Hugo Houayek

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Hugo Houayek


Pintura como Ato de Fronteira - Marรงo 2010


Falange, 2010 Inflรกveis, vinil e chassi de madeira, 1,8 x 8 m


Falange, 2010 Inflรกveis, vinil e chassi de madeira, 1,8 x 8 m


Bancos, 2010 Lona plรกstica, espuma e chassi de madeira, 40 x 140 x 50 cm


Bienal de Búzios Especial – Búzios, RJ – Abril 2009


Infláveis Infalíveis, 2009 Lona plástica, infláveis e armação de tenda


Infláveis Infalíveis, 2009 Lona plástica, infláveis e armação de tenda


Lá Fora – Museu da Eletriciade – Fundação EDP – Lisboa - Janeiro 2009


A queda. (díptico), 2009 Lona plástica, 2 x 2 x 12 m


A queda. (díptico), 2009 Lona plástica, 2 x 2 x 12 m


Arte Nova Arte – Centro Cultural Banco do Brasil – Rio de Janeiro - Dezembro 2008


Caixões Dourados e Cama , 2008 Lona plástica e espuma, 100 x 80 x 180 cm


Caixões Dourados e Cama , 2008 Lona plástica e espuma, 100 x 80 x 180 cm


Caixões Dourados e Cama , 2008 Lona plástica e espuma, 100 x 80 x 180 cm


Sobre Helicópteros e Cavalos – Exposição Individual Galeria AmareloNegro Rio de Janeiro – Novembro 2008


Bancos, Soft Paint, Berços e Caixões Dourados


Caixões Dourados 2008 Lona plástica e espuma sobre chassi, 180 x 70 cm


Caix천es Dourados e Cama Vermelha


Cama Vermelha, 2008, Lona Plรกstica e espuma, 40 x 90 x 180 cm Espelho Negro , 2008, Lona Vinil e chassi, 180 x 140 cm


Espelho Negro e A queda


A Queda 2008 Lona plรกstica sobre chassi, 1x1x5m


A Queda 2008 Lona plรกstica sobre chassi, 1x1x5m


Bancos, Berços e Caixões Dourados


Bancos 1 e 2, 2008, Lona Plรกstica e espuma, 50 x 50 x 120 cm



Janelas para o Mundo – Casa das 11 Janelas – Belém, PA – Setembro 2008


Transpaint (díptico), 2008 Lona plástica, 200 x 500 cm


Transpaint (díptico), 2008 Lona plástica, 200 x 500 cm


De Caixões a Berços – Prêmio Atos Visuais da FUNARTE – Brasília, DF – Junho 2008


Cama, Caix達o Dourado e Corpo


Caix천es Dourados e Cama


Soft Paint - Azul, Caix達o Dourado e Cama


Soft Paint - Azul e Amarelo e Caix達o Dourado


Banco, Berรงo, Soft Paint - Azul e Amarelo e Cama


Berรงos, Banco e Soft Paint - Amarelo


Corpo, 2008 Lona plรกstica e espuma, 1,80 x 50 cm


Cama , 2008 Lona plรกstica e espuma, 100 x 80 x 180 cm


Caixรฃo Dourado I, 2008 Lona plรกstica e espuma, 180 x 70 cm


Caixรฃo Dourado I, 2008 Lona plรกstica e espuma, 180 x 70 cm


Soft Paint I e II, 2008 Lona plรกstica e espuma, 2 x 2m (cada)


Banco e Berรงos, 2008


8º Salão Elke Hering – Museu de Arte de Blumenau – Blumenau - SC – Outubro 2007


Soft Rectangles I e II, 2007 Lona plรกstica e espuma, 200 x 120 cm (cada)


Soft Rectangles I e II, 2007 Lona plรกstica e espuma, 200 x 120 cm (cada)


58ยบ Salรฃo de Abril - Museu de Arte da UFC - Fortaleza - CE - Agosto, 2007


Transpaint (díptico), 2007 Lona plástica, 200 x 500 cm


Transpaint (díptico), 2007 Lona plástica, 200 x 500 cm


Prêmio Projéteis Funarte de Arte Contemporânea – Galeria FUNARTE - Rio de Janeiro - RJ - Março 2007


Soft Paint - Amarelos, Plano Inclinado e Corpo Negro


Pintura Enrugada Azul e Soft Paint - Amarelos


Bancos e Pintura enrugada Azul


Soft Paint – Amarelos (díptico), 2007 Lona plástica e espuma, 200 x 200 cm (cada)


Soft Paint – Amarelos (díptico), 2007 Lona plástica e espuma, 200 x 200 cm (cada)


Plano Inclinado Laranja, 2007 Lona plรกstica e espuma, 200 x 200 x 60 cm


Plano Inclinado Laranja, 2007 Lona plรกstica e espuma, 200 x 200 x 60 cm


Pintura enrugada Azul, 2007 Lona plรกstica, 200 x 200 cm


Pintura Enrugada Azul, 2007 Lona plรกstica, 200 x 200 cm


Corpo Negro, 2007 Lona plรกstica e espuma, 200 x 80 x 50 cm


Corpo Negro, 2007 Lona plรกstica e espuma, 200 x 80 x 50 cm


Bancos (díptico), 2007 Lona plástica e espuma, 130 x 40 x 30 cm (cada)


Bancos (díptico), 2007 Lona plástica e espuma, 130 x 40 x 30 cm (cada)


RioCenaContemporânea 7ª edição – Estação da Leopoldina, Rio de Janeiro-RJ - Outubro de 2006


Vagรฃo Amarelo, 2006 Lona Plรกstica, 2 x 14 x 2,80 m


Vagรฃo Amarelo, 2006 Lona Plรกstica, 2 x 14 x 2,80 m


Branco Neve - Trajetórias 2006 – FUNDAJ – Galeria Vicente do Rego Monteiro, Recife-PE


Série Branco Neve Lona Plástica e espuma, 200 x 200 cm (cada)


Série Branco Neve Lona Plástica e espuma, 200 x 200 cm (cada)


Série Branco Neve Lona Plástica, 200 x 200 cm (cada)


Pintura enrugada, 2006 Lona plรกstica, 200 x 200 cm


Soft Paint 1, 2006 Lona plรกstica e espuma, 200 x 200 cm


Hard Paint 1, 2006 Lona plรกstica, 200 x 200 cm


6º Salão Nacional de Arte de Goiás, Goiânia.


Soft Paint (série azul), 2006 Espuma e lona plástica; 100 x 200 cm (cada)


Soft Paint, 2006 Espuma e lona plรกstica; 100 x 200 cm


Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2005/2006 Instituto Itaú Cultural – São Paulo-SP Paço Imperial – Rio de Janeiro-RJ Casa das 11 Janelas – Bélem-PA


Soft Plane (díptico) 2005 Esmalte sintético sobre lona plástica, 200 x 200 cm (cada)


Soft Plane (díptico) 2005 Esmalte sintético sobre lona plástica, 200 x 200 cm (cada)


Soft Plane (díptico) 2005 Esmalte sintético sobre lona plástica, 200 x 200 cm (cada)


Desenho de Arquitetura

Série Laranja – março de 2005


Desenho de Arquitetura (sĂŠrie laranja)


Desenho de arquitetura I, 2005 Esmalte sintĂŠtico sobre lona plĂĄstica, 200 x 200 cm


Desenho de arquitetura II, 2005 Esmalte sintĂŠtico sobre lona plĂĄstica, 200 x 200 cm


Desenho de arquitetura III, 2005 Esmalte sintĂŠtico sobre lona plĂĄstica, 200 x 200 cm


Desenho de Arquitetura

SÊrie Amarela – setembro 2004


Desenho de Arquitetura (sĂŠrie amarela)


Desenho de arquitetura, 2004 Esmalte sintĂŠtico sobre lona plĂĄstica, 200 x 200 cm


Desenho de arquitetura, 2004 Esmalte sintĂŠtico sobre lona plĂĄstica, 200 x 200 cm


Desenho de arquitetura, 2004 Esmalte sintĂŠtico sobre lona plĂĄstica, 200 x 200 cm


Desenho de Arquitetura

SÊrie Azul – setembro 2004


Desenho de Arquitetura (sĂŠrie azul)


Desenho de arquitetura, 2004 Esmalte sintĂŠtico sobre lona plĂĄstica, 200 x 200 cm


Desenho de arquitetura, 2004 Esmalte sintĂŠtico sobre lona plĂĄstica, 200 x 200 cm


Desenho de arquitetura, 2004 Esmalte sintĂŠtico sobre lona plĂĄstica, 200 x 200 cm


HUGO HOUAYEK Rio de Janeiro, 1979.

hugohouayek@gmail.com www.dripbook.com/houayek

Formação Acadêmica: 2010 – Mestrado em Linguagens Visuais no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2006- Graduação em Pintura na Escola de Belas Artes, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Exposições Individuais: 2008 – Sobre helicópteros e cavalos, Galeria Amarelonegro, Rio de Janeiro, RJ 2008 – Atos Visuais, Galeria Fayga Ostrower- FUNARTE, Brasília, DF 2006 - Trajetórias 2006, Fundação Joaquim Nabuco , Recife, PE 2005 - Galeria Maria Martins - Selecionado na Universidarte XII por júri composto por Luiz Camillo Osorio e Reynaldo Roels Jr., Rio de Janeiro, RJ. 2004 - Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, Niterói, RJ. 2003 - Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho, Castelinho do Flamengo, Rio de Janeiro, RJ. 2003 - Galeria de Arte do SESC-Niterói, RJ.


Exposições Coletivas: 2010 – Incompletudes, Galeria Virgílio, São Paulo, SP. – Converging Trajectories, Phoenix, EUA. - Coletiva Março 2010, Galeria AmareloNegro Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ. 2009 - Arte Pará 2009, Belém, PA – Bienal Anual de Búzios (Especial), Búzios, RJ. – “Lá Fora”, Museu da Presidência da República, Lisboa, Portugal – Nova Arte Nova, Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, SP. 2008 - Nova Arte Nova, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, RJ. - Janelas para o Mundo, Espaço Cultural Casa das Onzes Janelas, Belém, PA. - Sangue Novo, Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, RJ. - Segunda Imagem, exposição virtual no site Centopéia, Florianópolis, SC. - Arte pela Amazônia, Fundação Bienal de São Paulo, São Paulo, SP. - Projeto Acervo I e II, Espaço Bananeiras, Rio de Janeiro, RJ. 2007 - Janelas para o Mundo, Casa das 11 Janelas, Bélem, PA. - Cine Falcatrua: Festival-Dispositivo, Temporada de Projetos Paço das Artes, São Paulo, SP - 58° Salão de Abril, Fortaleza, CE - Eu/Desejo, Quarto, Rio de Janeiro, RJ - 1º Prêmio Projéteis de Arte Contemporânea, Funarte, Rio de Janeiro , RJ - Se Repete Como Farsa, Mostra Internacional de Vídeo: Intervenção Urbana, Vitória, ES -- 2ª Mostra de Vídeo Arte - Vídeo nas Trincheiras, NAC, João Pessoa, PB


2006 - RioCenaContemporanea, Estação da Leopoldina, Rio de Janeiro, RJ - 6º Salão Nacional de Arte de Goiás, Goiânia, GO - Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2005/2006, Casa das Onze Janelas, Belém, PA - Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2005/2006, Paço Imperial, Rio de Janeiro, RJ - Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2005/2006, Instituto Itaú Cultural , São Paulo, SP 2005 - 61º Salão Paranaense, Museu de Arte Contemporânea, Curitiba, PR - XII Salão da Bahia, Museu de Arte Moderna, Salvador, BA - Espaço Bananeiras, RJ. - Fraenkelstein Salon - London , Project 142, Londres, Inglaterra. - Assentamento, Centro Cultural Paschoal Carlos Magno, Niterói, RJ. 2004 - Artistas Selecionados na UniversidArte XII - júri composto por Luiz Camillo Osorio e Reynaldo Roels Jr., Rio de Janeiro, RJ. - XIV Salão da Escola de Belas Artes – Seleção de 2004, com o jurí: Adriana Varejão, Alexandre Vogler, Chang Chi Chai, Cristina Pape, Ernesto Neto. IAB, Instituto de Arquitetos do Brasil, Rio de Janeiro, RJ. - 2º International Art Salon Laisle.com – Fraenkelstein Art Projects, Rio de Janeiro. - Diálogos Plurais na Fundação Calouste Gulbenkian, Rio de Janeiro, RJ. - XII UniversidArte na Universidade Estácio de Sá, Rio de Janeiro, RJ. - 1º Salão Internacional Laisle.com na Fundacion Gugg und Chaim, Rio de Janeiro, RJ. - "Bruxelles, Ma Decouverte" - "Bruxelles Cote Canal" biVA –Brussels, Bruxelas, Bélgica. - Galeria de Arte da Universidade Salgado de Oliveira, Niterói, RJ.


2003 - Eventum, no Espaço da Pátria, Niterói, RJ. - Imaginário Periférico – Lona Cultural de São João de Meriti, RJ. - Galeria de Arte do SESC-Niterói, RJ. - Imaginário Periférico - Central do Brasil, Rio de Janeiro, RJ. - XIII Salão da Escola de Belas Artes – Seleção 2003, com o jurí: Milton Machado, Paulo Venancio, Guto Nóbrega, Ricardo Basbaum e Maria Luisa Távora. IAB-Rio de Janeiro, RJ. 2002 - Novíssimos 2002 na Galeria de Arte IBEU, Rio de Janeiro, RJ. - 32 Olhares no Museu D. João VI–UFRJ, Rio de Janeiro, RJ.


TEXTOS CRÍTICOS Texto de Cristiana Tejo para a exposição individual intitulada Branco Neve na Galeria Vicente do Rego Monteiro na Fundaj, Recife-PE. Ainda pintura? Ainda pintura. "Tal como a sensibilidade indefinível, a cor invade e perpassa todas as coisas, sem forma e sem limites. Ela é a matéria-espaço abstrata e real ao mesmo tempo". Yves Klein No campo da arte, grande parte do século XX foi dedicada ao enterro de suportes e de linguagens. As transformações do mundo deveriam ser expressas em novas maneiras de pensar e fazer arte. Cada novo movimento tomava para si o leme do barco da história e deixava naufragar correntes contrárias aos seus ideais e procedimentos. Esta visão progressiva da arte esgotou-se próxima da virada do milênio e o panorama que encontramos na primeira década do século XXI é de convivência de diferenças e de retomadas de questões artísticas não mais em sua integridade inicial, mas como suturadas a partir de fragmentos. Hugo Houayek (RJ) partilha com muitos outros artistas jovens a discussão e o tensionamento das possibilidades da pintura hoje. Como se sabe, a morte da pintura foi enunciada diversas vezes e desmentida após aberturas de outras portas de experimentação, quando novo fôlego era dado ao suporte mais tradicional da arte. O que significa pintar neste (talvez) admirável mundo novo? O que pode ser acrescentado ao repertório pictórico que vem sendo construído nos últimos seis séculos? A arte neste momento parece oferecer muitas perguntas, que são seguidas de poucas e provisórias respostas.


Hugo carrega em seu DNA artístico genes de origens diversas, mas por estar libertado das estruturas históricas e das bandeiras que militavam por causas, costura livremente referências e retoma a exploração de materiais industriais para o fazer pictórico, aposta no volume da cor e numa atitude diante da história da pintura. Branco Neve, projeto proposto especialmente para a Galeria Vicente do Rego Monteiro, parte de um comentário bem humorado sobre este lugar: a tonalidade do branco escolhido para ocupar as paredes desta galeria (os demais espaços expositivos da Diretoria de Cultura são branco gelo). No entanto, ao utilizar uma cor tão simbólica para a arte como a branca, o artista acaba por mencionar também questões relativas ao cubo branco, espaço cunhado pelo Modernismo que garantia neutralidade para as obras, que, por sua vez, buscavam a autonomia da arte. Desde os anos 1950, a galeria virou assunto e reflexão de boa parte da produção artística, já que a consciência das relações de poder e de valores do mundo da arte ganhou importância. Sem a moldura que segurava a arte nos quadros, todo o espaço é inundado de significado e torna-se ativado. As pinturas de Hugo Houayek parecem plasmar-se no espaço, criando volumes no cubo branco. A atenção volta-se para as paredes das salas e acabam por atestar a presença da sensibilidade pictórica. Subterraneamente, para além da retina, corre uma leve ironia.

Cristiana Tejo foi Coordenadora de Artes Plásticas da Fundação Joaquim Nabuco, atualmente é diretora do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães – MAMAM, em Recife.


Texto de Marta Martins para a exposição Atos Visuais 2008 na Funarte Brasília. De caixões a berços: as moradas Planos encostados na diagonal, na parede, no chão, planos estofados e revestidos de tecidos, bem como um uso calculado do poder simbólico das cores, a pontuar o espaço expositivo com rigoroso cuidado, fazem parte da forma com a qual Hugo Houayek executa o presente trabalho. Habitantes do mundo limítrofe da pintura, do objeto e da instalação, esta série de obras, todavia, revela modos de pensar e fazer regidos numa instância estritamente pictórica. Esta se apresenta, além do gosto pelo manejo cromático, por uma peculiaridade temporal com a qual o lento oficio de pintar se justifica, na medida em que permite o cumprimento de etapas na execução de um ritual próprio. Pois pintar exige uma concepção no sentido estrito da palavra, um gerar. Trabalho de paciência e de hesitação por um lado e, de uma noção intuitiva do saber terminar, do abandono consciente, por outro. Processo que tem de ser maturado passo a passo, até que a obra se diga pronta. Noutras palavras, a pintura contém em si mesma alguns passos da existência. Nesta série de Hugo Houayek este caráter da pintura vem à tona de modo denso também inserido na temática das obras, pois elas têm algo a aportar nas interrogações humanas sobre a dimensão da vida e da morte. Se toda arte nasce funerária, da necessidade das honras fúnebres, ou de uma relação estrita com o problema da finitude humana, como quer Régis Debray[1], ela conteria em si, voluntária ou involuntariamente, uma indagação constante sobre o sentido do infindável, incerto e cansativo ciclo do nascer-viver-morrer.


Hugo Houayek parece brincar com a seqüência deste ciclo no modo como opera a escolha das cores dos seus objetos. Eles parecem sugerir a idéia de tickets, de passagens aleatórias onde o fim nem sempre é o fim, podendo ser o começo de uma outra jornada. Tudo depende da escolha que o espectador é livre para fazer na eleição das cores e formas dos objetos, e como os configura entre si e para si mesmo, no seu percurso de associações subjetivas. Nesta série há uma remissão efetiva, mas também afetiva a objetos cotidianos aderidos a cada um de nós, moradas efêmeras - berços, camas, sacos de dormir, poltronas e caixões - os móveis de repouso provisório pelos quais passamos através da vida e que nos falam das breves passagens por cada um deles. Com senso de humor e com leveza, sem deixar de lado um precioso tributo à memória, o artista inventa receptáculos, formas que possam acolher nossos corpos a cada etapa do caminho sem fim onde habita e triunfa a força da vida. [1] DEBRAY, Régis. Vida e morte da Imagem. Petrópolis: Vozes, 1994. Marta Martins é Doutora em Teoria Literária pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestre em Poéticas Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professora de História da Arte na Universidade Estadual de Santa Catarina.


Texto de Paulo Reis para a Exposição Prêmio Projéteis Funarte de Arte Contemporânea.

Na pesquisa plástica de Hugo Houayek, o que fica evidenciado ao espectador atento é sua preocupação com a pintura, a cor e sua materialidade e a estrutura do quadro. Na escolha da lona plástica, Hugo toma partido de um caráter mais Pop em sua poética. A matéria de sua pintura distancia-se do drama ou da metafísica, observados em Iberê Camargo e Dudi Maia Rosa, por exemplo. De outro lado aproxima-se dos pigmentos encarnados nas pesquisas artísticas de Cláudio Tozzi e Carlos Vergara nos anos 70, dos tecidos e plásticos de Leda Catunda ou do mármore, granito e chumbo nas pinturas de Geraldo Leão. As dobras de Orange wrinkle e a espessura do díptico Soft yellow encenam uma substância, mas nada retêm ou escondem. A qualidade industrial da superfície apresenta-se como apagamento do sujeito, sua história e memória. Da materialidade do quadro, pode-se afirmar que Hugo aproxima-se da poética do grupo Supports/Surfaces. A movimentação francesa, no contexto critico e questionador de final dos anos 60, reafirmou sua aposta na pintura. Ao dar continuidade às pesquisas com a pintura, ela vai fragmentar seus meios (caixilho/ bastidor e a superfície/tela) e repensar sua linguagem. Como os artistas do Supports/Surfaces, estabelecem-se aqui uma série de operações desmanteladoras do quadro, seja ao amarrá-lo, soltar a tela do bastidor, estufá-lo com espuma ou enrolá-lo. Ao despregar a tela do caixilho dá-se existência a ambos. A estrutura faz emergir sua tridimensionalidade e corpo e a superfície/tela é matéria dúctil de cor e luz. Paulo Reis é curador , Doutor em História pela Universidade Federal de Artes e professor de história da arte do Departamento de Artes da Universidade Federal do Paraná.


Texto de Victor da Rosa publicado em janeiro de 2008 por ocasião da exposição virtual Segunda Imagem no site Centopeia. Segunda Imagem O problema inicial, talvez: há uma segunda imagem que se forma. Não se trata mais da construção de uma imagem definida, certamente – quem dirá de uma representação? – mas de um fantasma. A imagem só se reflete para fora dela e o sujeito que vê é também convidado – em um círculo que, finalmente, se volta contra si – a se implicar no próprio olhar.1 Não há tempo, o olho se engana – e a segunda imagem só pode ser uma sombra: a nossa própria figura se faz informe. Outras aparências passarão de repente. Espelhos se espalham a nossa volta. Depois, o toque: a centralidade do olhar é também deslocada para um sentido – ou uma sensação – tátil. O plástico é mole. Como se tocar o corpo – a tela plástica – fosse também tocar na própria sombra. No fim, algo sempre se perde; porque algo sempre necessita se perder.

1. Como não recordar As meninas de Velásquez e a antológica análise de Michel Foucault – que percebe naquele quadro um regime representativo descontínuo em que toda origem se encontra justamente com este vazio fora da imagem – o nosso próprio rosto – através dos olhos do pintor que nos olha? – em outro sentido, a análise que Giorgio Agamben faz das canções de amor do século XIII, quando percebe que a dicção imaginária e fantasmática (a segunda imagem: morada capaz, stanza) se apresenta como possibilidade de conciliar amor e objeto perdido?

Victor da Rosa é ensaísta e Mestre em Literatura pela UFSC, onde escreveu um ensaio sobre o artista e escritor catalão Joan Brossa. Escreveu a prosa de Piano e flauta – fragmentos de um romance (Lumme Editor, 2007) e organizou, com Ronald Polito, a antologia 99 poemas de Joan Brossa (Annablume/DemônioNegro, 2009). Realizou algumas curadorias em Florianópolis; e colaborou para o Caderno de Cultura do Diário Catarinense e para periódicos de literatura e artes visuais, como Interartive, Sibila, Sopro e Zunái. Vive em Belorizonte.


Texto de Alvaro Seixas para a exposição individual na Galeria Maria Martins – Universidarte XII. Sobre “Desenho de arquitetura” Na série intitulada “Desenho de arquitetura”, Hugo Houayek promove a junção de duas proposições de espaço: a primeira refere-se ao espaço físico – real, material e palpável – onde a lona e a tinta industrial, materiais corriqueiros utilizados na construção e no ato de erguer da concretude a obra arquitetônica, são agora a superfície por meio da qual um segundo espaço é elaborado, simulado, o da representação de tal arquitetura . Por outro lado, confere a tais materiais mundanos e muitas vezes negligenciados pela sociedade o estatuto não mais de secundários, mas de peças principais – a lona e a tinta depositada sobre a primeira não estão mais à serviço de determinada estrutura a ser construída, não mais serão deixados de lado após o processo - eles agora se constituem objeto final - de valor - dignos de nobreza. E talvez esse seja um dos principais méritos e estratégias da arte – um procedimento já muito utilizado por certos sábios do oriente – conferir ao mundano, ao mínimo, ao precário, ao quase que insignificante, a qualidade de nobre, de sublime e de realeza, para destes serem capazes de extrair uma filosofia profunda.

Alvaro Seixas é artista plástico, curador e mestrando em Linguagens Visuais do programa de pós-graduação em Artes Visuais da UFRJ.


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