BRUNO VIEIRA

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bruno vieira PORTFOLIO

Em seu percurso Bruno Vieira delimitou três campos de atuação: a poeticidade, a citação do universo da arte e a ativação de redes de coletividade. Cristiana Tejo Bruno Vieira é um artista inventivo e curioso, segundo a crítica Marisa Flórido Cesar. “Sua inquietação o vem conduzindo, nestes poucos anos de atuação artística, a explorar diversas mídias, a aventurar-se em muitas direções. Seus trabalhos, que incluem desenho, pintura, escultura, vídeo, fotografia, instalações, ações em rede e intervenções urbanas, quase sempre operam na interpenetração dos meios, por vezes explorando os sistemas e as redes, mas sempre estabelecendo um fecundo diálogo com a história da arte.” Fernando Cocchiarale ressalta Bruno Vieira, “produz a partir de questões e conceitos. O sentido de seu trabalho não deve ser, pois, buscado na coerência de um processo voltado para a invenção formal, centrada no fazer manual e no domínio técnico de um meio plástico específico (pintura, desenho, escultura, por exemplo), mas na concretização sensível de idéias e projetos com meios e procedimentos apropriados do cotidiano contemporâneo”


Depósito | 2003/2004 | 118 volumes | enviados ao artista pelos correios vista da exposição Bolsa Pampulha (Museu da Pampulha, Belo Horizonte, MG)

SOBRE O MATERIAL USADO NA AÇÃO Todas as caixas, expostas no Museu da Pampulha, encontravam-se lacradas desde o recebimento (a partir de setembro de 2003). Seu conteúdo, permanecendo

um mistério, “transformou”-se

através de uma ação ZEITGEIST (espírito do tempo ) em que se ateou fogo nas caixas e em seu conteúdo, ocasionando um novo ciclo ao projeto.

ZEITGEIST (espírito do tempo) | 2008 | vídeo projeção | 14’32 http://www.continentemulticultural.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=2802


O artista trabalha em participação pela internet com inúmeros artistas de todo o mundo, artistas que não conhece, pois nunca conseguiu encontrá-los em presença. Há nesta última, um excesso de conexão, mas não de contato na atopia virtual, uma superpovoação sem lugar. Bruno Vieira propõe Nunca te vi: uma obra que se tece sobre a incógnita que é esse outro. MARISA FLÓRIDO CESAR Nunca te vi reúne fotos tiradas a pedido de Bruno Vieira por conhecidos (mas não pessoalmente), de diversas regiões do Brasil e do mundo, em lugares de sua escolha ou preferência. Nenhum dos conhecidos pode ser identificado, já que eles só aparecem através de sombras projetadas nas paisagens que fotografaram. A co-participação dos

Nunca te vi | 2008 | instalação 15 fotografias 30x40cm e 40x30cm | dimensões variáveis

retratados e autores das imagens da instalação, assim como sua presença apenas indicial parecem apontar para a diluição da autoria e para um público não mais apenas contemplativo, em sintonia com o trânsito de fluxos que caracteriza a vida contemporânea. FERNANDO COCCHIARALE Participam do projeto: Alexandre Pereira, Denise Gadelha, Chico Fernandes, Lourival Batista, Evandro Prado, Arthur Leandro, Ted Decker, Flavio Lamenha, Helio Eudoro, Leo Cabangbang, Mark Salvatus,Miro Soares entre outros


Cristal a Carvão Bruno Vieira elege lustres de cristal como tema de seus desenhos a fusain. Enquanto as transparentes cidades de gelo se desfazem e são “congeladas” na imagem fotográfica, ironizando a tentativa de cristalização de um mundo mutável, o ato de desenhar, no qual a fatura da imagem se dá ao longo de um processo temporal e gesto manual do autor, é nesta série um desenrolar sobre o cristalizado. Metalinguagem subversiva da idéia de representação: o material referente, cristal, tem sua imagem constituída por depósito de pó de carvão, material que necessita de uma camada protetora de verniz para que a imagem não se desfaça. Além disso, a transparente brancura do lustre sobre fundo escuro impõe a negatividade do método: o lustre aparece no espaço da ausência do carvão, e a imagem se constitui através do preenchimento do seu entorno, não-lustre. E aí retomamos diversas questões já pontuadas acerca da identidade e alteridade, da face obscura que envolve o conhecimento, da inevitável projeção das sombras a partir de qualquer foco de luz. E também a questão da verticalidade sempre instável como metáfora da condição do animal bípede humano: lustres são objetos suspensos. O cristal é a utopia de um gelo permanente. Por isso aqui os lustres não são objetos reais convertidos em imagem pela captação fotográfica, e sim desenhados. RENATA WILNER

série Lustres | 2010 | desenho a fusains/ pastel seco sobre papel fabriano | 70 x 34cm


sĂŠrie Lustres | 2010 | desenho a fusains / pastel seco sobre papel fabriano | 35 x 22 cm e 40 x 30cm


série Invasões | 2005 | fotografia | 70 x 50cm / 120 x 80cm (cada)


vista da exposição O senhor do tempo, Funarte, Brasília, DF


Série Invasões| 2005 / 2006 | fotografias Projeto Degas | 2006 | vídeo projeção | 18”56” http://www.youtube.com/user/brunovieirab?feature=mhw4#p/a/u/1/fCbAULfH3o4 vista da exposição O senhor do tempo, Galeria Massangana, Fundação Joaquim Nabuco, Recife, PE


série Invasões | 2006 | fotografia | 70 x 52cm / 120 x 90cm (cada) série Invasões | 2007 | fotografia | 70 x 52cm / 120 x 90cm (cada)


Cidade de areia | 2006 | fotografia | 100 x 150cm


Metro Quadrado | 2010 | MĂşltiplos impressĂŁo laser de fotografia sobre 32 telas 15 x 15 cm cada


vista da exposição O infinito agora, Instituto Cultural Banco Real, Recife, PE


Cidade de Gelo e Fusca de Gelo, 2007 vista da exposição O infinito agora, Instituto Cultural Banco Real, Recife, PE


Água-viva é, segundo depoimento do próprio artista, “um vídeo de registro de uma intervenção urbana realizada em novembro de 2005, durante 30 dias, em que corações de gelo foram lançados ao mar. O vídeo exibe todo o processo de descongelamento dos corações e as transformações pelo vento, sol e calor nas águas”. O rápido descongelamento dos corações de gelo nas águas mornas do mar pernambucano pode ser tomado qual a corrosão da intensidade amorosa pela rotina. Emblema fugidio dos afetos e paixões de nosso mundo, essas imagens extraem sua força poética da ação destrutiva da água (liquida e quente do mar) sobre a água (solidificada por temperatura negativa) num curto lapso temporal. FERNANDO COCCHIARALE

Água-viva | 2005 | vídeo-instalação | 45´ Prêmio Projéteis da Arte Contemporânea FUNARTE vista da exposição O infinito agora, Instituto Cultural Banco Real, Recife, PE http://www.youtube.com/user/brunovieirab?feature=mhw4#p/a/u/2/GvhfK2ajop4


Air | 2007 | vídeo projecão | 37’18” Cidade em Chamas | 2007 | vídeo projeção | 8’10” vista da exposição O infinito agora, Instituto Cultural Banco Real, Recife, PE


Um burro puxa uma carroça que possui uma cidade feita de barro, na medida em que, o animal por sua vontade se movimenta a cidade se desfaz, restando somente o pó que se integra as origens novamente. O animal é deixado livre numa aérea, restando a ele determinar a condução, a direção, a duração e o tempo de permanência dessa cidade nessa performance. Título inspirado no poema “Andei Léguas de Sombra” de Fernando Pessoa. Léguas de sombra | 2009 | vídeo 4’36” http://www.youtube.com/watch?v=chRCHKL0wW4


Elemento integrado | 2007 | 2008 fotografia impressa em placa de acrĂ­lico recortada | 153 x 49 x 2cm)


Elemento integrado | 2007 | 2008 fotografia impressa em placa de acrĂ­lico recortada | 153 x 49 x 2cm (cada)


Ciranda das linguagens: Referências literárias

referente á obra de Graciliano Ramos, imagem parcial de um cavalo

A problemática do tempo e da dialética da ausência e presença, relacionada à

com uma bola azul entre as patas dianteiras;

questão da imagem, também ecoa na série Apologia literária, de 2009. A

referente romance naturalista de Aluísio de Azevedo, fotografia de

imagem na literatura é uma construção imaginária do leitor, a partir das

cama de casal com plantas em torno; A barca de Gleyre, referente à

informações indiciais contidas nos textos. Projeções móveis e misteriosas,

publicação das cartas de MonteiroLobato ao escritor mineiro

tais como as sombras de Invasões.

Godofredo Rangel, consiste em fotografia de dois burros na praia, ao

Ao adotar a estratégia do deslocamento da ação efêmera ao registro

lado de um barco; Pássaros de vôo curto, referente ao romance de

fotográfico, o artista evidencia contradições e lacunas - entre a produção e a

Alcione Araújo, imagem de um avião de papel voando contra o fundo

recepção da obra, entre imagem e imaginação, entre presença e ausência,

do céu. Terra do sem fim, fotografias de pássaros elaborados de

entre o fluxo do tempo e o refluxo da memória. Se, por um lado, na

carne moída e uma fotografia de um mundo coberto de carne

linguagem literária a obra se perpetua através da palavra escrita, por outro

sangrenta, obra inspirada do livro de mesmo titulo de Jorge Amado

lado, o ato da leitura transcorre no tempo, reverbera imagens no leitor, e

que descreve as lutas pela conquista e posse das terras Terra do sem

depois sobrevive apenas na memória. A repetição da leitura, ou seja, sua

fim, sua melhor obra do ciclo do cacau, apresenta-nos um legítimo

releitura, sempre é uma nova leitura, sobre a mesma matriz textual. Essa

bangue-bangue à brasileira. Dois poderosos proprietários rurais

temporalidade da relação de leitura da obra literária, como paradoxo entre o

disputam a última reserva de mata nativa onde estão as terras mais

eterno e o efêmero, guarda estreita relação com o eixo conceitual da

férteis para o plantio de cacau, são explicados pelo adubo extra de

proposta de Vieira.

sangue humano ali derramado em abundância.’ RENATA WILNER

As fotografias desta série, ao mesmo tempo em que contrastam com as imagens literárias a que se referem, pela sua fixidez e por se apresentarem previamente constituídas, contêm esse aspecto de memória e retomada do tempo. A dimensão poética das imagens fotográficas ampliam as possibilidades de leituras e releituras, tal qual a linguagem literária, permitindo novas articulações de sentido e de imagens na mente do espectador - colocando em diálogo aberto e imprevisível a memória do registro fotográfico com a memória pessoal de cada espectador. ‘ Entre as obras da série Apologia literária, podemos citar: O sertão vai virar mar, referente ao romance de Moacyr Scliar, consiste em fotografia de barcos de papel sobre o solo do sertão, O tempo e o vento, referente ao romance épico de Érico Veríssimo, fotografia em que um livro contendo capa de imagem do céu é colocado sobre o chão de terra reflete o céu, Vidas secas,

Casa de Pensão,


Terras do sem fim | 2010 | fotografia


Terras do sem fim | 2010 | fotografia | 190 x 125 cm


Terras do sem fim (pรกssaros) | 2010 | fotografia | 30 x 40 cm cada


Pรกssaros de Voo Curto | 2009 | fotografia | 45 x 60cm / 60 x 80 cm


O sert達o vai virar mar | 2009 | fotografia | 45 x 60cm / 60 x 80 cm


fotografias em metacrilato da sĂŠrie Apologia literĂĄria


O tempo e o vento | 2009 | fotografia | 45 x 60cm / 60 x 80 cm


Vidas Secas | 2009 | fotografia | 45 x 60cm / 60 x 80 cm


A barca de Gleyre | 2009 | fotografia | 45 x 60cm / 60 x 80 cm


Casa de pens達o | 2009 | fotografia | 45 x 60cm / 60 x 80 cm


Vista inevitável, trata da paisagem e seu principal alicerce na pintura ocidental: a linha do horizonte. Ambigüidade e ironia permeiam esse trabalho que consiste na impressão fotográfica de uma montanha sobre uma persiana. Ao graduá-la ou erguê-la (ainda que de modo imaginário), desfazemos a cena apresentada por meio das linhas formadas pelas barras que formam o suporte. Seu elemento estruturante tradicional é, no caso, a razão de seu desmanche. FERNANDO COCCHIARALE

Vista inevitável | 2010 | fotografia impressa sobre persianas | 80 x 60 x 3 cm


Vista inevitĂĄvel | 2009 | fotografia impressa sobre persianas (dĂ­ptico)160 x 120 cm cada Vista inevitĂĄvel | 2008 | fotografia aplicada sobre persianas | 122 x 115cm


Vista inevitรกvel | 2009 | fotografia impressa sobre persianas | 150 x 120 x 3 cm


bruno vieira Vista inevitรกvel | 2009 | fotografia impressa sobre persianas 150 x 120 x 3 cm cada


Vista inevitรกvel | 2009 | fotografia impressa sobre persianas | 150 x 120 x 3 cm


Vista inevitรกvel | 2010 | fotografia impressa sobre persianas | 150 x 120 x 3 cm cada


Vista inevitรกvel | 2010 | fotografia impressa sobre persianas | 150 x 120 x 3 cm cada


Caixa do tempo | 2008 | caixa de acrĂ­lico contendo fotografia | 30 x 20 x 6,5 cm


Bruno Vieira produz a partir de questões e conceitos. O sentido de seu trabalho não

uma genealogia que os próprios trabalhos celebram, mas que também ajudam a

deve ser, pois, buscado na coerência de um processo voltado para a invenção formal,

transformar.

centrada no fazer manual e no domínio técnico de um meio plástico específico

Resultante da experiência visual da redondeza da terra, o horizonte é, na verdade,

(pintura, desenho, escultura, por exemplo), mas na concretização sensível de idéias

uma construção imaginária indispensável à paisagem e à pintura clássica. Uma linha

e projetos com meios e procedimentos apropriados do cotidiano contemporâneo.

que, de fato, só existe no corpus dos saberes acumulados pela pintura, da Renascença ao modernismo.

Objetos utilitários, decorativos e materiais industriais são combinados por Bruno com imagens tomadas a partir de meios tecnológicos como a fotografia e o vídeo,

Duas obras da exposição podem ser tomadas qual emblemas do conjunto de

familiares não só aos amadores de todas as idades, como também aos profissionais

trabalhos mais recentes do artista: Vista Inevitável e Nunca te vi.

da comunicação, aos técnicos, professores e cientistas. Isso talvez explique, em parte, a dificuldade do senso comum em reconhecer mérito artístico em produtos

A primeira trata da paisagem e seu principal alicerce na pintura ocidental: a linha do

que aparentemente qualquer um de nós poderia fazer.

horizonte. Ambigüidade e ironia permeiam esse trabalho que consiste na impressão

Mas não se deve perder de vista que quando um artista utiliza meios de produção

fotográfica de uma montanha sobre uma persiana azul. Ao graduá-la ou erguê-la

visual tomados de outras práticas, ele fatalmente os desvia de seus usos habituais

(ainda que de modo imaginário), desfazemos a cena apresentada por meio das linhas

(ainda quando parece respeitá-los), reinscrevendo-os, por meio do filtro poético, no

formadas pelas barras que formam o suporte. Seu elemento estruturante tradicional

campo plural e abrangente da produção contemporânea.

é, no caso, a razão de seu desmanche.

Não seria errado afirmar que, de modo semelhante ao de muitos profissionais de

Nunca te vi reúne fotos tiradas a pedido de Bruno Vieira por conhecidos (mas não

outras práticas produtivas da atualidade, o modus operandi de Bruno Vieira baseia-

pessoalmente), de diversas regiões do Brasil e do mundo, em lugares de sua escolha

se na montagem e na edição. Seu trabalho, no entanto, diverge daquele do fotógrafo,

ou preferência. Nenhum dos conhecidos pode ser identificado, já que eles só

do cineasta, do videomaker, do jornalista e de todos os que têm de usar

aparecem através de sombras projetadas nas paisagens que fotografaram. A co-

profissionalmente esses procedimentos operacionais.

participação dos retratados e autores das imagens da instalação, assim como sua presença apenas indicial parecem apontar para a diluição da autoria e para um público

Como um tributo pago ao campo genealógico de onde provém, Vieira concebe seus

não mais apenas contemplativo, em sintonia com o trânsito de fluxos que caracteriza

dispositivos de sonho e devaneio em sintonia com repertórios reconhecidamente

a vida contemporânea.

originários dos campos da arte e da história da arte. Paisagem (Castelo de Areia,

Fernando Cocchiarale, curador

Caixas do Tempo e Vista Inevitável, de 2008) arquitetura (Metro Quadrado), espectador ou observador (elemento Integrado, de 2007 e Nunca te vi, de 2008) e gosto (Rosas Azuis) são questões dos trabalhos da mostra Obrigação do Horizonte (título inspirado em um poema de Fernando Pessoa) que remetem a uma tradição e a


O Senhor do Tempo

O Infinito Agora

O mistério deste agora fugaz e irremediável. Para enfrentá-lo, o

“Essa trama de tempos que se aproximam, se bifurcam, se cortam ou se secularmente de ignoram abrange todas as possibilidades. Não existíamos na maioria desses tempos...” Jorge Luis Borges

tempo ganharia imagens e medidas: o círculo para os gregos, o fio da História. Mas este é um mundo que não se experimenta mais como uma grande linha no tempo, e sim como redes que entrecruzam suas tramas. As mudanças no espaço e no tempo da vida contemporânea nos colocam um paradoxo: se o tempo torna-se labiríntico e multidirecional, também é comprimido na circulação veloz das imagens e informações pelas novas tecnologias. O agora deixa de ser o momento de transição entre um passado e um futuro que lhe dá sentido, para ser o intervalo dilatado e desviante da experiência ou o instante sincrônico e eternamente presente das mídias e redes eletrônicas. Os vídeos e as fotografias que Bruno Vieira apresenta nesta exposição são atravessados por três inquietações de fundo: o colapso do tempo, a poética dos elementos, o sentido de verticalidade. Como habitar esse tempo

Em seu percurso Bruno Vieira (PE) delimitou três campos de atuação: a poeticidade, a citação do universo da arte e a ativação de redes de coletividade. Invasões e o Projeto Degas, trabalhos propostos para o Projeto Trajetórias 2006, localizam-se com predominância nas duas primeiras esferas de interesse, respectivamente, e ativam as discussões dentro no terreno da fotografia e da pintura. A série Invasões tem por principio congelar a passagem do tempo e cravar visibilidade no instante. O artista vaga pela cidade a procura das sombras da natureza, da arquitetura, do homem e dos objetos e quando encontra alguma coisa que o apeteça, as contorna. O registro cadencia o deslocamento do sol e deixa evidente o que para nós passa despercebido, já que o relógio que nos guia não é o da natureza, nas das máquinas que registram minutos, segundos e milésimos de segundos, numa precisão sufocante. Este relógio solar é poético, que não tem a função de racionalizar nada, apenas desenhar o tempo, evocar o momento, revigora um sentido de contemplação e humanismo que confronta.

infinitas paisagens do agora. Um agora que se estende em pulsações e ritmos

Projeto Degas aborda o tempo por outro viés. O artista se apropria de um vídeo feito de uma apresentação de um corpo de balé. Satura sua cor e elastece o tempo. Dialogo com Degas, artista impressionista que se dizia realista e que deixou para História de Arte algumas conquistas importantes: uma interpretação da luz muito potente, a implementação de um ângulo fotográfico em suas pinturas e um interesse pictórico que vai além da representação e que se mira num ângulo senso de captação do dinamismo da imagem. Se Degas buscava uma síntese do movimento em suas pinturas, Bruno se detém em evidenciar a essência dos trabalhos do mestre impressionista. Movimento e tempo são testemunhados de maneiras diferentes pelas duas séries de trabalhos e evidenciam que estes dois temas, na era do esmaecimento do afeto, nos causam uma certa melancolia.

variados. Um agora que, liberto das origens e finalidades, nos expande os

Cristiana Tejo. Coordenadora do Departamento de Artes Plásticas da

vetores da história e as possibilidades do porvir.

Fundação Joaquim Nabuco.

que perde modelos e desenhos? De que modo esse colapso modifica nossa percepção da memória, a noção de passado e futuro, a vivência do agora, a experiência estética? Como abrir mundos e tempos na cosmogonia incessante da arte? Lançando-se na coreografia poética dos elementos? O artista nos mostra quão vãs e arrogantes são as tentativas de se domesticar o tempo. Evoca-nos a devolver-lhe a espessura esvaziada na aceleração vertiginosa das mídias e do mercado, a abrir os horizontes às

Marisa Flórido Cesar, curador


O sistema da arte, seus modos de funcionamento e seus personagens são

exibidos juntos, pudessem expressar a condição de deslocamento e

os assuntos preferenciais do trabalho de Bruno Vieira, que compreende

nomadismo do artista, distante da cena recifense enquanto participava do

instalação, vídeo, fotografia e objeto. Valendo-se muitas vezes de humor,

programa de residência em Belo Horizonte (A Bolsa Pampulha é um

as peças de Bruno se perguntam como é constituída – mental,

programa do Museu de Arte da Pampulha aberto a artistas em início de

institucional e fisicamente – uma obra de arte, trazendo os participantes

carreira de todo o país, que devem fixar residência em Belo Horizonte ao

do circuito para esta discussão por meio de estratégias de apropriação,

longo de um ano). O mistério do conteúdo das caixas e o caráter in

citação e deslocamento. Em alguns casos, as peças de aproximam da

progress da peça são outros dos aspectos do trabalho, que pode ser

crítica institucional, caso de Curador (2001), obra realizada no contexto

consultado pelo público, disposto em uma longa mesa na exposição.

coletivo do grupo pernambucano Aleph, do qual o artista participava. A obra foi enviada ao Salão do Paraná com a proposta de criar um arquivo

Em outros dois trabalhos, Form (2004) e Perle (2003-2004), o artista ironiza

que reunisse, para consulta pública, todos os dossiês de artistas

a noção de colecionismo na arte, transformando os próprios artistas – ou

rejeitados pelo júri daquela edição do salão. Uma vez aceita a obra, o

unidades de representação um tanto estranhas dos mesmos – em item de

público da exposição pôde acessar, não exatamente o processo de

coleção. A primeira peça é uma coleção de mais de 300 currículos de

escolha, mas o seu resultado – podendo comparar as obras escolhidas

artistas, obtidos na Internet e colados nos vidros do Museu. A segunda faz

àquelas preteridas, questionando as decisões da comissão de seleção

referência à célebre obra de Merde d'Artiste (1961), do italiano Piere Manzoni. Trata-se de uma coleção de cerca de cem frascos contendo

Para sua exposição na Pampulha, parte das mostras individuais do 27º

amostras da urina de artistas. Cada uma dessas amostras foi acondicionada

Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte – Bolsa Pampulha, Bruno fez uma

em um frasco diferente e todas elas foram agrupadas sob o título comum

seleção de seus trabalhos mais recentes, desenvolvidos e realizados

de Perle, uma marca de perfume criada com este fim.

durante o programa. Como característica em comum, há em todas as peças apresentadas um mesmo interesse pelo colecionismo e a

Por último, na peça O Império (2004), o artista reúne uma extensa lista de

acumulação, compreendidos não como conseqüência, mas como métodos

coleiras, cintos de castidade, focinheiras, algemas, chicotes e outros

para a criação. Em Depósito (2003-2004), o artista lançou uma corrente

instrumentos de contenção, opressão e aprisionamento. Aqui o próprio ato

pela internet em que convidava o público a ajudá-lo a fazer sua peça para

de acumular é comparado ao de prender e conter, criando uma instalação

a exposição no Museu. Durante alguns meses, Bruno pediu que as

mostrada em uma pequena sala, na qual o espectador do Museu, ansioso

pessoas lhe enviassem caixas pelo correio, endereçadas ao Museu e que

por apreender os objetos, se vê momentaneamente como vítima da mesma

seriam utilizadas mais tarde para fazer o trabalho. Não importava

armadilha que planejava para os objetos.

exatamente o que continham aquelas caixas e também não muito quem

Rodrigo Moura, curador

as enviava, mas o fato de poder se constituir, sem grande esforço físico e sem custo material da parte do artista, um conjunto de objetos que,


Bruno Vieira (Recife, PE) bvieirab@gmail.com http://brunovieira.multiply.com/ http://bruno-vieira.com/ FORMAÇÃO 2008 Licenciado no curso de Artes Plásticas (UFPE) 1999 Licenciado no curso de Ciências Sociais (UFPE) EXPOSIÇÔES INDIVIDUAIS 2010 Obrigação do Horizonte Dois... vista inevitável; Museu Casa das Onze Janelas, Belém - PA 2008 Obrigação do Horizonte Galeria Mariana Moura (Recife, PE); Infinito Agora Galeria Virgilio (São Paulo, SP); Espaço Funarte de Artes Visuais (São Paulo, SP) 2007 Infinito Agora Instituto Cultural Banco Real, Galeria Marcantonio Vilaça (Recife, PE) 2006 Prêmio Projéteis Funarte de Arte Contemporânea, Funarte (Rio de Janeiro, RJ); Projeto Atos Visuais, Galeria Fayga Ostrower (Brasília, DF); Trajetórias, Fundação Joaquim Nabuco, Galeria Massangana (Recife, PE) 2004 Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, MG); Castelinho do Flamengo (Rio de Janeiro, RJ) 2002 Do(r)entes, Fundação Joaquim Nabuco, Galeria Baobá (Recife, PE) PRÊMIOS 2010 4°Concurso de Videoarte da Fundação Joaquim Nabuco, Recife, PE 2009 Prêmio Secult de Artes Visuais - Museu Casa das Onze Janelas, Belém - PA 2006 Selecionado na Bolsa Iberê Camargo 2006 para receber destaque no site http://www.iberecamargo.org.br/content/revista_nova/reportagem_integra.asp?id=225

2004 2º Lugar na Mostra Competitiva do Cinema Digital, Fundação, 3º Lugar no Arte Pará, Fundação Rômulo Maiorana (Belém, PA); Menção Honrosa no 5º Salão de Artes Visuais, Museu de Arte Contemporânes (Jataí, GO) 2005 Prêmio Projéteis Funarte de Arte Contemporânea, Funarte, (Rio de Janeiro, RJ) Joaquim Nabuco (Recife, PE); Selecionado como um dos três finalistas na Bolsa de artes visuais Kunstlerhaus Buchsenhausen Bursary-UnescoAschberg (Innsbruck, AUT) 2003 Bolsa Pampulha 27º Salão Nacional de Belo Horizonte, Museu de Arte da Pampulha (Belo Horizonte, MG) EXPOSIÇÕES COLETIVAS 2010 Silêncio, Zipper Galeria, São Paulo, SP, REC><GRU, ida e volta, Ateliê397, São Paulo, SP, Converging Trajectories, Modified Arts in Downtown Phoenix, AZ, USA, Poéticas Pessoais em Construção, 12º Salão Nacional de Artes Itajaí, Pavilhão de Feiras do Centreventos de Itajaí de Santa Catarina, SC, Entre 6, Galeria Archidy Picado, João Pessoa, PB, Paisagens Transpostas, Museu Murilo La Greca, Recife – PE. 2009 28º Arte Pará, MEP, Belém, PA; 60º Salão de Abril, Fortaleza, CE ;SParte, Galeria Anita Schwartz e Galeria Mariana Moura, Pavilhão da Bienal, São Paulo, SP; Coletivo Mini em Marte, Galeria Marte Upmarket Montevideo, Uruguay; Videos, First Friday Art Event, Eye Lounge Gallery, Phoenix, Arizona USA, January 2008 Arte Pará, Fundação Rômulo Maiorana (Belém, Pará); Belizário Galeria de Arte (Belo Horizonte, MG); Festival de Inverno de Bonito, (Bonito - MS); 12º SAMAP – Salão Municipal de Artes Plásticas de João Pessoa, Casarão 34, (João Pessoa, PB) 2007 Ligações Cruzadas - Acervo 2007, Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar (Fortaleza, CE); Espaço Funarte de Artes Visuais (São Paulo, SP); Primeira Semana de Fotografia, Torre Malakof (Recife, PE); 58º Salão Nacional de Abril, Museu de Arte da Universidade do Ceará (Fortaleza, CE); I-Contemporâneo, Galeria Virgilio, Shopping Iguatemi (São Paulo, SP); arteBA'07, 16ª Feira de Arte Contemporânea La Rural, Galeria Virgilio (Buenos Aires, ARG); Para onde vai?, Galeria Mariana Moura (Recife, PE); SParte, Anita Schawartz Galeria, Pavilhão da Bienal, Stand 10 (São Paulo, SP) 2006 9º Salão Nacional Victor Meirelles, Museu de Arte de


Santa Catarina (Florianópolis, SC); Arte Pará, Fundação Rômulo Maiorana (Belém, Pará); 6º Salão Nacional de Arte de Goiás (Goiânia, GO); 5º Salão de Artes Visuais, Museu de Arte Contemporânea de Jataí (Jataí, GO); SParte, Galeria Mariana Moura, Pavilhão da Bienal, Stand 24 (São Paulo, SP); 7° Salão do Mar, Casa Porto das Artes Plásticas (Vitória, ES) 2005 LOOP: THE VIDEO ART FESTIVAL '05 (Barcelona, ESP); 12º Salão dos Novos, Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew (Joinville, SC); Além da Imagem, Centro Cultural Telemar (Rio de Janeiro, RJ); Territórios Transitórios, Palais de la Porte Dorée Mapas de Caminhos, Açúcar Invertido IV, Atelier de Artistas La(Paris, FRA); 5º Salão Nacional de Arte de Goiás (Goiânia, GO);Compagnie (Marseille, FRA), Galeria Faux Mouvement (Metz, FRA), Galeria EOF (Paris, FRA); Temporada de Projetos Paço das Artes (São Paulo, SP); Fraenkelstein Art Projects (Londres, ING); Projéteis da Arte Contemporânea Funarte, Funarte (Rio de Janeiro, RJ) 2004 46º Salão Pernambucano de Artes Plásticas, Museu do Estado de Pernambuco (Recife, PE); 7º Salão Sobral de Arte Contemporânea (Sobral, CE); Consulado Geral do Uruguai (Rio de Janeiro, RJ); 2º Salão Internacional laisle.com, Fraenkelstein Art Projects (Rio de janeiro, RJ | São Paulo, SP | Recife, PE); Mostra Competitiva do Cinema Digital, Fundação Joaquim Nabuco (Recife, PE); 1º Salão Aberto, Casa das Retortas (São Paulo, SP); Prêmio de Estímulo na Semanada SPA (Recife, PE); 5° Salão de Artes do SESC Amapá (Macapá, AP); Novíssimos IBEU (Rio de Janeiro, RJ); 9ª Bienal de Artes de Santos (Santos, SP) 2003 Açúcar Invertido II, The Americas Society, As A Satellite (Nova Iorque, EUA); 11º Salão dos Novos de Joinville (Joinville, SC); Experimental, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (Fortaleza, CE) 2002 45º Salão de Artes Plásticas Pernambuco, Fábrica Tacaruna (Recife, PE); Projeto Prima Obra, Funarte (Brasília, DF); 6ª Bienal do Recôncavo (São Félix, BA); Fundação Joaquim Nabuco, Galeria Massangana (Recife, PE); IAC Instituto de Arte Contemporânea (Recife, PE)

OBRAS EM COLEÇÕES E ACERVOS Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (Fortaleza, CE); Instituto Cultural Banco Real (Recife, PE); Fundação Rômulo Maiorana (Belém, PA); Museu de Arte Contemporânea de Jataí (Jataí, GO); Pinacoteca da UFS (Aracaju, SE)

PUBLICAÇÕES Revista IstoÉ N° Edição: 2130|03.Set, 2010, Catalogo Arteba'10, Belizário Galeria de Arte, Belo Horizonte, MG, 2009 Catalogo 60 Salão de Abril, Prefeitura Municipal de Fortaleza, CE, 2009; Catalogo Arte Pará 2008, Fundação Rômulo Maiorana, Belém – Pará; Revista Bravo, Ano 11/n° 136; Catalogo SParte, Galeria Mariana Moura, São Paulo, SP; 2009; Catalogo /Marmita, Galeria Mariana Moura, Recife, PE, 2008; Catalogo Espaços, Funarte Artes Visuais, São Paulo, SP, 2008; Revista Continente Cultural, Ano VII Nº 62 – Agosto / 2008; Revista Continente Cultural, Ano VII Nº 58 – Abril / 2008; O Infinito Agora. Marisa Florido César. Catalogo de Individual de Bruno Vieira. Galeria Marcantonio Vilaça, Instituto Cultural Banco Real, Recife, PE, 2007; 9º Salão Nacional Victor Meirelles - Museu de Arte de Santa Catarina – MASC; Charles Narloch. Santa Catarina, SC, 2006; Projeto Trajetórias 2003- 2006. Fundação Joaquim Nabuco. Ministério da Educação. Cristiana Tejo, Recife, PE, 2007; Linguagens. Fundação de Cultura da Cidade de Recife, Prefeitura da Cidade do Recife, PE, 2007; 6º Salão Nacional de Arte de Goiás. Divino Sobral. Goiânia, GO; 2006; Prêmio Projéteis Funarte de Arte Contemporânea. Maria do Carmo Nino. FUNARTE, RJ; 2006; Projeto Atos Visuais 2006. Galeria Fayga Ostrower, Agnaldo Farias, Brasília, DF; 7° Salão do Mar. Fernando Cocchiarale. Casa Porto das Artes Plásticas, Vitória, ES; 2006; 12º Salão dos Novos de Joinville. Charles Narloch, Regina Melim, Silnei Soares. Joinville, SC, 2004; Temporada de Projetos Paço das Artes 2005 - 2006. Juliana Monachesi. São Paulo, SP; Projéteis de Arte Contemporânea Funarte 2004 - 2005. Maria Angélica Melendi. FUNARTE, RJ; Bolsa Pampulha 2004. 27o Salão Nacional de Belo Horizonte. Rodrigo Moura. Museu de Arte da Pampulha, Belo Horizonte, MG; Folder da Exposição no Castelinho do Flamengo em 2004. Prefeitura do rio de Janeiro. Cristiana Tejo; 11º Salão dos Novos de Joinville. Walter de Queiroz Guerreiro. 2003.


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