Lara Adrian - Midnight Breed 13.5 - Stroke of Midnight
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RESUMO Nascido de uma nobre linhagem Raça cheia de rituais exóticos e deveres familiares, o guerreiro vampiro Jehan se afastou do luxo de sua infância no Marrocos para se unir ao Centro de Comando da Ordem em Roma. Mas quando uma antiga obrigação familiar chama Jehan de volta para casa, o resistente príncipe do deserto se encontra empurrado a um casamento não desejado com Seraphina, uma beleza pouco disposta e tão decidida como ele a resistir ao antiquado pacto entre suas famílias. No entanto, apesar de tentar comprovar sua incompatibilidade, não podem negar a atração que se acende entre eles. E enquanto Jehan e Seraphina lutam para resistir ao chamado do sangue, um inimigo mortal procura colocar fim à sua trégua antes que esta comece...
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Era uma vez, no futuro... Eu era uma estudante fascinada com histórias e conhecimento. Estudei filosofia, poesia, história, ciências ocultas e a arte e ciência do amor e magia. Tinha uma grande biblioteca na casa de meu pai e milhares de volumes de contos fantásticos. Aprendi tudo sobre as raças antigas, e muitas vezes. Sobre mitos e lendas e sonhos de todos através do milênio. E quanto mais leio, mais forte minha imaginação cresce, até que descobri que era capaz de viajar nas histórias... que na realidade formava parte delas. Gostaria de poder dizer que ouvi meu professor e respeitei meu dom, como deveria. Se o tivesse feito. Não estaria contando este conto agora. Mas eu era temerária e confusa, mostrando valentia. Uma tarde, curiosa sobre o mito de Mil e uma noites, viajei novamente à antiga Pérsia para ver por mim mesmo se era verdade que cada dia Shahryar (Persa: rei) se casava com uma nova virgem e logo a esposa de ontem era enviada para ser decapitada. Estava escrito e eu li, que no momento que conheceu Scheherazade, a filha do vizir, já havia matado mil mulheres. Algo saiu mal em meus esforços. Cheguei no meio da história e de alguma maneira troquei de lugar com Scheherazade – um fenômeno que nunca aconteceu antes e ainda hoje em dia, não se pode explicar. Agora estou presa neste passado remoto. Tenho vivido a vida de Scheherazade e a única maneira que posso me proteger e seguir com vida é fazer o ela fez para se proteger e se manter com vida. Cada noite, o rei me chama e ouve enquanto me giro em contos. E quando a noite termina e amanhece, paro num ponto que o deixa sem fôlego e ansiando por mais. E assim o rei perdoa minha vida um dia mais, para poder ouvir o resto da minha escura história. Tão logo termino uma história... Começo uma nova... como a que você querido leitor, tem diante de você agora.
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CAPÍTULO UM Os gritos dispararam de uma das muitas ruas estreitas e empedradas, no coração de Roma junto ao pitoresco e antigo Trastevere 1. Os gritos de terror mortal ecoaram na noite tão eficazes como uma lâmina. Ou melhor, presas afiadas. Como os de uma de gangue de predadores letais que trituraram a garganta de um civil humano num clube de dança na cidade há apenas uns minutos. Merda. Jehan olhou rapidamente por cima do ombro para os outros guerreiros Raça atualmente de pé atrás dele. — Eles estão por perto. Ele e seus companheiros de equipe do Centro de Comando de Roma estavam à procura de quatro pícaros sedentos de sangue desde que a patrulha foi alertada sobre a matança no clube. Cuidaram da situação antes que qualquer ser humano percebesse o que estava acontecendo, mas sua missão não acabaria até que incinerasse os membros selvagens de sua própria raça. — Separar. — Disse para seus homens. — Maldição, não podemos perdê-los! Fechem todas as saídas. Seu companheiro e bom amigo, Savage, sorriu e assentiu com a cabeça loira antes de virar à direita para tomar uma das outras ruelas sinuosas ao comando de Jehan. Outro guerreiro, uma ameaça corpulenta, de cabeça raspada chamado Trygg, não fez nenhum reconhecimento ao seu chefe de equipe antes de desaparecer na escuridão como um fantasma para obedecer à ordem. Jehan acelerou como uma flecha através da estreita e antiga rua à sua frente, esquivando lentos carros compactos e taxis que estavam parados nesta parte do distrito que estava obstruído por turistas e charretes que ainda se arrastavam perto da meia-noite. O público fora de casa esta noite, era uma mistura de humano e Raça, algo que seria inaudito há vinte anos, antes da existência da Raça ser revelada à humanidade. Agora, nas cidades em todo o mundo, as duas populações viviam juntas. Trabalhavam juntas. Governavam juntas. Mas a paz duramente conquistada era frágil. Tudo o que precisavam era uma grande matança — como a aconteceu há poucos momentos, para desencadear um pânico global. Enquanto todos os guerreiros Raça da Ordem se comprometeram com seu sangue e fôlego a evitar que isso acontecesse, outros entre os humanos e Raça tinham em segredo uma guerra sendo instigada. O ataque desta noite tinha o selo de conspiração por todas as partes. E não era o primeiro. Durante as últimas noites houve muitos outros, em Roma e em outros lugares da Europa. Se bem que não fosse raro que alguém da espécie de Jehan se convertesse irreversivelmente num viciado em sangue, a onda de assassinatos recentes em muitos lugares públicos por pícaros sob o efeito de uma droga chamada Carmesin tinha os dedos apontados para um grupo de terroristas chamado Opus Nostrum. Há apenas uns dias, a Ordem anotou um êxito assombroso sobre o Opus, matando seu novo líder em sua sede na Irlanda. O grupo estava um pouco desfeito agora, mas seus membros ocultos eram muitos e suas maquinações pareciam não 1 É o nome de um dos vinte e dois riones (bairro) de Roma, oficialmente numerado como Rione XII, localizado no Município I, na margem ocidental do rio Tibre e ao sul do Vaticano . 4
conhecer limites. Eles e todos os que os serviam tinham que ser impedidos ou as consequências seriam catastróficas. Jehan continuava se movendo indefinidamente enquanto saltava sobre o capô de um taxi e logo saltava até o telhado de alguma casa para ficar sobre a rua congestionada. Suas pesadas botas negras não faziam ruído enquanto andava com sigilo sobrenatural e velocidade sobre o terreno irregular dos edifícios. Saltou de um telhado a outro, seguindo seus instintos e olfato e foi quando sentiu o cheiro metálico de sangue fresco flutuando na brisa noturna enquanto um Renegado tentava escapar de seus perseguidores. Vivia para este tipo de ação. A adrenalina. A emoção da perseguição. A convicção de que estava fazendo algo com verdadeiro propósito, algo que poderia ter um impacto real e duradouro no mundo. Muito longe da riqueza e decadência inútil de sua família no Marrocos. Sua antiga vida ainda estava tentando chamá-lo de volta, apesar dele não colocar os pés no solo de sua pátria há mais de uma década. Passaram-se doze meses e um dia desde que recebeu a mensagem de seu pai. Jehan sabia o que isso significava e não podia fingir que não ouvia o tic-tac do relógio contando o tempo desde então. Com um grunhido, empurrou de lado as lembranças da obrigação que esteve ignorando deliberadamente. Neste momento, seu foco seria mais aproveitado na missão urgente à sua frente. Abaixo, numa rua sinuosa, Jehan viu um dos pícaros fugindo. Seus dedos foram até o cabo de uma de suas facas de titânio, puxou-a e a deixou voar. Golpe certeiro. A faca se cravou no pícaro no centro de sua coluna vertebral, derrubando-o em seco. Geralmente, demorava mais que isso para derrubar um Raça, mas o titânio era tóxico para os vampiros que usavam a droga e corroia seus corpos enfermos como ácido. Em minutos ou menos, o cadáver não seria mais que cinzas na rua. Jehan não esperou para ver a desintegração acontecer. Enquanto continuava sua corrida através dos telhados, viu Trygg ganhar terreno com um restante. O grande guerreiro encurralou o Renegado com um movimento muito rápido. O homem uivou, logo abruptamente ficou em silencio quando Trygg cortou sua cabeça com um movimento de sua espada. Dois abaixo. Faltavam dois. Vá para esquerda. O ouvido agudo de Jehan recolheu sons de uma breve luta e viu que Savage alcançou sua presa alguns quarteirões à frente e entregou-se a uma matança usando titânio. Jehan saltou para outro teto, correndo mais dentro do antigo bairro da cidade. Seus instintos de batalha se acentuaram quando encontrou o último pícaro que fugia. O vampiro cometeu um erro fundamental colocando-se num beco sem saída. Literalmente um beco sem saída. Jehan navegou pela borda do telhado e caiu na rua de pedras atrás do vampiro, cortando toda sua esperança de escapar. Um instante depois, Savage saiu das sombras e o vampiro selvagem se virou e percebeu que não havia nenhum lugar para correr. O grande macho enfrentou os dois guerreiros da Ordem. Suas presas pingavam sangue e saliva. Seus olhos brilhavam âmbar, as pupilas fixas e estreitadas em linhas verticais no centro de toda esta luz ardente. Sua mandíbula abriu quando rugiu, louco pela sede de sangue e pronto para atacar. Jehan não lhe deu oportunidade. 5
Lançou sua faca sem piedade ou advertência. A lâmina de titânio brilhou sob a luz da lua enquanto cortava a distância e golpeava seu alvo, enterrando-se até a empunhadura no centro do peito do vampiro. Ele rugiu de agonia e logo caiu na rua de pedras quando o metal venenoso começou a devorá-lo. Quando o processo terminou, Jehan se aproximou para recuperar sua arma das cinzas. Savage deixou escapar uma maldição baixa atrás dele. — Quatro machos Raça Renegados na mesma cidade, na mesma noite? Ninguém viu tantos nos últimos anos. Jehan assentiu. Ele era jovem neste momento, mas tinha idade suficiente para se lembrar de primeira mão. — Vamos esperar nunca ver novamente derramamento de sangue como este, Sav. E uma razão a mais para cortar a Opus Nostrum pela raiz. Para Jehan, um macho Raça que passou grande parte de sua vida privilegiada na busca de um prazer ou outro, não podia pensar em nenhuma vocação melhor que seu lugar entre a Ordem. Limpou sua faca e a guardou no cinto de armas no uniforme de patrulha. — Vamos. — Disse para Savage. — Vi Trygg transformar um em cinzas a poucos quarteirões com sua espada. Vamos buscá-lo e assegure-se que não tenhamos testemunhas antes de informar ao Comandante Archer na sede. Eles giraram para abandonar o beco juntos, apenas para descobrir que já não estavam sozinhos ali. Outro macho Raça estava na saída da estreita passagem. De olhos escuros, com uma barba negra recortada ao redor da linha de sua boca, o vampiro estava vestido com uma túnica de seda negra sobre uma calça preta dentro de reluzentes botas de couro negro que subiam até quase os joelhos. A única cor que usava era uma faixa vibrante de seda vermelha e azul presa ao redor da cintura. Cores da família. Cores formais, reservadas para a mais solene das tradições antigas. Jehan não pode reprimir a maldição baixa. Junto a ele, no beco, Savage moveu as mãos para seu arsenal de armas. — Está tudo bem. — Jehan parou a mão de seu companheiro com um movimento de cabeça. — Naveen é emissário de meu pai. Em resposta o homem de cabelo escuro inclinou a cabeça. — Saudações, Príncipe Jehan, filho do maior nobre Rahim, o rei justo e honrado da tribo Mafakhir. A reverência cortês que se seguiu fez os dentes e as presas de Jehan se apertarem por tanta cerimônia social. De dentro de sua túnica, Naveen retirou uma carta selada. O mensageiro real a estendeu sombriamente a Jehan, expectante e em silêncio. O selo de cera vermelha estava estampado na carta oficial... igual ao da carta que Jehan recebeu há um ano. Há um ano e um dia, ele mentalmente se corrigiu. Por um momento, Jehan ficou ali, imóvel. Mas sabia que Naveen foi enviado com ordens específicas para entregar a mensagem selada e seria desonrar o macho profundamente se falhasse nesta missão. Jehan se adiantou e pegou a carta dobrada da mão estendida de Naveen. Assim que Jehan a pegou o mensageiro real girou e se dirigiu novamente para a escuridão sem dizer nada mais. 6
No silêncio que se seguiu, Savage ficou de boca aberta. — Que demônios foi tudo isso? — Assuntos familiares. Não é importante. — Jehan deslizou o documento na cintura de sua calça sem abri-lo. — Com certeza parecia importante para este tipo. — Quando Jehan começou a caminhar pela rua, Savage o seguiu. — O que é? Algum tipo de convite real? Jehan grunhiu. — Algo assim. — Não vai ler? Jehan encolheu os ombros. — Não preciso. Eu sei o que diz. Sav arqueou uma sobrancelha loira. — Sim, mas eu não. Para satisfazer a curiosidade de seu amigo, Jehan recuperou a mensagem selada e entregou a ele. — Adiante. Sav rompeu o selo e desdobrou a carta, lendo-a enquanto Jehan atravessava a rua estreita. — Diz que alguém morreu. Um casal vinculado, assassinados juntos em um avião que caiu há um ano. Jehan assentiu com seriedade, já muito consciente da trágica morte do casal. A notícia de sua morte foi o motivo da primeira notificação oficial que recebeu de seu pai. Savage continuou lendo. — Isto diz que o casal Raça, o macho da tribo Mafakhir e uma companheira de Raça de outra tribo, a Sanhaja, formavam parte de um acordo de paz entre as famílias em condições de servidão de sangue. Jehan grunhiu em reconhecimento. O pacto estava em vigor há séculos, o resultado de uma desafortunada cadeia de eventos que engendrou um sangrento conflito entre sua família e seus vizinhos mais próximos, os Sanhaja. Depois de derramar suficiente sangue de ambos os lados, uma trégua foi finalmente declarada. Uma trégua que se consolidou com o sangue derramado por outros meios. Um laço eterno, compartilhado entre um macho da linhagem de Jehan e uma companheira de Raça da tribo rival. Enquanto as duas famílias estavam unidas por laços de sangue, houve paz. O pacto nunca se rompeu. O casal que pereceu no acidente aéreo era o único vínculo entre as famílias da idade moderna. Com sua morte, o pacto estava no limbo até que um novo casal se reunisse para reviver o vínculo. Savage aparentemente chegou à parte da mensagem que Jehan esteve temendo nos últimos doze meses. — Aqui diz que conforme os termos deste pacto, se o vínculo de sangue se romper e não houver outro casal escolhido no prazo de um ano e um dia, então o filho macho mais velho sem companheira do maioral da tribo Mafakhir e a companheira de Raça mais próxima aos trinta anos de idade da tribo Sanhaja deverão... Os passos de Sav começaram a diminuir, logo pararam por completo. Ele girou a cabeça em direção à Jehan. — Merda. Está brincando? Você está sendo convocado para ir para casa, no Marrocos, para se vincular? Um cenho franzido apareceu em sua testa com o pensamento. — De acordo com o ritual, sim. Seu companheiro soltou uma risada. — Bom, merda. Felicitações, Sua Alteza. Ganhou na loteria e estou feliz como o inferno por não ser eu a ganhar. Jehan grunhiu uma maldição em resposta. Ainda que não encontrasse muito 7
humor na situação, seu amigo parecia irritantemente divertido. Sav ainda estava rindo quando voltaram a caminhar pela rua. — Quando esta ocasião feliz deverá acontecer? — Amanhã. — Jehan murmurou. Havia um período de matrimonio à prova com a fêmea em questão, mas os detalhes de todo o processo era nebuloso. Na verdade, nunca prestou muita atenção às letras pequenas do pacto porque não imaginou que precisaria saber. Ele não esperava que precisasse entender agora também, já que não tinha a intenção de participar do ritual antiquado. Mas gostando ou não, respeitava muito seu pai para desonrar sua família, ao negar-se a responder seu chamado. Assim, parecia que não tinha outra opção além de voltar ao Darkhaven de sua família no Marrocos e oferecer suas desculpas pessoalmente. Apenas podia esperar que seu pai pudesse respeitar seu filho prodígio mais velho o suficiente para liberá-lo desta obrigação ridícula e a algema não desejada que o esperava no final da mesma. CAPÍTULO DOIS Dezoito horas mais tarde depois de um voo para Casablanca, Jehan sentou no assento do passageiro do negro e brilhante Lamborghini de seu irmão mais novo, que acelerou para o Darkhaven Mafakhir aproximadamente uma hora fora da cidade. — Papai acreditava que não viria. — Marcel olhou para Jehan brevemente, seu antebraço pendurado casualmente sobre o volante enquanto o elegante carro percorria a estrada iluminada pela lua, passando por outros veículos como se estivessem parados. — Tenho que admitir que não tinha certeza de que realmente apareceria também. Apenas mamãe se mostrou confiante que não rasgaria a carta e a enviaria de volta para casa com Naveen como confete. — Não percebi que era uma opção. — Muito divertido. — Marcel respondeu com outro olhar de lado. Jehan concentrou sua atenção na paisagem escura do deserto fora da janela. Ele esteve em dúvida sobre sua sanidade em responder ao chamado da família, mesmo antes de deixar Roma. Seu Comandante de equipe na Ordem, Lazaro Archer, não se entusiasmou ao ouvir falar sobre sua obrigação, o que fosse, sobretudo quando as coisas estavam esquentando contra a Opus Nostrum e uma centena de outras preocupações estavam aparecendo. Jehan assegurou à Lazaro que a licença não planejada não era mais que uma formalidade e que estaria de volta à patrulha o mais rápido possível, sem a carga de uma companheira Raça não desejava a reboque. Marcel manobrou ao redor de um pequeno comboio de caminhões de abastecimento humanitário, sem dúvida, a caminho para uma das muitas aldeias remotas ou acampamentos de refugiados que existiram nesta parte do mundo durante séculos. Uma vez que a estrada se abriu, pisou no acelerador novamente. Se tão apenas fossem para longe do complexo da família a uma velocidade vertiginosa em vez de até ele. — Mamãe tem todo o Darkhaven zumbindo com planos e arrumações desde que ligou à noite. — Marcel falou sobre o barulho do motor. — Não posso me lembrar da última vez que a vi tão excitada. 8
Jehan gemeu. — Estou aqui, mas isto não significa que tenho a intenção de seguir adiante com nada disso. — O que? Jehan girou e se encontrou com o olhar incrédulo de seu irmão. Seus olhos azuis claros, assim como os seus próprios, que Jehan herdou da beleza francesa que era sua mãe, estavam abertos sob a coroa de cabelos castanhos de Marcel. — Precisa ir até o fim. Não há vínculo de sangue entre os Mafakhir e os Sanhaja mais. Desde que nosso primo e sua companheira Raça morreram há um ano. Quando Jehan não reconheceu de imediato a gravidade do problema, seu irmão franziu o cenho. — Se um ano e um dia se passar sem um vínculo natural entre as famílias, os termos do pacto devem ser seguidos. — Eu sei o que eles afirmam. Também sei que estes termos foram escritos durante uma época muito diferente. Não vivemos na idade média mais. — E graças à merda por isso, pensou mentalmente. — O pacto é uma relíquia que deve ser retirada. Esperemos que não demore muito convencer nosso pai sobre isto. Marcel tranquilamente já saia da estrada e entrava num labirinto na superfície do deserto que compunha o Darkhaven de sua família. Em poucos minutos, entrariam numa estrada privada. As terras da família eram exuberantes e expansivas. Agrupamentos de grossas palmeiras se alinhavam contra o céu noturno, pequenos oásis no meio da vasta extensão de areia como seda escura. Ia até a frente da porta de ferro e os altos muros de ladrilhos que asseguravam o complexo massivo onde Jehan cresceu. Inclusive antes de se aproximar do luxuoso Darkhaven, seus pés se moviam dentro das botas com vontade de correr. Enquanto paravam de frente à porta e esperavam para ser admitidos dentro, Marcel girou em seu assento para Jehan. Sua juventude, o rosto de vinte e quatro anos de idade, estava sério. — O pacto não se rompeu. Sabe disso? Nenhuma vez em todos os seis séculos e meio, esteve ali. Não é uma relíquia. É uma tradição. Esse tipo de coisa pode não ser sagrado para você, mas é para nossos pais. É muito sagrado para os Sanhaja. Seu irmão estava tão sério, talvez não houvesse outra forma de se esquivar da bala. — Se você se sente tão firme quanto a ele, porque não ficar no meu lugar? Tome meu lugar e eu posso dar a volta agora mesmo e voltar ao meu trabalho com a Ordem. — Ohh, não. — Ele negou energicamente com a cabeça. — Inclusive se eu quisesse não iria — sem outro casal natural vinculado entre nossas famílias, o pacto exige que seja o filho mais velho do varão mais velho de nossa linhagem. Significa isto. Além do que, há destinos piores. Seraphina Sanhaja é uma mulher bonita. Seraphina. Era a primeira vez que ouvia o nome de sua noiva. Um nome exótico que soava como seda. Apenas o som deixou o sangue de Jehan um pouco mais quente nas veias. Descartou a sensação com um suspiro agudo enquanto olhava seu irmão. Não podia negar que uma parte dele estava intrigado para saber mais. — Você a viu? Marcel assentiu. — Ela e sua irmã, Leila, são ambas impressionantes. Não era de estranhar, considerando que eram companheiras de Raça. Apesar de não terem os traços vampirescos da espécie de Jehan, as meio-humanas, as mulheres meio-atlantes chamadas companheiras de Raça eram belezas perfeitas, sem exceção. Sua mãe nasceu em Paris, foi testemunha disso. Como a ruiva companheira de Raça de Lazaro Archer em Roma, Melena. — Então o que há de errado com ela? — Jehan murmurou. — Deixe-me 9
adivinhar. Ela é uma harpia miserável, brigona? Ou pior, um pequeno ratinho que tem medo de sua própria sombra? — Nenhuma destas coisas. — Marcel sorriu enquanto diminuía a velocidade do Lamborghini e passava pelas portas abertas. — Ela é encantadora, Jehan. Verá por si mesmo, logo. — Não, se tiver algo a dizer sobre isto. — Cruzando os braços, moveu-se no assento de couro suavemente. — Tenho um voo de volta para Roma amanhã. Imagino que isto me dará tempo de sobra para expressar meu pesar aos nossos pais e conseguir sair rapidinho daqui. — Não pode fazer isto. Tudo já está em movimento. Eu te disse, fizeram arranjos justo depois que ligou. Jehan amaldiçoou entre dentes. — Se soubesse que nossos pais iriam adiante sem me perguntar, eu poderia tê-los poupado de todo este esforço. Deveria ter-lhes dito por telefone que não estava interessado em nada disto e ficado em Roma. Por desgraça, é muito tarde para isto. Terão que cancelar tudo. — Acho que você não entende, irmão. — Marcel diminuiu a marcha enquanto rodavam pela meia lua do impressionante arco da entrada do Darkhaven. — O handfast2 começa amanhã. O que significa que as famílias irão se reunir e saudar oficialmente esta noite. Haverá apresentações formais, seguidas pelo passeio tradicional ao jardim à meia-noite e o giro do relógio de areia para marcar o início da celebração e o início do período do handfast. A falta de familiaridade de Jehan com o processo deveria ser evidente como seu interesse. Marcel franziu o cenho. — Você não tem ideia do que estou falando, verdade? Pelo amor de Deus, o pacto existe há séculos, mas nunca tomou um tempo para estudar os termos? — Estive ocupado. Os lábios de Marcel se arquearam com a resposta graciosa, mas estava claro que ele levava o pacto a sério. Ao que parece, todos os faziam, menos Jehan. Por um instante, sentiu uma pontada de culpa por sua ausência todos estes anos. Foi sua decisão ir embora, sua escolha fazer o próprio caminho no mundo em vez de estar satisfeito com os privilégios, sufocantes, que lhe foram entregues ao nascer. Ansiava mais por aventura que por tradição e supunha que sempre seria assim. — Assim, o que implica o handfast exatamente? — Um período de oito noites que passam juntos em reclusão. Não há visitantes, não há comunicação com o mundo exterior, de nenhuma forma. Apenas vocês dois num oásis na fronteira de nossas terras com os Sanhaja. — Em outras palavras, um encarceramento por uma semana e um dia com uma mulher que pode ou não estar disposta a este ritual obrigatório de sedução. Seguido por um vínculo de sangue público alentando a ponta da espada? — Sedução forçada? Vínculo de sangue público? — Marcel olhou com a boca aberta como se houvesse perdido a cabeça. — O handfast tem a ver com consentimento, Jehan. Toque Seraphina contra seus desejos e sua família terá direito a cortar sua cabeça. Tome seu sangue sem sua permissão e a tribo Sanhaja irá dizimar toda a tribo Mafakhir. Era muito arcaico. Apesar de que não planejava tocar Seraphina Sanhaja ou qualquer outra mulher que não fosse de sua escolha, a curiosidade de Jehan foi 2 Um termo histórico para “esponsais” ou “casamento”. 10
despertada. — Pensei que o ponto do pacto fosse selar a paz entre nossas famílias com um vínculo de sangue. — Sim. — Disse Marcel. — Mas apenas se o handfast for um êxito. — Êxito? — Tem que haver um acordo. Tem que haver amor. Se não houver o desejo de unirem-se como um casal vinculado ao final do handfast, são livres para irem por caminhos separados e o pacto logo passa ao seguinte casal na linhagem. — Assim há uma cláusula de saída? — As sobrancelhas de Jehan subiram com surpresa. — Esta é a melhor notícia que ouvi por toda a noite. Seu irmão soltou um suspiro frustrado. — Não sei porque me incomodo em explicar tudo isto a você. Os termos do pacto serão explicados em detalhes na cerimônia amanhã à noite. A cerimônia que Jehan não tinha a intenção de assistir. Marcel estacionou de frente à casa opulenta e desligou o motor. Portas duplas se levantaram e dois machos Raça saíram. Quando começaram a subir a ampla escada de pedra polida que conduzia à entrada do Darkhaven, Jehan perguntou. — Quem é o seguinte na linha depois de Seraphina e eu? — Esta seria a companheira de Raça mais perto da idade de trinta anos na tribo Sanhaja e o filho mais velho do segundo mais velho macho Raça em nossa linhagem. Lembra-se de nosso primo, Fariq? Jehan mentalmente retrocedeu. — Fariq, que se orgulhava de sua coleção de insetos mortos e serpentes quando criança? Marcel riu. — Ele não tem o apelido de Renfield3 por nada. E Jehan não pode evitar se sentir culpado de que, por sua negativa ao pacto, uma desafortunada companheira de Raça eventualmente teria que passar oito noites a sós com o macho repulsivo. Mas não se sentia culpado o suficiente para continuar com a farsa. Tinha que impedir todo o assunto antes de ir mais longe. — Papai o espera em seu escritório. — Marcel disse ao chegarem ao topo. — Todos estão no salão principal, onde se farão as apresentações formais. Alarme disparou através dele com este último anúncio. Jehan agarrou o braço musculoso de seu irmão. — Todos quem? — Mamãe e os Sanhaja. E Seraphina, claro. Ah, caralho. Se pensava que isto era muito ruim antes de descer do avião esta noite, a situação parecia estar caminhando para um desastre. — Estão aqui neste momento? Todos eles? — Isto era o que estava dizendo. Tudo já está em marcha e pronto para começar. Apenas estávamos esperando você chegar, irmão. CAPÍTULO TRÊS O som das vozes masculinas graves chegava desde o vestíbulo. Até o momento, a pequena reunião dentro do elegante salão do Darkhaven acontecia numa conversa 3 Assistente do Drácula que se alimentava de insetos, no romance de Bram Stoker. 11
agradável sobre o tempo e uma dezena de outros temas. Mas o ruído surdo de uma conversa abafada em algum lugar fora dos muros dourados, fez a atmosfera da sala se encher com antecipação. — Ah, meus filhos chegaram finalmente. — A bonita e elegante Simone Mafakhir sorriu de seu assento no divã de seda, seus olhos azuis-céu iluminados pela emoção. — Jehan ficará encantado em conhecê-la Seraphina. Sua boca estava de repente muito seca para falar, mas ela fez um gesto cortês e devolveu um cálido sorriso à morena companheira de Raça. — Seraphina não falou outra coisa em todo o dia. — Disse sua mãe, dando uma palmadinha na mão de Sera, de seu assento ao lado do sofá de veludo de frente à Simone. — Ela está muito curiosa para conhecer Jehan desde que chegou em casa esta manhã. Do outro lado de Sera, sua loira irmã de vinte e dois anos, Leila mal sufocava a risada. Isto era verdade. Sera estava cheia de perguntas desde que foi chamada à casa por seus pais. Ela ainda não sabia muito sobre Jehan, além do fato de que ele viria de Roma esta noite, onde esteve vivendo durante muitos anos. E isto porque foi convocado para cumprir seu papel no antigo pacto de casamento à prova que existia entre suas famílias por mais de uma dezena de séculos. Como aconteceu com ela. Quer dizer, se conseguisse passar pela noite sem sair correndo pela porta mais perto. Ela pressionou o dorso da mão na testa, que estava repentinamente úmida. O coração estava acelerado e seus pulmões pareciam como se estivessem presos repentinamente num torno. Ficou de pé, mas não muito estável nos saltos que não costumava usar. Os babados do vestido rosa que pegou de Leila em sua insistência balançaram ao redor de seus joelhos quando ela cambaleou, mareada e lutando contra as náuseas que a invadiam. — Seria possível, um... me refrescar por um momento? — Sim, claro. — Respondeu Simone. — Há um banheiro no final do corredor. Seus pais a olharam com preocupação genuína. — Tudo bem, querida? — Perguntou sua mãe. — Sim. — Sera fez um gesto fraco que só deixou-a mais tonta. — Estou bem, de verdade. Precisava sair dali rápido, antes de desmaiar ou vomitar. Leila levantou-se e agarrou seu cotovelo. — Irei com você. Apressaram-se em sair juntas da sala, Sera praticamente deixando sua irmã para trás. Uma vez fechadas dentro do banheiro, Sera se apoiou na porta. — O que está acontecendo com você? — Sussurrou Leila. Sera engoliu um grito. — Não posso fazer isto. Pensei que talvez pudesse, por nossos pais, já que, obviamente é tão importante para eles, mas não posso. Quero dizer, toda esta situação... o pacto, o casamento à prova? É uma loucura, verdade? Nunca deveria ter aceitado nada disto. Tudo estava ocorrendo muito rápido. No dia anterior pela manhã, um email de seus pais chegou a ela num remoto lugar onde estava trabalhando. A mensagem foi breve e critica, dizendo que era necessário que voltasse para casa imediatamente. Cheia de preocupação, ela deixou tudo e correu, apenas para descobrir que a situação de emergência que requeria sua presença era um acordo antigo para casá-la com um 12
completo estranho. Um macho Raça que podia ou não entender ou se preocupar que sua carótida estivesse em jogo, independente do que o pacto entre suas famílias pudesse implicar. Oh Deus. Seu estômago começou a girar novamente. Apertou a mão em seu abdômen e tomou ar. Ela andou pelo banheiro, sua voz começando a subir de tom. — Tenho que sair daqui. Não posso fazer isto, Leila. Devo estar louca para sequer considerar vir aqui esta noite. Sua irmã a olhou com paciência, seus suaves olhos verdes simpáticos. — Está nervosa. Eu também estaria. Mas não acho que está louca por estar aqui. Não acho que o acordo entre nossas famílias é uma loucura, tampouco. — Ela colocou uma mecha loira atrás da orelha e encolheu os ombros. — Durou todos estes anos por uma razão. Na verdade, acho que é um pouco romântico. — Romântico? — Sera zombou. — O que há de romântico sobre uma trégua de anos depois do derramamento de sangue resultantes do sequestro de uma companheira de Raça virgem de nossa tribo por um macho Raça bárbaro há seiscentos anos? Leila deixou escapar um suspiro. — As coisas eram diferentes neste tempo. E é romântico porque se apaixonaram. Sera arqueou a sobrancelha em desafio. — Trágico, porque apesar do vínculo de sangue, ambos morreram no final e desataram uma guerra longa, violenta. Sera conhecia toda a história trágica, assim como sua irmã. Era praticamente uma lenda na família Sanhaja. E se fosse honesta, havia uma parte dela que sofria por este casal ser morto e seu amor condenado. Mas isto não mudava o fato de séculos mais tarde, ali estar ela, de pé em um banheiro trancado e de sandálias de salto emprestadas, enquanto no final do corredor, um macho Raça que nunca viu antes estava esperando que fosse com ele por oito noites — com a esperança compartilhada por seus pais de que poderiam ficar loucos de amor e se unirem por laços de sangue por toda a eternidade. Ridículo. Sera negou com a cabeça. — Pode ser que há séculos esta fosse a melhor forma de resolver o problema e garantir a paz. — Reconheceu. — Mas isto foi antes e agora é diferente. Não há conflitos entre os Mafakhir e nossa família há décadas. Leila inclinou a cabeça. — E como sabe que não se deve ao pacto estar em seu lugar todo este tempo? Desde o primeiro, nunca houve um momento em que não houvesse ao menos um casal vinculado entre nossas famílias. Até agora. O que acontecerá se o pacto for realmente a única coisa que mantém a paz? Nunca foi quebrado ou provado, Sera. Realmente quer ser a primeira a tentar? Por um momento, ao ouvir a resposta enfática de sua irmã, Seraphina quase comprou todo o mito. Aos vinte e sete anos, era uma mulher prática, independente, que conhecia sua própria mente, assim como seu valor, mas havia uma pequena parte dela, talvez uma parte em cada mulher que ainda queria acreditar em contos de fada e romances. Queria acreditar no amor eterno e nos finais felizes, mas isto não era o que a esperava do outro lado da porta do banheiro. — O pacto não é magia. E o handfast não é romântico. É uma tolice, absurda e obsoleta. — Bom, chame como quiser. — Leila murmurou. — Acho que é encantador. — Duvido que estivesse tão entusiasmada se fosse você que estivesse sendo 13
tirada de seu mundo e de todas as coisas que te importam, apenas para se deixar cair no colo de alguma macho estranho como seu brinquedo cativo. — Sera observava os olhos sonhadores de sua irmã mais nova — Ou talvez sim. Leila riu e negou com a cabeça. — O handfast é apenas uma semana. E não será jogada no colo de alguém ou retida contra sua vontade. Está destinado a conhecerem um ao outro longe do mundo exterior. Isso é tudo. O casamento à prova no oásis é simbólico mais que outra coisa. Além disso, posso pensar em coisas piores do que passar uma semana num belo lugar, conhecer um homem bonito. Um que também é um príncipe. Sera zombou. — Um príncipe apenas no nome. As antigas tribos desta região são tão realeza como eu e você. — O que ela não era. Adotada por Omar e Amina Sanhaja quando criança num orfanato para indigentes, não havia nenhuma possibilidade disto. — Como sabe que Jehan é bonito? Pensei que nunca o tivesse visto. — E não o vi. Mas é um Raça, que com certeza deve ter o cabelo castanho de sua mãe e os olhos azuis incríveis. Como seu irmão, Marcel. Sera rodou os olhos. — Bom, não me importa como se parece e não me preocupo com seu pedigree também. Não estou procurando um companheiro e se assim fosse, certamente não seria desta forma. Mas apesar de tudo isso, apesar de sua falta de vontade em ser parte de algum acordo antiquado que sobreviveu até hoje ao que a ela se referia, sabia que não podia se afastar da obrigação de sua família. Honrar o pacto era importante para seus pais, assim era para ela também. E havia outra razão, mais egoísta que por fim tinha que admitir. Vários milhões de razões. O seu fundo fiduciário, o que seu pai concordou em liberar mais cedo. Ela o receberia ao final da semana quando seu handfast com Jehan Mafakhir acabasse. Sera precisava do dinheiro. Por muito que seu pai a amasse, ele sabia que não seria capaz de dar as costas ao que ofereceu. Não quando havia muito que poderia fazer com este tipo de presente. Isto não significava que precisava gostar de Jehan Mafakhir. De fato, estava decidida a evitá-lo tanto como possível durante a duração de seu confinamento juntos. Se tivesse sorte, talvez eles nem sequer tivessem que conversar. Miserável diante de toda esta ideia, ela exalou um lento suspiro de derrota. — Dura apenas oito noites, verdade? Leila assentiu, logo seus olhos se abriram como pratos ao ouvir o som de passos medidos e vozes profundas no corredor. Colocou um dedo nos lábios, abriu a porta e colocou a cabeça. Falou com Sera num sussurro. — Jehan acaba de entrar no salão com seu pai e Marcel. Não pode deixá-lo esperando. Temos que sair daqui agora mesmo! A ansiedade com a qual Sera estava lutando de repente se converteu em pânico. — Rápido assim? Pensei que teria alguns minutos antes... — Agora, Sera! Vamos! — Agarrando-a pelo braço, Leila abriu a porta e a levou para fora. À medida que avançavam para o salão, Leila se inclinou para sussurrar em seu ouvido. — E tinha razão, claro. Ele é muito mais que bonito. CAPÍTULO 4 14
Jehan não tinha certeza de quem apresentou o argumento mais convincente para que ele consentisse em participar do handfast: a séria persuasão do seu irmão a caminho do Darkhaven, ou a saudação estoica de seu pai e sua óbvia, se não dita, expectativa que seu filho mais velho fugisse de sua obrigação com a família. Se fosse confrontado com a exigência furiosa que devia pegar o manto da responsabilidade sobre o pacto com os Sanhajas, seria a coisa mais fácil para Jehan girar sobre os calcanhares e caminhar de volta para Casablanca e pegar o primeiro voo de volta a Roma. Mas seu pai não explodiu de raiva ou bateu seus punhos em sua escrivaninha quando Jehan chegou ao seu escritório alguns minutos atrás para explicar que não queria fazer parte da obrigação à sua espera no salão. Rahim Mafakhir escutou em silêncio pensativo. Então simplesmente se levantou e caminhou em direção à porta do seu escritório sem uma palavra. Não que precisasse falar. Sua falta de reação falou alto. Ele antecipou a recusa de Jehan. Estava completamente preparado para seu filho pródigo o abandonar e ao resto da família. E tanto quanto Jehan queria fingir que estava bem com isso, o fato era, ele ficou ofendido. E foi, naquele preciso momento, que a mão forte do seu pai segurou a maçaneta, seu rosto triste com decepção, que Jehan falou sem pensar, as palavras que estava certo de que viveria para se arrepender. — Eu farei isto, — ele disse. — Oito noites com a fêmea Sanhaja, como o pacto exige. Nada mais. Então, depois que o handfast acabar e meu dever estiver cumprido, voltarei para Roma e o pacto pode passar para o próximo de nossa família na linha para atender o chamado. Agora, enquanto Jehan entrava no salão com seu pai e Marcel, sentiu uma pequena centelha de esperança. Ela não estava lá. Apenas sua mãe e um casal ansioso que ele presumiu ser Omar e Amina Sanhaja. Nenhum sinal da Companheira de Raça solteira que deveria se encontrar formalmente nesta noite. Puta merda. Ele se atreveria a ter esperança de que a filha dos Sanhajas colocaria um fim à esta farsa? — Aqui estamos! — Uma voz exuberante soou brilhantemente atrás dele, matando sua esperança antes de ter a chance de se entusiasmar totalmente. A voz pertencia à uma loira de pernas longas com um sorriso megawatt e bonita, pálidos olhos verdes. Atraente. Certamente alegre e energética. Como companheiros temporários, Marcel estava certo, tinha sentenças piores que ele poderia sofrer. A loira fez uma pausa para olhar atrás dela, e foi quando Jehan percebeu seu erro. — Vamos, Seraphina! — Ela agarrou a mão de uma morena alta, curvilínea, que hesitou momentaneamente na entrada. — Não seja tímida. Todo mundo está esperando por você. A loira era adorável, como Marcel o assegurou. Mas sua irmã reservada, de cabelo mais escuro, era algo muito mais do que isso. Abençoada com a forma de uma deusa e o rosto de um anjo, quando ela 15
apareceu na entrada, Jehan mal conseguiu evitar ficar de boca aberta. Ele olhou brevemente para seu irmão e encontrou o sorriso largo de eu–te– disse de Marcel. Maldição. Seraphina Sanhaja era, numa palavra, extraordinária. Emoldurado por uma cabeleira em cascata de cachos castanhos, um par de olhos com longos cílios cor de sândalo salpicado com ouro levantou para encontrar o olhar fixo de Jehan. Seu rosto era em forma de coração e delicado, uma arte exótica de ossos finos e elegantes, pele morena beijada pelo sol que brilhava com o aumento do cor-de-rosa enquanto ela olhava fixamente para ele. Como esta mulher deslumbrante tinha conseguido passar dos vinte anos sem algum outro macho Raça trancá-la num vínculo de sangue, Jehan não podia sequer imaginar. Sua pulsação se agitou ao vê-la, enviando calor em suas veias. Mesmo que não estivesse no mercado para companheiro, como um macho Raça de sangue quente, era impossível negar a intensa reação do seu corpo pela fêmea. Ele inspirou lentamente, seus sentidos agudos pegando o cheiro doce de canela dela e o pequeno aumento sutil de seu coração enquanto ele a segurava em seu olhar, sem piscar. Por um momento, se arrependeu por não ter nenhuma utilidade para as leis tribais ou pactos antigos que poriam Seraphina Sanhaja em sua companhia, melhor ainda, em sua cama, pelas próximas oito noites. Sua irmã puxou-a para frente com uma risadinha leve. — Isto não é emocionante? Onde Leila crepitava com entusiasmo desenfreado, Seraphina era quase impossível de ler. Seus lábios exuberantes franziram um pouco enquanto ela fazia um estudo dele, em silêncio, sua expressão cuidadosamente educada, insondável. Em pé diante dele, estava reticente e distante. Avaliando e... sem se impressionar? As sobrancelhas de Jehan se ergueram. Ele não queria admitir o golpe que seu ego levou com sua aparente falta de interesse por ele. Com seu grosso cabelo negro na altura dos ombros, pele morena e olhos azuis claros, ele nunca esteve surpreso pela atenção feminina. Oh, inferno. Por que se importava se ela não gostou do que viu? A próxima semana ia passar muito mais rápido se não tivesse que passá-la com uma companheira de Raça corada, piscando os cílios e que não podia esperar para entregar sua carótida para ele. Jehan olhou-a fixamente, de modo cruel, conforme as apresentações formais foram feitas. Ele ainda estava tentando entendê-la depois do que parecia uma conversa interminável e educada, embora desajeitada, no salão. Seus pais puxavam uma agradável conversa fiada juntos. Marcel e Leila começaram a tagarelar sobre livros, música e eventos atuais, ambos se esforçando claramente para trazer Jehan e Seraphina à discussão. Não estava funcionando. Os pensamentos de Jehan estavam de volta com sua equipe em Roma. Quando ele falou mais cedo hoje à noite com Lazaro Archer, ficou sabendo que rumores estavam circulando sobre a Opus Nostrum movendo armas através da Europa e, possivelmente, para a África. 16
Embora só fosse atrasar suas missões com a Ordem por uma semana, já ansiava estar vestido em seu equipamento de patrulha e armas, não metido numa camisa social branca, calça escura e brilhantes sapatos pretos, que calçou no aeroporto. Quanto à Seraphina, Jehan tinha a sensação de que ela estava apenas a alguns segundos de correr para a saída mais próxima. Por outro lado a fêmea fria e tranquila saltou quando o relógio atingiu doze. Deu um sorriso pálido enquanto sua mãe irrompia em aplausos animados. — É hora! — Amina Sanhaja gritou de alegria através do salão. — Continuem agora, você dois. Vão em frente! Quando suas famílias começaram a mandá-los para fora do salão juntos, Jehan lançou um olhar questionador à Seraphina. — O passeio de jardim da meia-noite, — ela murmurou baixinho, a primeira coisa que disse para ele diretamente a noite toda. Ela olhou fixamente para ele como se aborrecida que precisasse explicar. — É parte da tradição. Ah, certo. Marcel mencionou algo sobre isso no carro quando Jehan não estava prestando muita atenção. Ele preferia assistir a boca de Seraphina explicando isto para ele novamente. Ela suavemente limpou a garganta. — À meia-noite, deveríamos caminhar sozinhos para marcar a virada da ampulheta e o início de nossa... — Sentença? — Ele perguntou ironicamente. Surpresa a fez arquear suas finas sobrancelhas. Jehan sorriu e fez um gesto para ela andar na frente dele. — Por favor, depois de você. Com seus pais e irmãos se aglomerando na entrada do salão atrás deles, ele e Seraphina deixaram o salão e seguiram pelo corredor, em direção a um par de portas de vidro em arco que dava para os jardins enluarados atrás da propriedade do Darkhaven. A noite estava fresca e agradável no deserto, e infinitamente escura. Acima deles estrelas brilhavam e uma meia-lua branca brilhava contra um negro céu aveludado sem fim. Poderia ser romântico, se a mulher caminhando ao lado dele não tomasse cada passo delicado como se estivesse sendo levada à forca. Ela olhou atrás deles pela sexta vez em alguns minutos. — Eles estão ainda lá? — Jehan perguntou. — Sim, — ela disse. — Todos estão em pé na frente do vidro, nos assistindo. Ele podia consertar isto. — Venha comigo. Tomando seu cotovelo delicadamente, ele desviou rapidamente fora do caminho principal do jardim com ela para um dos muitos caminhos sinuosos que cruzavam a cuidada e florescente topiaria4, com perfumadas sebes. O perfume doce de jasmim e rosas invadiu o ar da noite, mas foi outro aroma, canela e algo muito mais exótico, que o fez inalar um pouco mais fundo quando trouxe Seraphina para uma seção mais privada dos jardins. Ela hesitou alguns passos, o seguindo quase mancando em seus saltos de tiras. Quando ele deu uma olhada por cima de seu ombro, encontrou seu bonito rosto afligido numa carranca. Então ela parou completamente e agitou sua cabeça. — Isto é longe suficiente. 4 Arte de cortar plantas para conferir às mesmas diversas configurações. 17
— Relaxe, Seraphina. Não vou empurrar você no hibisco e violentá-la. Seus olhos arregalaram por um segundo, entretanto sua carranca diminuiu para um ofendido cenho franzido. — Não é por isso que parei. Estes sapatos... Estão matando meus pés. Jehan caminhou de volta para ela. Olhando aqueles saltos altos, ele exalou um palavrão baixo. — Não duvido que estejam matando você. Nas mãos certas, estas coisas podiam ser armas mortais. Ela sorriu, um genuíno sorriso de parar o coração, que estava lá e se foi num instante. — Segure no meu ombro. Os dedos dela pousaram sobre os dele, gerando uma rápida e inesperada eletricidade em suas veias. Jehan tentou ignorar a sensação do seu toque enquanto alcançava e erguia o pé esquerdo em suas mãos. Ele desabotoou o bonito, mas impraticável, sapato e o tirou. Seu suspiro satisfeito quando ele deixou seu pé descalço o atingiu ainda mais forte do que seu toque. Friccionando seus dentes para desencorajar suas presas de sair de suas gengivas em resposta aquecida, Jehan fez um rápido trabalho em seu outro sapato, então se afastou dela. — Melhor? — Sua voz engrossou. Junto com outra parte de sua anatomia. — Muito melhor. — Ela estava olhando para ele cautelosamente quando tomou o par de sandálias de onde elas oscilavam nas pontas de seus dedos. — Obrigada. — O prazer é meu. — E foi. Mais do que ele queria admitir. Ele virou sua cabeça para ela. — Quantos anos tem, Seraphina? — Desculpe? Ele se sentiu imediatamente rude por perguntar, mas tinha uma parte dele que queria saber. Precisava saber. — Nós deveríamos conhecer melhor um ao outro, não é? O lembrete pareceu acalmar um pouco de sua indignação. — Eu tenho vinte e sete anos. Por que quer saber? – Só queria saber por que ainda não acasalou e não tem laços de sangue. Você foi criada num Darkhaven, então deve conhecer muitos machos Raça. Se qualquer um dos que conheço visse você, haveria pelo menos cem deles abrindo caminho para sua porta. Ela olhou fixamente para ele por um momento, em silêncio incerto, então encolheu os ombros. — Talvez eu prefira homens humanos. Merda. Ele ainda não tinha considerado isso. — E você? — Para ser honesto, não pensei muito sobre laço de sangue. Minha vida está cheia e fico bastante ocupado com outras coisas. Ela começou a se afastar dele, seus pés descalços se movendo suavemente, de forma fluida, ao longo do caminho construído de tijolos. E ele não podia deixar de notar que ela realmente não tinha respondido sua pergunta. Ele se aproximou decididamente dela. — Que tipo de coisas manteve você tão ocupada que ainda não está acasalada e se aproximando da idade avançada dos trinta? Ela zombou, mas existia humor em seu tom. — Coisas importantes. — Como? — Sou voluntária em alguns dos acampamentos de fronteira, cuidando de pessoas que foram deslocadas por guerras e outros desastres. Acho que pode dizer que 18
foi um chamado para mim. Bem, ele não esperava isso. Admitiu, ela não parecia o tipo de se agitar ao redor em vestidos extravagantes e sandálias de salto alto todos os dias, mas ele também não teria imaginado uma mulher deslumbrante como ela passando seu tempo coberta de poeira e suor. Ou se colocando em situação de risco naquelas áreas turbulentas que nunca conheceram a paz, mesmo antes das guerras entre os humanos e a Raça. — E você, Jehan? — E eu? — Para começar, quantos anos você tem? — Trinta e três. Ela olhou para ele. — Mais jovem do que eu esperava. Entretanto é impossível adivinhar a idade de um macho Raça. Sempre me pareceu injusto que seu tipo nunca parece mais velho que trinta, até os Gen Um que estiveram por aí há séculos. Jehan ergueu seu ombro. — Uma consolação pequena para o fato que nunca podemos pôr nossos rostos na luz solar. Diferentemente de seu tipo. — Hum. Acho que é verdade. — Ela inclinou a cabeça na direção dele. — O que exatamente faz em Roma? — Sou parte da Ordem. Capitão da minha unidade, — ele adicionou, não certo por que sentiu necessidade de a impressionar com seu posto elevado. Ela parou em seu caminho novamente, e algo lhe dizia que não tinha nada a ver com os pés doloridos. Um calafrio passou por ela quando Jehan girou para olhá-la. Ela soltou uma gargalhada frágil e balançou a cabeça. — Não me admira que não me dissessem nada sobre você. — Quem? — Meus pais. — Seus braços cruzaram rigidamente sobre seu peito. — Se tivessem mencionado que você era parte daquela organização brutal, não haveria maneira no inferno que eu teria concordado com isso. Não importa que influências usassem para tentar me convencer. A desconfiança de Jehan o deixou irritado junto com seu orgulho. — Você tem problema com a Ordem? — Eu tenho problema com assassinos de sangue frio. Ela falava sério? — Meus irmãos e eu não somos... Ela não o deixou terminar. — Eu dedico, tudo que sou, para salvar vidas. Você está no negócio de tirá-las. – Quando ele exalou um pequeno palavrão e balançou a cabeça, ela lhe deu um olhar afiado. — Quantas pessoas matou? — Eu, pessoalmente, ou,... — Acho que isso responde minha pergunta. — Ela passou por ele e começou a ir embora num ritmo rápido. Ele deu passos largos. — Não existe nada de sangue frio sobre o que a Ordem faz. Somos brutais, às vezes? Só quando não tem nenhuma outra escolha. Mas chamamos isto de justiça. Somos protetores, não assassinos. — Semântica. — Não, é a realidade, Seraphina. — Quando ela não diminuiu a velocidade do seu passo, ele a alcançou e pegou seu braço. Ela vacilou pelo contato. Ele se perguntou se era puramente indignação ou o fato de que, apesar da frieza ter crescido entre eles, o calor da atração ainda despertava para a vida no momento que se tocavam. O pulso dela se agitou na base de sua garganta elegante, seu coração batendo tão duro e rápido que ele podia sentir isso através de seus dedos. 19
Seu corpo inteiro respondeu àquela batida frenética, suas veias aquecendo, suas presas formigando à medida que alongavam atrás dos seus lábios fechados. Seu pênis respondeu tão avidamente, pressionando em demanda contra o zíper da calça. Ela retirou-se de seu aperto. — Não posso fazer isto. Precisa saber que não tenho nenhum interesse em qualquer tipo de handfast, e não estou procurando um laço de sangue. Especialmente com você. Jehan recuou. — Não quer ser parte disso porque acabou de descobrir que pertenço à Ordem? Seus lábios exuberantes se comprimiram numa fina linha. — Eu nunca quis ser parte disto. — Isso faz dois de nós. — O que? — Ela ficou boquiaberta. Ele balançou a cabeça. — Só concordei por obrigação. Porque sinto que eu devo isto à minha família, para manter suas tradições, mesmo que eu não concorde com elas. Ela soltou a respiração. — Oh, graças a Deus! Ela não conteve seu alívio. Ela soou como um preso no corredor da morte que, de repente, concederam completo perdão, e seu orgulho levou outra batida ao ouvir a profundidade de seu alívio. — Então, o que fazemos agora, Seraphina? Voltar para dentro e dizer a eles que estamos cancelando tudo? — Quer dizer, quebrar o pacto? Não podemos fazer isso. — Ela olhou para os tijolos em seus pés. — Não posso fazer isso. — Talvez seja a hora de alguém fazer. Ele a estudou sob a luz fraca da lua e das estrelas no céu. Tudo que era Raça nele estava o persuadindo para tocá-la, levantar seu queixo e varrer os fios soltos de seu cabelo castanho cacheado longe de seus olhos, só assim ele poderia ver sua sombra incomum novamente. Mas manteve suas mãos para ele mesmo, empunhandoas ao seu lado quando o desejo de alcançá-la quase anulou seu bom senso. — Me parece uma mulher de visão, inteligente. Realmente não acredita que o pacto segura algum tipo de influência sobre a paz entre nossas famílias mais, não é? — Não, não o faço. Mas é importante para meus pais, o que faz com que seja importante para mim. Mas... — Finalmente, ela ergueu sua cabeça para encontrar seu olhar. — Há outra razão pela qual concordei com o handfast. Eu tenho um fundo fiduciário. Um considerável. Não está prevista a liberação para mim até meu trigésimo aniversário, mas meu pai me prometeu liberá-lo mais cedo. No fim do handfast. — Ah. — Jehan ergueu seu queixo. Não a considerava do tipo motivada por dinheiro, mas supôs que tinha coisas piores. — Então, está aqui por suborno, e eu estou aqui fora por uma obrigação inútil para provar ao meu pai que não sou sua maior decepção. — É por isso que está aqui? Sua voz estava baixa, quase simpática. O olhar suave em seus olhos ameaçando desvendar seu fino controle. Ele fez um movimento de desprezo com sua mão. — Não importa por que qualquer um de nós está aqui. Aparentemente, nós dois só precisamos conseguir passar as próximas oito noites, assim podemos seguir com nossas vidas reais. Ela assentiu com a cabeça. — Como vamos fazer isto? Olhando para ela, tão perto dele no fresco ar da noite, seu rosto bonito e curvas tentadoras fazendo sua boca encher de água e seu sangue correr quente por suas 20
veias, Jehan não estava certo como no inferno ia sobreviver a uma semana de reclusão com ela. Não sem pôr suas mãos ou presas, ou qualquer outra parte de sua anatomia, ao alcance de um braço dela. Uma coisa estava certa. Teriam que deixar alguns limites claros. Limites rígidos que não podiam ser cruzados. E regras. Jehan deixou o olhar percorrer o comprimento dela, desejo martelando através de cada célula de seu corpo. Oh, sim. Para sobreviver à próxima semana, sozinho com esta fêmea, ele iria precisar de muitos limites e regras. CAPÍTULO CINCO Deveria ter dito não. Ela deveria ter confiado em seu bom senso e estar de pé, sozinha, ao lado de Jehan no centro do jardim à meia noite, não a ajudou a chegar a nenhuma parte longe do ritual que nenhum dos dois queria fazer parte. Em vez disso, se encontrou na próxima noite, sentada junto dele num longo banquete no Darkhaven de seus pais, junto a cem membros de suas duas famílias que se reuniram para celebrar sua despedida e o início da primeira noite do handfast. Em menos de uma hora, ela e Jehan seriam levados ao oásis privado e abandonados à sua sorte até que os empregados de ambas as tribos chegassem para buscá-los ao final das oito noites. Até então, estaria presa com ele num lugar fechado. Intimo. Oh, Deus. Devia estar muito louca. Sera tomou um gole de vinho de uma vez. — Devagar. — Jehan arrastou as palavras ao seu lado. — Se ficar bêbada não vai gostar se tiver que carregá-la daqui esta noite. — Ao inferno o que você quer. — Ela sorriu e falou em voz baixa, fazendo seu melhor esforço para fingir que era o último macho com quem queria passar tempo. — E temos um acordo, lembra-se? Um que fala especificamente de não tocar. Espero que o cumpra. Uma risada saiu dele, tão profunda que era quase um grunhido. — Não se preocupe, não tenho nenhuma intenção de tocá-la. Ela colocou a taça vazia sobre a mesa. — Bem. Então nem sequer brinque sobre isto. — Confie em mim, Seraphina, saberá quando estiver brincando. Ela cometeu o erro de olhá-lo e o encontrou sorrindo enquanto se recostava em sua cadeira. Mas não havia humor em seus olhos azuis. Apenas uma escura promessa que fazia seu pulso se acelerar nas veias. Segundo a tradição, estava vestido com uma túnica de linho branco e calça solta. Uma larga faixa, listrada com as cores de sua família, azul e dourado, estava preso ao redor de sua esbelta cintura. Muito decadente e confiado, recostado na cadeira. Arrogante como um príncipe acostumado a ter o mundo se curvando ao seu redor à sua vontade, ainda que seu título fosse igual ao pacto que os unia esta noite. Quanto a Sera, estava vestida segundo a tradição também. Envolta em metros de seda vermelha diáfana que de alguma maneira formava um vestido em seu corpo, ela também usava perolas e braceletes. Padrões de hena estavam pintados nos dorso 21
de suas mãos até as extremidades. O vestido dificultava sua respiração e as decorações em sua pele a fazia se sentir como uma oferenda a caminho do altar. O olhar abrasador de Jehan não estava ajudando. Apesar de terem concordado em evitar um ao outro tanto como possível pela próxima semana, Sera não podia esquecer o calor que se acendeu entre eles no jardim. O momento no qual fizeram contato visual no salão do Darkhaven. Ele era atraente; ela não podia negar. Com seu luxuoso cabelo castanho e olhos azuis era impossivelmente magnífico. O fato de ter um corpo massivo, musculoso e uma poderosa presença parecia engolir todo o ar do lugar e deixava o macho Raça ainda mais bonito. A gola em V da túnica de linha estava cortada abaixo de seu poderoso peito, mostrando muita pele morena e músculo liso e as bordas de seus dermatoglifos Raça. As marcas mais escuras na pele indicavam o estado de ânimo do vampiro e neste momento, os tons neutros dos glifos de Jehan diziam que ele se alimentou recentemente. Não era surpreendente. Era costume que um macho Raça a ponto de entrar no handfast saciasse sua sede de sangue de um anfitrião humano disposto, antes do começo da semana. Isto era para assegurar que não bebesse de sua companheira Raça e se vinculassem por uma necessidade física em vez de amor. Uma visão de Jehan bebendo da garganta de outra mulher surgiu em sua mente, sem convite. Sua cabeça escura curvada no pescoço. Sua boca sensual fixa na suave pele pálida enquanto suas presas afiadas penetravam na veia de golpe e começava a beber até se fartar. Era gentil com a mulher em sua sedução e usava caricias suaves enquanto tomava de sua veia? Ou saltava sobre ela como o predador que era, dominando com sua força e velocidade? Uma preocupante parte dela que não reconhecia se agitou com a necessidade de saber. Sera gemeu. Contorceu-se em seu assento quando seu pulso se acelerou e um calor erótico apareceu entre suas coxas. Ela queria cruzar as pernas para aliviar a dor desagradável, mas a saia de seu vestido cerimonial era muito restritiva. Em outra parte do salão de banquetes, seu pai estava recitando os termos tradicionais do handfast. Ela quase não ouvia, pois estava muito distraída pela presença de Jehan ao seu lado e o calor de seu olhar nela quando se moveu na cadeira. De repente lhe ocorreu que o salão ficou em estranho silêncio. Expectante silêncio. Todos os olhos na sala estavam fixos nela e seu pai já não estava falando. Jehan se levantou e deliberadamente limpou a garganta. — É hora de irmos, Seraphina. — Oh. — Ela ficou de pé, com vontade escapar do peso dos olhares de todos. Além disso, não podia esperar para colocar a distância necessária entre ela e Jehan. Mas ele não se movia. Porque não se movia? — Não se esqueça do beijo! — Gritou alguém alegremente entre os expectadores. — É uma tradição selar o pacto com um beijo! Leila. Maldita garota. Sera lançou um olhar estreito para sua exuberante irmã, mas seu sorriso não mostrou nenhum arrependimento. 22
— Beije-a! — Gritou novamente. E logo Marcel pediu um beijo também. Alguém começou a segui-los e logo outro. Em pouco tempo, todo o lugar estava aplaudindo e gritando o comando. — Beijo! Beijo! Beijo! Sera voltou o olhar triste para Jehan. — Nós realmente não temos que... Antes que pudesse terminar, ele se aproximou e inclinou a boca sobre a dela numa explosão de calor. Seus lábios acariciaram os dela, incrivelmente suaves, dolorosamente sensuais. Suas mãos seguravam seu rosto e sim, eram suaves. Seu beijo era demais, mas sob a ternura havia posse, um poder primitivo nascendo. Ele dominou sua boca no mesmo instante e cada roce de seus lábios a fazia doer para ser reclamada por ele. Seus pensamentos se dispersaram. Seus joelhos ficaram fracos. Pior ainda, o calor que se reuniu entre suas coxas há um momento atrás estava selvagem agora. Sera levantou as mãos para segurar seus ombros, ainda que apenas para evitar cair contra ele diante de centenas de expectadores. Todas as garantias de seu acordo particular para passar a próxima semana em lugares separados saíram voando como folhas ao vento quando Jehan a beijou. Ela não pode evitar. Gemeu contra sua boca, seu pulso acelerado, martelando ainda mais forte que os gritos dos reunidos ao redor deles. Jehan a soltou bruscamente. Seus olhos azuis brilhavam com pontos âmbar, sua transformação deixando seu desejo bem claro. Passou a língua pelos lábios úmidos e viu as pontas de suas presas, agora brilhando em sua boca como diamantes afiados. Seu fôlego estava raso, áspero e cru. — Vamos. — Grunhiu em seus ouvidos. — Quanto antes sairmos desta farsa, melhor. Então a pegou pela mão e se afastou da mesa com ela atrás.
CAPÍTULO SEIS O corpo de Jehan continuava duro como uma rocha e vibrando com luxuria por mais de uma hora depois que ele e Seraphina chegaram ao retiro no oásis. Santo inferno. Esse beijo... Como breve e casto foi, o agarrou de uma maneira que ele estremeceu. Não foi capaz de negar a atração por Seraphina desde que a viu. Agora sabia que ela o desejava também. Sua resposta ao seu beijo não deixou nenhuma dúvida a respeito. O rubor que subiu por sua garganta e suas bochechas não poderiam ser atribuídos a nenhuma outra coisa, nem seus suaves e leves gemidos. Sentiu seu desejo por ele. Aspirou o doce aroma de sua excitação, sentiu o pulsar de seu sangue. Seu próprio sangue respondeu e agora que sua boca provou o sabor do beijo de Seraphina, tudo que era primitivo e masculino nele, tudo Raça — golpeava com uma necessidade perigosa e sombria por mais. De alguma maneira, conseguiu frear-se na celebração no Darkhaven. Agora, apenas teria que se assegurar de manter seu desejo em xeque pela duração de seu confinamento no oásis. Oito noites, isto era tudo, se tranquilizou. 23
Cento e noventa e duas horas, mais ou menos já que algumas se passaram com esta noite. O que significava algum lugar ao redor de onze mil minutos. Todos para serem gastos em proximidade com uma mulher que iluminava cada terminação nervosa em seu corpo como uma alma sedenta. Sim, a matemática não estava ajudando. Tudo o que poderiam precisar foi previsto por suas famílias. Roupas, artigos de banho, uma cozinha totalmente equipada para Seraphina. Não queriam que nada no mundo exterior ou alguém interrompesse seu tempo juntos até que o casamento à prova terminasse. Dividiram o lugar tão logo foram deixados, negociaram e estabeleceram limites do território onde nenhum dos dois poderia cruzar. Achou justo dar-lhe o quarto principal, para ter intimidade. Quanto a Jehan, ele ficou com o grande ninho de almofadas na sala principal como sua cama pela próxima semana. Com Seraphina acomodando-se na única suíte sozinha, Jehan andava pelo espaço aberto da vila como um gato enjaulado, avaliando o lugar desconhecido. Cruzou os tapetes ricamente tecidos espalhados pelos pisos. Sobre sua cabeça, no alto, o teto abovedado brilhava com suaves luzes douradas que se refletiam num mosaico de vidro como uma jóia no gesso branco. No corredor de frente ao quarto de Seraphina, havia um banheiro tradicional com vapor, uma piscina alimentada por um manancial e rodeada por colunas de seda drapejada e velas. No cômodo adjacente, mais camas com almofadas e travesseiros estavam dispostas ao redor da sala, algumas nas sombras, outras colocadas estrategicamente de frente à espelhos, vistosamente emoldurados. Estátuas e tábuas segurando as garrafas de azeite perfumado e incensos em frascos eróticos completavam o lugar. Jehan franziu o cenho, balançando a cabeça. Os termos do handfast podiam proibir um macho de obrigar a companheira de Raça enviada a este lugar com ele, mas todos os cômodos da vila foram obviamente desenhados com o sexo e a sedução em mente. E tentou resistir ao imaginar Seraphina deitada nas almofadas ou andando nua pelo banho de vapor — sua mente nublada se negou a obedecer. Oito noites. Ele teria sorte se conseguisse passar este primeiro dia sem perder a mente ou derrubar a porta do quarto onde atualmente estava escondida. Precisava de ar fresco. O que realmente precisava era uma parede de cem metros entre ele e sua companheira de quarto. Uma longa corrente resistente também não seria ruim. Jehan voltou para a sala principal e se dirigiu para as portas francesas que davam a um pátio traseiro. Enquanto cruzava a sala, ouviu Seraphina soltar uma maldição dentro do quarto. Fez uma pausa, ouviu. Disse que deveria continuar caminhando na direção oposta. Ela amaldiçoou novamente e ele desviou o passo que conduzia ao quarto. — Tudo bem aí dentro? — Sim. Tudo bem. Sua resposta foi rápida. Ficou de pé diante da porta fechada e a ouviu se queixar frustrada. — Vou entrar. — Não. Espere... Estava de pé no centro do grande quarto, presa entre as complicadas tiras de seda vermelha que formavam seu vestido. Quando ele riu, ela franziu o cenho. 24
— Não é divertido, traseiro arrogante. — De verdade? — Ele nem sequer tentou impedir o sorriso. — Parece muito divertido de onde estou parado. Ela bufou, estreitando o olhar sobre ele. — Se vai ficar aí rindo de mim, poderia também ajudar. Ele levantou as mãos. — Não tocar, lembra? Como posso ajudar sem romper esta parte de nosso trato? — Claro, também disse não beijar, mas esta regra já se rompeu rápido, mesmo antes desta noite. — Peça direitinho e talvez considere romper as regras. Seus ombros se afundaram em derrota, mas ao mostrar os dentes brancos e retos não parecia submissa. — Jehan, pode, por favor, me ajudar? Não queria admitir o que o fazia sentir como seu nome soava bonito em seus lábios. Sobretudo quando tentava pedir que ajuda para desnudá-la. Seu sangue se lembrou, lambendo suas veias com antecipação ansiosa enquanto caminhava através do quarto até onde ela estava. Ela levantou a mão direita e levantou a longa cascata de pérolas espalhadas nos cachos castanhos suaves de seu pescoço enquanto se virava novamente para ele. — Deve haver centenas de nós prendendo este vestido. Não posso descobrir as pontas e desfazê-los. Jehan ficou atrás dela um longo momento, olhando. Apenas a visão de sua nuca grácil e elegante coluna vertebral. Ela foi abençoada com curvas como um relógio de areia e pernas longas. O vestido cerimonial abraçava cada polegada dela em todos os lugares corretos. Incluindo seu bonito traseiro. Como sua boca podia se encher de água, e no entanto, parecer seca como o deserto ao mesmo tempo? Sua gengiva picava enquanto suas presas inchavam contra sua língua. Outra parte dele estava inchando também, pressionando sua demanda carnal contra o linho branco solto de sua calça. O calor subiu em seu sangue e sua visão, inundando sua íris com fogo âmbar. Estendeu a mão e começou a soltar o primeiro dos nós intrincados. Havia oito deles, não uma centena. Cada um era uma prova de sua destreza e seu autocontrole. Um a um, os nós caíram, deixando descobertas as costas nuas de Seraphina a seu olhar febril, polegada por polegada tortuosa. Pelo caminho, seus pulmões deixaram de funcionar. O desejo o percorreu, arranhando com suas garras afiadas que roubaram seu fôlego quando liberou o último dos diminutos nós e a seda escarlate afrouxou em seus dedos. Seraphina não parecia respirar bem. Ficou imóvel, seu cabelo longo ainda no alto de sua mão. Calor se verteu por sua pele e ele sabia que o calor dele chegava a ela também. Sua pulsação marcava freneticamente seu pescoço, deixando os olhos ardentes. O impulso de tocar o lugar e provar cada polegada quase o derrubou. Apertou os dentes, lutando para manter o controle sobre estes impulsos. Quando por fim encontrou sua voz, saiu rouca. — Aí tem. Tudo terminado. Seraphina deixou cair o cabelo. Virou-se com um olhar sobre o ombro dele. — As envolturas também? Merda. Franziu o cenho e começou uma busca rápida de uma das extremidades da seda. Puxou solto e começou a relaxar ao redor do corpinho e cintura. A maldita coisa era muito longa para se soltar. Ele amaldiçoou e negou com a cabeça. — Vai ter que girar com elas. 25
— Assim? — Ela obedeceu, girando de frente a ele. Ele assentiu com a cabeça e logo puxou a seda tensa, deixando cair no chão enquanto lentamente girava ante ele. Voltas e voltas e voltas, seus cachos castanhos dançando enquanto girava, as perolas entre as mechas brilhavam sob as luzes do quarto. Não podia afastar os olhos dela. Em alguma parte primitiva de seu cérebro, pensava que era o senhor da guerra do deserto e ela sua conquista cativa e fascinante. Seu irresistível prêmio roubado. Deu a volta, viu a seda escarlate se desenrolar, revelando mais e mais da bela mulher envolta. Queria mantê-la nua. Quando olhou para Seraphina, quando respirou seu cheiro doce de canela e sentiu o calor de sua pele com cada giro vertiginoso que dava frente a ele... maldição, estar perto dela o fazia desejá-la demais. O ritmo de tambores de seu pulso vibrou no pequeno espaço entre seus corpos e seu próprio coração pulsou em resposta. Sentiu uma fome como nunca antes. Queria queimar o pacto entre suas famílias e tomá-la ali e agora, disposta ou não. Reclamá-la. Possuí-la em todos os sentidos. Fazê-la sua. Pensamentos perigosos. E uma tentação que não tinha certeza de que seria capaz de resistir. Se não esta noite, o que falar de mais sete. CAPÍTULO SETE Ela não soube o momento exato em que o ar entre eles mudou de simplesmente quente e brincalhão para algo mais sombrio. Algo tão feroz e poderoso, que fez todas as suas terminações nervosas se esticarem. Jehan a desejava. Teria que ser uma idiota para não perceber isto. Ela o queria demais. E era muito inteligente para pensar por um segundo que não tinha a consciência assombrosa antes de como ele era como homem. Como um macho Raça perigosamente sedutor que poderia prender sua carótida entre os dentes com a mesma rapidez que poderia colocar seu corpo musculoso entre suas pernas. Sera engoliu saliva, a respiração e o coração acelerado enquanto parava diante dele. Ela olhou para baixo, onde estava presa às suas fortes mãos pela seda agora solta. Apesar de estar coberta onde contava, não havia muito mais de seu vestido. A maior parte dele estava no chão aos seus pés, metros de seda escarlate se agrupava no espaço escasso entre seu corpo e o de Jehan. Lambeu os lábios enquanto lutava por palavras. Deveria dizer para ele ir, mas tudo que era feminino nela ansiava que ele ficasse. Não era uma trêmula virgem, não era alheia às relações sexuais. Mas nunca com um macho Raça. E a eletricidade que crepitava à vida entre ela e Jehan era algo que nunca sentiu antes. Prendia-a. 26
Consumia. Aterrava-a com sua intensidade. No entanto, não era medo dele que sentia quando olhava em seus olhos azuis. Era medo de si mesma e da forma como ele a fazia se sentir. Medo das coisas que não entendia. — Jehan, eu... — ela balançou a cabeça, sem saber o que dizer a ele. Saia? Fique? Que esquecesse o fato de que nenhum deles chegou a este lugar de boa vontade, nem com intenção de ter um vínculo de sangue através de uma tradição arcaica? Mas isto não era o que estava em jogo. O que via em seu olhar âmbar neste momento não tinha nada a ver com o seu entorno romântico ou as expectativas e esperanças de suas famílias. As coisas que ela estava sentindo não tinham nada a ver com isto. Era desejo, puro e simples. Imediato e intenso. Seu corpo palpitava com ela, ansioso e o coração galopando dentro de seu peito, agitando-se como fogo fundido até o centro. Ela respirou fundo e logo segurou quando Jehan estendeu a mão para acariciar seu rosto. Seus dedos quentes pareciam fortes e duros contra seu rosto, mas ele a acariciava com ternura e não pode conter o gemido que saiu de seus lábios. Ficou presa no lugar enquanto seus pensamentos e emoções aumentavam em antecipação. O ar fresco do quarto deixou sua pele exposta mais sensível. Seus mamilos doíam por trás do tecido de seda que mal a cobria. Um arrepio subia por seus ombros nus e braços a cada segundo que tinha que suportar sob o olhar quente e inquebrantável de Jehan. Seus dedos se afastaram de seu rosto lentamente, logo patinaram num rastro abrasador pelo lado de seu pescoço e a linha de seu ombro esquerdo. Sentiu que ele traçava a pequena marca de nascimento de cor vermelha em seu bíceps — a marca de companheira de Raça. Seus dedos acariciaram o símbolo em forma de lágrima e lua crescente que significava que era algo mais que simplesmente humana. Esta marca também significava que se ela tomasse seu sangue, estaria obrigada a ele e somente a ele, durante o tempo que qualquer um deles vivesse. Como resposta às suas caricias, suas veias vibraram com uma aceleração primitiva, pontos palpitantes em resposta apareciam como um convite. — Você é... tão incrivelmente linda. — Sua profunda voz era um grunhido, saindo entre os dentes e as presas. — Mas fizemos um trato, Seraphina. Ela sabia que tinham um acordo. Não olhar. Não tocar. Não ter contato físico de qualquer tipo. Estabeleceram limites claros e lugares separados para que pudessem conviver durante a próxima semana sem precisar passar um incômodo tempo juntos. Quando o handfast terminasse, simplesmente iriam se despedir e voltar à vida normal. Assim porque estava desejando desesperadamente que Jehan a puxasse para seus braços? Porque estava desejando sentir a pressão de seu musculoso corpo, com sua força contra ela? Porque esta ardente necessidade dentro dela aumentava em força, fazendo 27
todas as suas terminações atear fogo e ficar com vontade de mais contato? Ansiosa por seu beijo e tudo o que poderia seguir... Mas ele não a beijou. Um grunhido prendeu-se na parte de trás de sua garganta. Um som animal. Um som de outro mundo. Um de negação. Ele negou com a cabeça, fazendo as ondas grossas balançarem ao roçar seus largos ombros. Sua mão caiu longe, dos lados. Numa exalação lenta, deu um passo atrás, criando um vazio frio no espaço entre eles. Agachou para recolher a seda vermelha do chão. Foi puxada, no entanto, quando seu olhar se levantou ao dela, com os olhos ainda ardendo de desejo, tão quente que ela quase se queimou. Suas presas ainda brilhavam afiadas por trás de seus lábios. Ele a desejava. Estava escrito no ardor de sua expressão e na excitação que ficou evidente quando ela olhou o vulto considerável em sua calça de linho solta. E sabia que ela o queria muito. Podia ver o conhecimento reluzindo em sua arrogância e seu olhar. Maldito. Sabia muito bem e estava desfrutando de seu tormento! Colocou a seda em suas mãos, um sorriso puxando seus lábios. — Boa noite, Seraphina. Girou para a porta. Logo saiu do quarto sem olhar para trás, deixando-a atrás dele, quase nua, soltando fumaça e decidida a evitar este traseiro arrogante pelo tempo que durasse o confinamento com ele.
CAPÍTULO 8 Pelos próximos dois dias, mal viu Seraphina. Ela passou as noites atrás da porta fechada do enorme quarto suíte, claramente ignorando sua existência. Durante o dia, ela escapulia para o pátio da casa por horas a fio, seguramente fora de seu alcance e o mais longe de sua companhia que ela podia conseguir. Ela estava irritada, o castigando com silêncio gelado e fuga deliberada. Exatamente como ele pretendia quando a deixou em apuros, e tão sexualmente frustrada quanto ele estava, naquela primeira noite. Melhor ganhar seu desprezo do que testar seu controle sob o calor do seu olhar banhado pelo desejo novamente. Sua ausência foi um adiamento a que deu boasvindas. Melhor isso do que tentar resistir à tentação de suas curvas sedutoras e infinita pele macia, agora que conhecia o prazer de ambos. Porra. Só a tocou por alguns momentos e a sensação dela ficou marcada nas pontas dos seus dedos. Seu calor e perfume de açúcar e canela ficaram gravados em seus sentidos. Embora ela estivesse fora de vista agora, remexendo discretamente na cozinha, pelo som disso, tudo que tinha que fazer era fechar seus olhos e lá estava ela em sua mente. Em pé na frente dele com nada além de alguns pedaços de seda escarlate, seus 28
lábios separados e olhos de pálpebras pesadas convidando-o a tocá-la. A tomá-la. Não, implorando para fazê-lo. Mas ele mostrou a ela, certo? Fingindo ser o único no controle, negando a ambos o prazer que tanto queriam porque ele estava cheio de necessidade de confiar que podia se controlar. Agora ela faria de tudo para ignorá-lo e sem dúvida nenhuma o amaldiçoando como um frio bastardo. Enquanto isso, ele estava caminhando em torno da casa como um animal enjaulado com um caso semi-permanente de bolas azuis. Maldição. Ele não era só um bastardo. Era um idiota. Com uma maldição, ele passou a mão pelos cabelos e levantou-se da grande almofada do chão, onde esteve em vão tentando cochilar. Estava próximo ao anoitecer e estava inquieto pela necessidade de estar em movimento, estar fazendo algo útil. Inferno, se contentaria em fazer absolutamente qualquer coisa.Ele nunca seria bom em inatividade e o tédio de seu exílio o estava deixando louco. Mais de uma vez, ele pensou sobre escapar no meio da noite para fugir um pouco de sua tensão. Ou dizer foda-se o handfast e voltar a pé todo o caminho até Casablanca e tomar o primeiro voo para Roma. Com sua genética Raça, poderia chegar à cidade em aproximadamente tantas horas quanto seria necessário para dirigir até ela. Talvez mais cedo. Tentador. Mas não podia deixar Seraphina sozinha aqui fora. E tanto quanto queria voltar a trabalhar indo atrás da Opus com seus companheiros da Ordem, não estava disposto a abandonar sua honra ou sua família por violar os termos do pacto. Se ela podia suportar a semana juntos e respeitar as restrições ridículas impostas a eles pelo antigo acordo, além de seus próprios conjuntos de regras, então ele também podia. E ele imaginou que realmente lhe devia um pedido de desculpas pela forma como agiu na outra noite. Andando silenciosamente em seus pés descalços, Jehan caminhou em direção à cozinha, onde a tinha ouvido um minuto atrás. Ela estava de costas para ele, sentada num sofá estofado ao lado do recanto de jantar. Com os joelhos encolhidos e sua cabeça abaixada para estudar o que quer que segurava nas mãos, ela nem sequer o notou andando silenciosamente atrás dela na cozinha. No início, ele achou que ela pegou um dos muitos livros da biblioteca da casa. Mas então percebeu que o pequeno objeto era outra coisa. Um telefone. Uma violação direta — nenhuma comunicação com o mundo exterior. — dos termos do handfast. A furtiva pequena rebelde. Ele abriu a boca para falar com ela sobre a quebra da regra, mas, em seguida, sua visão aguda pegou as últimas linhas da mensagem de texto enchendo a tela. Um cara chamado Karsten estava perguntando onde ela estava e por que o deixou sem dizer para onde foi. Ele estava preocupado, dizia ele. Ele precisava dela. Dizia que não era bom sem ela. Por razões que não queria examinar, a ideia de que Seraphina tinha outro homem esperando por ela em algum lugar, que nem sequer mencionou esse fato para 29
ele em qualquer ponto quando conversaram, enviou um traço de raiva nas veias de Jehan. Por que ela olhou para ele tão lascivamente na outra noite quando este outro homem – que porra de nome era Karsten, de qualquer maneira? — obviamente se preocupava com ela, precisava dela, fez Jehan se perguntar se ele julgou o caráter dela errado desde o início. Claro, ela já tinha confessado para ele que só concordou em participar do handfast para coletar um pagamento considerável no final. Então, por que deveria surpreendê-lo perceber que já estava comprometida? — Você está quebrando as regras. — Sua voz estava baixa e calma, não traindo nada do calor que estava correndo em suas veias. Ela ficou nitidamente assustada, o telefone praticamente caiu dos seus dedos. Ela se ajeitou rapidamente para segurar o celular e virou-se no sofá o encarando com horror. — Jehan! Não ouvi você entrar na sala. — Sei.— Ele apontou para o telefone agora apertado contra o peito dela. — Como conseguiu isso aí? Ela teve a decência de parecer pelo menos um pouco arrependida. — Fiz Leila contrabandear o celular com a roupa que embalou para mim. Ela não queria, mas eu insisti. Como poderia ficar uma semana inteira completamente isolada de tudo? — E de todo mundo? — Jehan provocou. — Quem é Karsten? Seu rosto empalideceu. Não era necessário ela perguntar a ele se viu suas mensagens. Seu olhar culpado disse tudo. — Ele é meu companheiro. — Companheiro?— Ele praticamente rosnou a palavra. — Meu colega de trabalho. Karsten é voluntário comigo nos acampamentos de fronteira. Um pouco da irritação de Jehan acalmou com a explicação. — Para um colega de trabalho, ele soa muito ansioso para ter você de volta. Ele não é bom sem você? Sua expressão relaxou numa de rejeição aprazível. — Karsten é... um pouco dramático. Agora mesmo, está preocupado com a comida e envio de suprimentos médicos que está sendo mantido num posto de fiscalização próximo à Marrakesh. Normalmente tenho certeza de que as coisas estão resolvidas, sem atrasos, mas infelizmente esta remessa não veio até depois que meus pais me chamaram para casa. — O que acontece se a remessa não for liberada? Ela cruzou os braços acima dos seios. — A comida apodrecerá e o medicamento vai estragar. Isso acontece com muita frequência. — E este Karsten é incapaz de recuperar os suprimentos sem você? — Jehan não podia ocultar seu julgamento do outro homem. Se alimentos e medicamentos necessários estavam situados em algum lugar esperando ser entregues, ele se certificaria que chegassem onde deveriam. Seraphina levantou do sofá e caminhou para a ilha com tampo de mármore onde Jehan estava. — Muitas vezes, quando as coisas estão atrasadas dessa forma, o nome do meu pai ajuda a soltá-las. Às vezes, é uma questão de achar a mão certa para molhar. Jehan acenou. A corrupção nos governos locais não era nada novo. Que 30
Seraphina parecesse confortável navegando naquelas teias emaranhadas era impressionante. Ela continuava o impressionando, e não estava certo de que ele devia gostar tanto disso quanto fazia. — O que acha que liberará esta remessa de suprimentos? Ela encolheu os ombros levemente. — Isso importa? Karsten não foi capaz de liberar os suprimentos até agora, e quando nossa semana aqui terminar, será tarde demais. A comida e os medicamentos não duram muito tempo no deserto. Não, ele supôs que não durariam. Mas talvez houvesse alguma maneira de consertar a situação. — Você diz que conhece o posto de fiscalização onde os suprimentos estão sendo mantidos? — É nos arredores de Marrakesh. Muitos dos nossos suprimentos passam pelo mesmo. Jehan considerou. — Isso é apenas a algumas horas de distância daqui de carro. — O que está dizendo?— Ela franziu as sobrancelhas. — Jehan, o que está pensando? — Me empreste seu telefone Ela deu, ainda olhando fixamente para ele em indagação. Jehan digitou o número de seu irmão e esperou ele atender. Levou vários toques, então a voz confusa de Marcel surgiu na linha em saudação. — Oi? Jehan foi direito ao ponto. — Tenho um favor para pedir a você. — Jehan? Que diabo está fazendo me ligando? E onde conseguiu o telefone? Sabe que não deveria ter nenhuma tecnologia ou comunicação exterior... — Eu sei, — ele falou impacientemente. — Onde está agora? — Ah... Estou em casa, mas estou me preparando para partir por algum tempo. O que está acontecendo? Está tudo bem com Seraphina? — Ela está bem. Nós estamos bem, — Jehan assegurou. — Preciso de um veículo. Assim que possível. Marcel ofegou. — O que? Os olhos da Seraphina ficaram tão arregalados quanto ele imaginou que os olhos do seu irmão tinham ficado agora mesmo. — É importante, Marcel. Sabe que não pediria se não fosse. — Mas não pode deixar a casa. Se deixar Seraphina sozinha aí fora, quebrarão o pacto. Inferno, já está, apenas fazendo esta ligação para mim. — Ninguém saberá que liguei, exceto você. — Jehan olhou para Seraphina e balançou a cabeça. — Quanto a quebrar o pacto por deixá-la na mansão sem mim, não vai acontecer. Ela vai comigo, e não vamos demorar. Ninguém será mais prudente. — Exceto, mais uma vez, eu. — Marcel gemeu. — Eu provavelmente não quero saber nada sobre isso, certo? — Provavelmente não. — Jehan sorriu. Marcel exalou uma maldição. — Por favor, me diga que não quer minha Lamborghini. — Na verdade, estava esperando por um dos Rovers da frota Darkhaven. Com um tanque cheio de combustível, se você pudesse. O suspiro profundo de Marcel soprou do outro lado da linha. — Seraphina já percebeu a exigente dor no traseiro que você pode ser? 31
Jehan encontrou o olhar dela e sorriu. — Imagino que está descobrindo isso. Marcel riu. — Vou deixá-lo no pôr do sol. CAPÍTULO 9 — Cuidado com essa caixa, Aleph. Esses frascos de vidro de vacinas são frágeis. Caminhando pela areia enluarada com o braço ao redor de uma das crianças do acampamento de refugiados e uma caixa de curativos seguras em outra mão, Sera, dirigiu outro dos voluntários para a traseira aberta Range Rover. — Massoud, leve o saco grande de arroz para a Fátima no refeitório e pergunte onde ela quer que coloquemos o resto dos grãos crus. Deixe que ela saiba que temos algumas caixas de carnes enlatadas e caixas de frutas aqui também. Atrás dela no veículo, Jehan estava ocupado descarregando caixas e mais caixas e sacos que acabavam de chegar do posto de controle perto de Marrakesh. Sera não podia deixar de parar para vê-lo trabalhar. Vestido com jeans e uma camisa de linho solto com as mangas arregaçadas passando de seus antebraços cobertos de glifos, ele trabalhava com afinco como o melhor de seus outros trabalhadores. Mesmo melhor, de fato, desde que era Raça. Sua força e resistência superavam meia dúzia de humanos juntos. Ainda não podia acreditar no que ele fez para ela hoje à noite. Para uma vila de pessoas deslocadas que nunca conheceu e com quem não precisava se preocupar. Toda a indignação e raiva que sentia por ele desde sua primeira noite na casa de campo evaporou sob sua admiração para o que ele estava fazendo agora. E não era só admiração que sentia quando olhava para ele. Existia atração, era certo. Branco-quente e magnética. Mas algo mais forte começou a acender dentro dela hoje. Tão inquietante como seu desejo por ele era, essa nova emoção era ainda mais aterrorizante. Ela gostava dele. Jehan a tinha intrigado desde sua primeira apresentação, mesmo depois que ela soube que ele ganhava a vida como guerreiro. O beijo no banquete acendeu uma necessidade que ela ainda não era capaz de admitir. E então, quando a ajudou a sair de seu vestido naquela noite inicial na casa de campo , ela o quis com uma intensidade que quase a subjugou. Depois que a deixou humilhada e inundada de frustração, ela quase poderia se convencer que ele era simplesmente um arrogante bastardo e um agravamento que ela só teria que evitar ou suportar pelo resto de sua semana juntos. Agora ele tinha que ir e fazer alguma coisa boa para ela assim. Algo surpreendente e altruísta. Franzindo a testa, ela se afastou dele com um gemido. – Vamos, Yasmin. Vamos ver se a Fatima tem alguma coisa boa à espera na sua cozinha hoje à noite. Enquanto caminhavam para o centro do acampamento, um jipe estava chegando do outro lado da aldeia improvisada de barracas e dependências escassas. Faróis amarelos apareceram na escuridão com o veículo balançando ao longo dos sulcos da estrada de terra até o acampamento. O jipe parou vários metros e Karsten Hemmings pulou para fora do assento do motorista. — Sera? — Ele correu para encontrá-la, um sorriso de boas-vindas em seu rosto 32
asperamente bonito. — Eu estava no acampamento do sul quando soube que os suprimentos foram liberados. — Ele deu-lhe um beijo rápido na bochecha e tirou a caixa de suas mãos. Então se abaixou para afagar levemente a cabeça da criança com um sorriso. — O que está acontecendo? Pensei que ficaria com seus pais por mais alguns dias? Ela encolheu os ombros pela lembrança da pequena mentira que disse a ele. — Achei uma oportunidade de ficar longe por um tempo, então pensei que podia dar um pulo em Marrakesh e ver o que podia fazer sobre os suprimentos. Karsten fez um som irônico em sua garganta quando jogou a caixa de bandagens para um voluntário do acampamento passando. — Quanto custou desta vez? — Alguns milhares. Depois de regatear com o supervisor do posto de fiscalização, até onde podia administrar, ela providenciou para que o dinheiro fosse enviado para a conta pessoal do funcionário corrupto. Simplesmente era o modo como os negócios às vezes eram feitos na sua linha de trabalho, mas os “alguns milhares” cresceram ao longo dos anos. Sua conta estava quase vazia agora, pelo menos até que completasse a handfast e seu pai desbloqueasse seu fundo. Um grupo de crianças passou correndo e gritou para Yasmin se juntar a eles num jogo de tag. A promessa de doces no refeitório rapidamente foi esquecida, a menina correu para se juntar aos seus amigos. — Fiquem perto do acampamento, todos vocês! — Karsten disse atrás deles, observando-os ir. Então inclinou a cabeça para Sera. — É bom ver você. Quando ouvi que partiu para ir para sua família sem dizer a ninguém o assunto, tive medo de algo estar errado. — Ele olhou abaixo, finalmente reparando na sua aparência. — Que diabos aconteceu com suas roupas? Vendo como Leila a equipou para uma semana de descanso e potencial romance, antes de Sera deixar a vila, ela invadiu o guarda-roupa de Jehan procurando algo prático para vestir no campo. Não podia aparecer vestindo quaisquer dos vestidos ou saias camponesas que sua irmã selecionou, assim Sera se apropriou de uma túnica branca de linho de Jehan desde a noite de banquete e um par folgado de calças de linho. Com as pernas da calça dobradas várias vezes, a cintura segura ao redor por um cinto de seda vermelha improvisada, e um par de seus próprios sapatos de couro, sua roupa não era elegante, mas funcional. Também tinha o benefício adicional que carregava o odor deliciosamente picante de Jehan, que arranhava seus sentidos desde que colocou a túnica sobre sua cabeça. Ela não tinha certeza de como explicar o que estava usando, mas em seguida, Karsten não parecia mais interessado. Seu olhar passou de Sera, para onde Jehan acabava de descarregar a última das caixas e suprimentos. Sua testa se enrugou em confusão. — Quem é aquele? — Um amigo, — disse ela, insegura por que devia parecer desajeitada o chamando assim. — Ele é Raça. — Os olhos de Karsten voltaram para ela agora, a cautela afinando seus lábios enquanto ele baixava sua voz. — Trouxe um deles para o 33
acampamento? Mesmo que tenham passado vinte anos e contando desde que a Raça foi tirada do armário para a humanidade, preconceitos ainda permaneciam. Mesmo de seu colega de trabalho afável, aparentemente. — Está tudo bem. Jehan é, ah... um velho amigo da minha família. — Ela acenou com a mão rejeitando suas preocupações. — Além disso, não ficaremos por muito tempo. Temos que voltar para a casa de campo hoje à noite. — A casa de campo? Merda. Ela realmente não queria explicar todo o pacto familiar estranho e o cenário do handfast para ele. Por um lado, não era da conta de Karsten, ainda que ela o considerasse um amigo mesmo depois de terem namorado uma vez. E talvez não fosse de sua conta justamente por causa desse fato. Qualquer que fosse a razão, ela se sentiu estranhamente protetora do tempo que passou com Jehan. Pertencia a eles, a ninguém mais. — Uma vez que tudo esteja resolvido aqui no acampamento, Jehan e eu precisamos voltar. Somos esperados o mais rapidamente possível. — O que era quase tão perto da verdade como estava disposta sobre o assunto. Karsten balançou a sua cabeça. — Bem, não vai sair hoje à noite. Há uma grande tempestade de areia chegando do Sahara. Está se movendo rápido, estará exatamente aqui na próxima hora ou menos. De jeito nenhum poderá correr mais que isto. — Oh, não. — Um nó de ansiedade apertou seu peito. — Essas são notícias terríveis. — O que são notícias terríveis? A voz profunda de Jehan despertou suas terminações nervosas sensualmente como uma carícia. Ele fechou o Rover e caminhou atrás dela antes que ela sequer se tenha apercebido disso. Quando ela girou para encará-lo, encontrou seus interessantes olhos azuis bloqueados nos de Karsten. — Você deve ser Jehan.— Em vez de estender a mão em saudação, os punhos de Karsten estavam enrolados na cintura — Sou Karsten Hemmings, companheiro de Sera. — Colega de trabalho. — Jehan sutilmente o corrigiu. E até onde iam as apresentações, ele também não mostrou afabilidade. Sua palma desceu macia e quente – possessiva – em seu ombro. — O que são notícias terríveis? Ela tentou agir como se seu toque persistente não fosse grande coisa, como se ele não estivesse acordando todas as células do seu corpo e a inundando com calor. — Existe uma tempestade de areia vindo. Karsten diz que podemos ter que esperar para sair aqui do acampamento. Sei que precisamos voltar logo, no entanto. Seu irmão está esperando por nós para retomar no Rover hoje à noite... — Sera, se seu amigo tem algum lugar que precisa estar, — Karsten interrompeu solícito — então por que não espera a tempestade passar aqui no acampamento e posso levar você para seus pais amanhã, depois dela passar? — Não vai acontecer. — A resposta curta de Jehan não permitiu nenhum argumento. — Se Seraphina ficar por qualquer razão, então eu também. Embora não tenha dito abertamente, a mensagem era transmitida alta e clara. Ele não estava disposto a deixá-la sozinha com Karsten, com ou sem tempestade. E se o protetor tom alfa de sua voz não tivesse enviado seu coração numa queda livre em seu peito, ela poderia ter achado o bom senso para ter se ofendido por 34
sua reação não provocada e agressiva para o único outro homem em sua órbita atual. Karsten sorriu ligeiramente e ergueu um ombro. — Faça como quiser, então. Vou começar a embarcar as coisas até à frente da tempestade. Se precisar de mim, Sera, sabe onde estou. Ela assentiu com a cabeça e observou-o ir embora. Então se virou para enfrentar Jehan. — Você foi muito rude com meu amigo. — Amigo? — Ele bufou baixinho. — Aquele humano pensa que é mais que um amigo para você. — Os olhos azuis afiados de Jehan estreitaram. — Ele foi mais do que isso uma vez, não foi? — Não. — Ela agitou sua cabeça. — Saímos algumas vezes, nada mais. Não estava interessada nele. — Mas ele estava interessado em você. Ainda está. — Você soa ciumento. Ele exalou duramente através das narinas dilatadas. — Chame de observador. — Eu chamo de ciumento. — Ela se aproximou dele na luz do luar, resistindo ao calor que rolava de seu grande corpo e o brilho das profundezas de seu olhar ardente. Sua mandíbula estava apertada e dura, e com a barba curta e escura que cobria sua pele, seu belo rosto parecia tenso, perturbado. — Por que diabos devia aborrecer você se Karsten fosse um amigo meu ou algo mais? Não é como se tivesse qualquer reivindicação sobre mim. Eu poderia ir atrás dele agora mesmo e não há realmente nada que você pudesse dizer sobre isso. Um som baixo retumbou de dentro dele. — Espero que não pretenda me tentar. — Por que? Por causa de algum pacto estúpido? — Ela subiu a voz com sua frustração. — Nem mesmo acredita nisto, mas ainda assim quer fingir que temos que viver por suas condições. — Não dou a mínima para esse maldito pacto, Seraphina. — Isso não o impediu de usar isto como desculpa para me fazer sentir como uma idiota. Faíscas acenderam nos charcos sombreados de seus olhos. — Se realmente pensa que ir embora naquela noite teve qualquer coisa a ver com o pacto, então você é uma idiota. Ela puxou uma respiração, pronta a lançar uma maldição nele, mas ele não lhe deu chance. Em menos de um passo, fechou a distância entre eles. Uma mão forte deslizou em seu cabelo solto e ao redor de sua nuca. A outra espalmou contra na sua lombar quando a puxou para ele e tomou sua boca num ardente, quente e faminto beijo. Seraphina gemeu quando prazer e necessidade a inundaram. Seus seios esmagaram contra o firme e musculoso peito. Contra sua barriga, seu pênis era um cume espesso, sólido de calor e poder e demanda carnal. A fome rasgou por ela, mercúrio derretido. Ele queimou sua raiva, obliterou sua afronta e frustração. Quando aprofundou o beijo e sua língua passou seus lábios entreabertos, tudo que conhecia era desejo. Ela enfiou seus dedos em seus suaves cabelos e se agarrou a ele, perdida de desejo e alheia ao seu redor. Disposta a ignorar tudo desde que Jehan a segurasse assim, beijando-a como se a desejasse tanto quanto ela. Ele recuou numa maldição rosnada e olhou para ela. Seus olhos como brasas, suas pupilas nada além de fendas verticais no meio de todo aquele fogo. Seus lábios molhados entreabertos afastados 35
dos seus dentes e presas quando puxou uma respiração profunda, farejando-a como o predador que realmente era. Por um momento, ela achou que ele estava prestes a pegá-la e levá-la a algum canto isolado do acampamento como se fosse o dono dela. Ela não teria lutado com ele. Deus, nem mesmo perto. Mas, como ainda estavam lá, Sera sentiu uma pontada sutil começar a picar nas suas bochechas e testa. Seus olhos começaram a queimar, então a próxima respiração que ela deu, levou os grãos de areia fina para o fundo da sua garganta. A tempestade. Estava chegando muito mais cedo do que Karsten advertiu. Ela não teve que dizer a Jehan. Puxando-a perto, ele colocou a cabeça contra o seu peito e correu com ela na direção da dependência mais próxima quando a noite começou a encher com uma ondulação turva de areia amarela. CAPÍTULO 10 Quando alcançaram o armazém com teto de alumínio construído há algumas quadras, o vento soprava com um uivo. Areia batia através do acampamento soprando tão grossa quanto uma nevasca. Com seu corpo ainda excitado, Jehan puxou Seraphina contra si quando arrombou a frágil porta de madeira. — Entre, depressa. Ela estava entrando no abrigo quando um grito abafado em algum lugar no meio da tempestade os colocou em total alerta. A voz era baixa, distante. Inequivocadamente apavorada. — Yasmin. — O rosto de Seraphina empalideceu de preocupação. — Oh, Deus. A garotinha que veio nos saudar quando chegamos. Ela e algumas outras crianças saíram correndo para brincar alguns minutos atrás. O grito veio novamente, mais melancólico agora. Havia dor na voz da criança também. Jehan amaldiçoou. — Fique aqui. Eu a acharei. Sem esperar ela discutir, ele correu através da noite usando a velocidade de sua genética Raça. Os gemidos da garotinha eram um farol na cegueira do mar ofuscante de areia voando. Jehan seguiu seus gritos até uma vala funda do lado mais afastado do acampamento. Na parte inferior da queda áspera, seu corpo pequeno estava deitado, enrolado numa bola apertada. — Yasmin? Ao som de seu nome, ela ergueu a cabeça. Lágrimas de terror e agonia inundaram seus olhos. A pobre criança tremia e soluçava, sufocando na areia que voava. Jehan saltou dentro do fosso. Abaixando-se ao lado dela, a abrigou com seu corpo enquanto a tempestade de areia rugia ao redor deles. — Está machucada? Sua cabeça escura cambaleou num aceno. — Minha perna dói. Estava tentando me esconder dos meus amigos, mas caí e todos foram embora. Jehan cuidadosamente a examinou. Assim que sua palma pairou sobre sua 36
canela e tornozelo, ele sentiu a dor quente de uma fratura exposta. A fratura listrou por seus sentidos como um parafuso dentado de raio. — Vamos, querida. Vamos sair daqui. Ele pegou Yasmin em seus braços e a levou do fosso. Seraphina estava esperando no topo. Um pesado cobertor a cobria da cabeça aos pés como um escudo provisório da tempestade. Ela abriu os braços quando Jehan andou a passos largos em sua direção, o envolvendo e a criança enquanto os três faziam seu caminho através do acampamento. — Ela precisa de um médico, — informou a Seraphina, enquanto ela murmurava baixinho em consolo para a criança assustada. — Senti duas fraturas na parte mais baixa da fíbula, e um deslocamento bastante ruim no tornozelo. Seraphina contraiu as sobrancelhas por um segundo, então concordou acenando com a cabeça. — O posto médico fica no centro do acampamento. Por aqui. Ela mudou seu curso para as luzes amarelas que brilhavam em meio à areia e escuridão adiante. Jehan não perdeu os olhares incertos que ele e Seraphina receberam quando levaram a criança ferida para o pequeno hospital de campo. Sua cautela não o aborreceu. Sendo Raça, estava acostumado ao amplo espaço que a maioria dos humanos tendiam a dar a ele. E não escapou que uma das enfermeiras levando um cooler com uma grande cruz vermelha deu meia-volta imediata no momento que seus olhos caíram sobre ele, como se a visão do sangue congelado o provocasse a atacar. Os humanos não precisavam se preocupar sobre isto. Seu tipo só consumia sangue fresco, tirado de uma veia aberta. E agora mesmo, a única veia que o interessava pertencia à bela mulher ao seu lado. Até vestida com uma camisa gasta e calças enormes, Seraphina mexia com o macho da mesma maneira que mexia com o lado vampiro de sua natureza. Só porque seu beijo foi interrompido pela tempestade e uma criança aflita, isso não significava que esqueceu daquele fogo que Seraphina acendeu nele. Agora que a pequena estava segura e aos cuidados de um médico, a atenção de Jehan – todo seu foco – estava concentrado em quão depressa poderiam voltar para onde ele e Seraphina pararam. Mas aguardou pacientemente enquanto o apresentava e explicava para seus companheiros voluntários que Jehan era seu amigo, que foi ele quem saiu na tempestade para localizar Yasmin. A garantia de Seraphina parecia ser suficiente para pôr os humanos à vontade, desde que estava claro que todo mundo no acampamento confiava e a adorava. Ele estava começando a sentir-se igual. Mais que começando, de fato. Depois que o médico e enfermeiras voltaram para o trabalho, Seraphina olhou para ele. — Quando tirou Yasmin da tempestade, disse que a perna dela estava quebrada. — Ele concordou com a cabeça, mas isso não pareceu satisfazer a curiosidade de Seraphina. — Realmente, disse que sua fíbula tinha duas fraturas e que seu tornozelo estava torcido. Estava certo, Jehan. De acordo com o médico de campo há alguns minutos atrás, estava cem por cento certo. Disse a mim que sentiu seus danos. Pode sentir lesões físicas? Ele encolheu os ombros, apenas reconhecendo a habilidade muito raramente 37
usada. — Pode curá-los também? — Não. E agora conhece minha maldição, — ele murmurou ironicamente. — Posso sentir os ferimentos das pessoas, mas não posso curá-las. Ela balançou a cabeça para ele, calor cintilando em seus olhos. — Você ajudou Yasmin hoje à noite. Jehan olhou fixamente para ela, inseguro de como responder. Seraphina não podia saber como seu suposto dom marcou sua vida. Ele cresceu se sentindo inútil, sem rumo. Não foi até encontrar a Ordem que percebeu que existiam outros caminhos para fazer algo de significante com sua vida. Que sua vida tinha propósito. Ela ainda o observava, parecendo magnífica e extremamente interessada nele dada a forma como mantinha seu olhar. — A tempestade está realmente forte lá fora. Quer esperar aqui fora ou prefere ir para meu lugar? Ele arqueou uma sobrancelha. — Seu lugar? — Minha barraca. — Ela sorriu, e o calor disparou diretamente para sua virilha. — É onde fico quando estou no acampamento, independente do período. Não é muito confortável, mas é privado. O sorriso de Jehan surgiu lentamente através de seu rosto. — Senhorita Sanhaja, está tentando me seduzir? Ela lambeu os lábios, balançando sua cabeça enquanto lançava um olhar faminto. — Penso que talvez esteja. Santo inferno. A promessa em sua voz fez seu sangue correr tão duro e rápido para seu pau que não estava certo do que faria com essa “barraca”. — Mostre o caminho, — disse com voz grossa, seus caninos já despontando de suas gengivas. Segurando o cobertor acima de suas cabeças, correram para fora do centro médico em meio à tempestade de areia. A barraca de Seraphina ficava do outro lado do acampamento. No momento que chegaram e acharam seu caminho passando por zíperes e nós que asseguravam a entrada do abrigo, estavam cobertos com uma fina camada de areia. Tropeçaram dentro juntos, de mãos dadas, Seraphina rindo e ofegante na escuridão. Ela deixou-o por um momento, curvando-se para ligar uma lanterna. A luz suave pôs um brilho rosado em suas bochechas e um rubor se espalhou na maciez da sua garganta, fazendo a fina camada de areia em sua pele brilhar como diamantes. Sob seus longos cachos marrons enredados pelo vento, seus olhos cor de sândalo estavam insondáveis e cheios de desejo. Sua respiração ainda ofegante e rasa, o contorno de seus peitos o provocando sob o linho branco de sua camisa. Ele nunca viu nada tão adorável. Com a tempestade uivando ao redor deles, a areia batendo na barraca como chuva, Jehan ficou mudo, a visão dela marcada a fogo em sua memória para sempre. Sem poder resistir, ele alcançou sua aveludada bochecha. De repente isso já não era o bastante, então segurou seu rosto em suas mãos e a arrastou para um beijo feroz. No instante que suas bocas se encontraram, foi como se o tempo não tivesse passado entre o beijo febril na tempestade e este momento elétrico agora. Inferno, era como se simplesmente continuassem de onde pararam naquela primeira noite na vila. Toda a fome que sentia por esta fêmea, todo o desejo... estava bem aí sob a superfície, esperando pela chance de reacender. 38
E sabia que Seraphina sentia o mesmo. Com um gemido, ela derreteu contra ele, seus lábios se abrindo para dar acesso à língua exigente. Calor lambeu por suas veias ao sabor de sua paixão, queimando tudo em seu caminho. Num instante suas presas escorregaram de suas gengivas, preenchendo sua boca. Desejo martelava nas suas têmporas, em seu tórax. No comprimento dolorido de seu pênis. Ele gemeu com a intensidade disto. Tinha que desacelerar. Queria levar isto lentamente com ela, apesar de sua própria impaciência para tê-la estendida debaixo dele, e se enterrar completamente dentro dela. Mas Seraphina foi impiedosa. Sua boca molhada e sua respiração em rajadas rasgaram sua determinação. Suas curvas suaves e fortes, dedos exploradores em seus ombros e tórax, em seu cabelo, o despojaram de seu já fraco controle. Correndo suas mãos sob a túnica, ele sofregamente acariciou o inchaço firme de seus seios cobertos de cetim. Seraphina ofegou, arqueando-se enquanto ele abria o gancho dianteiro de seu sutiã e segurava a carne nua em suas palmas. Seus mamilos eram pequenos brotos que ficaram mais duros enquanto ele rolava e apertava entre seus dedos, faminto por saboreá-los. Ele a libertou, mas somente para tirar sua camisa e se banquetear com sua visão. Ele tirou a blusa por cima de sua cabeça e a deixou cair no chão da barraca. A faixa vermelha segurando suas calças foi a próxima. Desatou o nó e assistiu como o cós frouxo da calça comprida de linho deslizava fora de seus quadris para cair em seus pés. — Tão bonita, — ele murmurou, correndo a parte de trás de suas juntas sob seu braço, então através de sua barriga plana. Ele se aventurou ainda mais, brincando com a extremidade rendilhada de sua calcinha delicada. — Isto foi o que quis fazer na primeira noite com você, Seraphina. Despir você polegada por polegada. Fingir que tinha o direito de olhar para você e ser merecedor de ter você. Ela lentamente agitou a cabeça. — Não quero que finja, Jehan. Hoje à noite, não quero que pare. Não quis que parasse naquela primeira noite. Um som escapou dele, algo cru e de outro mundo. Ele deslizou os dedos no tecido entre suas pernas, e... Santa merda. Estava praticamente nua. E molhada. Tão condenadamente molhada. Seda quente, líquida banhou as pontas de seus dedos enquanto ele aprofundava dentro de sua fenda escorregadia. Ela mordeu o lábio, jogando a cabeça para trás com um suspiro. Segurando-o enquanto ele acariciava suas dobras sedosas, ela se retorcia e estremecia contra seu toque. — Jehan, não me faça esperar. Por favor, não me deixe assim novamente. — Sem chance, — ele articulou, sua voz rouca em sua garganta, crua com desejo. — Não hoje à noite. Não, nunca mais, alguma parte possessiva dele rosnava em acordo. Não sabia de onde vinha – a sensação profunda que ele pertencia a esta mulher. Que ela era sua. E tão ridículo quanto o antigo pacto entre suas famílias fosse, de alguma forma entregou a ele a única mulher que desejou mais que qualquer outra antes. Jehan atraiu a boca dela para a dele e a beijou novamente, tão reverente 39
quanto exigente. Ele quebrou o contato apenas para despir-se da camisa e calça jeans, deixando ambos aos seus pés. Ele não vestia nada por baixo, e assim que seu pau pulou livre, as mãos de Seraphina o acharam. Ela o masturbou e acariciou, seus dedos tão certos e febris, que quase gozou ali mesmo. Desejo torceu apertado e quente a cada deslizamento que ela dava à sua seta dura, a pressão enrolando na base de sua espinha. De alguma maneira, conseguiu controlar a si mesmo o suficiente para apagar a lanterna com a mente. A barraca mergulhou na escuridão. Embora a tempestade de areia rangesse lá fora, mandado todos no acampamento para um lugar fechado, ele não iria compartilhar Seraphina ou este momento com ninguém mais. Deitando-a sobre o estrado de cobertores e travesseiros com ele, Jehan removeu sua calcinha, então sua mão alisou cada belo inchaço e delicada cavidade muscular do seu corpo desnudo. A tentação de seu sexo era demais. O odor doce de sua excitação embriagava seus sentidos enquanto se movia sobre ela, empurrando suas coxas até que estava aberta para ele como uma flor exótica. Uma que mal podia esperar para provar. Ele abaixou a cabeça entre suas pernas, gemendo numa mistura de agonia e êxtase quando sua língua encontrou seu doce néctar, a carne quente, molhada. Seus caninos já estavam completamente estendidos, mas no primeiro gole dos sucos de Seraphina, os pontos afiados cresceram muito mais. O desejo de morder e tirar sangue e fazê-la sua da maneira mais poderosa que conhecia levantou- se nele sem aviso prévio. Não. Ele socou o impulso duro, pego de surpresa pela força disto. Perder-se em prazer carnal era uma coisa. Vincular Seraphina à ele pela eternidade era outra. E era uma linha que não cruzaria. Ele não tinha lugar em sua vida para uma companheira, e se ela acordasse de manhã com remorsos, certo como inferno que não queria que um deles fosse irrevogável. Hoje à noite queria dar prazer a ela. Egoisticamente, queria dar a ela o tipo de prazer que asseguraria que qualquer outro macho que já a tivesse tocado seria apagado de sua memória. Hoje à noite, Seraphina era sua, não porque algum ridículo acordo dizia que ela devia ser, mas porque ela queria ser. Porque ela sentia o mesmo desejo inegável que ele sentia. — Goze para mim, — ele raspou contra sua carne tenra. — Quero ouvir você, Seraphina. — Oh, Deus, — ela ofegou em resposta, arqueando até encontrar sua boca enquanto ele beijava e chupava, brincava com seus lábios e língua. Quando ela se contorceu e choramingou em prazer nascente, ele lhe deu mais, deslizando um dedo por seus sucos e na entrada apertada de seu corpo. Ela gritou quando ele adicionou outro, empurrando em cadência com os golpes fundos da sua língua. Ele olhou seu corpo retorcido. — Abra seus olhos, bonita. Quero vê-la gozar por mim. Ela obedeceu, erguendo suas pálpebras pesadas, o olhar bêbado de prazer. — Jehan, por favor... Suas mãos enrolaram em punhos em seu cabelo enquanto ele a persuadia a ir 40
mais alto, até o ápice do orgasmo, desesperado pelo seu prazer – pela sua liberação – antes dele entrar também. Ah, porra. Nunca viu nada tão erótico quanto Seraphina chegando ao ápice do orgasmo. Os sons sensuais que fazia. A resposta desenfreada de seu corpo. O aperto, o quente torno de sua bainha, sujeitando seus dedos enquanto ele sacudia a língua sobre seu clitóris e a dirigia implacavelmente em direção a uma demolidora liberação. Ela segurou seu olhar na escuridão, e quando despencou um momento mais tarde, estava com seu nome em seus lábios. Jehan não pôde conter seu sorriso satisfeito. Ele ergueu-se sobre ela, pressionando-lhe os joelhos para seu tórax enquanto guiava o pênis entre as dobras lisas de seu sexo. Seus olhos estavam presos nos dela, seu corpo ainda rosado e estremecendo com os tremores de sua liberação. Ele testou sua entrada apertada com um pequeno empurrão dos quadris, gemendo quando as pequenas paredes musculares envolveram a cabeça de seu eixo. Ele procurou por controle e não achou nenhum. Não no que concernia a esta mulher. E por que isso não o assustou muito, ele não sabia. Agora mesmo, com Seraphina molhada e pronta para ele, a condenada pergunta não importava. Com uma áspera maldição, flexionou sua pélvis e se acomodou até o fundo. CAPÍTULO ONZE Ela abriu a boca com o nome de Jehan quando a tomou com uma profunda estocada impressionante. Sua malvada boca e dedos deixaram suas terminações nervosas vibrando e intumescidas pelas sensações e seu corpo quente pela liberação. Mas cada empurrão dos quadris de Jehan avivava sua excitação mais uma vez. Seu pau a esticava, a enchia tão completamente que mal podia acomodar toda sua longitude e circunferência. Fechou os olhos contra o êxtase assombroso que se construía enquanto se movia dentro dela, seus poderosos golpes e ritmo implacável levando-a à loucura. Nunca sentiu algo tão embriagador como a força nua do corpo magnífico de Jehan. Toda sua paixão, seu imenso controle que se concentrava apenas em seu prazer o fazia parecer uma droga, na qual poderia se viciar. Talvez já estivesse, porque sua fome por ele apenas aumentava a cada choque de seu corpo contra o dela. Alcançando entre eles, abaixou uma de suas pernas onde estava dobrada sobre o peito e a envolveu ao redor de sua cintura enquanto se movia num ângulo ainda mais intenso. A nova posição lhe deu acesso ao peito coberto por glifos e o musculoso abdômen, que explorou com os dedos e as unhas arranhando. Ela levantou a cabeça e o olhou, hipnotizada pela beleza violenta e erótica de sua necessidade. Jehan fez um ruído da parte de trás da garganta. — Gosta da forma como nos vemos, Sera? Suas pernas abertas para mim, meu pau enterrado em seu calor? —Sim. Oh, Deus, sim. — Pensou que já estava no limite da combustão? Sua voz rouca a inflamou ainda mais. Ela afastou o olhar de sua união apenas para ver o olhar crepitante nos olhos transformados dele. — Jehan... não sabia que poderia ser assim. Com você empurrando tanto dentro de mim e ainda não ser o suficiente. Adoro nos ver juntos assim. Adoro a forma como nos sentimos. —Humm. — Respondeu ele, mais um grunhido que uma resposta. — Então vou 41
lhe dar mais. Estabeleceu um novo ritmo que destruiu seu já fino controle. Outro orgasmo a montou e se contorceu em seu interior, varrendo-a numa nova espiral vertiginosa de prazer. Ela segurou seu lábio entre os dentes com um gemido afogado quando o clímax a tomou, chegando ao ponto da ruptura. O ritmo de Jehan era sem piedade. Ele a montou duro, mais profundo, seus quadris furiosos. Ela arqueou-se sob ele, incapaz de aguentar mais. Virando a cabeça na almofada, ela soltou um grito quando sua liberação se rompeu numa onda atrás de outra de felicidade. Jehan bombeava furiosamente enquanto se aproximava, então uma maldição áspera foi arrancada dele. Ficou tenso, os músculos endurecendo como granito sob seus dedos enquanto se segurava nele. Seus olhos âmbar estavam ardentes, presos nela. Ele sussurrou seu nome, o tormento e o prazer gravados em seu bonito e selvagem rosto. Então um rugido saiu além de seus dentes e presas. Seus quadris empurrando violentamente, então se afundou, profundamente e uma repentina maldição saiu com o fluxo abrasador de sua semente explodindo dentro dela. Ela nunca se sentiu tão saciada. Assim deliciosamente fodida. Acariciou Jehan quando seu corpo relaxou e seu orgasmo diminuiu. Mas seu pau perdeu um pouco da rigidez em seu interior. E enquanto murmurava algumas palavras pela forma como se sentia, seus fortes dedos acariciavam seu cabelo, bochechas, seios e a rigidez voltou ao aço novamente. Não podia controlar a resposta ao corpo dele, nem podia conter seu trêmulo suspiro de prazer enquanto seu membro inchava até a capacidade e as paredes de seu sexo apertavam para retê-lo. Ela se moveu sob ele, criando uma fricção molhada. — Santa merda, Sera. — Fechou os olhos por um momento, a cabeça inclinada atrás sobre seus ombros enquanto ela o convidava a tomá-la novamente. Quando seu olhar voltou ao dela, o fogo que estava ali antes ficou ainda mais quente. — Deveria ter ido embora. Agora é muito tarde. Fodidamente para os dois. Ela assentiu com a cabeça, sabendo que tinha razão. Deveriam ter resistido ao calor entre eles. Deveriam ter rejeitado o handfast e tudo o que vinha com ele. Ambos deveriam ter percebido que ceder a este desejo apenas desencadearia uma necessidade maior. Para Sera, o que sentia por Jehan ia além da necessidade física ou mesmo uma afeição passageira. Esta noite, viu um novo lado dele. Não o macho Raça arrogante que caminhava pela vida como se fosse o dono do mundo. Não o guerreiro da Ordem que se ocupava da justiça implacável e da morte. Esta noite, no acampamento, presenciou um lado diferente dele. Jehan era um homem amável, um homem compassivo. Ela vislumbrou a honra dentro dele e agora que viu estas coisas, nunca seria capaz de olhá-lo de outra forma. Sim. Era muito tarde para se afastar de tudo o que aconteceu entre eles esta noite. E se esperava que ela lamentasse este fato, nunca o faria. Não quando Jehan a olhava como agora, com febre nos olhos e o desejo colorindo os arcos furiosos e ondulações de seu glifos multicolores. E não quando seu incrível pau estava fazendo-a ansiar para ser tomada novamente. — De joelhos agora. — Ordenou, sua voz rouca profunda e primitiva. 42
Seus olhos se abriram com surpresa, mas ela ansiosamente moveu-se sob ele para obedecer. Ele se levantou atrás dela, o calor de sua presença escaldando seu traseiro. Seus dedos tocaram seus sucos combinados, ela se contorceu desesperada e um gemido saiu de sua garganta quando os sons úmidos de suas carícias se uniram à tempestade de areia ainda assolando o acampamento. Ela sentiu a grossa longitude de seu pênis entre suas dobras inchadas. Então ele agarrou seus quadris nas mãos e lentamente a empalou, centímetro a centímetro, gloriosamente. Fixou um ritmo menos frenético agora, buscando de alguma forma saborear o prazer, fazendo com que durasse enquanto pudessem aguentar. Depois que ambos chegaram ao clímax novamente, caíram sobre as mantas. Durante muito tempo, não houve palavras. Ficaram juntos na escuridão, ouvindo os silvos da areia enquanto a tempestade continuava no acampamento. Sera se esticou ao seu lado, com um braço sobre seu peito. Traçou um padrão de glifos que se estendia por sua pele suave, memorizando as marcas únicas de um Raça. Eram bonitas. Assim como ele. — Tenho que lhe agradecer por esta noite, Jehan. Ele grunhiu. — Não há necessidade, acredite. — Seu forte braço se apertou ao redor dela, puxando-a contra ele. — Eu quem deveria agradecer. Ela se levantou para olhá-lo. — Não, quero dizer pelo que fez esta noite. Por me ajudar com o carregamento. Por sair na tempestade para encontrar Yasmin e se assegurar que ela conseguisse os cuidados que precisava com sua perna machucada. Encolheu os ombros levemente. — Uma vez mais, não precisa me agradecer. Fiz o que qualquer um faria. — Não qualquer um. — Disse. — Nunca teria esperado isto de você. Eu te julguei mal quando nos conhecemos e por isso, também lhe devo uma desculpa. Ele segurou sua nuca e a puxou para um beijo terno. — Talvez nós dois tenhamos tirado conclusões muito rápidas. Quando me disse que apenas aceitou o handfast para receber de seu pai o dinheiro, imaginei que estava disposta a receber o suborno porque queria o dinheiro para você mesma. E não deveria importar o motivo, mas importou. Esta noite no posto de controle, sei o que fez. Percebi que está fazendo isto por um tempo, usando suas contas pessoais para comprar mantimentos para o acampamento. Ela franziu o cenho. — É apenas dinheiro. Como posso não fazê-lo quando estes mantimentos significam a vida ou morte de pessoas que dependem de mim? — Seu trabalho, obviamente significa muito para você. — Havia uma sobriedade em seus olhos enquanto a observava na tenda escura. — Você me disse naquela noite no jardim que seu trabalho era uma vocação. — Disse isto sim. — Surpreendeu-lhe que se lembrasse deste comentário brusco. — O que queria dizer, Seraphina? Ela abaixou o olhar para a mão que descansava em seu peito. — Quando eu tinha dezoito anos, ofereci-me voluntária num orfanato cerca de uma hora de distancia de nosso Darkhaven. Meus pais me incentivaram, desde que fiquei órfã quando era um bebê também. Jehan soltou um som irreconhecível. — Uma grande quantidade de companheiras de Raça encontra seus caminhos em lares Raça como bebês abandonados ou órfãos. 43
Ela assentiu. Ela e sua irmã foram adotadas pelos Sanhaja desta forma. — Tive sorte. Alguém viu minha marca de nascimento e reconheceu que eu era diferente. Encontrei um lar por isto. Mas não havia companheiras de Raça neste orfanato ao qual fui este ano. Apenas crianças humanas. Muitos eram refugiados cujos pais foram assassinados em guerras ou morreram de fome e outras doenças. — Ela fechou os dedos numa bola. — Havia muita dor neste lugar. Sentia cada vez que segurava um bebê chorando ou abraçava uma daquelas crianças doces e aterrorizadas. — Sentia. — Murmurou Jehan, entendendo plenamente agora. Ele estendeu a mão para segurar a dela, levando os nós aos lábios. — Sentia a dor emocional, já que como eu é empática. Cada companheira de Raça, como todos os machos Raça, nasciam com uma habilidade extra-sensorial única. Alguns eram abençoados, outros menos. Enquanto Jehan podia registrar lesões físicas, ela tinha a capacidade de sentir a dor emocional com um toque. — Pensei que poderia lidar com a situação. — Disse. — Mas tudo que sentia ficava comigo. Neste tempo de trabalho no orfanato, naquele inverno, não pude fazer nada, não sabia como ajudar. Agora faço o que posso. Estava tranquila enquanto falava e Sera sabia que ele entendia. Dada sua capacidade, Jehan provavelmente a entendia melhor que ninguém mais. —É uma mulher incrível, Seraphina. — Ele negou com a cabeça, seu polegar acariciando distraidamente a linha de sua mandíbula. — Acho que percebi isto no momento que nos conhecemos, mas estava muito ocupado buscando razões para não gostar de você. Queria encontrar defeitos escondidos, já que era óbvio que não iria encontrar nenhum no exterior. Seu elogio a aqueceu. — Não fui capaz de encontrar nenhum em você também. E acredite, eu procurei. Eu o chamei de assassino quando descobri que era um guerreiro da Ordem. Isto não foi justo. Agora eu sei. Também pensei que seu defeito maior pudesse ser sua opinião exagerada de seus próprios encantos. Acho que provou um ponto esta noite, no entanto. Suponho que tenho que dar crédito quando devido. Ele riu entre os dentes. — Se acha que o que acabei de fazer com você foi encantador, espere até ver meu lado perverso. Ela sorriu para ele. — Quando posso esperar isto? — Se não tiver cuidado, antes do que pensa. Ele a agarrou pelo traseiro e deu um tapa brincalhão. Então a colocou sobre suas costas e a cobriu com seu corpo duro, totalmente excitado. As brasas crepitantes em seus olhos diziam que estava a ponto de cumprir sua ameaça. CAPÍTULO 12 A tempestade havia passado algum tempo atrás. Jehan estava deitado de costas na barraca escura, segurando Seraphina enquanto ela dormia nua, tão contorcida nele como se não tivesse ossos. Ele estava acordado há algum tempo, ouvindo a calma lá fora e tentando convencer a si mesmo que precisava sair da cama. Por mais que odiasse perturbar o sono dela e se desvencilhar do seu agradável calor descansando em seus braços, sabia que devia sair e ter a certeza de que o carro não estava enterrado num monte de areia. Já que o tempo estava bom, estava ansioso para voltar à estrada. 44
Imaginava que era madrugada, provavelmente só duas ou três horas após a meia-noite. Se não demorassem muito, era possível que pudessem chegar à vila antes do amanhecer. Caso contrário, isso significaria um dia todo gasto no acampamento, esperando o pôr do sol quando seria seguro para ele voltar à estrada. Enquanto pensava sobre as muitas formas interessantes de gastar as horas com Seraphina, sozinho na barraca dela, ele não tinha vergonha de admitir que preferia explorar essas opções no conforto da vila. O que significava tirar sua bunda da cama o mais rápido possível, assim poderia executar tal ação. Com cuidado para não despertá-la, deslizou para fora, por debaixo dela, e saiu do fino colchão estirado no chão. Vestindo-se silenciosamente, escapou para fora da barraca para começar a procurar pelo Rover. Era o único ali fora, após a tempestade. Ele caminhou pelo silencioso acampamento, suas botas deixando recentes marcas de passos no caminho de areia que cortava as barracas e os prédios. O Rover poderia estar pior. A areia cobria o veículo preto e preenchia toda rachadura e fenda existente. Ele tirou e limpou o melhor que pode, começando por baixo e quando estava quase chegando ao topo sua sobrenatural audição captou o som de vozes masculinas em algum lugar na escuridão. Em algum lugar próximo ao prédio principal de suprimentos. Jehan reconheceu o tenor dramático de Karsten Hemmings na hora. O outro homem soava como um dos ajudantes que descarregaram a entrega hoje mais cedo. Jehan escutou, suspeita atiçando seus sentidos. Instintivamente, alcançou o Rover e recuperou o par de punhais que armazenou debaixo do banco do motorista. Embora tivesse implicado com Seraphina por que ela trouxe o telefone para o handfast, sua desobediência das condições trazendo suas lâminas de patrulha da Ordem era provavelmente a pior dentre as duas ofensas. Exatamente agora, estava extremamente contente em ter as armas. Enfiando uma em sua bota e a outra atrás do cós de sua calça jeans, ele circulou pela parte traseira das barracas e dos prédios, seus sentidos sintonizados nos dois homens. A areia levantava com seus rápidos passos. Karsten proferiu ordens para seu cúmplice num sussurro baixo, urgente. — Aumente o passo, Massoud! Meu contato tem esperado por essa merda há dias. Temos menos de uma hora para fazer a entrega e pegar nosso dinheiro. Mas que diabos? O jipe de Karsten estava estacionado na parte detrás do prédio. O porta-malas tinha sido aberto, enquanto Karsten e o outro trabalhador do acampamento aparentemente estavam carregando o veículo com engradados tirados do prédio de suprimentos. Jehan rastejou pelas sombras, observando o conteúdo do Jipe enquanto ambos os homens voltaram para dentro do edifício para pegar mais. Três engradados etiquetados como sendo de carne enlatada estavam no porta-malas. O suprimento que ele e Seraphina entregaram mais cedo, hoje à noite. Um dos engradados foi separado, várias das latas de dentro abertas. Um estranho brilho azul emanava de dentro dos recipientes. A princípio, Jehan não tinha certeza do que via. Não eram carnes enlatadas, isso estava certo. Cada recipiente continha um objeto eletrônico do tamanho da palma da mão, 45
composto por uma cobertura de metal e uma câmara de vidro no centro. Dentro do vidro existia uma substância azul leitosa que brilhava fraca como pura energia. Como um recurso que poderia ser utilizado para criação de armas de raios ultravioleta. Puta merda. A descoberta caiu sobre ele, o ajudante de Karsten veio por detrás do edifício. Ele estava de mãos vazias, mas no momento que levantou seu olhar até Jehan, levantou sua arma de fogo e disparou desesperadamente. Reagindo quase que imediatamente, Jehan lançou sua adaga no ar, deixando Massoud morto na areia. As balas descarregadas voaram selvagemente pelo ar. O som dos disparos ecoaram, interrompendo o silêncio do sonolento e tranquilo acampamento. Agitação e gritos ecoaram nas barracas mais próximas. Karsten saiu correndo do prédio de suprimentos. — Massoud, meu Deus... Ele parou abruptamente quando se encontrou cara a cara com Jehan segurando a arma de fogo de seu camarada. Jehan mostrou suas presas. — Pelo visto fazendo um trabalhinho extra. Atualmente, qual é o valor das granadas UV? Karsten estreitou os olhos. — Mais que você possa imaginar, vampiro. A vontade de arrancar a cabeça do humano fora era esmagadora. Mas por precaução ele se advertiu de que também era um antigo colega de trabalho de Seraphina. Ela considerava Karsten Hemmings um amigo. Por mais que Jehan desejasse matar o bastardo, por lucrar com as armas UV de matança da Raça e por usar a benevolência de Seraphina para isso, aquela decisão não era dele. Não assim. — Nós dois sabemos que você não vai usar essa arma em mim, — Karsten zombou. — Ela o odiará por isso. E claro, se puxar esse gatilho, é melhor você se preparar para morrer comigo. Foi quando Jehan notou que o humano segurava algo apertado em seus pulsos. O brilho azul escapando por entre seus dedos. — O detonador já está ativado, — ele afirmou. — A explosão do raio UV não me causará nada além de uma queimadura de sol. Em você, porém... Jehan ignorou a ameaça. Ele lidaria com essa desavença, se e quando isso acontecesse. Mas agora queria respostas. Se tivesse chance de conseguir informações para a Ordem, precisava de respostas. — Quem está esperando por esta remessa, Karsten? Quem está pagando a você por essa carga? — Ah, vamos. Acredito que você saiba. Todo guerreiro da Ordem devia saber a resposta para essa pergunta. — Ele riu. — Sim, sei que você é um deles. Fiz um pouco de pesquisa hoje à noite. Alguns telefonemas. Você é parte da unidade Romana. Jehan o olhou fixamente. — E você é parte da Opus Nostrum. Karsten franziu os lábios e deu um leve aceno com a cabeça. — Meramente um homem de negócios. E um da mesma opinião. Eu menosprezo toda sua raça de monstros sanguessuga. Se a Opus quer sua Raça erradicada e uma guerra para fazer isso acontecer, estou muito feliz em ajudar a 46
mandar vocês todos para seus sepulcros. Ou para a luz, como parece o caso. — Karsten, — Seraphina emergiu de fora da escuridão, desordenada e confusa. — Oh, meu Deus. Jehan, o que diabos está... — Seraphina, fique para trás! O aviso de Jehan veio tarde demais. Ela estava perdida exatamente no meio dos dois. E Karsten aproveitou a chance para soltar sua arma. A granada UV foi lançada. Jehan tinha preciosos segundos para reagir. Mergulhou debaixo do jipe enquanto a luz explodia ao redor dele. O poder da arma era imenso. Até por debaixo da estrutura do veículo, pode sentir o chamuscar da energia da detonação solar. Isto se extinguiu um momento mais tarde, mergulhando o deserto de volta na escuridão. Ele estava protegido. Ele estava vivo. Mas sua preservação acabou custando muito caro. Ele ouviu Seraphina clamar e soube que Karsten Hemmings a pegou. Percebendo isso, seu coração rasgou no peito. Ele não podia deixar que ela se ferisse. Não podia perdê-la. Nunca quis perde-la. Rugindo, Jehan rolou para fora e ficou em pé para enfrentar o bastardo. Karsten tinha uma pistola, apontada para a parte detrás da cabeça dela. E Jehan soltou sua arma em algum lugar na areia. — Deixe-a ir. Karsten zombou. — Deixá-la ir, assim você pode tê-la? Ela merece algo melhor que você, vampiro. Melhor do que qualquer coisa que possa dar a ela. Jehan não ia discutir, já que pensava o mesmo nesse momento, enquanto miseravelmente baixava a vista para seu rosto apavorado e seus olhos marrons tenros implorando que a ajudasse. — A deixe ir, Karsten. Se fizer isso, talvez eu o deixe viver. Mas só se Seraphina quiser. O humano riu. — Não, não acho. Estamos saindo agora. Vou fazer minha entrega e pegar o meu dinheiro. Então Sera e eu vamos sair deste buraco do inferno, abandonado por Deus, e aproveitaremos nosso dinheiro. — Ele aninhou sua boca aberta contra a bochecha dela, a ponta da arma ainda pressionada contra seu crânio. — Você verá, meu amor. Posso dar a você tudo que precisar. Ela estremeceu e fechou os olhos, um som miserável enrolado veio de sua garganta. Jehan não podia aguentar nem mais um segundo do tormento dela. Ele tinha que agir. Tinha uma única chance de resolver isso, mas não poderia fazê-lo se ela não confiasse nele. — Seraphina. — Ele chamou seu nome suavemente, respeitosamente. Esperando que ela pudesse perceber o quanto significava para ele. — Olhe para mim, querida. Os olhos dela se abriram e encontraram os dele na escuridão. Ele não podia dizer as palavras em voz alta, sem trair seu plano, mas precisava que ela compreendesse. Ele precisava que ela confiasse nele. 47
– Você confia em mim, Seraphina? Ele disse isso com seus olhos. Com seu coração. Confie em mim, bebê. Por favor... Ela deu a ele um aceno quase que imperceptível com a cabeça. Era o suficiente. Era toda a permissão que precisava. Movendo-se com toda a agilidade e velocidade Raça que possuía, Jehan alcançou ao redor de suas costas e retirou o punhal que tinha escondido lá. Ele deixou o punhal voar pelas pontas de seus dedos. Um momento mais tarde, Karsten Hemmings caiu no chão com a adaga de Jehan pressionada entre seus olhos escancarados. Jehan correu para Seraphina e a puxou para seus braços. Naquele momento, nada mais importava. Nem Karsten Hemmings. Nem o jipe lotado de granadas UV ou a Opus Nostrum. Nem mesmo a Ordem importava, enquanto trazia Seraphina para perto e a beijava com todo alívio e emoção, com todo o amor que sentia por ela. Ele agarrou seu bonito rosto e olhou fixamente para baixo nos olhos marrons e suaves que agora possuíam seu coração e sua alma. — Vamos, — disse ele, a encaixando embaixo da proteção de seu braço. – Vamos sair daqui. CAPÍTULO 13 Sera ainda estava entorpecida pelo choque e descrença várias horas mais tarde, depois que Jehan os levou de volta para casa. A traição de Karsten a magoou profundamente. Que a tenha usado para liberar os suprimentos contendo sua carga escondida já era ruim o suficiente. Mas a ideia de que a cobiça e ódio envenenaram sua humanidade, tanto que estava disposto a matar, disposto ao tráfego de armamento concebido para a matança indiscriminada da Raça, era impensável. Era imperdoável. Incontáveis vidas inocentes foram salvas hoje, agora que as granadas UV foram desviadas de seu comprador e armazenadas em local seguro, dentro da casa. Quanto a Karsten e Massoud, quando os outros trabalhadores do campo e moradores entraram em cena e ouviram o que os dois homens fizeram, não houve escassez de voluntários que se ofereceram a dar fim aos seus corpos no deserto, para que Sera e Jehan pudessem pegar a estrada o mais rápido possível ao nascer do sol. Sera considerou Karsten um amigo por anos, mas não houve qualquer parte dela que lamentasse sua morte hoje, mesmo por um segundo. Se não fosse pelo raciocínio rápido de Jehan e velocidade com sua lâmina, ela não tinha nenhuma dúvida de que Karsten a teria matado . Ele quase matou Jehan também. O terror que sentiu naquela possibilidade quase a eviscerou e de como ela ficou impotente nas mãos de Karsten. Mesmo agora, a realidade de quão perto chegou de perder Jehan a deixava abalada física e emocionalmente. Mas ele estava vivo. Por causa de suas habilidades como guerreiro, ambos estavam vivos. — Está tudo bem, Sera? — Sua voz profunda, atenciosa a envolvia enquanto entravam na casa juntos. — Existe qualquer coisa que eu possa fazer para você? 48
Ela balançou a cabeça, mas não pode deixar de se mover para o abrigo dos seus braços. Isso era tudo que precisava. Seu calor a envolvendo. Seu forte batimento cardíaco batendo firmemente contra seu ouvido enquanto ela descansava a cabeça em seu peito musculoso . Ela só precisava... dele. — Devia chamar seu irmão, — ela murmurou. Marcel deixou duas mensagens em seu telefone no último par de horas, pedindo-lhes para contatá-lo o mais rapidamente possível. — Devíamos deixar ele saber que retornamos, pelo menos, para que possa parar de se preocupar que vamos quebrar o pacto. O peito de Jehan retumbou com um som de desprezo. — Deveria chamar a Ordem também, e dizer-lhes o que estarei levando de volta para Roma comigo em algumas noites. Mas meu irmão e todo mundo podem esperar. A única coisa que me preocupa agora é você. Ele se afastou e olhou para ela havia uma tempestade escura no azul pálido de seus olhos. Quando ele ergueu o queixo e tomou sua boca num lento beijo saboroso, foi fácil imaginar que o que ela via em seu olhar — o que sentia em seus braços e em seu beijo era algo mais profundo que preocupação ou simples afeto. Era fácil imaginar que poderia ser amor. — Você está tremendo, Seraphina. — Ele estendeu a mão para acariciar seu rosto e ombro. — E está com frio também. Vamos. Deixe-me cuidar de você. Talvez Leila tivesse razão e houvesse um pouco de magia trabalhando quando fizeram o pacto entre suas famílias. Sera podia quase acreditar nisso agora, porque com Jehan levando-a através da casa, seus dedos entrelaçados com os dela, era extremamente fácil imaginar que tudo que compartilharam desde que entraram no handfast estava, de alguma forma, abrindo um caminho em direção a um futuro juntos. Um futuro que só poderia durar uma eternidade. Ela não perdeu sua referência para a vida que estava esperando por ele no final do handfast. Ela não podia fingir que sua vida não estava esperando por ela também. Mas pelas próximas noites , não ia deixar a realidade se intrometer. Jehan levou-a para o quarto de banho cavernoso com suas gigantescas colunas de mármore e de vapor, com uma banheira do tamanho de uma piscina. Ele sentou-se na beira, em seguida, se agachou na frente dela para remover seus sapatos. Os sapatos de couro macio estavam cobertos de areia e salpicados do sangue seco de Karsten. Jehan assobiou uma maldição baixa e os pôs de lado. Quando ele ergueu sua cabeça para encontrar o olhar dela, existia dúvida em seus olhos. — Pode me perdoar, Sera? — Por me salvar de Karsten? — Ela balançou a cabeça. — Não há nada a perdoar. — Não. — Sua boca afinou numa linha sombria. — Quero dizer, por me salvar. Por dar a ele a oportunidade de conseguir agarrar você em primeiro lugar. Oh, Deus. Era isso que ele pensava? Era isso que pesava em sua consciência agora? Sera inclinou-se para tomar seu atormentado, bonito rosto em suas palmas. Sua angústia era palpável. Ela podia sentir a dor maçante dele através do seu dom de empatia. — Jehan, quando vi aquele flash de luz quando o Karsten jogou a granada, soube que seria letal para você. Pensei que estava prestes a ver você morrer. Se não se tivesse protegido a si mesmo, nós dois teríamos sido mortos hoje. Você me salvou. 49
Ele a estudou por um longo momento, como se quisesse dizer mais alguma coisa. Em seguida, virou o rosto em sua mão e deu um beijo em sua palma antes de sair do seu aperto. — Vamos tirar essas roupas e deixá-la quente. Ele levantou-se, levando-a com ele. Com mãos cuidadosas a despiu, tirando a túnica de linho amarrotada e seu sutiã. Então, puxou para baixo as calças folgadas e sua calcinha rendada. Seu olhar a bebeu lentamente, com os olhos crepitando em faíscas âmbar. Quando finalmente falou, sua voz era escura e rouca, áspera com desejo. — Mais cedo hoje à noite, quando vi você nua como agora, pela primeira vez, disse que você era bonita. Ela lambeu os seus lábios. — Eu lembro. Ela nunca iria se esquecer de qualquer coisa do que ele disse em sua barraca poucas horas atrás, nem qualquer coisa que ele tenha feito. Excitação espiralou através dela, tanto com a lembrança como sob a intensidade do seu olhar agora. — Disse que era bonita, Seraphina... mas estava errado. — Ele colocou seu rosto na sua palma, então lentamente desceu seus dedos leves abaixo de seu ombro, na palma da mão, então no dedo polegar, pausando para acariciar lentamente a marca de companheira de Raça na parte superior do braço. — Você é primorosa. A mais linda fêmea que já – e sempre – coloquei os meus indignos olhos. Ela começou a sacudir a cabeça em sinal de protesto de sua auto-depreciação, mas seu beijo pegou seus lábios antes que ela pudesse falar. Todo seu desejo por ele – todos as suas emaranhadas emoções – cresceram para engoli-la. Ela o queria. O amava tão poderosamente que a fez vacilar. Somente o medo impediu a confissão. Medo e desejo. Ela se afastou, a respiração arfante. Sem dizer nada desabotoou a camisa e empurrou-a fora dos seus braços fortes. Cada redemoinho e floreado dos dermaglifos rastreados sobre o peito poderoso e musculoso abdômen eram uma tentação para os seus dedos e sua boca. Ela tocou e beijou, lambeu seu caminho até seu imenso corpo, finalmente abaixando-se de joelhos diante dele. Seus pulmões levantavam asperamente com o ritmo de sua respiração entrecortada quando ela abriu o zíper dos seus jeans e deslizou para baixo das suas coxas duras. Seu pênis balançava fortemente na frente dela, o grosso eixo com a coroa de cor ameixa brilhando, fazendo água na boca por um gosto. Ele gemeu quando ela agarrou seu comprimento em suas mãos, seus músculos tensos, a respiração engatando, quando ela acariciou-o da raiz à cabeça e raiz novamente. Quando ela se inclinou para a frente e colocou os lábios em torno dele, suas costas arquearam e ele soltou um silvo apertado e grunhido gutural. Ela nunca teve tanta força e poder em suas mãos antes, nem na sua boca. Ela não conseguia o suficiente. E, como resposta, seu corpo acelerou, só fez sua fome aumentar. Tudo por ele. Ela olhou para cima quando o chupou e encontrou seus olhos de fogo travados nela. Suas pupilas eram finas e selvagens, totalmente Raça. Sua boca larga estava puxada numa careta, arreganhando os dentes e o enorme comprimento de suas presas. Ela gemeu, oprimida pela beleza sobrenatural do macho olhando para ela. Sua grande mão em concha na parte de trás de sua cabeça, os dedos longos espetados em 50
seu cabelo enquanto ela tomava toda a profundidade dele em sua boca num ritmo implacável. — Seraphina, — ele soltou em voz rouca. — Ah, foda-se... Num gemido afiado, retirou-se de entre seus lábios e a pegou em seus braços como se não pesasse nada. Ele a levou para dentro do banho de vapor, prendendo sua boca na dela num beijo febril, urgente, quando afundou até aos ombros na água morna com ela erguida em seus braços. Ele arrancou sua boca longe da dela, franzindo o cenho ferozmente. — Eu deveria ser o único cuidando de você, se você se lembra. Ela ergueu uma sobrancelha em desafio. — Esse é seu lado encantador conversando ou o seu mau? Faíscas queimaram em seu olhar quente. — Qual você prefere? — Não decidi ainda. — Girando sob a superfície da água, ela se sentou no seu colo e envolveu as pernas ao redor de sua cintura. A saliência espessa de seu pênis subiu alto entre eles, o cabelo encaracolado em sua raiz fazendo cócegas em seu sexo. Ela lançou seus braços acima de seus ombros e se moveu para um beijo provocador. — Felizmente, temos o dia todo para descobrir isso. Suas mãos agarraram sua bunda e ele sorriu contra sua boca. — O dia todo, e outras cinco noites depois disto. — Acha que é longo o suficiente?— Ela murmurou, seu lábios ainda escovando os dele. Sua risada foi puramente masculina e totalmente má. Como foi a mudança significativa de seus quadris, sua ereção posicionada na entrada quente e pronta de seu corpo. — Por que não me diz se é longo o suficiente? Ele ergueu-a sobre ele, e seu riso derreteu num suspiro prazeroso quando ele se embainhou até a última polegada. CAPÍTULO 14 Quando chegou pela primeira vez na casa de campo, Jehan imaginou como Seraphina seria sem roupa e envolta no vapor do quarto de banho enquanto ele fazia amor com ela. Agora sabia. E nenhuma de suas fantasias tinham nada a ver com a realidade. Ela encontrou seu ritmo golpe a golpe. Excitação arqueava através dele a cada rotação dos quadris, tornando sua visão vermelha pelo fogo que enchia seu olhar. Esta mulher o arruinou para qualquer outra. Ela o destruiu com um sorriso, com cada gemido e suspiro, e ele ainda não tinha começado a mostrar-lhe o que era verdadeiro prazer . Ele balançou dentro dela, equilibrado na loucura para o quão incrível pareciam juntos. Oito noites não eram suficientes. A parte dele que era mais besta do que o homem virou-se para aquelas amarras. Oito noites não era nada. E já haviam perdido três delas. A parte dele que era quase imortal exigia muito mais do que isso. Ele queria sempre. Algo que não podia dar à Seraphina. Não quando sempre significou que um deles teria que desistir da vida que os esperava do outro lado da handfast. 51
Vida real — a que ela se dedicava, e oposta a que ele estava igualmente comprometido. A vida real, onde sua abnegação quase a matou algumas horas atrás, e onde ele era o guerreiro da Ordem, cujo trabalho girava em torno de violência e morte. Onde os homens covardes como Karsten Hemmings serviam grupos diabólicos como a Opus Nostrum. Ele não podia virar as costas para as coisas que importavam para ele, mais do que podia pedir à Seraphina virar as costas para as dela. Mas era demasiado tentador pensar sobre o “para sempre” quando estavam envolvidos dentro da fantasia do handfast. Com seus braços em torno dela e as pernas circulando sua cintura enquanto se moviam juntos, unidos sob a perfumada água fumegante, “para sempre” era a única coisa em sua mente. Eternidade com Seraphina ao seu lado. Como sua Companheira de Raça. Ligados pelo sangue. O pensamento enviou seu olhar para a coluna lisa de sua garganta. Seu pulso se agitou, batendo com um ritmo que podia sentir ecoando em suas próprias veias. Suas presas, já alongadas pela paixão, agora latejavam com uma necessidade igualmente primitiva. Uma necessidade perigosa, egoísta. Uma mordida e não haveria nenhuma outra mulher para ele, enquanto ele vivesse. Tudo o que levaria era um único sabor. Tudo que era Raça nele bateu com o desejo de afundar suas presas em sua carne e tomar esse gole obrigatório. Igualmente forte era sua necessidade de vincular Seraphina à ele por sangue também. Se ela bebesse dele, ela nunca pertenceria à nenhum outro homem. Sua para sempre. Ele não podia fazer isso com ela. Não faria isso. Em vez disso, a guiou em direção a um clímax febril, socando seu corpo com toda a fome que cavalgava em seu sangue. Ele deu-lhe prazer, movendo-se implacavelmente até que ela se partiu em seus braços num grito. Então ele girou em torno dela e moveu-se atrás dela para segui-la sobre a borda. Quando gozou dentro dela com um grito, não podia recusar o conhecimento frio que o relógio de seu tempo juntos estava contando – tão rápido que podia sentir isso em seus ossos. Oito noites com Seraphina não eram suficientes. Mas de alguma forma, no final disso, ia ter que encontrar forças para deixá-la ir. CAPÍTULO 15 Sera acordou de um longo sono mais tarde naquela manhã, se sentindo sonolenta e satisfeita. Dolorida em todos os lugares certos. Ela não conseguia conter o sorriso que se arrastou por seu rosto enquanto recordava as horas que passou na sala de 52
banhos fazendo amor com Jehan. O sexo deles era desgastante e incrível – o que, estava começando a perceber, era a norma, quando dizia respeito à ele. Era um incansável amante, perversamente criativo. Quando ela perdeu a conta de seus orgasmos e tinha certeza que não aguentava mais prazer, ele a ergueu da piscina fumegante e levou-a para um dos vários ninhos de almofadas de seda fofas no chão para mais uma rodada de ossos derretendo. Se pensava que assistir seus corpos se movendo juntos na escuridão da sua tenda de acampamento foi erótico, não foi nada comparado ao ver todas as nuances de sua paixão carnal no reflexo da luz de velas no quarto de banho com espelhos. Apenas o pensamento de seus membros emaranhados e a procura de bocas fez seu pulso acelerar de novo quando ela apareceu na cozinha da casa de campo para um café ligeiro. Jehan também estava acordado, se é que tinha dormido. Sua voz profunda num murmúrio indistinto baixo da principal área de estar no coração do retiro. Ele estava em seu telefone, aparentemente. Ela esperava que ele tivesse ligado de volta para Marcel, depois das mensagens repetidas do seu irmão para eles fazerem o relatório. Sera fez um chá e pegou um pêssego de uma taça de frutas no balcão. Seus longos cachos soltos derramavam em torno de seus ombros e sobre seus seios nus enquanto ela caminhava calmamente para fora da cozinha com apenas sua calcinha para se juntar a ele. Mordendo o pêssego maduro enquanto caminhava, ela considerou o quanto mais doce o suco seria se ela estivesse lambendo o corpo musculoso de Jehan. Ou o chupando da dura longitude de seu pênis. Oh, Deus ... ela despencou por este macho . Ele a fazia se sentir mais viva do que qualquer outra coisa na sua vida. Sim, ela vivia para seu trabalho. O cumpriu por um longo tempo, dada sua finalidade. Mas Jehan lhe deu prazer. Deu seu desejo e contentamento, emoção e paz. Ele abriu uma parte dela que não tinha sequer percebido que estava fechada antes. Mais inquietante de tudo, fez muito pela única coisa que ela nunca imaginou precisar. A Companheira de Sangue. Um título que nunca poderia ser quebrado, nem mesmo pelo tempo. Quando fez amor com ela, horas antes, houve um momento que ela quase acreditou que Jehan podia querer isso também. Ela não o teria recusado. Eles haviam se embriagado com paixão, e no calor do prazer sem limites, ele poderia ter tomado todo seu corpo, coração, alma e sangue. Ela teria se rendido à tudo que ela era. Mesmo sem saber o que um futuro juntos podia trazer, uma vez que quando o handfast terminasse eles deixariam o casulo da casa de campo. Ela daria tudo para ele agora também, lúcida e sóbria. Não no final de suas oito noites, mas agora. E por mais que a assustasse, tinha que deixá-lo saber o que ele significava para ela. Ainda mais aterrorizante, tinha que saber se o que ela leu em seus olhos atormentados há poucas horas era algo perto da profundidade da emoção que sentia por ele. Se ele a amava muito, então nada mais importava. Iriam encontrar uma maneira de misturar suas vidas e formar seu futuro juntos. Mas enquanto ela dobrava a esquina do corredor e ouvia um pouco de sua conversa, todas as suas esperanças vacilaram e depois caíram. Ele não estava falando com Marcel. Ela ficou atrás, fora da vista de Jehan, enquanto ele falava com um de seus companheiros guerreiros. 53
— Aprecio sua compreensão, comandante. Estou ansioso para voltar para Roma para montar minha equipe e colocar a nova missão em ação. Estarei lá assim que a minha obrigação aqui tenha terminado. — Ele fez uma pausa para ouvir o guerreiro do outro lado, então exalou um suspiro pesado. — Não, não fiz Seraphina ciente da minha decisão. Para ser honesto com você, senhor, minha mente está decidida a respeito dela. Não tenho intenção de dar-lhe qualquer espaço para discordar. Ele riu como se ele e seu companheiro acabassem de partilhar uma piada. En quanto isso, Sera sentiu como se tivesse levado um soco no estômago. Ele ia voltar para Roma. Estava ansioso para voltar com sua equipe de lá. Quanto à ela, ele apenas a desconsiderava como se não importasse para ele. Mal-estar se instalou em seu estômago, em seu coração. Ela estremeceu, subitamente consciente da sua nudez no centro da casa de campo romântica. Silenciosamente, ela se retirou para a cozinha e deixou cair o pêssego meio comido no lixo. Que idiota foi ao se deixar pensar que isto não era nada mais do que uma piada para ele. Foi desde o início. Uma obrigação que se sentiu compelido a cumprir. Uma que admitiu ao seu comandante que iria se afastar assim que terminasse. Graças à Deus ela não se permitiu bancar a idiota por confessar seus sentimentos por ele. Agora, tinha várias noites de tortura para enfrentar, sabendo que Jehan não podia esperar para terminar com o handfast e deixá-la para trás. CAPÍTULO 16 As queixas de uma dor de cabeça conduziram Seraphina para a luz do sol durante a maior parte da tarde. Jehan tentou convencê-la que outra rodada vigorosa de orgasmos poderiam fazê-la se sentir melhor, mas em vez disso, sua tentativa de humor e sedução falharam miseravelmente. Se não estava enganado, sua fuga para a luz do dia, no pátio, não parecia me nos deliberada agora do que naquele primeiro dia que passaram juntos na casa de campo. Quando ela foi para lá num esforço para evitar sua companhia. Ele fez algo errado? Ou ela percebeu o quão perto esteve de enterrar suas presas em sua carótida na última vez que fizeram amor e agora estava determinada a se afastar dele? Fosse o que fosse, o incomodava que ela não parecesse interessada em falar com ele sobre isso. Vagando em torno da casa de campo sozinho enquanto ela o evitava lá fora era de enlouquecer. Ele sentia falta dela, e ela só estava longe dele há um par de horas. Como vazia sua vida pareceria se ela fosse embora de vez? Essa era a pergunta que o perseguiu na maior parte das última doze horas, desde que escaparam do perigo do acampamento. Agora que tinha Seraphina em sua vida, em seus braços, como podia retornar à sua existência sem ela? Ele pensou saber a resposta, mas talvez estivesse enganado. Quando o crepúsculo caiu do lado de fora e ela não entrou para enfrentá-lo, Jehan decidiu que tinha que saber. Se ela não se sentisse do modo que ele se sentia, então estava pronto para cancelar o resto do handfast e tentar salvar um pouco que restava de sua sanidade, se não de sua dignidade. Ele caminhava em direção às portas do pátio quando um golpe soou na porta da entrada de frente da casa de campo. 54
Desviado de sua missão, Jehan olhou ao redor e examinou cuidadosamente para ver quem era. Marcel estava lá, no luar, sorrindo ironicamente como um idiota. E ao lado dele, agarrando seu braço com um igualmente apatetado sorriso em seu rosto, estava Leila. — Você não retornou meus telefonemas, irmão. Jehan passou uma mão por seu cabelo despenteado e soltou uma maldição impaciente. — Sim. Eu, ah, estava quase para fazer isso. — Besteira. — Marcel gesticulou para o Range Rover. — Que diabos aconteceu com o Rover? Parece que você dirigiu isto por uma duna de areia. — História longa, — Jehan disse. — Basta dizer que as coisas têm estado um pouco... interessantes por aqui. — As coisas têm estado um pouco interessantes comigo também. Conosco. — Marcel olhou de relance para Leila, e ela mordeu seu lábio inferior como se para sufocar a risadinha que saiu dela de qualquer maneira. Jehan olhou de relance para eles os dois. — O que diabos está falando? Leila tentou perscrutar ao redor ele, na casa de campo. — Onde está Seraphina? — Está lá fora no pátio, apanhando algum ar. Por que vocês dois estão sorrindo como se estivessem loucos? — Estamos apaixonados! — Leila exclamou. — E estamos ligados por sangue, — Marcel adicionou. — O que? — Antes de Jehan poder sufocar sua resposta espantada, Seraphina fez isso primeiro. Ela permanecia atrás dele agora numa longa saia sereia, um olhar de choque absoluto em seu rosto. Ela cruzou seus braços. — O que quer dizer com está apaixonada? Como isso aconteceu? E ligados por sangue tão cedo? Pelo amor de Deus, acabaram de encontrar um ao outro. Jehan olhou de relance para ela, tentado assinalar que só se conheceram agora também e ele já estava arruinado para qualquer outra. Mas sua expressão aflita o manteve mudo. A excitação de Marcel e Leila não deixaram nenhum tempo para ele responder a qualquer um. A dupla entrou, praticamente vibrando com suas notícias. — Temos passado muito tempo juntos nestes últimos dias, — Leila esguichou. Marcel sacudiu suas sobrancelhas nela. — E noites. — Marcel! — Ela rolou seus olhos, mas suas bochechas foram inundadas com uma cor brilhante. — A princípio, achamos que só tinhamos o handfast em comum. Queriamos que ele fosse um sucesso, claro. E honestamente, pensamos que vocês dois fariam um par adorável. Jehan notou uma mudança de postura mais fria de Seraphina quando sua irmã mencionou o handfast. — Como você pode ter certeza que não está cometendo um engano terrível, Leila? Não sabe nada sobre ele. Nenhuma ofensa, Marcel. Você parece um bom homem, decente. Diferentemente de seu irmão? Jehan perguntou-se. Leila olhou fixamente para Marcel, calor irradiando dos seus olhos. — Ele me faz sentir viva, Sera. Ele me faz rir. Me faz sentir especial e bonita, como se fosse a única mulher que vê. Marcel pegou seu rosto numa carícia tenra. — Porque você é. Eles se beijaram, deixando Jehan num silêncio desajeitado próximo à Seraphina. 55
Ele olhou de relance para ela, mas ela olhava fixamente e rigidamente para a frente, se recusando a encontrar seu olhar. — Parabéns, — ela murmurou quando o par jubiloso finalmente parou de se devorar um ao outro — Estou feliz por você dois. Estou certa que nossas famílias terão muito prazer em ouvir esta notícia também. — É por isso que estamos aqui, — Marcel disse. — O handfast, — Leila movimentou a cabeça. — Agora que Marcel e eu estamos ligados por sangue, não há necessidade de continuar com o handfast. Acabou a partir de agora mesmo. Marcel deve ter lido a expressão horrenda de Jehan. Ele clareou sua garganta. — Isto é, a menos que queiram continuar...? — Não sejam ridículos,— Seraphina respondeu depressa. — Nenhum de nós quer isto. Estamos muito ansiosos para voltar às nossas vidas reais para continuar com esta obrigação. Não é verdade, Jehan? Ele fez uma careta, incerto de como responder. Parecia óbvio que continuar o handfast com ele não era o que ela procurava. Estava impaciente para voltar à sua vida fora do acampamento também, mas só se ela fosse parte disso. Ela olhou fixamente para ele enquanto ele lutava com o desejo de dizer a ela como se sentia e arriscar sua rejeição na frente de ambos os seus alheios irmãos exaltados. — Sera, — ele murmurou. Mas ela já estava girando para longe dele. — Agora que esta farsa está terminada, vou arrumar minhas coisas. Quando ela partiu com pressa, ambos, Marcel e Leila, olharam boquiabertos para ele. — Que diabos fez para ela, irmão? Jehan balançou sua cabeça. — Não sei. — E então, a verdade caiu sobre ele. Algo sobre que ela disse. Algo sobre como ela disse... Ela o ouviu hoje. Sua conversa com Lázaro Archer em Roma. Ele amaldiçoou baixinho. Então começou a rir. Marcel franziu o cenho nele. — Ela está chateada como o inferno com você sobre algo e está rindo? — Sim, estou. — Porque agora entendia sua frieza de hoje. Entendia sua raiva agora. E nunca se sentiu mais exultante sobre qualquer coisa em sua vida. Reunindo seu irmão e Leila, Jehan os empurrou para fora da porta. — O que está fazendo? — Mandando você embora,— ele respondeu. — Não volte por mais quatro noites. Este handfast não acabou até que eu diga. Ele fechou a porta em seus rostos confusos, então virou para seguir sua companheira de Raça. CAPÍTULO 17 Sera dobrou o vestido de seda vermelho e o colocou na cama, tentando não deixar que seu coração se desintegrasse em pedaços. Fora da suíte enorme, a casa de campo estava quieta. Por mais que quisesse comemorar o novo amor e ligação de sangue de Leila e Marcel, parte dela estava doendo por tudo que ela pensou que poderia ter com Jehan. 56
Agora que o handfast estava terminado, ela nem sequer tinha mais essas noites restantes com ele. Que era provavelmente o melhor. Ficar perto dele agora, era seu próprio tipo de tortura. Ele já estava fazendo planos sem ela. Planos que não tinha intenção de discutir ou permitir que ela dissesse alguma coisa. Então, por que deveria lamentar o fato que sua semana juntos acabava de ser encurtada? — Onde pensa que está indo? Ela congelou ao som de sua voz, mas se forçou a não virar. Se o fissesse, tinha medo que seria tentada a correr para ele. Com seu coração tão pesado em seu peito, estava com medo de ser incapaz de se jogar sobre ele com os punhos batendo e as lágrimas caindo. Exigindo que explicasse como podia olhar para ela com tanta ternura e fazer amor com ela de forma tão possessiva, se só queria abandoná-la em mais algumas noites. Embora não o tivesse ouvido se mover, sentiu o calor do seu corpo grande em suas costas. — Perguntei onde pensa que está indo, Seraphina. — Casa, — ela disse. — Assim que possível, espero. Ela caminhou de volta para o guarda-roupa para recuperar outro dos seus bonitos vestidos femininos que Leila embalou para ela. Jehan estava esperando quando ela saiu. Ele havia colocado sua bolsa no chão, e agora se sentava na beirada da cama, seus olhos de céu azul segurando-a num olhar firme, sem vacilar. Por que tinha que parecer tão intenso e imponente, tão impossível de ignorar? A visão dele a esperando lá, seu rosto bonito e sombrio, fez com que o coração começasse a galopar. Ela se forçou a mover, para pegar sua mala e colocá-la numa cadeira próxima para que pudesse continuar a arrumá-la. — Não devia estar embalando suas coisas também? Se tivermos sorte, poderemos sair daqui na próxima hora ou assim. — Não estou partindo, Seraphina. Ela cambaleou ao ouvir isso. Não podia evitar. Ele levantou-se e caminhou até ela. — Não vou a lugar nenhum hoje à noite. Não sem você. — Sobre o que está falando? Ela conteve o fôlego quando se aproximou. Como sempre, sua presença parecia sugar todo o ar para fora do quarto. Neste momento, foi sugada um pouco da vontade que ela queria manter tão desesperadamente. — Você os ouviu, Jehan. O handfast está terminado. Nós dois fizemos bem nossa obrigação para com nossas famílias, então agora estamos livres para ir. Ele balançou sua cabeça, sua expressão sóbria. — Oito noites, Sera. Isso foi o que concordamos. Estou mantendo isto. Não dou a mínima se as condições do Pacto dizem que pode me deixar agora. Tenho quatro noites restantes com você, e pretendo reclamá-las. — Ele estendeu a mão e acariciou com seus dedos o lado do seu rosto. — Quero reivindicar você, Seraphina. Como minha mulher. Como minha Companheira de Raça. — O que? — Choque e confusão tomaram conta dela. — Mas ouvi você no telefone hoje. Disse que estava partindo. Que decidiu voltar para Roma. Você me desconsiderou para seu chefe como se eu não importasse nada. Ouvi você. Seu dedo polegar percorreu os lábios acalmando-os. — O que você 57
aparentemente não ouviu, foi que eu também disse à Lazaro Archer que me apaixonei por você. Não, ela não ouviu isto. E ouvi-lo agora enviou espirais de alegria e alívio que torciam através de cada célula de seu corpo. — Não me ouviu dizer a ele que precisei fazer um lugar para você em minha vida. Ou que não podia deixar o handfast sem saber que você era minha. — Ele acariciou sua bochecha, os olhos ardendo com carinho e desejo. — Minha vida é com a Ordem, Sera. Não posso desistir disso. — Nunca pediria isso a você, Jehan. Entendo que esteja fazendo algo importante, algo que é dedicado. Depois do que encontramos no acampamento, percebo que sua missão com a Ordem provavelmente nunca foi mais crucial. — Não, não é, — ele disse. — Não posso deixar meu dever, mas sei que você não pode desistir do seu também. Não vou pedir para deixar sua vida atrás para ficar comigo em Roma. Ela franziu a testa, agradecida que ele entendesse o que seu trabalho significava para ela, ainda sem saber como seus dois mundos poderiam se juntar como um casal. — É por isso que decidi montar uma nova equipe aqui no Marrocos. Depois da noite passada, é óbvio que a Opus tem uma forte presença aqui, então fui encarregado de perseguir esses líderes aqui em terra africana. Vou trabalhar os detalhes com o comandante Archer quando voltar para Roma, no fim da semana. Ela não podia acreditar no que estava ouvindo. Não podia acreditar no que ele estava fazendo por ela. Por ambos. Pelo novo vínculo que queria compartilhar. — Jehan, não sei o que dizer. Ele ergueu o queixo na ponta de seus dedos. — Pode começar dizendo que me ama. — Sim, — ela sussurrou. Então ela disse de novo com todo a alegria em seu coração subindo. — Eu amo você. Ele a puxou para perto e a beijou, seus lábios escovando os dela com tanta ternura que ela queria chorar. A próxima coisa que sabia, ele a tinha espalhada debaixo dele na cama. Então a despiu, então às pressas tirou sua própria roupa, seus dermaglifos pulsando com todas as cores profundas do seu desejo. Seu pênis permanecia em pé e atraente, despertando uma fome poderosa nela, pelo seu corpo, e pelo seu sangue. Jehan claramente sabia o que ela estava sentindo. Seus próprios apetites brilhavam em seus olhos transformados e em cada polegada formidável de sua carne nua. Seu olhar ardente queimava seu rosto enquanto ele olhava para ela em devoção absoluta. E necessidade. Tanta necessidade, balançou-a. Ele abaixou-se entre suas pernas e entrou lentamente, enquanto se inclinava para lamber um caminho ardente ao longo de seu queixo, então seu pescoço. — Você é minha, Sera. — Sim, — ela engasgou, se arqueando em seu beijo abrasador quando suas presas testaram a carne macia de sua garganta. — Pelas próximas quatro noites, sou sua, de qualquer maneira que me quiser, Jehan. Ele olhou para ela, expondo aquelas belas pontas afiadas, com seu sorriso 58
faminto, definitivamente mau. Ele deu uma sacudida lenta de sua cabeça. — Quatro noites são só o início. A partir de agora, é minha para sempre. Ela assentiu com a cabeça, muito envolvida e apaixonada para formar palavras. Emoção a subjugou ao vê-lo morder o pulso para abrir suas veias para ela. — Beba de mim, — ele murmurou densamente, trazendo as perfurações para seus lábios entreabertos. Sera fixou a boca nas feridas e acariciou a língua através dos tendões fortes de seu pulso. Seu sangue a chamava, mais profundamente do que jamais pode imaginar. Ela gemeu quando o primeiro gole rugiu através de seus sentidos, em suas células. Ela bebeu mais, deleitando-se com o poder do seu vínculo quando a essência de Jehan, sua vida, se tornou parte dela. E o tempo todo que ela bebia, ele balançou-se dentro dela, criando um prazer tão imenso que ela dificilmente podia suportar. — Você é minha, Seraphina. — Ele olhava para ela à medida que ela se alimentava, enquanto gozava num grito quebrado. — Começando hoje à noite, você é só minha. — Sim. Num burburinho de satisfação, ele levou seu pulso à boca e selou os furos hermeticamente com um golpe de sua língua. Seus olhos ardentes estavam presos em sua garganta. Sera trouxe seus braços ao redor dele quando ele abaixou a cabeça para sua carótida e lambeu o tremular da pulsação que vibrava só para ele. E quando seu guerreiro Raça bonito — seu eterno amor — afundou suas presas em sua veia e tomou seu primeiro gole, Seraphina sorriu. Porque se acreditava em magia ou não, esta noite estava segurando um príncipe, um conto de fadas, e os felizes para sempre em seus braços.
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