Memorial Escolas Paraty - TFG 2021

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ESCOLAS PARATY unidade JUÇARA


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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS CEATEC - CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS, AMBIENTAIS E DE TECNOLOGIA FAU - FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

MEMORIAL DESCRITIVO ORIENTADORA: Profª. Dr“VANESSA GAYEGO BELLO FIGUEIREDO

ORIENTANDA: BÁRBARA DA SILVA SOUZA

CAMPINAS -SP, DEZEMBRO DE 2021

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SUMÁRIO

Resumo.......................................................................................................................................................................................................................07 Poema Pré-TFG...........................................................................................................................................................................................................08 Agradecimentos..........................................................................................................................................................................................................11 Epígrafe......................................................................................................................................................................................................................13 1. Contextualização..................................................................................................................................................................................................14 1.1 Área de Estudo................................................................................................................................................................................16 1.2 Plano Urbano...................................................................................................................................................................................18 2. Análise do Tema....................................................................................................................................................................................................20 2.1 Arquitetura Modular..........................................................................................................................................................................22 2.2 Permacultura e Sustentabilidade......................................................................................................................................................23 2.3 Soluções Baseadas na Natureza (SBN)............................................................................................................................................24 2.4 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS ONU)..............................................................................................................25 2.5 Escolas Modulares...........................................................................................................................................................................26 2.6 Projeto Escolas Paraty......................................................................................................................................................................28 3. Projeto Piloto........................................................................................................................................................................................................30 3.1 Partido e Desenvolvimento...............................................................................................................................................................32 3.2 O módulo.........................................................................................................................................................................................34 4. Estrutura e Materialidade....................................................................................................................................................................................36 4.1 Desenho da Estrutura......................................................................................................................................................................38 4.2 Detalhamento..................................................................................................................................................................................39

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5. Implantação - Quilombo do Campinho da Independência.............................................................................................................................40 5.1 Unidade JUÇARA..................................................................................................................................................................................42 5.2 História do Quilombo do Campinho da Independência..........................................................................................................................44 5.3 A luta pela educação diferenciada.........................................................................................................................................................46 5.4 Área de Intervenção..............................................................................................................................................................................48 5.5 Planta de Situação................................................................................................................................................................................50 5.6 Concepção...........................................................................................................................................................................................52 5.7 Implantação no terreno..........................................................................................................................................................................54 5.7.1 Programa de necessidades..................................................................................................................................................56 5.7.2 Planta...................................................................................................................................................................................57 5.7.3 Cortes..................................................................................................................................................................................58 5.7.4 Elevações.............................................................................................................................................................................60 5.7.5 Incidência Solar, Ventos Predominantes, Captação de água...............................................................................................62 5.7.6 Bacia de Evapotranspiração.................................................................................................................................................63 5.7.7 Jardim Filtrante.....................................................................................................................................................................63 5.7.8 Maquete Eletrônica..............................................................................................................................................................64 6. Considerações Finais........................................................................................................................................................................................74 7. Referências Bibliográficas.................................................................................................................................................................................75

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RESUMO

O presente memorial refere-se ao projeto Escolas Paraty, um dos projetos estratégicos que integram o trabalho: Paraty, pedaço de Brasil: paisagem cultural de todos os povos. As Escolas Paraty são um conjunto de escolas modulares propostas para responder ao déficit educacional do município de Paraty. Desenhadas a partir de um raciocínio industrial, mas usufruindo de técnicas e materiais tradicionais, cada unidade pode ser montada de acordo com suas necessidades, como a quantidade de alunos e/ou localização do terreno. No plano proposto pelo grupo foram apontadas quatro unidades da escola, e nesse memorial será detalhada a unidade JUÇARA, implantada no Quilombo do Campinho da Independência, localizado ás margens da Rodovia Rio Santos na parte sul da cidade.

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Na serra da Bocaina Paraty, peixe do rio da língua tupi-guarani Yvy Mará E’y, a terra sem males. Quando homem branco aqui pisou com sua petulância e prepotência imaginaram que eram os primeiros a reconhecer toda essa magnitude. Mas ali havia um povo, povo conhecedor da natureza, povo de raízes fortes, o povo nativo da terra do bem. Povo forte, povo guerreiro, se fez resistente à astúcia branca. os novos que chegaram, insatisfeitos, foram tirar da carne preta, proveito. Das minas gerais a nova riqueza aparecia ouro dourado ouro roubado.

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Caminhos traçados, rotas erguidas a ambição do crescimento, a riqueza. E o bicho do mato, o homem da terra, guardião da natureza. Precisa de cura, eles disseram tornou-se coadjuvante da própria história. Hoje é sobre protagonismos, é sobre entender raízes percorrer caminhos sobre estreitar laços sentir o chão sentir a paisagem. Não é só sobre beleza é sobre história é sobre luta é sobre o povo.

Confira o vídeo resumo desse trabalho no QR abaixo:

É sobre reconhecer direitos, culturas, lugares e paisagens. Poema de autoria do grupo Para abrir o QR code abra a câmera do seu celular e posicione a imagem acima, abrirá um link encaminhando para o vídeo. TFG 2021

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço aos meus pais Edna e Heleno, por todo o apoio nessa caminhada, por terem adiado seus sonhos para que eu pudesse viver o meu; agradeço à minha irmã Yana, que com seu olhar de arquiteta me estendeu a mão quando achei que não ia conseguir, e que me resgatou na minha maior crise. Agradeço aos amigos que fiz nessa caminhada por todo o aprendizado que colhi, por todos os momentos de alegria e companhia e por todos os lugares que caminhamos juntos. Agradeço aos professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas por todos os ensinamentos, por me mostrarem o verdadeiro papel social do arquiteto, especialmente aos professores que me acompanharam nas bancas de sexta-feira, Helena Cristina Padovani Zanlorenzi, Caio de Souza Ferreira e Claudio Manetti. Agradeço caminhosamente minha orientadora Vanessa Gayego Bello Figueiredo por desde o início acreditar no meu trabalho, por enxergar em mim uma potência que eu mesma não enxergava, e por me mostrar que os desafios nos fazem fortes e diferentes. Agradeço ao meu grupo de TFG, Gabriela Jorge, Lara Arruda Wagner, Larissa Lima, Leonardo Martins e Paloma Rodrigues pelo grande elo formado, pela companhia e pelo desafio que foi trilhar esse ano. Obrigada por tanto, eu sou porque nós somos. Agradeço as professoras Ana Paula Farah e Isabelle Cury por aceitarem o convite para nossa banca final e participarem do fim desse ciclo. Por fim, agradeço aos meus colegas da turma XLIII por todos os momentos compartilhados nesses cinco anos. TFG 2021

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EPÍGRAFE

“Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar.” - Paulo Freire

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CAPÍTULO 1

CONTEXTUALIZAÇÃO

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1. CONTEXTUALIZAÇÃO 1.1 Área de Estudo

Antes de começar a análise do território, primeiramente mostramos nosso respeito a sua história, ao seu povo e a sua natureza.Paraty é um município brasileiro localizado no litoral sul do estado do Rio de Janeiro, distante 258 quilômetros da capital estadual, a cidade do Rio de Janeiro. É marcada pela sua importância na história do processo de formação brasileira, tanto pela sua localização geográfica e pela sua grandeza natural, quanto pela sua diversidade cultural. O município de Paraty apresenta referências culturais materiais e imateriais remanescentes do seu povoamento pré-histórico e de seu histórico colonial, reunidas aos costumes e culturas das populações tradicionais que ainda habitam seu território. A coexistência de diferentes povos no espaço formou paisagens únicas e expressivas, carregadas de significados e história. Na região urbana do município ocorre o entroncamento de grandes rodovias que atravessam Paraty, representando uma barreira socioespacial, bem como o aeroporto e os rios que cruzam a área central, que se encontram negligenciados em detrimento às grandes estruturas ambientais. Além disso, a atividade turística é um grande atrativo para a área urbana de Paraty, que apesar de representar uma importante fonte de renda para a população local, o turismo de massa representa uma grande ameaça ao patrimônio. Porém é notável o baixo incentivo à outras atividades econômicas. Como resultado disso, podemos perceber que a cidade possui uma má distribuição de equipamentos públicos, tais como educação, cultura e lazer, que concentram-se principalmente na região central do município, gerando uma pressão do crescimento urbano sobre a paisagem.

Imagem 01 - Inserção Urbana de Paraty Fonte: Elaborado pela equipe a partir de imagens do Google Earth

Apesar da concentração de equipamentos, o turismo e a valorização imobiliária do centro geram a expulsão da população residente, dificultando o acesso da população de baixa renda às atividades culturais. TFG 2021

Imagem 02 - Inserção Urbana de Paraty Fonte: Elaborado pela equipe a partir de imagens do Google Earth


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A cidade possui uma grande policentralidade cultural, com diversas comunidades coexistindo, comunidades que traçam as características do município a partir das suas particularidades. A população tradicional de Paraty é formada principalmente por 3 grupos distintos (caiçaras, quilombolas e indígenas), mas que em comum, compartilham o uso da terra e do mar como forma subsistência, coexistindo com a natureza de maneira sustentável, e que há muito tempo lutam para garantir o direito a permanecerem nas suas terras. O presente trabalho tem como principal objetivo compreender a diversidade populacional, cultural e social do município de Paraty. representado pelas diversas comunidades: a Civilização Ocidental, marcada pela população residente na área central da cidade; a população Caiçara; os Quilombolas; e os Indígenas.

Imagem 03 - Policentralidade Cultural Fonte: Elaborado pela equipe a partir de imagens do Google Earth

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1.2 Plano Urbano SÍNTESE ANALÍTICA Paraty é uma cidade com uma diversidade cultural muito grande, por isso pode ser considerada policêntrica, pois ela é composta por diferentes centros de diversos tipos de assentamentos humanos: urbano, quilombola, indígena e caiçara. Na região Sul de Paraty é onde esses núcleos estão mais concentrados. Percebe-se que os Caiçaras ocupam a faixa litorânea tendo uma mobilidade um tanto limitada com acesso somente por trilhas ou barco, enquanto que os Quilombolas localizam-se no interior do município próximo a Rodovia Rio Santos, principalmente em áreas rurais; os indígenas por sua vez assentam suas aldeias no interior das matas em regiões de difícil acesso. A mancha urbanizada da cidade concentra-se principalmente em torno da região do Centro Histórico de Paraty, e em uma península localizada no interior da APA de Cairuçu, que trata-se do luxuoso condomínio Laranjeiras construído em meados da década de 70.

Imagem 04 - Síntese Analítica - Sul de Paraty APA Cairuçu Fonte: Elaborado pela equipe

SÍNTESE DIRETRIZES Em primeiro lugar, apoiado nas rotas praticadas pelas comunidades, temos as rotas marítimas que dão lugar à chamada Rota da Saúde, a qual é pensada para levar o atendimento médico e que inclui o projeto de uma Unidade Básica de Saúde marítima, denominada “Água-Sul”, que atenda os moradores que tenham difícil acesso ao Centro de Paraty, como as comunidades Caiçaras, que utilizam somente o transporte marítimo ou trilhas para chegar até o atendimento médico. Também, é proposto a implementação de estruturas de cais para que seja viável o aportamento do “Água-Sul”. Atrelado à primeira questão, foi também proposto helipontos distintos que pudessem atender a essas situações emergenciais, promovendo igualmente um heliponto principalmente no Centro para receber essas situações de riscos. Além disso, é determinado também, a previsão de energia elétrica sustentável fotovoltaica para as comunidades tradicionais. Com relação às rotas terrestres, entende-se que as trilhas são essenciais para proteção das comunidades tradicionais, evitando que vias e rodovias adentrem os espaços que são mais vulneráveis. Logo, é apresentado o Ecomuseu Permanente de Percurso, o qual atravessa as Unidades de Conservação e também requalifica as trilhas existentes, aliando a preservação ambiental ao desenvolvimento sustentável, através do ecoturismo comunitário. TFG 2021

Imagem 05 - Diretrizes Fonte: Elaborado pela equipe


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O plano urbano descrito no trabalho Paraty, pedaço de Brasil: paisagem cultural de todos os povos, realizado pela equipe, objetiva a valorização e a requalificação dos espaços e das comunidades que a cidade de Paraty abriga. Busca evidenciar sua policentralidade e resgatar, em cada canto do município, aquilo que tem de melhor. Esse trabalho enfatiza o povo, os desenhos da história e a paisagem cultural. O plano é composto por oito projetos estratégicos embasados nas premissas do turismo de base comunitária, da sustentabilidade e da preservação cultural. Os projetos estratégicos são: 1- Projeto Orla e Ecovilas; 2- Parque Linear e Centro de Interpretação Patrimonial; 3- Ecobairro Dom João Henrique; 4- Zona de Preservação da Paisagem Cultural da Cachaça; 5- Aldeira Guarani Araponga; 6- Quilombo do Campinho; 7- Praia do Sono; 8- Projeto Escolas Paraty A partir das propostas do projeto urbano, o Projeto Escolas Paraty nasce, constituindo um conjunto de escolas modulares construídas a partir da utilização de técnicas tradicionais. Esse projeto, além de enfatizar a necessidade da universalização da educação local, é um protesto contra o desmonte da educação brasileira. TFG 2021

Imagem 06 - Projetos Estratégicos Fonte: Elaborado pela equipe

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CAPÍTULO 2

ANÁLISE DO TEMA

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2. SOBRE O TEMA 2.1 Arquitetura Modular

O conceito de arquitetura modular está ligado ao desenvolvimento arquitetônico a partir de um módulo pré definido. Dessa forma, a modulação pode partir de um determinado sistema construtivo, uma medida base ou um material específico, de acordo com a intenção projetual. O desenvolvimento da arquitetura modular segue premissas como a rapidez na instalação, a redução de resíduos quando comparada ao sistema tradicional de construção civil, a versatilidade dos espaços podendo abrigar diversos usos, a facilidade na instalação devido a padronização dos materiais pré-fabricados ou padrões pré-definidos e como resultado a otimização dos processos construtivos. Atualmente, com a crescente demanda por uma tipologia construtiva ágil e sustentável, a arquitetura modular vem ganhando expressividade no mundo. Assim, com a utilização de módulos pré-fabricados que podem ser desenvolvidos a partir de diferentes materiais como a madeira, o aço, o light steel frame, entre outros; a aplicação da tecnologia industrial na construção civil se torna realidade. Dessa forma, é possível reduzir os erros, otimizar o tempo de construção e produzir uma arquitetura de qualidade e versátil. A arquitetura modular abrange projeto de diferentes escalas, como residências, escolas, hospitais, abrigos temporários. Fonte: SAAR, Isabela. O Que é Arquitetura Modular: Como Projetar?, Projetou Blog.

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Imagem 07 - Possibilidades de modulação Fonte: Pavilhão Nuvem ArcelorMittal na Casacor MG 2018, possibilidades de modulação, Belo Horizonte MG Brasil, 2018. Arquitetos Rafael Gil, Carolina Miguez, Filipe Silva Gonçalves e Marcos Vinicius Lourenço / Arquitetos Associados


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2.2 Permacultura e Sustentabilidade

A permacultura consiste no planejamento e execução de ocupações humanas sustentáveis, unindo práticas ancestrais aos modernos conhecimentos das áreas, principalmente, de ciências agrárias, engenharias, arquitetura e ciências sociais, todas abordadas sob a ótica da ecologia. Segundo Bill Mollison, a Permacultura consiste na “elaboração, implantação e manutenção de ecossistemas produtivos que mantenham a diversidade, a resiliência, e a estabilidade dos ecossistemas naturais, promovendo energia, moradia e alimentação humana de forma harmoniosa com o ambiente” (Bill Mollison, 1999).

A permacultura é uma filosofia de trabalhar com, e não contra a natureza; de observação prolongada e pensativa em vez de trabalho impensado, e de olhar para plantas e animais em todas as suas funções, em vez de tratar qualquer área como um sistema único. — Bill Mollison.

Independente do ponto de vista escolhido acerca do tema, é necessário ressaltar a distância atual na cultura capitalista entre natureza e humanidade presente na forma das ações. O humano, dessa sociedade, produz, cria e constrói em uma busca constante da produtividade máxima, do lucro máximo. Dessa forma, ele se distancia do sistema complexo e auto regulador que a natureza pré-dispõe e que não preza pela produtividade máxima, mas sim pelo equilíbrio total. Esse sistema é a soma de diversos ciclos naturais, como o das águas, do carbono, do oxigênio, da cadeia alimentar, entre outros, nos quais o humano interfere e rompe. (TRIPOLI, Luiza. O que podemos aprender com as cozinhas das ecovilas. Archdaily,2021. Acesso em 11.11.21) TFG 2021

Imagem 08 - Diagrama dos ciclos naturais Fonte: Luiza Tripoli, 2021.

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2.3 Soluções Baseadas na Natureza (SBN)

As Soluções Baseadas na Natureza (SBN) constituem medidas inspiradas, Esse projeto tem como premissa assumir em sua totalidade soluções baapoiadas ou copiadas da natureza, que visam atender simultaneamente objetivos seadas na natureza, a fim de contribuir da maneira mais harmônica social e ambientais, econômicos e sociais. ambientalmente. Um exemplo são as ações de proteção, recuperação ou manejo de ecossistemas que reduzem os custos com o tratamento de água, minimizam os impactos das enchentes e das secas e proporcionam, simultaneamente, o bem-estar humano e benefícios à biodiversidade. (INEA, 2021)

Imagem 09 - 13 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da ONU Fonte: ONU Brasil

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2.4 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS) A ONU e seus parceiros no Brasil estão trabalhando para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. São 17 objetivos ambiciosos e interconectados que abordam os principais desafios de desenvolvimento enfrentados por pessoas no Brasil e no mundo. Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são um apelo global à ação para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir que as pessoas, em todos os lugares, possam desfrutar de paz e de prosperidade. Estes são os objetivos para os quais as Nações Unidas estão contribuindo a fim de que possamos atingir a Agenda 2030 no Brasil. (ONU BRASIL) Tanto o plano urbano e o projeto das Escolas Paraty estão de acordo com esses objetivos.

Imagem 10 - 13 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável da ONU Fonte: ONU Brasil

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2.5 Escolas Modulares

As escolas modulares aparecem como uma solução para uma construção rápida e passível de expansão, o que contribui p resolver o déficit educacional nas cidades brasileiras. Aqui traremos o exemplo da ESCOLA M3 ,uma proposta modular, flexível e sustentável para as áreas rurais da Colômbia. A Escola M3 do escritório M3H1 Arquitectura, é uma resposta arquitetônica às necessidades da fundação Escuela Nueva en las zonas rurales de Colombia. Adotando as bases do concurso “Premio Corona Pro Hábitat 2013: Escuelas rurales para Colombia”, a Escola M3 se coloca como um projeto que, mediante pequenas modificações, pode se adaptar tanto às condições climáticas quanto a situações de desastres naturais em diversas regiões rurais da Colômbia. Além disso, o sistema modular apresentado permite infinitas possibilidades de implementação, respondendo, assim, às necessidade sociais de cada local, promovendo a participação de famílias e da comunidade em sua construção, uso e manutenção. A Escola M3 é um “kit” de fácil montagem constituído por um módulo base de 2,5m x 2,5m que cria um módulo “semente” de 5m x 5m, cujo uso será, à princípio, escolar; este é móvel e adaptável, podendo ser usado em composições na cobertura e na fachada, modificando-se em função de cada local onde for implantado. O material de construção da Escola M3 é o bambu: bastante versátil, de baixíssimo custo, abundante na Colômbia e apresenta muitas vantagens quanto à sustentabilidade e reciclagem. Após a implantação, que pode apresentar variações na estrutura de bambu da cobertura, pode-se traçar linhas estruturais de 10m de comprimento por 5 de largura com um número muito reduzido de apoios. Esta característica converte o módulo da Escola M3 em uma plataforma para centenas de usos comunitários. Fonte: Franco, José Tomás. “Escola M3: uma proposta modular, flexível e sustentável para as áreas rurais da Colômbia” [Escuela M3: una propuesta modular fléxible y sustentable para las zonas rurales de Colombia] 30 Nov 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado 29 Nov 2021. Imagem 11 - Desenhos Escola M3 Fonte: M3H1 Arquitectura, Archdaily.

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Imagem 12 - Desenhos Escola M3 Fonte: M3H1 Arquitectura, Archdaily.

Imagem 13 - Desenhos Escola M3 Fonte: M3H1 Arquitectura, Archdaily.

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2.6 Projeto ESCOLAS PARATY

Imagem 14 - Mapa Implantação das Escolas Paraty Fonte: Autoria própria

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As ESCOLAS PARATY são um conjunto de escolas construídas a partir de módulos utilizando técnicas tradicionais como: madeira, tijolo de barro e palha. A partir de um raciocínio industrial, mas com bases e técnicas tradicionais, as escolas vão se desenhando conforme a demanda da região/terreno. O sistema de módulos permite diversas possibilidades de implantação conforme as necessidades de cada local. A fim de trazer uma característica comum entre as unidades das Escolas,os módulos se organizam a partir de um pátio central e são identificados por cores nas suas aberturas, cores essas que representam a cidade de paraty e as comunidades que ela abraça. Pretende estar de acordo com os quatro pilares da Educação pela UNESCO, que são: CONHECER FAZER CONVIVER SER

OTIMIZAÇÃO

ADAPTAÇÃO PLANEJAMENTO

MODULAÇÃO

MÓDULO DEFINIDO

+

PERMACULTURA

TRABALHAR COM A NATUREZA

MATERIAS DA NATRUREZA

+ SUSTENTABILIDADE

PRESERVAÇÃO

O projeto Escolas Paraty conta até então com quatro unidades:

1- Unidade ECO, no Ecobairro Paraty; 2- Unidade PRÍNCIPE, no Ecobairro do Príncipe; 3- Unidade JUÇARA, no Quilombo do Campinho da Independência; 4- Unidade PRAIA DO SONO, na Praia do Sono.

“CUIDAR DA TERRA, CUIDAR DAS PESSOAS, CUIDAR DO FUTURO”

Como estudo, nesse memorial será detalhada a unidade JUÇARA, no Quilombo do Campinho da Independência.

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CAPÍTULO 3

PROJETO PILOTO

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3. PROJETO PILOTO 3.1 Partido e Desenvolvimento

Visando um projeto que conversasse com a natureza em sua totalidade, o partido se dá a partir do desenho de uma árvore e o que ela representa. A árvore, assim como um local de ensino, representa o processo, a proteção, o crescimento, a paciência, o florescer. Assim, o desenho surge com a ideia de criar linhas protetoras que se conectam, formando espaços que se abraçam. Dessa forma nascem as coberturas corredores, que se completam módulo a módulo, mantendo sempre uma ligação.

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As coberturas se encontram e se completam criando um grande movimento orgânico que se adapta à sua natureza do entorno. O edifício não está na paisagem, o edifício é a paisagem, e ele é um desenho fiel da natureza que o acolheu.

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3.2 O módulo Palha Santa Fé A última camada da cobertura é feita com a Palha Santa Fé, que aproxima o edifício à natureza. Possui grandes vantagens como ótimo isolamente acústico e térmico, como também possui uma ótima resistência às ações do clima.

Madeira de Eucalipto A madeira utilizada nos pilares, vigas, caibros e ripas são de Eucalipto, madeira versátil e de grande apelo ecológico, já que pode ser plantada em qualquer região. Seu custo baixo também é evidenciado, principalmente para grandes construções.

Bloco de Terra Comprimida O bloco de terra comprimida (BTC) ou mais conhecido como tijolo ecológico, é um tijolo composto por solo (areia arenosa), água, normalmente estabilizado com um pouco de cimento ou cal e comprimido em prensas mecânicas. Usado nas paredes e na parte superior são assentados de maneira vazada para permitir a ventilação cruzada.

Esteira de Bambu A segunda camada da cobertura é feita de esteira de bambu, que traz leveza à estrutura. Possui grande resistência e durabilidade.

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Palha Santa Fé Ripas de Eucalipto (5cm X 10cm)

Manta Isolante Térmica e Acústica Esteira de bambu

Módulo Sala de Aula

Módulo Sanitário

O módulo possui dimensão de 6m X 8m e é múltiplo mínimo para atender todas as demandas do programa (plantas da modulação ao lado). É constituído por pilares e tesouras de madeira e com blocos de terra comprimida nas vedações; forro com estrutura e fechamento também em madeira. Já a cobertura é feita a partir de cinco (5) camadas, sendo elas: ripas, esteira de bambu, manta acústica e térmica, ripas e cobertura de palha santa fé, respectivamente; A dupla camada de ripamento se justifica para a melhor fixação de todas as camadas, facilitando o parafusamento de uma a outra. No meio da cobertura temos uma grande calha que faz a captação da água e cai diretamente nas mini cisternas para reuso. As aberturas são identificadas em cada setor por cores distintas, sendo: Setor Pedagógico na cor AZUL, Setor Administrativo AMARELO, Setor de Serviços VERDE e Setor dos Sanitários VERMELHO. São esquadrias de madeira pintadas com as respectivas cores e as portas com fechamento em esteira de palha. Módulo Serviços

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Módulo Admnistrativo

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CAPÍTULO 4

ESTRUTURA E MATERIALIDADE

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4.1 Desenho da estrutura

Cobertura com estrutura de madeira Eucalipto, com forro de esteira de bambu, manta acústica e térmica e cobertura de palha Santa Fé

Calha

Peça 5

DET. 05

DET. 01 Peça 3

Peça 4 Peça 6

Tesoura de madeira Eucalipto Encaixes tipo sanduíche DET. 02 Peça 7

Parede em alvenaria de tijolos de terra comprimida paginação formando vazios

Peça 2

Forro de madeira DET. 04

Pilar de madeira Eucalipto perfil 20cm X 20cm c/ sulcos para encaixes de peças superiores Parede em alvenaria de tijolos de terra comprimida Base do pilar em chapa metálica tipo cantoneira c/ base encostada na sapata

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DET. 03

DET. 03

Janela camarão com abertura vertical


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DET. 01 4.2 Detalhamento

DET. 04

DET. 02

MEDIDAS EM mm

MEDIDAS EM mm

MEDIDAS EM mm

MEDIDAS EM mm

DET. 01

DET. 02

DET. 04

MEDIDAS EM mm

FECHAMENTO TIJOLOS

PEÇA 04

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0

110

50

200

50

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DET. 02

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MEDIDAS EM mm

ESQUADRIA ESTRUTURA DE APOIO JANELA CAMARÃO

200

200

MEDIDAS EM mm

PEÇA 06

160

50

PEÇA 01

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DET. 01

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200 75 50 75

DET. 05

MEDIDAS EM mm

200 75 50 75

DET. 02

20

0

DET. 05

MEDIDAS EM mm

PEÇA 07

200

200

160

110

50

MEDIDAS EM mm

DET. 05 PALHA SANTA FÉ

PEÇA 01 DET. 03

MEDIDAS EM mm

200

160

200

DET. 02

110

50

DET. 04

RIPAS DE EUCALIPTO 5cm X 10cm DET. 05

MEDIDAS EM mm

MEDIDAS EM mm

PEÇA 08

DET. 04

MANTA TÉRMICA E ACÚSTICA

MEDIDAS EM mm

PEÇA 02

ESTEIRA DE BAMBU DET. 05

MEDIDAS EM mm 200

RIPAS DE EUCALIPTO 5cm X 10cm

50

50

50

DET. 03

200

MEDIDAS EM mm

DET. 04

MEDIDAS EM mm

50

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DET. 03 50

DET. 04

PEÇA 01

MEDIDAS EM mm

200

BASE METÁLICA

200

50

50

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O sistema estrutural se baseia em encaixes de madeira, onde peças primárias (como o pilar) que, através de seus rasgos servem de apoio para fixação de peças secundárias a partir do parafusamento entre elas. A cobertura é composta por algumas camadas, sendo elas: a tesoura de madeira, ripamento, esteira de bambu, manta térmica e acústica, ripamento e palha santa fé. A dupla camada de ripamento serve para criar uma base firme para o parafusamento de todas as camadas entre si, e a última também tem a função de amarrar a palha. Já na base da estrutura temos um sistema metálico elevado do chão, que abraça o pilar e se liga na fundação tipo sapata.

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50

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CAPÍTULO 5

IMPLANTAÇÃO -

Quilombo do Campinho da Independência

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5.1 Unidade JUÇARA

O consumo dos frutos da Juçara – palmeira típica da Mata Atlântica – têm ajudado a salvá-la da extinção. O risco chegou quando o palmito dessa árvore passou a ser extraído para comercialização em massa. O corte das palmeiras, em larga escala e sem respeito ao ciclo da planta, trouxe a ameaça para a espécie. Na organização do Quilombo do Campinho da Independência, há os coletores, que sobem nas palmeiras para pegar os cachos e selecionam os bons frutos; e os despolpadores, que extraem a polpa. Os frutos que não rendem polpa são lançados de volta na mata para gerar novas árvores. As sementes também retornam à terra, alimentando o ciclo natural da espécie, e a juçara permanece integrada à vida da comunidade. A polpa da Juçara é agroecológica, dá todo ano e permite que os jovens tenham renda, assim não precisam sair da comunidade para trabalhar; além disso eles levam para casa o produto natural, sabem o que estão consumindo e de onde vem o alimento. Por representar algo tão importante para o Quilombo do Campinho da Independência, por reforçar o protagonismo feminino na colheita, e por fazer parte da base econômica da comunidade, essa unidade da Escola Paraty recebe o nome JUÇARA.

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5. IMPLANTAÇÃO 5.2 História do Quilombo do Campinho da Independência

A comunidade do Quilombo do Campinho da Independência, situada em Paraty, no Estado do Rio de Janeiro, registrada em 1999, titulada em 2000 e certificada em 2013 pela Fundação Cultural dos Palmares, ocupa uma área de 287,9461 hectares (BRASIL, 2013). Vivem lá, atualmente, 150 famílias, com uma população de 550 pessoas, em sua maior parte crianças e jovens, que se organizam em 13 núcleos familiares, nos quais a célula principal é a casa do homem mais velho. No entorno dessa casa vivem os filhos e netos. Todos os moradores quilombolas da comunidade descendem de três mulheres, Vovó Antonica, Tia Marcelina e Tia Maria Luiza que, com base no regime matriarcal, desde o século XIX conduziram o desenvolvimento local. (BARROS, Ana Fiorim, 2017). O Campinho está localizado na região que hoje abrange outras três comunidades quilombolas – Cabral, Camburi e Fazenda. Por não ter havido, inicialmente, distinção entre elas, há parentesco entre os moradores de todas as três, bem como relação de identidade sociocultural. A movimentação comunitária para que ocorresse a demarcação das terras teve seu ponto alto com os conflitos gerados pela especulação imobiliária, de 1970 a 1973, durante a construção do trecho da Rodovia Rio- Santos (BR-101), cujo recorte se deu, em parte, nas terras da comunidade do Campinho. Autorizada por Castelo Branco, em 1967, sua construção justifica-se em nome do “desenvolvimento e progresso da região” (GUSMÃO, 1995, p. 121). E trouxe a facilitação do acesso à comunidade, o que foi impactante devido às rápidas transformações que ocorreram no contato com outras cidades e populações. Na ocasião, os moradores do Campinho deixaram de viver da agricultura familiar para procurar emprego no centro de Paraty, como trabalhadores temporários, sem garantias trabalhistas (CARVALHO; MAROUN; OLIVEIRA, 2013,p. 119).

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Imagem 15 - Quilombo do Campinho Fonte: Guilherme Jr. /União Campo Cidade e Floresta, 2014. Disponível em: < https://uniaocampocidadeefloresta.wordpress.com/2014/03/15/quilombo-campinho-da-independencia-resiste-a-especulacao-imobiliaria-da-costa-verde-por-guilherme-jr/> Acesso em 11.08.21


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Ao longo de quase todo o século XIX, a comunidade viveu tranqüilamente da agricultura, caça e extrativismo. Atualmente os moradores de Campinho não realizam mais a caça nem a coleta nas matas ao redor da comunidade. As atividades produtivas da comunidade são a agricultura e o artesanato. As principais plantações são as de mandioca (utilizada para fazer farinha) e cana-de-açúcar (utilizada nos engenhos de cachaça). Além disso, são também plantados o feijão, o arroz e o milho.

Imagem 16 - Artesanato no Quilombo do Campinho Fonte: Murilo Toledo, 2017

O artesanato, feito com taboa, taquara e cipó, é produzido basicamente para a comercialização. Em 2001 foi construída uma casa de artesanato, onde o trabalho fica exposto para venda. A comunidade também desenvolve um programa que denomina de turismo étnico. A comunidade mantém um sítio eletrônico com informações para turistas, onde são anunciadas as diversas atividades realizadas no local, como trilhas ecológicas e apresentações de danças típicas. A comunidade dispõe também de uma pousada para os visitantes. (ICM Bio) No entanto, muitos moradores ainda continuam tendo que trabalhar nos condomínios de alto padrão localizados próximos à comunidade para completar a renda familiar. As mulheres costumam trabalhar como empregadas domésticas e os homens como caseiros. Assim, o maior desafio dos quilombolas de Campinho é a busca de alternativas de geração de renda que possam ser desenvolvidas no seu próprio território. É para isso que a Associação de Moradores de Campinho vem lutando.

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Imagem 17 - Colheita da Juçara Fonte: Eduardo Di Napoli, 2017

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5.3 A luta pela educação diferenciada

A educação e saúde estão sempre na mira dos quilombolas. Desde 2008, a comunidade vem conquistando avanços na qualidade de vida, a exemplo de saneamento básico, acesso ao Programa de Saúde da Família e à educação, com a Escola Municipal Campinho. Mas uma das lutas atuais da Associação de Moradores é por uma educação diferenciada. Segundo seu presidente Vaguinho, “a escola convencional, com seu modelo de ensino de quinhentos anos, não atende a nossa demanda. É tradicional, deficiente, conservadora, careta… A gente trabalha para quebrar isso e efetivar como política pública essa educação diferenciada na qual acreditamos, baseada no nosso modelo de convívio. Por sermos ponto de cultura desde 2005, já tentamos introduzir no currículo da escola o Jongo, a Capoeira de Angola, a cestaria, o griô, como valorização dos saberes dos mais velhos.” O ônibus escolar leva ao Campinho diariamente crianças de sete comunidades, algumas bem distantes, atendendo também os alunos da própria comunidade, somando, portanto, oito. Delas, duas, Cabral e Campinho, são quilombolas. A Secretaria Municipal de Paraty distribui os alunos nas escolas conforme as possibilidades de vagas escolares, ano e série. As crianças do Campinho, que terminam lá o 5º ano, precisam deixar a comunidade para estudaremem outros locais, o que acaba não acontecendo. De acordo com alguns relatos, o que ocorre é o desencadeamento de uma significativa evasão escolar.

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Imagem 19 - Encontro da Cultura Negra Fonte: Karen Carvalho, 2018

Imagem 18 - Dança do Jongo - Dia da Consciência Negra Fonte: Rafaela Lopes, 2018

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5.4 Área de Intervenção

200m 5km Imagem 20 - Inserção Urbana Fonte: Google Earth

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Imagem 21 - Inserção Urbana Fonte: Google Earth

Imagem 22 - Inserção Urbana Fonte: Google Earth


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50 m

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Cercado por altos montes e com uma topografia característica de fundo de vale, o Quilombo do Campinho da Independência está localizado estrategicamente as margens da rodovia BR 101. Com suas tradições características e cultura bastante presente atraí muitos turistas para o chamado turismo de base comunitária, principalmente para seu restaurante de comidas tradicionais premiado e seu artesanto de taboa. O rio Carapitanga que corta a comunidade e as construções de taipa de mão locais fazem com que a paisagem da comunidade seja inigualável. O terreno escolhido para implantação do projeto fica entre as Rodovias Rio-Santos e a Rodovia Governador Mario Covas, eixos de ligação importantes do Quilombo com o centro do município de Paraty.

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5.5 Planta de Situação

Memorial Campinho

Bar e Camping

Escola

Igreja

Loja

Restaurante

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Os projetos estratégicos da Escola Paraty- unidade JUÇARA e o Memorial Quilombo do Campinho Cultura Afro-brasileira se localizam em terrenos um frente ao outro e são tangenciados pela Rod. Rio-Santos e pela Rod. Gov. Mario Covas. Juntos, eles tem por objetivo fortalecer a cultura quilombola através da educação, dos eventos, do jongo e da capoeira. Pela proximidade, os projetos criam um desenho harmônico entre si a fim de reforçar essa ligação como projetos complementares. O projeto dos espaços livres se integram e junto à vegetação criam uma paisagem limpa e elegante.

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5.6 Concepção

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A concepção do projeto se dá a partir do desejo de criar uma escola com um pátio central, o coração do projeto, de onde surgiriam volumes para compor os espaços e para criar espaços entre, não dentro e não fora, e sim.. o espaço ENTRE. O projeto se comporta como uma escola-pátio, onde seus vértices e eixos criam praças de convívio. É a junção de blocos ortogonais que se dispõem de maneira a criar uma organicidade no ambiente. É orgânico no desenho, no propósito, no jeito da arquitetura se expressar. O desenho objetiva a integração entre interno e externo, se criando a partir das permeabilidades, assim como a natureza, desenvolvendo um espaço interativo e integrativo. A escola não acontece dentro e a natureza fora, elas acontecem juntas, são uma coisa só.

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5.7 Implantação no terreno

Placas Fotovoltaicas

Bacia de Evapotranspiração

Caixa d´agua

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O terreno escolhido para a implantação da unidade JUÇARA é bem plano, com apenas um metro de desnível, dessa forma a diferença de níveis é branda e solucionada com leves rampas e pequenos degraus. A fim de construir um ambiente que se importa com a natureza e com o seu entorno, o programa escolar abrange a Educação Ambiental como um dos seus pilares. Assim, a escola conta com estruturas amigas da natureza e que podem contribuir muito no aprendizado dos alunos. O programa todo é dividido em: INFRAESTRUTURA: Área de locação das placas fotovoltaicas e torre de caixa d’água; EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Horta, Jardim Filtrante, Bacia de Evapotranspiração, Composteira, Pomar e Bosque de Atividades; CULTURA E ESPORTE: Quadra, Anfiteatro e Parquinho

Todas essas estruturas compõem o sistema de espaços livres que junto ao edifício formam a Escola Paraty - JUÇARA. A vegetação escolhida diz muito sobre a vivência do quilombo. Primeiramente temos a Palmeira Juçara, que dá nome a escola, centralizadas nos espaços de união, como no pátio interno e no anfiteatro; no bosque temos uma série de árvores africanas, retomando à ancestralidade quilombola com a árvore Flamboyant, o Dendezeiro e o Tamarindeiro; para marcar a entrada no local temos uma linha de palmeiras Jerivá e uma linha de palmeiras Coco de Pedra que compõem e marcam o eixo de fluxo de entrada; no pomar temos algumas árvores frutíferas para consumo dos próprios usuários. PISOS DE LAJOTAS PIGMENTADAS:

Assim, a escola conta com um sistema de captação pluvial através do caimento das águas das chuvas diretamente num sistema de mini cisternas para reuso na própria escola. Conta ainda com um Jardim Filtrante, que faz o tratamentos das águas cinzas, provenientes das torneiras; e com uma Bacia de Evapotranspiração , que faz o tramamento das águas negras, provenientes das bacias sanitárias;

PLACAS FOTOVOLTAICAS ANFITEATRO QUADRA DE ESPORTES

Por se comportar como uma escola-pátio, não possui limitações concretas no espaço, e para isso o desenho de piso é muito importante, pois cria organicidade no caminhar e a noção de liberdade dos espaços. Não há dentro e fora, apenas os espaços entre. POMAR O módulos desenhados em planta são de extrema ortoganalidade e pousam sobre desenhos de pisos livres, orgânicos e expressivos. Feitos em lajotas de barro de diversas tonalidades e diferentes tipos de grama, vão se encontrando e permeando o ambiente. Junto à vegetação criam uma harmonia única, como o Quilombo do Campinho da Indeprendência. Uma escola livre, onde o aprender está para além da sala de aula. COMPOSTEIRA

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PARQUINHO BOSQUE

BACIA DE EVAPORTRANSPIRAÇÃO

GEODÉSICA

JARDIM FILTRANTE HORTA

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5.7.1 Programa de Necessidades

Distribuição dos blocos

O programa de necessidades da Escola Paraty- Unidade JUÇARA se organiza no terreno em quatro blocos tipológicos, sendo eles: dois blocos pedagógicos, um bloco de serviços e um bloco administrativo, todos dispostos ao redor de um pátio central. Junto ao programa do edifício, a escola conta com equipamentos que visem a sua autossustentabilidade, ou seja, um local que tem como princípio o desenvolvimento social em harmonia com a conservação ambiental. Além do programa de educação tradicional proposto pelo Ministério da Educação no país todo, a unidade conta com os saberes da Educação Ambiental e Educação Quilombola. A fim de recuperar a ancestralidade que, por vezes, a escola distorce e resume à escravidão, as comunidades quilombolas começaram, por volta de 1980, a se organizar em prol de uma educação quilombola. Desde então, foram instituídas legislações para respaldar a garantia da educação dos quilombolas, como a Lei Nº. 10639 (2003), que tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais (2007) e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola (2012). (MATUOKA, Ingrid. A educação quilombola como resistência de suas comunidades e culturas. Centro de Referências em Educação Ambiental, 2018.

Bloco Administrativo

Bloco de Serviços

Bloco Pedagógico

Serviços: Cozinha, Despensa e Lavanderia, Cantina, Sanitários Pedagógico: Salas de Aula, Sala Aberta, Salas Multiuso, Sala de Música + Jongo Administrativo: Diretoria, Secretaria e Sala dos Professores

Fluxo de pessoas

Mais do que o ensino curricular, a escola preza pela valorização e preservação da cultura e identidade quilombola. A união da Educação Quilombola e da Educação Ambiental cria um vínculo entre a abordagem dos saberes tradicionais, do contato com a natureza e o desenvolvimento humano. SABERES TRADICIONAIS

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Legenda

FORMAÇÃO HUMANA

Fluxo cruzando o pátio interno (entre os blocos) Fluxos sob os corredores cobertos (em volta dos blocos)

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5.7.2 Planta

entrada

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5.7.3 Cortes

CORTE AA

CORTE BB TFG 2021


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Nesses cortes podemos observar a relação entre os blocos e o sistema de espaços livres, onde temos o pátio central que organiza e unifica o programa. O ponto central do partido do projeto são os corredores que a cobertura do módulo cria, e como a junção entre eles forma a conexão dos blocos e a circulação entre eles. Em corte a escola se integra a natureza, se mimetizando nela e a compondo. Nas bordas das coberturas tem as mini cisternas que vão recolher toda a água pluvial vinda da calha central para reuso (será detalhada mais para frente). A cobertura funciona como “asa”, um elemento leve que garante proteção e unidade ao projeto. Sua leveza se junta com o desenho das árvores. Por se tratar de uma área da Mata Atlântica, de clima tropical úmido, tinha -se como premissa de projeto buscar a ventilação cruzada como foco do desenho dos módulos, já que é um sistema que permite trocas de ar dentro do edifício, renovando-o e diminuindo consideravelmente a temperatura interna. Nada mais racional que utilizar o vento, um recurso natural, gratuito, renovável e saudável, para melhorar o conforto térmico do projeto. Assim, na parte superior das paredes, foi utilizada uma paginação de tijolos de terra comprimida que cria vãos para esse ar passar de todos os lados. Junto a esse mecanismo temos as aberturas (janelas camarão verticais) dispostas paralelamente para também auxiliar nessa troca de ventos. Outro ponto importante é indicar que as vedações laterais estão recuadas da estrutura de madeira, formando bancos dos dois lados virados para o pátio central e corredores. Assim, o módulo em sua totalidade é usado, dentro para o uso das aulas, nos corredores para circulação e permanência nos bancos.

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5.7.4 Elevações

parede de bambu

tijolos de barro

ELEVAÇÃO NORTE

palha santa fé

tijolos de barro

ELEVAÇÃO SUL

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Alvenaria de tijolos de terra comprimida (paredes internas e externas)

Estrutura em madeira Eucalipto

ELEVAÇÃO OESTE

Palha Santa Fé na cobertura

Esteira de palha nas portas

ELEVAÇÃO LESTE Parede de bambus na sala aberta

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5.7.5 Incidência Solar + Ventos Predominantes + Captação de Água

No desenho ao lado podemos ver o sistema de incidência solar e sua relação com o edifício em questão, que com a ajuda dos grandes beirais auxilia no controle da incidência solar dentro dos ambientes, trazendo luz e controle de temperatura da maneira correta. Os ventos predominantes fazem o sentido sul-norte, e para o aproveitamento desse vento o projeto conta com a parte superior das paredes feitas de tijolos de terra comprimida assentados criando vãos, por onde se dá a ventilação cruzada. A captação das águas pluviais é o grande partido do projeto das escolas, quem contam com grandes calhas no meio de seus blocos, que recolhem o fluxo que desce das duas grandes águas que fazem a cobertura. Esse fluxo de água cai diretamente em mini cisternas postas dos dois lados das calhas. Antes de entrar na mini cisterna, a água passa por um filtro auto-limpante que vai reter as macro impurezas como galhos e folhas; Assim, a água passa por um redutor de turbulência a fim de evitar possíveis materiais decantados no fundo do equipamento. Caso a cisterna fique muito cheia, há um cano tipo “ladrão” que joga o excesso de água para fora. Para o reuso da água, na mini cisterna tem uma torneira na parte inferior, onde pode se instalar uma torneira ou mesmo pegá-la com o uso de um balde. Fonte: Casológica.org TFG 2021

Filtro auto-limpante “Ladrão”

Torneira


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5.7.6 Bacia de Evapotranpiração a água na bacia evapora pela transpiração das folhas das plantas

terra água negra entra na Bacia e alimenta as raízes das plantas

areia brita tijolo/entulho

A bacia de evapotranspiração – BET é uma técnica difundida por permacultores de diversas nacionalidades e representa uma alternativa sustentável para o tratamento domiciliar de águas negras em zonas urbanas e periurbanas. Consiste de um sistema fechado que transforma os resíduos humanos em nutrientes e que trata, de forma limpa e ecológica, a água envolvida. Diferente de outros sistemas, a água presente neste processo retorna ao ambiente na forma de vapor através da transpiração das folhas, daí seu nome. O sistema de evapotranspiração é basicamente uma trincheira impermeabilizada com concreto magro ao fundo e nas paredes. A base impermeabilizada é forrada por uma camada de entulho de obras e assentada sobre a base está uma série de pneus alinhados. O encanamento de esgoto (do tipo águas negras) é destinado para dentro desse tubo formado por pneus, onde acontece a digestão anaeróbica do efluente, que escorre pelos os espaços entre pneus. No fundo vêm os grandes fragmentos de tijolos, telhas e pedras. Acima vêm as pedras e cacos pequenos, britas, cascalhos e seixos. Em seguida, areia com cascalho e por sobre tudo, o solo devidamente coberto por matéria orgânica. Neles são introduzidas plantas que consumirão os nutrientes. No sistema são plantadas bananeiras e inhame, neste primeiro momento. São indicadas espécies com raízes rasas e folhas largas que permitam a transpiração do solo úmido. Fonte: Bacia de Evapotranspiração, Sítio Alto Paraíso, 2014.

dutos de inspeção pneus Imagem 23 - Bacia de Evapotranspiração Fonte: Bacia de Evapotranspiração, Sítio Alto Paraíso, 2014.

5.7.7 Jardim Filtrante O Jardim Filtrante é composto de um pequeno lago com pedras, areia e plantas aquáticas onde o esgoto é tratado. Sua manutenção é muito simples, contribui com a sustentabilidade do meio ambiente e ainda traz harmonia paisagística. É uma alternativa para dar destino adequado ao esgoto proveniente de pias, tanques e chuveiros, ricos em sabões, detergentes, resto de alimentos e gorduras - a chamada “água cinza”. Em algumas décadas a água doce será um recurso natural escasso e disputado, daí a importância da reutilização da água cinza, que possui diversas aplicações: irrigação da horta, lavagem dos pisos e janelas, uso no vaso sanitário, entre outras. Porém, caso não haja interesse na reutilização da água cinza, ao menos, ao passar pelo Jardim Filtrante, ela estará livre de contaminantes e poderá ser descartada de maneira adequada no meio ambiente. Fonte: Agricultura Inteligente Saneamento Básico Rural - Embrapa

Imagem 24 - Jardim Filtrante Fonte: Valentim Monzane

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5.7.8 Maquete Eletrônica

Nessa primeira imagem vemos o pátio central unindo os blocos e ali no meio o jardim com a palmeira Juçara, que da nome a unidade. O desenho de piso com suas cores traz alegria e unidade ao edifício, já que ele permeia dentro e fora dos ambientes. Vemos também a relação do edifício com o seu entorno imediato, que desenha uma linha de natureza. Vemos que não há limitação entre o fora e dentro do edifício.

Vista pátio central Aqui vemos a sala aberta, disposta em frente ao jardim da Juçara e como elas se relacionam. Nessa sala acontecem diversas atividades mais livres em que o contato imediato com o pátio e o jardim são importantes para a vivência das experiências.

Vista pátio interno para sala aberta TFG 2021


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Por abranger no seu programa a ideia da Educação Ambiental como ponto fundamental para a formação humana dos estudantes do Quilombo, vemos a horta, de cultivo e uso próprio da escola; vemos ali ao lado a Bacia de Evapotranspiração, que faz o tratamento das águas negras, e ao lado a composteira. Ao fundo vemos o pomar e o bosque de atividades, que compõem o sistema de espaços livres. O bloco que aparece é o bloco de serviços que está bem em frente a entrada de serviços, por onde se dá o descarregamento dos insumos.

Vista da horta para o pomar Aqui vemos o bloco de serviços e como ele se junta com o bloco pedagógico paralelo a ele. Ao lado temos o bosque de atividades e ao fundo o parquinho infantil que evidenciam como os diferentes pisos formam as praças laterais. A caixa pintada de verde é a mini cisterna.

Vista para o bosque e corredor interno TFG 2021

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Nessa imagem temos a vista do anfiteatro para o pátio externo, que se localiza em frente a entrada principal da escola. Vemos a integração do bloco administrativo (de aberturas amarelas), com o bloco pedagógico lateral. A vegetação completa a paisagem e cria uma relação harmônica com os espaços livres e o edifício.

Vista do anfiteatro para o pátio externo Como dito anteriormente, o terreno da escola possui uma declividade muito pequena, de apenas um metro, e na imagem ao lado vemos a área de cota mais baixa do terreno, que foi solucinada com degraus e rampas muito brandas que acompanham o desenho de piso. Temos a vista dos fundos do bloco pedagógico do sul, do jardim filtrante, da horta e ao fundo a torre de caixa d’água.

Vista para o jardim e horta TFG 2021


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Nessa imagem temos a vista a partir da quadra de esportes e arquibancada para o edifício como um todo. Ao meio temos o bloco administrativo e dos lados os blocos pedagógicos. Vemos também como o pequeno desnível foi solucionado com degraus e uma rampa a partir do desenho de piso. Atrás da arquibancada temos uma linha de palmeiras para fazer sombra tanto para quem está assistindo os jogos, quanto para quem está jogando.

Vista da quadra de esportes para o edifício

Aqui uma outra vista do jardim dos fundos olhando para o anfiteatro e para a quadra de esportes. Conta com uma geodésica para atividades.

Vista para anfiteatro e área de esportes TFG 2021

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Entrada

Ao lado temos as vistas sul e norte do edifício e podemos perceber como os blocos se comportam, como as cores de suas aberturas trazem vida e identidade dos seus usos. Vemos também como a diferença de níveis foi solucionada na área mais alta e mais baixa do terreno. Na imagem acima temos a entrada principal da escola, marcada por uma vegetação presente, do lado direito temos as palmeiras Coco de Pedra e do lado esquerdo temos as palmeiras Jerivá.

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Sala de Aula Vista do interior de uma sala de aula, vemos como a parte superior das paredes feita com tijolos vazados permitem a ventilação cruzada. Temos o forro de madeira e também as aberturas de madeira na cor azul.

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A sala aberta é uma sala diferenciada por se tratar de um ambiente sem paredes, um espaço totalmente integrativo, que é vedado por bambus para dar uma noção de abertura para todos os lados. No teto temos tecidos coloridos com grafismos que remetem a cultura quilombola, grafismos que remetem à ancestralidade.


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Sanitário O sanitário, representado pela cor vermelha é disposto por cabines individuais e uma bancada com cubas na frente. Ao fundo vemos a porta que dá acesso à cabine PNE.

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A sala representada acima faz parte do bloco administrativo, que possui meio bloco que engloba a secretaria e diretoria, e um bloco que abriga a sala dos professores.


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Cozinha Vista interna da cozinha, que faz parte do bloco de serviços. Na parede atrás da geladeira temos a despensa e a lavanderia. Essa cozinha possui o tamanho suficiente para atender as necessidades e quantidade dos alunos do Quilombo do Campinho.

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Vista do refeitório, disposto ao lado da cozinha, que junto à ela compõe o bloco de serviços representado pela cor verde. As portas desse ambiente são maiores e são do sistema de correr, permitindo sua total abertura na hora da merenda.

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Sala de Música/ Jongo A sala de música/jongo é composta por dois módulos por ter que comportar vários instrumentos e espaço para a dança. É nesse ambiente que os alunos vão poder se conectar com suas raízes, já que o JONGO é uma dança e gênero musical das comunidades negras do sudeste do Brasil . Originou-se das danças executadas por escravos que trabalhavam em fazendas de café no Vale do Paraíba, entre Rio de Janeiro e São Paulo, e também em fazendas em algumas áreas de Minas Gerais e Espírito Santo. Jongo faz parte de um grupo maior de danças afro-brasileiras, como o batuque , o tambor de crioula e o zambê , que apresentam muitos elementos em comum, incluindo o uso de tambores afinados.

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A imagem acima é de uma sala multiuso, onde pode ocorrer diversas atividades. O mobiliário pode ser removido ou deslocado conforme a necessidade.

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6.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso muito para ser muito.” - Lina Bo Bardi

Em toda a trajeitória da graduação somo induzidos a sermos grandes, a termos um pensamento monumental e a projetarmos monumentos. Aí nos enganamos, nos perdemos nos sentidos e esquecemos da função principal da arquitetura: ser simples. A grandiosidade da arquitetura está na sua simplicidade, está no seu propósito. Com esse projeto aprendi a ser simples. Aprendi que não preciso desenhar uma grande caixa modernista para a minha arquitetura valer. Eu sou simples, minha raiz é simples. Aqui encerro, sem concretudes, mas com uma grande bagagem de questionamentos, esses que me movem à caminho da simplicidade.

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7.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS The Mwabwindo School / Selldorf Architects” 25 de março de 2020. ArchDaily . Acessado em 30 de novembro de 2021 . <https://www.archdaily.com/936240/the-mwabwindo-school-selldorf-architects> ISSN 0719-8884 José Tomás Franco. “Reinventando as práticas construtivas locais: Centro Comunitário Thon Mun no Camboja” 14 de abril de 2014. Plataforma Arquitectura . Acessado em 30 de novembro de 2021 . https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/02-352467/reinventando-las-practicas-locales-de-construccion-centro-comunitario-thon-mun-en-camboya “Terraza Chapultepec / PALMA” [Terraza Chapultepec / PALMA] 12 dez 2016. Plataforma Arquitectura . Acessado em 30 de novembro de 2021 . <https://www.plataformaarquitectura. cl/cl/801103/terraza-chapultepec-palma-estudio> ISSN 0719-8914 Dejtiar, Fabian. “50 Detalhes construtivos de arquitetura em madeira” [50 Detalles constructivos de arquitectura en madera] 03 Jun 2019. ArchDaily Brasil. (Trad. Delaqua, Victor) Acessado 30 Nov 2021. <https://www.archdaily.com.br/br/800549/50-detalhes-construtivos-de-arquitetura-em-madeira> ISSN 0719-8906 SAAR, Isabela. O Que é Arquitetura Modular: Como Projetar?, Projetou Blog. TRIPOLI, Luiza. O que podemos aprender com as cozinhas das ecovilas. Archdaily,2021. Acesso em 11.11.21) Franco, José Tomás. “Escola M3: uma proposta modular, flexível e sustentável para as áreas rurais da Colômbia” [Escuela M3: una propuesta modular fléxible y sustentable para las zonas rurales de Colombia] 30 Nov 2013. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado 29 Nov 2021. BARROS, Ana Fiorim. Defesa da terra por uma comunidade e uma escola sem muros: Educação e cultura quilombolas no Campinho da Independência – Paraty, RJ / Ana Fiorim Barros. – 2017. GUSMÃO, 1995, p. 121 SOUZA, Barbara Oliveira – UNB. Texto: Movimento Quilombola: Reflexões sobre seus aspectos político-organizativos e identitários. VIEIRA, Itamar. BET- Bacia de Evapotranspiração. Setelombas Itamar Vieira.05/2020

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