas de tensão ao redor de sua boca. -Ameaçaram-lhe e fizeram comentários lascivos. Chamaram-lhe de bruxa e outros nomes. O homem que te esbofeteava queria que nomeasse Aleksander, que dissesse que ele deixou a arma ali de propósito. - Elle abriu os olhos e olhou diretamente aos de Abbey. Abigail sentiu uma dolorosa sacudida no coração. Era sempre assim quando enfrentava Elle. Parecia tão jovem com seu vívido cabelo vermelho e sua pele pálida, mas quando a olhava aos olhos, eram muito velhos e cheios de conhecimento, cheios de coisas que ninguém mais via. -Nunca disse seu nome. -Não, não o fiz.


86 -Por que? -perguntou Elle brandamente. Abigail sacudiu a cabeça. -Não sei. -Sim, sabe. -Amava-lhe. Elle suspirou. -Amava-lhe muitíssimo, mas não foi por isso que não lhe nomeou. Estava zangada e assustada e é teimosa como o inferno, Abbey. Isso não foi a razão pela que recusou lhe entregar. E não foi por isso que queria que ele salvasse você. Depois das primeiras três horas desse homem erguendo-se sobre você, te cuspindo,esbofeteando e ameaçando, não se importava se Aleksander lhe salvaria ou não. -Estava zangada. -sussurrou Abigail. -Com todos eles. -disse Elle.- Em algum lugar dentro de você era essa a resposta. Quando passou a cólera e a decepção e deixou a culpabilidade, soube por que. E então foi pior, verdade? Porque suspeitava que Aleksander teve que fazer algo terrível a fim de liberar você. Abigail assentiu. -Os homens que me interrogavam foram tirados de repente do quarto e outros tomaram seu lugar, mas não falaram comigo. Sussurravam daqui para lá e atuavam de forma muito diferente... temerosos... e não me perguntaram nada absolutamente, simplesmente sussurravam juntos, claramente muito assustados. Pareciam estar ideando alguma história que contar a seus superiores. Sabia que algo terrível tinha ocorrido. -Você... -Não! -Abigail sacudiu a cabeça. -Não o diga. Nem sequer o pense. Não quero saber o que fez Aleksander para me tirar dali. Se matou a alguém para me liberar, se alguém mais morreu por minha culpa, não poderia viver com isso. -Abbey... -começou Sarah. -Não, digo-o a sério. Agora que posso respirar algumas vezes pensando nessa pobre mulher sem seu marido e sua filha não posso voltar ali. Não me peça isso. -E talvez por isso foge de Aleksander. -disse Elle. -Não por seus enganos mas sim por sua força. As mesmas coisas nas que confiava e admirava nele são as coisas que mais teme. Abigail não poderia apartar a vista de Elle. -Sabia. Todo este tempo, sabia. Elle deu de ombros. -Sei um montão de coisas. As pessoas tem direito a seus segredos, Abbey, inclusive minhas irmãs. Se tivesse querido que todas soubéssemos, haveria nos dito isso. Todas sentíamos sua infelicidade e você sabia que o fazíamos, mas não nos deu uma explicação, nem tinha por que fazê-lo.- Ela transmitiu um sorriso macilento. -Nem sempre é fácil ou cômodo, captar partes das vidas de minhas irmãs. Todas queremos privacidade, eu incluída. Aprendi a manter a boca fechada. Libby imediatamente estendeu o braço e apoiou a mão no ombro de Elle. -Suporta uma carga tão terrível, Elle.


87 -Todas nós o fazemos. - disse Sarah. -Precisamos ter mais compaixão por outros. Dá-me vergonha admitir que nunca me parei a pensar como deve sentirse Elle sabendo coisas que nós não queremos que se saibam.- Olhou a sua irmã mais nova. -Deve fazer você se sentir diferente e sozinha, tal como Abigail se sente com seu dom. E Libby. Todo mundo quer um pouco de Libby aonde quer que vá. Não há pausa, nem sequer aqui quando nossa casa deveria ser um refúgio. -Cada uma de nós tem que tomar cuidado com sua magia. - disse Kate. -E Abbey, todas cometemos enganos. Não podemos ser perfeitas, não importa quanto o tentemos. - Lançou um breve sorriso a Hannah e Joley. -Algumas nem sequer queremos tentar. Joley lhe enviou uma pequena saudação. -Bem feito, irmã!- Ela sustentou em alto sua palma para que Hannah chocasse cinco dedos. -Essas devemos ser nós.- esteve de acordo Hannah. Sarah golpeou ligeiramente o pé de Hannah. -Por certo, algo mais... Mamãe e papai voltam para casa para as bodas e poderiam ter algumas coisas para dizer a você. -Ninguém se atreveria a dedurar-me. - disse Hannah complacentemente. -Já sabe, Hannah e todas as demais também que poderia ter a desforra e a vingança em mente.- disse Joley - A casa deixou entrar Aleksander a outra noite. Um ofego coletivo surgiu e todas as irmãs olharam fixamente Abigail. Ela cobriu sua cara. -Sei. Sei. Algo errado aconteceu. Não fizemos bem o feitiço e por isso falhou - elevou a cara. -Tinha as portas de meu balcão totalmente abertas, talvez esse foi o problema. -OH, Abbey.- disse Hannah -Sinto-o tanto. -Só que não pode ser ele. Não me importa o que diga a profecia e não me importa se a casa lhe deixa entrar ou não. Não quero lhe ver ou lhe falar ou ter nada absolutamente que ver com ele. - declarou Abigail. -OH, não. - disse Sarah. Ela olhou o telefone e fez uma careta. O telefone soou. -Não responda- disse Abigail. Olhava Sarah. -É ele, verdade? É Aleksander. Sarah assentiu. -Deixa-o soar. - instruiu Abigail. -A mim não importa lhe ordenar que frite a si mesmo. - ofereceu-se Hannah. -E poderia fazê-lo por telefone. -Hannah. -avisou Sarah. - Não quererá fazer algo que logo lamentaria. Abigail atenda o telefone. Abigail teria recusado se tivesse sido qualquer que não fosse Sarah, ou Elle, mas ambas tinham o dom de "ver" às vezes. Atendeu-o. -O que quer? -Também me alegra ouvir sua voz . Encontre comigo em meia hora no McKerricher Park. -Não vou encontrar com você em nenhuma parte, Sasha. Aleksander suspirou.


88 -Temos que fazer isto todo o tempo? Não tenho tempo para discutir com você. Encontre comigo ali em meia hora. Iremos navegar em caiaque, assim vista-se apropriadamente. O meteorologista prediz ondas de quatro pés assim poderíamos ter sorte e ser capazes de investigar ao longo da costa em busca de cavernas que os contrabandistas podem estar utilizando. Têm que ter seu navio escondido em algum lugar e vou averiguar onde. -Não vou. -Conhece o litoral melhor que ninguém. Não posso ir sozinho, Abbey, e sabe. Isto tem que fazer-se. -Leva Jonas ou Jackson, seu ajudando. Ambos conhecem o litoral. Ou melhor ainda, chama a guarda costeira. Lhe darão uma mão. -Abigail esfregou a têmpora palpitante. Por que cada vez que escutava sua voz perdia sua resolução? -Abbey, já esbanjamos muito o tempo. Se não ir agora, o mar poderia ficar muito mau amanhã. Já tenho um carro esperando no porto assim podemos ir em caiaque ao longo da costa ao menos até o Noyo. Não quererá que vá sozinho. É perigoso e poderia me perder. Aluguei um par de caiaques de mar e se sairmos agora o mar está relativamente em calma e poderemos fazê-lo. -Realmente detesto você, Sasha. Sabe de sobra que não vai se perder seguindo a linha da costa- Olhou seu relógio de pulso. -Estarei ali em quarenta minutos. E a próxima vez não me chame. -Bem, a próxima vez irei buscar você diretamente e evitaremos uma discussão. - Desligou o telefone antes que pudesse responder. Abigail desligou de repente o telefone e olhou Sarah. -É impossível. -Rendeu-se, Abbey! - Joley estava horrorizada. -Simplesmente acatou a tudo o que ele queria e nem sequer foi amável. Que acontece com as mulheres quando se apaixonam?- Ela, Hannah e Elle sacudiram as cabeças. -Não estou apaixonada.- afirmou Abigail. - Só quero que termine seu trabalho aqui e se vá. -Então por que não preencheu os vazios de Jonas quanto a Aleksander esta manhã? -perguntou Joley. -Não precisa retornar à cama? -Disse Abigail. -Não sei por que não disse nada ao Jonas. Aleksander faz um montão de coisas que poderiam pôr em perigo sua vida. Não vou cometer um engano falando muito a respeito de coisas das que não sei nada. Quero que sofra e mantenha a distância, quero-lhe de joelhos implorando perdão, o qual nunca lhe darei, mas não quero que lhe façam mal. -Para mim isso tem perfeito sentido.- declarou Hannah. -Acredito que todas estamos de acordo nisso -disse Sarah.


89

Capítulo - 8 -Não tem que me ajudar -mentiu Abigail enquanto observava Aleksander manobrar sobre a areia áspera, carregando seu caiaque. -Sou perfeitamente capaz de fazê-lo por mim mesma. De fato, provavelmente muito melhor que você. -Não queria te insultar com isso - disse Aleksander. -Onde quer que o coloque na água? -O melhor lugar está ali. - Assinalou uma larga praia arenosa perto de onde ele já tinha descarregado seu caiaque. - Os escolhos são suaves e teremos menos problemas para chegar às rochas. Teremos que remar entre elas onde há uma zona mais calma e poderemos estudar as formações com o passar do litoral. Conheço várias cavernas e enseadas capazes de esconder um bote, mas o condutor teria que ser um perito e a água estar medianamente tranqüila, como esteve essa noite. Devemos chegar facilmente utilizando os caiaques. -Sabia que ele desfrutava utilizando os caiaques nos rios de águas turbulentas, mas duvidava que o fizesse muito no oceano. A costa do Pacífico podia ser em particular áspera. -Você manda. Abigail o fulminou com o olhar. Teve o desejo infantil de lhe chutar as canelas quando caminhou com o caiaque sobre seu ombro sem a menor indicação de que lhe pesasse ou fosse uma carga excessiva. Os caiaques deslizaram na água facilmente tal como ela havia predito. A maioria das vezes, a água com o passar do litoral era áspera com enormes ondas assim Abigail se sentiu afortunada de poder remar entre as rochas onde a água estava tranqüila quando foram a caminho. -É um formoso dia - comentou Aleksander. Ela estava preciosa, mas não cometeu o engano de dizer-lhe. O sol brilhava em seus cabelos, convertendo-os em uma chama vibrante de cor. Sua pele se via suave e teve que apertar os remos com força para evitar estender a mão e tocá-la. Desejava tocá-la. Provocava-lhe insônia e passava andando a maioria das noites, contemplando as estrelas e perguntando-se em que parte do mundo estava ela. Agora estava com ele e ainda assim podia haver um oceano entre eles. Ela entrecerrou o olhar contra sol.


90 -Por que não está falando com Jonas a respeito do que seja que está fazendo? Ele é muito bom em seu trabalho. -Estou de acordo que ele é muito bom em seu trabalho, e é óbvio que ele sente muito carinho por você e suas irmãs. Tem as mãos cheias com a investigação da morte de Danilov.- Não queria falar de Jonas Harrington e maldito seja se queria falar de Danilov. Uma fúria fria removia seus intestinos. Tinha chegado quinze minutos tarde para Andre Danilov. A estrada era estreita e sinuosa e um carro se colocou diante dele, lhe atrasando. Quando o ultrapassou e alcançou a doca, Danilov estava morto. Algumas vezes parecia que sempre estava indo à carreira para alcançar aos assassinos e tropeçando-se com as vítimas cada vez que se dava a volta. Danilov tinha sido um bom homem, um bom agente e Aleksander não iria desistir sem saber que tinha repartido seu próprio modo de justiça. -Não é o mesmo o que está fazendo você agora mesmo?- Abigail afundou seu remo na água deslizando-se sobre a superfície. -As duas coisas estão vinculadas.- Aleksander manteve o passo sem esforço algum. -Danilov estava infiltrado investigando o movimento de artefatos e foi assassinado. Diria que há uma conexão direta com minha investigação além de que ele era minha responsabilidade. Vou encontrar o filho da puta que lhe matou. Abigail fez uma pausa e lhe olhou à cara. Não havia inflexão em sua voz, nem cólera ou fúria, mas o havia dito com absoluta convicção. -Não é só um policial, verdade, Sasha? Ele a olhou fixamente enquanto colocava seu remo na água com um poderoso golpe fazendo que seu caiaque se adiantasse ao dela. -Não pergunte se não quer saber, Abbey. -advertiu-lhe. Deveria ter sabido que lhe revelaria muito. Ela era muito hábil em notar cada matiz. Uma buscadora da verdade. Inclusive sua voz poderia fazer que homem quisesse confessar cada um de seus pecados… e, só Deus sabia que ele tinha um montão deles. Depois do que tinha acontecido na Rússia, Abigail lhe temia. Podia vê-lo em seus olhos, nas sombras que espreitavam ali. Odiava ter feito isto, ter posto essas sombras aí, mas não podia mudar o que era ou o que tinha sido. Não podia desfazer o passado e não podia apagar o que formava grande parte de seu caráter. -Isto fica cada vez melhor, não é? Por que demônios começou inclusive comigo em primeiro lugar? Acredito que nem sequer você sabe quem é. -Conheço-me mesmo muito bem, Abbey, e maldito seja se for me desculpar pelas escolhas que tenho feito. Foram decisões duras, mas tinha boas razões para as fazer. - Tinha jurado que não se defenderia, mas tinha subestimado a reação dela ao que tinha passado e sua obstinada negativa a lhe dar oportunidade de explicar-lhe o tinha pego despreparado. Na Rússia sempre tinha sido tão terna e compassiva, seu amor por ele tão completo e inquebrável. Agora estava perdido no que se referia a como tratar com ela. Sabia que poderia ser teimosa e sabia que tinha gênio, mas não tinha contado apanhar a uma tigresa pela cauda. -O que sabia de mim? Quando fui a Moscou faz quatro anos, sabia de mim e de minhas irmãs?- Parecia ridículo que alguém na Rússia tivesse conhecimento


91 das Drakes, mas seu coração retumbava e estava segura de estar no caminho certo. Uma gaivota gritou no alto. Inclusive com seus óculos escuros, a luz do sol sobre a água deslumbrou seus olhos quando tratou de ler sua expressão. O caiaque cortava o pequeno fluxo enquanto ela remava no silêncio. A superfície parecia cristal verde e só no fundo se podiam ver ocasionais fiapos de algas. Piscou rapidamente quando roçou o remo na água. -Sabia, não é? Não foi só um encontro casual. Aleksander amaldiçoou. Dentro de sua cabeça, em sua mente, estava repetindo cada maldição que conhecia. Ela estava enterrando suas oportunidades como se tivesse tirado uma arma e lhe disparasse através do coração. Não podia mentir a Abigail, sua voz sempre lhe impedia de fazê-lo, mas se lhe dizia a verdade, nunca lhe perdoaria. -Não acredita que já tem o bastante para me condenar sem entrar em como começou tudo? Começou. Apaixonei-me por você. - Tudo o que tinha em sua defesa era a verdade. E essa era a única verdade que poderia selar a greta havia entre eles para sempre. Remaram rápido e no silêncio, passaram várias praias arenosas e entraram em uma larga extensão onde as ondas aumentaram em tamanho e força. Não havia rochas que usar como amparo e Abigail fez gestos para sair da costa para evitar o grande escolho de ondas. Quando caíram em um ritmo de ondas mais calmas, Abigail lhe olhou fixamente. Doía lhe olhar. Amava-lhe tanto que lhe doía por dentro. -Tinha importância para mim que desejasse a Abigail Drake, simplesmente uma mulher sem nenhuma magia, ou nenhum dom. Eu. Importava-me mais do que possa imaginar. Supõe-se que devo acreditar nessa parte que a verdade é que se apaixonou por mim, quando todo o resto foi uma mentira? -Pergunte-me isso então. - desafiou ele. -Seu dom é procurar e encontrar a verdade. Pergunte-me se te amo. Ela virou a face longe dele, olhando diretamente para diante enquanto se deslizavam ao longo da extensão de praia que estava desafortunadamente livre de rochas. Queriam aproximar-se da borda mas era impossível com as grandes ondas, por isso seguiram remando, guardando a linha da costa à vista. Abigail normalmente desfrutava navegando em caiaque ao longo da costa. Podia ver as rochas recortadas na água que se metiam em lugares que um bote nunca poderia alcançar. Deslizar-se através da água lhe dava uma tremenda sensação de liberdade. Agora mesmo, sentia-se ameaçada de alguma forma indefinida. Aleksander não estava em um estado de ânimo conciliatório. De fato, mais que nada, tinha o pressentimento de que estava furioso com ela. -Não vai perguntar-me, verdade? -Quis arrastá-la a ele e sacudi-la até lhe imbuir um pouco de bom senso. Estavam bem juntos. Encaixavam. Sua vida nunca tinha sido completa até que teve Abigail. Nunca se havia sentido completo. Nunca tinha tido um lar ou uma família. Nunca tinha tido ninguém por quem retornar a casa. Demônios, nunca tinha desejado voltar para casa. Abigail tinha mudado tudo e não podia voltar para o vazio. Ela enchia sua vida de risada e amor. Encontrou pontos suaves nele, ternura e uma gentileza que nunca tinha sabido que tinha.


92 -Não. -Nunca acreditei que fosse uma covarde, Abbey. - Sabia que ele tinha posto essa cautela em seus olhos. Poderia sentir ela a dor pelo que lhe tinha feito se não lhe amasse ainda? Ele se aferrou a essa pequena esperança. Sua única esperança. Estava doída e ele tinha que alegrar-se de que ao menos sentisse algo por ele. -Para ser honesta, Sasha, importa-me um nada que acredita que me ama ou não. O teu não é o tipo de amor que procuro. -Abigail agarrou o remo até que seus nódulos ficaram brancos. Estava tremendo de fúria e se não fosse pelo fato de que estivessem atrás do rastro de assassinos, teria o largado. Mas a quem seja que ele procurava não só tinha matado a seu amigo, quase tinham matado a Gene e tinham tentado assassiná-la também. O caiaque deslizou através de um espaço bem plano de oceano, a atenção da Abigail estava na costa. Quando dobraram em um ponto concreto da costa ela pôde distinguir uma pequena praia na distância onde um grupo de mulheres, todas com saias ondulantes e camisas púrpuras brilhantes, corriam descalças no mar. O vento levava suas risadas, um som feliz e brilhante que a esquentou. -Vê essas mulheres, Abbey? -Impossível não as ver. -encontrou-se sorrindo ao ver os chapéus vermelhos oscilando acima e abaixo e entrecerrou os olhos para tratar de divisar a sua tia entre elas. -Sabem como viver a vida. Participam e encontram formas para ser felizes. Quer se agarrar a coisas que nos separarão para sempre? Para que? -Fez uma pausa, girou a cabeça para imobilizá-la com seu olhar de aço. -Me diga por que se nega nos permitir ser felizes. -Vim aqui para ajudar você a encontrar a seus criminosos, mas não para me envolver em nenhum debate filosófico, Sasha. Pensou que escalaria até meu dormitório e eu simplesmente me derreteria entre seus braços depois do que aconteceu?- girou-se para olhar às mulheres correndo para as ondas e saltando sobre espuma branca. Pareciam felizes e estavam passando um momento maravilhoso. Inesperadamente lhe doeu o coração. Carol sempre tinha sabido como divertir-se. Amar, perdoar e gozar de cada momento de sua vida. Importava-lhe pouco o que pensavam outros, regia-se por seu código. -Talvez isso é que vai mal em mim. - refletiu Abigail em voz alta. -Talvez tenha esquecido meu próprio código. Ele estendeu a mão e imobilizou seu caiaque. -Vê algo sobre a praia entre as rochas, perto desse pequeno grupo de árvores? Abigail entrecerrou o olhar e espionou para as árvores varridas pelo vento. -A verdade é que não posso ver nada. Há movimento? -Possivelmente. Essa que está na praia com as outras mulheres é sua tia, certo? Abigail fez um varrido lento dos escarpados rochosos, pondo particular atenção nas árvores e arbustos diretamente sobre a praia onde as mulheres estavam amontoando madeira para o que se temia seria uma fogueira ilegal. Não estava tendo nenhuma sensação em sua consciência que às vezes lhe era transmitida por suas irmãs, e sua tia estava dançando alegremente, seus braços


93 se ondeavam graciosamente no ar. Certamente Carol sentiria algum alarme se sentisse perigo. Abigail extraiu o binóculo de sua bolsa e fez outro varrido. As mulheres formaram um círculo solto ao redor da madeira e, claro, pequenas chamas começaram a saltar entre as lenhas. Uma mulher, e era definitivamente sua tia Carol, saiu do círculo para disparar uma foto com a câmara que sempre levava com uma cinta ao redor do pescoço. Abigail centrou sua atenção uma segunda vez no escarpado sobre a praia. -Vejo-os agora. - disse Abigail, aliviada. -Sim, um par de meninos do povoado e um par de seus amigos do Fort Bragg. Estão espiando as mulheres. Não tem que preocupar-se por eles, a Tia Carol se encarregará. -Crê que ela sabe que estão ali? -perguntou ele soltando o caiaque dela. -É obvio que sabe. Tia Carol é como Sarah. Definitivamente ‘sabe’ coisas. Provavelmente os meninos esperam que ela vá fazer algum tipo de bruxaria para poder filmá-lo e mostrá-lo a todos seus amigos. Quem sabe, só para agradá-los poderia fazê-lo. Acendeu as chamas. É mais que provável que Inez Nelson, que leva a loja de comestíveis em Sea Haven e dirige bastante o povoado, dará um puxão nas orelhas quando os vir. -Eu gosto de sua tia. -Guardou silêncio um momento. -E sua irmã Joley, também. Ela não queria que gostasse de ninguém de sua família. -Vamos, passemos ao seguinte ponto. Há rochas ali e podemos nos aproximar da costa. Abigail tomou a dianteira, remando fortemente para apartar da praia. Carol saberia que estavam no oceano, observando-a igual aos intrometidos adolescentes. Não queria que Carol pensasse que a estava espiando. Perto dali várias rochas se levantavam fora da água. Aleksander e Abigail levaram os caiaques sobre as grandes ondas, acelerando seu movimento para aproximar-se da terra. A pequena enseada prometia. Ocasionalmente uma grande onda rompia sobre as rochas, mas a água estava mais calma quando puseram rumo à costa. Escarpados pedregosos se elevavam desde oceano. Vegetação marrom e verde crescia em cada fenda possível, mas o terreno parecia desolado, desgastado e esculpido por séculos de água. Um comprido dedo de pedra se elevava do oceano como se os chamasse lhes fazendo gestos e o primeiro grupo de pedras não mostrava nenhuma caverna, remaram para a maior formação de rochas. -Há uma aqui, Sasha. - disse Abigail, avançando pouco a pouco e com dificuldade pela escura entrada. -É pequena, mas bem uma gruta que uma autêntica caverna. Não acredito que ninguém pudesse esconder-se aqui. -A água espumosa selava tampava e jogava espuma ao longo da base da rocha e alguma orvalhava no ar. Ele lutou para encontrar algo genuíno entre eles, uma ponte para ela. Algo que aliviasse a tensão e lhes desse um ponto de partida. -Isto é selvagem. Formoso e selvagem, Abbey. Não estranho que você adore este lugar.


94 -Sim, assim é. Sempre me senti afortunada por crescer aqui. -Era muito mais fácil remar nas águas mais tranqüilas e Abbey assinalou a borda onde a praia cintilava e brilhava por toda parte que olhava. -Esta é a Praia de Cristal, justo em meio do Fort Bragg. É única e bastante formosa a sua maneira. Tem toneladas de cristal e as pessoas devem buscar cristais da cor exata que querem. -Como pode haver uma praia de cristal? -Originalmente era um lugar de descarga. Durante anos, o oceano golpeou a praia, lhe dando forma e polindo-a até que pareceram bonitas pedras de cristal. - Abigail gesticulou para as enormes formações rochosas que se destacam ao longo da costa. -Duvido que vamos encontrar algo aqui, e em qualquer caso está muito perto de uma praia popular e bastante concorrida. Quereriam um lugar muito mais isolado. Remaram através das centenas de formações rochosas que havia ao longo da praia, até que seus braços estiveram cansados. Havia canais pouco fundos e várias cavernas, mas nada que pudesse servir para esconder um bote. Os caiaques não caberiam dentro das poucas pequenas aberturas e Abigail estava segura de que estavam muito perto da costa e os contrabandistas nunca se arriscariam a ser visto. Bordearam o seguinte ponto onde havia uma baía. A praia inteira era propriedade privada. Abigail começou imediatamente a manobrar ao redor das rochas para assegurar-se de que não havia nenhum lugar onde um bote se pudesse esconder. -Não acredito que há nenhuma caverna aqui, Sasha. Ao menos eu nunca notei nenhuma e percorri com caiaque esta costa muitas vezes. -Está cansada. Abigail pôde sentir a carícia de sua voz na pele. Parecia afundar-se através de sua pele e envolver-se ao redor de seu coração. Não pela primeira vez se perguntou se Aleksander tinha sua própria magia por que ela não podia evitar reagir a ele, cada vez que lhe escutava. -Um pouco. Fazia tempo que não o fazia e não estou em forma. Como está você? -Não parecia cansado. Parecia estar desfrutando. O amparo do caiaque cobria suas pernas, mas ela poderia ver os poderosos músculos de suas costas e braços trabalhando enquanto ele conduzia o caiaque através da água. -Disse que tinha um código, Abbey. Tem?- A pergunta pareceu cair do céu e ela lutou por encontrar seu motivo para perguntar. Ele sabia muito bem que ela vivia para sua honra o melhor que podia. Fossem quais fossem seus motivos, não queria ser arrastada a isto. Um toque de vento os encontrou, escorregando sobre ela e acariciando sua bochecha fazendo que quase não lhe ouvisse. Não foram as palavras, se não como as disse. Recordou essa voz de Moscou, quando lhe amava. Quando se esforçava por ele. Quando a fazia sentir como se ela fosse a única mulher em seu mundo. Especial além de toda fantasia. Sabia que seria melhor manter a boca fechada, mas não obstante elevou o queixo, tomando consolo do toque do vento. -Sei que o tenho. E você? Tem um código, Sasha? -Absolutamente, vivo por ele, Abbey. -Seu olhar penetrante deslizou sobre ela. -Sabe que o faço. Sabe que nunca voltarei as costas a algo quando sei que é correto.


95 -E foi correto me sacrificar por sua carreira? -Por que não o deixava? Podia ouvir-se a si mesma gritando que se detivera mas queria lhe ferir e não estava fazendo mais que ferir-se si mesma. -Não. Nunca por minha carreira. Pelas vidas dos outros meninos que o monstro teria assassinado. Não trocaria vidas por minha própria felicidade, ou pela tua. - Falava tranqüilamente mas seus olhos eram turbulentos e de um profundo azul escuro. -Não posso mudar quem sou, Abbey. Não posso desfazer as coisas que tenho feito em minha vida. Só posso dizer que te amo e que te quero em minha vida. Apartou o olhar dele, de sua convicção, da falta de remorsos. Abigail tragou várias vezes antes de estar segura de que tinha o controle absoluto de sua voz. -Este é o último ponto antes que estejamos no Noyo Harbor. Se não encontrarmos o que está procurando, teremos que tentá-lo outro dia, sair do porto e nos dirigir mais ao sul pela linha da costa. -Realmente crê que tomei a decisão equivocada? Ela deixou de remar e fez alarde de ajustar seu assento. Quando lhe olhou, deliberadamente encontrou seu fixo olhar. -Quero saber se sabia do meu talento antes que nos conhecêssemos realmente. - Esperou em agonia pelo que pareceu toda uma vida. Em realidade só foi um batimento do coração de silêncio. -Sim, sabia. A dor chegou de nenhuma parte, agarrando-a por surpresa. Podia ouvir-se gritando por isso, profundamente em seu interior onde ninguém mais podia ouvila. Disse a si mesma que tinha estado esperando essa resposta, mas isso não aliviava a lacerante e implacável dor. Tinha lhe dado tudo o que era, tudo o que alguma vez tinha desejado ser. Tinha lhe dado tanto que não ficou nada quando ele a colocou tão descuidadamente a um lado. Abigail fez todo o possível para evitar que soubesse que a tinha ferido outra vez. Inclusive se ordenou não formular nenhuma outra pergunta. Não queria saber até onde chegava sua traição, mas sempre tinha sido muito obstinada e orgulhosa. -E me deixar fazer a foto foi só um extra acrescentado? Um modo de me conhecer para poder me utilizar? -Sim. Abigail lhe voltou as costas, atravessando a água com golpes fortes, seguros para entrar na baía. O grito dentro dela se elevou até que a bílis lhe subiu à garganta, até que seus ouvidos rugiram e suas têmporas palpitaram. A dor corria tão profundamente que não havia nenhuma palavra nela para dizer a ele… ou a nenhum outro. Não queria sentir. Nunca mais. Manteve a face oculta enquanto examinava o litoral em busca dos arcos e áreas mais escuras que indicariam aberturas na rocha. As lágrimas nublavam sua visão, mas sacudiu a cabeça para livrar-se delas. Ele não precisava saber que ela nunca tinha amado a ninguém antes dele. Ou depois dele. Ou pior até, que ainda tinha a capacidade de machucá-la. Abigail divisou várias cavernas perto do ponto. -Cavernas. - Obrigou à palavra a passar a dolorosa constrição de sua garganta.


96 -Fique atrás de mim, Abbey. -E qual seria a razão? Para me proteger?- Arqueou uma sobrancelha, mas manteve a cara apartada. -Acredito que é muito tarde para isso, Sasha. -Não vou discutir isto. Eu vou diante e você fica atrás. -Havia aço em sua voz e um vestígio de cólera. Aleksander era um homem com muitíssimo controle. Para que ele deixasse ver sua cólera devia ser que tinha acertado em um ponto sensível. Ficou atrás, lhe deixando passar. Se alguém estava à espreita, Aleksander devia pensar no perigo e não em estar zangado com ela. Ou talvez consigo mesmo. Deu-lhe espaço para manobrar e lhe seguiu por volta da primeira caverna. A caverna era grande para remar por dentro e Aleksander o fez com pouca vacilação, estudando as paredes altas e a espaçosa área. Um bote definitivamente poderia deslizar-se dentro e não ser visto. Sendo tão larga a câmara, fazia eco e ressonava quando as ondas se estrelavam contra a barreira de rocha, e dentro da caverna a água era extremamente turbulenta. Confiou em que Abigail permanecesse fora para lhe advertir das maiores ondas que entravam na caverna que pudessem ser perigosas. Tratou de encontrar algum rastro, alguma pequena evidência que indicasse que a lancha rápida tinha estado oculta quando a guarda costeira a tinham estado procurando, mas não havia nada absolutamente. Havia uma luz que chegava através de uma greta a um lado indicando que ali poderia haver outra abertura ao longo da série de cavernas. A água golpeava a formação rochosa, alargando os ocos, alisando-os e polindo-os através dos séculos. Aleksander remou ao redor da baía tentando encontrar a fonte da luz, mas ficou desiludido quando a greta foi muito pequena para o caiaque. Uma lancha rápida não teria podido entrar. Não havia saída através da caverna. Ele negou com a cabeça para Abigail. Ela estava tratando de lhe observar, observar o oceano, e manter um olho nos escarpados circundantes e a baía próxima se houvesse um atirador apostado alguma, observando-os. Aleksander moveu o caiaque com o passar da ponte de rocha para a seguinte caverna. Esta parecia mais prometedora. A câmara era bem grande e facilmente poderia esconder uma lancha rápida. A água estava muito mais calma, embora fosse muito menos profunda. -Vou entrar, Abigail. A água é de aproximadamente um metro de fundura, mas a câmara chega muito e parece que há mais do que posso ver daqui. A água está muito mais tranqüila nesta caverna e eu não gosto de ver você exposta aí fora. Alguém poderia estar naquelas rochas. Não quero que lhe disparem outra vez. Abigail tampouco estava particularmente interessada em estar sentada oferecendo um alvo, assim que lhe seguiu à câmara grande, remando todo o caminho para a parte de atrás onde as ondas se chocavam em um túnel menor. -Poderiam ser capazes de atravessá-lo - disse Aleksander. -Você o que crê? -Duvido que colocassem uma lancha aí- falou de modo distante- Parece que gira para a esquerda e se estreita um pouco. Nós poderíamos atravessá-lo, mas não acredito que eles se arriscassem. Acredito que esta caverna está perto do porto e é mais provável que se escondessem aqui enquanto a guarda costeira os


97 buscavam. Se tivessem que abandonar o bote podiam chegar à costa com uma equipe de mergulho. -Se aquele túnel chegar até a outra caverna tem uma rota de escape prática. - raciocinou ele. -Jogamos uma olhada aqui primeiro antes de comprová-lo, -propôs Abigail. -Se encontrarmos algo que pudesse indicar que podiam ter usado o túnel, veremos se o podemos atravessá-lo. Remou ao redor da câmara, olhando com atenção sob a água enquanto ele examinava as paredes rochosas e os poucos espaços e suportes em busca de qualquer prova que pudesse indicar que os homens que tinham matado Danilov tinham estado na câmara. Se a tinham usado uma vez, existia uma boa probabilidade de que a utilizassem outra vez e Aleksander os estaria esperando. -Há cavernas sobre Sea Lion Cove, -disse Abigail. -Não é mais provável que utilizassem, um lugar perto do moinho e a rota dos contrabandistas como uma base mais permanente? Teria que ter um lugar para esconder o navio quando eles não o utilizem. -Não necessariamente. Abigail se girou rapidamente e cravou os olhos nele. -A quem está perseguindo, Sasha? São ladrões de arte? O que disse ao Jonas era um boato? -Meu país tem um dos índices mais altos de roubo de arte do mundo. disse ele. -Isso não é uma resposta. -Já viu o colar. É genuíno. Abigail sentiu a pequena agitação no fundo de seu estômago, a que sempre a advertia quando a verdade era algo mais do que estava ouvindo. Havia sentido essa agitação quatro anos atrás e não tinha atuado o bastante rápido. -Aleksander, não envie Jonas a uma busca inútil. Ele não merece isso. -Seu trabalho é encontrar quem matou Danilov. O assassinato ocorreu em sua jurisdição e estou seguro que toma seu trabalho a sério. Ele é desse tipo de homem. Meu trabalho é acabar com o fluxo de objetos que saem de nosso país e recuperar o que puder. -Então por que estamos aqui remando com os caiaques em busca dessa lancha? Ele levantou o olhar, seus olhos brilhavam intensamente, como duros diamantes. -Possivelmente seja parte de minha investigação. Abigail estremeceu. Ele tinha mudado nos últimos quatro anos. Sempre tinha havido um fio em Aleksander, um lado dele que nunca tinha podido alcançar completamente, mas parecia mais pronunciado agora. Jonas lhe tinha advertido que se afastasse dele e Jonas era um juiz perspicaz de caráter. Sem avisar Aleksander se estirou e arrastou seu caiaque perto do dele com o que ficaram cara a cara. -Aparta esse olhar de sua cara. Posso merecer cólera de você, mas não isso. Seu coração saltou grosseiramente e sua mão foi à garganta em um gesto de defesa.


98 -Não tenho idéia do que está falando. -Medo. - Cuspiu a palavra. -Nunca teve razão para me temer. Olha-me como se fosse tirar uma arma e disparar em você. Não mereço isso e me ponho malditamente doente quando o vejo. Ela refreou uma réplica. Queria brigar com ele. Queria estar enfrentada a ele para lhe manter à distância de um braço, mas seu comportamento era muito incomum. Aleksander não brigava ou discutia. Não era sua forma de ser. Abigail não gostava de discutir tampouco e a maior parte de seu tempo juntos tinha sido ou ardente e sexual, ou preguiçoso e agradável. Pior que seu estranho comportamento, e sua cólera incomum que pareceu arder justo sob a superfície, era a dor em seus olhos. Não queria vê-lo. Ele não merecia que ela o visse ou o reconhecesse, mas lhe tinha ferido simplesmente pelo brilho de medo que lhe tinha mostrado. -Sinto muito, Sasha. - Ela apertou os dentes, molesta de que as palavras lhe tivessem escapado. -Suponho que na realidade não nos conhecemos muito bem. Passou muito tempo. Passei por momentos muito traumáticos e não sou tão forte como estava acostumado a ser. Talvez você também. Recusou lhe olhar aos olhos. Não a fascinaria. Não acreditaria nele ou seria deslumbrada pela força de sua personalidade ou seu propósito de controle. Ela tinha que enfocar com o que poderia ou não poderia viver. Aleksander Volstov tinha sido um formoso sonho, um produto de sua imaginação. O homem que estava com ela agora era difícil, duro e sacrificaria qualquer coisa ou algo por seu objetivo. Tinha que lhe ver desse modo ou voltaria a perder-se outra vez. Abigail espiou pelo flanco de seu caiaque, esquadrinhando a água. Era mais escura na caverna e as sombras dificultavam ver sob a superfície. Um buraco no teto perto da parte de atrás permitia que a luz do sol se derramasse pela água. Rastreou uma zona, mantendo-se longe de Aleksander. Tentando não pensar ou sentir. Havia muitas rochas e rincões e as algas marinhas se bamboleavam daqui para lá com o movimento das ondas, fazendo quase impossível ver nada. -O que é isso?- Ele assinalou um ponto justo à esquerda dela. Abigail se moveu ligeiramente. A alga marinha cobria e revelava alternativamente um pequeno brilho. -Não posso tirá-lo. -É algo brilhante. Poderia ser metal. Recuperar o objeto ia ser uma pequena provocação. Se tivessem estado em caiaques sem saias, poderiam ter saltado e pescá-lo. Mas com o tipo de caiaque que usavam, uma vez que saíam na água, seria difícil voltar dentro sem ajuda. -O quer?- Perguntou ela. -O pegarei- disse ele. Abigail lhe ignorou e se inclinou tudo o que era possível, com o remo pego firmemente em uma mão enquanto estirava o outro braço para o objeto, fechou seus olhos, e mergulhou por ele. Sua mão aterrissou com estupidez sobre ele, e o agarrou enquanto se dava a volta e subia totalmente molhada, com o objeto em sua palma. -Fanfarrona - grunhiu Aleksander. -O que é? Ela abriu o punho. -Um relógio. - O entregou. -Reconhece-o?


99 Aleksander lhe deu a volta entre suas mãos. -Este era o relógio de pulso do Danilov. Os bastardos devem haver tirado antes de lhe disparar. -Sinto muito, Sasha. Por que o tirariam? -Algumas vezes levamos dispositivos de rastreamento. O de Danilov estava em seu relógio de pulso. -Como saberiam eles isso? -Puderam havê-lo suposto. Sua voz era distante, como se sua mente estivesse em algum lugar longínquo. O apertado nó dentro dela se moveu e afrouxou. E isso dava medo. Tinha estado perdida atrás de sua traição. Nunca poderia voltar a passar por algo assim e precisava manter suas defesas em alto. Seu pesar, sua cólera, todas as emoções dele a corroíam até que ela só pôde pensar em lhe reconfortar. Detestava essa parte particularmente empática dela que nunca poderia controlar. -Como era ele? Aleksander guardou silêncio um longo momento. O oceano ressonava contra as rochas como as lavando trabalhando interminavelmente. Ele suspirou. -Trabalhava com ele, Abbey. Não me relacionava socialmente com ele. Lamento não ter superado essa parte de mim, o menino criado pelo estado para trabalhar para o estado e nunca confiar em ninguém, mas só o fiz uma vez.passou-se a mão pelos cabelos, um sinal de agitação que raramente lhe tinha visto fazer. -Deveria ter falado mais com ele. Tinha família, gente a que estava unido.- Aleksander amaldiçoou em sua própria língua e olhou longe dela. Abigail recordou todo o tempo que tinha passado em sua companhia. Tinham estado tão absortos um no outro que não se deu conta nunca de que não lhe tinha apresentado a amigos. Colegas de trabalho, muitas vezes, mas amigos nunca. -Esteve maravilhoso com Joley, Sasha, sabia exatamente o que lhe tinha que dizer. -Tive um montão de treinamento, Abbey. Leio às pessoas. -Realmente esteve apaixonado por mim alguma vez?- No momento em que as palavras lhe escaparam ela quis as devolver a sua garganta. Doía-lhe a garganta e isto lhe notou na voz. Ele amaldiçoou outra vez. -Como pode me perguntar isso? -Acaba de me dizer que nosso encontro não foi acidental, que sabia de minhas habilidades antes que nos conhecêssemos. Posso ter sido ingênua, Aleksander, mas agora volto a ser uma pessoa que pensa. Arrumou esse encontro comigo e fingiu desfrutar de minha companhia para que assim ajudasse você com seu caso. -Maldição, Abbey. Havia meninos morrendo. Quer que me desculpe porque quis utilizar cada ferramenta disponível para mim? Estava lutando contra a papelada burocrática, meus superiores, os pais, outras agências. Ele tinha estado matando fazia dois anos. Quer saber como são meus pesadelos? Por um momento seu peito ardeu e seu estômago se fez um nó e se agitou. Desejou sacudi-la. Desejou arrastar à força onde pudessem estar sozinhos e ela não pudesse escapar e tivesse que lhe escutar. Era um escuro e primitivo desejo


100 e se sentiu ligeiramente envergonhado por ele, mas não ia desculpar se pelas coisas que tinha feito. Não tinha sido ela a que tinha tido que examinar os pequenos corpos. E não tinha sido ela a que tinha tido que dizer aos pais que seu filho não voltaria para casa porque um monstro doente e retorcido os tinha pego. E não tinha sido ela a que lutava dia e noite para obter ajuda, qualquer ajuda, quando ninguém queria admitir o que estava ocorrendo. Ou até o que poderia ocorrer. Estudou sua face. A cólera voltava seus olhos de um azul escuro e punha pequenas linhas brancas ao redor de sua boca. -Por que não me pediu diretamente que ajudasse? -Não conhecia você. Não sabia como era. Vinha de outro país e tinha um talento que não entendia na realidade. Se tivesse que voltar a fazê-lo de novo, Abbey, diria a verdade desde o começo, mas inclusive se não fui sincero sobre ter anterior conhecimento de suas habilidades, acredita que meus sentimentos para você eram... e são... genuínos. Não mudou minha vida, mudou-me . Algo dentro de mim é diferente. Pensei que poderia existir sem você, mas não posso. Não posso e isso não tem nenhum sentido. -Aleksander. - Ela tratou de lhe deter mas ele negou com a cabeça. -Não, você me fez isto. Fez impossível para mim voltar a viver sozinho. O trabalho não importa como o fazia. Passo por todos os trâmites e consigo que o trabalho se faça, mas não é o mesmo. Eu tinha um propósito e uma direção e você levou isso. Pensei muito nisso. Deus sabe que tive bastante tempo para pensar. Está zangada e doída e aceito que tem direito a está-lo, mas isso não troca o fato de que se supõe que temos que estarmos juntos. Não estou disposto a jogar pela borda o que tivemos. Uma forte onda rompeu através da câmara, elevando-se e salpicando água a grande altura. -Melhor que saiamos daqui. -advertiu Abigail. Não havia resposta para ele. Se o que dizia era verdade, rompia-lhe o coração. Se era mentira, estava quebrado de qualquer maneira. Queria ir para casa e ser reconfortada pelo calor e o amor de suas irmãs. -Ainda temos que nos aproximar do porto, Sasha. Está ficando tarde. Pelo menos sabe onde se esconderam essa noite. -Não é onde guardam o bote. Temos que encontrar o bote. Abigail franziu o cenho, tratando de recordar cada detalhe do litoral que tivesse percorrido. Estalou os dedos. -Espera um momento. Não sei por que não pensei nisso antes, mas há um lugar ao sul daqui. Está a um pouco de distância, mas se fosse esconder um bote de todo o mundo, é aí onde o ocultaria. Não é uma caverna, Sasha, mas vê como entra a maré e as ondas podem ser duras. Isto é tranqüilo para esta zona. Esconder um bote em uma caverna é perigoso inclusive por curto tempo. É certo que se esconderam aqui e moveram o bote logo que acreditaram que era seguro. Não quereriam ser facilmente vistos seja de uma praia ou desde mar. Há uma baía ao norte do povoado de Elk. Está entre dois dedos do Cuffeys Cove. A praia é arenosa e fica seca nas marés altas a menos que haja tormenta. Um navio poderia ser atracado ali e colocado entre os arbustos e árvores. Os pescadores esportivos poderiam vê-lo, mas a guarda costeira não porque a baía fica ao sul. Inclusive as curvas da estrada ficam longe da borda e isso faria possível ocultá-lo.


101 Normalmente têm uma pessoa que espanta a todo mundo quando tentam transpassar propriedade privada, mas Inez me disse faz um par de semanas que lhe encontraram ferido e está no hospital. -Comprovemos. -Sabe que hoje não podemos ir. Olhe o fluxo.- Gesticulou mar dentro. Esse litoral pode ser muito áspero. Sigamos e o faremos outro dia. -Ainda necessito de você esta noite. Tenho que ir ao Caspar Inn e necessitarei que venha comigo. -Por que tenho que ir com você? A estalagem é perfeitamente segura. Todo mundo passa por ali -Necessito que venha comigo. Não tenho companheiro, recorda? -Leva Jonas. - vaiou entre dentes, remando furiosamente para tratar de apartar-se dele. Facilmente lhe manteve o passo. -Todo mundo conhece o Jonas. Acredito que localizei a Ilya Prakenskii. Trabalha para um homem chamado Sergei Nikitin lhe disse isso, é um homem muito perigoso. Se estiver comigo, poderia ser uma reunião pacífica. Sem você ali, acreditarão que vim perseguindo-os e alguém poderia acabar ferido. Franziu o cenho para ele com aberta suspeita. -Não posso imaginar que me queira com você se ali houver uma mínima possibilidade de perigo. -Normalmente, isso seria certo, mas acredito que sua presença impedirá que haja violência e há muitos inocentes ali. -Crê que Prakenskii e Nikitin estão envoltos no roubo dos objetos de arte? -Isso é o que tenho intenção de averiguar. Abigail suspirou. Deveria dizer que não. Deveria ser fácil, mas em lugar disso deu de ombros, tratando de aquietar seu coração. -A que horas?


102

Capítulo – 9 Abigail pôde ouvir um ruidoso coro de risinhos enquanto descia as escadas. A voz de sua tia disse algo e depois seguiu um cântico solene. Definitivamente suas irmãs estavam lançando feitiços e ninguém a tinha chamado para a diversão. Irritada, irrompeu no salão. Centenas de velas vacilavam, lançando sombras dançando sobre as paredes. Suas irmãs e sua tia formavam um círculo no meio do chão onde sete velas vermelhas estavam colocadas, uma diante de cada uma delas. Abigail ofegou. -OH, não! O que estão fazendo? - aproximou-se e para seu horror um conjunto de calcinha e sutiã de renda vermelha jazia no centro exato do círculo. Será melhor que não sejam minhas!- Pareciam delas. Pareciam exatamente as suas. -Não lhes terão atrevido! As mulheres levantaram o olhar, sorrindo de orelha a orelha, dissolvendose em risadas ante sua expressão indignada. -Sei que não roubariam minha roupa íntima de minha gaveta! -Claro que não - disse justificando-se Hannah. -Nunca entraríamos em seu quarto. Abigail colocou as mãos nos quadris e as fulminou com o olhar.


103 -Nunca me pus isso. Comprei-as faz meses quando estava decidida a terminar com o Aleksander, mas decidi que incluso não estava preparada. Não podem dizer que as encontrou na máquina de lavar roupa. -Já quase terminamos. - Hannah sustentou em alto seu dedo e se voltou para o círculo. Seis das sete velas vermelhas estavam acesas. Só ficava a que estava diante de Hannah. As mulheres entoaram as palavras rituais solenemente. Conjunto escarlate aumenta a chama da paixão Convoca ao homem de sensual atrativo Amor luxurioso sobre chão e cadeira Tabuleiro de mesa e guarida da zorra Os fogos engolem, inflamam os sentidos Com desejo lhe pulsem, ele pronuncia seu nome Quando suas vozes se elevaram em um acorde harmônico, Hannah acendeu a última vela vermelha fazendo que as sete chamas ardessem ao redor da sexy roupa íntima de renda. Abigail cobriu brevemente a face com as mãos. -Não posso acreditá-lo. De verdade que não posso acreditá-lo. - Ela olhou furiosamente a sua irmã mais nova. -Posso entender às demais... Hannah e Joley sobretudo e inclusive a tia Carol... mas Elle, você? Elle sorriu abertamente, claramente impenitente. -Não tem que pôr isso Abbey, mas no caso, já as tem. Hannah completou a cerimônia enrolando o papel que continha as palavras e símbolos do cântico ao redor do conjunto vermelho e selando o cilindro com uma gota de cera de cada uma das velas vermelhas. -Aí tem, Abbey - disse alegremente. -Só recorda ter muito cuidado quando as levar postas. Pode ocorrer algo. Abigail colocou suas mãos às costas. -Todas estão em enormes problemas. Tenho a intenção de tomar represálias. Isto está muito mal! Como encontraram minha roupa íntima completamente nova quando eu a escondi inclusive de mim mesma? Hannah deu de ombros. -Flutuaram escada abaixo justo até o interior do círculo. Abigail franziu o cenho a Joley. -Você! Bruxa traidora. Você tem feito isto com seu feitiço musical. Essa coisa... -assinalou à mão estendida de Hannah- é letal especialmente que vou sair com ele esta noite. Hannah deixou cair o braço a um flanco, retendo a posse da roupa. A risada se desvaneceu de seus olhos. -Como que vai sair com ele? Ele? Aleksander? O descarado que lhe fez chorar? Esse ele? A cerimônia era para quando fosse sair com algum outro. Não para ele. -Não é exatamente um encontro- corrigiu-a Abigail. -Necessita que lhe acompanhe ao Caspar Inn. -De verdade? Dançar sempre é divertido. - Joley arqueou uma sobrancelha e olhou fixamente Hannah. -Tenho vontade de festa esta noite você o que diz?


104 -Não pode ir- Abigail disse. -Nenhuma de vocês. Poderia ser perigoso. Joley, já recebeu uns quantos disparos e se viu forçada a nadar através de uma caverna submarina. -Eu estou com Tia Carol. As lembranças são geniais. Estou tirando fotografias da baía e documentando a experiência, - disse Joley, piscando um olho a sua tia. -Disse que acreditava que reservar mesa é a melhor maneira de ir. -Proíbo-lhes de irem ao Caspar Inn. -Põem muito boa música - assinalou Sarah. -Supõe-se que me estão ajudando- gemeu Abigail. -O que acontece com todas vocês? Isto poderia ser realmente, realmente perigoso. -Que é precisamente a razão pela que devemos estar ali- disse Joley. Aleksander o Grande não cuidou de você apropriadamente assim vamos assegurar-nos de que se faça. -Não é como se não fossemos dançar ali todo o tempo- acrescentou Kate. É normal que vamos. As pessoas nos esperam. Provavelmente Matt sugerirá que seu irmão Danny traga Trudy Garret. Estão comprometidos. Esqueci de contar isso. Terá que encontrar uma babá para seu garotinho, Davy, mas se chamar agora, poderá fazê-lo. -Quantos mais, melhor- disse Joley. -Você o que diz, Tia Carol? Algumas das damas de sua Rede Hat Clube quereriam vir? -Isto soa delicioso, querida. E poderia perguntar ao Reginald também- disse Carol. -Reginald? -As irmãs Drake intercambiaram olhadas perplexas. -Acredito que o conheçam como o Velho do Mar- disse Carol, com um pouco de amargura na voz. O silêncio se alargou e cresceu. A luz de vela se movia tremulamente. As irmãs olharam Sarah. Ela esclareceu a garganta cuidadosamente. -Tia Carol. Céu. Não estará considerando ter um interesse romântico no Velho… er... no senhor Mar, verdade? -E por que não? É bastante elegante e em sua juventude tinha um maravilhoso senso de humor. Vi-lhe em seu posto de fruta e conversamos durante uma hora. Foi bastante encantador e pareceu muito contente de me ver. -Mas tia Carol- protestou Kate. -Estava extremamente interessado no Creative Memories e consentiu uma entrevista comigo para abrir um posto em sua casa. Está convidando às damas de Rede Hat Clube e vamos elaborar várias páginas para seus álbuns. -Não sabia que tivesse uma casa- disse Joley. Carol lhe deu um golpe na cabeça com um periódico enrolado. -Isso não tem graça, senhorita. Reginald é um homem maravilhoso e sua casa é preciosa. -Está nos dizendo que o Velho do Mar vai convidar a um montão de gente a sua casa e fazer uns álbuns de fotos?- perguntou incredulamente Abigail. -Não vejo por que têm que lhes pôr tão parvas com isto - disse Carol. -Tive um encontro com ele faz anos, antes do Jefferson. Rompi-lhe o coração, embora sem intenção. Foi difícil escolher com qual ficar. Estava comprometida com ambos, mas tive que me decidir quando minha mãe o averiguou. Chorei durante dias.


105 Abigail se deixou cair no chão junto à Hannah. -De verdade teve um romance com ele? -E chorou por ele?- perguntou Joley. -Estou me enjoando- disse Hannah. Abigail agarrou as calcinhas vermelhas enroladas a Hannah. -Talvez lhe deveríamos dar estas, tia Carol. Joley apertou fortemente sua perna. -Abbey! Morda a língua. Tia Carol, não pode deitar-se com esse homem, digo-o a sério. Tem hostilidade reprimida. Poderia te assassinar e lançar seu corpo ao oceano. -Sua hostilidade está reprimida- disse Sarah. -Atira fruta às pessoas. -Isso não lhe converte em um assassino em série -disse Carol. -Espera um momento. - Libby sustentou em alto sua mão. -Estava comprometida com ambos os homens? Ao mesmo tempo? Carol suspirou e mexeu nos cabelos. -Sei, sei. Foi mal de minha parte, mas eram tão maravilhosos. Dois homens de aparência agradável e fortes completamente dedicados a mim. Não podia resistir a nenhum deles. -Tia Carol- Libby escolheu suas palavras cuidadosamente. -estabeleceste algum outra oficina do Creative Memories? -Bom, Inez quer dar uma aula em sua casa e é obvio também quer Donna. Detive-me na casa de Irene só para dizer olá e Drew estava interessado em seu pequeno álbum assim que lhe disse que lhe ajudaria com isso. E me topei com o Frank Warner. - Ela olhou suas caras. -Foi puramente acidental. Ele vinha pela calçada, tropecei em uma greta e quase caí. Dobrei o tornozelo, mas por sorte ele impediu que caísse e me ajudou a chegar ao Sidewalk Café. Tomamos café e conversamos. -Jonas disse que se mantivera afastada dele - repreendeu-a Sarah. -Deveria ter sido grosseira quando me ajudou?- Carol parecia muito satisfeita consigo mesma. -Em qualquer caso todo resultou excelentemente. Reginald passou por aí e nos viu juntos e isso definitivamente conseguiu sua atenção, e Frank convidou a sua casa para ver sua coleção. -E por que faria ele isso?- perguntou Kate. -Ele nunca convidou ninguém para ver sua coleção. -Bom, querida, ele sabia que compartilho seu interesse e estava sendo educado. Contei-lhe que minha afeição era a fotografia e me perguntou se praticaria com sua arte. Tirar boas fotos de objetos de arte é muito mais difícil do que a gente pensa. Disse-lhe que lhe daria as fotografias em um álbum junto com os negativos. Esteve muito disposto a cooperar. -Sabe, tia Carol- disse Hannah- crê que está a salvo dos sermões de Jonas porque é sua tia favorita, mas isso não lhe deterá. Ficará muito bravo e fará você se sentir culpada. Carol sorriu serenamente. -Isso não será possível, carinho. Raramente me permito sentir culpabilidade. É uma emoção extenuante e uma perda de tempo. Pode ser realmente auto indulgente e algumas pessoas se vêem apanhadas e se derrubam na culpabilidade. Eu prefiro seguir adiante e viver minha vida. Jonas pode


106 arreganhar tudo o que queira, mas o fato é que estou pondo à corrente com Sea Haven e eu gosto bastante de Frank. Joley pôs as mãos sobre as orelhas. -Não quero ouvir isto. Temos que ir a suas festas de insetos estranha cada vez que vamos a casa. De fato, acredito que só as organiza quando vamos para casa para mostrar a suas celebridades. Detesto ir a essas festas. Temos que nos vestir bem e nos mesclar com toneladas de pessoas que não conhecemos e nunca encontraremos outra vez. -Sua linguagem é atroz, Joley. E em seu negócio deveria estar acostumada a tratar com desconhecidos- admoestou-a Carol. -Ajudar a sua comunidade é um dever para todos, não só para uma Drake. Joley sorriu travessamente. -Muito bem, se quer ter um encontro com esse homem, adiante. Eu me penetrarei em sua elegante exposição e bisbilhotarei um pouco por mim mesma. -Não o fará!- Carol e Sarah o disseram ao mesmo tempo. -Por que todos podem brincar de detetives e divertir-se, menos eu? De fato, talvez tome essas calcinhas vermelhas. Abigail não as necessita. - Estalou os dedos e estendeu a mão. -Atrás, irmã!- Abigail se encontrou a si mesma rindo outra vez. Sempre era assim com sua família. Quando estavam juntas, não importava o mal que se sentisse, suas irmãs arrumava para fazê-la rir. -Falando das calcinhas vermelhas, tia Carol, não há forma de que esse feitiço proceda de um livro de feitiços. É muito parvo. De onde demônios saiu? Carol participou da risada quando seu olhar descansou na Hannah. -Certo que vocês tentam coisas novas todo o tempo, verdade, querida? Hannah sustentou em alto suas mãos. -Esta vez, sou completamente inocente. Não fui eu. -Não, não foi você. Foi sua tia Blythe. Ela tem seu talento e uma de nossas amigas mais queridas veio uma noite, chorando. Sua vida era muito difícil, já sabem. Cuidava de seu pai, que estava muito doente, e não tinha tido um encontro romântico desde fazia tempo. Anos, na realidade. Assim quisemos fazêla rir e incrementar sua confiança e Blythe saiu com a cerimônia das calcinhas vermelhas. É obvio nós rimos histericamente e fizemos rir a nossa amiga e em conjunto passamos uma tarde agradável. -Mas funciona. -Bom, claro que o faz. Hannah dirá que ela pode agarrar algo muito tolo e fazê-lo funcionar. As mulheres necessitam confiança às vezes; ao igual a muitas pessoas levam um talismã e acreditam que lhes dá sorte, o suplemento extra fez que nossa amiga, e qualquer que utilize o ritual, tão parvo como é, sinta-se formosa e confiante. Cada vez que põe a roupa íntima vermelha não pode menos que recordar a cerimônia e isso faz rir, assim brilha e isso é atrativo também. Tudo isso influi na confiança de uma mulher. -Vamos, tia Carol!- disse Joley. -Hannah, de verdade pode fazer isso?- Perguntou Abigail. -Cria feitiços? Hannah deu de ombros e olhou Joley e as duas romperam a rir.


107 -Fazemos todo o tempo, mas algumas vezes sai o tiro pela culatra. Hannah deu uma cotovelada em Abigail. -A que hora se supõe que tem que estar pronta para seu encontro? Está ficando tarde. -Não é um encontro- insistiu Abigail. -Estou-lhe ajudando. -Virá te buscar ou irá em seu próprio carro?- perguntou Sarah. -OH, por São Pedro, virá me buscar mas se supõe que tem que parecer um encontro. Esse é o xis da questão. -Está segura que quer fazer isto?- perguntou Kate. -Sei que te faz mal estar em sua companhia. -Dói quando penso nele, o qual é todo o tempo- admitiu Abigail. -Mas lhe ajudarei, me assegurarei de que não o matem e irá embora rapidamente de Sea Haven. Sempre desfruto indo ao Caspar Inn. Conheço todo mundo ali e me divertirei. - Olhou seu relógio de pulso. -Melhor me arrumar. E vocês parem com as cerimônias. Hannah estendeu sua mão. -Eu encerrarei essas sob chave até muito tempo depois que ele se vá. -Não, não o fará. E será melhor que nenhuma outra de minhas coisas comecem a flutuar através da casa- advertiu Abigail. -Jonas vem pelo caminho- anunciou Sarah. -Não quero falar com ele- disse Abigail precipitadamente. -Deixou-me um par de mensagens e não tenho nada que lhe dizer. -Eu não vou abrir a porta- disse Hannah. -Que o faça outra. - Abbey- protestou Sarah- é Jonas. Não pode simplesmente lhe ignorar. -Não vou ignorar exatamente, estou ocupada. Há uma grande diferença. Subiu correndo as escadas enquanto Carol abria a porta principal. Suas irmãs a seguiram com o olhar com súbita desilusão. Abigail esteve sentada na beira de sua cama durante muito tempo envolta em uma toalha depois de sua ducha. Lentamente rompeu o selo do cilindro de papel. O feitiço não tinha que surtir efeito e disse a si mesma que quão único queria era sentir-se formosa. Precisava sentir-se formosa. Não poderia confrontar o estar em um lugar cheio de mulheres com o Aleksander e sentir a singela e velha Abigail Drake. O Caspar Inn não era sofisticado, não tinha que colocar roupas elegantes, mas queria algo feminino e atrativo. A estalagem estava cheia de música e baile, um lugar que muitos dos residentes de várias das cidades costeiras visitavam. Tocou o conjunto vermelho com um pequeno suspiro. Não era como se ela e Aleksander tivessem pegado um quarto na estalagem, ou em qualquer outro lugar na realidade. -Hey!- Hannah apareceu com a cabeça no quarto. -Quer companhia? Abigail assentiu com a cabeça e esperou até que Hannah fechou firmemente a porta. -Jonas está ainda lá abaixo, verdade? -Oh, sim. - admitiu Hannah. -Sarah e Kate lhe distraíram entregando a tia Carol. Dirige-lhe bastante bem, mas sei que se não puder fazer que ela faça o que ele diz, Jonas saltará por mim. Sempre o faz quando está furioso com alguma das outras. Aparentemente eu sou um alvo fácil, assim me estou escondendo aqui contigo- Olhou com curiosidade o conjunto vermelho. -O que está fazendo?


108 -Não sei. Sentada, aqui. Decidindo se vou ser boa e me vestir com jeans e uma agradável e cômoda regata, ou pôr a roupa vermelha e um vestido e fazer que se retorça. Deveria ser a boa garota ou a má? -Qual quer ser? -Má. Muito, muito má. Quero que me olhe e deseje o que nunca lhe voltarei a entregar. Quero que ele sonhe comigo e recorde cada vez que me tocou. -Quer lhe torturar? -Absolutamente quero lhe torturar. E quero que dure muito tempo- admitiu Abigail. -A tortura pode ser uma arma de duplo fio, Abbey, -aconselhou Hannah. Está segura que quer se arriscar? E se você se apaixonar por ele uma vez mais? Abigail olhou a seu redor como se as paredes pudessem escutar. Baixou a voz. -Nunca deixei de lhe amar. Estou tão apaixonada por ele que me põe doente, mas nunca o voltarei a admitir ante ele. -Definitivamente ponha esse top negro realmente apertado com sutiã vermelho de renda. O top deixa o ventre descoberto. Tem um ventre genial, por toda essa natação. Hannah pegou a escova. -Solte o cabelo. Nunca o leva solto é provável que ele creia que o terá preso. Tem um cabelo maravilhoso. -Não sei se deveria estar fazendo isto- Abigail avaliou os riscos. -Pode ser que não, mas poderia fazer você se sentir melhor. E em qualquer caso, se ele te fizer mal, o converteremos em um sapo ou em uma lesma. Eu me inclino pela lesma de momento. - Riu brandamente. -Esse lugar estará até acima. Sabe que Sylvia Fredrickson estará ali e paquerará como uma louca. Gina Farley recorda-a, dirige a creche local agora e Patty Granger provavelmente estejam ali também. Adoram dançar. A um montão de mulheres gostam de ir ali para dançar. Precisará se sentir formosa. - Ela fez uma pausa, permitindo que o cabelo de Abigail se colocasse em seu lugar. -Ele é do tipo dos que olham a outras mulheres quando está com você? Abigail riu. -Conhece-me melhor que isso. Golpearia sua cabeça. -Está formosa, Abbey, e com suas calças jeans negras se verá impressionante. Ponha essas que se ajustam a seus quadris. Tem um cinto para levar ao redor da cintura? Se não eu tenho um genial. -Eu adoraria tomá-lo emprestado - disse Abigail corajosamente. Hannah ia sempre feita um figurino, enquanto que Abigail tendia a ficar mais confortável. Se Hannah dizia que necessitava de um cinto certamente colocaria um e ia fazer que Aleksander Volstov ficasse pasmo. -Importa se digo algo?- perguntou Hannah. -É uma observação muito pessoal. -Adiante. - Abigail se sentia imprudente. -Abbey, você nunca foi o tipo de mulher que se precipita à luta. Inclusive quando éramos meninas, na realidade não discutia, nem com mamãe e papai, nem conosco, e menos com seus amigos. Se algo te desgosta você fecha as portas às pessoas.


109 -Sei que o faço. - Abigail ficou com o olhar fixo em suas mãos para evitar o olhar de Hannah. -Desse modo sobrevivo. -Não é simplesmente sobrevivência. É sua forma de brigar. Recusa-se contra-atacar e assim não pode perder. É uma mulher muito forte e não tem medo. Faz coisas que a maioria das pessoas nunca fariam. É mais forte que eu, mas tem que saber que quando fecha essas portas não deixa nada para a outra pessoa. Todo mundo comete enganos. Todo o mundo. Eu te quero muitíssimo e tudo o que digo é que não permitiria ao Aleksander Volstov entrar em nossa casa, em nossas vidas se ainda não tivesse sentimentos muito fortes por ele. Não admitiria nem por um segundo que ama Aleksander e nunca consideraria se vestir para ele. Hannah deu um passo fora do dormitório, suas mãos se moviam com elegância pelo ar. -Só penso que se tiver sentimentos tão fortes por ele, deveria considerar por que. O que ele fez foi terrível. Ou pode ser que para nós seja terrível. Não tenho nem idéia do que seria tratar de viver e trabalhar na confusão do que esteve ocorrendo em seu país durante os últimos anos. Você sempre foi boa considerando todos os lados de uma questão, Abbey, mas talvez neste caso não possa ser imparcial. Seus dedos agarraram um cinto brilhante de ouro de lei que flutuava através do vestíbulo para ela. -Esse será perfeita para você. -Francamente não sei como me sinto sobre o Aleksander agora mesmo, confessou Abigail enquanto Hannah deixava cair o cinto em sua palma estendida. -Fechei realmente essa porta. Muito firmemente. Assegurei-me de me manter em movimento para que não houvesse possibilidade que ele pudesse me alcançar. Devolvi suas cartas sem abrir. Não havia nada que dizer. Não lhe conheço. Acreditava que lhe conhecia, mas não. Não posso estar nem confiar em um homem ao que não conheço. -Sente-se muito atraída por ele- disse Hannah. -E quando está perto de você suas auras se mesclam. Não estão bem definidas. A casa lhe deixou entrar. Diz que não o quer, mas foi com ele em caiaque e certamente não tinha por que fazê-lo. Vai com ele esta noite e outra vez não há uma autêntica razão. O que digo é, que não é uma mulher que faça coisas que não quer fazer. Você quer estar com ele. Se não quisesse, Abbey, ele nunca se aproximaria de você. Estaria no mar ou na praia ou voando para a Austrália ou Florida ou qualquer outro lugar onde vá estar com seus golfinhos. Não estaria aqui com ele. Abigail passou o apertado top pela cabeça. -Desejaria que não tivesse razão, Hannah. - retirou-se os cabelos do pescoço e o deixou voltar a seu lugar -Não tenho nem idéia do que fazer com ele. Muito me temo que nunca voltasse a sobreviver a ele. -Por que?- Hannah rebuscou no porta jóia para encontrar os brincos mais adequados. -Nem sequer sabe por quê? De pé com a calcinha vermelha e o top negro, Abigail parecia vulnerável enquanto pressionava os jeans negros contra seu peito. -Não acredito que o amor tenha que ser assim, Hannah. Dói todo o tempo. Penso nele todo o tempo. Sempre estive completa sem um homem, mas de


110 algum modo ele trocou isso e agora olho para ele, esse homem que era meu mundo e me pergunto se realmente lhe conheci. Ele não é como eu pensava. -O que pensava? Abigail se afundou na cama. -Palavras como gentil e terno me vêm à mente. Agora o olho e penso em palavras como duro e desumano. Como pode ser? -Todos têm muitos lados. Você os tem. Sabe que os tem. Por que sempre tem tanto cuidado de se manter sob controle? Tem caráter e é bastante capaz de se desforrar quando alguém incomoda você. Por isso se afasta, tem medo do que poderia fazer. Abigail sacudiu a cabeça. -Não é o mesmo. Pensei que era o mesmo, mas não o é. Hannah suspirou. -Não estou segura sobre o que fala assim não posso te ajudar. Ele te faria mal? Mataria-te? -Não! Céus não! Ele nunca me faria mal sem importar quão zangado estivesse. Não. - Abigail sacudiu a cabeça. -Aleksander se colocaria na frente para receber uma bala por mim. -Fez-se um pequeno silêncio. Abigail parecia emocionada. -Acabo de dizer isso? É certo, mas não tinha pensado nisso. Hannah tocou sua mão. -Se sabe isso tão profundamente em seu coração, Abbey, suspeito que sabe o muito apaixonado que ele está você. Talvez deva a ambos dar outra oportunidade, averiguar exatamente o que ocorreu, seus motivos e ver se pode viver com eles. Abigail colocou as calças. -Não sei. Ainda não posso acreditar que ele esteja aqui. Parece um sonho. E me disse que acredita que um homem chamado Leonid Ignatev pôs preço a sua cabeça. Ignatev tentou um jogo de poder me utilizando como peão e Aleksander arrumou para me tirar da Rússia e lhe derrotar. -Isso não é bom. - disse Hannah e se sentou na cama. -O há dito Jonas? -Não podemos dizer a Jonas. Tentaria que deportassem Aleksander só para lhe afastar de nós. Sabe que o faria. Não quereria Aleksander em nenhum lugar perto de nós. - Ela esfregou as têmporas. - Eu não deveria lhe deixar estar em nenhum lugar perto de nenhuma de vocês, mas conheço todas muito bem. Não importará o que eu diga. Intrometem-se de todas as formas. Hannah riu. -Tem muita razão, embora esteja preocupada com a tia Carol brincando de detetive com Frank Warner. Nenhuma de nós lhe conhece realmente bem. Poderia estar envolto nisto? -Ele é muito amigo de Inez e ela é uma juíza genial de caráter. Não sei. Na superfície parece que alguns pequenos indícios apontam para ele, mas não quero tirar conclusões precipitadas- disse Abigail. Colocou-se o cinto de ouro ao redor da cintura. -O que te parece? -Parece-me que vai deixá-lo louco- disse Hannah. -Não me surpreenderia que a maior parte de Sea Haven apareça esta noite no Caspar Inn. -Espero todo mundo. Não há forma de que tia Carol e seus amigos se mantenham afastados. E poderia valer a pena ver seu Reginald.


111 -Desejaria poder atrair aos homens como faz ela- disse Hannah tristemente. -Hannah!- Abigail abraçou a sua irmã. -Você atrai a toneladas de homens. Hannah sacudiu a cabeça. -Não, não o faço. Ninguém me convida nunca para sair. -Quer que alguém te convide para sair? Há alguém em particular em quem está interessada?- perguntou Abigail. Hannah deu de ombros. -Não. Não realmente. Só gostaria de ser capaz de ter um encontro se alguém interessante aparecesse. Abigail estudou a cara de sua irmã, com sua perfeita estrutura óssea. Hannah era formosa com sua pele imaculada e suas enormes e espessas pestanas. -Ocorrerá. Hannah lhe lançou um breve sorriso. -Magicamente poderei falar sem gaguejar? -Pode falar com todas nós sem gaguejar. E às vezes com o Jonas. Nem sempre lhe ajudamos quando ele está ao redor. -Jonas não conta. Tenho que poder falar com ele para me defender. E nunca falo de nada importante com ele. -Ocorrerá. -Abigail!- A voz de Jonas subiu como um estampido escada acima. Hannah se sobressaltou visivelmente. -Acredito que vou me vestir e ver se Joley quer vir comigo esta noite. -Realmente irá aparecer no Caspar Inn, verdade?- perguntou Abigail. -Não perderia isso por nada do mundo- disse Hannah. -Me deseje sorte. - Abigail piscou a Hannah e elevou a voz. -Já vou, Jonas, não há necessidade de despertar aos mortos. - Ela se apressou escada abaixo para lhe impedir de subir e tropeçar-se com Hannah. -Sinto muito, Abbey. - Jonas passou a mão pelos cabelos, deixando-o alvoroçado. -Tenho muitas coisas na cabeça e acredito que Tia Carol vai ser minha morte. Se a máfia russa estiver de alguma forma mesclada com o Frank Warner, a verdade é que não a quero por ali com sua câmara. -Comeu algo hoje? Parece cansado- disse Abbey. -Vêem a cozinha enquanto falamos e lhe prepararei algo para comer. -Obrigado, posso tomar algo no Salt Bar e Grill mais tarde. -Não há problema- Conduziu-lhe para a cozinha e lhe assinalou uma cadeira. -Não pode velar por todo mundo, Jonas. Somos todos responsáveis pelas escolhas que fazemos. -Isso eu sei, Abbey. - Jonas apartou uma cadeira com a ponta do pé e a montou escarranchado, observando como ela agitava casualmente uma mão para o fogão. -Tenho amigos em todos os pequenos povoados deste litoral. A máfia joga forte. Se estiverem aqui, quero saber por que. E os quero fora daqui antes que alguém mais resulte machucado. -Falou com a Marsha? Como se encontra Gene?


112 -Ainda em cuidados intensivos. Sem você e suas irmãs, estaria morto. Marsha envia seu amor e diz que fará contato quando Gene estiver fora de perigo. -Pôde dizer algo? Jonas negou com a cabeça. -Não, ainda está em coma. Os médicos não estão seguros de que seja capaz de recordar muito, ou algo absolutamente, inclusive se acordar. -Pobre Marsha. A família inteira deve estar de causar pena. - Abigail suspirou. -Qualquer um pensaria, que em um povoado tão pequeno, seria fácil encontrar a um grupo de russos. Alguém deve saber onde estão ficando, Jonas. Têm que estar em algum hotel ou hospedaria ou em alguma estalagem. Uma vez os encontre, todo mundo pode manter um olho neles. - Abigail bateu vários ovos e verteu a mescla na frigideira de omeletes. -Infelizmente não é tão fácil. Fiz averiguações, é obvio, mas suponho que alugaram uma casa através de um terceiro assim que o dono da casa nem sequer sabe quem a alugou. - Assinalou aos ovos. -Mais queijo. Eu gosto com um montão de queijo. -Estou deixando espaço para verduras. Precisa se nutrir bem. - Suas mãos voaram pelas verduras fazendo pequenos e fino cortes sobre elas. -É obvio, se forem todos como Aleksander e podem falar inglês sem sotaque... - interrompeuse. -Ele tem sotaque. -Só quando quer ter. Conheço alguns idiomas, Jonas, e falo seis medianamente bem, mas nada como Aleksander. Ele fala com um acento nativo perfeito, sempre que quer. E dependendo do dialeto local pode trocar o som para mesclar-se igualmente. Ele é um gênio no que se refere a idiomas. -Então por que fala com acento russo? Abigail se deu a volta ante o tom de voz de Jonas. Ele já não estava sentado relaxado, a não ser completamente alerta, seus olhos brilhavam como duros diamantes. -Não sei. É uma boa pergunta. Também falava com acento quando estávamos na Rússia, mas lhe ouvi falar um inglês impecável e pode soar como se fosse do sul ou um nativo da Califórnia. Eu não poderia assinalar a diferença. Disse que tinha sido treinado assim. -Certo que sim- Jonas ficou em pé de um salto. -Tem café por aqui? -Nós não tomamos café, Jonas, já sabe. O que passa? -Ele é um agente, isso é o que acontece. Provavelmente é um espião. -Já não há guerra fria... Ainda temos espiões? -Sabe, Abbey, não é graciosa. Tem que tomar tudo isto muito a sério. Aleksander Volstov é um mau assunto olhe como o olha. Abigail jogou um molho de verduras no ovo batido. -Sou muito consciente do que é Aleksander e do que não é. Ele diz que está aqui fazendo um trabalho para a Interpol, Jonas. Não sou tão sutil para te enganar. Houve um silêncio pequeno. -Obrigado- Jonas agradeceu. -De nada. Acende a água para o chá.


113 Ele olhou ao redor. -Onde está Hannah quando a necessita? De fato, onde está todo mundo? Todas desapareceram. -Tem medo de que se volte contra ela. - Apoiou seu quadril na bancada e lhe apontou com a espátula. -Realmente a chamou de cabide de arame? -Maldição, Abbey, não vá por esse caminho. -Fez verdade? Isso foi cruel, Jonas. Por que é assim com ela? Não crê que tenha sentimentos? -Ela sabe que é linda, Abbey. Demônios, todos sabem. Está na capa de cada revista daqui ao inferno e volta. Seria cruel se fosse certo. Não me pode dizer que firo seus sentimentos quando lhe digo que deve ganhar um pouco de peso. -Ela não precisa ganhar peso para ser bonita, Jonas. -Não, precisa ganhar peso para estar sã. Vai ficar aí e me dizer que não notou o pálida e frágil que a vê ultimamente? Um bom vento a poderia tombar. Fazem-na trabalhar muito. Abigail girou a omelete cuidadosamente. -Deixemos isto claro. Observou que Hannah estava pálida, parecia frágil e com um peso insuficiente e estava preocupado porque crê que está trabalhando muito, assim sua solução foi lhe dizer que parecia um cabide de arame para roupa? -Quando o expõe assim, não soa muito bem, mas essa não é a forma em que o disse. -Sim, assim soou. Do que outra forma pôde soar?- Abigail ondeou a mão para o cesto e esse se abriu. -É um neardental, Jonas. E todo este tempo eu pensando que era um encanto com as mulheres. -Estive-a controlando ultimamente e não parece estar bem. Pensei pedir a Libby que lhe desse uma olhada enquanto está aqui, mas então o inferno se desatou por aqui com esse assassinato e não tive oportunidade de falar com a Libby a sós. -Hannah está bem. - Inclusive enquanto o dizia, Abigail se perguntava se era verdade. Realmente sabia? Tinha estado tão metida em seus próprios problemas desde que tinha chegado a casa, que realmente não tinha emprestado muita atenção a nenhuma de suas irmãs. Isso a fez envergonhar-se. -Sentiríamos se não o estivesse. -Seriamente? Ela esconde coisas às pessoas. Eu não sabia que tinha asma até o último Natal. Conheço-a toda a vida. Como podia não saber isso? Ela colocou a omelete em um prato e a ofereceu. -Há muitas coisas que não sabe a respeito de Hannah. -Estou começando a me dar conta disso. E não acredito que seja só eu. Observo-a agora que está em casa. Sempre faz coisas por outros. Quem as faz por ela?- Jonas comeu um bocado e sorriu abertamente para ela. -Pode cozinhar. Não tinha nem idéia. Abigail se encontrou rindo. -Assombroso, verdade? Auto conservação. Alguns lugares onde estive investigando não têm comida rápida ou restaurante.


114 -Hey, vocês dois. - Hannah entrou na cozinha, apoiando um magro quadril contra a porta. Abigail estudou sua irmã e pela primeira vez pôde ver sinais de cansaço. Estava mais magra que o habitual, embora Abbey tivesse que admitir, que isso não parecia importar. Hannah era tão atrativa e exótica que parecia bonita estivesse como estivesse. -Está faminta? Estou cozinhando. -Só chá para mim. - Hannah ondeou a mão para a bule e esse assobiou imediatamente. Jonas sorriu abertamente. -Eu adoro como faz isso. A sobrancelha de Hannah subiu rapidamente. -Não acreditava que você adorasse nada que eu fizesse. -Esta bem vestida. Aonde vai?- perguntou Jonas. -Levo jeans e uma camisa muito cômoda- assinalou Hannah. -Quem se arrumou foi Abigail. Jonas se virou para olhá-la. -Raios! Está genial. -Obrigado por se dar conta- disse Abbey secamente. -Tem um encontro com o Aleksander- anunciou Hannah. -Ele não me perguntou aonde ia. -Pergunto-lhe agora. - Jonas fulminou com o olhar Abigail. -Há alguém na porta- disse Hannah com um pequeno sorriso. -Fique aqui mesmo que vou ver- disse Jonas e partiu através da casa para abrir bruscamente a porta principal.

Capítulo - 10 -Harrintong- saudou Aleksander, com traços inexpressivos enquanto atravessava a porta, obrigando Jonas a lhe ceder espaço. -Abbey está preparada? -Sim, estou. - disse Abigail precipitadamente e tentou empurrar Jonas, que estava lhe obstruindo o passo. Intercambiou um olhar com a Hannah, pondo os


115 olhos em branco enquanto o fazia. Os homens tinham que fazer posturas todo o tempo? Aleksander rodeou Jonas e segurou sua mão. -Está realmente formosa, baushki-bau. - Sua palma acariciou os cabelos enquanto a aproximava dele. Seu acento era muito mais evidente e Abigail imediatamente se sentiu culpada por haver contado a Jonas da super habilidade de Aleksander com os idiomas. Sentiu seus dedos fechar-se ao redor dos dela, seu calor corporal envolvendo-a, a força de seus músculos enquanto a encaixava sob seu ombro. Era-lhe tudo tão familiar. Inclusive cheirava como recordava, limpo, masculino e muito atrativo para seu gosto. Seu corpo se movia contra o dela quase protetoramente quando saíram andando ao ar noturno. Ao longe o oceano ressonou e pôde cheirar o sal no ar. O céu era claro e as estrelas cintilavam. Uma noite perfeita, justo o que necessitava. -Está longe, Abbey. - Sua voz foi baixa, seus lábios contra o ouvido dela. Me conte o que vai mal. Ela agitou a mão para abranger os arredores. -Isto. Você. Eu. Sempre estou tão perdida a seu redor, Sasha. Ele levou sua mão à boca. -Não ao redor de mim, não enquanto esteja com você, você nunca estará perdida, Abbey. A pele formigou ali onde os lábios dele roçaram seus nódulos. Em todo o tempo que fazia que conhecia Aleksander, nunca tinha havido silêncios torpes entre eles. Agora, sentia-se nervosa e agitada. Com suprema auto-disciplina, Abigail apartou sua mão dele. -Como vai a investigação? Houve outro pequeno silêncio e logo ele suspirou com resignação. -Vai. Tenho algumas pistas. Depois do primeiro exame o colar parece ser autêntico, mas é obvio o enviamos aos autênticos peritos. - Abriu a porta do passageiro de seu carro para ela. -Nós?- Inclinou a cabeça, vacilando antes de deslizar-se no assento. -Tem alguém trabalhando com você? -Era uma forma de falar. -Tem certeza?- Ele fechou a porta e Abigail se sentiu apanhada. Essa sensação se intensificou quando ele entrou pelo lado do condutor. Seus ombros quase tocavam os dela. Suas mãos eram grandes, fechando os dedos ao redor do volante e lhe recordando muitas coisas. Apartou a cara dele para olhar fixamente pela janela. Por que estava pensando em seu tato, seu beijo, o sabor e a sensação dele em lugar de traição e mentiras? Inspirou, tomando em seu corpo quando deveria ter estado rígida e resistente. Imediatamente conteve o fôlego, procurando evitar a fragrância e sensação dele. Tratando de não notar que suas mãos estavam tremendo e, por dentro, seu estômago se apertava em rígidos nós pela espera. Quando o veículo entrou na estrada principal, Aleksander tratou de alcançar sua mão outra vez, entrelaçando seus dedos com os dela.


116 -Não respira. Se continuar assim terei que fazer o boca a boca e já sabe aonde nos levará isso. A voz dele foi tão baixa e sensual que pareceu vibrar através de seu corpo inteiro. A idéia de sua boca sobre a dela era perigosa. Recordou a primeira vez que ele a beijou. Sentiu-o como uma marca, como se lhe tivesse roubado uma parte deixando seu rastro para sempre. -Provavelmente desmaiaria - formou um pequeno sorriso. -E então onde estaria? -Entre meus braços. A salvo. Abigail deixou que o silêncio se estendesse entre eles durante alguns minutos. A idéia de estar entre seus braços realmente quase a fez desmaiar. Era perigoso. -O que quer que faça esta noite? Pressionou-lhe a mão sobre a coxa e a manteve ali. Podia sentir a forma e força dos músculos dele sob o fino tecido de suas calças. -Simplesmente se divirta. Nikitin gosta de música e o Caspar Inn tem um bom espetáculo em vivo assim é lógico que vai estar ali. Reconhecerá-me, é obvio, e terá a seu guarda-costas, assim tudo será amistoso. Quero ver com quem fala, quem está com ele. E logo, vou seguir lhe. Têm que estar escondidos em uma casa em algum lugar. Não se arriscariam com um hotel. Terão utilizado um intermediário que lhes alugasse a casa. -É muito provável que minha família apareça- advertiu-lhe ela. A temperatura parecia aumentar no carro, ao menos subia desde seu braço e ardia em sua face. Ele deu de ombros. -Isso nos ajudará a aparentar que é um encontro. -Haverá algum perigo para minhas irmãs? -Nikitin nunca começaria problemas em púbico. Mantém a ilusão de ser um homem de negócios muito honrado. -Aleksander, acredita que Nikitin é o responsável por pôr preço a sua cabeça? Crê que ele mesmo fará um intento? -Não havia forma de ocultar a ansiedade em sua voz e Abigail nem sequer o tentou. -Não com todo mundo diante. E Nikitin é um intermediário. Ele colhe o dinheiro e faz os acordos, mas nunca aperta o gatilho. Em realidade se acha mesmo um homem de negócios, não um criminoso. - Lançou um breve sorriso. Em meu país algumas vezes a linha é muito fina. -Em qualquer país às vezes a linha é muito fina. - encontrou-se começando a relaxar-se, mas não era bom quando precisava manter sua armadura estando ele ao redor. Tinha posto o perfume que ela tanto gostava; cheirava áspero e tentador. -Leonid Ignatev está atrás do contrato. A menos que me arrume isso para lhe neutralizar, terei que olhar sobre meu ombro o resto de minha vida. Entretanto saiba, Abbey que não é nada novo. Enviou a outros por mim, mas eles falharam e eu não. -deu de ombros. -Assim é a vida. Ela sacudiu a cabeça. -Não, não é. Essa não é a forma de viver. Cedo ou tarde alguém vai estar te esperando e você não estará preparado.


117 Os dentes dele cintilaram em um débil sorriso. -Pensei que estaria a salvo algum tempo nos Estados Unidos investigando obras de arte roubadas, mas parece que me coloquei em um ninho de vespas. -Isso parece. Não acredito nas coincidências. Se houver arte russa roubada aqui, eles têm que estar envolvidos de algum modo, não crê? Ele assentiu enquanto entravam no Caspar saindo da estrada principal. -Eu tampouco acredito nas coincidências, Abbey. Em qualquer caso, nada sai da Rússia sem que Nikitin saiba. E quereria sua parte. -Aleksander- Abigail esperou até que ele estacionou o carro no estacionamento do Caspar Inn. -Pode falar sem acento, mas não o faz. Por que não? -É o que se espera de mim, baushki-bau, e de todas as formas não quero aparentar nada diferente. -Não, claro que não. - Suspirou brandamente. -Por que me chama baushkibau? Onde o ouviu? Pela primeira vez desde que lhe conhecia, Aleksander pareceu quase vulnerável, se tal coisa fosse possível. -É só um terno carinhoso. Não há tradução. -Isso sei, mas de onde o tirou? Por que o usa? Ele se virou para ela e, no interior do carro, pareceu ocupar todo o espaço. Seus dedos se apertaram ao redor dos dela. -É uma tolice, de verdade, Abbey. -Bom, diga-me de toda forma. Ele passou a mão pelos cabelos, outro indício de nervos. Aleksander Volstov, o homem com nervos de aço. Agora estava realmente intrigada. Manteve constante contato visual, negando-se a lhe permitir escapar sem uma explicação. -Isto é ridículo, Abbey, é só um nome absurdo. - Quando ela seguiu lhe olhando fixamente, deu de ombros casualmente. -Quando estava na casa onde me criei, havia uma mulher que era realmente boa conosco. Cantava-nos uma canção de ninar pelas noites, ou quando um dos meninos menores estava doente ou assustado. Algumas vezes utilizava esse termo em particular. -E essa é a canção de ninar que sempre me cantava- Lhe fez um nó na garganta. Pela primeira vez ela pensou na diferença na forma em que ambos tinham sido educados. Um garotinho em uma casa com outros muitos meninos. Nenhum deles dotado com pais amorosos e nenhuma casa cheia de amor e risada. Emoldurou-lhe a face com as mãos. -Adoro essa canção. O alívio cintilou brevemente nos olhos dele. -Eu também, mas sei que é um desses vestígios da infância dos que sempre estamos tratando de nos desfazer. -Isso faz você humano, Sasha. Acredito que faz grandes esforços para não sentir emoções. Isso não é nada bom. -Algumas vezes é preciso para sobreviver. Sentiu-o por dentro por ele. Pelos dois. Sua vida tinha sido tão diferente e ainda assim, quão mesma a dela. -Odiaria que realmente tivesse razão. -Sobre o que?


118 -Sobre que deveríamos estar juntos. - Quase se tampou a boca com as mãos, mas as palavras tinham escapado antes de que poder as deter. Tinham que ser as calcinhas vermelhas falando. Certamente não podia estar tão perto dele e não perceber seu fôlego sobre a pele e ansiar seu corpo dentro do dela. -Tenho razão. Um pequeno sorriso curvou sua boca. -Sempre crê tê-la. Entremos antes que me meta em mais problemas. Abriu sua porta rapidamente, deslizando-se fora no ar fresco da noite antes que pudesse detê-la. Ele também saiu rapidamente e seu olhar varreu o estacionamento, o edifício, e a rua, como sempre fazia. Com muito cuidado. Meticulosamente. Tomando nota de cada detalhe. Aprendendo de cor o traçado. Aleksander passou seu braço ao redor de Abigail e a conduziu para a parede atrás de um dos muitos arbustos. Seu corpo pressionou contra o dela, seus ombros bloquearam a luz do alpendre. Apanhou-lhe as mãos contra a parede a ambos os lados da cabeça. Ela parecia pequena e ligeira, com suas curvas suaves apertadas contra seu peito. As lembranças lhe alagaram. O calor de sua pele, a percepção e textura. Os cabelos derramando-se sobre seu corpo como uma cascata sedosa. Seu tato. Seu sabor. A boca que provocava seus sentidos até um terrível desejo. Seu corpo movendo-se com um ritmo perfeito abaixo do dele. Um homem não tinha tanta disciplina. Tinha vivido muitos meses sem risadas ou o brilho do sol. Muitas noites sem o consolo deste suave corpo. Não podia esperar até havê-la convencido. Inclusive sabia que a estava pressionando mas era muito tarde. Com um pequeno gemido, inclinou sua cabeça para a dela. Seus lábios eram frescos e suaves e pareceram derreter-se sob os seus. Riscou sua boca com a língua, percorrendo a comissura de seus lábios para persuadir que os abrisse para ele. O desejo era ardente e ávido, arranhando seu interior e propagando-se mais abaixo, correndo velozmente através de suas veias com um tipo de fome voraz que endureceu seu corpo até uma dor intolerável. Beijou-a uma e outra vez, incapaz de saciar-se, incapaz de afastar-se dela. Seu corpo empurrava agressivamente contra o dela e a envolveu entre seus braços, arrastou-a tão perto que logo só havia espaço entre eles para suas roupas. Sentia-se faminto dela. Tremia de desejo. Com uma necessidade feroz de abraçá-la para sempre. -Quero deter o tempo, Abbey. Quero que todo mundo desapareça e nos permita só estar juntos. - Sussurrou contra o ouvido e retornou a sua boca. Fogo e mel, uma combinação que nunca poderia resistir. Ela punha seu mundo do reverso e o fazia sentir-se como se tivesse tudo. Como se tudo o que ele fazia valesse a pena. -Como o faz?- murmurou, levando-se seus cabelos aos lábios. Como me faz sentir fora de controle quando minha vida inteira é todo controle? -Não fale. Beije-me. - Abigail deslizou os braços ao redor de seu pescoço, movendo os lábios sinuosamente sobre os ele, daqui para lá, diminutos beijos brincalhões desenhados para lhe voltar louco. -Outra vez, Sasha. Beije-me outra vez. A voz dela atravessou sua guarda e foi diretamente a seu coração. Maldita fosse por sua habilidade para lhe pôr de joelhos. Ele sempre tinha sido um homem forte, independente, até que a conheceu. Agora se sentia incompleto,


119 inclusive perdido. Nunca se havia sentido só ou tinha conhecido realmente o sentido da palavra até que ela fugiu dele. Beijou-a com cada fibra de seu ser, cada emoção de seu coração. A cólera e a luxúria e mais que nada o amor, tudo se mesclava fazendo que não pudesse separa-os. Abigail Drake lhe tinha dado sua alma e depois tinha desaparecido de sua vida levando-lhe com ela. -OH, meu Deus- disse Inez Nelson. -Não olhem, senhoras. Esta gente jovem já não tem nenhum sentido do decoro. Abigail se tornou para trás, tratando de esmagar-se contra a parede, seu olhar saltou até o do Aleksander. Tratou de fazer-se o menor possível com a esperança de que ninguém a reconhecesse. Um coro de risinhos seguiu à declaração de Inez. -Abbey! A cerimônia está funcionando!- Gritou Carol alegremente e a saudou com a mão. A cor se arrastou para cima pelo pescoço até as bochechas de Abigail. Não apartou a vista de Aleksander, mesmo que sabia que a via culpado. -Certamente, tia Carol. -respondeu e ficou mortificada quando ouviu sussurros e outro coro de risadas, o qual queria dizer que sua tia tinha explicado tudo sobre a cerimônia. -Que cerimônia?- perguntou Aleksander. -Não queira sabê-lo- disse Abigail. -É totalmente necessário entrar aí? Não tem nem idéia de quão más podem ser essas mulheres. Ele acariciou-lhe o cabelo para trás. -Acredito que tenho que ouvir tudo a respeito dessa cerimônia que deixou você tão preocupada. Vamos, entremos antes que as coisas realmente fujam do controle -As coisas não estavam indo bem?- Abigail era agudamente consciente de que a palma do Aleksander ardia através do fino tecido da parte superior de seu top enquanto subia pela rampa do alpendre que conduzia à entrada do bar. Seus lábios estavam inchados pelos beijos, sua pele estava sensível pela barba de um dia dele. Seu corpo ardia, cada terminação nervosa estava viva. A cerimônia das calcinhas vermelhas era matadora e ela estava planejando culpá-la completamente de sua resposta ante ele. -Eu acreditava que as coisas estavam muito bem. - Sem a responsabilidade poderia ser tão sensual como queria ser. E queria ser muito má. Atravessou a porta como se de um sonho se tratasse, saudando muitas caras familiares, abraçando um par das mulheres mais velhas, com um sorriso na face, e todo o tempo o medo arrastando-se em sua mente, afogando por completo a luxúria. Podia viver com a luxúria. Podia viver com seus beijos, seu corpo e poderia ser perfeitamente feliz se ela pudesse sair ilesa, mas enquanto se abria passo através da multidão com o Aleksander tão perto, compreendeu que estava em pé a beira de um grande precipício. Um passo em falso e estaria perdida para sempre. Nunca tinha deixado de amar Aleksander Volstov. Jamais, nem sequer quando lhe odiava e estava tão zangada que jazia acordada noite detrás de noite em sua cama com os punhos apertados, inventando intermináveis torturas para ele. Tinha sabido todo o tempo que se estivesse a sós com ele estaria beijando,


120 desejando ver seu olhar voltando-se quente, sentir o calor de sua pele. Tinha acreditado estar tão zangada que poderia envolver-se em seu aborrecimento como em uma armadura e estar protegida, mas seu amor fluía indesejado e assustando-a até a morte. -Algo vai mal?- Ele abria passo através da multidão, protegendo-a dos empurrões com seu corpo maior enquanto se dirigiam às mesas menores e íntimas na parte de trás da habitação. Era impossível não recordar como fazia estas coisas, as pequenas coisas que a faziam sentir tão segura. Tão amada. Abigail apartou a cara dele, desejando chorar pelas lembranças do que tinha perdido. -Abbey. - Fechou o braço ao redor de sua cintura. -me conte. -Tenho muito medo de te amar outra vez, Sasha. - Fez a confissão em voz baixa. O nó em sua garganta quase a estrangulava. -Não posso perder você uma segunda vez. Não posso me perder outra vez. Simplesmente não sou tão forte. Doía tanto que não podia explicar-se, não poderia encontrar palavras para descrever as profundas feridas que ainda estavam frescas em seu coração. Aleksander se aproximou mais, movendo-se para a pista de baile onde poderia abraçá-la com tranqüilidade. Manteve-se entre as sombras. As lágrimas que brilhavam nos olhos lhe rompiam o coração. Ela encaixava tão perfeitamente, seu corpo se movia a seu ritmo, com a face enterrada em sua camisa. -Deixa que passe, baushki-bau, tem que deixá-lo partir ou ambos perderemos. Minha vida é melhor com você nela. Sua vida é melhor comigo nela. - Esfregou o queixo contra a parte superior da cabeça dela enquanto seus braços lhe envolviam a cintura. -Se estender a mão para mim, só um pouco, Abbey, podemos fazê-lo. Ela sacudiu a cabeça, negando algo que sabia era inevitável. Se não se afastasse do escarpado e estendesse a mão para ele, estaria perdido para ela. -Estou cansado, moi prekrasnij. Deixei de dormir o dia que lhe separaram de mim. Recorda como era estar juntos? Meu corpo enroscado ao redor do seu, nos abraçando enquanto íamos à deriva até o sonho. A princípio acreditava que seria incapaz de permitir alguém passar a noite em minha cama. Não tinha confiança, mas, com você, foi algo natural. Seu lugar estava comigo. No momento em que meus braços lhe rodeavam, estava em paz. Recorda a sensação, Abbey? Suas palavras sussurradas entraram nela, abatendo-se ali, roçando a frágil barreira que tinha tratado de erigir entre eles. A música era lenta e sonhadora, um número suave de blues que se correspondia com seu estado de ânimo melancólico. Podia sentir o toque de suas irmãs e soube que tinham chegado, preocupadas ao sentir a força de suas emoções. Deslizou os braços ao redor do pescoço de Aleksander, tentando não chorar por sua perda de confiança nele. Não só tinha sacudido sua fé nele, mas também em si mesmo e em sua magia. O passado não a deixava seguir adiante, nem seu amor por ele e nem as lembranças de sua traição. -Lembranças. - sufocou as palavras contra a garganta dele. -Pode me ouvir gritando de dor? Pode, Sasha? É tão profundo que às vezes não posso me liberar dele e está encerrado em meu interior para sempre. Ele a esmagou contra ele.


121 -Sim. Eu grito também. - Abraçou-a, permanecendo entre as sombras, sua face enterrada na sedosa juba dela. Estava gritando, profundamente em seu interior onde ninguém mais podia lhe ouvir. Onde doía tanto que não podia encontrar palavras para deixá-lo sair. Nunca tinha necessitado a ninguém antes que Abigail houvesse trazido amor e risada a seu desolado mundo. Seu dever tinha sido sua vida, e nessa árida existência só tinha havido violência, dor e traição. Abigail tinha sido um tesouro inesperado, preciosa além de sua compreensão até que a tinha perdido. Doía como o inferno saber que ele era o responsável por sua dor. -Sinto muito, Abbey. Ela não respondeu e ele tinha pronunciado as palavras tão brandamente que não estava seguro de que as tivesse ouvido. Inclinou-se sobre ela e pôs os lábios contra seu ouvido. -Ouviu-me?- Não podia recordar um momento em sua vida em que houvesse dito essas palavras a alguém. As dizendo a sério. E agora soube que as diria uma e outra vez até que corrigisse o que tinha feito mal entre eles. Aproximou seus lábios contra o ouvido dela. -Sinto muito, Abbey, sinto muito. -Ouvi. - Seus dedos se fecharam ao redor da nuca dele, acariciando a pele nua até que ele sentiu como seu toque queimava através do seu corpo como uma marca. -Ouvi. As luzes piscaram quando as últimas notas da canção se desvaneceram e Aleksander virou para a parte posterior da habitação e as pequenas mesas. Encaixando o corpo dela sob seu ombro protetoramente para impedir que outros vissem sua expressão compungida, seu olhar percorreu a habitação, um exame lento, pausado, tomando nota da colocação do mobiliário, saídas e sobre tudo as caras que havia no local. Vários pescadores se sentavam na barra. Um grupo de paroquianos riam juntos em um grupo maior no extremo mais afastado da barra, perto da entrada. Os casais se agarravam nas mãos, alguns em pé, alguns sentados. As irmãs de Abigail se sentavam juntas justo ao lado da mesa onde Carol e suas amigas se agrupavam. Deliberadamente, Aleksander escolheu uma pequena mesa entre os membros da família de Abigail e ele tomou a cadeira que ficava de cara à entrada, sentando-a junto a ele em vez de em frente. -Vê os homens da mesa detrás da divisão?- levou-se a mão dela a sua boca e lhe mordiscou os nódulos, sorrindo enquanto o fazia. - Só dê uma olhada, Abbey, e veja se há alguém que seja familiar. Tinha esquecido para que tinham vindo à estalagem. Abigail descansou a cabeça no ombro dele e moveu o olhar. As pessoas vinham de vários dos povoados circundantes, e não podia conhecer todos eles pelo nome, mas conhecia suas faces. A camaradagem era forte na costa, e inclinou a cabeça e sorriu a aqueles com os que estabeleceu contato visual. A maior parte dos homens jovens cravavam abertamente os olhos em Joley e Hannah. Uns poucos desconhecidos estavam pendurados na barra, ao redor da pista de baile, e em grupinhos em um par das mesas. Depois da divisão baixa um grande grupo de homens que se sentavam juntos e não pareciam estar desfrutando muito da música. -Não se confundem com as pessoas- disse ela.


122 -Não, e provavelmente isso molesta como o inferno ao Prakenskii. - Havia grande satisfação na voz de Aleksander. Abriu a mão de Abigail e pressionou um beijo no centro exato da palma. -Gosta de ser o camaleão, que não lhe note. -Prakenskii? O homem que disse era um... Atraiu-lhe um dedo a sua boca, distraindo-a. O olhar de Abigail saltou a sua cara. Parecia cautelosa. Excitada. Interessada. Sorriu-lhe. -Sabe muito bem. -Será melhor que preste atenção a seu trabalho. Qual deles é Prakenskii? -Que está em pé contra a parede, com uma mão na jaqueta, muito consciente que estou na mesma habitação que ele. Terei que me aproximar e reconhecer ao Nikitin. Não seria educado não fazê-lo- Sustentou-lhe o olhar, a imagem de um homem cativado por seu encontro. Um guardanapo enrugado pegou Abigail em um lado da cabeça. Virou-se para ver Joley lhe fazendo caretas. -Necessita ajuda?- perguntou Aleksander. -Está tendo algum tipo de ataque? Abigail inundou o guardanapo em seu copo de água e o atirou de retorno com pontaria, golpeando a bochecha de Joley. -Está me advertindo. E é quase tão sutil como um megafone. -Está te advertindo do que? -Não do que. Se não de quem. Sylvia Fredrickson chegou. “Devora-homemlocal”. Sylvia não me tem muito carinho. Preferiria não entrar em detalhes. Basta dizer que minha magia foi um pouco mal e seu matrimônio terminou. Não só seu matrimônio, mas também o de seu amante. - suspirou Abigail. Aleksander lia sua linguagem corporal facilmente. Tinha sido treinado toda sua vida para ler os menores detalhes na expressão e a postura. Abigail estava incômoda com a outra mulher no local. Examinou a recém chegada, uma loira com o top ajustado e curvas generosas para levá-lo. Parecia frágil, ria muito forte e tocava a cada homem enquanto abria passo através da multidão. Aleksander colocou seu braço ao redor de Abigail. -Sinto lástima por ela. Está desesperada. O desespero freqüentemente faz fazer coisas às pessoas das que logo se envergonham. Sua vida não deve ser fácil. -Não, estou segura de que não é. Quando se casou com o Mason Fredrickson eu esperava que se assentasse. Mason é um bom homem e realmente a amava e parecia entender sua necessidade de atenção constante, mas lhe enganou igualmente. Infelizmente, ao fazer sua própria vida difícil, faz a todos que tem a seu redor também. A banda tocou um ritmo dançante mais rápido e imediatamente a pista de baile estava lotada de gente que se balançava. Aleksander observou como Carol se unia às irmãs Drake em um pequeno círculo onde dançavam juntas. Seu olhar se desviou de retorno aos russos e franziu o cenho enquanto entrelaçava seus dedos com os de Abigail. -Eu não gosto da forma em que Nikitin observa sua irmã. Seu queixo esfregado o dorso da mão dela. Abigail encontrou o pequeno gesto sensual. Sua consciência dele estava tão intensificada que sentia que podia apalpar cada fôlego que o tomava. Tentou olhar para Nikitin casualmente, como


123 se só jogasse uma olhada à habitação. Todo o tempo se inclinava para o Aleksander, desejando estar entre seus braços outra vez. Desejando poder dar marcha atrás ao relógio. Se só tivesse fé em sua magia como Drake, em si mesmo como mulher, mas estava mais sacudida de que acreditava. Nikitin cravava os olhos na pista de baile, inclinando-se para frente em sua cadeira. Enquanto ela observava, fez gestos a alguém em sua mesa sem apartar nunca a vista dos bailarinos, pôs um montão de dinheiro na mão do homem, e se recostou para trás, ainda observando. Abigail seguiu seu olhar até Joley. Sua irmã era uma bailarina selvagem e desinibida. Como autêntico músico, perdia-se no batimento do coração, seus olhos brilhavam de risada, seu corpo se movia em uma sexy interpretação do ritmo. Enquanto Abigail olhava, um desconhecido se aproximou de sua irmã, inserindo-se atrás dela, movendo-se com ela em uma tentativa de baile. No momento em que seu corpo a tocou, Joley se deu a volta, tirada de repente de seu sonho. Junto à Abigail, Aleksander se esticou e meio ficou em pé. -Joley pode cuidar de si mesma. -assegurou-lhe Abigail. -E as demais estão ali. Não quererá atenção quando se está divertindo. Olhe, esse é o gerente. Assinalou com o queixo a um homem que se movia através da multidão. -Joley vem muito aqui para relaxar e escutar música. Ele não vai permitir que ninguém se meta com ela. Enquanto observava, Ilya Prakenskii saiu das sombras e apanhou ao homem que acossava Joley e o tirou da pista. Fez sem um só som, sem estardalhaço, tão rapidamente que ninguém pareceu notá-lo. Joley ficou em pé um momento, observando aos dois homens desaparecer pela porta e logo deu de ombros, sorriu ao gerente e voltou para seu baile. -O que acaba de ocorrer?- Perguntou Abigail. -Juraria que faz dois minutos Prakenskii estava em pé contra a parede detrás de Nikitin. Como demônios passou assim através da multidão e por que não o notei? -Inclinou a cabeça para trás para elevar a vista para o Aleksander. -Você se move assim. Como Prakenskii. Às vezes nem sequer te ouço ou te vejo até que cruza a habitação. Sorriu-lhe abertamente. -Mesclamo-nos. Espero que o jovem ansioso esteja bem. Prakenskii, dependendo de seu humor, pode ser um pouco entusiasta em seu trabalho. Assentiu para a parede de trás de Joley e Abigail franziu o cenho quando viu que o russo havia retornado sem que se notasse. -Isto é simplesmente horripilante. Não está olhando Joley absolutamente, mas ainda assim eu não gosto que esteja tão perto dela. -Vê-a. Vê tudo. -Genial. - Seus dedos se apertaram ao redor dos dele. -Como pode fazer isto dia detrás dia? Eu pareço um molho de nervos, preocupada com minha família, por você. Que demônios estão tramando? O homem ao que Nikitin deu seu dinheiro não foi à barra a conseguir bebidas; aproximou-se da banda. -É possível que Nikitin queira certa canção e esteja subornando à banda. Tem reputação de adorar realmente a música e isso é algo que ele faria. O dinheiro fala por ele. Não há necessidade de preocupar-se. Prakenskii reconheceu duas vezes minha presença e indicou que estão aqui pacificamente.


124 -Bom, simplesmente genial. O oposto a ir à batalha?- Brincou com a bebida sobre a mesa. -Ao menos tia Carol e as outras senhoras se divertem. Quando a música acabou, as irmãs Drake retornaram a sua mesa. Joley fez uma pausa e se aproximou de Prakenskii. Abigail conteve o fôlego. O homem não era excepcionalmente alto, mas pareceu erguer-se sobre sua irmã, poderoso e com aspecto enormemente forte. Mais que nada tinha uma aura de perigo lhe rodeando. Suas irmãs não tinham deixado de reconhecê-la. -Eu gostaria de convidar você para tomar uma bebida. - disse Joley quando ele caminhou com ela para a mesa. -Não era necessário que me resgatasse, mas foi muito cavalheiresco. Obrigada. -Deveria ser mais consciente do que está ocorrendo a seu redor repreendeu-a Prakenskii. -E chamar a atenção sobre você mesma dançando tão sugestivamente é completamente estúpido para uma mulher em sua posição. -Oh, Meu Deus. - Abigail cobriu o rosto com as mãos. Não ajudou que todas as mulheres sentadas à mesa de tia Carol escutassem às escondidas e afirmassem com a cabeça em completo acordo. Joley jogou a cabeça para trás, enviando seu cabelo voando em todas as direções. Saltaram faíscas em seus olhos. -De verdade? Que encantador me dar um conselho não solicitado e indesejado. Desaparece, amigo. -Levava uma faca e droga para jogar nas bebidas das mulheres. Joley havia tornado as costas ao Prakenskii, mas isso acabou com sua frieza. Voltou a virar-se lentamente. -Onde está? Conseguiu seu nome? -Conhece esse homem? -Não, mas às vezes me enviam cartas... -interrompeu-se. - Onde está? -Sugeri-lhe que se afastasse antes que chamassem à polícia. Sua faca e as drogas foram confiscadas e eliminadas. Que cartas? Joley fugiu da questão. -Deveríamos ter chamado ao xerife e ter feito que lhe prendessem. Inclinou o queixo. -Homens como esse não necessitam um baile sugestivo para fazer o que fazem. São doentes pervertidos. -Isso é certo, mas não desculpa que incite deliberadamente aos homens com seu baile sugestivo. -É um imbecil. O cantor da banda se aproximou do microfone quando a música decaiu. -Estou seguro de que se todos juntarmos nossas mãos podemos persuadir a Joley Drake de que cante para nós. O gerente do bar riscou freneticamente uma linha ao longo de sua garganta, assinalando ao membro da banda que se detivera, mas foi ignorado. Abigail amaldiçoou brandamente. -O Caspar Inn é um dos poucos refúgios que fica a Joley onde pode passar um bom momento sem medo de repórteres sensacionalistas ou fãs enlouquecidos. Cantando definitivamente atrairia atenção indesejada e este lugar se perderia para ela se correr a voz de que alguma vez canta aqui. -Agora sabemos por que Nikitin deu dinheiro a seu homem. Queria subornar ao grupo para que pedissem a Joley que cantasse. - Aleksander se


125 recostou em sua cadeira. -O interessante é que Nikitin soubesse que a quem tinha que subornar era à banda, não ao gerente. Sabia de antemão que o gerente não agarraria o dinheiro e a poria sobre aviso. Como sabia isso? A multidão se tornou louca, chutando e batendo palmas em um esforço por conseguir que Joley subisse ao cenário. Abigail podia ver resignação na face de sua irmã. -Pode dizer que não- disse Prakenskii. -Como?- perguntou Joley, tragando com força. Tomou fôlego e passou junto a ele, saudando e sorrindo à multidão. -Nikitin tem que ter alguém do povoado para obter informação, alguém que saberia um pequeno detalhe como esse. A pessoa teria que conhecer sua família e os lugares que todas vocês gostam de freqüentar. Reconhece a alguém ao redor de sua mesa, ou alguém em pé o bastante perto para falar com ele? A banda tocou um blues e a voz do Joley se verteu na habitação, rica, afiada e evocadora. Carregava magia, poder e paixão e fluía nos que a escutava, levando-os longe com ela. Abigail manteve o olhar fixo em Nikitin. Ele olhava fixamente Joley com entusiasmada atenção, certamente não falava com nenhum dos de sua mesa. Quando alguém começou a dizer algo, sustentou a mão em alto pedindo silêncio. A garçonete se aproximou da mesa e ondeou a mão para que partisse também. -Acredito que está obcecado com ela - disse Abigail. -Lhe olhe. -Não, olhe a seu redor. Tem que ver além do óbvio. Quem vê que te pareça familiar? -Tim Robbins, um pescador que vejo freqüentemente no Noyo Harbor. É o cavalheiro mais velho à esquerda de Nikitin fora da divisão. Tim virtualmente vive em seu bote. Vem aqui ou se deixa cair pelo Salt Bar e Grill. - Abigail estudou à multidão que rodeava ao Nikitin. -Ali está Ned Fanner, é o homem distinto em pé justo ao outro lado do Tim. É economista, tem um montão de dinheiro, e possui um montão de propriedades. Acredito que tem as mãos metidas em vários dos negócios menores do Fort Bragg e de Sea Haven. Esteve pelos arredores há anos e todo mundo gosta dele. Está casado e tem três filhos. Fui à escola com eles. Os três se mudaram fora da zona, mas o visitam freqüentemente. -Ele vem aqui freqüentemente? -Todo mundo vem aqui, Aleksander. Vi-lhe aqui com freqüência. Normalmente com sua esposa, mas às vezes sozinho. -Está ela aqui? Abigail olhou ao redor. -Não a vejo de momento, mas a multidão parece estar crescendo. -Algum mais? -Outros dois. Os homens jovens que olham fixamente Joley. -Todo mundo olha fixamente Joley. -Um leva uma camisa azul e o outro uma verde. O de azul é Lance Parkente. O outro é Chad Kingman e trabalha para o Frank Warner. Joley terminou a canção e o lugar estalou em um aplauso ensurdecedor. -Não se reservou nada- disse Aleksander. -Sua pequena vingança para a banda. Não soarão tão bons agora que as pessoas a ouviram.


126 Joley abriu passo através da multidão, de retorno à mesa, mas antes que pudesse sentar-se, Prakenskii estava ali. -O Sr. Nikitin gostaria de conhecer você. Pergunta se uniria a ele em sua mesa. Joley lançou um falso sorriso. -Obrigado pelo convite, mas acredito que não. -O Sr. Nikitin não é um homem ao que diga que não. -Então lhe diga que se vá ao inferno- disse Joley. -Não aprecio que me forçasse a cantar para uma multidão quando vim aqui com minha família para passar um bom momento. Corre com seu amo e lhe diga que obrigada, mas não. Os dedos de Aleksander se apertaram ao redor da mão de Abigail para evitar que saltasse a proteger sua irmã. Prakenskii não trocou de expressão, mas sim deu meia volta para empreender a viagem de volta para seu chefe. Joley ondeou a mão a suas costas, só um pequeno empurrão de ar que deveria ter feito Prakenskii cambalear-se. Em lugar disso o ar rangido se rompeu, pequenas faíscas se arquearam ao redor da palma e ela gritou, sujeitando-lhe As Drake ficaram imediatamente em pé, com expressões sobressaltadas enquanto empurravam Joley atrás delas e se enfrentavam com Prakenskii.


127

Capítulo - 11 Aleksander se inseriu entre as irmãs Drake e Prakenskii, apesar da mão contendedora de Abigail. Não tinha nem idéia do que acabava de ocorrer, mas a tensão se elevou significativamente. Joley esfregava a palma como se tivesse resultado ferida. -Se afaste de Hannah - insistiu Abigail, segurando ele-. Dê-lhe campo livre até o Prakenskii. A multidão parecia formar redemoinhos ao redor deles, as pessoas se moviam continuamente. A música chegava estrondosa do cenário e os bailarinos giravam, mas ninguém tocava ao Prakenskii e ninguém se aproximava das Drakes. -Quão único sei -respondeu Aleksander- é que nenhuma de vocês quer cercar batalha com esse homem. Sentem. Todas. Abbey vêem comigo. Agora é tão bom momento como qualquer outro para apresentar nossos respeitos, assim adiante, até o Nikitin. Prakenskii não se voltou para enfrentar às oito mulheres. Partiu sem mais incidentes para a mesa de seu chefe e se inclinou para lhe sussurrar algo. Abigail segurava o braço de Aleksander com um apertão mortal, evitando que seguisse ao russo enquanto as irmãs Drake trocavam longas e assombradas olhadas. -Como fez isso? -perguntou Joley a Hannah. -Tia Carol? -perguntou Hannah. -Não sei, garotas, mas isto não é bom. Creio que deveríamos voltar para casa tão rapidamente como é possível e consultar os livros. Sei que houve rumores de homens com nossos dons, mas certamente nunca me cruzei com outro que tivesse nossos talentos. -Carol inclinou a cabeça para cima para olhar a Aleksander-. O que sabe dele? Abigail lhe salvou. -Falaremos disso logo, quando estivermos em casa, Tia Carol. -É obvio, querida. No amparo da casa. Devo estar me fazendo velha para cometer semelhante engano. Perdoa. -Isso é estúpido, Tia Carol. Todas ficamos sacudidas por um momento. Nenhuma de nós nunca viu antes que nossa magia se voltando contra nós por um homem. -Libby pôs um braço ao redor de sua tia e se estendeu para Joley. - Dói muito? Hannah lhe apartou a mão antes que pudesse tocar Joley.


128 -Aqui não. Não lhe demos nada que possa utilizar contra nós. Deveríamos partir agora. Abigail, você vem conosco. Poderia não ser seguro. -Não a tocará. -Tranqüilizou-as Aleksander. - Estará a salvo comigo-. Captou um movimento quando Hannah acotovelou Joley. Joley encontrou seu olhar. -Será melhor que esteja a salvo com você. Abigail lançou os cabelos sobre o ombro. -Estarei bem. Estou mais preocupada com Joley. Prakenskii não se aproximou o suficiente de você para conseguir nada pessoal, verdade? -Duvido-o. Saiamos daqui. Dói-me a palma como o inferno e sei que vou perder o controle e lhe cruzar a cara se vier de novo com uma proposta de seu amo, bastardo superior e arrogante. -Abre caminho, Sasha, interessa-me muito conhecer o senhor Nikitin. Havia um látego de fúria na voz de Abigail. Aleksander segurou sua bebida e abriu passo através da multidão para a mesa de Nikitin, com a mão firmemente agarrada na de Abigail. As irmãs Drake, sua tia, e seus amigas lhes seguiam, saudando os amigos enquanto levavam acabo seu êxodo. Quando Joley passou junto à partição onde Nikitin e seu panda estavam sentados, Prakenskii estendeu e segurou a mão ferida dela, seu polegar deslizou brevemente sobre a palma e depois a soltou igualmente rápido. No momento em que tocou Joley, o ar ao redor deles estalou. Os pêlos dos braços de Aleksander ficaram arrepiados. Joley parou uma fração de segundo, com olhos turbulentos, mas Hannah e as outras irmãs a apuraram e a mantiveram em movimento quando puderam ver claramente que desejava vingar-se. Aleksander ignorou o joguinho não querendo enredar o assunto. Tinha que concentrar-se em averiguar tanta informação como fosse possível. As Drakes estavam bem versadas em magia. Esse era seu campo, não o dele. -Que pequeno é o mundo, Sergei. A gente nunca sabe onde encontrará conhecidos - Estreitou a mão do homem e se virou para Abbey-. Esta é Abigail Drake. -Encantado de conhecê-la, senhorita Drake - Nikitin a saudou com a cabeça como se lhe estivesse concedendo uma grande honra-. Importa-lhes unir-se a nós? -Não quero interromper - disse Aleksander-. Só queria saudar. Nikitin indicou com a mão a dois dos homens que abandonassem suas cadeiras e oferecessem uma a Abigail. -Insisto, Aleksander. Estamos longe do lar e é bom ver uma cara familiar-. Aproximou-se mais de Abigail-. Joley Drake é sua irmã? Tem uma maravilhosa voz. Nunca ouvi ninguém melhor. -Obrigado. Estou muito orgulhosa dela. Assegurarei de lhe transmitir seu maravilhoso recado - Seus dedos se retorceram contra os de Aleksander. -Por favor, lhe peça que perdoe minha estupidez. Prakenskii me diz que lhe incomodou que a pusesse em posição de ter que cantar. Eu não entendia por que uma grande cantora se via forçada a suportar outro talento menor e ninguém a solicitava. Deveriam ter estado a seus pés emprestando tributo a sua grandeza.


129 -Gosta de vir aqui e relaxar -disse Abigail com um pequeno sorriso que não alcançou de todo seus olhos-. Ficam poucos lugares. Arriscou-se a olhar Prakenskii. Aleksander acreditava que Sergei Nikitin era o mais perigoso dos dois russos, mas ela sabia que não era assim. Prakenskii vestia violência, engano e morte como uma segunda pele. Não mostrava emoção, atuava como se todo o incidente com Joley nunca tivesse ocorrido, mas seu olhar era inquieto como o de Aleksander. Era consciente de cada detalhe do lugar, a multidão, inclusive as conversações, enquanto que Nikitin estava completamente absorto em si mesmo. E Prakenskii tinha sua própria agenda, lhe ficava muito claro. Não era leal ao Nikitin como acreditava seu chefe, nem tinha o mínimo medo do homem. O polegar de Aleksander lhe esfregava o dorso da mão como advertência e lançou outro sorriso a Nikitin. -Estou segura de que sabe como é isso. -Sim, é obvio. Tem perfeito sentido. Disseram-me que ela poderia vir aqui. É por isso que escolhi este lugar, mas não tinha nem idéia de que não estaria cantando. -Seriamente? Se sentirá muito adulada. -Abigail inclinou a cabeça, descansando o queixo na mão enquanto se inclinava um pouco para ele-. Onde ouviu que viria aqui? Todo este tempo pensávamos que seu segredo estava bem guardado. Aleksander se recostou em sua cadeira. Nikitin estava mais interessado em conversar com a Abigail sobre Joley e isso deixava ele livre para estudar o local e ao Prakenskii. Nikitin quase tinha esquecido que ele estava ali. O homem tinha estreitado sua atenção a Abigail, e a Aleksander lhe ocorreu que Nikitin nunca tinha sido consciente do pequeno intercâmbio entre Joley e Prakenskii. Isso não encaixava com a imagem que tinha de Nikitin. O homem tinha reputação de ser um tubarão, não um boneco de pano. Abigail tinha um talento nato para conduzir uma conversação. Sua voz tinha a entonação perfeita, seus olhos se abriam de par em par com interesse. Resistiu a urgência de reconhecer suas habilidades lhe beijando a mão; em vez disso voltou sua atenção por volta dos dois homens que tinha deixado seus assentos para dar a Aleksander e Abigail a oportunidade de sentar-se com Nikitin. -Não é difícil conseguir informação sobre sua irmã. É uma figura muito pública. Um de meus amigos conhecia uma mulher da localidade e lhe perguntou. Os dedos de Abigail se afundaram na mão de Aleksander, mas manteve o sorriso enquanto olhava ao redor procurando Sylvia Fredrickson. Estava em uma esquina próxima conversando animadamente com vários homens, incluindo o Chad Kingman, Ned Farmer e Lance Parker. Sua mão estava sobre o braço do Chad e se inclinava para Lance, quase esfregando seu corpo contra o dele. Ocasionalmente descansava a palma da mão sobre a coxa de Ned Farmer. Abigail podia sentir como seu gênio começava a elevar-se e lutou por não ondear a mão para a bebida de Silvia. Em vez disso se concentrou nas leis universais e olhou brevemente para a porta, esperando que isso fosse suficiente para obter uma resposta, antes de lançar outro sorriso ao russo. -Eu adoro que você desfrute com a voz de Joley. Nós acreditamos que é incrível.


130 -Realmente eu gostaria de conhecê-la. -Nikitin elevou seu copo vazio e imediatamente um de seus homens se levantou correndo a lhe conseguir uma bebida-. Acredita que é possível arrumar semelhante encontro? Estaria muito agradecido. Sou um homem que devolve os favores. Por um terrível momento Abigail desejo intercambiar um encontro com sua irmã pelo contrato contra a vida de Aleksander. A urgência chegou de nenhuma parte e a golpeou com força. As paredes do bar pareceram mover-se, quase esmagando-a. Foi quase impossível aspirar ar aos pulmões ardentes. Podia ver as palavras flutuando ante seus olhos, estranhos titulares luzes de alerta. A urgência de falar era tão forte que se mordeu com força o lábio inferior, esperando que a pequena dor da dentada a ajudasse a concentrar-se. Só outra vez em sua vida lhe tinha acontecido semelhante coisa. Ela e Joley tinham estado experimentando, trabalhando com um feitiço para influenciar a outros utilizando um fluxo constante de poder e este se tornou contra elas. O reconhecimento instantâneo a alagou. Recostou-se e uniu as mãos, ondeando o ar ao redor de volta para o Prakenskii, lhe desafiando abertamente. Seu gênio tinha o controle agora e se ele queria guerra, estava mais que disposta a plantar cara. Ele tinha segredos. Sua aura lhe falava disso e seus segredos não estavam a salvo com ela. Ele tinha poder, mas não era imune à magia mais do que o era ela. Um dos dois homens aos que Aleksander estava observando se inclinou sobre a partição, disse algo a Chad Kingman e lhe deu um acendedor, Kingman assentiu e o deslizou no bolso. Inclusive enquanto Aleksander os observava, sentiu o ar ao redor crescer em estática pela eletricidade. Os olhos de Abigail brilhavam olhando Prakenskii. Temendo de repente o que ela pudesse fazer, agarrou-lhe a mão de novo e a apertou com força. Lhe ignorou. -Possivelmente deveríamos jogar a um joguinho de verdade ou conseqüência -disse Abbey ao Prakenskii-. É um jogo maravilhoso que nós praticamos. O que lhe parece? O alarme titilou nos olhos de Prakenskii, depois se apagou, lhe deixando com cara de pedra. Inclinou-se ligeiramente para Abigail. -Eu não desfruto dos jogos americanos. Aleksander, não me disse que tinham que partir logo? -Seu tom era fundido, sem indicar nada absolutamente. Aleksander aproveitou a desculpa, sem entender o que estava passando entre o Prakenskii e Abigail e não querendo arriscar-se com a vida dela. Ficou em pé e puxou Abbey até que se viu forçada a ficar em pé também. -Obrigado, Ilya -Olhou seu relógio-. Prometi às irmãs de Abbey que estaríamos em casa a tempo para ajudar com os planos de bodas. -Senhor Nikitin - Abigail estendeu a mão-. Foi um prazer lhe conhecer. Assegurarei de passar seus cumpridos a Joley. -Manteve seus olhos sobre o Prakenskii todo o momento. -Ficarei na zona uns poucos dias mais e espero que possamos marcar um encontro. -O farei saber se for possível Joley lhe encontrar -Permitiu que Aleksander a conduzisse até a porta. Quando se aproximavam dela, a porta se abriu e Mason Fredrickson a atravessou. Abigail olhou para trás a tempo para ver Silvia esticarse estupefata. O lado esquerdo de sua face estava marcada por um vermelhão


131 com a forma brilhante e vermelha do rastro de uma mão como se alguém a tivesse esbofeteado. Abbey olhou de novo Prakenskii. Lhe dedicou um débil sorriso a modo de breve saudação. -Que demônios está acontecendo aqui? -exigiu Aleksander enquanto se apressavam a descer a rampa até o estacionamento. Antes que pudesse replicar ele a empurrou depois dos grandes arbustos, seus braços rodeando-a e sua cabeça inclinando-se para a dela fazendo que seus lábios estivessem a um fôlego de distância. -Ele está aqui fora. -Quem está aqui fora? -Chad Kingman, um dos homens que me assinalou. Agarrou emprestado um acendedor a um dos homens do Nikitin e está aqui fora fumando. Quero que volte para dentro antes que subamos ao carro. -Não vou rondar aqui fora depois dos arbustos com você como uma adolescente, por amor de Deus -disse Abigail-. Embora a idéia tem mérito. O que realmente eu gostaria de fazer é me converter na Hannah só uns minutos e dar ao Prakenskii uma pequena advertência. -Que fez Prakenskii a Joley que todas levantaram em armas? -Empurrou-a mais perto, encaixando seu corpo firmemente contra o seu, suas mãos deslizando-se para baixo pelas costas para a curva da espinha-. Não vi que a tocasse. -Não a tocou, não fisicamente. Ele é como nós. Tem poder, magia, talento, como quer chamá-lo. Isso fez que ele fizesse uma pausa. Olhou-a fixamente, sem compreender o que estava tentando dizer ela. -Prakenskii? Faz como isso? As pessoas lhe revelam a verdade? Ela sacudiu a cabeça. -Não exatamente como meu talento, é mais como o da Hannah ou Joley. Possivelmente inclusive como o de Elle. Espero que não como o de Elle. Isso seria mau. -Por que? -Elle pode fazer tudo. Ela carrega todos os dons para passá-los a seguinte geração. Vi como ele roçava a palma de Joley quando ela ia para a porta. Não tenho nem idéia se fez desaparecer a dor, mas se o fez, isso definitivamente lhe faz um muito poderoso adversário porque é adepto em mais de uma coisa. Ele virou a cabeça ligeiramente para manter melhor um olho sobre o Chad Kingman. O homem apagou a bituca de seu cigarro com o sapato, olhou ao redor, e perambulou de volta rampa acima até o alpendre que rodeava a construção. Em vez de entrar, apoiou-se na mureta e contemplou as estrelas. -Esclareçamos isto. Está me dizendo que Ilya Prakenskii, o homem ao que conheci desde que era menino, é capaz de utilizar a mesma classe de magia que você e suas irmãs. -Tem que ter nascido com o talento, Sasha. O que sabe de seus antecedentes? Viu-lhe alguma vez fazer algo diferente? Algo que pensasse era estranho? Quando era menino te disse que era diferente? Aleksander tentou recordar como tinha sido Ilya Prakrenskii nos dias antes de que fossem separados.


132 -Cuidava de si mesmo. Era rápido e forte e um dos primeiros da classe assim em certo modo competíamos, mas éramos amigos. Uma vez me disse que tinha irmãos, mas foram todos enviados a diferentes lares. Não tenho idéia se alguma vez os encontrou ou não, ou se contatou com eles. Aleksander murmurou uma advertência a Abigail quando viu o mesmo russo que tinha dado ao Chad um acendedor sair ao alpendre. O homem olhou ao redor, colocou as mãos em seus bolsos e se moveu mais perto de Chad. Chad se endireitou junto aos passamanes quando o russo ficou a seu lado. -Obrigado pelo acendedor, tio -disse Chad enquanto oferecia o objeto de volta. O russo deu de ombros e tomou o que queira que fosse que lhe oferecia, ocultando-o em sua mão enquanto se virava e afastava rapidamente para a entrada do bar. Chad abriu passo até um carro no estacionamento. Aleksander captou uma chama justo antes de que Chad se deslizasse depois do volante. Um cigarro brilhou brevemente e depois o carro saiu do estacionamento. -Isso foi um intercâmbio muito mal feito -disse Aleksander, assombrado. Beijou ligeiramente a Abigail e saiu dos arbustos- Por que me atrairia Prakenskii fora bem a tempo para ver um intercâmbio? -Sacudiu a cabeça enquanto abria a porta do carro para ela.- Não tem sentido. Ilya sabia que veria esse sinal. -Possivelmente me tirar dali era mais importante que visse o Chad fazer o que estava fazendo -disse Abigail.- Tentou um jogo de poder comigo, tentou me fazer intercambiar um encontro com Joley pelo contrato contra você. Tive que lutar duro contra o impulso. -E crê que Prakenskii pôs o impulso em sua cabeça? -Sei que o fez. E não podia arriscar-se a ser suscetível a meu talento. Tem muitos segredos, o menor dos quais não é que não está precisamente apaixonado por seu chefe. Não está trabalhando para o Nikitin. Não estou segura de que seja capaz de trabalhar para ninguém exceto para si mesmo. Sua aura é muito perigosa e violenta. A morte está muito perto dele, lhe rodeando - Olhou-lhe fixamente-. Sua aura é muito similar à sua. -Não tem que gostar do homem para o que trabalha -Aleksander fez girar o carro ao final da estrada e deu marcha atrás até um abrigo antes de apagar as luzes para esperar. -Ele não quereria que Nikitin soubesse o que pensa dele, mas isso seria tão importante como para que deixasse ao descoberto a seu contato local? -detevese por um momento, olhando-a fixamente. - E minha aura, seja o que for isso, não é nada como a dele. Lhe lançou um breve sorriso. -Se tivesse sentimentos fortes em uma ou outra direção, seria. Tenho a impressão de que detesta a esse homem. De fato, iria tão longe para dizer que Prakenskii é uma ameaça muito real para Sergei Nikitin. E sim, é igual. -Como pode ler tudo isso nele? -Utilizou poder um par de vezes aí. Utilizou-o quando se moveu através da multidão também. Não pude captá-lo ao princípio porque é muito sutil. Ele é muito forte e muito disciplinado. Mas o poder tem um rastro muito claro. Sei quando minhas irmãs estão lançando feitiços e que irmã fez que feitiço. O uso da magia deixa ao que a lança em certo modo vulnerável.


133 -Isto está fora de meu campo de ação e a duras penas posso compreendêlo.- Aleksander lhe agarrou a mão esquerda e roçou os dedos nus por onde seu anel deveria ter estado-. Estou tentando recordar quando Ilya era menino. Olhando atrás, poderia haver uma ou duas coisas estranhas. Uma vez estava falando com ele e sua bebida estava na mesa a vários pés de distância. Girei a cabeça e quando voltei a olhar, estava em sua mão. Eu estava trabalhando em notar detalhes. Era um exercício e eu não só o desfrutava, mas sim estava orgulhoso de mim mesmo nele. Sabia que a bebida tinha estado na mesa e não podia me figurar como a tinha pego. -levou-se a mão à boca e roçou os lábios sobre os nódulos, sua língua lhe saboreou a pele. - E não pode ser tão boa lendo auras porque a minha está cheia de um arco íris de cores e a do Prakenskii é negra. Abigail estalou em gargalhadas. -Você não sabe nada de auras. Por isso sabe, negro poderia ser bom e arco íris mau-. Puxou sua mão mas Aleksander se negou a soltar seu apertão-. Sou eu que estou tendo dificuldade em acreditar que Prakenskii realmente poderia ter a habilidade de utilizar uma mágia tão forte. Além de minha família, nunca conheci ninguém nascido com a mesma classe de força. Suponho que foi bastante arrogante pensar que éramos as únicas. -Seu café estava sempre quente. Nunca se esfriava. -De repente Aleksander lhe sorriu-. Estávamos acostumados a sair em excursão. Nossas excursões eram para aprender a seguir alguém sem ser vistos, fazer um intercâmbio ou nos citar com um contato sob os narizes de nossos instrutores sem seu conhecimento. -Como podiam fazê-lo se eles lhes estavam vigiando? -Esse era o objetivo do exercício, aprender a ser o suficientemente hábil para fazer um intercâmbio ou seguir a alguém que sabia que podia estar sendo seguido sem que lhe agarrassem. Quando treinávamos juntos, não importava quão larga fosse a vigilância ou quão fria fosse a noite, o café de Ilya sempre estava quente. Pergunto-me como o fazia. -Sei que você crê que é perigoso por suas habilidades como agente adestrado, mas Sasha, com seu poder pode fazer coisas incríveis e isso lhe faz muito mais perigoso do que possa imaginar. Pode deslizar-se dentro e fora de lugares utilizando sugestões para fazer que aqueles dos que queira permanecer oculto olhem para outro lado. Não funciona com todo mundo, e às vezes é perigoso inclusive defendido pela magia, mas ele é muito hábil em seu uso, posso dizê-lo só por quão sutil foi. -O que fez a Joley? Abigail suspirou. -Todas tomamos absurdas vinganças infantis quando estamos zangadas. É melhor que perder o controle de nosso gênio. Joley quis lhe fazer tropeçar enquanto voltava para sua mesa, mas ele sentiu o impulso de sua magia e se vingou com uma bofetada virtual de poder. A energia se volta contra o usuário. E para ser honesta acredito que ele empurrou um pouco mais forte do que pretendia e lhe fez mal na mão. Não deixamos que Libby a tocasse porque ele poderia haver sentido o "rastro" de Libby.


134 -Crê que realmente tentou fazer mal a Joley?- Aleksander se inclinou para frente para olhar pela janela-. Aí estão. Têm dois carros. Vou manter-me atrás porque suponho que terão um carro adormecido também. -Não sei o que é isso. -Algumas vezes um terceiro carro espera para ver se o principal... neste caso, Nikitin... é seguido. Ilya está conduzindo o segundo carro-. Permaneceu imóvel enquanto os dois carros saíam do estacionamento-. É um risco esperar um terceiro carro, mas não posso imaginar que Ilya, se for o responsável pela segurança do Nikitin, não tomasse a precaução de saber se estiver aqui. -Treinaram juntos, Sasha. Ele teria que saber que estaria esperando para segui-los. Se houver um terceiro carro e te conduz à casa onde se alojam, está te deixando deliberadamente que lhes encontre. E melhor se preocupar por uma armadilha, especialmente se acredita que Nikitin é o intermediário do Leonid Ignatev. -Tenho fontes fidedignas que me dizem que Ignatev assinala o objetivo e Nikitin lhe abate para ele. -E Ilya Prakenskii trabalha para o Nikitin. Diz que tem reputação de ser um assassino.- Abigail suspirou-. Conheço você o bastante para saber que há respeito e inclusive admiração em sua voz quando fala dele. -Tive poucos amigos em minha infância, Abbey. Essa simples declaração mexeu nas fibras de seu coração. Maldito fosse por lhe fazer isso. Não havia forma de manter um só propósito quando se lamentava por ele. Esfregou as têmporas, tentando aliviar os princípios de uma dor de cabeça. -Não é um amigo se está tentando te matar. Tem que me escutar, Aleksander. Se pode esgrimir magia da forma em que suspeito que pode, tem uma tremenda vantagem sobre você. -Tivemos várias batalhas. Tenho cicatrizes. Ele tem cicatrizes. Se tiver tanta vantagem, por que não a utilizou contra mim? Lutamos com os punhos, com facas, inclusive nos pegamos um par de tiros um ao outro. -Custa-me acreditar que lhe disparasse e não lhe acertasse. -Acertei-lhe -Ligou o motor-. Aí está, o terceiro carro. -Não lhe matou, Sasha. E isso poderia ser qualquer um abandonando o bar, não necessariamente um dos russos. -Tenho um pressentimento para estas coisas. É o adormecido. -Não lhe matou -repetiu ela-. Estava utilizando a magia para desviar sua pontaria. O... -deteve-se para estudar sua face dele-. Deliberadamente lhe feriu em vez de lhe matar, verdade? Ele murmurou uma maldição russa. -Eu não vejo as coisas desse modo. Não ia atrás dele. Ele não era meu trabalho. Não era pessoal e não eram negócios. Cruzamo-nos no caminho um do outro. -deu de ombros-. Isso passa. Entretanto lhe feri. Se realmente tiver a mesma habilidade para utilizar a magia que você e suas irmãs, teria sido capaz de fazer isso? -Se tivesse meu talento ou o de Libby. Em minha opinião, Hannah seria a mais difícil de ferir, a menos que alguém a surpreendesse, chegando a ela inesperadamente.


135 -Por que não Elle? -O poder de Hannah está muito concentrado em uma ou duas áreas. Elle carrega todos os elementos assim não é tão forte. E Hannah utiliza seus dons diariamente e trabalha em fortalecê-los. Seria uma poderosa adversária. Libby utiliza seu poder também, mas não estou segura de que com seu dom fosse capaz de fazer mal a alguém. -Crê que Prakenskii é como Elle? -Exibe sinais de tremendo controle com vários talentos, não só em um. Eu posso fazer várias coisas, todas nós podemos, mas não somos geniais em todas elas. -Suponho que não deveria aventurar a hipótese de que ele é um homem e possivelmente mais forte por isso. -Não se quer viver além dos próximos minutos. -Isso era o que pensava - Lançou-lhe um pequeno sorriso-. A idéia nem me passaria pela cabeça. -Boa coisa - Agarrou-lhe o braço quando ele foi tomar um desvio da estrada principal a outra, seguindo ao carro adormecido.- Espera! Não tome essa estrada. Segue. Não estão em nenhuma casa alugada nessa estrada. Essa faz um giro de volta à estrada principal. Você simplesmente conduz subindo essa costa assinalou- e estaciona. Deveríamos poder ver se continuarem para o sul ou giram de volta para nós e voltam para o norte. Sem titubear, Aleksander fez o que ela dizia. Manteve-se o bastante atrás para estar seguro na estrada principal, inclusive com a pouca quantidade de tráfico, de que o condutor não era capaz de lhe divisar. Apagou as luzes. -Nenhum dos homens que estavam com o Nikitin era familiar? Algum deles poderiam ser os homens que mataram ao Danilov? Abigail franziu o cenho. -Não. E feri um dos homens com meu arpão. Se não lhe rompeu um osso lhe fez uma ferida aguda e teria que limpar-lhe durante uns dias. O arpão tem um golpe muito poderoso. Deixar a um tubarão com o punho não é de todo efetivo, assim utilizo um pequeno dispositivo disparador e realmente dá um bom golpe. Se vê coxear a alguém, lhe comprove. Aleksander tamborilou os dedos sobre o painel. -O que estamos procurando? -Sabemos que alguém está trazendo coisas da Rússia por meio de um cargueiro e as deixando cair em um navio de pesca nesta costa. Há boas probabilidades de que os artigos estejam sendo passados de contrabando através da galeria do Warner. Ele pode ser consciente ou não, mas é uma rota genial. Envia artigos à cidade todo o tempo e seria muito pouco provável que alguém abrisse uma de suas caixas. -E se o fizessem, saberiam inclusive o que procurar? Envia obras de arte e esculturas todo o tempo - disse Abigail-. Eu não saberia a diferença. -Ele é um dos proprietários do navio de pesca que suspeitamos está sendo utilizado. Mas também o é Ned Farnner. Reconheci seu nome no minuto em que o pronunciou. Ela sorriu.


136 -Sempre teve grande memória para os detalhes. Eu conheço às pessoas e nunca posso recordar seu nome cinco minutos depois. Como o faz? Ele deu de ombros. -Parcialmente treinando, mas sempre tive talento para nomes e lugares. Posso ler algo e não esquecê-lo. É uma tremenda vantagem quando me dão tantos dados que cruzar. -inclinou-se para frente para esquadrinhar pela janela. Aí está. Vê os faróis? Desvia-se um pouco. Vai ao sul. -Espera só um minuto. A estrada faz ziguezague e tem curvas e curvas, e estaríamos sobre eles. Poderemos captar olhadas deles nas curvas. Ele assentiu em acordo e esperou até que o carro teve tomado a curva e sacado antes de sair da estrada principal atrás dele. -Seria útil saber se Chad Kingman trabalha em envios. -Jonas saberia. E Inez Nelson. Ela conhece todo mundo. Se entrar em seu armazém e fica por ali uns minutos escutando todo mundo lhe conta todo. É como a conselheira local. Não é muito difícil conduzir a conversação para onde você quer, mas é aguda, Sasha. Muito aguda. Não deixe que te engane. Se acredita que vai a enganar, equivoca-se. -Ela deve conhecer o Warner e Ned Fanner. Também é proprietária de parte do navio. -Nem te ocorre sequer que Inez pudesse fazer algo ilegal. Nasceu e cresceu em Sea Haven. Seu marido era um homem maravilhoso, nascido e criado aqui também. Donal Nelson era um líder da comunidade e quando morreu faz cinco anos, Inez calçou seus sapatos e assumiu o controle ajudando aos pequenos negócios a crescer e aos bairros a prosperar. Está depois da pequena biblioteca e o teatro e inclusive o parque. É absolutamente impossível que esteja envolta em algo ilegal. -Tem muita fé nas pessoas, Abbey. Ela estudou sua cara inexpressiva. Sem importar o que ela dissesse de Inez ou Frank ou qualquer outro dos habitantes do povoado, Aleksander se reservava o julgamento. As coisas que as pessoas faziam nunca pareciam lhe surpreender. Deu de ombros, ligeiramente molesta. -Pode investigá-la se quiser, mas é uma perda de tempo. -Investigo a todo mundo. Sabia que sua Tia Carol tomou um café com o Frank Warner outro dia? -Sim, sabia. Isso a faz suspeita? Por amor de Deus, acaba de voltar a Sea Haven. Suspeita de mim? -Não seja tão sensível, Abbey. Tenho que ser consciencioso em minha investigação. -Bom, e o que tem que seu amigo Prakenskii? Acredita que está metido nisto? -Não necessariamente. Nikitin está aqui por uma razão. Poderia ser tão simples como o fato de que admire Joley e tenha ouvido que estava em seu povoado natal e esperasse conhecê-la. Sei que é um grande entusiasta da música e definitivamente tem sentido do espetáculo. Pensaria que a ele lhe deviam conceder privilégios extra. Poderia ser que Ignatev aceitasse um contrato contra mim e o desse ao Nikitin. Este teria investigado um pouco, compreendido que eu


137 estava aqui, e teria vindo primeiro para montar o alpendre. Isso é altamente improvável. -Por que? -Porque Nikitin não quereria estar nas cercanias quando chegasse o golpe. Gosta de parecer limpo. Abigail deixou que sua cabeça caísse para trás. De repente estava cansada e a dor de cabeça que tinha estado tão perto toda a noite se converteu em uma dor palpitante. -O que não me está contando? -Acredito que Nikitin está aqui por uma razão completamente diferente que não tem nada que ver contigo nem comigo. Acredito que é um pouco pior que isso. Um calafrio desceu pela espinha de Abigail. -Pior que tentar te matar? O que seria pior que isso? -Matar a um montão de gente. -Por que quereria fazer isso Nikitin? Ele sacudiu a cabeça, freando o veículo. Estavam alcançando ao outro carro assim entrou em uma estrada secundária, apagando as luzes. -Disse-lhe isso, Nikitin é um homem de negócios. Tem que pensar como ele. Não tem razão para matar a um grande grupo de gente. Em sua mente ele simplesmente faz entendimentos. Sabemos que muitos dos objetos roubados que saem da Rússia chegam a esta costa. Isso significa que a rota tem aberta algum tempo e muito provavelmente Nikitin seria consciente disso. Provavelmente ele intervém nos roubos. -Assim está envolto com o roubo de objetos. -Se consegue sua percentagem, estará contente. Por que teriam matado ao Danilor por uma rota de contrabando? Quando uma rota fica quente simplesmente a fecha e move a outra até que as coisas se esfriam de novo. Ninguém deveria ter morrido a menos que não possam abandonar a rota por alguma razão. E teria que ser uma grande razão e valer uma grande quantidade de dinheiro para arriscar-se a matar um agente da Interpol, especialmente sabendo que eu estou aqui. -Algumas obras de arte valem milhões. -Abigail colocou uma mão em seu pulso e lhe assinalou a rua em que o carro tinha virado-. Continua, este é outro giro. Várias dessas casas estão alugadas e podemos entrar pelo outro lado. Seremos capazes de lhe ver sair do carro e subir à casa. Aleksander fez o que ela sugeria, voltando a pôr o carro em movimento. -As obras de arte podem valer grande quantidade de dinheiro, mas este não é um bom momento. Por que não trocar a rota? Poderia transladar-se a São Francisco ou qualquer outro lugar ao longo desta costa. Levaria um pouco de tempo, mas poderia fazer-se. Assim estão trazendo algo para o que têm que utilizar esta rota porque tudo está já preparado. -Como o que? -Nikitin trafica com violência, Abbey. Tem laços com dúzia de grupos terroristas e agarraria dinheiro de qualquer deles. -Há estações de guarda costeira só a poucas jardas de onde seu companheiro foi assassinado. Se forem fazer algo que envolva a terroristas não


138 escolheriam um lugar melhor para fazê-lo? -Abigail estava consternada- Por que deste semelhante salto entre as obras de arte e terroristas? -Porque conheço o Nikitin e certamente Prakenskii não sabia do golpe contra Danilov. Há só uma ou duas coisas para as que Nikitin não utilizaria Ilya. É bastante conhecido que Ilya despreza aos terroristas. Considera-os covardes. Nikitin trata com eles, mas nunca através de Prakenskii. Uma vez ouvi o rumor de que Nikitin lhe tinha enviado a uma reunião e quando a polícia apareceu havia explosivos por toda parte, armas e vários terroristas mortos, mas não Prakenskii. Como foi a verdadeira história, não sei, mas se Nikitin não utilizou Prakenskii para matar a meu companheiro, o que seja que Danilov averiguou essa noite envolve a terroristas. -Nem sequer olhou para a casa quando passaram por diante e voltaram para a estrada principal. -Parece estranho que Nikitin tenha a alguém trabalhando para ele que não faria algo que ele quisesse. Nikitin parecer absorto em si mesmo, um homem muito violento que insiste na cooperação instantânea. -É todas essas coisas, Abbey. Soava cansado. Ela virou a cabeça para lhe olhar. -Está me levando para casa? -Quero que venha comigo. -Estendeu a mão em busca da dela, seu polegar deslizando-se sobre a pele, enviando pequenos estremecimentos por sua espinha.- Aluguei uma casinha quase perto da praia. Ela sacudiu a cabeça. -Não posso fazer isso. O reafirmou seu apertão da mão como se ela pudesse escorrer-se. -Dizia a verdade quando disse que não tinha sido capaz de dormir. Levantome cada hora durante toda a noite. Algumas noites não me incomodo em ir à cama. Passeio pela habitação e penso em te chamar e o que direi quando responder. Algumas vezes escrevo cartas e não me incomodo em enviar porque sei que não as lerá. Estou cansado, baushki-bau e não posso dormir sem te abraçar. Ao menos deita comigo. Juro que não farei nada que não queira que faça. -Sabe exatamente o que quererei se estiver na cama a sós com você. Nunca fui capaz de resistir a você, Sasha. -Estou sendo honesto. Me pergunte. Me pergunte com quanta freqüência durmo sem você. Necessito de você, Abbey. Vêem para casa comigo.


139

Capítulo – 12 Abigail passeou pela casa. O que estava fazendo ali? Não tinha sentido que tivesse permitido a Aleksander levá-la a nenhuma parte onde estivessem sozinhos. Não podia resistir a ele quando estavam a sós. Fechou os olhos brevemente e saiu pela porta de vidro que conduzia ao alpendre mais baixo onde estava a jacuzzi. A vista do oceano era espetacular. Podia ver o arco branco que se formava no ar quando as ondas chocavam ao longo dos dedos de rocha. Estava frio fora, mas as estrelas brilhavam no alto. Ficou em pé um momento, refletindo sobre se era ou não o bastante forte para fazer amor com o Aleksander, abraçá-lo toda a noite e partir na manhã seguinte. -O que está fazendo aqui fora? -Aleksander surgiu de detrás dela. -Faz frio, Abbey. -Mas é formoso. Olhe a lua. - Assinalou a grande esfera de prata deslumbrante. -Tivemos um tempo incrível ultimamente. Ele a envolveu entre seus braços desde atrás, lhe acariciando os cabelos com o nariz e apartando-o para poder lhe beijar a nuca. -Vamos falar do tempo? Ela estremeceu ante seu toque. -Não, só queria que visse a noite e escutasse o oceano. Às vezes posso ouvir o canto das baleias incluso na escuridão.- Girou entre seus braços e entrelaçou as mãos detrás de seu pescoço. -Recorda a noite em que me levou ao terraço de seu apartamento? Disse que a cidade parecia ser um lugar de luzes e cor, um palácio com milhares de segredos como nas Noites da Arábia. Quis compartilhar isso comigo.


140 As mãos lhe acariciavam a sedosa pele, seu corpo e seu cérebro levavam impresso a lembrança das curvas suaves, o calor apertado e os suaves gritos de rendição. -Lembro de deitar você em minha manta sob as estrelas e fazer amor a maior parte da noite. E justo antes da alvorada, começou a chover. Segurei você nos braços e corri à escada, envoltos na manta e nada mais. -Ríamos tão alto que tememos que saíssem os vizinhos. - Voltou a gesticular por volta do mar. -Este é meu mundo. O lugar que quero compartilhar com você. - Olhou nos olhos dele e os encontrou fascinantes. -Nunca quis compartilhá-lo com nenhum outro, Sasha. -Está tremendo. -Estou?- Em realidade não o tinha notado. A pele dele era forte e quente e cheirava a fresco, limpo e masculino. Tinha-lhe necessitado desde fazia tanto tempo, quase não podia acreditar que estivesse com ela. Ter-lhe ali com o oceano ressonando interminavelmente como cortina de fundo, com as estrelas no alto, parecia um presente, surrealista, um sonho no que queria viver para sempre. O passado e futuro pareciam longínquos. A realidade eram seus braços e pouco mais. -Está. -Deixou-lhe um rastro de beijos com o passar do pescoço. -Vamos para dentro. Abigail sacudiu a cabeça enquanto lhe enredava os dedos nos cabelos, enquanto alisava os sedosos fios e apoiava a cabeça contra seu peito. Queria que a abraçasse assim, sob as estrelas onde podia ouvir a chamada do mar e sentir a limpa brisa marinha em sua face. Não queria sentir medo. Não queria recordar nada exceto seu tato, seu corpo e a forma que a amava. Abigail se separou de seus braços e procurou seu ajustado top. O tirou pela cabeça e o atirou a um lado. Aleksander acreditava que recordava cada linha de seu corpo, cada generosa curva, mas a visão de seus suaves seios encapsulados no sutiã de renda, o ar fresco convertendo seus mamilos em picos convidativos, apanhou-o em uma rajada de desejo tão forte que lhe sacudiu. - Façamos uma cama aqui fora- sugeriu ela, com voz baixa e sensual. Levantou os braços para o céu, abrangendo a noite, sua larga cabeleira fluía a seu redor como uma sedosa capa. -Está segura, Abbey? Faz frio esta noite. Ela girou pela metade a cabeça, seus olhos exóticos e seus cabelos lhe dando uma aparência fantasiosa à luz da lua. -Estou segura. Está muito resguardado aqui fora. Podemos usar a banheira de água quente e a ducha está justo dentro. - Abbey.... - lhe fechou a garganta. -Se só quiser que abrace você esta noite, farei só isso. Disse a sério. Lançou-lhe outro desses sorrisos que ele não podia interpretar, lenta, sedutora, e justo um pouco fora de seu alcance. -Quero esta noite. Dê-me esta noite, Sasha e poderemos pensar no resto mais tarde. Aleksander elevou a temperatura da banheira de água quente e voltou a entrar para voltar com o colchão e os lençóis. Enquanto Abbey fazia a cama, ele tirou vários cobertores e grandes toalhas de banho.


141 -É uma casa maravilhosa- disse Abigail. -Um desenho brilhante. Muitas das casas ao longo da costa se harmonizam bastante bem com a paisagem. -Você adora viver aqui, verdade? Lançou-lhe um débil sorriso. -É meu lar. É obvio que eu adoro. O som do oceano me reconforta e cada vez que o vejo, sinto paz. Não importa se estiver em calma ou turbulento, há algo consolador no mar. Ele se estendeu para ela, puxando para aproximá-la. -Isso é o que eu sinto por você. Recorda a seu mar. Com freqüência os pescadores dizem que o mar é seu amante e está em seu sangue. - Beijou-lhe o pescoço, roçou as mãos dos seios ao estômago. Os elos dourados do cinto que rodeava sua cintura já estavam frios pelo ar da noite, mas isso serviu como combustível para abastecer o crescente calor de sua virilha. -Está em meu sangue, Abbey. E nem sequer quero que dele saia. Ouviu o assobio suave do zíper quando ela se afastou um pouco. A dor faminta se intensificava a um agonizante inchaço. Ela deslizou os jeans negros lentamente sobre seus quadris e para baixo pela longitude de suas pernas, saiu deles de modo que finalmente ficou em pé no alpendre levando tão só seu sutiã e as calcinhas de renda vermelho com um par de saltos altos negros. -Está me matando, Abbey- confessou ele brandamente, deixando cair sua mão até o vulto duro como uma rocha que se apertava contra suas calças. Sonhei com você vindo para mim, mas minhas fantasias não se aproximam o bastante à realidade. A luz da lua a envolveu de tal maneira que sua pele pareceu uma brilhante pérola. Seu arbusto de espesso cabelo vermelho caía por debaixo da cintura, atraindo a atenção à curva de seu traseiro. Seu mundo de violência e traição era uma forma de vida. Ele o entendia. Não confiava em nada. E logo estava Abigail com sua risada e calidez, com seu corpo suave e fundido e o refúgio secreto de um prazer além de seus sonhos mais selvagens. Ela estava ali em pé, estendendo a mão para ele, sem reconhecer o que significava para ele. Um rugido começou em alguma parte de sua cabeça e lhe consumiu. Ardiam lágrimas atrás de suas pálpebras. Conteve-se durante tanto tempo, negando-se a sentir ou pensar ou sonhar, e agora a represa tinha explorado e as comportas estavam totalmente abertas. Que lhe condenassem se a ia perder. Ela acreditava estar oferecendo uma noite de distração. Podia senti-la manter uma parte de si mesma longe dele, mas isso não ia ocorrer. Abigail Drake era dele, e cada célula de seu corpo lhe pertencia. Ele tinha uma noite para fazê-la admiti-lo e não ia desperdiçar sua oportunidade. Envolveu a mão dela na sua e a puxou até que seu corpo esteve contra o dele. Tinha esperado quatro anos por este momento e não poderia esperar um segundo mais. Seu punho se apertou entre os cabelos dela, sua boca encontrou a dela para capturar esse primeiro pequeno gemido de rendição que sempre fazia. Celebrou esse som, esse momento no que soube que se entregaria a ele. Tinham sido muitas noites nas que despertou sozinho, seu corpo tão duro como uma pedra, e esse pequeno gemido enchendo sua mente e provocando uma dor em seu coração.


142 As mãos delas se deslizaram para seus ombros, os dedos se afundaram em seus músculos enquanto a língua se afundava no profundo calor doce de sua boca. Pressionou sua virilha dolorida contra o ventre suave, permitindo que a sensação de sua pele e suas curvas exuberantes lhe empurrassem a beira do controle. Cada recordação de acariciá-la, o prazer interminável, o incrível amor que entrou em seu coração e em sua alma tão devagar que não o tinha reconhecido a tempo para proteger-se. Tinha sido muito tarde quando soube o que estava acontecendo. Necessitava-a quando nunca tinha necessitado a ninguém. A boca de Abbey era calor aveludado, sua língua se enredava com a dele, aumentando o prazer. Logo não pode respirar enquanto passava as mãos possessivamente sobre ela. -Leva muita roupa em cima, Sasha - queixou-se ela. Resistente a romper seu beijo, seus dentes lhe mordiscaram o lábio inferior. Elevou a cabeça, se tomando tão somente o tempo necessário para passar a camisa pela cabeça e atirá-la a um lado. Antes que pudesse alcançá-la outra vez a palma dela se deslizou sobre a parte dianteira de suas calças. Seu corpo se estremeceu ante o calor repentino e a fricção quando lhe esfregou através do tecido. -Segue havendo muita roupa- enfatizou ela, lhe olhando aos olhos. Estava perdido e sabia. Quantas vezes se afogou em seu olhar? Abigail era um desejo que não queria livrar-se nunca. Tinha deixado de lutar com o fato de que a necessitava. Era só questão de fazê-la compreender que também necessitava a ele. Livrou-se de sua roupa, deixando-a cair descuidadamente enquanto se estendia de novo para ela, conduzindo-a à cama. Encontrou o calor de seu pescoço, beijando e mordiscando gentilmente, brincando com sua orelha e sua garganta. Seus mamilos lhe pressionavam os duros músculos do peito, tão somente o sutiã separava suas peles. Ela estava emitindo sons suaves de prazer, suas unhas lhe cravavam nas costas e seus quadris se moviam sinuosamente abaixo dele. Seu corpo ardia com um desejo febril. Beijou um caminho para a plenitude dos seios para encontrar os apertados e duros brotos que empurravam através do sutiã vermelho. -É tão formosa. - Só podia olhá-la enquanto a luz da lua acariciava seu corpo. Inclinou a cabeça lentamente e lambeu o calor que formava redemoinhos sobre cada mamilo. O corpo dela reagiu, contraindo os músculos, os quadris agitando-se descontroladamente. Ela gemia ante a intensidade de seu prazer. Abigail nunca guardava nada, sempre lhe tinha demonstrado o muito que lhe desejava. O conhecimento lhe ajudou a manter o controle quando tanto a desejava. Estava decidido a ir devagar e lhe proporcionar a mesma intensidade agonizante que mantinha a ele detento em suas garras. Abigail arqueou para ele, empurrando os seios para sua boca como um convite, seus punhos lhe aferraram os cabelos. Tirou seu sutiã e abaixou a cabeça, fechando a boca apaixonadamente sobre o mamilo, sugando com ansiosa luxúria. Sua mão subiu pela perna para a coxa. Podia sentir o calor, a umidade na barreira da calcinha vermelha entre eles. Ela pronunciou seu nome, um som dolorido e sem fôlego, lhe suplicando.


143 Acariciou as coxas sedosas enquanto dirigia sua atenção ao outro seio, seus dentes dando pequenas dentadas e sua língua lambendo apaixonadamente a pele enquanto beijava o caminho para seu ventre. O fôlego dela se converteu em ofegos, seus dedos lhe apertaram os ombros. As mãos de Aleksander estavam por toda parte, moldando cada curva, encontrando cada sombra, brincando com seus mamilos e acariciando-a até que girou vertiginosamente fora de controle junto com ele. Havia uma súplica em sua voz enquanto seus quadris se moviam continuamente abaixo dele. -Adoro essa calcinha vermelha- sussurrou contra seu ventre. Com as mãos separou as coxas enquanto seu queixo esfregava a calcinha úmida. Inalou seu perfume. Sua fragrância o envolvia. Recordava-o tão vividamente, o sabor e o aroma excepcional dela. Seus dentes mordiscaram o tecido de renda sobre o montículo pulsante. -Sasha!- A Abigail sua própria voz soou rouca pelo desejo. Sua língua se deslizou através dos ocos da calcinha e acariciou profundamente. Ela se agitou abaixo dele, quase se desfazendo entre seus braços. -O que está fazendo? Passou muito tempo. Quero você dentro de mim. Ele sorriu ante a exigência de sua voz. -Quero tudo de você. Inclusive as partes que não quer me dar. Tudo. - Sua língua se deslizou profundamente outra vez, uma correria através da renda, lhe roubando o fôlego. -Não é culpa minha que a calcinha esteja no meio. As mãos dela empurraram freneticamente a calcinha. -Tira-me isso. Depressa. Tira-me isso. - Chutou com os pés até que seus saltos altos saíram voando. Aleksander abaixou o olhar à face dela, ao olhar vidrado, a forma em que seus seios se elevavam. Sua pele era imaculada e sensível, tão formosa que lhe doía o coração. Rasgou a calcinha com um movimento rápido, proporcionando-se acesso ao corpo dela. Passou a palma sobre ela, afundando um dedo na intrigante umidade. Seus músculos se apertaram com força quando lhe separou as coxas e se deslizou entre eles. -Tinha esquecido como é saborosa. Abaixou a cabeça para ela, sua boca encontrou o ponto mais sensível. Tomou seu tempo, sugando, lambendo, conduzindo-a a beira do controle e mantendo-a ali. O corpo de Abigail palpitava com a excitação. Suplicava por ele, com os punhos enterrados entre seus cabelos, puxando enquanto o fogo rabiava através de sua corrente sangüínea e seu corpo serpenteava mais e mais tenso. Abigail estava a beira da loucura. Ele emitia ardentes sons sensuais de prazer enquanto a degustava, lambendo e mordendo gentilmente. Soava desesperado por ela, mas não tomava, não a enchia ou lhe permitia chegar quando necessitava alívio. Seus olhos eram tão escuros que pareciam negros. Parecia tão faminto, com um escuro desejo esculpido profundamente nas linhas de sua face. Os dedos substituíram à língua quando se inclinou para frente, esfregado seu rosto no ventre dela. Seu útero se esticou e lhe escapou outro grito. Aleksander trocou de posição, elevando-se sobre ela de joelhos. Seu corpo era duro e de músculos definidos, seus ombros largos. Tinha esquecido quão


144 grande era. Ajoelhado entre suas pernas como estava, até com seu corpo pulsando de desejo e úmida em boas vindas teve um momento de incerteza. -Fizemos isto muitas vezes- recordou-lhe ele enquanto pressionava a grande cabeça de sua ereção contra ela. Empurrou entre suas apertadas dobras, estirando-a lentamente. Ofegou. -É tão condenadamente apertada, Abbey. -Seu fôlego era áspero, igualando ao dela. Era apertada e tão malditamente quente que não estava seguro se estava no paraíso ou no inferno. Nunca a tinha desejado tanto e a sensação estava em algum lugar entre o puro êxtase e a dor quando se introduziu mais profundamente em seu corpo. O calor e o fogo açoitaram seu corpo, estendeu-se e a consumiu. Abigail sentiu as lágrimas correndo por sua face e se perguntou como tinha vivido alguma vez sem ele. Tinha querido reter alguma parte de si mesma a salvo, mas ele estava tomando tudo o que ela era, exigindo-o tudo e não podia evitar a quantidade de desejo que emanava de seu interior. Seu corpo se derreteu ao redor do dele, passou a formar parte do corpo dele. Pele com pele se balançaram, os quadris encontraram o ritmo perfeito, o corpo dele introduzindo-se duro, rápido e profundo no dela. Elevou-se para encontrá-lo, apertando os músculos para sujeitá-lo. Estava segura de que não sobreviveria, de que morreria com ele profundamente enterrado em seu interior enquanto seu corpo se esticava mais e mais pela necessidade de alívio. Mergulhou-se nela com golpes duros e desesperados enquanto seu corpo pulsava e pulsava ao redor dele. Suas mãos lhe aferraram os quadris, o que lhe permitia introduzir-se nela, furiosas estocadas que enviavam ondas expansivas por todo seu corpo. As sensações se vertiam nela, através dela, aumentando e aumentado até que só existiu Aleksander em seu mundo. Sentia seu corpo esticar-se, alcançar um frenesi de luxúria e desejo, mais e mais alto. Ele não deixava de mover-se, empurrando mais e mais forte e levando-a a tal altura que temeu não poder retornar nunca. Não tinha importância, sujeitavaa com sua força, seu rosto era uma máscara de escura intensidade, enquanto seu ritmo furioso se incrementava. Ouviu-se gritar quando ele roçou seu ponto mais sensível, lançando-a sobre a beira fazendo que seu útero se convulsionasse, enviando ondas expansivas que a rasgaram. Sentiu o ardente jorro da liberação dele enchendo-a, ouviu seu rouco grito mesclando-se com o dela. Deitou sobre ela, seu corpo estremecendo-se, quente, gotas de suor umedecendo seus cabelos, o coração lhe palpitando no peito. Jazeu abaixo dele lutando por respirar, seu corpo já não lhe pertencia, mas era assim desde a primeira vez que se deitou com ele. As lágrimas escaparam pela comissura de seus olhos. -Lyubof maia - Sua voz era gentil, sensual. –Me arrancará o coração outra vez se chorar - Seus dedos penetraram entre os dela. -Quero você mais que a minha vida. Não há esperança para nós? Não tive nada até que entrou em minha vida e quando partiu, deixou-me sem nada. - Beijou-lhe os olhos, sua língua tomando as lágrimas. -Tenta-o por mim, Abbey. -Estou tentando. - Seu corpo ainda palpitava ao redor do dele, pequenos tremores a estremeciam, enviando diminutos impulsos elétricos por sua corrente sanguínea.


145 -Está tentando não me amar. - Beijou-lhe a garganta, pressionou outro beijo entre seus seios. -Conheço você muito bem. Não quer me amar. Odiava que soubesse isso. Que a conhecesse tão bem que pudesse dizer o que estava pensando e sentindo. Tocou-lhe a face. Sua amada face. -Temos que estar juntos. Complementamo-nos, Abbey. Pertencemo-nos. -Tive que trabalhar muito duro para me encontrar de novo, Aleksander. Havia dor em sua voz. -Estava tão perdida sem você. Deixou-me tosca e ferida; apanhada em um lugar escuro sem janelas ou portas. Não sabia como viver sem você. Não sabia como sorrir ou sentir ou ser. Levou-me quase dois anos aceitar que realmente se acabou e tive que encontrar a maneira de seguir. Obriguei-me a ser forte. Estou viva outra vez. Posso me levantar algumas manhãs e ser feliz. Posso olhar ao oceano e encontrar paz outra vez. Agora me pede que o arrisque tudo uma vez mais; e não estou segura de poder sobreviver se tudo voltasse a derrubar-se. Estava estendido sobre ela, seu corpo suave impresso na dura carne dele. Ainda estava enterrado profundamente dentro dela e acabavam de ter sexo de sacudia a terra. Estava-lhe olhando com uma mescla de amor e medo e nem sequer podia fingir que não sabia por que. Fazia mal uso de certas coisas por causa de sua arrogância, de sua confiança em que era tão capitalista que a ninguém lhe ocorreria tratar de afundá-lo. Tinha estado equivocado e Abigail tinha sido a que pagou o preço. -Sei, rebyonak, sinto muito. Sei que tenho culpa do que você passou e sei o preço que pagou por meu engano. Mas lhe juro isso, não permitirei que volte a ocorrer. - Beijou-lhe a comissura da boca. -Não cometo duas vezes o mesmo engano. Penteou-lhe os cabelos para trás. -Me dê tempo. -Conseguirei algo para beber. Quer algo quente ou frio? -Algo frio. Vou tomar uma ducha e você enche a banheira de água quente. Aleksander a beijou outra vez, longo e devagar, tentando sem palavras lhe mostrar como se sentia. A contra gosto deslizou fora do refúgio de seu corpo. Tinha um apertão tão precário sobre ela que não queria deixá-la nem por um momento, temendo que se afastasse e lhe deixasse sozinho outra vez. Abigail prendeu os cabelos para evitar que se molhassem e permitiu que a água quente se vertesse sobre seu corpo. Tinha passado muito tempo da última vez que tinha feito amor e estava sensível, seu corpo ligeiramente dolorido. Aleksandr sempre tinha estado tão faminto dela. Faziam amor com freqüência, em várias ocasiões ao dia. As coisas que tinham feito, nunca as faria com nenhum outro. Com ele sempre parecia correto e natural. Seu corpo ainda palpitava por ele. Podia senti-lo pulsando em seu útero, desejando mais. Nua, saiu ao alpendre. Aleksander já tinha tirado a coberta da banheira de água quente e tomava a mão, ajudando-a a entrar na água. O contraste do fresco ar noturno e a água quente a fez ofegar quando se sentou nas profundidades. Recostou-se, com a cabeça apoiada na almofada, olhando as estrelas e escutando o rugir do oceano enquanto ele tomava sua ducha. Abigail se sentou erguida e lhe observou andar para ela quando ouviu abrir porta. Levava duas taças de champagne cheias de líquido dourado. Aproximou-se


146 da banheira e lhe ofereceu uma taça. Ela a colocou na beirada da banheira e embalou seu testículo na palma, apertando gentilmente enquanto se elevava de joelhos. Seus seios flutuaram na água quente quando se inclinou para ele. -É um homem muito atraente. Ante seu toque, voltou para a vida incluso no meio do frio da noite. Ela fechou os dedos a seu redor, sentiu-lhe crescer e endurecer-se em resposta. -Só fique aí, Sasha e bebe seu champagne. Quero tocar você. Ele tinha explorado seu corpo, mas ela só tinha conseguido ancorar-se a si mesma lhe cravando as unhas e sujeitando-se quando as sensações se voltaram muito. Agora tinha tempo para uma exploração muito mais pausada. Aleksander fechou os olhos quando o fôlego quente dela se moveu sobre seu corpo. As mãos roçando sobre sua pele, riscando linhas e músculos, voltando para sua repentinamente raivosa ereção. Levantou a taça até seus lábios e tomou um pequeno sorvo de champagne justo quando a boca se fechou sobre ele. Quase deixou cair a taça e se afogou. Sua mão livre posou nos cabelos dela. -Adoro sua boca- Sentia-se outra vez atormentadamente duro e palpitava pesadamente. Ela não respondeu. A umidade se estava já acumulando e seu útero se esticava de novo, apertando-se e palpitando de desejo. Ambas as mãos subiram para lhe agarrar as coxas, seus dedos se afundaram no pesado músculo enquanto enchia sua boca com sua plenitude. Começou a sugar com força, sua língua dançando e brincando enquanto ele gemia de prazer. Aleksander jogou a cabeça para trás e contemplou o céu. A lua os banhava com sua luz enquanto o oceano tocava uma forte melodia como cortina de fundo. O calor da banheira não era nada em comparação com o fogo da boca aveludada dela. Não tinha nem idéia do que tinha feito em uma vida anterior para merecer a uma mulher como Abigail. Nunca havia concebido ter uma mulher que compartilhasse tão completamente, tão honestamente. Uma que desfrutaria de seu corpo com tão completo abandono. Ela podia fazer coisas assombrosas com sua boca e parecia encantar fazer-lhe a ele. Tremiam-lhe as pernas e sentia como se estivesse estrangulando de prazer, seu fôlego chegava em ofegos desiguais, os pulmões lhe ardiam procurando ar. Ele empurrou mais profundamente em sua boca, seus quadris agarrando o fluxo de seus movimentos. Seus testículos estavam tão tensos que temeu que explodissem. -Quero acabar dentro de você Abbey. Estou perto, tão perto. O corpo de Abbey palpitava com tal necessidade que a contra gosto abandonou o prazer de lhe voltar louco e lhe permitiu retirar-se de sua boca. Agarrou-a pela cintura, levantando-a sem preâmbulo sobre seus pés e girando-a para almofada da beira da banheira. Com a mão aberta em suas costas, obrigou-a a inclinar-se para frente. Ela se encontrou olhando ao palpitante mar enquanto a mão dele escorregava entre suas pernas, seus dedos procurando a umidade. Ele gemeu. -Está tão preparada para mim. Tem a menor idéia do que isto pode fazer a um homem?- Podia lhe pôr de joelhos. Abigail não tinha nem idéia do que tinha feito por ele, de como tinha mudado sua vida, de como lhe tinha trocado como


147 pessoa. Não voltaria a ser o que tinha sido sem ela. Afundou-se nela com força, necessitando o prazer que palpitava por todo seu corpo para afugentar a seus demônios. Estes se tinham apresentado muito inesperadamente. Abigail tinha admitido quanto lhe havia flanco recuperar sua vida e continuar sem ele, mas ao menos ela tinha podido. Ele não tinha sido capaz de fazê-lo. Tinha vertido seu coração em suas cartas e ela as havia devolvido sem abrir. Antes de Abbey nunca tinha tido importância se era feliz enquanto cumprisse com seu dever. Perseguia criminosos e se esquivava de balas, voltando depois para um apartamento vazio. Não confiava em ninguém e não se preocupava com ninguém. Tinha podido viver no labirinto de dor e traição, manobrando destramente através dos campos de minas de seu mundo, mas ela tinha trocado todo isso. Perdeu-se com tanta segurança como se perdeu ela. Não podia pensar em perdê-la outra vez; duvidava que ele pudesse sobreviver tampouco. Seus dedos lhe apertaram os quadris. Ela estava quente e apertada e era um milagre de prazer que expulsava os pensamentos perigosos de sua cabeça. Podia sentir seu corpo lhe banhando em ardente líquido, seus músculos lhe aferrando com força, apertando e massageando, a fricção era incrível quando se inundava em seu interior. Abigail empurrou para trás contra ele, balançando seu traseiro contra o tenso escroto com cada profunda estocada, enviando o prazer dele a um vertiginoso giro inverificado. Sentiu o corpo dela paralisar-se a seu redor, convulsionando-se e contraindo-se fortemente. Seu suave grito se elevou na noite. Um grito rouco se liberou de sua garganta quando se esvaziou nela, seus braços lhe rodeando a cintura, sua boca encontrando a nuca. Pressionou um rastro de beijos descendo pela coluna vertebral para o traseiro enquanto se deslizava fora dela. Virou-a, ajudando-a a sentar-se recostada na banheira de água quente já que ambos tinham as pernas trementes. Olhava-lhe com tal mescla de dor e prazer que sentiu que lhe arrancavam o coração. Havia tanta tristeza nela que não o podia suportar. Agarrou-lhe o queixo e colocou a outra mão no peito. -Baushki-bau, está me rompendo o coração. Não pode ver que o que sinto por você é real? Que quero você mais que a nada neste mundo? Faria qualquer coisa para apagar a dor que causei. Diga-me o que posso fazer. Por favor, Abbey, não pode continuar tão ferida. Lançou-lhe um débil sorriso, enquanto lhe tocava as pequenas linhas ao redor da boca. -Não é só minha dor. É a sua também. Eu sinto como você me sente. pressionou-se a mão sobre o coração em um gesto quase idêntico ao dele. Superaremos isto. Só que nos levará tempo. Nunca pensei que voltaria a ver você e ainda estou em estado de choque. -Seduziu-me deliberadamente esta noite. O sorriso dela se ampliou. -Não preciso muito para seduzir você, Sasha. Com tão só um olhar penso que te seduzo. Ele deu de ombros.


148 -Isso é certo. Abigail estendeu o braço em busca de sua champagne. -Menos mal que estou tomando pílula. Se não estaríamos em grandes problemas. Só porque Elle seja a destinada a ter as sete filhas não quer dizer que o resto de nós não possamos ficar grávidas. Deveria ter pensado nisso antes de te pôr tão selvagem. Tirou-lhe a taça e a inclinou ligeiramente para que umas poucas gotas corressem pela fenda entre seus seios. -Pensei nisso- murmurou enquanto inclinava a cabeça para lamber o champagne da pele. -Esperava que tivesse esquecido. Sua língua enviou pequenas descargas elétricas pulsantes através de seu centro. Ele se recostou para trás, com a cabeça contra uma das almofadas acolchoadas e a atraiu até seu peito. -Recoste e olhe as estrelas. É uma noite incrível e só quero te abraçar. Abigail relaxou, movendo os quadris até que ela pôde sentir sua virilha ao longo da união de suas nádegas. Permitiu que sua cabeça descansasse no peito dele. Imediatamente as mãos de Aleksander subiram até seus seios. -Isso não é possível. -Não, mas posso abraçar você. Senti falta de tocar você. - Seus dedos lhe massageavam os seios, brincando com seus mamilos. -Eu adorava despertar na metade da noite e te encontrar a meu lado nua. Seu corpo sempre era tão receptivo. -É um maníaco sexual. - Havia um sorriso em sua voz e outro arrastandose até seu coração. Talvez ela fosse a maníaca sexual. Quando estava com ele, sempre estava úmida e pronta, seu corpo pulsava e palpitava. Não importava o que lhe pedisse ele, nem quando, desejava-lhe. Gostava de tocar seu corpo e o fazia com freqüência. Inclusive quando saía recordava como sua mão a roçava acidentalmente os mamilos ou o traseiro. Uma vez estavam em um clube noturno e sua mão tinha subido sigilosamente pela coxa sob a mesa. Tinha estado tão quente por ele quando partiram, que apenas as tinham arrumado para chegar a seu apartamento antes que lhe arrancasse a roupa. Nunca lhe importava que tomasse a iniciativa, o que fazia freqüentemente, lhe excitando deliberadamente quando sabia que não podia fazer nada a respeito. Adorava esse olhar em seus olhos, ardente com promessas, e sempre acabava as cumprindo. Aleksander lhe mordiscou o ombro, seus dentes lhe arranhavam a pele jocosamente enquanto suas mãos vagavam pelo corpo. Ela deixou que o champagne escorregasse por sua garganta e lhe deu a taça outra vez. Ele tomou um sorvo e logo lhe jogou a cabeça para trás para beijá-la, tendo sabor de champagne e sexo. -Quer ir à cama?- perguntou Abigail. Devolveu-lhe a taça e deslizou ambas as mãos de volta sob a água, lhe buscando as coxas. -Sim. Com você. Quero te comer toda a noite. -Acreditava que queria me abraçar toda a noite.


149 -Isso também. - Suas mãos lhe separaram as coxas e descansou as palmas a ambos os lados de seu montículo, os polegares movendo-se com uma lenta persuasão através dos apertados cachos. -Quero que esta noite dure para sempre. Ela suspirou e se moveu um pouco mais para acomodar seus dedos acariciantes. -Eu também quero que esta noite dure para sempre. - Ele fazia que ardesse uma vez mais com seus intensos beijos e seus dedos deslizando-se profundamente em seu interior, acariciando e dançando com uma experiência que provinha de todas as noites que tinham feito amor. -Vêem por mim. - Sussurrou-lhe tentadoramente. Empurrou os dedos mais profundamente, enchendo-a, acariciando seus clitóris e lhe murmurando em russo fantasias explícitas ao seu ouvido. Ela empurrou para frente os quadris, montando sua mão, seu fôlego entrecortado e seus seios levantando-se com a excitação do crescente prazer. Ele a beijou uma e outra vez, lhe roubando o fôlego, lhe estimulando os seios com uma mão enquanto com a outra acariciava e entrava na apertada vagina. Entre seus beijos lhe sussurrava em russo. Ela só podia captar algumas das coisas que estava propondo de tão perdida que estava no crescente torvelinho de calor e prazer. Elevou os quadris para encontrar o impulso rítmico de seus dedos, desejando mais, desesperada por mais. Aleksander mordiscou sua clavícula, uma pequena dentada de dor que aliviou com a língua. Empurrou profundamente em seu interior com os dedos, friccionando seu ponto mais sensível. A excitação flamejou através dela, ardente e necessitada. Podia sentir seu corpo chegando mais e mais alto. -É tão apertada- sussurrou ele. - Tão quente e apertada. Ela explodiu, o orgasmo chegou rápido e duro; estremecendo-a com sua força. O calor se apressou através de seu corpo e realmente se sentiu desfalecer. -Vou ter que sair daqui- disse ela. -Mas acredito que não vou poder me pôr em pé. Aleksander a levantou facilmente e saiu da banheira de água quente. Colocou-a na beirada e secou seu corpo com uma grande toalha de banho. -Obrigado por estar aqui comigo esta noite, Abbey. -Aconteça o que acontecer mais tarde, me alegro de havê-lo feito, Sasha. Sua voz deixou transparecer seu excessivo cansaço e ele a levou a cama e a estendeu, lhe apartando os cabelos do rosto. -Fique sob as mantas enquanto eu volto a pôr a coberta da banheira de água quente. Não quero que pegue frio. Ela se enroscou sob as grosas mantas. -Tenho tanto sono que não acredito que o notasse. Vá depressa e vêem a cama. Aleksander limpou o alpendre e voltou para ela, ficou olhando-a por um longo momento, assombrado de que realmente estivesse com ele. Era muito consciente que ela não tinha falado de compromisso e sabia que ia afastar-se pela manhã. Mas agora a tinha com ele e isso era mais do que nunca tinha esperado.


150 Aleksander subiu engatinhando à cama junto à Abigail e curvou seu corpo ao redor do dela. -O que sabe do Jonas Harrington?- Envolveu-lhe os braços ao redor e lhe beijou a nuca. -O que quer saber?- Havia uma nota de cautela em sua voz. Ele sorriu na escuridão. -É muito protetora com esse homem. -Ele não acreditaria assim. É de nossa família. Quero-lhe. Minhas irmãs, meus pais, inclusive minhas tias lhe querem. É um grão no traseiro a maior parte do tempo, mas caminharia entre o fogo por nós. -Averigüei muito sobre ele e parece ser muito bom em seu trabalho, tem uma folha de serviços excelente. -Como averiguou isso? -Estes são tempos modernos e os agentes da Interpol russa utilizam computadores portáteis e Internet para enviar e receber arquivos. Interpol tem bastante renome como agência de informação. -Esfregou o nariz contra os cabelos dela. -Eu adoro como cheira seus cabelos. -Uso um xampu de ervas que fazem minhas irmãs. É um grande produto. -Me fale do Harrington como pessoa. Como homem. É rígido com respeito às normas? Segue estritamente o livro? Respaldaria a seu companheiro se as coisas ficassem difíceis? Abigail abriu os olhos e se virou para lhe olhar. Seu suave corpo se moveu contra o de Aleksander com um doce fogo que lhe estremeceu. Essa era uma das coisas que mais sentia falta de estar na cama com ela, sentindo-a simplesmente mover-se contra ele. -Não se atreva a utilizar Jonas para nada perigoso. -Parece estar muito em cima da investigação e se aproxima muito de Nikitin e Prakenskii. Não quero que eles lhe apontem como objetivo. Não acredito que Prakenskii matasse Harrington exceto em defesa própria, mas a resposta do Nikitin quando alguém se cruza em seu caminho no geral suporta algum tipo de violência. Acredito que poderia proteger melhor o Harrington se trabalhar com ele. -Jonas leva seu trabalho muito a sério e averiguará quem assassinou seu companheiro. Se me perguntar se ajudaria você, então sim. E se está preocupado por que esteja se aproximando muito da verdade e que quem está detrás disto lhe queira morto por isso… é tenaz e encontrará o assassino. Estarei muito agradecida se lhe vigiasse- Bocejou. -Tenho tanto sono. Beijou-lhe o pescoço outra vez. -Durma então. Amanhã temos que falar. -Sasha...- Sua voz era sonada. -Tenho que estar na baía a primeira hora da manhã para dar os antibióticos ao golfinho e logo tenho uma reunião com minhas irmãs. Supõe-se que teria que estar as ajudando a planejar umas bodas duplas e até agora não contribuí absolutamente em nada aos planos. Também tem essa coisa. - Emitiu um ruído de repugnância. -Que coisa? -Frank Warner oferece uma festa para todos os peixes gordos e recebemos a convocatória real de Inez, o qual quer dizer que temos que ir.


151 -Está me afastando? Ela se enrijeceu ante seu tom. -Não. Digo que tenho planos amanhã e não poderei ver você. Tenho uma vida, sabe. E acreditava que estava aqui por negócios. Não tem uma investigação que levar a cabo? -Minha investigação vai bem. Posso tratar com mais de uma coisa em minha vida de uma vez. Olhou-lhe com seus expressivos olhos verdes. -Eu sou uma dessas coisas? -Você é tudo que importa.

Capítulo – 13 -Abbey! Chegando tarde!- Hannah fulminou com o olhar sua irmã. -E está molhando o chão. Abigail ficou em pé na entrada por um momento, com aspecto de menina que tivessem apanhado com uma mão no pote das bolachas. Seu cabelo ruivo normalmente vívido pendurava em mechas úmidas, gotejando água por seu pescoço e ombros. Havia água inclusa em suas espessas pestanas. Hannah a percorreu com o olhar divertido. Abigail tinha tirado seu traje de mergulho em algum lugar antes de chegar em casa, mas os óculos ainda estavam pendurados da ponta de seus dedos como se tivesse esquecido que o levava. Estava descalça e vestia uma camiseta e um par de calças cômodas e muito úmidas.


152 -Sei, sei. Sinto muito. - Abigail Drake fechou de repente a porta da cozinha e olhou ansiosamente para o bule. -Estou desesperada por uma xícara de chá. Hannah não pôde resistir aos enormes olhos de cachorrinho abandonado da irmã e deu uma olhada ao bule colocado sobre um queimador. Como se isso fosse um sinal, o queimador voltou para a vida, as chamas vaiaram brandamente sob o bule. -Farei uma xícara para você enquanto toma banho, mas ande depressa. Olhou seu relógio. - Chegamos meia hora atrasadas. Abigail correu pelas escadas, Hannah foi atrás dela. -Não pude evitá-lo. Tinha que dar os antibióticos a Kiwi esta manhã e depois os outros golfinhos estavam na baía e estavam muito sensíveis e não pude resistir a tomar um banho com eles. Estava tudo tão tranqüilo que me esqueci da hora. - Sorriu abertamente a sua irmã sobre o ombro. -Se tivesse que escolher entre doces e divertidos golfinhos ou ir à galeria de Frank Warner, o que seria? Além disso, Frank me evita mais ou menos como o resto de Sea Haven se puder. Odeio estas coisas. -Não lhe evitam Abbey. - disse Hannah. -Claro que sim, todos têm medo de que vá escapar a palavra equivocada e vão contar a todo mundo um profundo e escuro segredo. Prefiro estar sob o mar com os golfinhos. -Ponto para você, mas também perdeu a reunião sobre os planos de bodas de Sarah e Kate. Inclusive Tia Carol se zangou por isso e sabe que te adora. Abigail se deteve na entrada do banheiro. -Sei. - retirou-se a massa de cabelo molhado e salgado da cara. -Não deveria havê-lo feito. É só que… - Interrompeu-se com um pequeno suspiro. -É o Jonas ou o Aleksander a quem está evitando? -perguntou Hannah. Abigail ficou rígida, uma ligeira reação, mas Hannah a captou em seguida. A expressão de Abigail se suavizou imediatamente. -A ambos. Algum deles chamou? -Sim. - Hannah pôs uma mão sobre o ombro da irmã para evitar que escapasse ao banheiro. -Jonas esteve chamando toda a manhã. Por que está chateada com ele? - Observou a sua irmã atentamente em busca de uma reação. Moveram-se sombras nos olhos de Abigail, velando sua expressão. Hannah pressionou a mão sobre o coração. Realmente lhe doía e soube que estava sentindo a dor de sua irmã apesar de Abigail lhe sorrir. -Abbey, queria poder ajudar você. -Sei, carinho. Tenho que me ocupar das coisas eu mesma. Agora mesmo estou confusa e não me ajuda que Jonas esteja chamando e exigindo que lhe fale de coisas das que na realidade não sei nada. Deveria simplesmente falar com o Aleksander e me deixar fora disto. Vim para casa para ajudar a planejar as bodas de minhas irmãs e investigar meus golfinhos. Não quero saber nada sobre objetos roubados ou assassinatos. Só desejo que todos eles me deixem em paz. Hannah avaliou sua irmã com olhos solenes. -Dormiu com ele, verdade? Um débil sorriso tocou a boca de Abbey. -Bom, sim. -E não foi bom?


153 -Foi genial. Aleksander e eu somos muito compatíveis. Não é o sexo. É o muito que lhe necessito. Como pode me acender. Quero que isto seja só sexo... assim seria muito mais seguro, Hannah. -Abbey, qualquer mulher que passa a vida no mar não está segura. Não digo que vá atrás dele, porque francamente não sei como é ele. Sua aura está muito mesclada e indica conflito, violência e perigo, mas também amparo e um montão de outras grandes qualidades. -Sofro por ele. Não posso tirá-lo da cabeça. -Sinto muito, carinho, sei que sofre. E ele chamou cada hora perguntando por você. Sei que pensa que minto quando lhe digo que não está aqui. - Hannah assinalou o banheiro. -Toma uma ducha. Está molhando todo o corredor. Farei seu chá. Necessitará para ir a essa festa. - Fez uma careta. -Sei quanto a odeia Hannah. -Sinto-me como se tivesse duas pessoas dentro, Abigail. - Hannah baixou o olhar para suas mãos. -Meu verdadeiro eu, como sou com minha família, extrovertida e forte, e logo quando estou em público e não posso falar sem gaguejar. É tão frustrante. Acredito em mim mesma. Não me importa o que outros pensem de mim. - Fez uma pausa. -Bom, minha família e talvez esse rato do Jonas, embora por que me importa ele, não tenho nem idéia. Abigail estudou a sua irmã. Era sempre ligeiramente surpreendente quão formosa era Hannah na realidade. Era alta, magra como marcava a moda, mas ainda assim tinha seios cheios, naturais. Seus cabelos eram ouro branco, espesso e comprido, e tinha um brilho incrível. Tudo em Hannah era elegante e com classe, desde seus grandes olhos de espessas pestanas e maçãs do rosto altos até sua boca ampla e cheia. Havia poder no corpo esbelto dela e uma natureza maquiavélica oculta sob seu exterior. Poucos viam alguma vez esse lado de Hannah. Quanto maior era o dom, quanto mais forte o poder, com mais desvantagens o compensava a natureza, e o poder da Hannah era extremo. E Jonas tinha razão. Parecia cansada e muito magra apesar de sua beleza. -Não. - Hannah piscou para conter as lágrimas. -Estou bem. -Abraçaria você, mas estou molhada. - disse Abigail. -Sempre poderia convertê-lo em sapo. Isso solucionaria nossos problemas. -Estive considerando. Ou melhor ainda, cada vez que abra a boca para me dizer que algo, sairá um agradável e ruidoso “croac”. Ambas estalaram em gargalhadas A porta da cozinha se fechou de repente justo quando o bule começava a assobiar. -Hey! -Sarah Drake gritou para cima pelo vão da escada- Posso ouvir as duas cacarejando como um par de bruxas, mas creio que não lhes vejo na galeria, onde deveriam estar. Como vão? As duas irmãs intercambiaram um largo olhar culpado. -Me salve. - articulou Abigail e se precipitou ao banheiro para tirar todo o sal do cabelo e do corpo. Hannah desceu correndo as escadas para interceptar sua irmã mais velha. - Sarah! Acreditava que nos encontraríamos na galeria do Frank. Sarah elevou uma sobrancelha enquanto examinava a cara imaculada de Hannah.


154 -Certo que sim. Abbey e você estavam pensando em escapulir certo? -Estava fazendo uma rápida xícara de chá para Abbey - arriscou Hannah. -Estavam considerando, verdade?- Sarah colocou um dedo nas costelas de sua irmã. -Você vai muito formosa com aquele vestido tão elegante. Onde pôde comprar um vestido bonito em Sea Haven? -Eu estava pensando em meu velho pijama de flanela, um bom filme e algumas pipocas. - disse Hannah. Suas mãos se moviam graciosamente enquanto vertia o chá em um pequeno bule. -Abbey acaba de retornar, não é? Kate disse que ela e Matt se deixaram cair pelo velho moinho para fazer algumas mudanças nos planos e viram o bote de Abbey fora de Sea Lion Cave. Abigail passou o dia brincando com os golfinhos. -Não é uma brincadeira, Sarah. É trabalho. É bióloga marinha. Sarah soltou um bufo pouco elegante. -Não aqui, aqui não o é. Você é modelo, Hannah, mas quando vem para casa, é nossa irmã e está aqui para planejar umas bodas. Umas bodas duplas. Abigail sai ao oceano cada dia em vez de trabalhar conosco. -Sei. - Hannah abaixou a cabeça. -Está preocupada com o golfinho que foi ferido e vai cuidar dele. Sabe que os golfinhos se congregam e a chamam quando está pelos arredores. -Está se escondendo como faz sempre- disse Sarah, com uma mescla de preocupação e exasperação em sua voz. -Dormiu com esse homem, verdade?Jogou uma olhada para a escada. -Disse algo sobre o outro? Temos que saber contra o que nos enfrentamos. -Não lhe perguntei ainda, mas estava por fazê-lo ao terminar o chá. -Só quero saber quão perigoso é. E se Jonas sabe algo dele. -Jonas não tem por que saber nada sobre esse outro homem. Não pode dirigir alguém com essa classe de poder. - disse Hannah. -Sentiu a eletricidade acumulando-se no ar com esse pequeno empurrão que enviou a Joley? Realmente queimou a mão dela e ainda assim, só lhe roçando a palma com o polegar fez desaparecer a dor. -Joley estava furiosa. Nunca a tinha visto assim- disse Sarah. -Realmente temi que iniciasse algum tipo de batalha com ele ali mesmo. -Você tem um montão de conexões. Pode averiguar algo dele? -Se conseguirmos seu nome, começarei a perguntar. Hannah assentiu e jogou uma olhada para as escadas. A água da ducha tinha parado mas Abigail estaria acima uns minutos mais. -Estou preocupada com Abbey. Foi realmente infeliz durante anos e com o Aleksander voltando para sua vida está mais transtornada que nunca. Sua solução é sempre desaparecer. Parte a outro lugar do mundo a investigar e assim não tem que relacionar-se conosco absolutamente. Simplesmente se retira. Sarah estudou as sombras nos olhos de Hannah. - Está realmente preocupada, verdade? -Não está você?- rebateu Hannah. Sarah assentiu, seus ombros se encurvaram um pouco. -A verdade é que estive temendo por Abbey. Esperava que só fosse uma paranóia. Mas deixa você se aproximar mais que a qualquer uma de nós. Não a perca, Hannah. Sei que é uma carga para você por que é muito empática e ela


155 está muito preocupada, mas tem que se pendurar nela até que possamos averiguar como trazer ela de volta a nós. - Sarah lançou um olhar para a escada, logo forçou um sorriso.- E como está você? O que está fazendo? Como foram as fotos na África? -O fotógrafo era um gênio. Eu gostaria de trabalhar com ele outra vez. Desfruto viajando e a África é muito formosa. Contratei um guia e fiquei três semanas só para tratar de conhecer o máximo possível. Nem sequer posso começar a contar para você a emoção que senti em meio a selva. -Seus olhos cintilavam. -Foi como sentir-se livre. O estranho foi que não tive nem um só ataque de pânico na selva, só estávamos o guia e eu. Não gaguejei. Realmente pude conversar com ele. Principalmente só escutava. Tinha histórias tão maravilhosas para me contar. -Me alegro muito por você, Hannah. - disse Sarah. -Perguntava-me por que não recebemos nada negativo de sua parte. Hannah serviu uma xícara de chá, acrescentou leite e ofereceu a Sarah antes de servir uma segunda xícara. -Sei que deve ser uma carga para todos ter que me ajudar quando estou trabalhando. É exaustivo para todas a tão longa distância. - girou-se com uma sincronização perfeita e ofereceu o chá a Abigail quando ela entrou vestida com elegante traje de calça e blusa que era mais feminino do que nada que suas irmãs a tivessem visto vestir. -Genial, Abbey. Espera ter um encontro com o Frank? Abigail fez uma careta. -Melhor não. Isso deixarei para tia Carol. Ela já está lá? -Ajuda a fiscalizar todos os detalhes com os fornecedores e planeja a festa junto com Inez. Querem que seja um enorme êxito. A tia Carol me ordenou que viesse e lhes ajudasse- explicou Sarah. Olhou seu relógio. -Já chegaremos tarde, assim que alguns minutos mais não importarão muito. Não tive oportunidade de perguntar sobre o outro russo, o da magia. Quem é? -Seu nome é Ilya Prakenskii. Criou-se na mesma casa estatal que Aleksander. Perguntei ao Aleksander se recordava algo diferente sobre o Prakenskii e recordou algumas coisas que indicavam que o homem pode ter nascido com os mesmos dons que temos nós. Definitivamente é um perito neles. Tentou me empurrar sutilmente para que dissesse algo que não queria dizer, e quando o notei, desafiei-o a um jogo de verdade ou conseqüência. - Sorriu com satisfação. -Definitivamente não quis jogar. -Crê Aleksander que é perigoso para nós? -Diz que é um homem perigoso, tem reputação de capanga e trabalha para o Sergei Nikitin, que casualmente é cabeça de uma das famílias da máfia russa. Nikitin adora absolutamente a música de Joley e quer ter um encontro com ela. -Ela atrai gente da pior índole. Acredito que necessita um selo na testa que diz, “Se for um psicótico, aproxime-se.” - Sarah suspirou e olhou seu relógio outra vez. -Temos que averiguar tanto como possamos sobre Prakenskii. E todas têm que manter vigiada Joley. Ela mesma pode ser um pouco psicótica se alguém a empurrar muito forte. Deveríamos nos pôr em marcha. Depois de tudo, Frank fez saber à imprensa que Hannah estaria ali.


156 -Não só Hannah. - disse Abigail. -A pobre Joley e Kate também. Deixou cair muitos nomes para atrair uma multidão. Conseguirá, além disso, atraindo as três assim. -Inez está muito orgulhosa dele por isso. Quer que este acontecimento seja um êxito enorme e que os cidadãos lhe apóiem incondicionalmente- disse Sarah. -Ela acredita que nos proporciona cultura. Hannah levantou uma mão em sinal de rendição. -Bem, irei, mas desejaria que Frank não tivesse a tantos de seus famosos coletores de recursos. Parece saber de antemão muito casualmente quando estou de volta no povoado. -É verdade. - disse Abbey. -Homem ardiloso- acrescentou Sarah. -Publicidade grátis para ele. A cidade, geralmente tranqüila e caseira, estava animada com tanta gente. Várias limusines estavam estacionadas ao longo das calçadas e vários modelos de carros caros circulavam pelas ruas. Os jovens se deixavam cair em grupos para admirar os carros mais exóticos enquanto que as jovens tratavam de vislumbrar às celebridades enquanto estas entravam na galeria de arte da moda. Frank Warner tinha passado em Sea Haven uns dez anos e sua galeria era elegante, espaçosa e cheia de interessantes objetos antigos e pinturas. Sarah tinha estado em sua casa uma vez com Inez e dizia que estava cheia de objetos formosos de todo o mundo. Antigas e reverenciadas pinturas estavam guardadas em quartos especiais onde o sol nunca as tocava. A galeria apresentava esculturas contemporâneas também, formas de arte em vários tipos de material, todas agradáveis à vista e que levavam uma etiqueta de alto preço. Só a umas horas de carro de São Francisco, a beleza pitoresca da cidade, seu teatro e sua cultura, tinham atraído a Warner e foi ficando, conseguindo um êxito surpreendente com sua galeria. Freqüentemente exibia algumas de suas próprias pinturas locais, portos e escarpados, grandes paisagens açoitadas pelo vento. As irmãs Drake consideravam que tinha talento, era excêntrico e um pouco covarde, utilizando sua fama, mas não querendo expor-se muito aos estranhos dons mágicos que compartilhavam. Hannah saudou uma multidão de adolescentes e Abigail lançou um breve sorriso, aproximando-se de sua irmã mais nova. Hannah sempre parecia equilibrada e confiante, inclusive um pouco arrogante quando passava ante uma multidão com sua beleza elegante e exótica, mas era dolorosamente tímida e freqüentemente tinha ataques de pânico. Sempre que fazia aparições públicas suas irmãs a ajudavam unindo-se todas para que pudesse falar e respirar sem problemas. Isto drenava a todas, mas estavam tão acostumadas que o faziam automaticamente. -Está muito bonita, Abigail- disse-lhe Sarah enquanto entravam na galeria. -Eu gosto desta roupa em você. E fez algo diferente no cabelo. Hannah se pôs a rir, o som fez que se girassem várias cabeças. -O penteou e não está empapado e jorrando água de mar. -Hey, vá!- protestou Abigail. -Nem sempre estou molhada. Sarah fez um som zombador.


157 -Sim, está. Acredito que viveria no mar se lhe deixássemos. Kate pensa que está se convertendo em sereia. Verdade, Kate?- acrescentou quando Kate se aproximou delas. Kate Drake riu ante a expressão de Abbey -Sabe que é verdade, não se incomode em negá-lo. Caso-me em um par de meses e não contribuiu em muito mais que na escolha de cores ou flores. -Eu que acreditava que um centro de recifes de coral seria bonito como peça central nas mesas- assinalou Abigail. Kate quase cuspiu um sorvo de vinho pelo nariz. Empurrou Abigail, afastando-a. -Vá mesclar se com as pessoas, assim Inez estará feliz conosco. Olhou seu relógio cinqüenta vezes nos últimos dez minutos e está desgostada porque Joley fez um comentário sobre uma das esculturas de deusas de Frank que parece um pouco anoréxica. -Essa é nossa Joley, animando o albergue- disse Sarah. -Vamos, Kate, reparemos o dano. Vocês duas não se metam em problemas. Hannah captou uma olhada de Joley saudando-a entre a multidão e deu uma cotovelada em Abigail. -Aí esta Joley. Faz uma passada rápida e nos abramos passo até ela. Talvez possamos sair antes que Inez nos peça que façamos algo como entregar a alguém nossas cabeças. -Boa idéia-. Abigail foi vagando ao redor da habitação, murmurando saudações às pessoas que conhecia e reconhecendo apresentações rapidamente para proteger Hannah tanto como lhe era possível. -Há muita gente- disse Hannah. -E se houvesse um incêndio? Onde se meteria toda esta gente? -Ali está tia Carol. Joga uma olhada ao homem que tem pendurado em seu braço. -Abigail assinalou grosseiramente mas estava tão impressionada que não se preocupou- -É o velho do Mar. Hannah riu. -Quer dizer Reginald. Está limpo e bem arrumado. A tia Carol faz fotografias como uma louca. Esperemos que consiga uma dele porque se houvesse um momento para a posteridade, seria este. Nunca o vi com nada que não fosse seu “uniforme” e uma cara desalinhada. -É realmente atraente. Abigail sorriu e saudou Frank Warner quando ele, rápida mas muito cortesmente, moveu-se entre a multidão em direção oposta. A diversão pôs um sorriso na cara de Abbey enquanto Hannah assinava outro autógrafo. Em um canto Kate estava assinando um livro que tinha escrito e Joley estampava seu nome ao longo de uma boina de beisebol. -Abbey?- Hannah lhe agarrou a mão com força. -Tenho problemas para respirar aqui. - Sua voz era apenas um sussurro que Abigail quase não pôde ouvir. Imediatamente Abigail passou o braço ao redor da cintura de Hannah. -Tudo irá bem, neném, você está junto de mim. Sabe que todo mundo me tem medo. Especialmente, Sylvia. Está ela aqui?- Queria fazer Hannah rir e teve êxito, embora fosse uma resposta ofegante e breve.


158 -Acredito que tem mais medo de mim - confessou Hannah. -Você nunca lhe fez nada. Abigail riu em voz alta e o som fez girar algumas cabeças na habitação. - Assim que o admite! Deveria se alegrar de que seja eu e não Sarah ou ganharia um sermão. Hannah deu de ombros. -Alguém tem que ser a garota má. Abigail abraçou sua irmã aproximando-a um pouco mais. -Você tem o proverbial coração de ouro, Hannah. Joley é a má. Você é um doce. -Ouça! Eu escutei isso!- Joley apareceu detrás delas, pondo seu braço ao redor de Hannah também e Abigail a guardou pelo outro lado, protegendo-a do impulso da multidão. Infelizmente Joley era uma estrela muito conhecida para cruzar o lugar sem que uma dúzia de pessoas lhe pedissem um autógrafo. -Me alegro muito não ser uma estrela do rock- sussurrou Hannah. Joley fez uma careta. -Eu não sou uma estrela de rock. - Sacudiu sua cabeça e assumiu uma expressão arrogante. Hannah parecia arrogante por natureza mas Joley podia fingi-lo maravilhosamente quando queria. -Eu também quero ir daqui, mas Sarah, Inez e a tia Carol nos arrancarão a pele a tiras se saímos correndo muito cedo. -Tenho uma idéiadisse Abigail. -É realmente, realmente má e provavelmente nos metamos em uma confusão. Querem ouvi-la? -Estou dentro- disse Joley. -Mostra o caminho. Não tenho que ouvi-lo. Abigail abriu o passo entre as pessoas para uma porta com um pôster que punha “Só empregados”. -Chad Kingman trabalha na parte traseira. Lembram-se dele? Joley fez uma careta. -Não estará pensando enviar seu noivo russo contra Chad, verdade? Lembra-se de como era na escola? Era totalmente aborrecível. Hannah estalou de novo em gargalhadas. -Todo mundo era aborrecível na escola, Joley. Todos crescemos, inclusive Chad. -Bem, a safada não pode dormir com um e ir-se correndo para estar com o outro -Sei que não está me chamando de safada, não é Joley? - Abigail a fulminou com o olhar. -Não tem nem idéia se dormi ou não com o Aleksander. Joley sorriu abertamente. -Hannah me disse que levava postas a calcinha vermelha. Tinha toda a intenção de se deitar com esse homem e passou fora toda a noite. Não necessito confirmação de que é uma safada. Sei! Abigail tratou de aparentar inocência mas o rubor subiu sigilosamente por seu pescoço para suas bochechas e suas irmãs riram bobamente como colegiais. -Bem, bom, talvez o fiz. - concedeu Abigail. -Mas não vou para me encontrar com Chad Kingman, por amor de Deus. Ele nunca falaria comigo nem que eu pensasse que fosse atraente, o que não acho. Houve aquele pequeno incidente em uma festa quando era novato na escola secundária. Muito mau. Nunca fui sua pessoa favorita após.


159 Jogou uma olhada ao redor, abriu a porta de um empurrão, e fez gestos a suas irmãs para que passassem. A parte de trás era triste e sombria. Haviam caixas desordenadas no chão e nas mesas. Esculturas de diversos tamanhos cobriam a habitação. -É um pouco horripilante- disse Hannah. -Que estamos fazendo?- disse Joley. -Embora, isto não está mau. Ao menos não temos que sorrir ao Frank e lhe ver flertar com Tia Carol. Ela está provocando deliberadamente a esse homem para poder espiar para o Jonas. -Tia Carol adora o drama. E não lhe faz mal ter a dois homens pendentes de cada uma de suas palavras. - disse Hannah. -Não sei como o faz. Uma vez consegui estar perto dela para ver se posso sentir a labareda de magia quando está flertando, mas não posso. É realmente seu sex appeal. Faz sentir muito bem a todo mundo. -Ela ilumina o mundo- disse Joley. -Abigail, deveria se aproximar furtivamente de retorno à mesa do bufê e nos conseguir comida e algo de beber para que possamos montar nossa própria festa aqui mesmo. -Não estamos de festa, estamos espiando. Hannah a agarrou pelo braço excitada. -Espiando?- Baixou a voz e olhou ao redor. -Necessitamos a câmara de Tia Carol. -Bem, vocês duas esperem aqui e eu conseguirei a câmara e um pouco de comida. - Abigail escapuliu pela porta outra vez e se uniu à multidão vagando pela galeria. Carol estava em um canto rindo com Reginald Mares. Abigail agarrou um prato, encheu-o de comida e abriu passo até sua tia. -Olá, Senhor Mar- saudou. -Está absolutamente maravilhoso. Carol passou a mão de acima a abaixo pelo braço de Reginald. -Não é atraente?- Comentou para o homem, seus olhos brilhavam e seu sorriso era genuíno. O velho Mar estreitou a mão de Abigail cortesmente e lhe dirigiu um sorriso encantador. Só tinha olhos para sua tia. -Me alegro em vê-la, Abbey. -Espero que os dois estejam passando um bom momento. Tia Carol, importaria em me emprestar a câmara uns minutos? Joley quer algumas fotos para seu álbum. -Bom, querida, é obvio. - Carol tirou a câmara e a ofereceu a Abigail. -Mas tomei várias fotos de todas vocês enquanto passeavam pela sala. Quer que te mostre como utilizá-la? -Sou boa nisso, obrigada. - Abigail tratou de mostrar-se tão inocente como lhe era possível. O sorriso se desvanecia lentamente na cara de sua tia e esse era um mau sinal. –Divirtam-se!- Ela apressou a afastar-se antes que Carol pudesse obter uma boa "leitura" dela. -O que nos traz de comer?- saudou Joley quando Abigail passou através da porta. -Morro de fome. -Como pode estar morta de fome? Esteve todo o tempo pendurada na mesa do bufê. - objetou Abigail. -Trouxe a câmara. A comida é simplesmente uma cobertura no caso de alguém estar observando


160 -Então bem podemos comer isso. - disse Joley. - É simplesmente prático. Hannah pôs os olhos em branco, mas agarrou uma azeitona negra. -O que estamos procurando, Abbey? -Ouça garota, comeu minha azeitona!- Joley golpeou a mão de sua irmã. Coma os pepinos japoneses. Esses eu odeio. -Algo que poderia ser um objeto russo. O pacote talvez pudesse ter vindo da Rússia. Algo que possa indicar algo ilegal que tenha chegado até aqui. Joley estava diante da estátua nua de um homem, girou a cabeça daqui para lá estudando seus pequenos dotes. -Patético se me pergunta isso. Sério, esta coisa deveria ser ilegal. Onde diabos o poria? No jardim? Abigail a arrastou longe da estátua. -É uma pervertida, Joley. Só você encontraria ao único homem nu da habitação. Joley ficou atrás. -Acredito que estou apaixonada. Bom, quase. Necessitarei que Frank lhe faça um pequeno acerto. Pode imaginar a cara do Frank se lhe pedir que aumente as proporções?- Estalou os dedos. -Me dê a câmara. Abigail intercambiou a câmara pelo prato de comida. -O que encontrou? -Vou dar a Tia Carol uma vista antecipada do que poderia ser sua vida se escolher ao homem equivocado. - Joley começou a tirar fotos da estátua. -Nunca se sabe, Frank pode haver utilizado a si mesmo como modelo, em cujo caso Tia Carol deveria escolher definitivamente ao velho Mar, tão doce como é, em troca. -Joley!- Abigail tratou de soar severa. -Este é assunto muito sério. Aleksander diz que um carregamento de arte roubada procedente da Rússia foi entregue de um cargueiro a um navio de pesca. Teve que ir a alguma parte e o nome de Frank surgiu um par de vezes. Chad trabalha aqui carregando e descarregando pacotes que se enviam a outros lugares. Joley andou ao redor de duas caixas de madeira abertas no chão, olhando com atenção para ver o que continham. -Não consigo nenhum respeito- queixou-se. -Estou aprendendo a ser uma perita em arte. Sabe quantas vezes algum homem me perguntou se queria ver suas gravuras? Hannah reprimiu a risada com sua mão. -Vai fazer que me engasgue. -Não se engasgaria se não tivesse roubado minhas azeitonas, docinho. Joley espiou embaixo da mesa. -Há muitos objetos aqui, Abbey. Alguns têm sinais de terem sido molhados. Se estão trazendo coisas de um navio ao outro, provavelmente estariam úmidas, não? Abigail rodeou apressadamente várias caixas para olhar sob a mesa. -Inclusive se encontrarmos provas, como vamos saber quem é o responsável, ou seja, se é Chad ou Frank ou se ambos estão envoltos? -agachouse para conseguir aproximar-se mais do papel. -Isto definitivamente tem marcas de ter estado molhado, mas é só um envoltório marrom. - Tomou uma foto de todos os modos, fazendo zoom sobre a mancha. -Provavelmente isto é uma


161 absoluta perda de tempo, mas conseguiu que nos escapulamos da festa durante um momento. -Não nos trouxeste nada de beber- queixou-se Joley. -Olhar obras de arte que não são o bastante boas para estar em exposição é um trabalho duro. Abigail virou e a olhou. -Por que não está tudo isto na exposição? Está preparado para ser enviado? Comprou-o alguém já? Frank deve havê-lo ordenado, correto? -Talvez alguém lhe encomendou a venda destas coisas. -Abbey- disse Hannah -se aproxime. Isto está diferente. Abigail cruzou imediatamente a habitação. Não era nem de perto tão sensível como Hannah às mudanças, mas inclusive ela sentia a estranha alteração que rodeava um pequeno canto do lugar. Seu coração começou a acelerar-se e a boca ficou seca. -O que acredita que é? -Não pode senti-lo? Violência. Não morte, mas definitivamente violência. Hannah registrou o chão e as paredes, tomando cuidado com sua roupa. -Olhe ao redor e veja se pode notar algo que indique uma briga recente. Tem que ser muito recente para ser tão forte. Joley se colocou junto à Hannah. -Nas últimas duas horas. - Tremeu. -Foi definitivamente uma briga física de alguma classe. Alguma das duas se fixou nos nódulos de Frank? -Frank está no fim dos cinqüenta anos. Não posso imaginá-lo em uma briga a murros uma hora antes que a imprensa e uma habitação cheia de gente e celebridades apareçam- disse Abigail. -Simplesmente não é desse tipo. -Chad. - disse Joley. -Na escola, qualquer briga ele arrumava com os punhos. Abigail se agachou para examinar o chão. -Há sangue aqui. Pequenas manchas. Umas quantas nas pernas da mesa. Passou a mão sobre o chão, "sentindo" os restos de um encontro violento-. -Há sangue até nas gavetas. –Abriu uma e contemplou as quatro pinturas que havia dentro. Estavam empilhadas para cima, as assinaturas de cara a ela. -Hannah, olhe estes. Hannah, utilizando dois dos guardanapos que Abigail havia trazido do bufê, tirou cuidadosamente uma das pinturas do lugar onde estavam. -Isto não é uma falsificação, Abbey. São autênticas. Não sei muito de arte, mas posso sentir a idade do tecido. Você o que acha, Joley? Joley sustentou mão a centímetros do tecido. -Acredito que Frank Warner é um porco de primeiro grau e será melhor que não ponha suas ávidas garras sobre minha tia. -Ainda poderia ser Chad. - Abigail enfocou a câmara e tomou várias fotos, indicando a Hannah que colocasse o seguinte. -Mostrarei estas ao Aleksander e veremos se foram roubadas. -Não há forma de saber se estas pinturas não pertencem a um museu em alguma parte - disse Joley. -E seria difícil acreditar que Chad tenha o cérebro suficiente par vender pinturas quentes procedentes de outros países. -Além disso bebe- assinalou Hannah enquanto sujeitava o terceiro tecido. Fala de tudo e nada quando está bebendo. Não colocaria a pata e se gabaria?


162 -Deve fazer muito dinheiro se realmente isto for coisa dele- disse Abigail enquanto fotografava a última pintura. -Sabem que carro conduz ou se tem casa própria? -Eu ouvi que é jogador- Hannah devolveu a última pintura a seu lugar e fechou a porta da despensa. -Inez o mencionou um par de vezes. Uma vez disse que se não tomava cuidado ia conseguir que lhe rompessem as pernas -E o que há a respeito do Frank?- Abigail voltou a riscar seus passos para a porta. É jogador? O que ouviu sobre ele? -Estranhamente, não muito. Parece levar uma vida tranqüila- disse Hannah. -Gosta do teatro e é muito solidário com a comunidade. Não sei, simplesmente não parece o tipo que faria algo ilegal como isto. Joley agarrou Abigail antes que esta pudesse abrir a porta. -Vem alguém- sussurrou. -Às pressas, temos que nos esconder. Abigail não questionou a decisão mas sim mergulhou depois de uma fonte de arte moderna que havia sido colocada a um canto escuro. Hannah se meteu sob uma mesa rodeada por uma fortaleza de caixas e Joley se escorreu em um pequeno lugar detrás de uma das estátuas maiores. A porta se abriu e Sylvia Fredrickson se arrastou até o centro do lugar, puxando a mão de um homem. Aleksander Volstov a seguiu, fechando a porta atrás dele. -Às pressas- disse Sylvia. -Sei que achará isto muito interessante. Meu amigo Chad trabalha aqui e lhe visitei dúzias de vezes. - Seus olhos se lançaram ao redor do quarto, procurando nos cantos. Deu um pequeno suspiro de decepção e colocou um sorriso coquete em sua cara. -Está segura de que podemos estar aqui dentro? Abigail tragou com força enquanto observava Sylvia arrastar Aleksander ao centro da habitação. Aleksander parecia educado e interessado, mas não havia dúvida de que não queria que a mulher o acariciasse intimamente. Sua aura mantinha a si mesmo longe da Sylvia, retirando-se cada vez que ela se aproximava. A muito descarada mantinha um forte apertão sobre sua mão e batia as pestanas para ele. O olhar de Aleksander era inquieto, tomava nota dos detalhes da habitação, procurando cada segredo em cada canto escuro. Abigail o conhecia o suficientemente bem para saber que estava alerta e inquieto. Duas vezes olhou para a fonte onde ela se escondia, tentando não respirar. -Não é grande coisa. - Sylvia se girou para Aleksander. -Disse te mostraria algo assombroso. - Suas mãos foram aos botões de sua blusa. -Você disse arte. - Ele a deteve colocando sua mão sobre a dela. -Eu sou uma obra de arte- respondeu ela, com um sorriso sedutor. Abigail conteve a respiração, tinha um nó no estômago devido à terrível cólera. Olhou para suas irmãs. Precisava sair, afastar-se rapidamente antes que seu crescente ódio se convertesse em algo que não pudesse controlar. Aleksander rodeou Sylvia para rastrear ao redor da habitação. Abigail podia ver que se sentia atraído pelo canto onde tinha encontrado o sangue. Ele ficou de cócoras, como tinha feito ela e examinou o chão. -Acredito que não deveríamos estar aqui- objetou ele outra vez. Sylvia havia tornado a desabotoar a blusa.


163 -Não seja tolo. Não nos pegarão. Todo mundo está ocupado pedindo autógrafos a nossas celebridades locais. - Havia uma amargura em sua voz. Hannah elevou as mãos e uma brisa levantou pó através da habitação. Sylvia imediatamente começou a espirrar, um violento ataque que não se detinha. Aleksander se viu forçado a lhe fechar os botões da blusa e guiá-la fora da habitação. Quando atravessou a porta, olhou de volta para a fonte.


164 Capítulo – 14 Joley e Hannah saíram às escondidas de seus esconderijos, ambas tentando não rir. Apressaram-se para Abigail e a tiraram a força detrás da fonte. Joley jogou outra azeitona negra em sua boca. -Acreditava que fossem nos apanhar. Ou pior, que Sylvia ia despir-se diante de nossos próprios narizes. Hannah esfregou a mão para baixo pelo braço de Abigail em um esforço por apaziguá-la. -Aleksander não parecia muito interessado em seu "trabalho artístico". Eu diria que definitivamente ela vem com o Chad aqui. Abigail olhou ao redor da habitação, qualquer lugar para evitar olhar a suas irmãs. Estava furiosa. Furiosa. Ela não teria feito voar pó. Hannah tinha sido amável. Seu gênio se agitava em seu estômago e teria podido tirar as garras, poderia ter considerado rastelar a cara da Sylvia. -A próxima vez que ponha uma mão sobre ele, vai se encontrar a si mesma em uma fossa em alguma parte sentindo-se muito miserável. Suas irmãs intercambiaram um pequeno olhar de alarme. -Provavelmente viu você com ele a outra noite- disse Joley. -Já conhece a Sylvia, tomaria vingança seduzindo seu homem. Saiamos daqui enquanto possamos. - apressou-se a atravessar a soleira, movendo-se a um lado para permitir que Hannah e Abigail passassem. A multidão parecia ter crescido em número. Estavam apertados dentro do local. Abigail tratou de aspirar ar em seus repentinamente ardentes pulmões. Sylvia podia ter tratado de seduzir Aleksander, mas ele não tinha estado interessado. Então, por que tinha entrado com ela lá atrás? Estava utilizando a Sylvia tão certamente como Sylvia o estava utilizando. E isso o que significava? Ela sabia até onde chegaria Aleksander para solucionar um caso. Incluía isso a sedução? O pensamento se arrastou até sua mente. Apertando como um nó corrediço ao redor de seu coração. Deitaria se com outra mulher em que não tivesse o menor interesse? Ele tinha permitido que Abigail fosse interrogada, encarcerada e deportada para manter sua posição como detetive. Se Sylvia pudesse lhe proporcionar informação sobre Chad Kingman e o único modo que a compartilhasse fosse que ele cooperasse sexualmente, o faria? Abigail elevou a vista e seu olhar colidiu com um par de olhos escuros, quase cor meia-noite. Aleksander e Sylvia estavam a tão só um passo de distância. O bastante perto para alargar o braço e tocar-se. O coração de Abigail quase se deteve, depois começou a palpitar. Por um momento não pôde respirar, não pôde pensar, até sua visão se rabiscou. Disse a si mesma que ele não se deitaria com outra mulher para obter informação, mas a mão de Sylvia estava colocada possessivamente ao redor de seu braço. E o que não faria ele para resolver seus casos? Hannah virou a cabeça e olhou Abigail. O sorriso se desvaneceu do rosto de Joley. Não havia forma de evitar a conexão que saltava de uma irmã Drake a


165 seguinte. A emoção era muito forte e inclusive através da habitação, Sarah e Kate ficaram em alerta, virando-se para ver o que tinha causado a perturbação. O olhar fixo de Aleksander sustentou o de Abbey, obrigando-a a manter o olhar fixo nele, cativa, embora necessitasse desesperadamente apartar a vista, recuperar a compostura. Havia um estranho rugido em sua cabeça. -Olá, Sylvia- disse Joley -Como está? Sylvia esclareceu voz. -Olá, Joley, Hannah, Abigail. - Sua voz se esticou quando pronunciou o nome de Abigail. Abigail lhe jogou uma olhada, mas voltou a olhar essa face familiar. Esses olhos familiares. Sentia que o coração se comprimia. Seu estômago se contraiu e sentiu um murro, um autêntico murro físico no estômago. A dor a atravessou, sacudindo-a, salpicando fora dela para alagar a habitação e encher cada espaço. As risadas cessaram quando a intensidade de suas emoções golpearam ao resto dos ocupantes do lugar. -Abbey- sussurrou-lhe Joley em advertência, seus dedos apertavam profundamente a cintura de Abigail. Sarah chegou, flanqueada por Kate. -Que estupendo ver você esta noite, Sylvia- disse Sarah, parecia tranqüila, mas sua expressão, quando olhou Sylvia, era assassina. Tia Carol agarrou a câmara da mão frouxa de Abigail. Abigail tomou fôlego e tratou de recuperar o controle de suas emoções. Sua dor era tão forte, as lembranças de traição, medo e a dor descarnada de quando tinha compreendido que Aleksander tinha vendido seu amor para salvar seu trabalho. Não tinha querido pensar que ele poderia ter matado alguém para tirála da Rússia, mas sabia que era capaz de qualquer coisa quando sentia que tinha justificativa. O ver com Sylvia e compreender que muito bem a poderia trair de outras formas esmagou sua frágil esperança de poder fazer com que as coisas funcionassem. Eram muito diferentes. Muito diferentes. As mãos de Hannah se moveram elegantemente e a habitação se limpou de tudo exceto da risada e da alegria. -Abbey- murmurou Aleksandr, reconhecendo a dor em seus olhos. Estendeu a mão para ela. Ela deixou escapar um pequeno som, muito parecido ao de um animal ferido e retrocedeu, evitando o contato de modo que a mão dele caiu ao flanco. Seus traços se endureceram perceptivelmente e um músculo se contraiu em sua mandíbula. Seus olhos se voltaram duros e frios como o gelo. -Vamos a algum lugar e falemos- sugeriu e se aproximou mais a ela. Abigail sentiu o calor do corpo dele através de suas roupas. Deu outro passo atrás, odiando-se por ser tão covarde. Ardia-lhe a mão pela vontade de esbofetear sua cara, mas na realidade era consigo mesma que estava revoltada. Aleksander não podia evitar ser quem e o que era, mas ela era mais esperta que isso. Aleksander se moveu de novo e esta vez foi um claro ato de agressão. Kate deu um passo adiante de Abbey, cortando o acesso a ela. -Vou vomitar- sussurrou Abbey para Hannah, sua voz foi tão baixa que resultou quase inaudível, ou possivelmente foi através da conexão telepática que


166 as irmãs compartilhavam. -Me tire daqui. - Tinha sido tão incrivelmente estúpida, acreditando que poderia viver com o estilo de vida do Aleksander. Ele não tinha remorsos por fazer coisas que ela acreditava totalmente equivocadas. Para ele, o fim justificava os meios. Hannah e Joley se viraram imediatamente e a defenderam com seus corpos enquanto se apressavam a sair da habitação. Aleksander deu um passo para segui-las, ignorando o puxão que Sylvia deu em seu braço. Sarah se plantou tranqüilamente em seu caminho, ombro com ombro junto com Kate, fazendo que se visse obrigado a deter-se. Sorriu-lhe, mas seus olhos eram duros e frios enquanto olhava Sylvia. -Ouvi que esta visitando Lucinda Parker no Point Areia, Sylvia. - Manteve a voz alegre, um tom cortês, mas não havia nada de amistoso em seu olhar firme. Sylvia ficou pálida e retrocedeu ante Sarah. Sarah manteve o sorriso. -Deveria ter muito cuidado experimentando com forças que não entende, Sylvia. Pode sair o tiro pela culatra e então estaria em autêntica confusão. O fôlego de Sylvia escapou em um vaio e sua mão se elevou até a bochecha. -Não estou fazendo nada, seriamente, Sarah. Só queria me desfazer desta erupção que tenho às vezes. - Jogou uma olhada a Aleksander, mas ele olhava fixamente para Abigail. -Tenho que me desfazer dela. Não posso suportá-la mais. -Então faz o correto. - Sarah girou sobre seus pés, subitamente consciente da mão de Kate sobre seu cotovelo. Sacudiu sua cabeça e se afastou. -Estava a ameaçando- disse Kate, emocionada. -Nunca fez isso em sua vida. -Estava advertindo. Há uma grande diferença. - As feições suaves de Sarah se endureceram perceptivelmente. -Sentiu a dor de Abbey? Aterroriza-me. Sylvia faria bem em não recorrer à magia negra. Não tem forma de compreender o que pode ocorrer. Se fizer mal a Abbey de algum jeito, me vingarei. Havia um tom sinistro em sua voz que Kate nunca antes tinha escutado. Sarah era sempre a prática e sensata. -Sylvia esteve visitando a rainha da magia negra?- Perguntou-lhe. -Lucinda é uma fraude. Todo mundo sabe. O inventa tudo e mescla todas as práticas. Não é real. -Sim, mas pode revolver coisas que é melhor deixar em paz. Só Deus sabe o que disse a Sylvia. Pode ter uma boneca vodu que seja supostamente Abbey. -Sarah! Espera!- Sylvia se apressou através da multidão e agarrou o braço de Sarah. Quando o olhar de Sarah colidiu com a seu se deteve. -Sei que pode ver coisas com antecipação. Está me dizendo que me vai ocorrer algo? O que quer dizer? Sarah olhou sobre ela a Aleksander, que as tinha seguido. Por um momento se imobilizou, tudo em seu interior se rebelava ante a presença dele com a Sylvia. Sua aura sempre se fundia com a de Abigail quando ela estava perto dele. Tudo o que tinha aprendido sobre seu dom, sobre seu ofício, dizia-lhe que o lugar deste homem estava com Abigail. Parecia obsceno que estivesse com Sylvia. Sarah poderia sentir a relutância de Aleksander a ter contato físico com a Sylvia. Agora mesmo uma aura de perigo lhe rodeava e duas vezes trocou


167 sutilmente posição para evitar que Sylvia se pendurasse dele. Sarah moveu o olhar de seus traços duros até Silvia. Sylvia desejava atenção, a atenção de qualquer homem. Necessitava-a para sentir-se bem consigo mesma. Se pudesse levar o homem de Abigail estaria eufórica. O poder se aferrava a Aleksander. Estava em seus largos ombros e nos definidos músculos de seus braços, na amplitude de seu peito e na fluída forma em que se movia. Sarah tinha passado grande parte de sua vida tanto como atleta como guarda-costas e reconhecia a um homem perigoso inclusive sem suas capacidades aguçadas. Sylvia só via seu atraente tipo rude. Seu forte sex appeal. Nunca veria nada mais além disso. -Tome cuidado Sylvia- aconselhou-lhe. -Reconhece a seus verdadeiros amigos. - partiu dando meia volta para seguir Kate fora da galeria. -O que quer dizer isso?- gemeu Sylvia. -Não entendo. Sarah. Tem que me dizer o que significa. - Foi atrás de Kate e Sarah, saindo a tempo para ver a cara pálida de Abigail iluminada enquanto Joley levava o carro à estrada. Aleksander amaldiçoou quando o carro passou por diante deles. -Nos conte- disse Hannah. -Que aconteceu, Abbey? Abigail se balançava para frente e para trás, enrodilhada longe de suas irmãs no assento traseiro, sua face estava voltada para o mar com seus ondeantes cheiros. O rugido em seus ouvidos parecia mais forte. Como podia explicá-lo? O que podia dizer? Que era tão fraca que amava a um homem com quem sabia que não poderia viver? Soava tão patético. Quando havia se tornado patética? E por que estavam suas emoções tão amplificadas, tão fora de controle? Havia sentido uma dor mil vezes pior do que recordava haver sentido alguma vez. -Abbey?- Hannah foi tão amável como era possível. -Pára o carro. Às pressas. Vou vomitar- disse Abbey com desespero. Joley freou de repente, dirigindo o carro para o estreito acostamento da estrada do escarpado. Antes que o carro se detivesse completamente, Abigail saiu de um salto, inclinando-se enquanto seu estômago protestava. Odiava vomitar, sempre resistia a isso, mas nada podia deter a reação de seu corpo à dor aguda que havia sentido ao reconhecer essa familiar veia desumana no Aleksander. Não havia lugar para alguém como ela em sua vida. Ele necessitava de uma mulher que ficasse em segundo plano, um posto por detrás de seu trabalho e sua necessidade de êxito em algo que estivesse fazendo. Alguém que nunca lhe interrogasse muito atentamente sobre seus métodos de investigação. Hannah lhe ofereceu um lenço e Abbey limpou a boca enquanto baixava a vista para as ondas que se chocavam contra as rochas abaixo dela. O coração lhe doía tanto que pressionou a mão com força contra o peito para aliviar a dor. Mais à frente do fluxo, vários golfinhos saltaram no ar, virando antes de voltar a mergulhar-se no mar. Uma baleia apareceu com sua cabeça por cima da água, como se estivesse procurando por ela. Ouviu a música das criaturas marinhas levada até ela pelo vento. Chamando-a. Aliviando a dor de seu coração. -Abbey!- Joley a agarrou pela cintura e a puxou para afastá-la da beirada do escarpado. -O que está fazendo?- Havia alarme em sua voz. Abigail piscou para enfocá-la. -Estão me chamando.


168 -Não me importa o que estão fazendo. Vamos para casa. Não é possível que pense que Aleksander estava no mais mínimo interessado em Sylvia Fredrickson, verdade?- Joley estava horrorizada ante a idéia. -Não podia suportar que lhe tocasse. Teve que senti-lo. -É obvio que o fiz. - Abigail massageou as palpitantes têmporas. -Sylvia tocou em você? Poderia ter conseguido um cabelo ou algo pessoal seu?- Joley guiou Abigail à parte posterior do carro. Hannah manteve a porta aberta. -Recebeu algo estranho pelo correio? Abigail se deslizou na calidez do assento traseiro. -Acreditam que Sylvia me fez alguma classe de feitiço? -Quase se atirou pelo escarpado, Abbey. - disse Joley, girando o volante para levar o carro de volta à estrada. -Isso não é normal. Abigail baixou o olhar a suas mãos. Estavam tremendo. -Sylvia não tem a virtude de desestabilizar minha vida absolutamente. Ela não tem nada que ver com isto. -Será melhor que não- disse Hannah. -Tratou de nos fazer a vida impossível na escola. Seria próprio dela tentar seduzir a um homem no que pensasse que alguma de nós estivesse interessada. Juro-o, acreditava que estava tentando voltar com seu marido. -Eu tinha a esperança de que tentasse voltar com ele- disse Abigail, lutando por controlar suas emoções. Era injusto para suas irmãs que não controlasse seus sentimentos. -Sinto muito. Não posso imaginar o que Sarah e Kate estarão pensando. -Libby está em casa e quero que faça uma cura psíquica em você - disse Hannah firmemente. -Tem que deixá-la fazer. A dor está piorando, não melhorando. -Poderia ter caído pelo escarpado- assinalou Joley. Hannah e Joley olharam uma à outra. -Prakenskii- soltaram simultaneamente. -Será?- perguntou Joley. Abigail deu de ombros. -Sinto-me tão estúpida. Estava vendo Aleksander com a Sylvia e compreendi que ele poderia muito bem deitar-se com ela, não porque se sentisse atraído ou tivesse o impulso, mas sim porque pode ter o suficiente sangue-frio para utilizar qualquer meio que crê necessário para confrontar sua investigação. Eu fui a responsável pela morte de um homem, ou ao menos desempenhei um papel importante na tragédia de sua morte, enquanto estava na Rússia. Todo este tempo, perguntei-me se Aleksander poderia ter matado alguém, talvez a mais que um homem, para me tirar da Rússia. Não podia enfrentar isso. Quis fingir que ele nunca faria tal coisa. E não quis me sentir responsável por mais mortes. Mas poderia havê-lo feito. Poderia ter feito algo assim se acreditou que não havia outro caminho. -Abigail, isso não sabe - protestou Hannah. Ela secou as lágrimas da cara. -Mas o fez. Sei que o fez. Pode ser absolutamente desumano. E se isso era o que fazia falta para me tirar da Rússia, o teria feito. No momento em que vi a


169 verdade e tive que admitir o que ele fez por mim, compreendi que o amava tanto ou mais do que lhe amava faz quatro anos. Nunca vou deixar de fazê-lo e não posso viver com ele. - cobriu-se a cara. -Não posso viver com ele. - Levantou a cabeça para olhar a suas irmãs com olhos enfeitiçados. -E não sei se posso viver sem ele. Hannah retorceu as mãos. -Teve que ser Prakenskii. Quem mais teria o poder de amplificar suas emoções até chegar a semelhante estado? -Abigail sempre sente as coisas amplificadas- disse Joley. -Embora eu gostaria de me encontrar com Prakenskii uma vez mais sem todo mundo ao redor. Chegaram a casa e estacionaram. Na entrada da casa encontraram Libby que as esperava, pressionando-se com uma mão o estômago. -Acredito que ela está sentindo a dor dos dois - disse Libby a Hannah - a do Aleksander é igual a sua própria. Pergunto-me se ele o sente também. -Suas auras se mesclam - disse Hannah. -Notei. - Joley olhou para a entrada do passeio. -Acredito que aparecerá por aqui muito em breve. Não é o tipo de homem que deixe sua mulher afastar-se assim dele. - Entrecerrou o olhar enquanto olhava em ambas as direções. -Ainda acredito que Prakenskii tem algo que ver com isto. -Acredito que reconheceríamos seus rastros de magia. - Hannah era prática. Entregou Abigail a Libby. -Formemos o círculo e estejamos prontas para quando as demais voltem para casa. -Eu gostaria de igualar minha magia com a desse homem. - Joley esfregou a palma de cima abaixo pela calça, franzindo o cenho para suas irmãs. -Juraria que ainda lhe sinto me tocando. Hannah a olhou agudamente. -Não nos contou isso. Deveria havê-lo dito imediatamente, Joley. Prakenskii é uma incógnita total. Temos que ter muito cuidado até que saibamos exatamente a que nos enfrentamos. Abigail estava sentada no chão em meio à sala de estar enquanto suas irmãs desenhavam um círculo de amparo ao redor dela utilizando fortificações de madeira. Descansava a bochecha sobre seus joelhos encolhidos, sentindo-se esgotada e derrotada. -Hannah, não andávamos procurando magia na festa. Procurávamos provas de contrabando. Teríamos reconhecido a magia de Prakenskii? Exceto por quando devolveu a magia de Joley aquela noite na estalagem, seu poder foi muito sutil. Não estou segura se saberia se estava sendo influenciada... saberia você? Exceto que minha reação ao ver Sylvia com o Aleksander é muito antinatural. -Honestamente não sei- admitiu Hannah. -Está fora de meu campo de experiência. Além das tias, mamãe e a avó, nunca conheci ninguém mais que utilizasse a magia, e certamente nunca dirigida contra nós. -E se ele estivesse contra nós?- disse Libby, -Acredito que a pergunta seria por quê? O que estamos fazendo nós que interfere no que está fazendo ele? Fez-se um brusco silêncio repentino enquanto todas elas se olhavam umas às outras, tratando de achar uma resposta. Sarah e Kate atravessaram a porta, seguidas por sua tia e Aleksander Volstov.


170 Ele entrou andando sem titubear e ignorou as advertências dos círculos e o amparo e foi diretamente a Abigail. As irmãs compartilharam um longo olhar quando ele simplesmente passou por cima das fortificações de madeira do chão e nada ocorreu. -O que aconteceu, baushki-bau? Senti a dor te golpear e quando olhei seus olhos, golpeou-me. Abigail sacudiu a cabeça, as lágrimas fluíram. -O que está fazendo aqui? Não deveria estar aqui. - Ondeou a mão assinalando as fortificações de madeira colocados formando um círculo. -Isto não te concerne. -Tudo a respeito de você me concerne. Diga-me o que aconteceu. - Quando não obteve resposta, seu olhar percorreu às mulheres da habitação. -Me digam. Havia uma dura autoridade em sua voz. -Não sabemos- respondeu Joley. –Acreditamos que é possível que Prakenskii utilizasse magia para amplificar seus sentimentos de dor e desespero. Uma mescla de desconcerto e cólera cruzou a face dele. -Por que teria sentimentos de dor e desespero? Certamente não acreditaria nem por um momento que me sentia atraído por essa mulher, certo? Ela negou com a cabeça. -Alguém viu Prakenskii na festa?- perguntou Joley. -Sergei Nikitin esteve mais cedo, me seguindo a todos os lados e em geral ficando como um completo asno. -O que queria?- perguntou Sarah. -Ser meu namorado, suponho- disse Joley. -Disse-lhe que não tenho encontros. Não ficou muito contente com isso. -Duvido que esteja acostumado a ser rechaçado por uma mulher- disse Aleksander enquanto se sentava no chão no centro do círculo e puxava Abigail até seu colo. -Eu, entretanto, tenho conhecimento de primeira mão sobre isso de forma regular. Abigail levantou a cabeça e o olhou nos olhos. Ali havia dor. Amor. Uma súplica que provavelmente ele nem sequer se deu conta de estar revelando. Suspirou e se apoiou em seu peito. -Eu não te rechacei. -Esteve me rechaçando durante anos, Abbey- disse ele. -Na realidade- comentou Tia Carol enquanto tocava o círculo protetor, endireitando-o e colocando várias velas em diversos pontos - Prakenskii esteve na galeria antes. Falou com o Frank sobre a assistência do senhor Nikitin à festa e depois acreditei que partiu, mas em troca, entrou na parte de trás. Ele e esse jovem com quem foram à escola, que sempre estava metendo-se em brigas. Devem ter tido uma espécie de discussão. -Por que diz isso, tia Carol?- perguntou Sarah. -Acende essas velas sobre a chaminé, querida- instruiu Carol. -Como se chamava esse menino aborrecível? -Chad. Chad Kingman- disse Kate. -Sim, é obvio, Chad. Sua mãe trabalhava muito duro, mas seu pai era um bêbado habitual. Acreditava que tudo se arrumava com os punhos. Vi o


171 Prakenskii falando com ele. Chad parecia bastante zangado, embora Prakenskii não o parecesse absolutamente. -Tia Carol- repreendeu Sarah -estava lá atrás presenciando isto? -Prometi ao Frank que seria a fotógrafa oficial de sua festa. Como é normal tirei fotos da preparação. Naturalmente incluíram tirar de lá. -Naturalmente. - Kate a olhou fixamente - Deve ter deixados loucos à avó e ao avô, tia Carol. Sabe perfeitamente bem que não deveria ter estado naquele lugar. -Pode procurar todas as desculpas do mundo- somou-se Sarah -mas estava espiando. É muito perigoso para você fazer esse tipo de coisas. Jonas te disse que não o fizesse. A sobrancelha de Aleksander se disparou para cima. Curvou seu mindinho para Sarah. -Tem manchas de resina branca em sua jaqueta e Kate também as tem. Vi esse mesmo pó lá trás onde estava a estátua quebrada. Sarah tirou precipitadamente o pó da jaqueta. Kate fez o mesmo. Hannah, Joley e Abigail intercambiaram um largo olhar de completa e absoluta culpabilidade. Libby estalou em gargalhadas. -Esse lugar deve ser muito popular. A tia Carol, todas vocês e até o Aleksander, todos bisbilhotando. Eu fiquei em casa e li um livro com os pés para cima perdendo toda a diversão. -Trouxemos fotos da casa- consolou-a Joley. -Tia Carol, crê que Prakenskii e Chad brigaram a murros? Encontramos sangue em um canto e uma zona onde se percebia violência. -OH, houve uma rixa terrível. Chad rompeu uma estátua na cabeça do Prakenskii. Acredito que tinha intenção de lhe matar. Tiveram um intercâmbio de palavras, que não pude ouvir. Eu estava no pequeno armário perto da porta que leva ao beco por aonde chegam os caminhões de partilha. Prakenskii logo que parecia mover-se, mas acabou com o Chad. Se não tivesse visto Chad lhe atacar primeiro, teria sentido lástima por ele. -O que aconteceu ao Chad? Carol suspirou. -Acreditava que poderia tirar uma foto da briga, mas devo ter me chocado contra uma porta porque fez barulho. Prakenskii não olhou para mim, mas agarrou Chad com uma dessas chaves de polícia e o obrigou a sair pela porta traseira. Decidi que era melhor não segui-los e lhes permitir continuar sua discussão em privado. Joley estalou em gargalhadas. -Poderíamos ter tido uma convenção familiar Drake na traseira da galeria. O que diz isso de nós? -Diz que são todas parvas e dá o que pensar- disse Aleksander. -Bom, você também estava ali- disse Joley. -E nós quase tivemos que tratar com a traumática, para sempre estampada em nossa memória, visão dessas que se leva a tumba da Sylvia despindo seus seios, muito obrigada. -Antes que façamos outra coisa, quero levar a cabo uma cerimônia de cura para Abigail e bem podemos ver também se ajuda Aleksander- disse Libby, lhe


172 imobilizando com o olhar. -Não foi convidado, mas parece que não tem planos de partir logo. Aleksander observou com interesse como Libby desembrulhava várias formosas pedras e as colocava cuidadosamente dentro do círculo. As pedras eram arredondadas e de um vermelho sangue. -Esses não são rubis autênticos, verdade?- Perguntou ele. Carol assentiu. -Estiveram em nossa família durante gerações e os usamos quando é necessário os elementos de terra, ar, fogo, e água. O rubi é uma pedra forte e pode servir para amparo assim como também para a cura. Este é um rubi estrelado e particularmente poderoso. Utilizaremos um segundo rubi fora do círculo colocado junto a uma vela vermelha para acrescentar nossa energia a cura. Aleksandr sacudiu a cabeça. -Não posso imaginar Prakenskii fazendo algo disto. Carol lhe lançou um olhar recriminatório. -Se for desacreditar de nossas práticas, jovem, agora é bom momento para partir. -Sinto muito, não queria dizer isso. É só que Prakenskii é um desses homens muito orientados para a ação. Não posso lhe ver tentando manipular energia com cristais e pedras. - Assinalou a pedra na mão de Libby. -Não tinha visto nada como isso antes... o que é? Libby a sustentou no alto. Parecia quase a uma opala de ouro alaranjado, com intensos brilhos de muitas cores quando era sustentada em alto para a luz. -É um tipo muito estranho de pedra de feldspato da Índia, chamam-na pedra solar. Enquanto as irmãs de Abigail e sua tia preparavam a purificação, Aleksander acariciou os cabelos de Abbey para trás e a beijou na nuca. -No que estava pensando? Por que se zangou tanto na festa? -Compreendi coisas a respeito de você. A respeito de mim. Quer realmente discuti-lo agora? -Não quero ver você assim ferida. Dê-me algo com o que trabalhar, Abbey. Não me deixe fora. - Seus lábios subiram pelo pescoço para a orelha. -Se sentir coisas, deve sentir quanto te amo. Se pode ouvir a verdade nas vozes, tem que ouvi-la na minha. - Beijou-lhe o pescoço, seus dentes lhe mordiscavam a pele sedutoramente. -Tem que acreditar só um pouco em mim. Estava sendo muito obstinada aferrando-se a sua dor e a sua cólera, acreditando que ele a tinha traído? Estava tão aterrorizada de viver com seu lado desumano, sabendo o que ele era capaz de fazer, que preferia perder tudo? Era tão covarde que não podia deixar atrás o passado? -O que seria capaz de fazer para resolver um crime, Aleksander? Deitaria com outra mulher para conseguir informação? Iria tão longe?- Sentia a garganta apertada e descarnada pela dor quando perguntou. Seu coração troava com tanta força em seu peito que temeu que pudesse arrebentar. Não podia lhe perguntar se tinha matado a alguém para pô-la em liberá-la. As palavras palpitavam em sua cabeça, mas não podia as forçar a passar o estrangulamento de sua garganta.


173 Aleksander ficou rígido, seus braços a soltaram lentamente. Podia ver por sua cara que não tinha que fazer a verdadeira pergunta. Ele sabia. Sabia o que ela mais temia. -Realmente pode pensar tão nefastamente sobre mim? Passei perto de três anos perseguindo aquele assassino de meninos. O primeiro ano, fiz sozinho... meus superiores se negavam sequer admitir a possibilidade de que pudesse haver um assassino em série de meninos na Rússia. Duas vezes me relevaram do dever de procurar ajuda nas agências externas ao país. E enquanto isso ele estava lá fora, atraindo meninos até ele. -Aleksander- protestou ela. -Não, Abigail. Tiremos tudo ao descoberto. Admito completamente que cometi enganos. Disse ao empregado do escritório que levasse você a sala de interrogatórios. Acreditei que seguiria as ordens. Não tinha nem idéia de que Ignatev estava trabalhando entre bastidores para me derrubar e que tinha a seus homens em posição. Quando tudo se foi ao inferno, valorei minhas opções. Em minha mente pensava que estaria perfeitamente a salvo, meus homens lhe levariam algo de beber, guiariam lhe fora e tudo teria terminado. Ela esfregou o queixo contra os joelhos encolhidos, abraçando-se a si mesma enquanto se balançava. -Mas não foi desse modo. -Não. Ignatev aproveitou a oportunidade para me golpear. Seus homens, não meus, estavam na sala de interrogatórios com você. Não estava a salvo, embora isso não soube ao princípio. Eu lutava por controlar o dano. Estava muito perto de solucionar o caso e não queria que se fosse as pistas. Quando averigüei o que acontecia e que os homens de Ignatev lhe tinham em seu poder, tive que me mover rápido para tirar você dali. Nesse ponto não poderia responder pelo que tinha acontecido porque se assumia a culpa de tudo, não só me teriam tirado do caso, mas também não teria podido te pôr em liberdade. Abigail lhe olhou. -O que fez? -O que foi necessário para te tirar dali. Teriam matado você. Ignatev queria me atacar, você não estava cooperando e quis aumentar a violência contra você. Tão somente minha reputação fez que não o fizessem em princípio. E sim, Abbey, se tivesse tido que me deitar com outra mulher para te salvar a vida, que me condenem mas o teria feito. Faria qualquer coisa para te salvar. É isto o que queria saber de mim? Os olhos dele flamejavam fogo para ela. Aleksander, sempre tão calmo e controlado, parecia que desejasse sacudi-la. Estudou seu rosto, as linhas que não tinham estado ali quatro anos antes, a comissura de sua boca e sua mandíbula forte. Do que tinha na realidade tanto medo? Teria querido que ele abandonasse aos meninos mortos? Teria querido que a abandonasse? Provavelmente lhe tinha salvado a vida, como tinha salvado a outros meninos de um louco. A compreensão chegou lentamente, mas Abigail sabia que lhe amava por essas mesmas qualidades, sua determinação firme de levar a um assassino ante os tribunais, seus instintos protetores que o faziam agressivo na busca de um assassino em série. Tantos traços bons, era isso o que tanto temia? -Como me tirou da Rússia?


174 Seu olhar se endureceu. -Fiz o que tinha que fazer. Essa é minha vida, Abbey. Isso é quem sou. É a única pessoa que amei alguma vez. Crê que faria menos por você do que faria por aqueles pobres meninos? Maldita seja por me perguntar isso. - inclinou-se mais perto dela, a poucos centímetros de sua cara. -Tenho um montão de coisas pelas que me desculpar, sei, mas tirar você da Rússia, salvar sua vida, não é uma delas. Se tivesse tido que dormir com quarenta mulheres, matar a quarenta homens, ou trocar minha vida pela sua, o teria feito e não vou pedir perdão por isso. Se quer me sentenciar, adiante. -Onde há um futuro para nós, Sasha? Eu não posso ir a Rússia. Não sei se posso estar vivendo os extremos que você está disposto a assumir. O que vamos fazer? -Tem que haver um futuro para nós. Temos que encontrar a maneira. É feliz sem mim? Pode dizer que verdadeiramente foi feliz se escondendo no mar com seus golfinhos, vivendo sua vida sem mim, Abigail? Abigail se sentou erguida e colocou para trás os cabelos. -Segura seu chá antes que se derrame. Assinalou vagamente a um ponto diante dele e quando Aleksander virou a cabeça a xícara de chá quase lhe golpeou no rosto. Parecia flutuar no ar. Suas irmãs e sua tia tinham desaparecido, deixando-os sentados em meio de um círculo feito com um tipo de madeira que ele não podia identificar e o que pareciam ser centenas de velas acesas. Tomou a xícara do ar e observou Abigail fazer o mesmo. Quando tinham estado juntos na Rússia, Abigail sempre tinha mantido o uso da magia em suas vidas ao mínimo. Ele não tinha pensado muito além de seu dom de obrigar a outros a dizer a verdade. Suas habilidades e as de suas irmãs iam obviamente muito mais longe do que nunca tinha concebido. A magia parecia ser esgrimida sem nenhum esforço, algo habitual nas vidas das irmãs Drake. Isto sempre seria parte de Abigail. -Não estou disposto a viver minha vida sem você, Abbey. Tentei. Tentei me enterrar no trabalho. Aceitei cada caso perigoso, cada caso interessante, algo em que pensar, mas nada surtiu efeito. Quero recuperar você. Diga-me o que tenho que fazer para te recuperar. -Não é que não ame você, Aleksander. Te amo com todo meu ser. Admiro a força de sua resolução e respeito sua determinação que é tão parte de você. Sei que isso é o que te faz ter êxito no que faz. Mas ao mesmo tempo, acredito que não posso conviver com eles. -Isso é um clichê, algo ridículo que dizer quando não está disposta a discutir algo a fundo e não vou aceitar isso de você. Faço o que tenho que fazer para sobreviver e manter vivos a outros. Não sou nenhum maníaco que vai por aí correndo com uma arma disparando às pessoas sem uma boa razão. Demônios sim, apanhei aos homens de Ignatev. A cada um ao que pude pôr as mãos em cima. Teria matado a ele se tivesse podido me aproximar, mas já se perdeu entre as sombras. É por isso puseram preço a minha cabeça. Ele ia fazer que lhe matassem, mas primeiro queria torturar você. Isso não ia acontecer. Pode entender isso de mim? Não ia acontecer. Não a você.


175 -Simplesmente sinto que perco a cabeça te amando. Assustada de lhe perder. Temendo sua força. -Estava tão confusa. Como podia ser tão pateticamente frágil quando se tratava de lhe amar? -Você não é covarde, Abbey. Não nadaria no mar com golfinhos se fosse. Não teria tirado esse pescador da água, nem tampouco teria atacado ao atirador quando teve a oportunidade. Pode fazer todas essas coisas, mas te dá medo se permitir estar comigo. Se eu partir, me amará menos? Levará isso a dor do que considera uma traição? -Pôs seu chá sobre o chão e lhe agarrou o queixo, obrigando-a a lhe olhar aos olhos. -Estou condenado de qualquer forma. Estou condenado por não te proteger quando não sabia que estava em problemas, e estou condenado por te tirar de uma situação muito perigosa. Qual é meu verdadeiro pecado? -Fazer que te ame. - A verdade saiu dela. Separou-se dele. -Não quero te amar. -Bem, bem-vinda ao clube carinho. Eu não queria te amar tampouco. Minha vida era muitíssimo mais fácil antes que entrasse nela. Ela suspirou brandamente. -Eu nunca tive que viver como teve que viver você. Pode ser desumano se as circunstâncias o requererem. Como viver juntos quando nossas vidas são tão diferentes? Quando vamos de dois recursos e culturas tão diferentes? -Entende sequer as escolhas que fiz? Teria feito você de forma diferente? -Não sei. Honestamente não sei. Quase me destruiu. Quando acreditei que tinha me traído senti como se me tivesse arrancado o coração e a ferida simplesmente não se curava. Odeio dizer isso. Parece tão melodramático, mas é a verdade. Quero que tenha esse poder sobre mim outra vez? Um dia trabalhará em algo terrível, algum crime horrível e terá que tomar decisões que não estou segura de poder aceitar. O que faço então?- Brilhavam lágrimas em seus olhos. Sua garganta estava descarnada- Não pode ser menos do que é. Eu não te amaria igual se deixasse de ser você. Como faço para mudar o suficiente para aceitar essa veia desumana que há em você? -Não sei, Abigail. Tem que decidir se me ama o suficiente. Crê que eu tenho todo esse poder sobre você, mas na realidade é inverso. Você se afastou de mim e não voltou a vista atrás. Pode chamá-lo auto conservação se quiser, mas ao final, não me amou o suficiente para viver com o que tenho que fazer. E sim, não é sempre bonito e envolto em um pacote elegante. Para perseguir o tipo de criminosos que normalmente persigo tenho que me pôr ao nível da porcaria e me enlamear com eles. Há más pessoas neste mundo, realmente más, Abbey. Eu os caço. Faço o que posso por levá-los ante a justiça. Nem sempre é possível utilizar regras civilizadas e aceitáveis para lhes deter. Quando vai depois do mal ou atrás de gente doente que não têm regras, tem que fazer o que for para detê-las. Há vezes que faço coisas das que não me orgulho. E há vezes nas que tenho que tomar uma vida. E se for por você, Abigail, nunca haverá, em nenhum momento, que perguntar se estiver disposto ou não a fazer algo que faça falta. Isto é o que realmente sou. A verdadeira pergunta é, pode amar ao autêntico eu? Não à pessoa perfeita que quer que seja, não a essa imagem que tinha de mim, a não ser quem realmente sou?


176

Capítulo – 15 Abigail suspirou brandamente. -Estou lutando por entender tudo isto, Sasha. Não tinha nem idéia do que tinha acontecido na Rússia, por que deixou que me afastassem de você e talvez deveria ter aberto todas essas cartas que me enviou… -Arrancou-me o coração quando me devolveu isso- disse Aleksander. -Assim ambos acabamos feridos. De verdade quer voltar ali outra vez? -Perguntou-se por que não te pedi que 'falasse' com o Nikitin ou sequer com o Chad Kingman ou Frank Warner? Saberíamos imediatamente quem estava fazendo o que se tivesse uma conversa com eles. Abigail estendeu as mãos ante ela. -Cometi um terrível engano e isso custou a vida de um homem. -Isso é uma tolice e sabe, Abbey. Esse homem morreu porque estava afligido pela culpa e um dos oficiais virtualmente lhe deu uma arma. Não teve nada que ver com você. Observei a fita uma e outra vez antes que fosse destruída e você estava tratando de nos dizer que não era culpado. Não houve nenhum engano com sua magia ou a forma em que a usou. Não te pedi que me ajude porque me equivoquei ao te utilizar. Ao princípio queria cada instrumento possível. Ouvi um rumor a respeito de uma mulher com poderes psíquicos e investiguei um pouco e decidi te conhecer para ver se podia ajudar, inclusive embora o que pudesse fazer soasse uma loucura infernal. Ela abaixou a cabeça, incapaz para lhe responder. Tinha pesadelos com esse pobre homem, tão perturbado pela morte de sua filha. Ela deveria havê-lo sabido, sentido o que estava ocorrendo, colocar seu ego de lado para adivinhar a verdade. Aleksander a absolvia de culpa, mas a tinham criado para acreditar que com seu dom também vinha a responsabilidade. -Não quero utilizar a alguém a quem amo como instrumento ou arma por nenhuma razão. Amo você, Abbey. - colocou uma mão sobre o coração. -Não sei que outro método utilizar para que acredite, além de dizê-lo mil vezes. Ela só podia olhá-lo, com uma mescla de dor e amor formando redemoinhos nas profundidades de seus olhos. Queria-lhe. Desejava estender-se e começar tudo de novo, mas o passado estava ali, uma feia e crua ferida que a aterrava. Aleksandr procurava uma forma de reconfortá-la, de chegar mais à frente do passado e limpar esse olhar de medo de seus olhos para sempre. Quando já


177 não pôde pensar em nada mais que dizer, trocou de tática, procurando uma distração. As grossas fortificações de madeira que formavam o círculo não se pareciam com nada que tivesse visto antes. Tocou um. -O que é isto? Abigail lhe apartou mão. -Não toque isso. Sempre está tocando tudo. A madeira é muito, muito antiga e veio da Itália. Esteve em nossa família durante séculos e possui grande poder. E se tivesse torrado você? Deveria ter torrado você quando entrou no círculo sem permissão. Ele pôs seu dedo sobre a madeira polida uma vez mais. -Mas não o fez. A sua casa parece que gosta de mim. Carol ia depois das irmãs Drake quando retornaram à habitação. Abigail sabia que tinham ouvido cada palavra da conversa e, o que era pior, que suas emoções eram muito fortes, muito fora de controle, que podiam sentir o profundo amor que lhe abrasava a alma e que sentia por ele. Podia dizer por suas caras que simpatizavam com sua causa. E ele podia vê-lo também. Aleksandr apelou a elas. -Se todas vocês souberem de magia, nenhuma conhece uma boa poção de amor? Se simplesmente colocar em sua bebida, resolveríamos isto. -O que te faz pensar que não a temos, querido?- perguntou Carol, lhe piscando um olho. -Ainda não terminou toda sua xícara de chá. -Estas coisas levam seu tempo- somou-se Joley. Abigail levantou o olhar, alarmada. Colocou cuidadosamente a xícara no meio do chão. -Não se atreveriam. Aleksander, não beba isso. -Se ajuda, bebo. - Esvaziou rapidamente a xícara de chá e a estendeu a Joley. -Mais, por favor. Está muito bom. Joley riu. -Ela é a que precisa beber o chá, não você. Acredito que você já está bem como está. -Não respire- disse Abigail. -Alguém tem que respirar. - Aleksander colocou a xícara no chão e a avaliou com um sorriso apenas perceptível. -Certamente você não o faz. -Não é que vá por aí se deitando com muitos homens- assinalou Hannah. Dispôs uma pequena mesa e colocou um morteiro e uma mão do morteiro justo fora do círculo. -Eu diria que deveria se sentir muito animado. -Não vamos discutir se me deito ou não com homens de forma regularopôs-se Abigail. -Bom, querida, não é que haja muito do que falar- disse Carol. - Por certo, deixei o filme nessa loja de revelação de uma hora do Fort Bragg e Jonas a trará esta tarde assim provavelmente estará aqui de um momento a outro. -Genial. Podemos falar de minha vida sexual diante dele também- disse Abigail. -Se apresse, Libby. Não posso estar sentada aqui para sempre. Kate ofereceu várias ervas a Libby. -Está muito irritável. Deve ser toda essa conversação sobre sexo e o estar apanhada aqui com todas nós ao redor e não poder fazer nada a respeito.


178 -Está dizendo que está frustrada?- perguntou Aleksander. -E supõe que não devemos abandonar este círculo? -Não, não até que Libby tenha acabado- aconselhou Kate. Um grande sorriso se estendeu pela cara de Aleksander. -Acredito que o chá está funcionando, baushki-bau. Vêem aqui, minha pequena bolinha. Esquivou-se com uma mão. -O que acredita que está fazendo? -Não posso me controlar. Sua tia pôs algo no chá e não posso manter as mãos longe de você. -Não há nada no chá e de toda forma isso não funciona assim. - Abigail protestou, tentando não rir quando ele a acolheu entre seus braços. -Assim funciona em mim- disse ele, aproximando-a. Inclinou a cabeça até que seus lábios estiveram a um simples suspiro dos dela. -Necessito que me beije. -Não posso te beijar diante de todo mundo. Joley riu dissimuladamente. -Seguro que pode. Não olharemos. Libby escolheu várias ervas e começou às preparar para a cerimônia de purificação e amparo. -Eu estou olhando. Se separem. Abigail sorriu abertamente para ela. -Finalmente, alguém que está de meu lado. -Não disse que estivesse de seu lado. Simplesmente não vou ficar olhando como se fazem bajulações e depois explodam porque esse Prakenskii tenha posto um malefício sobre os dois. -Realmente crê que o fez? Os autênticos malefícios são muito estranhos. Libby juntou as ervas na pequena tigela feita de ágata polida. -Fez algo. Olhe a diferença em você já, Abbey. Estava com uma grande dor emocional, pronta para se despedir de Aleksander, e agora, no interior desta casa, dentro do círculo, está rindo com ele de novo. Está muito mais calma e não te dói como doía antes. Joley soltou um pequeno bufo. -Já disse a vocês que Prakenskii é um rato bastardo. -Você crê que todos os homens são ratos bastardos. Acredito que também chamou Aleksander disso. Aleksandr ofegou. -Joley! Ela agitou a mão. -Ela me tirou arrastada da cama antes do meio-dia. Todo mundo é um rato bastardo antes do meio-dia. -Do que serviria ao Prakenskii realçar meus sentimentos?- perguntou Abigail. Aleksander se estendeu em busca de sua mão. -Nos manter separados? Ela apartou a mão. -Estamos separados.


179 -Vamos, Abbey- - a voz de Aleksander foi uma carícia zombadora Acreditava que tínhamos esclarecido isso quando foi à cama comigo. -Não o fizemos. - Abigail levantou o olhar para suas irmãs e sua tia que tinham detido os preparativos. -Todas vocês não têm algo que fazer? -Bom, ele tem um ponto, Abbey- disse Joley. -Que ponto seria esse?- Exigiu Abigail. -Bom, em realidade querida- disse Carol. -Não deveria dormir com um homem se não tem intenção de ficar com ele. Realmente não é educado lhe incitar desse modo. -Não, não, tia Carol- Joley defendeu a sua irmã, com os olhos abertos com inocência. -Estão comprometidos. Não lhe está incitando exatamente. É oficial e tudo. Tem um anel. -Um anel! Não nos mostrou um anel- disse Kate. Inclinou-se sobre as fortificações de madeira para olhara mão de Abigail. Abigail se cobriu os dedos nus com a outra palma e fulminou com o olhar a sua irmã mais nova. -Joley! É um rato. Deixem de me olhar dessa forma. Libby vá depressa. Nunca te vi tão lenta. -Sinto muito- murmurou Libby, um pequeno nevoeiro franzido apareceu em sua cara. -Só estava pensando em por que Prakenskii faria isto. Se ia atacar a alguma de nós com magia, por que não faz algo que realmente nos fizesse mal? -E o que tem as leis da magia?- perguntou Sarah. -Nos remontemos aos fundamentos. Hannah deu de ombros. -Sei o que quer dizer, mas dizer que a magia pode ser utilizada como defesa e não como ataque não tem valor se isto está fazendo ele. A magia é natural e deveria ser utilizada sempre para o bem e não por proveito próprio, mas sabe muito bem que isso lhe pode dar a volta. -Mas não tem feito mal a ninguém- persistiu Libby. Joley esfregou a palma com o passar da coxa. -Fez-me mal. -Talvez não foi de propósito. Você lhe empurrou com magia e ele a devolveu. Isso é utilizar a magia como defesa, não como ataque. Talvez não teve intenção de empurrar tão forte e resultou chamuscada. Curou sua mão, verdade? Por que o faria se realmente tinha intenção de te fazer dano? Joley franziu o cenho para Libby. -Não se atreva sequer a soar tão interessada nele. Jesus, Libby. Provavelmente agora esteja removendo um caldeirão e conjurando a algum demônio do inferno. - esfregou-se a ponta do polegar sobre a ferida e estremeceu. -Ainda lhe sinto. É como se tivesse deixado seus rastros sobre mim ou um pouco parecido. Odeio-o. -Me deixe ver. - Libby estendeu a mão para Joley. Joley deu um passo apressado para trás, embalando sua mão contra o coração. -Está bem, não é nada. Supõe-se que temos que nos concentrarmos em Abbey. Sarah soltou um pequeno gemido.


180 -Jonas está subindo os degraus. Logo que deu a voz de alarme a porta principal se abriu e Jonas entrou em pernadas. Deteve-se abruptamente, observando as centenas de velas acesas, a pequena mesa colocada para o norte com o equipamento de Libby para um ritual, e as fortificações de madeira antiga da Itália formando um círculo com a Abigail e Aleksander sentados no meio. Um semblante carrancudo se posou em sua face quando seu olhar caiu sobre Aleksander. -Não vão matar nenhuma galinha, verdade?- Saudou as irmãs Drake, fechando a porta com o pé. -Estive no Point Areia três vezes o mês passado comprovando queixa contra Lucinda e estou seguro de não querer nada disso aqui. -É muito engraçado, Jonas- disse Joley. - Como se nós pudéssemos fazer mal a um animal. - Soltou um bufo indignado. -Hannah sempre faz mal a meus chapéus- assinalou Jonas. -Comecei a comprá-los a granel. - colocou-se as mãos nos quadris e avaliou ao Aleksander com um pouco de diversão apesar de sua óbvia cautela. -É um homem valente, Senhor Volstov. Aleksander lançou um breve sorriso. -Minha prometida insiste nestas estranhas cerimônias. - deu de ombros. -O que vou fazer? -Como vai a investigação?- perguntou Jonas. -Está perto de encontrar seus objetos de arte roubados? -Tenho algo. Quero consultar você sobre um par de detalhes. Talvez pudesse me conceder alguns minutos depois de que acabemos aqui. E me poderia informar sobre como vai sua investigação. Jonas lhe olhou com perspicácia. -Claro. Gene Dockins, o pescador que Abbey tirou da água, saiu do coma, mas não recorda nada absolutamente sobre o tiroteio ou o que conduziu até isso. Os doutores dizem que provavelmente nunca o fará. -Isso não é estranho- disse Libby. -Agrada-me ouvir que se recuperou. -Sim, aparentemente fez algum progresso bastante milagroso depois que você o foi visitar esta manhã. -Libby!- Sarah a olhou fixamente. -Por isso não assistiu à festa do Frank. Deve ter ficado totalmente esgotada. Por que não nos disse isso? -Estou bem. Prometi a Marsha que lhe faria uma verificação. Os doutores lhe tinham dado um prognóstico muito pobre e não mostrava nenhum sinal de sair do coma, assim foi quão mínimo podia fazer. -Podíamos ter te ajudado- disse Sarah. -Passei a tarde descansando com os pés em alto - disse Libby. Comecemos. -Está segura de que não está muito cansada?- perguntou Elle. -Posso assumir o controle por você. Acabo de comer todas as bolachas que fez Hannah esta tarde. -Bolachas?- ecoou Jonas. -Guardou-me alguma, Hannah? -Não o faz sempre?- respondeu Joley. -É a única forma de mate-la fora do cárcere. Sempre está ameaçando-a de prendê-la por algo. Jonas piscou um olho para Hannah.


181 -É a única forma de conseguir bolachas. - Gesticulou para a cozinha. – Trouxe as fotos de tia Carol comigo. Vou dar uma olhada e comer as bolachas da Hannah enquanto todos vocês fazem o que seja que estão fazendo... e não me contem isso porque na realidade não quero sabê-lo. -Que ervas está usando, Libby?- perguntou Elle. -Raiz de ágüe para proteger; malva, no caso de Prakenskii estar utilizando magia negra. É uma ajuda muito efetiva. E é obvio vervena. Você gostaria de observar o que faço e ver como preparo tudo? Elle assentiu com a cabeça e se aproximou enquanto Libby ficava em pé ante a mesa que olhava para o norte, que tinha preparado como seu altar. Não consideravam sua prática uma religião; entretanto, referiam-se sempre a sua plataforma de trabalho como um altar. Libby colocou a mescla de ervas no centro da mesa com velas a cada lado. -Estou usando velas púrpura, brancas e azuis porque quero dar amparo a Abbey e curar- explicou. -Também vou alinhar as vibrações para incrementar sua efetividade. -Algumas vezes posso ver as vibrações como um cometa. Sempre é assim?perguntou Elle. Libby sacudiu a cabeça. -Algumas vezes podem ser linhas dentadas ou uma espécie de espiral. Uma vez que as vê ou as sente pode energizar as ervas. - Fez gestos às demais e ao momento a habitação se imobilizou. Aleksander sentiu uma rajada de adrenalina bombeando através de seu corpo. Era agudamente consciente de cada detalhe no quarto. A escuridão. As velas titilando ao redor de todos eles. A espera aumentava sua consciência. A eletricidade rangia e estalava através da habitação. A voz de Libby encheu o silêncio, um cântico harmonioso requerendo o poder da terra, o vento, o fogo, e água. As irmãs Drake e sua tia lhe ofereciam apoio, com os olhos fechados, formando um círculo, com o Aleksander e Abigail dentro. O ar foi cobrando intensidade com a eletricidade que parecia sair em certa medida de seus cabelos. Aleksandr fez uma profunda inspiração e lhe chegou a estranha combinação de fragrâncias das ervas, velas e incenso. O ar se espessou. Pequenas faíscas de ouro formaram um arco ao redor das Drake e nas pontas de seus dedos, primeiro branco aceso e logo amarelo. O coração de Aleksander se acelerou. Que as xícaras de chá flutuassem e gente dissesse a verdade era uma coisa, mas esta cerimônia era algo completamente distinto. O poder crescia na habitação. Atraiu a mão de Abigail até seu coração e a manteve ali enquanto a casa chiava e trocava de posição como se estivesse cobrando vida. Sentiu algo estremecer-se e as paredes pareceram expandir-se. Pequenos cometas de púrpura e azul cruzaram velozmente o teto, depois se desvaneceram, só para reaparecer, fundindo-se paulatinamente, para pulsar com vívida intensidade. Os quadros da parede que mostravam as irmãs Drake e seus antepassados começaram a sacudir-se ligeiramente. O cântico aumentou de volume e Aleksander estava seguro de que outras vozes se uniram a elas. Podia ouvir um som na distância, como o tinido de campainhas ao vento, as notas marcavam um


182 tom estranhamente discordante que faziam que os cabelos de sua nuca e seus braços se arrepiassem. As cores giraram mais rápido, rabiscando-se juntas, as caudas dos cometas deixavam faíscas no ar. As campainhas se fizeram mais ruidosas e mais claras. Uma chamada. Uma convocatória. Persistente. Reverente. A espera esticou os nós de seu estômago. Na entrada, sobre um detalhado mosaico, um movimento captou a atenção de Aleksander. Formavam redemoinhos de sombras, elevandose dos azulejos, tomando forma enquanto emergiam. Mulheres. Um exército de mulheres. Desde sete em sete saíram dos azulejos formando redemoinhos juntas em uma massa cinza relatório e logo dividindo-se em indivíduos bem definidos. Eram transparentes um momento e sólidas ao seguinte. Mais e mais se uniram a elas, enchendo a habitação, permanecendo em pé solidamente atrás do círculo das irmãs Drake. As mulheres se acumularam, as vozes foram aumentando, as velas titilavam, o poder ia aumentando, enchendo a habitação até que pareceu como se fosse impossível que coubesse nada mais. As mulheres sombrias se alinharam diretamente atrás de cada uma das irmãs Drake. As que estavam detrás de Libby levantavam os braços para a luz da lua que se derramava pelas janelas, como fazia ela. As demais estendiam as mãos umas para as outras e as mesmas faíscas se arqueavam das pontas de seus dedos que das Drake. O último grupo formou um círculo protetor ao redor de todas elas. Libby deixou cair seus braços e todas as sombras detrás dela seguiram o exemplo. Um silêncio sepulcral caiu sobre a habitação. Aleksander conteve o fôlego. Começando pela mulher mais próxima a Libby avançaram, aproximandose dela impossivelmente, sobrepondo-se a ela, fundindo-se com ela até que desapareceram, deixando só Libby. Jogou uma olhada ao redor. O mesmo processo se repetiu com cada uma das outras mulheres até que só as sete irmãs e Carol ficaram na habitação Outra vez esse momento de espera. As mulheres Drake elevaram os braços para a luz de lua e a quebra de onda de poder foi tremenda. Trouxe látegos de eletricidade que dançaram com um branco ardente através da sala. Uma chama azulada debruava cada látego. As caudas de luz rangente formaram redemoinhos através do ar e replicando pelo teto e descendo pelas paredes da casa, deslizando-se pelo chão para o círculo. Os látegos deixavam atrás um filme luminescente, um fino recobrimento de arroxeado azulado sobre tudo o que tocava. A cor se propagou através do chão para o círculo de fortificações de madeira e por um momento sentiu a carga elétrica passando através e sobre ele. Baixou o olhar para seus dedos, entrelaçados com os de Abbey, brilhando com essa mesma luz colorida. As campainhas se desvaneceram. A cor decaiu. As velas se apagaram em silêncio. Aleksander forçou o ar a atravessar seus pulmões. A tensão começou a gotejar dele e forçou seus músculos a relaxar-se. Não tinha sido consciente de estar cobrindo parcialmente o corpo de Abigail com o próprio em um esforço por protegê-la do desconhecido. Ela não tinha emitido nem um som, mas tinha um braço lhe rodeando o pescoço.


183 Jonas deu um golpe a um interruptor na parede, alagando o local de luz. Apoiou um quadril contra o marco da porta e sorriu abertamente para Aleksander. -Bem-vindo à família Drake. - Ofereceu um molho de bolachas. -Tem fome? Abigail ficou de joelhos e emoldurou a face de Aleksander com suas mãos. -Isto é o que sou, Sasha. Este é meu legado. -Essas mulheres...?- enfrentou muitos assassinos em sua vida, muitas situações perigosas, mas nenhuma lhe metido tanto medo no corpo como tinha feito esta cerimônia. Não sabia o que pensar ou sentir. Olhando ao redor a habitação parecia quase normal outra vez. Nada de cores. Nada de arcos de eletricidade. As fortificações de madeira tinham desaparecido, as velas já não estavam acesas. Inclusive a pequena mesa tinha desaparecido. -Minhas antepassadas. -Quando disse que a casa estava protegida, realmente o dizia literalmentedisse ele, sentindo-se ligeiramente aturdido. Inclusive vendo-o, sentia que era impossível compreender completamente o que tinha ocorrido. -Parece um pouco pálidodisse Jonas e cruzou a sala para puxar Aleksander e lhe pôr em pé. -Não trate de entendê-lo- aconselhou. Simplesmente aceita-o. Aleksander pôs em pé Abigail e a aproximou de seu corpo. Necessitava a tranqüilidade de sabê-la real e sólida contra ele. -Foi incrível. Não estou seguro de acreditar no que vi. -Esperou um batimento do coração. -O que acredito que vi. -Sente-se diferente, Abbey?- perguntou Libby. -Desapareceu a dor emocional? Abigail assentiu com a cabeça. -Diminuiu dentro do círculo e agora desapareceu - Sorriu para Aleksander. E o que diz você? Sente-se melhor? -Sabia que estava sentindo sua dor. Não sei como soube, mas me afligiu. Acredito que a idéia de que eu podia ter feito mal a você, te causar tanta dor, era mais angustiante que outra coisa. Isso e pensar que não me daria outra oportunidade. - Inclinou a cabeça para lhe beijar a ponta do nariz. -Distraía-me muito. Sarah virou. -O que há dito? Aleksander levantou o olhar. -Quero outra oportunidade com Abbey. Sarah rechaçou a explicação. -Certo. Certo. Mas estava distraído. Por quê? O que estava fazendo? Joley riu dissimuladamente. -Admirando o "trabalho artístico" de Sylvia no fundo da galeria de Frank. De toda forma, o que estava fazendo ali? Essa habitação está fora dos limites. -Para todos exceto para a família Drake?- Aleksander elevou uma sobrancelha. Jonas olhou a um e à outra. -Por que estão todos tão interessados nesse lugar?


184 -Queria dar uma olhada- admitiu Aleksander. -Sylvia se ofereceu e aproveitei a ocasião. -Quer dizer que expôs a sugestão- corrigiu Abigail. Ele deu de ombros. -Estava furiosa com você por alguma razão. Algo sobre seu ex-marido. Aparentemente esteve tentando voltar com ele. Ele estava na festa e viu seu bate-papo inocente com Ned Farmer. O que dizia não tinha muito sentido. Afirmava que seu ex-marido odiava uma erupção em sua face que Abigail era responsável e falar com o Farmer de algum modo provocava a erupção. Eu não vi nenhuma erupção. -Ned está casado- disse Hannah. -E ela tinha que estar paquerando se apareceu a erupção. -Acredito que a paquera é sua forma habitual de conversar com os homens, Hannah- disse Sarah. -Assim Aleksander entrou na parte de trás com a Sylvia procurando algo. O que? -Bom, Sylvia viu seu ex entrar lá. Não saiu, assim ao final quis ver o que estava tramando. Seguia falando disso assim é que não foi muito difícil lhe dar um pequeno empurrãozinho. Acreditei que poderia obter algumas respostas. -Estava procurando pinturas roubadas- ofereceu Joley. -Encontramo-las. Ao menos acreditam que eram roubadas. Encontramos quatro em uma despensa e tiramos fotos delas. Deveriam estar entre as fotos que trouxe Jonas. -Têm as fotos?- perguntou Aleksander. -Essas fotos são de arte roubada?- perguntou Jonas e voltou para a cozinha onde tinha estendido as fotos sobre a mesa de cozinha. O resto começou a lhe seguir. -Jonas!- A voz da Carol lhe repreendeu da cozinha. -deixou cair miolos de bolacha sobre elas. Sarah deteve Aleksander antes que pudesse seguir os outros. -Quando sentiu a dor de Abigail, deixou de investigar a parte traseira, verdade? -Abbey ou alguma das outras removeram o pó no quarto. Sylvia começou a espirrar. Eu sabia que elas estavam ali. Não elas, as Drake, ao princípio. Só sabia que não estávamos sozinhos e quando o pó formou redemoinhos ao redor de nós e Sylvia começou a espirrar incontrolavelmente, aproveitei a oportunidade para sair, mas tinha intenção de voltar mais tarde para dar uma olhada ao redor. -Porque suspeita do Frank? -Sei que está comprometido e também o homem que trabalha para ele, Chad Kingman. Queria encontrar provas e se Abigail tiver conseguido tirar fotos de pinturas roubadas estas podem nos conduzir aos ladrões. Frank cantará. Não é um tipo duro. -Prakenskii poderia ter estado mantendo você afastado deliberadamente desse local? Isto lhe deteve. Abigail tinha estado escutando e deu meia volta. -Houve uma briga. Sei que viu as manchas de sangue. Pudemos sentir todas as vibrações de violência. E estamos seguras de que essas pinturas são autênticas, percebia-se que eram antigas, não algo que Frank poderia ter adquirido legalmente.


185 -Se Prakenskii partiu realmente e sua tia Carol me disse que o tinha feito, como teria sabido que eu estava lá, ou que ia voltar para ela?- perguntou Aleksander. -Sarah algumas vezes sabe coisas. -Não como isto entretanto, Abigail- disse-lhe Sarah. -Não funciona assim. Não acredito que Prakenskii pudesse havê-lo sabido sem estar presente. Deve ter visto você entrar e utilizou Abigail para te distrair e que não voltasse. -Sabemos que é bom movendo-se entre a multidão sem ser visto- disse Abbey. -Quero saber o que aconteceu com o Mason Fredrickson. Crê que era seu sangue e não do Chad? Se Sylvia lhe viu entrar mais cedo, mas nenhuma de nós lhe viu, aonde foi? Tia Carol disse que viu Prakenskii dar uma surra em Chad, mas Mason não estava em nenhuma parte. Esteve ali antes, viu algo que não deveria ter visto e lhe fizeram mal? Ou poderia estar comprometido? -Há uma porta que sai ao beco onde chegam os caminhões de partilhadisse Aleksander. -E Manson e Chad são bons amigos. Foram juntos à escola- acrescentou Sarah. -Estou mais preocupada que Prakenskii parece estar influenciando sutilmente a todo mundo. Os três entraram na cozinha e Aleksander passou Abigail para furtar a última das bolachas do prato que tinha Jonas diante. -Prakenskii segue suas próprias regras. Não tenho nem idéia do que tem em sua agenda, mas posso lhes dizer, que seja o que seja o que está fazendo aqui não é exatamente o que Nikitin crê. -O que é isto?- Jonas agarrou uma foto da estátua de um homem nu e a empurrou para Hannah. -Suponho que esta é sua idéia de uma pintura roubada. Ela assentiu, lhe tirando a foto e passando-lhe a sua tia. Carol riu. -Joley, você tirou esta, verdade? Joley abriu os olhos inocentemente. -Não posso imaginar por que acreditaria que fui eu, tia Carol. Abbey e Hannah também estavam ali. Abigail olhou por cima as fotografias pulverizadas sobre a mesa e seu coração repentinamente começou a palpitar. Olhou fixamente a uma delas incredulamente, segura de que seus olhos a enganavam. A cara e o corpo lhe eram familiares, apareciam em seus pesadelos, estava segura disso. Inclinou-se mais perto, quase temendo tocar a foto. -Abbey?- Aleksander passou o braço ao redor dela. -O que acontece? Parece que viu um fantasma. Abigail passou além de Hannah para agarrar a foto e ondeá-la para o Jonas e Aleksander. -Este é um dos homens que dispararam em Gene e Danilov. Sei que é ele. Estou segura disso. Aleksander a tirou da mão. -Quem fez esta?- Havia surpresa em sua cara e em seus olhos. Carol levantou a mão. -Eu. As damas do Clube de Chapéu Vermelho decidiram que íamos visitar algumas das praias privadas como uma espécie de desafio contra a propriedade privada das praias. Estou bastante segura que ele se hospedava na velha casa


186 Hogan. Vi-lhe descer os degraus do alpendre e sabia que estávamos por ali. Tirei um par de fotos dele usando o zoom. Esta é genial, não é? -Invadiu uma propriedade privada- enfatizou Jonas. -E o fez malditamente de propósito, Tia Carol. Sabia que os assassinos eram forasteiros e que provavelmente alugavam uma das casas mais isoladas da praia, verdade? -Bom, querido, pode ser que me tenha ocorrido. Se eu fosse alugar uma casa e não quisesse que a lei me apanhasse, usaria a algum outro para administrar o aluguel. Como demônios poderia encontrá-los? Às damas adoraram a idéia de invadir as praias privadas. Dançamos e cantamos e entramos correndo descalçar ao mar! Foi tão divertido. E é obvio tomei um montão de fotos para nossos álbuns. -Carol, não pode estar fazendo este tipo de coisas. Não é uma espiã, pelo amor de Deus. E não pode levar com você Inez e às demais em uma de suas pequenas aventuras. - Jonas passou as mãos pelos cabelos. -Permanece fora disto. -Só diga obrigado, Jonas- disse Joley. -Conseguiu a direção para você. Abigail escutava distraída, a rixa que com freqüência estalava entre Jonas e sua família. Sua atenção estava em Aleksander. -O que acontece? Quem é este homem? -Leonid Ignatev. Está aqui, nos Estados Unidos. -Isso o que quer dizer?- O coração de Abigail começou a palpitar. -Não estaria aqui por obras de arte roubadas. - Levantou o olhar para Jonas. -Acredito que sua investigação de assassinato e a minhas sobre obras de arte roubadas se acabam de cruzar. -Quem é este homem? -Era membro de alta fila do departamento de polícia com aspirações políticas. Quando Abigail e eu nos conhecemos, faz quatro anos, minha carreira tinha superado a sua e eu sem intenção, no transcurso de várias investigações, pisei-lhe nos pés. Sabia que não estava limpo e que tinha uma mão em negócios turvos na cidade. - Aleksander deu de ombros. -Pode ser uma forma de vida, e há muitos como ele, não lhe dava muita importância. Teria-lhe deixado em paz incluso sabendo que estava profundamente metido na máfia se tivesse se mantido fora de meu caminho. -Mas não o fez- apressou Jonas. Aleksander atraiu Abigail para ele. -Não, não o fez. Foi por minha carreira e por Abigail. Não tive mais escolha que acabar com ele. Foi a única forma de salvar a vida de Abbey. Seus homens a teriam matado quando tivessem obtido o que queriam dela. -O que queriam?- perguntou Sarah. -Que me entregasse. Se tivesse dado meu nome eu teria perdido tudo, mas se manteve firme e quando me inteirei do que estava ocorrendo, movi-me rapidamente para liberá-la e destruir a ele. Vários de seus homens morreram e foram descobertas provas contra ele. Teve que fugir para sobreviver. Pôs preço a minha cabeça utilizando Nikitin como agente. Sabemos que Nikitin é muito violento e pertence à máfia, mas nunca fomos capazes de conseguir nada absolutamente contra ele. Várias vezes enviaram agentes encobertos e todos apareceram mortos.


187 Jonas esfregou a mandíbula. -Estivemos vigiando este Nikitin. Tenho um arquivo sobre ele de uns poucos centímetros de grossura, mas não deu nem um só passo em falso e está no certo, não há nada com o que lhe acusar. Atua como se estivesse de férias simplesmente desfrutando da costa. Freqüenta os melhores restaurantes e compra em todas as lojas. -E faz contatos- assinalou Aleksander. -Pode ser muito encantador, mas não há dúvida de que é um tubarão. - Tamborilou a fotografia. -Este traz entre mãos algo muito mau. Nunca perderia o tempo com arte roubada. O que temos aqui é uma rota estabelecida e o que for que estão trazendo para o país por esta rota está quente e chegará logo. Estão dispostos a matar para proteger o que for. Nikitin está até o pescoço nisto, ele deve ser a ligação, mas Ignatev é quase com segurança a pessoa ao cargo. -Está segura de que o homem que aparece nessa foto era um dos que estava no atracadouro?- perguntou Jonas. -Estava escuro. Abigail assentiu. -Absolutamente. Havia lua cheia e não estavam tão longe de mim. -Se Ignatev estava ali para recolher algo e houve um problema, por pequeno que fora, deve haver-se zangado muito. Não tem paciência e resolve seus problemas com violência. -O que será isso tão importante que vão trazer?- perguntou Carol. O olhar de Aleksander se desviou para o Jonas. Seus olhos se encontraram sobre a cabeça de Carol. Jonas assentiu muito ligeiramente. Aleksander deixou escapar o fôlego. -Ignatev estava envolto com um grupo que utilizava táticas terroristas para tentar derrocar ao governo. Sei que foi adestrado na África e tem laços com vários grupos terroristas. Suponho que está devolvendo um favor a alguém e fazendo-se muito rico de passagem. Para sair da Rússia de forma segura, teve que usar suas conexões e essa classe de favores sempre exige algo em troca. Necessitaria dinheiro para voltar a levantar-se. Abigail olhou de uma cara sombria a outra. Voltou-se para Sarah. Sarah parecia assustada. -Sasha, crê que está trazendo uma bomba de algum tipo? O braço dele a aproximou ainda mais e a beijou na testa. -Acredito que vai atrair uma bomba suja. Ignatev está aqui para recebê-la e passá-la a uma toupeira. Nunca a usaria ele mesmo, mas estaria em posição de não ter eleição se lhe pediram que a trouxesse a aqui. Nikitin conhecia a rota para as obras de arte roubadas, deve estar funcionando durante anos, assim quando Ignatev se aproximou, naturalmente a escolheu. Infelizmente, estávamos em metade de nossa investigação e Danilov estava já em posição encoberta. Não sabiam dele ou de que a Interpol controlava esta costa. -Não sabe com segurança- disse Joley, sua mão se dirigiu a sua garganta. Hannah soltou um pequeno som de angústia e Jonas estendeu o braço e lhe acariciou o braço para tranqüilizá-la. -Os deteremos, agora que Volstov está trabalhando comigo. - Franziu o cenho. -Por que está trabalhando comigo? Esteve respondendo com evasivas todo o tempo. Por que a mudança repentina?


188 -Depois que Abigail e eu nos casemos, vou necessitar um trabalho e alguém a meu favor- disse Aleksander. Abigail fez uma careta e pôs os olhos em branco para suas irmãs, mas guardou silêncio. Aleksander podia ter injetado um rastro de diversão em sua voz, mas falava a sério Jonas lhe avaliou durante um longo momento. Abigail podia ouvir o relógio fazendo tic-tac no silencioso da habitação enquanto Jonas sopesava sua reação. -Um trabalho, não é? Tem algumas habilidades que poderiam ser úteis. -Umas quantas- esteve de acordo Aleksander. Joley e Abigail trocaram um sorriso rápido. Os homens sempre pareciam grunhir e soprar ao redor dos outros, arrepiando-se por nada e de repente se faziam companheiros nos momentos mais improváveis. -Tia Carol- Jonas fixou sua atenção na mulher mais velha. -Realmente tem que me escutar esta vez. Não quero que espie a ninguém mais. Isto é muito perigoso. Pode ver por tudo o que havemos dito que correu perigo o notasse ou não enquanto brincava de James Bond. Tem que me dar sua palavra de que não andará espreitando por aí com sua câmara escavando no ninho de vespas. -Eu nunca ando espreitando, querido- disse Carol. -Tia Carol- insistiu Sara, com sua voz mais severa. -Jonas tem razão esta vez. -Esta vez- resmungou Hannah enquanto baixava o olhar para uma das fotografias. Jonas franziu o cenho sombriamente, lhe arrebatando a foto da estátua nua e enrugando-a em uma pequena bola. -Não tem necessidade de olhar esta tolice. - Parecia exasperado. -E o digo a sério, tia Carol, não mais bisbilhotar por aí. -Seguro que não vou fazer algo tão tolo. - Carol lhe sorriu abertamente. Mas tem que admiti-lo, solucionei o caso! Aplacando-se, Jonas deslizou o braço ao redor dela e a beijou na cabeça. -Fez. Agora tenho os cabelos cinza, mas definitivamente nos proporcionou uma informação muito importante. -Voltarei para minha casa, farei algumas pesquisas imediatamente e verei que dados pode me proporcionar a Interpol sobre movimentos recentes de materiais necessários para uma bomba. Também comprovarei os cargueiros que se aproximarão da costa nos próximos dias- disse Aleksander. -Harrington, não vá atrás desta gente sozinho. Nikitin é perigoso e tem com ele algumas pessoas que o são inclusive mais. Ignatev é uma serpente venenosa. -Não posso me mover até que tenha algo mais sólido- disse Jonas. -Agora mesmo, tudo é especulação. -Levo Abigail para casa comigo- anunciou Aleksander às irmãs Drake. Quando retornar, lhe peçam que mostre o anel.


189

Capítulo - 16 -O que quis dizer ao Jonas?- Perguntou-lhe Abigail enquanto lançava sua bolsa sobre o sofá de couro suave e se girava para lhe enfrentar. Aleksander fechou a porta de sua casa alugada da praia e passou a chave. -Normalmente digo o que quero dizer, baushki-bau. A que se refere exatamente? -À parte de que quando nos casarmos necessitará de um trabalho. -Não sou independente economicamente e certamente não irei viver com seu dinheiro. Eu gosto de trabalhar- replicou ele. Seu olhar estava fixo nele. Brilhante, meio esperançosa, meio assustada. Parecia-lhe tão bela, ali esperando. Podia ver como subia e baixava seu peito, a forma em que seus seios se esticavam contra a fina seda do top. Parecia uma dama elegante, ainda com sua roupa de festa. Desejava-a como sempre fazia assim que estavam a sós. Sempre lhe golpeava assim, o desejo cru e intenso e tão forte que lhe sacudia. Alguma vez se incomodava em esconder-lhe isso mas do que serviria? Tinha tanto poder sobre ele, sobre seu corpo, sobre seu coração. Ela lambeu os lábios, esse pequeno golpe de sua língua lhe fez gemer. -Aqui? Estaria disposto a trabalhar aqui? -Acredito que é pessoa non grata em meu país natal- apontou ele. Podemos viver onde você queira, mas acredito que aqui é onde é mais feliz. Os lábios dela se curvaram, tremeram, mas conteve o sorriso, ainda temendo muito acreditar-lhe -Viajo muito por meu trabalho. -Eu gosto de viajar.


190 Tremia-lhe a boca e pressionou os dedos sobre ela. -Diz a sério? -Sim lyublyu tibya. Amo-te em qualquer idioma, Abigail. Em qualquer lugar que esteja sua casa, está a minha. -Mas você ama muito seu país. -Isso nunca mudará. Que viva aqui ou em uma ilha em qualquer parte não troca quem sou ou de onde venho. Sempre amarei meu país, mas isso não quer dizer que não possa amar outro igualmente. Você é a pessoa mais importante da minha vida, Abbey. Tentei viver sem você. Eu não gostei. -Está seguro, Sasha? Muito, muito seguro?- A cor desapareceu de sua cara. -Não poderia suportar te perder outra vez. Digo-o a sério. Pensa-o antes de responder. Somos muito diferentes. E você pode ser muito cruel às vezes. Não estou segura de que sejamos capazes de conviver durante muito tempo. -Sou incapaz de viver sem você, Abbey, assim encontraremos a maneira de fazê-lo funcionar. Assim são as coisas. Estudou sua cara como tentando ver além de sua expressão o que jazia mais profundamente. Ele havia dito a pura verdade e contava com o fato de que ela era uma mulher que reconhecia a verdade quando a ouvia. Tomou uns instantes para acreditar-lhe O coração saía do peito de Aleksander e sentia os familiares nós em seu estômago. E então a alegria iluminou a face dela, seus olhos, e pôde respirar outra vez. Abigail se lançou sobre ele, cruzando a distância que os separava com um par de saltos. Aleksander a apanhou, sua boca encontrando a dela, suas mãos lhe arrancando a roupa. Desceu-lhe de um puxão a jaqueta pelos braços e arrancou três botões de sua blusa de seda. Abbey foi pior, rasgou-lhe a camisa fazendo que todos os botões se pulverizassem em todas as direções. Ele desejava tocá-la, tocar essa suave pele acetinada que lhe punha tão selvagem. Sempre o fazia arder sozinho de saber que estava tão ansiosa por ele, deslizando as mãos para cima por seu estômago e peito, a boca frenética sobre a sua, pequenos sons de loucura emergindo-se de sua garganta. Aleksander lhe atirou as calças baixando-as pelos quadris, insistindo-a a que saísse delas. Ela tirou os sapatos de salto e permitiu que lhe tirasse a roupa. Fez girar aproximando-a e a colocou contra a parede, aprisionando-a. A blusa de seda branca ficou totalmente aberta, lhe proporcionando uma tentadora visão de seus seios cheios que se sobressaíam através do sutiã cor carne. Uma simples tira negra cobria só uma fração de seus apertados cachos vermelhos e três tiras formando um V embalavam a parte alta de suas nádegas. A boca de Aleksander foi áspera e ávida em seu desejo pela dela. Ela se entregava, mas não era suficiente. Uma parte dele estava furiosa com ela, furioso com ela por esses quatro longos anos passados e por que lhe tivesse deixado sozinho. Forçando-o a estar sem ela. Simplesmente partiu e não olhou atrás. Ficou só em um inferno em vida, enquanto viajava pelo mundo fazendo o que fosse que fizesse. Tirou-lhe os passadores astutamente colocados em sua vermelha cabeleira a fim de que esta se desabasse grosseiramente despenteada, justo como adorava.


191 -Me diga que me ama. - Ordenou-lhe bruscamente enquanto sua boca abandonava a dela para lhe encontrar a garganta, lambendo e chupando sua pele suave. Deixou um rastro de beijos para baixo, até que seus dentes encontraram um sensível mamilo e a arqueou contra ele, com a cabeça arremessada para trás e seu fôlego convertido em pequenos ofegos. Não era suficiente, sua rendição, sua oferenda. Tinha sido dela, seu corpo entregue a ele e logo tinha tirado. Lambeu e sugou nos mamilos, sua mão que se deslizou sobre o estômago para o belo púbico avermelhado. Diminutas gotas de umidade lhe deram bem-vinda. -Maldita seja, Abbey, diga-me isso, diga-me isso em voz alta e será melhor que o diga a sério esta vez. Ela lançou um grito quando a boca tomou posse de seu seio, sugando, seus dentes arranhando-a gentilmente, pequenos beliscões e dentadas brincalhonas. Afundou os dedos em sua cintura enquanto a mantinha sujeita contra a parede. Ela tentava lhe tirar a roupa; suas mãos foram para o zíper da calça e sentiu a sensação de seus dedos roçarem contra ele, os gritos roucos, e a úmida vagina quase lhe voltaram louco. Só Abbey podia destruir todo seu auto controle. Só seu corpo lhe voltava louco de desejo. Estava desesperado por ela, desesperado por sepultar-se em sua ardente e apertada vagina, por notá-la tão úmida e pronta para ele. Saber que lhe necessitava tanto como ele necessitava a ela. Queria ver seus olhos empanados pela luxúria enquanto conduzia seu corpo até quase a liberação uma e outra vez. Queria saber que seus pequenos gritos desesperados eram só por ele. -Se apresse, Sasha. - Logo que pôde pronunciar as palavras, ofegando enquanto tentava tirar-lhe a calça.- Não posso esperar para te sentir dentro de mim. Encantava-o a pequena tanga, mas tinha que desaparecer. Puxou a fina tira de tecido arrancando-lhe do corpo e deixando-a cair descuidadamente a um lado enquanto ficava de joelhos e lhe separava as coxas. -Maldita seja, Abbey, tem a menor idéia do muito que senti sua falta? Quanto senti falta de seu sabor? A sensação de ter você a meu redor? A outra noite não foi suficiente. Toda uma vida nunca será suficiente. Os dedos dela estavam enterrados em seus cabelos, tentava puxá-lo para poder aproximar-se, mas as mãos de Aleksander capturaram as suaves curvas de seu traseiro e sua língua lambeu sobre e dentro dela. Gritou, seu corpo saltou entre as mãos dele, mas a sujeitou firmemente, seus dedos a massageavam enquanto lambia seu calor e seu fogo. Tinha sonhado com isto noite atrás de noite, despertando com o corpo quente e o calor dela ainda em sua boca. Ela chegou, o orgasmo a atravessou, lhe deixando as pernas totalmente frouxas. Aleksander a agarrou pela cintura e a elevou em seus fortes braços, apertando-a contra a parede e afundando-se nela duramente, sem preâmbulos, enterrando-se profundamente em sua latente vagina. Ela era ferozmente ardente. Mais excitada do que a havia sentido nunca antes. Suas mãos foram rudes em suas demandas, mas Abbey o tomou em seu interior, ofegando, pedindo mais a gritos, cravando as unhas profundamente, jogando a cabeça para trás e seus seios bamboleando-se com cada duro impulso dos quadris dele.


192 Ali estava, esse olhar vidrado de absoluta rendição, de êxtase, que lhe cativava. Ardia por ele, emparelhando suas ferozes necessidades com as suas próprias, lhe oferecendo seu corpo como refúgio, como sua zona de jogo, como um instrumento de amor intenso. O dava tudo e ninguém nunca tinha feito isso por ele. As paredes de sua vagina pulsavam e lhe aferravam fortemente, tão ávidas dele como ele o estava dela. Inclinou-se para frente, tomando sua boca, um beijo tão faminto como sua ereção, sua necessidade era tão grande que resultava brutal em seus impulsos. Ela gritou outra vez, lhe alagando com nata quente, as paredes de sua vagina lhe ordenhavam e o aferravam, mas ele se negava a chegar. Colocou-a no chão, enterrado profundamente em seu corpo, montando-a dura, rápida e profundamente, sua face estava gravada por linhas de tensão, de excitação e prazer. -Sasha. - Ela ofegou seu nome, elevando-se para igualar cada impulso com outro próprio. Não podia colher fôlego quando orgasmo atrás de orgasmo a transpassavam. A sensação rasgou seu corpo, sua vagina, seu útero, subiu através do estômago até seus seios. Seu corpo inteiro pareceu pulsar, pulsar e fraturar-se. -Mais. Necessito mais de você. - Ele disse as palavras entre dentes. Não tinha nem idéia do que apaziguaria a terrível dor de seu coração. Mas a queria totalmente entregue entre seus braços, submetida a cada uma de suas demandas, gritando seu nome uma e outra vez e admitindo que lhe amava. Ficando de joelhos entre suas coxas, lhe separou mais as pernas, observando a forma em que se uniam, observando seu corpo movendo-se dentro e fora dela. Estava tão molhada, tão quente, seus peitos túrgidos e seus mamilos incrivelmente eretos. Levantou-lhe os joelhos ainda mais alto para ter ângulo para pressionar com firmeza contra seu clitóris. O corpo dela estremecia de prazer, quase lhe levando com ela enquanto ultrapassado de novo a beira, o orgasmo foi forte, mas ele se conteve, imobilizando seu corpo, sujeitando-a contra ele de tal forma que podia sentir a tensão de seus testículos enquanto repousavam contra a curva das nádegas dela. Acariciou com seus dedos, sentindo-a saltar em resposta. Seus punhos tratavam de cravar-se no chão, desesperada por encontrar algo ao que segurar. Retorceuse abaixo dele, gemendo brandamente, lhe suplicando. Ele se inclinou para frente para lhe murmurar, ardentes palavras apaixonadas, todas as coisas que tinha tido saudades de fazer com ela, todas as coisas que tinha intenção de fazer. Todas as formas em que a tomaria. Quanto desejava sua boca, tão formosa, tão quente e apertada sobre ele. Cada palavra erótica enviava estremecimentos de espera através de seu corpo fazendo que seus músculos se esticassem mais, fazendo que as paredes de sua vagina pulsassem com fogo e ardente líquido. -Diga que me ama, Abbey. -disse-lhe outra vez. Ela queria agüentar. Sabia o que ele faria, como reagiria exatamente a sua teimosa negativa. Ele era muito exigente ao fazer amor e gostava mais quando era assim, rude, insistente e criativo. Estava grosso, comprido e tão endemoniadamente duro que se sentia estirada e cheia. Ele estava ativando cada


193 terminação nervosa que tinha. Seus dedos estavam ocupados, acariciando, morando profundamente, brincando e atormentando; inclusive enquanto ocasionalmente se inclinava sobre ela para utilizar os dentes para entregar uma série de pequenas dentadas, sua língua seguia aliviando as diminutas espetadas de dor. Empurrou nela tão profundamente que pôde sentir a grossa cabeça topando-se contra sua matriz. A face dele estava esculpida com intenção, com desejo, seu corpo poderoso empurrava com força e profundamente, repetidas vezes, conduzindo-a mais e mais perto da beirada do êxtase. -Diga-me isso - disse ele, sua expressão se voltou selvagem. Ela não podia suportar a dor em seus olhos. Sua cara era áspera e escura e seus olhos eram como duas tormentas. Necessitava-a. Estava cru e sério e tão intenso que não podia lhe negar nada. Nem sequer a verdade. -Atemoriza-me o muito que te amo- admitiu ela. Ele ficou imóvel. Enterrado profundamente nela, sua sedosa vagina um punho que lhe aferrava, seu corpo suave em sinal de rendição abaixo dele, ficou com o olhar fixo nos olhos dela. Os lábios estavam machucados por seus beijos, os seios rosados, os mamilos dois duros picos, e os olhos estavam meio aturdidos pelo desejo, mas viu mais à frente do frenesi selvagem de calor e luxúria que compartilhavam. Viu-o claramente nas profundidades dos olhos dela. -Abbey- sussurrou seu nome. Ela sacudiu a cabeça. -Desejo-te tanto que algumas vezes não posso respirar, ou pensar corretamente. Não me importa o que está bem ou mau. Esqueço-me do futuro, do passado, de tudo, porque te desejo. Desejo-te tão profundamente enterrado em mim que nunca volte a sair. Quero estar estirada e cheia e cair adormecida com você me beijando e me abraçando e despertar com você me lambendo como um caramelo, como se nunca fosse ter o suficiente de mim. O que mais me aterra do mundo é te amar, Sasha, porque não sei o que faria sem você. Ele inclinou a cabeça e encontrou sua boca, beijando-a uma e outra vez, tratando de apagar a dor de sua voz e o medo de seu coração. Sua língua se enredou com a dele, um baile de amor que rapidamente aumentou em ardor e desejo. Seus quadris começaram de novo um ritmo lento e sedutor. Ele se endireitou e lhe colocou os tornozelos sobre seus ombros. -Está a salvo comigo. Abigail fechou os olhos quando o corpo dele se deslizou quase fora do dela e logo voltou a deslizar-se profundamente em seu interior com um duro golpe. O calor começou a acumular-se, propagando-se como um fogo incontrolado, seu corpo serpenteava cada vez mais e mais apertado enquanto os quadris dele baixavam e ele a colocava de forma que pudesse acariciar seu ponto mais sensível. O prazer aumentou até que acreditou que teria que gritar pedindo alívio. Aumentou e aumentou, mais e mais alto, mais e mais apertado, seu corpo já não era dela, estava completamente a sua mercê. -Não posso chegar outra vez, é muito- ofegou sem fôlego, sua cabeça se movia de um lado a outro. Mas tinha que fazê-lo, necessitava alívio mais que nada neste momento.


194 -Chegará para mim- decretou ele. -Uma e outra vez. Nunca há muito prazer. Sinta-nos, maia lyubof. - Estava mais duro e mais grosso do que nunca tinha estado, inchando-se dentro da ardente luva que lhe rodeava. Ela era como um punho, lhe sujeitando, lhe esfregando, lhe espremendo e exigindo mais. Sempre mais. Não queria que terminasse. Não queria que as súplicas ofegantes e ansiosas se detivessem. Ela gemeu, um pequeno som suave que ele tinha estado esperando, sabendo que chegaria quando empurrasse levando-a mais à frente do ponto onde ela pensava que poderia chegar. Estava perdida no prazer, retorcendo-se abaixo dele, elevando-se para encontrar o duro impulso de seu corpo no dela. Deleitouse na sensação dos músculos aferrando e ondulando, tão desesperada por ele. Começou a mergulhar-se nela, sujeitando fortemente os tornozelos a seus ombros para ter o ângulo perfeito e poder introduzir-se como um pistão nela mais e mais rápido. Sentiu estremecer o corpo dela, romper-se, explodindo ao redor dele, lhe levando com ela, as paredes vaginais lhe sujeitaram como um apertado punho, tão ardente que pensou que estalaria em chamas. Seu grito rouco se uniu ao dela e sentiu ceder seus joelhos enquanto se esvaziava profundamente em seu interior. Soltando seus tornozelos, ajudou-a a baixar as pernas ao chão e permitiu que seu próprio corpo se posasse sobre o suave colchão do dela. Manteve-a sujeita contra o chão, seu corpo profundamente enterrado nela sentindo cada ondulação, cada sacudida elétrica. Adorava isto, o momento depois quando o mais ligeiro toque a seus mamilos ou pescoço, o embalar suas nádegas ou lamber sua pele, enviava outro estremecimento do prazer através dela de modo que seus músculos se convulsionavam ao redor dele. Abigail jazia com o duro chão contra as costas e o corpo derretido ao redor do dele. Havia linhas gravadas na face dele que não tinham estado ali antes e levantou a mão e as riscou com a ponta do dedo. Acariciou seus lábios cinzelados e passou a palma sobre sua mandíbula obscurecida. Inclusive agora, depois de ter compartilhado tanto, podia parecer tão solitário. Nunca parecia importar quanto se entregava, podia ver a solidão nele. Era parte dele, embora ele não parecia notar que estava ali. -Por que chora, baushki-bau?- Havia um grunhido gutural de desgosto em sua voz. Inclinou-se para frente e lambeu as lágrimas de sua face com a língua. O simples movimento fez que seus músculos revoassem e se fechassem hermeticamente ao redor dele. Ela virou a cabeça apartando-a dele, mas não antes que visse um brilho de dor em seus olhos. Seu coração saltou. Imediatamente ele saiu de dentro dela, ficou de joelhos para tirar seu peso enquanto olhava ao redor, fazendo uma valoração rápida do quarto. Suas roupas não podiam ser recuperadas. Teria que fazer uma escapada cedo na manhã para lhe conseguir algo que vestir, mas agora o mais importante, aqui não havia um lugar confortável para dormir. Agarrou-a em braços, embalando-a contra seu peito. -É tão formosa. -Pareço um desastre- protestou ela, escondendo a cara contra seus pesados músculos. Ele sentiu o toque de sua língua sobre a pele e suas terminações nervosas saltaram de prazer.


195 -É formosa. - Levou-a através da casa até o dormitório mais próximo e a seguiu até o colchão de plumas, lhe beijando o rosto, os olhos, as comissuras da boca e lhe mordiscando o lábio inferior antes de colocar seu corpo ao redor do dela, seus braços sujeitando-a perto. -Me diga por que chora. -Talvez seja realmente feliz. - Tragou e tentou um aquoso sorriso. -Os buscadores de verdade são uns mentirosos terríveis. - Beijou-lhe a ponta de seu nariz, deu uma pequena dentada a seu queixo e a beijou ali também. -Por que me olha assim às vezes depois que fazemos amor? Vi-o antes. Parece tão triste, embora saiba que é feliz comigo. Ela se virou entre seus braços de maneira que pudesse lhe olhar o rosto. -Mas você é realmente feliz comigo?- Riscou seus rudes rasgos, exatamente como tinha feito antes, e a lembrança dela fazendo isso mesmo o alagou. A forma em que as pontas de seus dedos lhe acariciavam como apagando algo. -Percorri meio mundo para te encontrar. Verti meu coração e minha alma em cartas que escrevi minuciosamente. Tive que enviar as malditas cartas através de toda parte da Europa porque estava tão paranóico que acreditava que alguém as leria. Até estabeleci uma compartimento postal na França em vez de em meu país quando compreendi que iria seguir as devolvendo. Contudo, ainda assim persisti que não me faz feliz? Ela deu de ombros, seu olhar se separou do dele. Aleksander apanhou seu queixo. -Abigail, me diga. Simplesmente diga-o em voz alta. Fale tudo para podermos viver juntos como deveria ter sido todo este tempo, -Você gosta do meu corpo. Ele ficou com o olhar fixo em sua face durante um longo momento, tratando desesperadamente de não chorar. Adorava seu corpo. Que homem não adoraria as curvas exuberantes e suaves como a seda? Adorava a forma em que respondia a ele, a forma em que confiava nele tão completamente. Ela era um refúgio, um lugar secreto de beleza absoluta em um mundo onde encontrava a maior parte das coisas tristes e feias. Agora mesmo jazia quase abaixo dele, sujeita por seu peso, seus seios suaves empurrando contra seu peito, os mamilos roçando sua pele, uma perna enredada com a dele. Sua mão embalava a curva de seu traseiro, seus dedos a acariciavam, e nem uma vez se afastou dele. Nunca dizia basta. Nunca protestava por nada que ele queria fazer. Entregava-se a ele total e completamente. O nó de sua garganta ardeu. -Adoro seu corpo, sim. Eu adoro tudo em você, Abbey. Inclusive sua veia teimosa, embora acredite que a próxima vez que se volte contra mim vou converter-me em um cavernícola e ser politicamente incorreto e insensível. Não quer que adore seu corpo?- Deslizou as mãos para baixo pela espinha dela, atraindo os apertados cachos contra os seus. -Cada vez que te toco, cada vez que tomo, não importa quanto o faça, estou dizendo da única forma que sei quão intensos são meus sentimentos por você. Na realidade não há forma de expressar com palavras o que sinto por você. -Mas depois, quando acabamos, quando termina, parece tão sozinho. Nunca quero que termine porque sei que esse olhar se arrastará de volta sem importar o que eu faça.


196 Havia dor em sua voz. As lágrimas alagavam seus olhos. O coração de Aleksander se derreteu de uma forma curiosa que nunca antes tinha experimentado. -Sim lyublyu tibya. Sempre. Nunca haverá suficiente tempo no mundo para estar com você. Para te tocar e fazer amor. Amo você sempre, Abbey. Quando estamos pele contra pele e meu corpo está dentro do seu, sei que estou em casa a salvo e sou amado. Nunca tinha tido isso antes e talvez uma parte de mim incluso não confie nisso. Sei que não quero ser autoritário quando fazemos amor, mas uma parte de mim o necessita. Preciso fazer que se entregue para mim. As mãos dele emolduraram sua face. Beijou-lhe a garganta, o queixo e ele sentiu suas lágrimas sobre a pele. Seu corpo se moveu abaixo do dele, uma pequena mudança sutil, flexível e acolhedor. Estava-lhe matando. Como poderia lhe demonstrar alguma vez o que significava para ele? Enredou as mãos entre seus cabelos, puxando para lhe jogar a cabeça para trás para olhá-la aos olhos. -Não me deixe outra vez, Abbey. Não me faça isto. Não estou nunca só quando estou com você. Nunca. Não importa o como parece estar, não me sinto sozinho quando está comigo. -Amo tanto você que dói, Sasha. Não acredito que pudesse suportar outra separação. -Satisfaz-me completamente, Abbey, nunca creia que não o faz. Aleksander esfregou o nariz contra o pescoço dela enquanto a envolvia entre seus braços, seu corpo encaixava ao redor do dela protetoramente. -Eu adoro como cheira depois que fazemos amor. Ela sorriu na escuridão. -Eu acredito que é primitivo. Quer seu aroma sobre mim. -Isso também. - Pressionou seu corpo mais perto, desejando meter-se sob sua pele. -Depois de que foi, passava acordado as noites, recordando as curvas de seu corpo e quão suave foi. - Sua mão lhe embalou um seio, seu polegar deslizou sobre o mamilo. -Assim. Cheio, redondo e tão condenadamente suave que parece o céu. - Fechou os olhos e enterrou a face em sua sedosa cabeleira. Recordava cada detalhe. E quando não podia dormir pensava em como seu corpo se retorcia, cada vale, seus quadris e seu traseiro. Adoro seu traseiro. -Está obcecado, Aleksander. Isso não é bom. -Pode ser que não, mas me manteve cordato. - Beijou um lugar entre suas omoplatas. -Antes de conhecer você, tinha uma vida satisfatória. Levantava-me pela manhã, tomava meu café e ia ao trabalho. Qualquer que fosse o caso no que estava trabalhando, consumia minha manhã, tarde e noite. Algumas vezes trabalhava até as duas ou três da madrugada. Olhando atrás, dou-me conta de que não tinha amigos. Não me atrevia. A traição é uma forma de vida e aproximar-se muito a alguém é questão perigosa. Quando te conheci, a primeira coisa que me golpeou realmente foi a forma em que sorriu. Era tão genuína. Iluminava seus olhos e seu rosto e parecia sair de algum lugar de seu interior. Não queria absolutamente nada de mim. -Seus dentes lhe morderam a pele, sua língua lambeu a marca pequena. -Eu queria algo de você e estava envergonhado. Nunca tinha sentido vergonha antes. Foi uma experiência nova e muito desagradável para mim. Desejei que nosso encontro tivesse sido realmente casual.


197 -Doeu quando me disse isso pela primeira vez- admitiu ela -mas agora não parece tão terrível. Ao menos nos conhecemos. Eu adorei a forma em que me tocou. Muito forte, muito seguro, me guiando através de uma rua lotada. - Sorriu ante a lembrança. Sua expressão tinha sido tão forte, tão completamente séria, mas de confiança. Tinha sido um quebra-cabeças para ela. Quanto mais estava em sua companhia, mais coisas descobria. A primeira vez que ele riu, seu coração se elevou e soube que era ele. Que sempre seria ele. Adorava ser a pessoa que punha risada em seus olhos. Ele sorria, mas raramente chegava a seus olhos e quando ria, ela respondia com todo seu ser. -Eu não sabia que existia gente como você- admitiu ele. -Cresci em uma escola. Um lugar onde eles me treinavam. Não tínhamos mães nem pais, tínhamos professores. Trabalhamos em nossas habilidades todo o tempo e inclusive na hora do recreio. Não sabíamos que outros tinham diferentes vidas, porque isso nos parecia natural. Seu coração se condoeu por ele. Trocou de posição outra vez, de costas a ele, pressionando suas nádegas firmemente contra a virilha dele, sua face sepultada no travesseiro. Se chorasse, ele deixaria de falar de seu passado. Sempre se detinha se acreditava que estava triste e por muito que lhe doesse ouvir falar de sua infância, queria saber. Era sempre tão taxativo. Nunca deixava lugar para a simpatia. Não tinha conhecido outra forma de vida e isso lhe parecia natural. Dever. Trabalho. Adquirir as habilidades necessárias. Ela sabia que seus professores tinham moldado uma arma, ampliando sua mente e aumentado sua habilidade atlética natural e seus reflexos. Aleksander acariciou sua sedosa cabeleira. -Tínhamos que pedir a comida em ao menos três idiomas. Nunca tínhamos permissão para utilizar só um idioma quando falávamos. Se dizia algo a um professor, ou a qualquer outro, tinha que dizê-lo três vezes. - Levantou-lhe os cabelos da nuca, seus lábios passaram sobre a pele. -Não me importava. Era uma provocação ser capaz fazê-lo, mas nem todos tinham habilidade para os idiomas e era mais duro para eles. -Como de duro foi para você?- Seus dentes e sua boca a voltavam louca lentamente. Ele mordiscava, lambia e chupava e seu corpo começava a responder à estimulação com um lento ardor. Sentiu o sorriso dele contra o pescoço. -Eu não gostava que ninguém me dissesse o que tinha que fazer. Se pensava que havia uma forma melhor de obter algo, o fazia a minha maneira. -Metia-se em problemas?- Fechou os olhos quando as mãos lhe embalaram os seios e seus dedos fortes começaram um lento assalto a seus sensíveis mamilos. -Freqüentemente era repreendido. Acredito que era parte considerável do treinamento. Não tínhamos permissão para fazer nenhum som ou responder quando nos golpeavam. Acredito que estabeleciam essa condição para ajudar como operação no caso de que fossemos capturados e torturados. Sua ereção estava aumentando contra ela, endurecendo-se até uma persistente protuberância. Sentiu uma pequena gota de umidade sobre sua nádega. Os quadris dele se moveram com um lento e lânguido ritmo, quase pesaroso, quase como se não pudesse evitar enterrar-se em sua suavidade.


198 -Só eram meninos- protestou Abigail. -Não era certo. - Não pôde evitá-lo, empurrou para trás, esfregando o traseiro contra ele em um lento deslizar, descansando a cabeça para trás contra ele para poder arquear os seios entre suas mãos. -Não conhecíamos nada diferente- ele disse de novo. -Como diabo faz para ser tão suave?- Suas mãos eram calosas e ásperas mas ela nunca protestava. Abigail nunca evitava que a tocasse e isso significava tudo para ele. Às vezes se sentia ansioso por seu tato. Pelas mãos dela sobre ele, por suas mãos sobre ela. Massageou-lhe os seios, puxando seus mamilos, sua boca na nuca. -Tem que dormir- disse ela, mas seu corpo deslizou contra o dele de forma convidativa. Ele fechou os olhos brevemente, saboreando que ela era seu milagre. Seu convite. Sua aceitação. A forma em que parecia saber o que ele necessitava. -Não posso dormir. Minha mente não descansará. Freqüentemente era assim. A maioria das noites se levantava e caminhava quando não podia dormir, ou tirava os arquivos de seu caso ou estudava os dados no computador. Ficar na cama abraçado a Abigail normalmente dava suficiente paz para descansar, mas não esta noite. Esta noite havia nós em seu estômago. O medo que ela pudesse desaparecer ainda lhe apunhalava. O medo que não fosse capaz de lhe aceitar como realmente era. Ele tinha sido formado desde muito jovem para ser desumano e frio quando era necessário, para fazer o que fosse necessário para obter seu objetivo. Havia um lado escuro nele, um que Abigail tinha vislumbrado antes. E sabia que essa parte dele a assustava. Talvez sempre a assustaria. -Não vou deixar você outra vez, Aleksander. -Disse que eu aterrorizava você. Ela riu brandamente. -Disse que me aterrorizava o muito que te amo. Há uma enorme diferença. - Separou-se de seus braços, tirando com um puxão a pesada colcha enquanto se ajoelhava junto a ele. Seu comprido cabelo caiu como uma cascata sedosa e lhe roçou intimamente o estômago. -Precisa dormir. -Soa como uma pequena ditadora. - Seu corpo estava de repente totalmente ereto, rígido, duro e dolorido. Deslizou a mão sobre o pulsante eixo. Desejava-a uma e outra vez. Não havia nenhum final para isso. Agora mesmo lutava contra a urgência de agarrar um punhado de cabelos e lhe arrastar a cabeça para sua ereção cheia, dolorida. Ela lambeu os lábios, lhe observando com seus misteriosos olhos verdes, olhos que se tornaram sonolentos e sexys. Seu fôlego se fez mais rápido e seus seios se elevavam tentadoramente com cada inspiração que tomava. -Sei. Não precisa pensar em nada agora mesmo. As mãos dela trataram de alcançar sua palpitante ereção e o fôlego abandonou seus pulmões em uma larga rajada. Parecia tão sexy elevada sobre ele, seus seios cheios e arredondados, rebolando enquanto se movia sobre ele. A curva de seu traseiro lhe seduzia e subiu as mãos para acariciar as arredondadas bochechas. De repente ela inclinou a cabeça, sua ardente boca tomou a metade da ereção.


199 -Oh, demônios, Abbey. - ofegou, suas mãos se elevaram para enredar-se entre os cabelos dela. Sua boca era pura seda ardente, apertada e úmida e deslizando-se sobre ele com malvadas intenções. Uma mão acariciou o apertado escroto e com a outra agarrou a base. Moveu a cabeça para ter uma vista melhor dos lábios dela deslizando-se acima e abaixo. A boca estava molhada enquanto se deslizava sobre sua ereção, deixando atrás um brilhante rastro de umidade. Era tão formosa que queria chorar, tão sexy que uma parte dele se sentia quase animal em seu desejo por ela. A visão fez que seu coração palpitasse ferozmente e apartou todo pensamento cordato de sua mente. Essa língua realizava uma espécie de baile formando redemoinhos e a necessidade atou seu estômago. Tinha que tê-la mas já estava preparado para fazer erupção no calor de sua boca e sua língua que executava um baile selvagem. Ela respirou e ele o sentiu vibrar diretamente através de sua ereção. Ela trabalhou até sua garganta e seu corpo inteiro se sacudiu. -Tem que se deter. Isto vai muito rápido e quero estar dentro de você outra vez. - Seus punhos se apertaram entre os cabelos dela, pensava arrastar a cabeça longe dele, mas seu corpo tinha outras idéias e a sujeitou contra ele enquanto empurrava os quadris profundamente. Podia sentir o sedoso calor da boca, apertada como uma luva e um gemido rouco escapou antes que pudesse detê-lo. -Outra vez - ordenou com voz irreconhecível. -Faz isso outra vez. -Teria jurado que ela riu. As sensações lhe atravessavam e seu desejo lhe arranhou as vísceras até que esteve seguro de que explodiria. Tomou um fôlego tranqüilizador e se retirou, desejando o refúgio de seu corpo outra vez. Arrastou-lhe a cabeça atrás e a agarrou pela cintura, levantando-a. - Me monte escarranchado. Abigail abriu as coxas e se colocou sobre ele com um lento e sedutor rebolado que enviou profundos estremecimentos de prazer através de seu corpo. Ela estava quente, mais quente do que a tinha visto antes, tão apertada que teve que trabalhar para atravessar as suaves dobras aveludadas, e cada empurrão enviou um rugido através de sua cabeça e apertou os nós de seu estômago. Com os dedos lhe apertava a cintura e começou a forçá-la a lhe montar com dureza e rapidez, estabelecendo um ritmo brutal com seus quadris que empurravam para cima. Os músculos dela se convulsionaram a seu redor quase imediatamente. Ela gritou, com a cabeça para trás, seu longo cabelo lhe acariciou as coxas. Embutiuse nela, conduzindo-se mais profundamente, essa afiada necessidade lhe reclamava, tomando, enquanto ela se arqueava para trás, lhe dando melhor acesso a seu ponto mais sensível. Os músculos se fecharam em torno dele como um punho; um calor líquido lhe rodeou. Seu corpo inteiro sentiu o crescente desejo, uma contração dolorosa de cada músculo, esperando, à expectativa. Ela chegou ao clímax outra vez, tão forte que seu corpo estremeceu e seus pequenos músculos lhe aferraram como um ardente punho, lhe deixando seco, tomando-o tudo dele até que não teve mais eleição que perder o controle e esvaziar-se nela. Abigail se paralisou sobre ele, com a cabeça sobre seu ombro, seus cabelos esparramados em um selvagem matagal de seda vermelha. Seu fôlego chegava nos mesmo ásperos ofegos que o dele. Podia sentir o palpitar de seu coração


200 através de sua suave pele. Aleksander abriu seus braços abraçando-a firmemente contra ele. -Preciso ouvir dizer isso, Abbey. -Acabo de lhe demonstrar isso. -Lambeu-lhe a garganta, com uma pequena passada da língua. Ele estava desfrutando dos tremores secundários que atravessavam o corpo dela e essa pequena lambida só aumentou seu prazer. Seus dedos lhe apartaram os cabelos a um lado. -Ainda quero ouvir você dizer isso. -É muito exigente. Quer tudo. Adorava essa nota sonolenta e sexy em sua voz quando brincava com ele. Agachou-se e puxou a colcha sobre seus corpos. Assim era como recordava tantas noites com ela. Fazendo amor muitas vezes, de muitas formas até que ficavam esgotados e cobertos de sexo e grudados um no outro. Não podiam mover-se. Não queriam mover-se. Só podiam jazer enredados um nos braços do outro tentando averiguar como respirar e acalmar seus palpitantes corações. -Diga. - insistiu ele. -Eu digo isso a você todo o tempo. Acredito que deveria haver uma regra segundo a qual tivesse que me dizer isso ao menos uma vez cada vez que façamos amor. -Estaria mimando você. - Seus olhos estavam fechados. Ele podia ver o cós escuro das pestanas sobre suas bochechas e o sorriso apenas perceptível lhe curvando a boca. -Necessito que me mime. Ela bocejou e se agarrou contra ele. -Amo você muitíssimo, Sasha. A satisfação lhe alagou. Abraçou-a, sentindo a elevada e queda de seus seios contra o peito. Seu corpo se deslizou fora do dela, mas jazia acomodado em seu ninho de cachos. Trocou-a de posição gentilmente até que a teve de flanco com ele preso ao seu redor, sua posição favorita para dormir. E sabia que dormiria. Ela tinha conseguido acalmar sua mente e apaziguar aos demônios que lhe tinham em suas garras. Abraçou-a, escutando-a respirar. Quando ela estava quase dormindo lhe sussurrou ao ouvido, -Se tocar você outra vez, cobrará vida para mim? Me deixará ter você, Abbey?- Deslizou a mão entre suas coxas e a cavou sobre seu montículo feminino. -Tão cansada como está, se entregaria para mim? Ela virou sua cabeça para ele, sorrindo, seus olhos verdes lhe olhavam diretamente. Estendeu para trás uma mão lhe alcançando o pescoço, arqueandose para trás e encontrando sua boca, lhe beijando apaixonadamente e mostrando a rendição anterior. -Acredita que mudou algo em dez minutos? Estava rindo dele. Mordeu-lhe o lábio inferior, afastou-se um momento, logo envolveu os braços ao redor dela e apoiou o queixo em sua cabeça. -Durma. -Poderá dormir? -Sim. -Se despertar no meio da noite....


201 -Já sei exatamente como despertarei- prometeu-lhe.

Capítulo – 17 Os golpes na porta da casa das irmãs Drake fizeram que Abigail se levantasse, os papéis sobre a investigação nos que estava trabalhando deslizaram até o chão e as notas se pulverizaram por todas as direções. Soube que algo ia mal antes de abrir a porta, mas a última pessoa que esperava ver era Sylvia Fredrickson. Abigail cravou os olhos na mulher, impressionada por sua aparência. Os olhos de Sylvia estavam avermelhados e inchados de chorar. Suas roupas estavam desarrumadas e soluçava grosseiramente. -Sylvia!- Incapaz de pensar que mais fazer Abigail a ajudou a entrar na casa. -O que passou? Teve um acidente?


202 -Não sabia aonde mais ir. - Os olhos dela aumentaram com surpresa quando olhou ao redor da sala de estar, como se temesse que algo saltasse e a atacasse. -Não tinha nenhum outro lugar aonde ir. -Me deixe chamar Libby. Necessita uma ambulância? A polícia?- Abigail podia ver a aura vermelha e negra rodeando Sylvia. - Sente-se. Vai desmaiar? -Não! Não chame à polícia. Faça o que faça não os chame. Tem que me ajudar. Não sei o que fazer. - Começou a retorcer as mãos. -Não sei o que fazer. Você é muito preparada. Todas vocês são realmente preparadas. Tem que me dizer o que fazer. Abigail jogou uma olhada às unhas rotas, às contusões nos pulsos e braços de Sylvia. -De acordo. Só sente-se. Respira fundo. Ajudarei você. O farei Sylvia. Por favor sente-se.- Pôde sentir como tremia a mulher enquanto a ajudava a sentarse na cadeira. -Só me diga o que aconteceu e tentaremos resolvê-lo juntas. Abigail agitou uma mão despreocupadamente para a chaminé para acender várias velas e difusores aromáticos e encher o ar dos perfumes de camomila romana, gerânio e lavanda para ajudar a reconfortar Sylvia. -Sei que me odeia e não deveria ter vindo aqui, mas não há nenhum outro lugar aonde possa ir. Não sei o que fazer e você sempre sabe. - Sylvia agarrou o lenço que Abigail lhe oferecia e assuou o nariz. -Não acreditará em mim, mas realmente amo ao Mason. De verdade. Nunca lhe teria enganado, mas tivemos uma briga terrível e estava furiosa com ele; Bruce estava no bar se queixando e ambos nos embebedamos. Estava muito bêbada. -O que aconteceu esta noite?- animou Abigail. -Vão fazer mal a ele. - Sylvia saltou sobre seus pés e começou a andar, retorcendo as mãos de novo com agitação. -Inclusive poderiam lhe matar. Tem que lhe ajudar. Tem que fazer algo. -Quem vai matar ao Mason? Por quê? -Chad Kidman. - Sylvia virou. -Está fazendo algo terrível. Ilegal. E sei que se mesclou com gente muito má. Chad tinha um aspecto horrível, sua cara estava toda negra, azul e torcida. -Sylvia, está Mason em problemas agora mesmo? Onde está?- Abigail se manteve firme em sua paciência. -Sei que está nervosa, mas se não se acalmar e me contar tudo, não vou poder ajudar ninguém. -Sylvia- Libby saudou a mulher enquanto entrava na sala, as outras irmãs Drake a seguiam. Libby tomou à mulher pelo braço e a conduziu de volta à cadeira. -Faz o favor de se sentar. Trouxe uma xícara de chá. Toma um par de sorvos e se sentirá muito melhor para nos contar o acontecido. -Não podem ir à polícia- disse Sylvia ansiosamente. -Sei que se formos à polícia o matarão. Ouvi-lhes às escondidas quando falavam. Querem ao russo, Aleksander Volstov. Abigail lhe conhece. Estava com ele a outra noite no Caspar Inn. - Estendeu a mão outra vez para Abigail e a agarrou fortemente. - Por favor, fala com ele. Diga que tem que ir e trazer Mason de volta. -Por que querem Aleksander?- Abigail estabeleceu contato visual com Joley, que assentiu com a cabeça e saiu da sala para chamar Aleksander. Sylvia tomou a xícara de chá da Libby e inalou o aroma tranqüilizador. Obviamente lutava por recuperar o fôlego. Libby se sentou a seu lado e muito


203 amavelmente envolveu os dedos ao redor da mão de Sylvia. O tremor diminuiu e Sylvia arrastou ar a seus pulmões. Abigail se agachou ante a mulher despenteada. -Nos conte no que está metido Mason. - Queria manter Sylvia tranqüila até que chegasse Aleksander. -Chad me chamou ontem a sua casa e me disse que Mason iria a grande festa da galeria de arte. Ele sabe o que sinto pelo Mason. Sempre fomos bons amigos e sabia que eu queria arrumar as coisas com o Mason. - tocou-se a cara. -Saí correndo, comprei um vestido novo e fui, incluso sabendo que seria terrível e que ninguém falaria comigo. Só queria que Mason visse que falava a sério de estar com ele, mas tudo saiu errado. -E você estava zangada comigo- disse Abigail. Sylvia assentiu. -Acreditava que era sua culpa. Ele averiguou o caso da aventura que contei por sua causa e cada vez que via o vermelhão em meu rosto se recordava do que eu tinha feito. - Abaixou a cabeça. -Estava tão desesperada para me desfazer disso que até fui ver Lucinda, a dama vodu do Point Areia, mas não serve de nada. Estava conversando com o Ned Farmer e a estúpida erupção estava de repente outra vez em minha face; virei e Mason estava ali em pé. Pude ver sua desilusão. Partiu sem dizer uma palavra. - As lágrimas encheram seus olhos de novo. -Sinto muito, Sylvia- disse Abigail amavelmente-, mas onde está Mason agora? Tem que nos contar o que aconteceu. O que se passou? -Estou tentando- Sylvia tomou outro sorvo de chá. -Mason entrou nos fundos da galeria onde trabalha Chad. Esperei e esperei por ele para que pudéssemos falar, mas não saiu. E então me topei com o russo, que estava com você no Caspar Inn. - Tragou convulsivamente várias vezes. -Estava tão zangada com você. Queria te ferir como eu estava ferida e lhe perguntei se queria ir aos fundos comigo. Acreditava que Mason estaria ali, mas não estava. -Está bem, Sylvia- consolou-a Abigail. -Entendo. Sylvia sacudiu a cabeça. -Não, não entende. Mason nunca voltou para casa. Fiquei sentada no alpendre toda a noite e nunca voltou para casa. Passei por seu barco mas tampouco estava ali assim decidi perguntar ao Chad. São muito bons amigos. Sua voz se rompeu. -Eu acreditava que eram bons amigos. -Estou segura que Aleksander nos ajudará- ofereceu Abigail. Conhecia Sylvia desde a terceira série e nunca a tinha visto tão mal. -Mason me amava realmente. Ele não pensava que fosse estúpida ou uma prostituta, ou nenhuma das outras coisas que pensam todos os outros. Não posso acreditar quão estúpida fui em arruinar tudo por uma briga estúpida. -Sylvia, onde está ele? O que aconteceu? -Quando não voltou para casa, fui onde estava Chad para lhe perguntar se tinha visto Mason. Chad estava entrando em seu caminhão e não viu que lhe chamava. Segui-lhe até esse velho celeiro abandonado que há depois do desvio do Caspar. Já sabe, esse que parece que vai cair de um momento a outro. A vegetação cresceu por todo o caminho até a casa. Estacionei meu carro a certa distância e me aproximei arrastando-me


204 -Por que?- Abigail olhou aos jeans sujos de Sylvia, os joelhos com rodas negras. -Não sei. Ele estava atuando de forma estranha e estava espancado como se tivesse participado de uma briga terrível. Seguia olhando continuamente a seu redor para ver se alguém o seguia e tive medo. Acreditei que talvez tivesse brigado com o Mason. Escondi-me entre os matos e me aproximei sorrateiramente do celeiro até que pude olhar através de uma das tábuas rachadas. -Sylvia!- Abigail estava horrorizada. -Poderiam ter matado você. No que estava pensando? -Não sei. Só queria encontrar Mason. -Aleksander está aqui- disse Joley brandamente. -Ele nos ajudará Sylvia. Sylvia ofegou com horror quando viu Jonas seguir Aleksander através da porta. Começou a sacudir a cabeça violentamente. Abigail resgatou a xícara de chá. -Jonas não está de uniforme, Sylvia. Sabe que é amigo de Mason. Nunca faria nada que pusesse em perigo sua vida. -Estava com o Aleksander quando Joley lhe chamou- explicou Jonas. -Não pude evitar escutar. Conheço esta costa melhor que a maioria, Sylvia e ninguém vai matar ao Mason se eu puder evitar. -Sylvia justamente nos estava contando que tinha seguido Chad até o velho celeiro que está na saída do Caspar. Esperava encontrar Mason e acreditou que Chad estava atuando de maneira estranha- disse Abigail. -Assim lhe seguiu. Sylvia assentiu -Olhei no interior do celeiro e havia um homem ali em pé apontando uma pistola à cabeça de Mason. - Estalou em soluços outra vez, sufocando-se, pressionando a palma da mão sobre a boca para amortecer os sons. - Iam darlhe um tiro ali mesmo. Naquele momento, diante de mim. -Elevou o olhar para Abigail. -Estava tão assustada. Tinha medo de me mover. -É obvio que tinha. Qualquer um teria tido. -Antes que pudesse apertar o gatilho outro homem saiu de entre as sombras. Não o tinha visto nunca, mas posso dizer que todo mundo lhe tinha medo, especialmente Chad. -Chad ia deixar que disparassem em Mason?- Jonas amaldiçoou e se virou. -Nunca teria pensado isso dele. -Talvez não tivesse escolha- disse Abigail. Olhou inquisitivamente Aleksander, lendo a resposta em seus olhos. Ele acreditava, como ela, que o homem que saiu das sombras era Prakenskii. Era lógico que Chad lhe tivesse muito medo. -O homem disse que podiam utilizar Mason. Disse que Volstov ou a polícia não tinham nenhuma pista do que estava ocorrendo e que deveriam aproveitar a oportunidade. Chad podia transportar isso e eles reteriam o Mason até que retornasse. Não sei o que era, mas Chad seguia sacudindo a cabeça e parecia que iria chorar. -Referiram-se a algo como "isso", mas não disseram nada absolutamente que te ajudasse a identificar o que era?- perguntou Jonas. Sylvia sacudiu a cabeça.


205 -Falavam da ameaça que podia ser Volstov. Inclusive Chad disse. - Olhou Aleksander. - Devem ter muito medo de você. Pode fazer algo? Por favor, faça algo. -Esse homem, do que todos tinham medo, falava com acento russo? Levava os cabelos relativamente longos?- perguntou Aleksander. Sylvia assentiu. -Disse algo a Mason que não pude ouvir e Mason chutou para ele. O homem pareceu voltar-se louco e disse ao Mason que se aparecesse a polícia perto do celeiro, era um homem morto. Mason lhe cuspiu. Ele empurrou a arma contra a cabeça de Mason e não pude evitar e gritei. -Isso não soa a Prakenskii- disse Aleksander. -Sim! Esse era seu nome. O outro russo lhe chamou Prakenskii. Entretanto, soava diferente quando ele disse. - Agarrou o lenço de Joley e assuou o nariz. Saiu do celeiro e eu corri tanto como pude. A meio caminho de meu carro alcançou-me, agarrou-me pelo tornozelo e caí. Chutei, arranhei-lhe e briguei até que me liberei. Estava frenética. Corri de volta a meu carro e ele disparou a arma uma vez e falhou. Gritou que se eu fosse à polícia, mataria Mason e Chad e me seguiria a pista. Aleksander ficou de cócoras. -Escapou de Prakenskii? Disparou e falhou? -Segui lhe dando chutes até que suas mãos se afastaram de mim- disse Sylvia. -Jonas, se me ver com você e sabe que é polícia, matará Mason. -Sylvia, - disse Libby -quero ajudar você a se tranqüilizar um pouco. Jonas e Aleksander trarão Mason e eu te administrarei um sedativo. Pode ficar aqui conosco até que lhe tragam Mason. Não lhe ajudará se pondo adoece. Sylvia tocou o rosto. -Pode me tirar o prurido? Libby olhou para Hannah, que deu de ombros e elevou as mãos com as palmas para cima em um gesto de rendição. -Só você pode fazer isso, Sylvia - disse-lhe Libby. -Tem que fazer o correto. -Isso já me disse antes- gemeu Sylvia. -Não sei o que é o correto. -Se desculpe com Abbey por esbofeteá-la. - Joley lutou por liberar sua voz de exasperação. -Não acredito que seja pedir muito. Ela não utilizou intencionalmente a palavra "verdade" e foi você quem tinha falhado e estava tendo uma aventura. Nunca deveria havê-la golpeado. -Não tem importância- disse Abigail. -Tem sim. - insistiu Joley, Hannah assentiu com a cabeça em acordo. -É a única forma de desfazer-se dele. -Tudo o que tenho que fazer é me desculpar?- perguntou Sylvia incredulamente. -Sinto um milhar de vezes. Não tem nem idéia de quanto o sinto. Libby a levantou da cadeira. -Vêem comigo. Tomará um banho e poderá descansar. Sylvia tocou a face. -Desaparecerá realmente agora? -Sim- confirmou Joley. -E vocês dois trarão Mason?- perguntou Sylvia aos homens. Jonas assentiu com a cabeça e esperou até que Libby a levou.


206 -Não acredita que pudesse escapar por seus próprios meios? Crê que está mentindo? -É possível, embora não sei por que o faria. - Aleksander franziu o cenho enquanto tentava decifrá-lo. -Não sei como pôde haver-se liberado de Prakenskii. E ele nunca falha. Abigail esclareceu a garganta. Tomou um profundo fôlego e o deixou escapar. -Não estava mentindo. - prometeu-se que nunca voltaria a utilizar o dom da verdade, não para as forças da lei, mas não podia lhes deixar pensar que Sylvia estava de algum modo tratando de enganá-los. O medo de Sylvia e sua preocupação por seu ex marido eram muito genuínos. Aleksander lhe estendeu a mão e entrelaçou seus dedos com os dela, sabendo o difícil que era para ela lhes dar esse pedacinho de informação. -Assim Sylvia escapou. Logo não pôde ter sido Prakenskii. Ele nunca falharia e nenhuma mulher, especialmente uma não treinada, poderia havê-lo repelido. -Pôde havê-la deixado partir de propósito?- Perguntou Abigail. Todos ficaram em silêncio. Jonas tamborilou com os dedos sobre a mesa até que Hannah se inclinou e pôs sua mão sobre a dele para deter o irritante som. Quando ele a olhou, apartou a mão de um puxão. - É T. T. tão incômodo. -Que agradável que Barbie fale comigo hoje- disse Jonas. Hannah lhe fez uma careta. -Não comecem!- Ordenou Abigail. -Eu não gosto nada de tudo isto e quero as cabeças claras enquanto o entendemos. Se era Prakenskii e Aleksander tem razão sobre ele, então deliberadamente deixou escapar Sylvia. Queria que ela encontrasse Aleksander. -Tenho que estar de acordo nisso- disse Jonas enquanto seus dedos começavam a tamborilar sobre a mesa outra vez. -Alguma idéia, Aleksander? Estão lhe atraindo deliberadamente a uma armadilha? Aleksander deu de ombros. -Não é o estilo de Prakenskii. Se fosse me matar, estaria fora da casa de Abbey e me dispararia através de uma janela ou quando saísse fora. Não o descarto, mas parece bastante rebuscado. Não é um homem que deixe as coisas ao azar. E se Sylvia tivesse ido a sua casa e se escondesse sob os lençóis? E se tivesse ido à polícia? Há muitas variáveis para que um homem como Prakenskii a utilize para me fazer cair em uma armadilha mortal. Carol se afundou em uma cadeira. -Disparar em você através de uma janela? Diz a sério? -Sinto muito- disse Aleksander, observando como estava pálida. -Não pretendia preocupar você. Gostaria que te trouxesse um copo de água? Carol ondeou a mão para a cozinha ao mesmo tempo que Hannah. Lançou a Aleksander um leve sorriso. -É um bom homem. Espero que minha sobrinha possa te perdoar e lhe dar uma nova chance. -Não deveríamos ter discutido sobre isso diante de você, tia Carol. - disse Jonas.


207 -Não me incomoda que falemos de assassinos e assassinatos. Acabo de compreender que alguém estava olhando através de nossa janela com algo que refletia a luz. Arma com mira talvez, ou um binóculo. Jefferson foi caçador antes que nos casássemos e guardou seus rifles. Esse primeiro dia, quando Abbey se encontrou com os assassinos, eu fazia fotos das garotas, mais que nada para as fazer rir. Era de noite e estava voltada para a janela grande e houve um resplendor na câmara. Fiz o disparo e tenho a foto na outra sala. - estremeceu. Só a idéia que alguém pudesse ter estado olhando através de nossa janela e apontando com uma pistola a uma de nós, é aterradora. Abigail apertou os dedos ao redor dos de Aleksander. -Foi a noite que invadiu meu quarto. Recordo tia Carol fazendo fotos. Tirávamos o sarro de Jonas sobre ser espiãs e ela pegou a câmara. Disse-nos que havia uma espécie de luz na janela. Isso nos pôs nervosas e fechamos as cortinas e acrescentamos amparo à casa. Disse-me que tinha encontrado Prakenskii essa noite. Ele poderia ter estado aqui todo o tempo esperando ter um alvo claro de você? -Eu gosto da parte do trabalho de espiã, - confessou Carol - mas não o perigo. Acredito que me está subindo a pressão arterial. Joley se sentou no braço da cadeira de sua tia. -Deveria trazer Libby? -Não, claro que não. - Carol se abanou. -Jonas, realmente crê que Frank está envolvido em algo ilegal? Talvez ele não saiba nada das pinturas roubadas que está nos fundos de sua galeria. Chad não pôde ter escondido? Aleksander lhe tocou o ombro gentilmente. -Sinto muito, Carol, se for seu amigo. Estivemos rastreando seus envios há algum tempo. -Mas é Chad quem prepara e envia as obras de arte a todo o paísprotestou Carol. -Poderia estar fazendo-o sem o conhecimento de Frank? -Está interessada no Frank?- perguntou Joley. -Como algo mais que um amigo? -Eu não- disse Carol. -Mas Inez esteve durante algum tempo. Eu pessoalmente acredito que Reginald é o mais ardente que há na cidade. Frank não tem senso de humor e eu acredito que uma pessoa tem que ter senso de humor ou não desfruta da vida. E eu quero desfrutar. Jonas parecia confuso. -Reginald? -A tia Carol está saindo com o Velho Mar.- confiou Abigail em um sussurro. -É um homem adorável. Jonas teve um acesso de tosse. Hannah lhe golpeou as costas servicialmente. -Bem, acredito que Aleksander e eu devemos ir - declarou Jonas. -Temos que recuperar Mason para a Sylvia. Não estou seguro de não estar melhor onde está. Essa mulher pode lhe amar genuinamente, mas nunca mudará. Se tiverem uma briga, melhor que tome cuidado. -Não pode ir- disse Abigail, pendurando-se em Aleksander. -Você mesmo disse que Prakenskii a deixou escapar. Estarão lhe esperando. Fizeram uma armadilha e não pode simplesmente cair nela.


208 -Eu estarei com ele. - apontou Jonas. Os olhos dela cintilaram, passando a um profundo verde azulado, turbulento e tempestuoso. -Que arrogante. Deveria havê-lo esperado. A recompensa é pelo Aleksander, não por você, Jonas. Como pensa mantê-lo vivo? Aleksander se inclinou para ela e lhe roçou um beijo na têmpora. -Baushki-bau, - Sua voz era baixa e íntima, tocando suas terminações nervosas e enviando pequenas mariposas formando redemoinhos ao fundo de seu estômago. - se preocupa muito. Esta é minha especialidade. Não me coloco às cegas nestas situações. Não podemos abandonar a esse jovem para que morra. Ela fechou os punhos. -Pode estar morto já. Por que lhe manteria vivo Prakenskii? E não ficariam nesse celeiro. Moveram-lhe. Sabe que o fizeram. Terão a um atirador colocado esperando para matar você e Mason morrerá de toda forma. -Na realidade, Abbey tem muita razão- esteve de acordo Jonas de improviso. -Por que manteriam vivo ao Mason? Se necessitarem uma mula para algo, têm ao Chad. Se Mason não formar parte disto, por que não lhe colocar uma bala na cabeça e desfazer-se dele? Hannah tremeu e Carol deixou escapar um pequeno som de consternação. Abigail o fulminou com o olhar. -Disse isso deliberadamente, Jonas Harrington. Queria que tivéssemos uma imagem muito vívida de Mason com uma bala na cabeça. Eu vejo uma imagem de Aleksander ou de você mortos no chão. Abigail estava tremendo e Aleksander a arrastou até seus braços e a balançou, lhe murmurando frases consoladoras em sua própria língua. Tentava não se alegrar muito porque estava preocupada com ele. Obviamente ela estava de causar pena e em vez de tranqüilizá-la, sua primeira reação era de euforia por que se importava o bastante para preocupar-se com ele. -Sou muito teimoso para morrer. - disse ele, lhe mordiscando a orelha. -Já sabe. E Jonas guardará minhas costas. Não é como se fossemos ali sem comprovar primeiro as coisas. -Simplesmente eu não gosto, Sasha. Algo está errado em tudo isto. Acredito que está se aproximando muito do que seja que querem esconder e esta é uma forma de atrair você até onde possam desfazer-se de você - insistiu Abigail. -Que sentido tem que Prakenskii a deixasse partir? Tem que mover Mason. Se Sylvia ia à polícia... e como poderia saber ele que não o faria?...a polícia simplesmente rodearia o celeiro e solicitaria um negociador. Ele perderia. -Prakenskii não perde. -Isso mesmo. - Voltou para o ataque com isso. -Não o faz. Querem-lhe morto e encontrou a forma de atrair você a campo aberto onde possa te matar. -Talvez- refletiu Aleksander -Mas para mim, ainda não tem sentido. Simplesmente Prakenskii não é homem de joguinhos. É mais provável que apareça na porta principal e me dê um tiro que algo como isto. - Olhou fixamente ao Jonas sobre a cabeça de Abigail. -Conheço-lhe. Esta não é sua forma de fazer as coisas.


209 -Tomaremos cuidado, Abbey. - acrescentou Jonas. -Jackson virá conosco e sabe do que é capaz com um rifle. Teremos ele nos cobrindo. -Eu v..v..vou também- anunciou Hannah. Jonas bufou. -Quando o inferno se congele, nem te ocorra pensar nisso. Abigail saiu dos braços de Aleksander. -Hannah tem razão. Prakenskii trabalha com magia e vocês três não podem combater isso. Hannah elevou o queixo. -Eu posso. -Importa-me um nada o que possa fazer. - Jonas apontou Hannah com um dedo, seu olhar era uma escura advertência. -Faz o que seja daqui, acima na varanda do capitão ou não faça nada absolutamente. Nem sequer vou discutir isso. E se for subir ali acima, Hannah, por todos os infernos fique atrás do corrimão; quase caiu a última vez que desmaiou. Ele se ergueu e caminhou para a cozinha. -Sarah faço você a responsável. Você sabe malditamente bem onde nos colocamos. Terei Aleksander e Jackson ali, isso é tudo. Qualquer outro será um inimigo. -Ninguém abandonará a casa. - disse Sarah. -Trabalhamos melhor de uma fonte de poder e esta casa tem um tremendo poder. Estaremos na varanda. Sentirá o vento sobre você e essas seremos nós. Aleksander emoldurou o rosto de Abigail com suas grandes mãos e inclinou a cabeça para a dela. -Não serei descuidado, Abbey, você me conhece melhor que isso. Quando voltar por você, esteja com o anel. Tenho saudades de vê-lo em seu dedo. Beijou-a tão meigamente como foi possível, tentando pôr no beijo tanto amor como pôde. -Não estou preparado para perder você outra vez- adicionou, pressionando pequenos beijos da comissura de sua boca até chegar a seus olhos. -Sairemos pela porta do escarpado ao pátio traseiro- decidiu Jonas. –Só no caso de alguém estar vigiando o lugar. Mantenham Sylvia aqui. É capaz de tentar conseguir uma arma e lançar-se ao resgate ela mesma. -Libby está com ela- tranqüilizou-lhe Sarah. Abigail caminhou com o Aleksander até a porta, seus dedos entrelaçados com os dele. -Retorna para mim. -Farei. Não havia luzes acesas na cozinha e Jonas saiu da casa na escuridão, deslizando-se rapidamente até a cobertura das sombras e esperando que Aleksander se unisse a ele. Abriram passo através dos espessos arbustos até o carro que esperava. Jonas examinou a área ao redor do carro cuidadosamente enquanto Aleksander comprovava todas as posições altas onde um francoatirador pudesse estar postado na espera. Quando estiveram seguros de que não havia ninguém, entraram no carro e se foram, Jonas utilizou o rádio para chamar a seu ajudante, Jackson Deveaux, um homem que tinha servido com ele nos Rangers e, o que era mais importante, um franco-atirador com uma pontaria mortal.


210 -Não queremos utilizar um carro oficial- disse Jonas. -Jackson trará o seu. Ele conhece a estrada e seu carro pode correr muito se necessitarmos velocidade. -Não estarão ali. Terão lhe movido. -disse Aleksander. -Sim, seriam idiotas se não o fizessem e não acredito que sejam tão estúpidos. Mas poderíamos recolher algumas pistas. Jackson é genial como o demônio rastreando. Poderá averiguar quem estava ali e o que aconteceu. Também poderá ver onde estava Sylvia e se foi possível que escapasse de Prakenskii. - Jonas deu uma olhada em Aleksander. -Suponho que Prakenskii é um dos seus. Um sorriso breve, sem humor curvou a boca de Aleksander. -Poderia dizer que sim. Encontraram-se com Jackson ao norte do Caspar e intercambiaram os veículos em uma das muitas estradas secundárias. -O caminho do celeiro é estreito formando um grande laço. Só há um par de casas ao longe, se alguém nos esperar, ao minuto de ver os faróis saberão que chegamos - advertiu Jonas. Jackson estreitou a mão de Aleksander brevemente. -Me deixe a certa distância e me dê tempo de tomar posição para lhes cobrir. Farei um sinal quando estiver preparado e logo deixa cair Volstov um pouco mais perto para que possa ir através do mato até o celeiro. -Eu sou o chamariz. -disse Jonas. -Genial. -Tenho desfeito as luzes e aconselharia conduzir sem faróis. - disse Jackson. Aleksander observou as mãos do ajudante acariciar o rifle. Era um rifle de franco-atirador e bem cuidado. Antes no carro, Jonas lhe tinha contado algo sobre seu ajudante. Jackson Deveaux tinha servido com Jonas como Ranger e depois se dedicou a fazer outras coisas. Aleksander estava bastante seguro de que essas "outras coisas" incluíam incursões em "zonas quentes" e completar missões solitárias antes de ser extraído. Jackson Deveaux não parecia estar muito longe de Ilya Prakenskii, um homem com seu próprio código, letal, leal e um bom homem ao que ter a seu lado quando entrava em combate. Jonas sorriu abertamente a seu ajudante. -Se me ocorrer algo, parte da cidade. As Drake provavelmente lhe converteriam em algum tipo de sapo realmente feio. -Me darão uma medalha- resmungou Jackson enquanto o carro freava. Abriu sua porta e rodou sobre o mato. Aleksander se colocou em posição. Jonas manteve o veículo a passo lento enquanto subiam pelo retorcido e estreito caminho de terra. Inclusive assim, Aleksander golpeou o chão com força, perdeu o fôlego, seu corpo ficou sacudido enquanto rodava entre o mato alto. Jazeu um momento tentando recuperar a respiração e repassar seu corpo em busca de qualquer dano. Quando esteve seguro de que não havia nenhum osso quebrado, começou a arrastar-se através da vegetação para o velho celeiro. Jonas e Jackson lhe tinham proporcionado informação detalhada do terreno e sabia que havia várias áreas grandes que uma vez tinham sido zonas ajardinadas. A vegetação e as flores silvestres eram mais espessas naqueles pontos e abriu passo por volta do primeiro deles tão rapidamente como foi


211 possível. Quando esteve seguro de estar bem coberto, fez uma pausa para orientar-se e escutar os sons da noite. A lua derramava luz através do prado. Vários cervos pastavam a uns cem metros a sua esquerda. Os grilos cantavam uns com aos outros e as rãs se chamavam em uma sinfonia firme. Teve que mover-se cuidadosamente para não espantar os insetos. A falta de som resultava delatora para qualquer francoatirador consumado. Era muito consciente que Jackson Deveaux avançava para terreno alto e que não havia nem uma só mudança nos ruídos da noite. Isso lhe disse, mais que nenhuma outra coisa, o que precisava saber sobre o ajudante. Aleksander escutou em busca de sons que chegassem do celeiro, mas não havia nenhum. Ele avançou centímetro a centímetro sobre o terreno acidentado, ganhando passos, depois metros. Ele sabia que Jonas tinha intenção de estacionar o carro na entrada do caminho de terra, depois de algumas árvores, invisível da outra direção. Um mocho ululou uma vez, o som chegou fácil e naturalmente através do prado. Jackson tinha encontrado terreno o suficientemente alto para cobri-los e assinalava que o caminho estava espaçoso. Aleksander sentiu um pouco de tensão abandonar seu corpo. Havia mais olhos e ouvidos na noite que os seus próprios. Seu cérebro lhe dizia que Prakenskii tinha ido faz tempo, nunca ficaria no lugar uma vez que Sylvia houvesse ido mas, ainda assim, o homem tinha que saber que Aleksander morderia a isca. Como poderia não fazê-lo? Como poderia abandonar Mason Fredrickson para que lhe matassem sem ao menos tentar lhe salvar? Nada em todo o assunto tinha sentido para ele e Aleksander era um homem que gostava da lógica. Estava familiarizado com a traição e o engano. Nunca lhe surpreendia, mas ali tinha que haver uma lógica, embora fosse um pouco retorcida. Prakenskii estava muito bem treinado para cometer semelhantes enganos, a menos que contasse com o fato de que Aleksander preferia trabalhar sozinho. Poderia não haver lhe ocorrido que Aleksander contasse com o xerife local. Aleksander cravou os cotovelos no pó e se arrastou aproximando-se do celeiro. O edifício se elevava na noite, madeiras velhas e ruidosas, pintura descascada e cortada. O celeiro inteiro se inclinava como se fosse derrubar-se de lado até o chão de um momento a outro. Houve um movimento nos arbustos perto do celeiro. Aleksander se congelou, com o fôlego apanhado nos pulmões. Picava-lhe um ponto entre as omoplatas. Tirou sua faca fora do cinturão e esperou. O mocho chiou de frustração e fúria ante uma presa perdida. Aleksander permitiu que o fôlego abandonasse lentamente seus pulmões ante a advertência, cuidando de não emitir nem um só som. Jackson era assombroso com seus gritos de pássaro, que pareciam tão reais, tinha-lhe levado um momento notar que não tinha sido um mocho. Esperou imóvel, escutando em busca de outro sussurro ou movimento. Uma rã coaxou em alguma parte para sua esquerda e quase imediatamente escutou um ruído, o roçar de algo contra a madeira dentro do celeiro. Aleksander se propulsou outro pé para diante através da vegetação sobre o estômago como um lagarto. Era um homem grande e não era fácil mover-se sem fazer nenhum


212 som. Parou imóvel outra vez, suando, esperando a mordida de uma bala nas costas. Uma rã coaxou outra vez, muito mais próxima dessa vez. Sua tensão se aliviou um pouco quando se precaveu que Jonas estava se aproximando pelo lado contrário do celeiro. Rodou para a entrada. Não havia porta, só um pedaço de madeira sobre um buraco aberto onde esta deveria ter estado. A luz da lua se derramada através das gretas do teto, mas deixava muitas sombras nas que alguém poderia esconder-se. Soou esse roçar outra vez, esta vez um pouco mais frenético. Algo grande se chocando contra a parede de trás do celeiro. Ouviu-se um xingamento amortecido. Aleksander não sabia fazer ruídos de animais para advertir Jonas, assim esperou que o homem estivesse o suficientemente perto para ouvir. Aleksander parou na entrada do celeiro, justo sob a porta e estudou as áreas mais escuras do interior. Pôde ver Mason Fredrickson preso, amordaçado e lutando por liberar-se quase diretamente diante. Era uma visão tentadora. Entrar, cortar as amarras e sair. Sorriu. Certamente Prakenskii lhe tinha mais respeito. Este era um plano juvenil. Tinha-lhe atraído até ali, assim tinha funcionado. A idéia chegou inesperadamente. Ficou congelado, seu coração se acelerou. Era uma velha tática. A mais simples das armadilhas. O jogo básico do gato e o camundongo. Captou um movimento e não esteve disposto a mover-se. Jackson podia protegê-los fora do celeiro, mas uma vez dentro, uma vez entrasse para liberar o Mason, Aleksander contaria somente consigo mesmo. Jazeu na entrada, de barriga para baixo, o fôlego movendo-se através de seus pulmões absolutamente silencioso, esperando. O tempo passava. Cinco minutos. Quinze. Meia hora. Os insetos zumbiam perto de seu ouvido. O vento lhe tocou a cara e sentiu Abigail perto dele. Por que se tomaria Prakenskii tantas moléstias para lhe trazer para um velho celeiro para resgatar Mason Fredrickson? A pergunta lhe dava voltas na cabeça sem uma resposta concreta. Mas esperou, porque no jogo do gato e o camundongo o primeiro que se movia estava morto. No canto mais afastado, acima entre as vigas, houve um sussurro de roupa. -Amarrou muito forte, não está fazendo suficiente ruído. - A voz era americana. -Se cale!- Aleksander não reconheceu ao russo. Não era Prakenskii, mas agora sabia onde estavam os assassinos. Uma rã coaxou fora do canto mais afastado do celeiro e o alívio o alagou. Jonas era completamente consciente dos homens armados que custodiavam Fredrickson. Necessitavam desesperadamente uma distração. Imediatamente, nas asas desse pensamento, chegou o vento, não a ligeira brisa de antes, a não ser uma rajada que trazia o perfume do mar e levava um cântico apenas perceptível de vozes femininas. Quase imediatamente chegou uma resposta. Um estranho roçar de asas, agudos sons pulsantes, enchendo o ar. Aleksandr permitiu que seu olhar deslizasse para cima e viu o céu noturno cheio de morcegos. As asas trovejaram quando os morcegos giraram, mergulharam e fluíram em um círculo em espiral para o celeiro. O ar estava carregado com a migração quando mais morcegos chegaram, dançando no ar, lançando-se para os insetos enquanto estes voavam para o celeiro.


213 A rã coaxou uma amigável saudação. Requereu uma fração de segundo registrar que o som tinha vindo de cima em vez da terra. Jonas estava em posição no teto inclinado, diretamente sobre os dois assassinos. Na beirada do limite da linha de árvores mais próxima ao celeiro, o mocho emitiu um suave som inquisitivo. Jackson tinha se aproximado deles, abandonando sua posição alta para lhes proporcionar mais cobertura no resgate. Os morcegos alagaram o celeiro, utilizando cada greta das pranchas, o buraco que havia no teto e a abertura ao redor e sob a porta. Aleksander entrou rodando no celeiro com eles, diretamente através do chão para Mason Fredrickson.

Capítulo – 18


214 Os morcegos encheram o celeiro com o puro peso do número, voavam alto até as vigas, batendo as asas contra os dois pistoleiros sentados no teto. Chad Kingman deixou cair sua arma e se agarrou à madeira podre, balançando-se precariamente enquanto os pequenos corpos peludos golpeavam seu peito e rosto. O russo lutou por rechaçar o ataque dos morcegos, golpeando cegamente com as mãos para afastá-los dele. Seu braço golpeou Chad, jogando-o da viga ao sujo chão. Chad golpeou com força, o fôlego abandonou seus pulmões. Sobre eles, Jonas se inclinou através de uma greta particularmente grande e empurrou sua arma contra o pescoço do russo. -Joga a arma- ordenou -Sou o xerife e você está preso. Aleksander utilizou sua faca para cortar as cordas que atavam Mason Fredrickson. O homem tinha estado preso durante tanto tempo que seus braços e pernas eram como de chumbo. Tratou de mover-se mas só pôde olhar fixamente Chad. Aleksander lhe tirou a fita adesiva da boca com um movimento fluído. Mason chiou, seu olhar era furioso enquanto se cravava em seu velho amigo. Chad se equilibrou sobre a arma que estava a tão somente uns passos de onde ele jazia. -Eu não o faria. - Jackson Deveaux apareceu a um lado da porta, seu rifle apontava Chad. Deu um passo adiante e afastou a arma com um ponta pé, procurou com o olhar Aleksander, que tinha o braço jogado para trás para o lançamento, com a faca em posição. -Nem um só movimento, Kingman. Chad se sentou no chão amaldiçoando enquanto Jackson lhe revistava em busca de armas e Jonas fazia o mesmo com o russo. Uma ligeira brisa soprou através do celeiro, tirando os morcegos ao ar livre e deixando aos homens para enfrentá-los uns aos outros. Aleksander franziu o cenho, incômodo pela facilidade com que tinham recuperado Fredrickson. Não reconheceu ao russo, mas quando o homem desceu das vigas, coxeava. Jonas lhe examinou a panturrilha e encontrou uma contusão enorme. -Tem má aparência. Como fez isto? - O homem resmungou algo ininteligível. -Suponho que não lhe faria isso uma mulher, não? Encurralou-te com seu pequeno arpão para tubarões? Aleksander estudou ao russo. -Você deve ser Chernyshev. O homem se mostrou alarmado e afastou o rosto. Jonas e Jackson apressaram Chad e Chernyshev para o carro algemados. -Esperem!!- protestou Mason, sua voz era rouca pelo desgosto. Olhou Aleksander com desespero. -Dispararam em uma mulher, minha ex-esposa, Sylvia Fredrickson. Ouvi-a gritar, ouvi-a suplicar ao Prakenskii. Soava muito assustada e logo houve um disparo. Eles devem saber o que lhe aconteceu. Aleksander tocou o ombro do homem um pouco torpemente. -Escapou. Está na casa das Drake. Foi a elas em busca de ajuda para você. Por um momento as lágrimas brilharam tenuamente nos olhos de Mason mas piscou para afastá-las. -Está seguro de que se encontra bem? Nunca gostou das Drake. Não posso acreditar que foi até elas.


215 -Acredito que nada lhe importava exceto que fosse resgatado. Estava segura de que lhe fossem matar e as Drake são mulheres poderosas. Acredito que pensou que eram sua melhor oportunidade de sobreviver. Foi muito valente. Mason abaixou a cabeça, mas Aleksander percebeu a florescente compreensão em seus olhos. -Sim, foi não é? Aleksander ajudou Mason Fredrickson a sentar-se. -Fizeram-lhe mal de algum modo?- Ainda estava intranqüilo. Nada neste incidente lhe parecia bem. -Chernyshev me golpeou um pouco. Chad se manteve longe de mim. Mason lambeu os lábios ressecados. -Não tem água, certo? Depois que o outro russo partiu, ninguém me deu de beber. -Prakenskii?- Aleksander manteve a voz casual. Mason assentiu com a cabeça. -Sim, esse era seu nome. Ele dirigia tudo. Chernyshev queria me matar imediatamente. Entrei no beco de trás da galeria e eles estavam ali fora com o Chad. Acreditei que lhe estava extorquindo, assim fui lhe ajudar. Ouvi Chad dizer que queria cem mil dólares para transportar a bomba. A seguinte coisa que soube, é que Chernyshev me colocava uma arma contra a cabeça e que ia matarme ali mesmo. Chad não disse nada mas esse tipo, Prakenskii, saiu do nada e os deteve. Disse que poderiam me utilizar. Chernyshev começou a discutir com ele, mas não muito. Pude ver que todos lhe tinham medo. -Prakenskii fez mal a você? -Não, deu-me água e comida e quando Chernyshev se zangou por algo e me deu um chute, Prakenskii lhe disse que se voltasse a fazê-lo ia matá-lo. Disse-o realmente baixo, sem nenhuma inflexão, mas Chernyshev assustou-se como o inferno. Não voltou a me tocar depois disso. -Vou te pôr em pé. Só se agarre a mim e vejamos se suas pernas funcionam. Mason apertou os dentes. -Cara, dói como o demônio. Sinto como se me estivessem picando mil abelhas. Aleksander lhe ajudou a levantar-se, lhe mantendo agarrado quando Fredrickson cambaleou e rompeu a suar copiosamente. -Aonde foi Prakenskii? -Não sei. Disse ao Chad e ao tipo russo que lhe esperassem aqui e se encontrassem com ele depois que houvessem dado encargo de você. -O que disse exatamente? Jonas retornou e segurou Mason pelo lado esquerdo. -Pode caminhar? Aleksander se deteve. -Realmente tenho que saber o que disse Prakenskii. É importante. Encontrou o olhar de Jonas. -Acredito que isto é um chamariz. Fazem-nos olhar em uma direção enquanto eles vão em outra. Prakenskii sabia que eu nunca cairia nesta armadilha. Com ou sem você, não há modo que me pegassem. Enviou-nos aqui para nos tirar do caminho. E isso significa que vão fazer a entrega esta noite.


216 Fredrickson sacudiu a cabeça. -Não. Iriam utilizar Chad para transportar a bomba. Jonas encontrou o olhar de Aleksander e estendeu a mão para tomar o braço de Fredrickson, caminhando com ele até o carro onde pudesse sentar-se comodamente e esperar seus ajudantes. Quando retornou, Aleksander esclareceu a garganta -Estava temendo que pudessem estar trazendo uma bomba nuclear. Não teria que ser muito maior que o tamanho de uma mala. - passou os dedos pelo cabelo. -Em meu país temos todo tipo de material de refugo putrefato espalhado por toda parte, abandonado da era nuclear. Poderia contar a você histórias sobre isso que nem sequer acreditaria. Nikitin provavelmente está muito comprometido no contrabando. Essa não é minha jurisdição, mas ouvi rumores. Ele é muito violento e é um fato conhecido que os contrabandistas de urânio são os mais repugnantes. - Olhou ao Jonas. -Não faz muito tempo que o vice-presidente emitiu uma advertência declarando que as bombas nucleares e as substâncias biológicas feitas de material radioativos seriam as armas que os terroristas mais tentariam obter. Sabia do que estava falando. Temos informação a algum tempo de que os terroristas estão tratando de adquirir os materiais. As centrais elétricas e institutos nucleares e biológicos são vulneráveis na Rússia, não são como aqui nos Estados Unidos. O vice-presidente esteve trabalhando para melhorar a segurança. Jonas amaldiçoou em tom baixo. -Por que a trariam aqui? Por que não a Florida ou ao sul da Califórnia? -Porque ninguém suspeitaria desta zona e têm uma rota viável. Foi só má sorte que um pescador o notasse, avisasse a Interpol e puséssemos em marcha nossa investigação. - Aleksander soltou o fôlego devagar. -Terão que encontrar o cargueiro esta noite. Cherynshev e Kingman eram peões sacrificáveis. Provavelmente Prakenskii pensou que morreriam. Jonas olhou seu relógio de pulso. -Outros ajudantes chegaram para levar os prisioneiros e deixaremos que também levem Fredrickson. Quereremos Jackson conosco. -Sua guarda costeira vai querer encarregar-se disso. Terá que notificar-lhe e lhes dar uma lista com os nomes dos cargueiros que estivemos rastreandodisse Aleksander. -Se algum dos cargueiros está na zona, esse é seu navio. O cargueiro se aproximará do pesqueiro ou alguns homens se aproximarão diretamente utilizando uma embarcação. - No momento em que escaparam as palavras, sua cabeça se elevou de repente. Jonas lhe dirigiu um olhar interrogativo, mas Aleksander olhava para os ajudantes e prisioneiros e sacudiu a cabeça. Aleksander esperou impacientemente enquanto o xerife e seu ajudante realizavam a mudança de prisioneiros ao outro veículo e notificavam a guarda costeira suas suspeitas. Proporcionou-lhes os nomes de vários cargueiros conhecidos pela Interpol por ter sido utilizados por contrabandistas ou terroristas e que poderiam estar na zona. Um segundo carro do escritório do xerife levou Mason Fredrickson. Jonas disse ao condutor que levasse Fredrickson a casa das Drake. O homem parecia mais preocupado por ver a ex-mulher que a um médico.


217 No momento em que ficaram sozinhos no carro, Jonas se voltou para Aleksander. -Por que quer que a guarda costeira intercepte o navio sem nós? Eles nunca os deterão. -Por isso. Acredito que é muito tarde. Há muitos nomes, muitos lugares onde podem estar mar adentro. Inclusive com toda a tecnologia atual. Como vão encontrar a tempo? Quando Abigail e eu comprovávamos as cavernas, ela me falou de uma que poderia ser utilizada para esconder uma embarcação. Mencionou especificamente que estava encarada para o sul e guarda costeira não seria capaz de vê-los quando passassem por ali. Disse que se podia acessar à pequena praia por terra, mas que havia um guarda muito enérgico que evitava que as pessoas a utilizasse. Pelo visto recentemente teve um acidente. Jonas e Jackson deram de ombros, intrigados. -Há centenas de pequenas baías ao longo deste litoral. -Alguma perto do Elk? -Não falaria do Cuffey's Cove verdade?- Perguntou Jackson. -Uns poucos campistas a utilizam. Não haveria muita privacidade. -Mencionou Cuffey's Cove, mas não era essa. É uma baía ao norte do Elk e não tem acesso ao público. Jonas tamborilou com os dedos sobre o volante. -Espera um momento. Já sei de que lugar estava falando- virou-se para olhar Jackson. -Recorda faz uns poucos anos quando uma baleia cinza esteve perto da praia? Jackson assentiu. -As pessoas atravessaram propriedades privadas, rompendo as cercas para olhar a baleia. -Foi um desastre- esteve de acordo Jonas. –Estou certo que essa é a baía que se referia Abbey. O guarda, com nossa ajuda, expulsou-os. É uma zona formosa, mas propriedade privada. Abigail tem razão. Poderiam esconder facilmente uma zodíac pequena ali. - Tirou o celular. -Farei uma comprovação com Abbey e as alertarei de onde nos dirigimos. Se estão preocupadas com o Prakenskii, quererei as preparadas para nos ajudar. -Abigail não é telepática- disse Aleksander. -Como saberão quando necessitamos de ajuda? Jonas deu de ombros, com um débil sorriso no rosto. -Com as Drake, simplesmente não pergunta. Disse-lhe isso, tem que aceitar o que vê e ouve com elas. E inclusive embora Abbey não seja telepática, um par das outras o são. -Genial. - suspirou Aleksander. -Vamos à baía. Falar das Drake me dá dor de cabeça. Jonas riu brandamente. -Isso é porque são uma dor de cabeça. -Bem, as chame e terminemos com isso. -Estamos na costa, Aleksander. Só há um par de lugares nos arredores onde um celular funciona realmente. Aleksander admirou a forma que Jonas conduziu ao longo da estrada, manobrando pelas curvas do caminho com muita segurança. Não gostava de


218 confiar na guarda costeira para tratar de interceptar o navio, mas a verdade era que acreditava que não tinham feito a chamada a tempo. A tática dilatória de Prakenskii certamente tinha surtido efeito. Viram-se forçados a fazer uma aproximação lenta ao celeiro para assegurar segurança. O plano inteiro tinha sido concebido para atrasá-los tanto tempo como fosse possível. Jonas lhe olhou através do espelho retrovisor. -Pensa em voz alta. Aleksander deu de ombros. -Tenho mais pergunta que respostas. -As ouçamos. -Isto ainda não tem nenhum sentido para mim. - Aleksander repousou a cabeça contra o assento, tratando de deixar fora toda o resto além da adivinhação. -Prakenskii sacrificou deliberadamente Chad Kingman e Chernyshev. Por quê? Simplesmente para ganhar tempo? E se Sylvia não tivesse ido à polícia? E se não tivesse ido às Drake? Abigail diz que ele é como elas, que é capaz de utilizar magia. É possível que plantasse uma sugestão na mente de Sylvia para que fosse a casa das Drake? Foi assim que pôde fazer sua armadilha tão exitosamente? - Algo ficava continuamente ao fundo de sua mente e de repente se inclinou para frente em seu assento. -Por que demônios está Prakenskii trabalhando tão duramente para colocar uma bomba nuclear nos Estados Unidos? Se os rumores forem certos, despreza aos terroristas. Nikitin trata com terroristas, mas mantém Prakenskii ao redor para seu amparo pessoal. Todo mundo teme Prakenskii. Especialmente os terroristas. A coisa é que Nikitin mantém Prakenskii longe deles. -Deve ser um homem valioso para que Nikitin lhe conserve- murmurou Jonas. -Prakenskii tem fontes às que ninguém mais pode aproximar-se. Não passa muito sem que ele esteja à par de tudo que acontece. - Logo que pronunciou as palavras em voz alta esse outro pensamento que lhe tinha estado incomodando no fundo de sua mente saltou à vanguarda. -É possível que nos oferecesse em bandeja Kingman e Chernyshev? Entregou-nos isso? -Por que faria isso? -Encontrei-me com ele faz um par de dias nos terrenos das Drake. Acreditei que estava ali para matar Abigail ou esperando por mim, mas ele o negou. E negou ter matado Danilov. Prakenskii é um montão de coisas, mas não um mentiroso. Jonas soprou. -Acreditar que um capanga não é um mentiroso é uma boa forma de fazer que lhe matem. Por que demônios diria a verdade a você? Que outra razão teria tido para estar nas imediações da casa Drake exceto para te matar ou matar a uma das mulheres?- Não gostava da idéia de um assassino espreitando em nenhuma parte perto da família Drake e se notava no grunhido em sua voz. -Carol estava tirando fotos das irmãs Drake nesse momento e afirmou que havia uma luz em uma das janelas. Suponho que alguém mais, alguém como Leonid Ignatev, estava planejando matar Abigail e Prakenskii cuidava dela. Isso é algo que ele faria.


219 -Por que quereria Ignatev matar Abbey?- Perguntou Jonas, a cólera suprimida estava voltando muito mais forte e muito mais letal. -Era prioritário para mim tirar da Rússia Abigail ilesa, para isso tive que pôr Ignatev ao descoberto. Ele a teria matado. Teve a seus homens golpeando-a para obrigá-la a me entregar. Eliminei a seus interrogadores e apresentei provas o suficientemente sólidas contra ele para lhe obrigar a fugir porque puseram preço a sua cabeça. Ele pôs preço à minha e estou seguro de que fez o que pôde por matar Abbey só para chegar até mim. -Como planeja lhe deter? -Você é o xerife. Não acredito que discutir isso com você seja o melhor plano- disse Aleksander. -Especialmente quando na realidade tenho planejado pedir trabalho para você quando Abbey e eu nos casarmos. -Só se assegure de acabar o trabalho- disse-lhe Jonas. -Eu não deixo cabos soltos. - Aleksander observou a costa passar voando enquanto conduziam velozmente pela estrada. O oceano se inchava em grandes e poderosas ondas que se aproximavam dos escarpados, coroadas de branco e enviando gotas no ar quando a água me chocava contra as formações rochosas. -Por que protegeria Prakenskii a Abigail?- perguntou Jackson. Era a primeira frase que Aleksander lhe tinha ouvido pronunciar. Obviamente era homem de poucas palavras. -Essa é uma boa pergunta. Na realidade não posso respondê-la. Crescemos e nos adestraram juntos. Ele escolheu um lado e eu ao outro. Encontramo-nos umas poucas vezes após e nos enfrentamos, ambos terminamos nos lambendo as feridas. -Lhe protegeria?- perguntou Jonas. O primeiro pensamento de Aleksander foi negá-lo, mas quem sabia na realidade o que acontecia na mente de Ilya Prakenskii? Freqüentemente fazia o inesperado. Sempre tinha havido muitos rumores sobre ele. Era quase uma lenda em alguns lugares da Rússia, seu nome se sussurrava em vez de ser pronunciado em voz alta. -Não sei. Por que o faria? Disparou-me uma vez e me feriu outra vez, deixou-me fora de jogo durante um par de meses. -É o bastante bom para ferir você sem danificar seriamente?- perguntou Jonas. -Depende do que entenda por me danificar seriamente. Não me senti precisamente maravilhosamente bem depois que me deu um tiro. - Mas sabia que Prakenskii tinha escolhido não lhe matar. Prakenskii simplesmente não falhava. Acertava exatamente no alvo ao que apontava cada vez. Se tivesse querido lhe matar, Aleksander estaria morto. -Falhou deliberadamente. -E você lhe deixou escapar deliberadamente. - Declarou Jackson. Aleksander estava incomodamente consciente que Jonas lhe observava pelo espelho retrovisor. Ele não tinha as respostas que eles desejavam. Algo profundamente em seu interior desculpava Prakenskii. Ou talvez fosse lealdade mal-entendida. Ou possivelmente a magia de Prakenskii. Esse era ainda um fato difícil de tragar para Aleksandr. Poderia Prakenskii havê-lo estado manipulando-o como estava seguro de que tinha manipulado a Sylvia? Amaldiçoou.


220 -Não sei. Simplesmente isto não encaixa com tudo o que sei de Prakenskii. Não posso lhe ver envolto com terroristas. Há histórias sobre ele que sei que não são certas, mas muitas o são, e algumas são piores do que contam. Nikitin lhe enviou a encontrar-se com um grupo de terroristas que se acreditava estavam colocando bombas em vias de ferrovia. Bombardear os trens é uma tática muito utilizada nas reivindicações políticas. Isso foi nos primeiros dias quando Nikitin não conhecia muito bem Prakenskii e não tinha nem idéia de seus pontos de vista sobre o terrorismo. Todos os terroristas estavam armados, todos muito bem treinados e experimentados. Depois vi as fotos da cena. Estavam todos mortos e morreram duramente. Ele partiu sem um só arranhão. -É uma maravilha que Nikitin não o fizesse matar. - disse Jonas. -Pensei-o naquele momento. Preocupei-me com ele. - Aleksander esfregou a sombra de sua mandíbula. Exalou lentamente, sopesando quanto devia dizer. Abigail confiava em Jonas explicitamente e era óbvio que Jonas confiava no Jackson. -Ouvi um rumor muito suave sobre a formação de uma unidade antiterrorista. Havia rumores que participam vários países. A informação se faz quase certa -vacilou outra vez- -Parece-se muito a Interpol e uma vez que decidem que encontraram uma célula terrorista enviam um grupo de assalto. Os membros da equipe são totalmente anônimos; entram silenciosamente e saem. Executam a todos. Por isso sei são totalmente anônimos para poder operar com segurança, já que de outro modo os terroristas iriam certamente atrás de suas famílias. Jonas lhe olhou com olhos duros e frios. -Como conseguem informação se não fazem prisioneiros? Aleksander deu de ombros, lhe devolvendo um olhar inexpressivo. -Demônios. Sabe muito mais do que está disposto a admitir. -Estou te dizendo que há uma possibilidade de que esta equipe exista e Ilya Prakenskii forme parte dela. Quando vi essas fotos, me ocorreu que Prakenskii seria o recruta perfeito para uma força internacional. Fez-se um pequeno silêncio. Jonas o rompeu primeiro. -Assim se ele estivesse nessa força internacional e estivesse aqui, estaria trabalhando encoberto. É aí onde quer ir parar com tudo isto, verdade? Suspeitao há algum tempo, mas não tem certeza. -Não, não tenho. Se estou equivocado e na realidade é o braço forte de Nikitin, desperdicei várias oportunidades de lhe matar. -E se está seguindo a uma célula terroristas e veio aqui, então significa que em meu condado há um problema grave. - Jonas golpeou o volante com a palma da mão. -E se estiver encoberto, entregou Chernyshev porque averiguou que Chernyshev tinha matado Danilov. Chad Kingman não tinha nenhum valor para ele. -E nos tirou do seu caminho. -Terá apoio?- perguntou Jackson. -Duvido. Nunca soube que trabalhasse com ninguém. Tentou manipular Abbey na noite que fomos ao Caspar Inn. Ela o desafiou a um jogo de verdade ou conseqüência e se notava que estava incômodo. - Aleksander espiou pela janela. -Devemos estar perto. Não queremos que nos vejam se tiverem a um vigia.


221 -Não se preocupe. Conheço a zona- disse Jonas. -Digamos, só por um momento, que tem razão e Prakenskii está em alguma equipe antiterrorista internacional mas não o pode admitir. Não estaria em alto mar lhes observando fazer a entrega, certo? -Não, não o faria. - A voz de Aleksander era sombria. Seu olhar estava já procurando os lugares altos sobre eles. -Sentará em algum lugar sobre essas pedras com uma visão telescópica e um rifle e eliminará a todos. Jonas estacionou o carro depois de uns arbustos muito crescidos em uma estrada secundária. -Caminharemos daqui. -Irei colocar-me- disse Jackson. -Terão que me dar uns minutos para encontrar minha posição, especialmente se tiver que me preocupar que ele esteja aí fora. -Em meu país, a folha da faca está freqüentemente impregnada de veneno de forma que um simples corte, inclusive um arranhão, mataria. - Até com a cobertura dos arbustos, Aleksander se agachou e manteve a voz baixa. Prakenskii pode atacar com igual habilidade com as duas mãos. Vi muito poucos com a suficiente habilidade para enfrentá-lo. -Não vou por ele- disse Jackson. –Protejo você e ao Jonas. -Se tiver que disparar, ele verá o brilho e te rastreará. - Aleksander não sabia como sacudir o ajudante, lhe fazer consciente de quão perigoso era Prakenskii na realidade. Os olhos de Jackson eram negros, duros, frios e vazios. Não havia expressão em sua cara e nada do que lhe dizia o agente da Interpol parecia lhe alarmar. Aleksander conhecia esse olhar muito bem. Quando se olhava no espelho, esses mesmos olhos mortos lhe devolviam o olhar. -Jackson sabe o que se faz- Jonas lhe deu uns óculos de visão noturna. Pode precisar de um destes. -Obrigado. -Vou assinalar com a luz quando estiverem bem longe do navio- disse Jonas, sustentando um grande foco. -Espera que me identifique e lhes diga que estão a vista. -Não tenho nenhum problema com isso. -Vamos, então- disse Jonas. Jonas conhecia o terreno, assim Aleksander ficou atrás deixando ir primeiro. Permaneceram entre as sombras da folhagem, mantendo-se fora da luz da lua enquanto abriam passo através do terreno acidentado para a cerca. Passaram através dos arames de um em um, mantendo seus movimentos lentos e fluidos, tentando fundir-se com as sombras em movimento. O vento os acompanhava, movendo a vegetação, mantendo-a em constante movimento para lhes ajudar a confundir o olho de qualquer observador. Jonas se agachou quando a terra começou a inchar-se, movendo-se mais rápido agora para cobrir mais terreno e colocar-se em posição. Aleksander se separou e foi à esquerda enquanto desciam pelo outro lado da pequena colina. A baía apareceu à vista, embalada entre dois afiados escarpados. Ciprestes açoitados pelo vento cobriam o topo de ambos os escarpados, embora um suporte rochoso se estendia por volta do mar, abrigando a baía de olhos curiosos. A zona inteira era uma amalucada explosão de flores, arbustos e árvores.


222 As ondas banhavam a borda arenosa, dedilhada de rochas. Partes retorcidas de madeira flutuavam dispersos pela areia, formando escuras e malévolas formas. O retumbar do mar era forte e ressonava através da pequena baía bem protegida. Águas brancas salpicavam aos flancos do escarpado. Aleksander se agachou, engatinhando até aproximar-se da beirada da cobertura da vegetação como pôde. Duas grandes rochas arredondadas estavam juntas ante a linha de vegetação e as utilizou, estirando-se deitado atrás, o buraco entre elas era perfeito para ver através. Tinha uma boa vista da baía e o mar. A idéia de Prakenskii à espera com um rifle em alguma parte sobre ele lhe provocou um arrepio muito familiar entre as omoplatas. Não se moveu, não cometeu o engano de procurar outro lugar, mas sim manteve os olhos fixos no mar. Passaram os minutos. Quinze. Trinta. Uma hora. O ar noturno era frio sobre sua pele. Voltou a olhar seu relógio de pulso. Podia estar equivocado. Era possível que estivessem na baía equivocada. Ou que fosse a noite equivocada, que tivesse interpretado mal completamente os sinais. Permaneceu quieto e agradeceu a profissionalidade de Jonas. O xerife não fazia o mais mínimo ruído. O vento se fez mais forte, lhe alvoroçando os cabelos e a vegetação ao seu redor. Ouviu uma canção suave, vozes femininas montando a brisa marinha. As palavras eram incompreensíveis, mas as notas se deslizaram em sua mente com uma advertência. Tirou a arma com um movimento lento, cuidadoso e a posou no oco amplo entre as duas rochas. Tinha bom ângulo da praia e podia cobrir quase toda a borda. Aleksander sentiu o vento tocar sua face e se endireitou para ver além da larga meseta rochosa. O som de um motor se elevou sobre o rugido do mar. Soltou o fôlego lentamente e deslizou os dedos dentro da camisa para esquentálos. A zodiac apareceu à vista, aproximando-se com rapidez, rodando sobre as ondas e diretamente para a borda. Aleksander elevou os óculos de visão noturna para sua cara, os enfocando sobre o bote que se aproximava. Havia quatro homens, dois em pé e dois sentados. Reconheceu a três dos homens com o AK47S embaladas entre os braços. Tinham estado sentados à mesa de Nikitin no Caspar Inn. O quarto era um desconhecido. Sustentava o que parecia uma pequena mala. O condutor colocou o bote sobre a areia, montando uma onda tanto como foi possível. Dois dos homens saltaram fora e arrastaram o bote mais para a praia. Outros desembarcaram e começaram a apressar-se para a cobertura dos arbustos mais densos. Aleksander manteve os olhos no homem da mala. Foi o último a sair do bote e ficou atrás dos outros três, que agora tinham os AKs levantados e preparados para a ação enquanto se desdobravam e avançavam pela areia para terreno mais frondoso. Obviamente protegiam ao homem da mala. Aleksander esperou que se afastasse do bote. Cada poucos passos se detinha e olhava a seu redor, claramente desejando que os outros alcançassem os arbustos antes de aventurar-se muito longe da segurança do bote. Os três homens tinham um pé na zona coberta. Aleksander amaldiçoou para si mesmo.


223 Jonas ia ver-se forçado a lhes deslumbrar com a luz e o homem da mala estava muito perto da zodiac e possivelmente poderia escapar. O vento trocou ligeiramente. Ouviu a tensão nas vozes das mulheres. Alarme. Foi a única advertência que teve. O homem da mala caiu ao chão, jazendo ajeitado só a uns pés do bote, com a mala abaixo dele na areia. Olhando através dos óculos de visão noturna, Aleksander viu uma mancha estendendo-se como um halo ao redor de sua cabeça. Inclusive quando Jonas deslumbrou aos outros três homens com o foco, cegando-os temporariamente, um segundo homem caiu e logo um terceiro sem emitir nem um som. O homem que ficou lançou a sua direita, mas Aleksander sabia que era muito tarde. Alguém tinha que estar utilizando um VSS Vintorez de fabricação russa, um rifle de franco-atirador com silenciador e ondas subsônicas. O raio das ondas subsônicas não tinha tanto alcance como a munição regular assim se o franco-atirador era Prakenskii, tinha que estar apostado nos dedos de rocha justo sobre eles. O franco-atirador teve que faz um, dois, três, quatro disparos rapidamente. Apertar o gatilho mover-se ao seguinte objetivo e repetir a operação. Quatro rondas rápidas e quatro mortos na areia. Não houve nenhum brilho que indicasse sua posição. O som carregado através da água não parecia o de uma arma, mas sim um suave “rat-rat-rat” que quase se perdia entre o retumbar do oceano e o movimento do vento. Aleksander manteve os óculos enfocados sobre os quatro homens que jaziam na areia, mas nenhum deles se movia absolutamente. Quatro tiros. Quatro mortos. Aleksander podia ouvir Jonas soltando uma réstia de maldições. -Que diabos vou fazer com esse ato agora? Maldito seja. - Elevou a voz. Maldito seja! Não pode fazer esse tipo de coisas nos Estados Unidos! Eu teria detido esses bastardos. Tinham a prova com eles. Agora se encontro algo que te associe com esta matança vou ter que acusar o seu traseiro de assassinato. O silêncio respondeu a sua explosão. Jonas não se moveu. Permaneceu longe da luz, obviamente esperando um sinal do Jackson. Passou muito tempo. O ajudante teve que abrir passo ao redor do dedo de rochas de onde tinham chegado os disparos. Ao Aleksander lhe ocorreu que enquanto eles esperavam para assegurar-se de que estava tudo bem, estavam dando tempo ao Prakenskii para afastar-se. Esse tinha que abrir passo trabalhosamente através dos arbustos em silêncio, evitando Jackson, evitando deixar rastro e realizar sua fuga. Não haveria nenhuma prova. Nunca havia provas do passo de Prakenskii. Só os cadáveres deixados atrás. Aleksander estava seguro de que o atirador era o russo, mas já se havia ido fazia muito e seria impossível lhe encontrar. Até se Jonas tivesse sorte e lhe punha as mãos em cima, nunca poderia provar-se nada. Não encontrariam o rifle. Provavelmente estava já no mar. Não haveria nenhum resíduo, nenhum sinal dele. Esse era Prakenskii. O fantasma, mais lenda que real. O mocho ululou. Uma vez. Duas. Três. Jonas amaldiçoou outra vez. -Jackson não pode lhe encontrar. Não temos nem idéia se está por aí assim sairei e examinarei os corpos para ver se há sinal de vida. Fique fora da vista e dê um tiro no filho da puta se me matar.


224 O vento soprou desde o mar. Aleksander sentiu o ligeiro golpe de tranqüilidade. -Faz tempo que se foi. - Como sabiam as irmãs Drake e como podiam lhe transmitir a informação, não estava muito seguro, mas sabia que Prakenskii se desvaneceu na noite. Jonas saiu de entre os arbustos cautelosamente. -Acredito que uma das Drake poderia lhe rastrear se ele for realmente como elas. Sempre parecem saber quando há problemas com alguma outra. - abriu passo até o primeiro corpo. -Eu diria que está morto. Disparou-lhe no olho esquerdo. Cada morte se fez deste modo. Este tipo é bom. -Elevou a voz. Jackson, temos que processar a cena do crime. Tem uma câmara com você? Teremos que fazê-lo de longe. Não quero me aproximar em nada a essa bomba. -No carro. Luvas também. - Jackson estava ainda sobre eles. -Não há nenhum rastro absolutamente, Jonas. É um fantasma. -O que estava utilizando? Aleksander respondeu. -Um rifle russo de franco atirador. Provavelmente um VSS Vintorez SP-6 com silenciador incorporado e cartuchos subsônicos. Foi desenhado para operações especiais. As novas balas podem transpassar a maior parte dos anti balas, dependendo da distância. -Essa seria também minha hipótese- esteve de acordo Jackson. -É a arma favorita de Prakenskii?- exigiu Jonas. -Isto vai ser uma maldita dor de cabeça para informar. Maldito seja, deveria ter deixado por nossa conta. Tínhamos tudo sob controle. -Prakenskii não tem nenhuma arma favorita. E você não tem absolutamente nada contra dele, nem o terá. Se chegasse a lhe prender e lhe interrogar, terá um álibi e não será alguém de quem desconfie. Será alguém como a Tia Carol. Provavelmente plantará a sugestão de que estiveram juntos todo o tempo e a pessoa acreditará que assim foi. - Aleksander se sentou erguido, com a arma ainda preparada entre as mãos. -Não é estranho que haja tantos rumores sobre ele. -Antes que façamos qualquer outra coisa, chamemos à brigada de artífices e ao FBI- disse Jonas. Vadeou a madeira à deriva e os cadáveres para alcançar ao quarto homem, onde ficou de cócoras, cuidando de não danificar a cena ou aproximar-se muito à bomba. -Podemos deixar por conta deles. Quero ter filhos algum dia. Envenenar-me com radiações não é minha idéia de diversão. -Jonas olhou fixamente em direção ao Aleksander. -Reconhece a algum destes homens? -O três dos AKs trabalhavam para Nikitin. Estavam sentados a sua mesa no Caspar Inn. O quarto, aqui estou incerto, provavelmente pertencerá a qual seja o grupo terrorista que queria comprar a bomba. Ele é o repartidor. Iriam matar Kingman desde o começo. Prakenskii nos entregou isso, figurando-se que tinha uma oportunidade de cinqüenta por cento conosco e nenhuma com o Nikitin. Jonas se tinha agachado junto à mala. -Chernyshev certamente poderia identificar Prakenskii. -Não como nosso atirador- disse-lhe Aleksander. Jackson ofereceu luvas ao Jonas e a câmara que tinha tirado do carro.


225 -Eu não contaria que Chernyshev identificasse a ninguém. Acabo de ligar o rádio. O despacho dizia que alguém tirou o carro do Tom da estrada antes que pudessem chegar ao Ukiah com os prisioneiros. O ajudante está no hospital mas os dois prisioneiros estão mortos. Ambos com uma bala na garganta. Jonas amaldiçoou outra vez. -Muitos cadáveres em um ano. - lançou a Aleksander um olhar escuro, suspicaz. -Não parece muito surpreso. -Não posso dizer que o esteja. Nikitin é conhecido por sua inclinação a matar a quem lhe possa trair. Kingman e Chernyshev podiam lhe identificar. Era questão de tempo. -Poderia ter me advertido. Poderia ter perdido a um bom ajudante. Tal e como saíram as coisas Tom está ferido. -Não tinha forma de saber que Nikitin golpearia tão rapidamente. Jonas se endireitou e caminhou ao redor com cuidado enquanto tomava fotos de cada corpo de vários ângulos. -Poderia ter sido Prakenskii. -Sabe que não foi. - Aleksander estendeu os braços de par em par para incluir a baía inteira. -Este é o trabalho de Prakenskii. Temos a bomba e isso é o que conta. -E eu tenho um montão de cadáveres - resmungou Jonas. -Vamos estar aqui toda a noite assegurando a cena e a maior parte do dia de amanhã, esperando aos federais. -Vou procurar café- disse Jackson.


226

Capítulo – 19 Abigail apertou os dedos ao redor dos de Aleksander e lhe arrastou atrás do balcão do pão, agachando-se em um esforço por esconder-se. A loja de comestíveis estava enchendo rapidamente de clientes madrugadores. -Acreditei que aqui estaríamos a salvo- vaiou -Quem se levanta tão cedo? -Aparentemente todo mundo. - Não pôde evitar sorrir ante suas travessuras. -Agora acredita que é gracioso. - Abigail o fulminou com o olhar. -Não o será em um ou dois minutos. Tenho que ir à baía hoje. Não posso deixar aos golfinhos outro dia ou se dirigirão mar adentro e perderei noventa por cento de meu tempo tratando de encontrá-los. As vozes vagaram até eles: -Inez, isso não pode ser. Ouvi que ali havia ao menos trinta corpos pulverizados pela praia. A bomba explodiu. Provavelmente todos fomos expostos à radiação. Acredite, o câncer vai proliferar aqui em Sea Haven. Abigail espiou através das prateleiras abertas do pão para ver Clyde Darden agarrar a sua esposa fortemente enquanto soltava sua mensagem com voz forte. Vários vizinhos ofegaram com alarme. Atrás do balcão Inez Nelson sacudiu a cabeça. -Isso é uma tolice, Clyde. Jonas estava ali mesmo e se encarregou de tudo. A brigada de artífices chegou e a dirigiram sem problemas. A bomba certamente não explodiu. Havia só quatro homens mortos, não trinta e se me perguntar, o tinham merecido. Não deveriam ter trazido bombas a nosso país. - Soltou um pequeno bufo e fechou ruidosamente a caixa registradora com um golpe um pouco mais rude do necessário. Clyde se inclinou sobre o balcão para recolher suas duas bolsas de comestíveis. -Frank Warner estava envolvido. Sua galeria está fechada e ele está na cadeia. Levaram várias pinturas do lugar como prova. Algum agente de gatilho fácil da Interpol lhe estava controlando todo o tempo. Abigail cravou o polegar nas costelas de Aleksander.


227 -Esse é você - sussurrou. - O de gatilho fácil. -Isso é certo, Inez?- perguntou Gina Farley, a professora da pré-escolar local. -Frank está realmente detido? Parecia um bom homem. -E tão tranqüilo- acrescentou a Sra. Dalden. -Tinha um olhar ardiloso- disse Clyde. -Sempre suspeitei que fosse um espião. -É um ladrão de arte, não um espião- corrigiu-lhe Inez com um pequeno suspiro. -Não tinha nada que ver com a bomba. Chad Kingman era o que estava envolvido nisso, junto com os russos que estavam no povoado. Clyde sacudiu a cabeça. -É a guerra fria outra vez. Invadiram-nos e vigiam nossa costa. Disse aqueles jovenzinhos da estação da guarda costeira que tinham que estar alerta, mas não me escutaram. -Não nos invadiram- corrigiu-lhe Inez outra vez, com uma pequena amargura incomum na voz. -De verdade, Clyde. Tivemos um incidente desafortunado e perdemos a um homem de negócios realmente genial. Frank Warner fez muito por nosso povoado. Por favor, recorda-o quando começar a falar dele. - Abaixou a cabeça, concentrando-se em cobrar ao seguinte cliente. -O que vai acontecer com ele, Inez?- perguntou Gina. -Não sei. - Sua voz resultou estrangulada. -A verdade é que não sei. Abigail pressionou a mão sobre o coração. -Realmente está preocupada com ele, Sasha. Meu coração dói pelo dela. Acredito que direi a Libby que a ajude e lhe alivie um pouco o sofrimento. Aleksander se inclinou para lhe dar um beijo na têmpora. -Odeia ver alguém infeliz. -Isso não é necessariamente certo - objetou ela. -Ao menos atende rapidamente aos clientes. Isso significa que deveríamos ser capazes de sair daqui sem interrogatórios. Retorceu-lhe o rabo-de-cavalo ao redor de seu dedo. -Sabe que temos que tomar cuidado, Abbey. Não quer pensar nisso, mas passa que as pessoas morrem quando têm alguém como Ignatev atrás deles. Temos que ser conscientes cada minuto. -Sei. - Encontrou seu olhar. -Ninguém lhe viu e a polícia revistou todas as casas que alugaram. Sabe que deve fugir da zona. Não é como se estivesse em pé aqui fora. - Baixou a voz ainda mais. -Os povoados pequenos são muito fofoqueiros. Sabemos o que faz todo mundo. Clyde Darden até guarda um par de binóculos junto à cadeira de seu alpendre para poder vigiar a todos seus vizinhos. Afirma que observa aos pássaros. -Não quero saber estas coisas. Ela esfregou a cabeça contra seu braço. -É um bebê. Deveria ter visto sua cara quando Sylvia Fredrickson te abraçou depois que trouxeram de volta ao Mason. E eu todo este tempo pensando que tinha cara de jogador de pôquer. Aleksander lhe agarrou a mão esquerda e acariciou seu dedo nu. -Ainda não colocou meu anel. -Os olhos dele se obscureceram a um azul meia-noite, o início de uma grande tormenta. Abigail sentiu seu coração saltar e correr com excitação como sempre quando ele ficava um pouco selvagem com


228 ela. O apertão se firmou sobre sua mão quando levou os dedos à boca e mordeu gentilmente. -Não estou muito feliz por isso. E não me dê desculpas. Posso vê-lo em seus olhos. Pensei que quando voltasse você o estaria usando Ela inclinou a cabeça. -Ah, sim? Eu acreditava que o homem o punha no dedo da mulher. Ele franziu o cenho. -Coloquei uma vez. Você tirou. Inez elevou a voz. -Vocês dois podem deixar de andar às escondidas atrás do balcão do pão e sair já. É seguro no momento. Abigail teria saltado à liberdade, mas Aleksander a conteve, inclinando-se mais perto lhe sussurrou ao ouvido, -Pode ter conseguido um indulto, mas vai ser muito curto. Ela fez uma careta e se apressou para Inez. -Como está?- Tocou deliberadamente a mão da mulher mais velha. Ela não era Libby com suas milagrosas habilidades curativas, mas ao menos podia aliviar a depressão de Inez a pequena escala. -Ocupada. - Inez tentou um pequeno sorriso. -Os escândalos vão sempre bem para o negócio. -Sinto pelo Frank, Inez. Sei que os dois foram muito bons amigos. Inez elevou o queixo. -Ainda somos muito bons amigos. Vou ajudar em tudo o que possa ser possível, manterei sua galeria aberta. A maior parte de seu negócio era legítimo. Infelizmente acredito que seu amor pela arte e sua necessidade de ter ultrapassou a seu sentido comum. Tinha que possuir as pinturas, embora nunca pudesse as compartilhar. E para financiar sua necessidade, vendeu pinturas a outros colecionadores como ele. - Suspirou. -Acredito que é um vício, muito pior que o jogo ou as drogas. - Encontrou o olhar de Abigail pela primeira vez. -Ele não teve nada absolutamente a ver com essa bomba em nosso país. Nunca faria algo assim. Aleksander se refreou de lhe recordar que Frank Warner era o responsável por abrir uma rota de contrabando que tinha possibilitado que os terroristas aproveitassem a vulnerabilidade. A mulher obviamente era muito leal a seu amigo e era tolerante com qualquer de seus enganos. Estava angustiada e ele não queria piorar as coisas, mas Frank Warner teria sido o responsável se a bomba tivesse explodido em uma área lotada. -A Tia Carol veio ver você?- perguntou Abigail. -Sim, foi ela quem me contou que Frank tinha sido detido. Não quis que escutasse nas notícias. - Inez tragou com força e soltou um pequeno suspiro. Realmente apreciei que viesse pessoalmente. -Tia Carol sempre foi muito doce. Dirigimo-nos a Sea Lion Cove. Estive me encarregando de um dos golfinhos, embora acredite que está muito melhor. -Como vão os planos de bodas? -Não tivemos muito tempo para trabalhar neles, mas vamos conseguirassegurou-lhe Abbey.


229 -Ouvi rumores de que se comprometeu. - Inez olhou com mordacidade o dedo de Abbey e logo a Aleksander. -É costume dar a uma mulher um anel se lhe pediu em casamento. -Dei-lhe um anel - disse Aleksander e levou os dedos de Abigail à boca. Ela apartou a mão de um puxão e a pôs atrás das costas enquanto lhe fulminava com o olhar. -Tem uma fixação oral. - voltou-se para Inez com um sorriso. -Acredito que temos tudo, Inez. Talvez um par de seus famosos cafés para nos manter quentes enquanto estamos na baía? Inez sorriu pela primeira vez desde que tinham entrado na loja. -As Drake e seus homens. - Sacudiu a cabeça enquanto começava a lhes fazer os cafés. -Carol está fazendo acontecer um mau momento a Reginald. Tem ao pobre homem fazendo piruetas por ela. Barbeou-se, cortou os cabelos e leva posta roupa muito elegante. -Sabia que tinham estado comprometidos uma vez?- perguntou Abigail sobre o som da máquina de café expresso. -Certamente. Foi um grande escândalo naquele momento. Reginald terminou com o coração quebrado e com o tempo se voltou tão introvertido que não permitiu que nenhum de nós fosse um amigo muito próximo. Voltou-se muito solitário. Disse a Carol que tivesse muito cuidado com seu coração esta vez. Não acredito que pudesse aceitar um rechaço dela uma segunda vez. -Não tinha nem idéia- disse Abigail. Agarrou os dois cafés enquanto Aleksander segurava a pequena bolsa de comestíveis. -Obrigada, Inez. Verei você logo. Aleksander pôs a mão sobre o ombro de Abigail antes que esta pudesse sair da loja. -Inez, se importaria que saíssemos por detrás? A mulher levantou o olhar alerta, mas assentiu sem fazer perguntas. -Crê que é necessário?- perguntou-lhe Abigail enquanto lhe seguia através da loja para a parte atrás. -Até que apanhemos Ignatev, sim, é necessário. Jonas pode pensar que se foi, mas eu lhe conheço melhor. Não tenho nenhuma dúvida de que o recente giro de acontecimentos não só lhe tirou muito dinheiro, mas também lhe colocou em problemas com seus amigos terroristas e quererá vingança. Interferi em seus planos muitas vezes para que simplesmente o deixe passar. E diferente de Nikitin, que provavelmente faz muito que desapareceu, Ignatev gosta de matar ele mesmo quando pode. Abigail estremeceu enquanto lhe observava pôr suas compras no assento traseiro do carro. -Ao menos estaremos a salvo na baía. Ele negou com a cabeça. -O porto é perigoso, muitos edifícios e barcos. Somos vulneráveis ali. Deveríamos estar mais seguros na baía. Inclusive se estivermos em meio dela, um franco-atirador teria problema para nos disparar desde essa distância. -E se o franco-atirador é como Jackson? -Abigail... Ela abriu de um puxão a porta do condutor.


230 -O que quer que faça? Ficar em casa todo o tempo?- Ele apenas se grampeou o cinto de segurança quando ela arrancou o carro e girou tomando a estrada principal. -Sim, se quiser a verdade. Seria mais seguro até que lhe encontre. -Estou segura de que o seria, mas isso não ajudará a meu golfinho e duvido que você se escondesse na casa comigo. Estaria correndo de um lado a outro tentando lhe atrair longe de mim como o herói de alguma novela. Ele se aproximou para lhe mordiscar o pescoço. -Sou seu herói. Ela o empurrou, mas sem muito entusiasmo. -Vai fazer que tenhamos um acidente. - Esquivou-lhe o resto do curto passeio de carro até o porto e ria quando estacionou o carro. Enquanto carregavam a comida, a bebida e o equipamento de Abigail ao barco, ela se precaveu de que ele a defendia com seu corpo. -Vai estar assim todo o tempo que passemos em alto mar? -Não. Só enquanto estejamos no porto. Abigail sacudiu a cabeça ante sua teimosia. Era impossível discutir com ele quando estava empenhado em algo, assim simplesmente pôs em marcha o motor e tirou o barco lentamente do porto, ignorando a forma em que ele gravitava a seu redor. Uma vez em mar aberto, ele relaxou e se recostou para trás, bebendo seu café e estudando os arredores através de seus óculos escuros. Ela sentiu a paz familiar do oceano começar a alagá-la e esperou que lhe afetasse da mesma forma. -Quão logo podemos conseguir nos casar em seu país? Abigail deixou cair seu café. Ele recolheu o copo do chão do barco antes que o líquido se filtrasse através da madeira. -Isso não tem graça, Sasha. -Não estava sendo gracioso. Digo muito a sério. Não vou deixar escapar nenhuma oportunidade esta vez. Suas irmãs planejam estas complicadas bodas que parece acontecerá em menos de um ano e eu não quero esperar tanto. A sobrancelha dela levantou. -De verdade? Quanto tempo quer esperar? -Nada absolutamente Temos que ter uma grande boda? Não podemos nos casar silenciosamente e saltar todo esse alvoroço? Ela incrementou a velocidade do navio fazendo que esse se chocasse contra um par de ondas de forma brusca lhe derramando o café sobre as coxas. -Alvoroço? Acredita que uma cerimônia de bodas é um alvoroço? Ele verteu o resto da bebida ao mar e jogou o copo num pequeno cubo. -Acredito que o mais importante é fazer você oficialmente minha esposa. E tem muita sorte desse café já estar frio. Tratou de parecer inocente mas um lento sorriso saiu de sua boca até que começou a rir. -Crê que quando estiver casada com você terá mais controle sobre mim, verdade?- Seus olhos cintilaram para ele. -Por que demônios acredita nisso? Aleksander estirou as pernas ante ele e lhe cravou o olhar fixamente detrás de seus escuros óculos, mantendo a face inexpressiva. Seria impossível que ela


231 não visse a dura protuberância em suas calças jeans ou a forma em que sua mão a roçava sugestivamente. Abigail jogou a cabeça para trás, seus olhos cintilavam. A luz do sol brilhava sobre seus cabelos vermelhos e o vento pressionava suas roupas carinhosamente contra seu corpo enquanto pilotava o navio sobre a água. Era tão atraente que lhe doía o corpo só de olhá-la. Quando tirava o sarro, rendo-se dessa maneira, quando o calor dela emanava e se derramava sobre ele, era irresistível. -Nem o pense- advertiu-lhe ela, mas a respiração ficou entupida na garganta e seu olhar deslizou com evidente interesse sobre a virilha dele. -Não fique carinhoso comigo. Estou trabalhando. A única razão pela qual te trouxe foi porque queria ver o que faço. -Quero nadar com seus golfinhos- corrigiu-a quando ela desacelerou o barco e o guiou até o centro da baía. -Prometeu-me a aventura de minha vida. Para mim, isso inclui sexo. E não qualquer sexo. Sexo selvagem e incontrolado. Ela riu outra vez, tal como ele sabia que faria. Adorava a forma em que jogava a cabeça para trás, expondo a formosa linha de sua garganta. Ao sol parecia brilhar. Às vezes, como agora, não podia acreditar em sua sorte, que pudesse estar com ela. Que ela estivesse disposta a entregar-se a ele. Que lhe encantasse sua companhia tanto como a ele a dela. O som da risada dela jogou sobre sua pele como uma carícia. Sentia o toque sobre seu corpo, dentro, profundamente, de onde sabia que nunca poderia tirá-la. Nunca se cansaria de falar com ela. E nunca se cansaria de fazer amor com ela. -Aqui não!- Abigail sacudiu a cabeça inflexível. -Não me importa se leva óculos escuros ou não, sei o que significa esse olhar. - Ela sustentou em alto um dedo acusador. -Não vai tocar-me. Garanto que minhas irmãs estão na varanda do capitão neste momento nos vigiando. Estão tão preocupadas comigo que não me deixam ir sozinha a nenhuma parte desde que prendeu o Frank e descobrimos que Nikitin e Ignatev tinham desaparecido. Não tive nem um momento de paz. -Eu tão pouco. - levantou-se e se aproximou, colocando-a contra seu corpo, encaixando o seu menor contra o dele, sua mão sob o queixo dela. -Ao menos conseguirei beijar você. Abigail abriu a boca para protestar. Não existia só um beijo com Aleksander. Acenderia seu corpo e ela perderia todo o controle. Esqueceria que estavam em pé em seu barco em meio da baía e que suas irmãs podiam ver cada um de seus movimentos. Esqueceria tudo exceto a maestria de sua boca, seu sabor e seu aroma, a necessidade se elevaria com ânsia. Ele embalou a cabeça de Abbey na mão com deliciosa gentileza e baixou seus lábios muito devagar para os dela. Suas mãos eram ternas, íntimas e amorosas enquanto a sustentava. Seus lábios roçaram os dela, um toque lento, daqui para lá, um só toque. Abigail sentiu o puxão de seus dentes no lábio inferior, a descida da língua sobre a comissura de sua boca, os beijos pausados, suaves no canto de sua boca. Ele parecia estar em todas as partes, voltando-a louca de desejo, embora nunca posando sua boca de tudo sobre a dela. Ela segurou seu rosto entre as mãos para lhe imobilizar, ficando nas pontas dos pés até que pôde tomar o controle, capturando seus lábios com os dela, sua


232 língua deslizando-se na escuridão, carícias aveludadas. Fechou os olhos e lhe saboreou. Ele se moveu, uma mudança sutil que a atraiu mais completamente contra ele, alinhando seus corpos enquanto assumia o controle do beijo, aprofundando-o, envolvendo-a entre seus braços. O vento trouxe risadas femininas junto com música que revoou ao redor deles. Aleksander ouviu os sons vagando a seu redor, ressonando em seus ouvidos, o vento lhe tocava a face e acariciava seus ombros. Levantou sua cabeça. -Não se supõe que burlar-se de nós fará que suas irmãs fiquem tão fracas que terão que deixar de nos vigiar? -Não tem a mínima possibilidade. - Abigail roçou outro beijo sobre sua boca tentadora. -Mas temos companhia de qualquer maneira. Olhe. - Assinalou para a boca da baía. Por um momento o sol cintilou sobre a água fazendo que não pudesse ver nem sequer com seus óculos escuros. Então os viu, os golfinhos subindo vertiginosamente de debaixo da água, simples borrões de sombras salpicadas que corriam para o barco. Estavam só uns pés de distância e nadando em formação, curvando primeiro em um sentido depois ao outro no momento preciso. Seu coração saltou. Se encaminhou sobre o flanco do barco, aferrando-se à amurada. -São formosos. -Se apresse. Nos preparemos- aconselhou Abigail. -Não ficarão muito tempo. Aleksander desceu à pequena cabine e colocou o traje de mergulho. Tinha ouvido Abigail contar histórias de suas imersões com os golfinhos, mas nunca tinha desfrutado da experiência de nadar com eles. Só ver tantos na água, saltando e dando voltas, desfrutando de sua exuberância, fazia que lhe subisse a adrenalina. Não podia esperar para meter-se na água. Compartilhou um sorriso largo e lento de espera com Abigail. Obviamente lhe agradava sua reação. -Recorda tudo o que contei sobre nadar com eles, Sasha. Nunca, e quero dizer nunca, aproximar-se de um golfinho de lado ou em ângulo reto. Tem que deixar que se aproximem de você e manter um ângulo oblíquo. Sempre muito suave, nada brusco. Os machos têm um comportamento muito agressivo, assim qualquer um que se aproxime deles de frente é uma ameaça. -Já sei. E não cederei à tentação de tocá-los- acrescentou antes que ela pudesse repetir a advertência. Tinham discutido a possibilidade de nadar com os golfinhos, mas na realidade ele nunca tinha considerado como se sentiria ao estar rodeado pelas criaturas. -É um presente incrível que poucas pessoas recebem alguma vez em sua vida. Ela sorriu abertamente, seus olhos brilhavam. -Estamos trabalhando; só recorda que pode comentar suas observações quando voltarmos à superfície. Ele se meteu na água, feliz pelos golfinhos selvagens que nadavam pela água azul, brilhos tão rápidos que mal podia distingui-los exceto como uns borrões. Cortavam o mar a velocidades tremendas, lhe fazendo sentir-se grande e torpe. Abigail se uniu a ele, com uma filmadora entre as mãos e nadou em meio de quase uma dúzia de golfinhos.


233 Tão de perto, Aleksander podia ver quão grande eram estas formosas criaturas, pesando perto de mil quilos ou mais. Eram fortes e poderosos e pareciam ameaçadores junto ao corpo mais frágil de Abigail. Seu coração se acelerou. Na realidade nunca tinha considerado que ela pudesse estar em perigo com os golfinhos. Com tubarões talvez, mas não com os golfinhos. Por que sempre os tinha considerado criaturas alegres e divertidas? Tinha ouvido as histórias dela, sabia que as orcas eram em realidade um ramo da família dos golfinhos. Nadou para Abigail, com intenção de lhe fazer gestos para que subisse à superfície, mas um dos golfinhos maiores nadou em sua direção, entrando de lado em um ângulo oblíquo, o que Abigail tinha insistido era o modo apropriado de nadar com golfinhos. O golfinho mais próximo a Aleksander parecia estar emitindo um convite. Nadou mais abaixo, uma atuação lenta em vez da anterior, muito mais rápida, e se colocou abaixo dele de forma que ficaram ventre contra ventre. Deu uma olhada a sua direita e outro golfinho se uniu a eles. Um terceiro se aproximou por sua esquerda. Nadou formando um grande laço, assombrado pelo perto que estavam dele e uns dos outros. Os golfinhos igualaram sua velocidade quando deu a volta. Podia vê-los a seu redor, olhos escuros, inteligentes enquanto lhe observavam. Aleksander voltou o olhar para Abigail. Ela estava seguindo um golfinho, obviamente registrando cada movimento com sua filmadora enquanto os outros a rodeavam, nadando em círculos sinuosos. Os golfinhos pareciam muito mais amistosos com ela, tocando-a e vocalizando, sempre se aproximando devagar em ângulo inclinado, emitindo ocasionalmente aquilo ao que ela se referiu como "trem de estalos". Os golfinhos em vez de parecer ameaçadores como os tinha recebido a princípio, agora pareciam brincalhões e sociáveis; criaturas curiosas e inteligentes lhe estudando tanto como eles os observava. A euforia lhe encheu quando os golfinhos formaram redemoinhos ao redor dele e Abigail, mantendo aos dois humanos em seu grupo como se tivessem sido aceitos como membros. Abigail estava concentrada em seu filme, fazendo um círculo longo enquanto Aleksander deliberadamente trocava de direção para ver se seu contingente lhe seguia. Fizeram-no e os grupos de golfinhos se moveram em lentos círculos opostos. Abigail sacudiu o polegar para a superfície. Ele sacudiu a cabeça, não querendo deixar a tão assombrosas criaturas. Ela assinalou seu relógio de pulso e quando ele olhou o seu próprio, sobressaltou-lhe dar se conta de que, embora o estranho balé com os golfinhos parecia ter durado só poucos minutos, na realidade, tinha passado mais tempo do que ele tinha notado. Vários dos golfinhos estavam rompendo sua formação e iniciando a ascensão. Ele assentiu assinalando seu acordo a Abigail. Humanos e golfinhos saíram juntos à superfície. Aleksander quase saltou fora da água, incapaz de deixar de sorrir abertamente. Apanhou Abigail pela cintura e a beijou, inclinando-se sobre a filmadora. -Isto foi... indescritível! - colocou uma mão sobre o coração. -Obrigado, lyubof maia. Que sensação tão incrível! - deu a volta para observar como os golfinhos tomavam fôlego e se mergulhavam profundamente, um após o outro, dois deslizando-se perto de Abigail como a convidando a outra ronda de baile.


234 Abigail nadou para o barco e começou a subir sua filmadora para a parte segura da embarcação. Aleksander a segurou e a colocou cuidadosamente a um lado. -Acabamos?- Havia decepção em suas palavras, mas não podia evitar a excitação da experiência ou o sorriso em seu rosto. -Estavam indicando que se dirigiam por volta do mar, mas às vezes quando nado para o barco, voltam. Em particular Kiwi e Boscoe. – tirou os óculos e jogou a cabeça para trás, rindo alegremente. -Quais são Kiwi e Boscoe?- Desejou arrastá-la para ele e beijá-la até que nenhum deles pudesse respirar. Era formosa. O dia era formoso. -São dois dos machos maiores. Kiwi foi o golfinho que ficou ferido e se acostumou a que eu lhe toque. Isto é o que fazia outro dia lá na baía quando nos dispararam. - Limpou as gotas de água da face. -Comprovei-lhe outro dia e está bem outra vez -O que são essas cicatrizes que têm alguns?- Estava esquadrinhando a água, esperando outro encontro. -Chamam-se restelos. As cicatrizes distintivas em realidade nos ajudam a identificar aos indivíduos. Quando os golfinhos são agressivos uns com os outros remoem sem atravessar a pele e deixam um sinal de restelo. Quase todos os golfinhos os têm. Os restelos menos sérios se curam com o tempo e desaparecem, mas muitas vezes a ferida é bastante profunda para causar uma cicatriz permanente. -Voltemos para baixo para ver se voltarem- sugeriu Aleksander. Resistia em abandonar a baía quando poderia não voltar a ter nunca uma oportunidade. Ela riu brandamente e lhe tocou a bochecha. -Alegra-me que você adore meu mundo. Mas não se decepcione se já se foram. -Nada pode me decepcionar. Foi verdadeiramente maravilhoso. Mergulharam juntos, procurando as águas mais profundas com a esperança de outro encontro. Abigail ficou atrás e deixou Aleksander tomar a dianteira. Queria chorar de tão feliz que era. Nunca tinha visto essa expressão em particular em sua face, como se lhe tivesse dado um presente incomensurável. Tinha dado um presente a ela abraçando seu mundo com o mesmo amor, excitação e alegria que ela sentia sempre que se encontrava com golfinhos selvagens. Enquanto nadava atrás de Aleksander, a água a seu redor de improviso fez erupção, formando redemoinhos e borbulhando, subindo do chão do oceano como um grande gêiser. A água ferveu em um frenesi de espuma branca, cortando sua visão de Aleksander durante uns segundos, mas as borbulhas eram frias, como se tivesse entrado em uma corrente submarina que a elevava para cima. Soube imediatamente que suas irmãs a advertiam de um perigo iminente. Abigail nadou através das borbulhas, dando rápidas patadas para abrir espaço através da água para Aleksander. Para seu horror uma sombra escura se elevou do leito de algas marinhas, colocando-se atrás de Aleksander, deslizandose através da água diretamente para ele. Se tivesse podido gritar uma advertência a Aleksander, o teria feito, mas ele estava muito longe e estavam sob a água. Só pôde observar com horror, com o coração na boca, enquanto o mergulhador elevava um rifle de arpão.


235 As borbulhas de advertência estalaram ao redor de Aleksander quando o arpão foi disparado. Aleksander se deteve de repente, meio virado para trás para a Abigail quando a espuma fria o envolveu como advertência. O arpão deslizou através da água e lhe golpeou o ombro, atravessando-o. A espuma branca a seu redor se converteu em um vulcão vermelho. A dor e o medo pela Abigail se mesclaram, quando reconheceu Leonid Ignatev. Com golpes seguros e poderosos, Abigail fechou a distância entre ela e Ignatev. Podia lhe ver encaixando outro arpão em seu rifle com tranqüila precisão, sua atenção estava centrada em Aleksander. Como se soubesse que ela não era uma ameaça para ele. Seu coração trovejou com alarme. Virou-se quando a folha de uma faca se deslizava para ela. Um segundo mergulhador se chocou contra ela. Abbey agarrou suas mãos e levantou o pé, batendo com todas suas forças na virilha de seu atacante. Ele se dobrou e o movimento a levou para trás, lhe dando tempo para alcançar a faca de seu cinturão. Nadou ao redor dele, cortando suas mangueiras de ar e lhe empurrando para pôr distância entre eles quando ele se virou. O homem se equilibrou sobre ela outra vez, sua cara retorcida denotava determinação. Peixes, milhares deles nadando em apertada formação, nadaram entre eles, outra barreira lançada por suas irmãs para protegê-la do homem que queria esfaqueá-la grosseiramente com sua faca. O atacante de Abigail estava ficando sem ar e se viu obrigado a iniciar a ascensão à superfície. Ela lutou por abrir espaço através da tela de peixes para Ignatev, faca em mão. Através de uma neblina de dor, Aleksander utilizou suas pernas, chutando dura e rapidamente em um esforço por aproximar-se de Ignatev. A ponta afiada do arpão tinha atravessado completamente o músculo e aparecia pela parte dianteira de seu ombro. Seu braço estava inútil e torpe para nadar, mas se limitou a utilizar as pernas, chutando poderosamente enquanto tratava de alcançar Ignatev antes que o homem pudesse disparar um segundo arpão. Ignatev se colocou no fundo da baía no meio do leito de algas, tomando-se tempo para apontar. Sabia que Aleksander não poderia lhe alcançar e havia uma satisfatória mancha vermelha que crescia em círculos e se ia alargando ao redor do homem ferido. Quando levantou o rifle, o leito marinho tremeu, sacudiu-se, ondeando com uma série de pequenos terremotos que puseram Ignatev de joelhos. O som era levado através da água. Vozes femininas elevando-se em um cântico melódico, palavras desconhecidas, mas implacáveis, o volume elevandose e caindo com o fluxo. Cada vez que Ignatev tentava apontar, a terra se movia lhe lançando para frente sobre o peito. Aferrou o arpão com força amaldiçoando silenciosamente quando as algas se enredaram em seus tornozelos e pernas. Aleksander abriu passo com unhas e dentes através das algas marinhas tentando alcançar Ignatev. Abigail estava quase sobre o homem e, para seu horror, Aleksander pôde ver Ignatev virando para ela. Ignatev era um homem grande e forte e além disso um perito assassino. O braço de Aleksander pendurava inútil a seu flanco, negando-se a lhe ajudar a propulsar-se através da água. As algas obstaculizavam ainda mais seus movimentos. Recorreu a cada reserva de força e determinação que possuía, lançando-se para frente para alcançar Ignatev.


236 Ignatev se lançou para Abigail, chocando-se com ela enquanto tratava de lhe alcançar, golpeando para sua cabeça com o punho, o arpão ainda obstinado com força. Ela jogou a cabeça para trás bem a tempo e torceu a mão, lhe cortando o braço com o fio de sua faca. Ele se virou, disparando em Aleksander, tendo calculado quando estaria seu inimigo sobre ele. O arpão acertou Aleksander no flanco, deslizando-se através da pele, músculo e osso, lhe conduzindo para trás. Abigail atacou outra vez, entrando abaixo com sua faca, agarrando Ignatev pelo pescoço com o braço e lhe golpeando com a pequena folha no ventre com tanta força como pôde reunir. Ele apanhou seu pulso e lhe tirou a faca da mão, apunhalando-a várias vezes enquanto ela tratava de espernear para trás. A folha era pequena e as feridas pouco profundas, mesmo assim Abigail sabia que tinha muito pouco tempo. Quando Ignatev se ergueu sobre ela, com o braço elevado, Aleksander lhe agarrou por detrás, fazendo girar o homem e lhe conduzindo para frente com todo seu peso e força, incrustando a ponta do arpão que tinha atravessado seu ombro profundamente na garganta de Ignatev. Houve um pequeno momento de surpresa, como se o oceano mesmo tivesse cessado todo movimento. Abigail viu Aleksander estender o braço em busca dela e logo seu braço caiu e os dois corpos, unidos pelo arpão, começaram a afundar-se para o fundo do oceano. “Libby! Ajude-me! Oh, Meu Deus! Libby necessito de você!” Abigail gritou e gritou repetidas vezes em sua mente para sua irmã. Uma dor crua apertava sua garganta e seu ventre quando separou os dois corpos e enganchou os braços sob as axilas de Aleksander. Ela não era telepática, mas suas irmãs estavam conectadas. Elas sabiam. Eram conscientes. Começou a arrastar Aleksander pela água, elevando-se para a superfície. Era impossível lutar contra a força do mar, arrastar seu peso e lhe manter o regulador em seu lugar. Esse seguia escapando sem importar quantas vezes tratasse de colocar-lhe na boca. Estava mais próxima da praia que do barco e em qualquer caso não importava. Ele sangrava apesar da água fria. E estava se afogando, seus pulmões se enchiam de água enquanto arrastava seu corpo inconsciente para a praia. Suas irmãs verteram sua força nela, ajudando-a apesar da distância, todo o tempo tentando controlar às criaturas marinhas que cheiravam o sangue na água. Foi uma longa batalha, lutando contra a corrente e tentando remontar as ondas com o Aleksander a rastros. Exausta, aterrorizada de perder Aleksander, Abigail recordou, muito tarde, ao segundo homem que tinha conseguido chegar à superfície e estava à espreita. Seu coração saltou, depois começou a palpitar alarmado. Ficou em pé, cambaleando-se enquanto arrastava o peso de Aleksander para a areia molhada. O homem a esperava crédulo, com um pequeno sorriso no rosto. Observou sua luta por levar o corpo a terreno mais elevado. Abigail caiu de joelhos, lutando por respirar, tirando a máscara e arrancando a de Aleksander e colocando ambas as mãos sobre suas feridas. Era impossível conter o fluxo de sangue. Pôs os lábios contra o ouvido de Aleksander.


237 -Não me deixe. - Começou o trabalho de ressuscitação, lhe animando a respirar de novo, lhe animando a tossir e tirar a água do mar de seus pulmões. O homem deu um passo para ela, chamando sua atenção. Ela olhou para cima para lhe ver sustentar em alto uma faca de aspecto maligno. Ele sorriu enquanto dava um segundo passo para ela. A bala lhe golpeou antes que se ouvisse o disparo. Atravessou o olho esquerdo do homem, atirando sua cabeça para trás e fazendo que se derrubasse como uma boneca de trapo. Abigail pôs a cabeça sobre o peito de Aleksander brevemente, depois olhou ao redor. -Prakenskii! Venha depressa! Ele está morrendo. Eu não posso lhe curar. Minhas irmãs estão tão exaustas como eu. Sei que está aí. O vento tocou sua face. Suas irmãs. Sempre com ela, tão assustadas pelo Aleksander como ela. -Por favor. - Sussurrou - Por favor. - Chamou tão forte como pôde, as lágrimas lhe entupiam a garganta. Uma só voz se elevou em asas no vento. Suave. Melódica. Encantada. A voz de Joley era incrivelmente formosa, uma fumegante mescla de persuasão sensual e efusão emocional. Seu feitiço cantando era hipnotizante e irresistível. Prakenskii saiu de trás das rochas, sua arma já estava desmontada. Envioua girando às profundidades da baía enquanto cruzava a areia para Abigail. -Tem que estar mal para que sua irmã me deixe ver o caminho rastreando sua magia. Deixe-me ver. -Tem que lhe ajudar. - Abigail limpou as lágrimas que corriam por sua face. O esgotamento de suas irmãs era tão pesado como o seu. Tinha esgotado toda sua força física. -Eu não posso lhe salvar, mas você pode. -Se o fizer, não terei forças para escapar da polícia. - Prakenskii deveria ter se afastado em direção contrária rapidamente, mas em vez disso se agachou junto a Aleksander. -Tratei de lhe advertir. Fiz tudo que esteve em minha mão para lhe manter fora disso. É um filho da puta muito teimoso. -Sei que pode lhe salvar. Eu ajudarei. Minhas irmãs ajudarão. E lançaremos um manto de amparo entre a polícia e você para que possa escapar. - Arrumou os ombros. -Sei que se preocupa por ele. Salva sua vida. Por favor. -Me deverá uma. Todas vocês me deverão isso. Quando retornar, espero que me ajudem. Abigail assentiu com a cabeça, insegura se estava pactuando com o diabo, mas sem que isso lhe preocupasse. Tudo o que importava era que Aleksander vivesse.


238

Capítulo – 20 Aleksander ouviu a voz de Abigail que lhe chamava. A porta se fechou de repente abaixo. Chamou-lhe uma segunda vez. Adorava o som de sua voz quando dizia seu nome. Havia uma nota de impaciência, de alegria que lhe esquentava. Ficava sempre preso nesse momento ao despertar, quando ainda acreditava que estava na Rússia ou em algum hotel triste, sozinho, sem ela. Ainda tinha pesadelos de Abigail sendo esbofeteada e coisas piores na sala de interrogatórios de Ignatev e despertava molhado de suor e o nome dela ressonando através da habitação. Colocou a mão contra o coração e olhou por cima do corrimão para o amado oceano dela. Sempre tinha vivido em cidades lotadas, com sua estranha beleza de luzes e edifícios e prenhes de engano e crime. O oceano lhe consolava e lhe trazia paz. Suspeitava que fosse porque não podia separar o amor e a necessidade do oceano que sentia ela, uma parte integral de sua personalidade, de Abigail. -Onde está, Sasha?- Havia uma nota entrecortada em sua voz. Sorriu ante essa nota, esse pequeno sinal de preocupação. -Aqui fora, no alpendre. - Ela tinha se mudado com ele para lhe cuidar uma vez que lhe permitiram sair do hospital e, embora alugava a casa da praia de maneira temporária, Abigail fazia que parecesse um lar. Ela correu através da porta de vidro aberta até seu lado.


239 -Supõe-se que não tem que vagar por aí. - Tentou soar brava mas não pôde evitar mostrar seu alívio ao lhe encontrar sentado em uma cadeira. -Queria olhar o oceano. - Entrelaçou seus dedos com os dela e puxou sua mão até a boca para beijar o anel. -Acredito que o som me ajuda a dormir. Fiquei dormindo como um bebê de dois anos. -Recuperará sua força. Sei que é difícil para você ser paciente. Libby diz que está se recuperando. -E você?- Levantou-lhe o top para examinar as cicatrizes de seu estômago. -O que diz de você? Abigail se inclinou para roçar um beijo sobre seus lábios. -Estou bem. Disse a você que estava perfeitamente bem. As punhaladas foram pouco profundas. Posso ter todos os bebês que quer que tenhamos. Os dois. -Ao menos sete. As garotinhas de Elle têm que ter alguém com quem brincar. - Suas mãos a agarraram pela cintura e a atraíram para frente para poder pressionar pequenos beijos sobre cada marca arroxeada que lhe marcava a pele. -Quando o vi indo por você, juro Abbey, que nunca pensei que pudesse sentir tal raiva ou tal medo. - Isso lhe tinha dado a força necessária para golpear seu corpo mortalmente ferido com tal força contra o de Ignatev, o que lhe permitiu matar ao homem. -Ainda não sei como conseguiu me tirar do oceano. -Não ia perder você outra vez. - Ela disse decididamente, lhe embalando a cabeça entre os braços enquanto ele pressionava outro beijo em seu intrigante umbigo. Reafirmou seu apertão sobre ela e a trocou de posição até que ficou colocada entre suas coxas. -Prakenskii realmente me salvou a vida? -Já me perguntou isso três vezes. Sem sua ajuda, teria morrido ali mesmo. Ele disparou ao segundo homem para lhe manter a distância de mim e logo ajudou você. Tem todos os dons, não cabe dúvida, é igual à Elle. Carrega todo o código genético necessário para transpassar cada um dos dons a outra geração. Oxalá soubéssemos mais sobre seu passado. - aproximou-se mais dele, recostando-se sobre ele porque sua língua estava realizando uma pequena dança ao redor do umbigo, brincando com o pequeno buraco dali e fazendo alguma correria mais baixo. Aleksander lhe desabotoou as calças, deslizando-lhe sobre a curva dos quadris, baixando-lhe pelas coxas até as panturrilhas. Ela tirou obedientemente os sapatos e chutou as calças a um lado. -Tire o top. Abigail não vacilou, puxou o tecido ajustado por cima da cabeça e o deixou cair sobre o alpendre. -Solte o cabelo. -Definitivamente se sente mais forte. Está voltando a ser muito mandão. Tirou a trava do cabelo, permitindo que sua cabeleira vermelha deslizasse livre até a cintura. -Não tive muito que fazer exceto pensar em você enquanto estou aqui totalmente sozinho. Abigail olhou fixamente a bandeja que havia junto à cadeira.


240 -A tia Carol esteve aqui. -Com seu Reginald. Ficaram um par de horas. Ele é um homem interessante. Ela espionou a cesta de fruta junto à cadeira. -Hannah também veio, não é? E as revistas são de Joley. Kate deve ter trazido a coleção de livros. Sei que Libby veio dar uma olhada em você. Ele sorriu enquanto suas mãos deslizavam sobre a pele nua, moldando seus quadris. -Sarah e Damon pararam por aqui também. E Jonas. - Seu sorriso ampliou a uma careta juvenil. -Inez e as damas do clube do Chapéu Vermelho me fizeram uma visita e deixaram o jantar na geladeira. Disseram que só terei que esquentálo. -Quando teve tempo para pensar em mim?- sacudiu os cabelos para trás, sabendo que lhe encantava a sensação e sua aparência. -Cada maldito minuto. E foi um maldito inferno ocultar minha ereção a todo mundo. Tive que pôr uma manta sobre o colo. Sonhei com você, tal e como estamos, em pé ante de mim com seus cabelos brilhando como um raio de sol. É malditamente formosa. -Acredito que está delirando. Talvez muito sol. - Mas não pôde evitar a excitação e o prazer que a atravessou -Você não se vê como eu vejo você. - reclinou-se em sua cadeira e se deu um festim dela com o olhar. Com o sol atrás, parecia mais formosa que nunca. – Quero você mais do que nunca poderei expressar, Abbey. Por que me sinto sempre como se você estivesse escorrendo entre meus dedos e não pudesse te apanhar? -Não tenho nem idéia. -Estava apoiada sobre a beirada da jacuzzi com sutiã e tanga negra, sua pele pálida parecia suaves pétalas de rosa. -Poderia tirar a manta do colo para que possa ver no que estou me colocando- Sua perna torneada se balançava daqui para lá. -Tirei você arrastado do oceano e fiz um trato com o diabo para salvar sua vida. Que mais necessita que eu faça para demonstrar a você que não vou a nenhuma parte? -Não estou seguro de qualificar Prakenskii como diabo. - Aleksander retirou a manta, revelando sua nudez sem um rastro de modéstia. -Jonas suspeita que ajudou Ilya a escapar. Disse-me que os rastros entravam no mar, mas que pareciam bem preparadas em vez de algo real. Jonas me perguntou outra vez sobre isso. Felizmente eu estava inconsciente quando Prakenskii esteve ali, assim não tive que mentir. -Eu não menti ao Jonas. - disse Abigail, seu olhar se esquentou mais quando caiu de seu torso enfaixado até sua virilha cheia. -Espero que tenha conservado essa manta sobre você quando todas suas visitas estavam te mimando tanto. -Disse-lhe que Prakenskii fazia muito que se foi, que salvou sua vida e logo a minha. -O qual foi a pura verdade. - deixou-se cair de joelhos diante dele. -Adoro a forma em que me sente falta Sasha. - Embalou seu dolorido escroto na palma da mão, seus dedos acariciavam a base da ereção. -Sempre me faz sentir formosa. -É formosa.


241 -E você me necessita desesperadamente. -Necessito desesperadamente de você. - Fechou os olhos ante o puro prazer que atravessou seu corpo quando lhe tocou. Tinha dedos mágicos. Um corpo e uma boca mágica. E quando lhe tocava desse modo, o fazia sentir como se lhe amasse mais que a nada no mundo. -Quero fazer amor apropriadamente- disse-lhe, olhando-a de cima. Seus cabelos brilhavam, um vermelho vibrante que nunca deixava de lhe fazer desejar tocar os sedosos fios. Enredou o punho entre sua cabeleira. -Quero estar dentro de você Abigail. -É tão impaciente. - Sua língua lhe deu um suave golpe, seu fôlego quente lhe engoliu. Aleksander prendeu seus dedos sobre o peito. Sorriu quando ela estremeceu em reação. -Quando vai casar comigo? -Acreditava que tínhamos concordado não falar de matrimônio enquanto fazemos amor. - Brincou com ele lhe arranhando brandamente com os dentes, deu-lhe outra pequena lambida com a língua. -Concordamos que era injusto aproveitar-se assim. -Não, não o fizemos. Quero me casar imediatamente. - Quase saiu da cadeira quando a boca quente se fechou sobre ele e sugou, lambendo com a língua adiante e atrás. -Imediatamente. Abigail riu, o som vibrou diretamente através de sua pesada ereção e enviou ondas de prazer através de seu ventre. -Não posso me casar com você até que meus pais voltem para casa. Nunca me perdoariam isso. -Está desfrutando do fato que supõe que te deixo fazer o que quiser comigo porque não posso me vingar, verdade?- perguntou ele. -Oh sim- disse ela, levantando a cabeça, seus olhos dançando e seu sorriso ampliando-se. -Eu adoro isso. -Tenho notícias para você, baushki-bau, sinto-me bastante forte de novo. Ela riu outra vez e lhe deu um golpe com a língua e pequenas lambidas que enviaram eletricidade através de suas veias. -Eu acredito que não. -Sim. Vêem para cá. - Agarrou-lhe a cintura entre suas fortes mãos e a puxou com força. Abigail lhe fez uma careta. -Está me estragando toda a diversão. -Absolutamente. - Sua mão embalou os ferozes cachos fogosos sobre o cetim negro. Seus dedos se inundaram nas suaves e úmidas dobras. -Acredito que não necessitamos disso. - Arrancou-lhe a tanga e a lançou a alguma parte atrás dele. -Me monte, Abbey. Tenho que estar dentro de você agora mesmo. Não posso esperar outro dia. Nem outro minuto. Abigail lhe rodeou o pescoço com os braços, cuidando de não apoiar-se contra suas bandagens quando se colocou sobre suas coxas e em câmara lenta deliberadamente introduziu seu corpo sobre o dele. Aleksander jogou para trás a cabeça quando o prazer lhe alagou. Ela se sentou lentamente, sua vagina, apertada como um punho quente, suas dobras


242 suave veludo, aferraram-lhe quando empurrou abrindo passo em seu interior mais profundamente. O fôlego abandonou seus pulmões em um ofego de prazer. Unir-se a Abigail não se parecia com nenhuma outra coisa. A doce e quente rajada, o vício de seu corpo, a forma em que ela se movia com um ritmo perfeito, não importa quão duramente ou com que rapidez, ou lentidão fosse ele. Sempre se sentia como se introduzido sob a pele dela e tivesse encontrado o paraíso. -Adoro como sempre me deseja, Abbey. Tem alguma idéia do presente que é isso para um homem? - Os dedos dele acariciaram os cabelos da nuca dela. Tem a menor idéia do presente que faz a um homem ao lhe olhar dessa maneira? - Ela montou seu corpo com um lento e fácil deslizar, cobrindo cada polegada, atormentando-o, aumentando seu prazer e ao mesmo tempo sendo muito cuidadosa com suas feridas. Elevou-se fora dele, aferrando com seus músculos, criando tal fricção que lhe roubou o fôlego. -Sei o que sinto cada vez que me toca, rebyonak, cada vez que transpassa a porta e seus olhos se iluminam quando me vêem. Suas mãos lhe agarraram os quadris com uma força inesperada, lhe cravando os dedos, sustentando-a imóvel enquanto empurrava dura e profundamente. Abigail gritou, incapaz de conter-se, o prazer foi profundo até o osso, esticando cada músculo de seu corpo. Sempre era assim com Aleksander. Ela começava tendo o controle e ele o tirava com seu corpo enchendo o dela e lhe proporcionando tal êxtase que acreditava que ia se romper em um milhão de pedaços. Sustentou-a imóvel enquanto ele começava a afundar-se nela com seguras e duras estocadas, seu corpo palpitava ao redor do dele, fundindo-se no intenso calor e em um dilacerador desejo que nublava a mente e a atravessava até que estava gritando seu nome. Ela desejava alívio. Necessitava alívio. Estava justo ali, justo no bordo, tão perto que podia notar cada músculo esticar-se com espera. Com desejo. Mas nunca chegava. Sabia que ele não deveria gastar tanta energia mas se encontrava suplicando algo mais. Estava-a matando, obrigando-a a esperar. Mantendo-a justo ao bordo do precipício. -Prometa-me isso -Prometer o que?- A penas podia pensar com o corpo tão tenso, suplicando alívio. -Sasha! O que quer?- Moveu os quadris urgentemente, tratando de lhe obrigar que a aliviasse. -Promete que se casará comigo logo que seus pais retornem. Ela quase soluçava de prazer. -Está me matando. Não posso mais. Acredito que estou às portas da morte. -Pensou errado. - moveu-se outra vez, introduzindo-se muito lentamente nela, e jogou marcha atrás, lhe sujeitando os quadris de tal maneira que ela não pudesse lhe seguir. -Quando seus pais retornarem se casará comigo. Diga. -Maldição. O que queira. Prometo-lhe isso. É um ditador. - Não ia dizer que seus pais não voltariam para casa até as bodas de suas irmãs e que isso demoraria vários meses ainda. Seu corpo se estremecia pela necessidade de alívio e deliberadamente apertou os músculos quando ele se elevou para ela outra vez, desesperada por alívio.


243 Ele empurrou de novo, esta vez quase brutalmente estrelando-se contra seu corpo. O fôlego abandonou seu corpo, as ferozes sensações a absorveram. -Mais!- ordenou, sentindo suas poderosas coxas abaixo dela. Realmente lhe podia sentir enchendo-a, empurrando através dos suaves músculos de sua parede vaginal, enquanto lhe aferrava firmemente, mantendo-o muito perto, lhe sujeitando dentro dela. Abigail olhou seus olhos, ficando apanhada e sujeita pela intensidade das emoções que formavam redemoinhos nas escuras profundidades. Podia ver seu amor por ela, a necessidade e o desejo lhe atravessando com a mesma força da paixão que sentia ela. Tinha tido tanto medo de sentir-se assim outra vez, o potente amor que a enchia e se negava a deixá-la partir. Estava ali nos olhos dele. Ele se afundou com força, procurando estar muito profundamente dentro dela. Sentia-lhe mover-se através dela, grosso, duro e quente, até seu útero. Sentiu o corpo dele saltar quando seus músculos apertaram como um punho, negando-se a lhe deixar. Quando seus músculos se convulsionaram, com estremecedores espasmos que a deixaram sem fôlego, brilharam lágrimas nos olhos dele. Sua quente liberação emanou profundamente nela e pressionou a testa contra o ombro bom dele, saboreando os pequenos tremores que mantinham seu corpo estremecendo-se de prazer. -Amo você, Sasha. Mais que nada. Assusta-me o muito que te amo. -Não está sozinha, Abbey. Não poderia viver sem você. Você se arrumou sem mim. Foi capaz de prescindir de mim completamente. Isso me aterra. -É a única forma de auto conservação que tenho. -Me olhe, Abigail. - Abriu-lhe os dedos de ao redor de seu pescoço e lhe deu a volta. A ação enviou outro estremecimento através de seu corpo e ao redor do dele. Olhou aos seus olhos e sentiu seu coração saltar grosseiramente. Ele sempre parecia a afetar dessa maneira. -Amo você. Não vou te deixar. Nunca. Lê minhas cartas. Saberá o desesperadamente que necessito de você em minha vida e não voltará a ter medo. Abigail lhe beijou. Já tinha lido as cartas. Tinha-as lido uma e outra vez durante todas essas longas horas e dias nos que ele lutava por sua vida. Entesourava cada uma delas e tinha chorado mais que nunca pela forma em que ele tinha vertido seu coração para ela -Amo você, Sasha. Amo você. O vento soprou da superfície do oceano para o alpendre, trazendo o cheiro do mar, sal e o som amortecido de vozes femininas. Distante. Musical. Zombador. Abigail ficou rígida, separou-se de Aleksander com alarme, seus olhos estavam enormes. -Oh, não. - Olhou ao redor freneticamente. -Minha roupa. Onde está minha roupa? Aleksander lhe ofereceu a camisa e observou como a passava de um puxão pela cabeça. Saltou fora de seu colo, atirando a manta sobre ele. -Rápido, tem que entrar na casa e se vestir. Vamos, vá depressa.


244 O vento se retirou, lançando folhas e ramos em vários mini-tornados. Desde vários cantos da casa o vento balançou os carrilhões musicais em uma melodia estranha. -O que acontece, Abbey?- Tirou uma arma de debaixo do pano de cozinha que havia na bandeja que estava a seu lado. Seu olhar se movia em todas as direções, procurando o perigo, avaliando suas opções. Ela alcançou suas calças e as subiu pelas pernas. -É minha mãe. E meu pai! Não posso acreditar nisso. Retornaram para casa. Isto é horrível. Onde está sua roupa? Estarão aqui de um momento a outro. E não diga nada escandaloso. Ele sorriu e estendeu o braço em busca de sua mão, visivelmente depravado. -Isto é maravilhoso. Estive desejando conhecer seus pais. Está se ruborizando. Ela se deu uma palmada na face como se pudesse eliminar a mancha de cor. -Não estou. Não posso acreditar que essas malvadas irmãs não me advertissem imediatamente. É obvio que voltaram para casa. A tia Carol lhes deve ter contado que Ignatev me apunhalou. - Agachou-se para lhe ajudar a ficar em pé. -Disse que ia fazer mas lhe disse que não lhes dissesse nenhuma palavra. Provavelmente contou à família inteira. Teremos sorte se todas minhas tias, tios, e primos não aparecem também. Aleksander cambaleou e isso a estabilizou. Respirou fundo. -Está bem. Estaremos bem. - deteve-se de repente e lhe fulminou com o olhar. -Sabia. Bastardo putrefato, mentiroso, sabia desde o começo que meus pais vinham, verdade? A tia Carol lhe disse isso. Ele arqueou uma sobrancelha, impassível ante sua acusação. -Pôde havê-lo mencionado quando esteve aqui antes. -A única razão pela que ajudo você a entrar em casa em vez de te empurrar fora do alpendre é que ainda está ferido. Nego qualquer promessa. -Nem sonhe, Abbey. Farei cumprir a promessa. - sentou-se na cama e limpou as pequenas gotas de suor da testa. -Foi feita sob pressão e me enganou. - Lhe trouxe uma toalha. -Aqui tem, isto ajudará. Trata de descansar, Aleksander. Não pode se recuperar das feridas tão rapidamente. Tem que deixar de se empurrar com tanta força. Quase morre. Teria morrido sem a magia de Prakenskii. Não deveria ter permitido que fizesse amor assim. Deixamo-nos levar. Ele a atraiu de um puxão. -Amo você, Abbey. Não nos deixamos levar. Simplesmente necessitávamos um ao outro. Há uma diferença. Abigail lhe beijou. -Amo você, Aleksander Volstov, mas não tenho nem idéia de por que. É mandão e insiste em acreditar que é invencível. - Limpou-lhe rapidamente e lhe ajudou a colocar uma calça e uma camisa suave. -Está pálido. Quer tomar algo para a dor? Libby vai matar-me por isso.


245 -Para, Abbey. - disse ele, com voz terna. -Libby não vai ficar brava. Não fizemos nenhum dano. Estou me sentindo muito melhor. - Envolveu os braços ao redor dela e acariciou com o nariz a parte superior de sua cabeça. Ela o olhou. -Mencionei o mandão? -Acredito que mais de uma vez. Vamos à sala de estar. Prefiro conhecer seus pais pela primeira vez ali e não no dormitório. - Respirou fundo, sentiu a rajada de dor que sempre chegava quando se esquecia e inalava muito profundamente. Sorriu para ela de todos os modos. Já tinha tido bastante de descanso e cura. Se ela soubesse quão débil estava na realidade, faria voltar para a cama em um abrir e fechar de olhos e já não haveria mais de sua boca brincalhona e seu corpo ardente que drenasse sua força. Alimentaria-lhe com sopa de frango. Abigail lhe olhou suspicaz, mas lhe ajudou obedientemente a levantar-se. -Suponho que há certa desvantagem em conhecer os pais pela primeira vez no dormitório, mas nunca pensariam que é débil, Sasha. Eles não são assim absolutamente. São amorosos e gente agradável. Ele riu brandamente. -Não quero estar no dormitório, pensando em você em minha cama e o que eu gostaria de estar fazendo no momento em que estivéssemos a sós, quando temos companhia. - Ela grunhiu, realmente grunhiu, lhe franzindo o cenho com ferocidade, com expressão de não estar para tolices. Aleksander estalou em gargalhadas, uma dor esfaqueou todo seu corpo, mas não teve importância. -Não tem nem idéia do quanto te amo. Abigail ajudou Aleksander a sentar-se na cadeira mais confortável justo quando soava a campainha da porta. -Estão aqui. - anunciou desnecessariamente. Queria que seus pais lhe quisessem. Que lhe vissem através de seus olhos. Que vissem o autêntico Aleksander, não ao homem duro e cruel que ele apresentava ao resto do mundo. Enquanto ia para a porta, entendeu que não havia nada do que preocuparse. Seus pais confiavam nela, amavam-na e abraçariam Aleksander na família. Seu coração palpitava de alegria e abriu a porta em um puxão.

FIM


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.