PANFLETO SANITÁRIO
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MUSEU DE ARTE MODERNA DA BAHIA NOVEMBRO/2013
REFAZENDO com o MAM e a BIENAL DA BAHIA Quando, em abril deste ano, o MAM-BA iniciou o ciclo de encontros e conversas públicas para discutir temas, formatos e propostas para a 3ª Bienal da Bahia, o evento – como sempre acontece – também foi divulgado através de peças gráficas. Agora, a identidade visual do MAM Discute Bienal ganhou um novo uso por mãos anônimas, que têm levado a alguns dos espaços públicos da cidade a série de intervenções “BIENAL (E)M(D)E(BATE)”. Houve muita surpresa quando se descobriu que, além de servir ao seu uso original e divulgar as datas, locais e participantes dos encontros, as peças gráficas com a identidade do evento estavam sendo reinterpretadas. Assim como a própria Bienal, que traz como tema uma pergunta (É tudo Nordeste?), essas versões dos cartazes procuram levantar suas próprias dis-
ESPÍRITO do TEMPO
cussões: “Como seria uma transa bienalística?”, questiona a peça pregada em um mural informativo do Espaço Xisto. A fidelidade do trabalho “pirata” a aparência do projeto original é tamanha que chegou a confundir não só parte do público, mas outras instituições ligadas ao Governo da Bahia. O que muita gente tinha entendido como cartazes criados e colados pelo MAM-BA chegou até o Palácio da Aclamação, onde funciona a Diretoria de Museus do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia. E, como existem leis que proíbem esse tipo de ação no patrimônio público, houve um ruído institucional com todo o caso. Não se confunda: esses cartazes não são feitos pelo MAM-BA! O que nós temos colado pela cidade é este Panfleto Sanitário que você está lendo agora. Ou relendo?
No final da década de 1950, o artista Allan Kaprow começou a desenvolver trabalhos pioneiros que exploravam limites entre a teatralidade e a vida cotidiana. A partir de sua reflexão e da experiência desenvolvida por ele nasce o conceito de happening, que viria a se popularizar ainda nos anos 1960, depois de ser amplamente explorado pelo artista. Em 1966, Kaprow tornou públicas, em um disco de vinil lançado pela gravadora Mass Art, suas próprias instruções sobre “como fazer um happening”. Reproduzimos aqui um trecho da obra: HOW TO MAKE A HAPPENING
Em cada edição do Panfleto Sanitário trazemos uma pergunta, que será respondida por uma entre diversas formas de previsão astral, como o Tarô, a Numerologia ou a Astrologia. Desta vez, perguntamos ao I CHING: COMO REAGIR? 53.CHIEN: DESENVOLVIMENTO (PROGRESSO GRADUAL) Acima: SUN, A SUAVIDADE, VENTO Abaixo: KEN, A QUIETUDE, MONTANHA A árvore sobre a montanha pode ser vista de longe, e seu crescimento exerce uma influência sobre a paisagem de toda a região. Ela não cresce rapidamente como as plantas do pântano, mas, ao contrário, tem um desenvolvimento gradual. Assim também se deve proceder para que se possa exercer uma influência sobre os homens.
Quando o vento sopra sobre a terra, alcança todos os recantos, e a grama inclina-se ante seu poder. O vento sopra em toda parte e revela todas as coisas. Este é o ponto de transição.
“OS CASEBRES DE AÇAFRÃO E DE OCRE NOS VERDES DA FAVELA, SOB O AZUL CABRALINO, SÃO FATOS ESTÉTICOS.” “A POESIA PAU-BRASIL, ÁGIL E CÂNDIDA. COMO UMA CRIANÇA.” “COMO A ÉPOCA É MIRACULOSA, AS LEIS NASCERAM DO PRÓPRIO ROTAMENTO DINÂMICO DOS FATORES DESTRUTIVOS. A SÍNTESE O EQUILÍBRIO O ACABAMENTO DE CARROSSERIE A INVENÇÃO A SURPRESA UMA NOVA PERSPECTIVA UMA NOVA ESCALA“
MA
“QUALQUER ESFORÇO NATURAL NESSE SENTIDO SERÁ BOM. POESIA PAU-BRASIL” MANIFESTO PAU-BRASIL. OSWALD DE ANDRADE. 1924
PROGRAMAÇÃO CULTURAL `
Nenhuma influência exercida por agitadores poderá ter efeitos duradouros.
Você pode se afastar da arte ao misturar seu happening com situações da vida cotidiana. Tornar mais incerto para você mesmo se o happening é vida ou arte. Arte sempre se manteve como algo diferente dos assuntos mundanos, agora você precisa trabalhar com esforço para manter essa separação como algo sutil. Dois carros colidem numa estrada. Um líquido violeta é derramado do radiador quebrado de um deles, no banco traseiro do outro há um grande número de galinhas mortas ensanguentando o chão. Os policiais vistoriam o acidente, respostas plausíveis são dadas, o reboque carrega as carcaças, os custos são pagos e os motoristas vão para casa jantar.
Estão abertas, entre os dias 18 de novembro e 20 de dezembro as inscrições para o Edital de Formação de Curadores MAM-BA. Os interessados em participar devem apresentar propostas curatoriais inéditas e de sua própria autoria. Saiba mais no site do MAM-BA: bahiamam.org
O T S E F I N
PING PONG O crítico e curador Fernando Oliva assinou, em 2008, o projeto COVER = Reencenação + Repetição, apresentado no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Oliva é professor em São Paulo e doutorando em História da Arte na Escola de Comunicação e Artes da USP. Nesta conversa, o curador fala um pouco do artifício da reencenação histórica e das potencialidades de seu uso na arte. O QUE SIGNIFICA REENCENAR NO CAMPO DA ARTE AGORA? A noção de reencenação surgiu inicialmente nos campos da Filo` sofia, com Kierkegaard, em seu A Repetição, e da História, com o historiador britânico R. G. Collingwood, em A Ideia de História. Só muito recentemente, a partir dos anos 1990, é que foi incorporada de modo mais evidente nas Artes Visuais, inicialmente com` as propostas de Marina Abramovic de repetir suas performances da década de 1970. É importante lembrar que a noção e a prática mesmo da repetição sempre existiram no contexto das Artes Visuais, da representação e de suas historiografias. O que se foi transformando é a percepção em direção ao passado e suas retomadas no presente histórico, bem como a maneira como o público e o sistema da arte (especialmente a crítica) se relacionam com a possibilidade de retorno a algo que já aconteceu, seja uma forma ou uma ideia. POR QUE REENCENAR? Podemos dizer que reencenamos para acessar um passado que não nos pertence, que talvez nos tenha sido usurpado, portanto, um tempo insondável. Mas também reencenamos para lançar projeções em direção ao futuro. Deste modo, nos aproximaríamos tanto de um tempo como de outro, a partir de uma experiência pessoal, sem depender exclusivamente das versões oficiais, da história que nos é transmitida como imutável, muitas vezes esvaziada de suas contradições, de seus aspectos realmente transformadores, subversivos e revolucionários. Neste sentido, podemos lembrar o que disse o historiador da arte de origem russa Boris Groys: formamos filas quilométricas diante do mausoléu que expõe o corpo embalsamado de Lenin, em Moscou, para nos certificar de que ele não voltará para fazer a revolução. Bruno Marcello