Sabarรก
Desenhos
Texto crítico de Patrícia Azevedo sobre a série “Filhos da Terra”
Filhos da Terra
Tempo, essa é a matéria plástica de toda pessoa e a trama essencial nestes desenhos. Tales Sabará mexe numa cumbuca cheia de profundezas e inventa uma simplicidade única. Quando olho estes desenhos, me estampa a experiência mágica que é a aparição da fotografia no banho revelador: a imagem flutuando, livre, ainda cheia de incertezas. Paradoxalmente, com suas manchas e apagamentos, estampam, também, o seu desaparecimento, aqui simulado com a maestria do artista que precisa o que tece. Tales Sabará, nesta série de desenhos de grafite sobre papel, retrata homens e mulheres negros da sua cidade natal, Congonhas – MG. Traz à luz dignidade e uma franqueza espessa, que se figura na leveza das passagens tonais, que operam como uma memória critica. Com sensibilidade inteligente, debruça sobre as próprias raízes, equacionando a vida e a arte, o verdadeiro e o falso, o índice fotográfico e o traço livre do desenho. Ao simular a aparência de papéis antigos, que sofreram com a força do tempo, e ao retomar o quadriculado dos cadernos da infância, nos desorienta, fazendo-nos pensar e reconfigurar nosso próprio olhar. Estes desenhos apontam para um desejo de transformar a realidade e para um belo futuro pela frente.
Patrícia Azevedo
Tales Sabará “Sr. Zé do Congado” Grafite s/ papel 36 x 27 cm 2009
Tales Sabará “Sra. Maria Joana” Grafite s/ papel 36 x 27 cm 2009
Tales Sabará “Sr. Joaquim” Grafite s/ papel 36 x 27 cm 2009
TĂŠcnica Mista
Tales Sabará e Eduardo Rosa “A cura” Técnica mista s/ papel 27 x 36 cm 2010
Tales Sabará e Eduardo Rosa “Sem peso para voltar” Técnica mista s/ papel 27 x 36 cm 2010
Tales Sabará “Nuda Repromissio” Técnica mista s/tela 130 x 100 cm 2010
Tales Sabará “Centopéia Humana” Técnica mista s/ tela 130 x 100 cm 2010
Tales Sabará “Rachas e Bolhas” Técnica mista s/ tela 130 x 100 cm 2011
Nanquim
Texto crítico de Vald Poenaru, Mestre em Desenho pelo Instituto de Artes Plásticas Nicolae Grigorescu e Mestre em Artes Visuais pela UFMG, sobre a série “Tempos Esquecidos”
Tempos esquecidos...? Uma das poucas compensações na vida de um artista é o fato de que pode acompanhar o crescimento e a evolução das utopias e, querendo ou não, se envolver ou assistir a elas. Poucas profissões são tão generosas e gratificantes quando o assunto são as utopias: até um ponto, até um tempo... Hoje em dia o tempo dedicado à compreensão é cada vez mais reduzido, não temos tempo para ter tempo. Tudo tende a ser simplificado. Leituras curtas para assuntos que sempre não podem ser entendidos como simples. Quando se trata do universo humano e do relacionamento que existem entre células básicas do mesmo, como a família, tanto os pensadores contemporâneos e também as artes visuais produzidas hoje abordam o assunto no mínimo superficial, tendencioso ou simplesmente esta abordagem é inexistente. Não temos interesse, não temos tempo de falar, de entender ou pelo menos focalizar a nós mesmos. A maioria dos profissionais que atuam hoje em artes visuais é induzida ao uso de verdadeiros cacoetes conceituais e implícitos de materializações formais cada vez mais repetitivos. As leituras das materializações visuais não têm mais amplitudes de uma frase visual, mas de um mero detalhe de uma parte componente de uma letra. É um modismo de representação simplificada, reduzida quase em lógica de taquigrafia. A arte afinada com algum conteúdo político agora é resumida só ao caráter “marqueteiro” da promoção individual de cada artista. Não é de “bom tom” evocar as paixões, as vivências, os nossos dramas, como meros seres humanos. Nós não temos como seres humanos as nossas representações em dia da verdade ou dia da mentira, ou em dia da caça ou dia do caçador. Num mundo das representações visuais “clean”, estas têm a “majestade” das fórmulas das leis dos terráqueos da física ou da matemática em vacum. Elas são tão transparentes e inexistentes, que não seduzem a ninguém, e como fantasmas da noite de Halloween, invisíveis, não nos assustamos mais. Lógicas dos alfaiates do conto da “Nova roupa do rei”. Como chegamos a este ponto? O Tales Sabará tem coragem de investigar porque somos assim. Através da compreensão dos nossos antepassados, podemos talvez entender a nós mesmos. Com ironia, saudosismo, simpatia e muita paciência, Tales faz um trabalho de verdadeiro arqueólogo nos arquivos da mineira Sabará. Desnudando e reconstituindo fotografias de patriarcas e de suas famílias “em pose”, representações do fim do século XIX e começo do XX, o artista divide generosamente conosco a leitura. Um universo muito sedutor: malícias do gesto, a pose do poder, a submissão, o infinito leque de situações do mundo familiar são apresentados em uma dinâmica quase cinematográfica – Felliniana. As composições de Tales são desenhos, mas com uma grande carga pictórica que mostra o conhecimento do oficio. Composições narrativas onde o esqueleto é decorativo: ritmos, alternâncias e inversões de intensidade. É estimulante ver jovens que não caem na simplória armadilha da moda e procuram construir um caminho próprio. Estamos de olho nos seus “desenhos”, Tales!
Vlad Eugen Poenaru
Tales Sabará “Família Portguinari” Nanquim s/ papel 29,7 x 42 cm 2009
Tales Sabará “Família para Flávio de Carvalho” Nanquim s/ papel 29,7 x 42 cm 2008
Tales Sabará “Família da Velha Mafalda” Nanquim s/ papel 29,7 x 42 cm 2009
CurrĂculo
CURRÍCULO ARTÍSTICO Tales Elísio Ribeiro Sabará Minas Gerais; Congonhas. Rua Hematita, 156, Matriz Cep 36415-000 tel.31-3731-1860 e-mail: tales.sabara@oi.com.br Data de nascimento: 10/05/1986 FORMAÇÃO ACADÊMICA 2005 -Inicia o curso de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais 2007 -UFMG: Selecionado para Bolsa de Iniciação Científica da Pesquisa Guignard – Escola de Belas Artes da UFMG, sob a coordenação e orientação da Dra. Claudina Moresi 2009 -UFMG: Forma-se Bacharel em Pintura pela Escola de Belas Artes Atualmente cursa o 8º período de Habilitação em Gravura em Metal pela mesma Faculdade EXPOSIÇÕES Realizou 5 exposições individuais e 16 coletivas, sendo as principais: Individuais 2010 -Santa Catarina – Blumenau: Exposição individual (selecionado pelo Edital 2010 do Museu de Arte de Blumenau), “Tempos Esquecidos” com curadoria de Vlad Poenaru na Sala Especial do Museu de Arte de Blumenau 2010 -Minas Gerais – Belo Horizonte: Exposição individual (selecionado pelo Edital 2010 da Biblioteca Pública Luiz Bessa), “Filhos da Terra” com curadoria de Patrícia Azevedo no Anexo Professor Francisco Iglesias Coletivas 2010 -São Paulo – São Paulo: Exposição coletiva, “Um livro sobre a morte” com curadoria de Ângela Ferrara no MUBE (Museu Brasileiro da Escultura) 2009 -Minas Gerais – Belo Horizonte: Exposição coletiva, “Diverso Adverso” com curadoria de Marco Túlio Rezende na Galeria de Arte da CEMIG 2007 -Rio de Janeiro – Rio de Janeiro: Exposição coletiva, “Arte por toda a parte” com curadoria de Vera Condé na Galeria da Universidade Estácio de Sá
PRÊMIO E OBRAS EM ACERVO 2011 Museu Brasileiro da Escultura (MUBE) – São Paulo-SP 2010 Museu Brasileiro da Escultura (MUBE) – São Paulo-SP 2008 -Prêmio Relevância Acadêmica: 1º lugar – Projeto de Iniciação Científica – Guignard: Características da Obra do Artista em Minas Gerais – premiado durante a XVII Semana de Iniciação Científica da UFMG PUBLICAÇÕES 2010 - A Revista Trip, em sua edição de número 193, publicada em outubro, trouxe um desenho da série “Cidades Cinza” 2010 - A Revista Idea Fixa, em sua edição de número 17, publicada em setembro, traz alguns desenhos da série “Tempos Esquecidos” 2010 - A Revista Fora do Tempo, em sua edição de número 2, publicada em maio, traz alguns desenhos da série “Filhos da Terra” 2009 - A Revista Zupi, em sua edição de número 15, publicada em novembro, traz alguns desenhos da série “Famílias do Século XIX”
www.fama.zupi.com.br/sabara