Evolução dos conhecimentos

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Fundamentos de Metodologia

Odília Fachin

5º Edição (rev. e atual.)|2009|


Fundamentos de Metodologia Odília Fachin Mestre e doutora em Ciências Sociais, professora de Metodologia Científica e nas diversas áreas de Metodologia de pesquisa aplicada às Ciências Humanas, nos cursos de graduação e de pósgraduação em instituições de educação superior localizadas em Riberão Preto e região.


Fundamentos de Metodologia Odília Fachin Este livro é próprio para a iniciação da pesquisa científica, para o desenvolvimento de monografias, dissertações e teses e, sobretudo, para a qualificação dos pesquisadores, de modo a tornarem-se novos cientistas. Apresenta uma visão sistematizada da obra nesta área específica, usando uma linguagem simples e acessível, pois foi redigido tendo em vista as necessidades dos educandos, levando em consideração a profunda experiência didática e de pesquisa da autora neste ramo do saber. Além disso, as demonstrações da utilização dos métodos apreendidos são realizadas rapidamente, mostrando-se eficazes na prática. Serve também como guia didático aos educadores universitários, promovendo o estudo e a pesquisa científica em nível interdisciplinar.


Capítulo 1 Evolução dos conhecimentos

Capítulo 1

Evolução dos conhecimentos


Capítulo 1 Evolução dos conhecimentos

1.1 TIPOS DE CONHECIMENTO 1.1.1 Conhecimento filosófico • A filosofia teve seu início na Jônia, Ásia Menor, com Tales de Mileto, e na Magna Grécia, sul da Itália, no século VI a.C. • Tiveram grande destaque:  Sócrates (por volta de 469-399 a.C.)  Platão (mais ou menos 427-347 a.C.)  Aristóteles (por volta de 384-322 a.C.) • Em filosofia, duas fases conduzem à reflexão:  Realismo - tem como ponto de partida os objetos reais;  Idealismo - tem como ponto de partida as idéias.


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• O idealismo, proposto por Descartes, faz as seguintes colocações: a) o imanente do conhecer – a razão para conhecer não pode sair de si para vagar nas coisas, não tem mais do que as aparências de demonstração; b) a crítica das noções de substância e de matéria – todo real se reduz a fenômenos, os quais nada mais são do que idéias. • O realismo faz os seguintes enunciados: a) o objeto da inteligência, afirmando a realidade objetiva do ser, é a ordenação essencial da inteligência ao conhecimento do ser, sendo que o realismo existe, de início, para que o objeto da inteligência seja realmente a universidade do ser. b) observando os limites efetivos da razão humana, conclui-se que nossa inteligência é condicionada em seu exercício por órgãos corporais; o realismo não conseguiria esquecer os limites efetivos de nosso conhecimento, limitado por um máximo e por mínimo.


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• O conhecimento filosófico conduz à reflexão crítica sobre os fenômenos e possibilita informações coerentes. • Seu objetivo é o desenvolvimento funcional da mente, procurando educar o raciocínio. • Oferece seus princípios às ciências de todas as áreas do saber, enquanto o conhecimento científico oferece à filosofia novos dados, capazes de transformar e reformular os princípios gerais, tornando-os passíveis de novas descobertas. • Existe uma profunda interdependência entre o conhecimento filosófico e os demais conhecimentos, como o científico, o teológico e o empírico.


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1.1.2 Conhecimento teológico • O conhecimento teológico é produto do intelecto do ser humano, o qual recai sobre a fé; provém das revelações do mistério oculto ou do sobrenatural, que são interpretadas como mensagens ou manifestações divinas. • Apresenta respostas para as questões que o ser humano não pode responder com os demais conhecimentos (filosófico, empírico ou científico). • Está ligado à fé. • A fé é a vida do homem em suas relações sobre-humanas, ou seja, a vida do homem em relação ao poder de Deus, que o criou. • A fé manifesta-se por meio da capacidade que a pessoa possui para pensar, sentir e querer.


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1.1.3 Conhecimento empírico • O conhecimento empírico é adquirido independentemente de estudos, pesquisas, reflexões ou aplicações de métodos. • É um conhecimento que se adquire na vida cotidiana e, muitas vezes, ao acaso, fundamentado apenas em experiências vivenciadas ou transmitidas de uma pessoa para outra, fazendo parte das antigas tradições. • Por ser um conhecimento do dia-a-dia e preso a convicções pessoais, passa a ser, muitas vezes, incoerente e até impreciso. • Outras vezes, produz crenças arbitrárias com inúmeras interpretações para a complexidade dos fatos. • É considerado prático, pois sua ação se processa segundo os conhecimentos adquiridos nas ações anteriores, sem nenhuma relação científica, metódica ou teórica. • É a estrutura para se chegar ao conhecimento científico; embora de nível inferior, não deve ser menosprezado.


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1.1.4 Conhecimento científico • O conhecimento científico pressupõe aprendizagem superior. • Por meio da classificação, da comparação, da aplicação dos métodos, da análise e síntese, o pesquisador extrai do contexto social, ou do universo, princípios e leis que estruturam um conhecimento rigorosamente válido e universal. • Preocupa-se com a abordagem sistemática dos fenômenos (objetos), tendo em vista seus termos relacionais que implicam noções básicas de causa e efeito. • Prende-se aos fatos, isto é, tem uma referência empírica, e, embora parta deles, transcende-os. • Procura alcançar a verdade dos fatos (objetos), independentemente da escala de valores e das crenças dos cientistas. • Ocorre uma retomada constante de novas descobertas ou ampliações, do passado para o presente, por meio dos procedimentos metodológicos e científicos.


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1.2 CONHECER • Na maneira de adquirir o conhecimento existe uma relação que se estabelece entre o sujeito que se conhece e o objeto cognoscente. • Nos aspectos em que se relacionam conhecimento, sujeito e objeto, figuram as seguintes formas mentais: 1) existência real do sujeito; 2) existência real do objeto; 3) captação real pelo sujeito do objeto; e 4) modelação do objeto pela ação do sujeito. • O conhecimento é uma adequação do sujeito com o objeto; o sujeito tem seus meios de conhecimento e o objeto revela-se a ele conforme tais meios. • Os sentidos nos apontam a maneira de ser das coisas ou objetos, e o que conhecemos das coisas ou objetos vai depender dos nossos sentidos.


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1.3 CIÊNCIA • Seqüência permanente de acréscimos de conhecimentos racionais e verificáveis da realidade. • Em virtude da constante busca da verdade científica efetuada pelo homem, a evolução da ciência tornou-se presente, ampliando, aprofundando, detalhando e, algumas vezes, invadindo conhecimentos anteriores. • A ciência é exata por tempo determinado, até que ela passe por novas transformações, sendo, portanto, falível. • Trata-se de uma busca, uma investigação contínua e incessante de soluções e explicações para os problemas propostos.


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1.4 DIVISÃO DAS CIÊNCIAS AO LONGO DOS TEMPOS 1.4.1 Classificação de Aristóteles • Adotada como critério, finalidade ou fim de cada ciência.

CIÊNCIAS

teóricas

(têm por objetivo o conhecimento puro) física, matemática e metafísica

práticas

(têm por finalidade o comportamento humano) ética, economia e política

poéticas

(têm por objetivo as obras produzidas pelo homem)


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1.4.2 Classificação de Bacon • Francis Bacon, filósofo inglês, classifica-as de acordo com as faculdades humanas exigidas para sua compreensão e para a época.

memorativa ou da memória

CIÊNCIAS

imaginação

história natural, civil e sagrada

poesia épica, dramática e alegórica

Deus

razão filosofia

Homem Natureza


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1.4.3 Classificação de Ampère • Ampère, físico e matemático do século XIX, fez a seguinte classificação:

cosmológicas ou da natureza

CIÊNCIAS noológicas ou do espírito


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1.4.4 Classificação de Augusto Comte • Todas esses ciências deverão ser estudadas de forma positiva, isto é, pela real observação de seus fenômenos e da ordem dos fatos observados. matemática

CIÊNCIAS

por se preocupar com a quantidade, a realidade mais simples e universal de todas

astronomia

estuda a força, o movimento das massas e sua atração

física

preocupa-se com a qualidade, usando também os critérios de quantidade e força

química

estudaria as matérias, suas qualidades, força e quantidade

fisiologia

estudaria a “matéria” organizada e não-inorgânica, como a química; para que se estudasse a fisiologia, entretanto, seriam necessárias outras ciências


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1.4.5 Classificação de Spencer • Herbert Spencer, filósofo inglês que viveu no século XIX, oferece a seguinte classificação das ciências:

abstratas

CIÊNCIAS

abstrato-concretas

concretas

estudam as relações existentes entre os fenômenos: a lógica e a matemática

estudam os fenômenos: mecânica, física e química

tratam dos seres: astronomia, biologia, psicologia


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1.4.6 Classificação de Wundt • Fisiologista e psicólogo alemão do século XIX, Wundt elaborou a seguinte classificação:

formais

estudam as peculiaridades formais dos objetos, a matemática

CIÊNCIAS concretas

baseiam-se no método experimental; subdividem-se em: “ciência da natureza e do espírito”; cada subdivisão se ocuparia da fenomenologia, da sistemática e da genética


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1.4.7 Classificação moderna • A classificação de Aguiar Neto, denominada Conjunto orgânico das ciências, é elaborada da seguinte forma:

exatas

CIÊNCIAS

naturais

humanas

trabalham com as relações de grandeza: a matemática

operam com os dados fornecidos pela natureza: biologia, física e química

tratam do homem, do seu comportamento, de sua vida grupal, de suas produções: psicologia, sociologia, moral, história, estética etc.


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1.4.8 Classificação de Mário Bunge • Esse autor se detém e se preocupa mais com as área relacionadas às ciências sociais. formal

natural

lógica e matemática

física, química, biologia e psicologia individual

CIÊNCIAS factual

cultural

psicologia social, sociologia, economia, ciência política, história material, história das idéias


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1.4.9 Classificação de Eva Maria Lakatos • É uma das mais atuais e muito utilizadas no meio universitário. • As ciências formais constituem o estudo das idéias e as factuais dizem respeito aos fatos.

lógica formais

matemática naturais

CIÊNCIAS

factuais

sociais

física, química, biologia e outras

antropologia cultural, direito, economia, política, psicologia social, sociologia


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1.4.10 Classificação de Odília Fachin • Procurou adaptar outra classificação que abrange um número maior de ciências autônomas, suas subdivisões, e agrupá-las conforme a área do saber. exatas

matemática e lógica

tecnológica

computação

naturais

química, física, biologia etc.

humanas

sociologia, antropologia, política, história, psicologia, economia, educação, ecologia etc.

teóricas

CIÊNCIAS poéticas


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