revista da cultura - literatura indígena

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E D I Ç Ã O

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P U B L I C A Ç Ã O

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L I V R A R I A

C U L T U R A

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CECELIA AHERN MARIA ALICE VERGUEIRO IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO KAT VON D CHARLES GAVIN PINÓQUIO

LITERATURA INDÍGENA A REDESCOBERTA DE UM BRASIL ANCESTRAL

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carta ao leitor

V

ocê provavelmente acaba de abrir a Revista da Cultura e, apesar de estar lendo a primeira página editorial – se não for como eu e tiver a mania de ler revista de trás para a frente –, decerto já percebeu que ela está renovada. Pois é, mudamos para continuarmos os mesmos. Este é um dos princípios da Livraria Cultura. Traduzindo, mudamos o layout, modernizamos a cara da revista, agrupamos as seções de forma diferente e lançamos novas também. Mas mantivemos a qualidade editorial, as reportagens de peso, as entrevistas e, sobretudo, o cuidado mais do que especial com que esta publicação é feita há mais de 20 anos. Isso mesmo, 20 anos, pois tudo começou com o informe mensal Cultura Impressa, que depois virou Cultura News. Em 2007, o veículo cresceu e deu lugar à Revista da Cultura. Agora, a revista não muda de nome, nem de mãos, mas ganha ares mais contemporâneos, sem perder a qualidade do conteúdo, como já disse. A primeira seção será a Culturando, que reúne matérias mais curtas e leves, com assuntos atuais. Na sequência, estão a entrevista principal, a matéria de capa, os artigos, os perfis, enfim, as reportagens mais elaboradas. E na seção Sempre aqui, que finaliza a publicação, estão o Ler para ser, em que nossos clientes contam sobre suas últimas compras, a Agenda de eventos (não todos, pois não teríamos espaço, mas alguns destaques selecionados por nossa redação) e os 10+, outra grande novidade lançada em abril. Com a sugestão de meu amigo e excelente jornalista Matinas Suzuki, elaboramos um gráfico no qual é possível conferir o ranking dos 10 livros de ficção mais vendidos no mês, acompanhando ainda seu desempenho semanal. É possível conferir também os 10 títulos mais vendidos de não-ficção e ficção estrangeira. O passatempo está na última página e ganha nova formatação. A seção Vitrine é dedicada aos anunciantes, que mostram seus lançamentos e suas promoções. Nesta nova edição, você vai ler o divertido artigo de Ignácio de Loyola Brandão sobre a mentira e saber mais sobre literatura indígena, Kat von D (confesso que não sou mui-to de tatuagem, mas a entrevista é bem interessante), Cecelia Ahern, Dick Jones (ou melhor, o Pinóquio), entre outros. Espero que gostem das novidades e aproveitem a leitura. Pedro Herz

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revista da cultura

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sumário E D I Ç Ã O

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08 CINEMA E HQ:

As relações entre a sétima e a nona arte e os novos filmes que vêm por aí

10 TATUAGEM: Kate Von D, NOSSA CAPA: Índio caiapó durante cerimônia de dança, na cidade de Piaracu, no Mato Grosso. Foto de Marc Lecureuil/Corbis

REVISTA DA CULTURA é uma publicação mensal da Livraria Cultura S.A. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução sem autorização prévia e escrita. O conteúdo dos anúncios é de responsabilidade dos respectivos anunciantes. Todas as informações e opiniões são de responsabilidade dos respectivos autores, não refletindo a opinião da Livraria Cultura. Preços sujeitos a alteração sem prévio aviso. Os preços promocionais para associados do + Cultura são válidos de 2/04 até 4/05 • Diretor-geral: Pedro Herz • Diretora de redação: Thaís Arruda • Editor-chefe: Sérgio Miguez • Editor: Ruy Barata Neto • Assistente de redação: Camila Azenha • Estagiário: Pedro dos Santos • Projeto gráfico: SAX Editorial • Diretora de arte: Carol Grespan • Revisoras: Mirian Paglia Costa e Potira Cunha • Colaboradores: André Sollitto, Cristina Ramalho, Kelly de Souza, Melissa Aidar e Paulo Scheuer • Agradecimentos: A Recreativa, Charles Gavin, Ignácio de Loyola Brandão, Maria Alice Vergueiro, Matinas Suzuki e Rodrigo de Castro • Produtora gráfica: Elaine Beluco • Pré-impressão: First Press • Impressão: Pancrom • Tiragem 25 mil exemplares • Publicidade: Rafael Borges (jrafael@livrariacultura.com.br) • Jornalista responsável: Thaís Arruda (MTB 27.838)

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direto do reality show L.A. Ink, fala de sua profissão e de seu novo livro

12 MÚSICA ELETRÔNICA:

Depois do frisson do DnB, mestres das pickups buscam novas sonoridades

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14 MEUS CDS: Charles Gavin

16 ENTREVISTA: Cecelia Ahern,

15 MEUS DVDS: Maria Alice

20 CAPA:

elege seus discos preferidos durante a gravação do novo álbum dos Titãs Vergueiro elenca os filmes que mais a emocionaram ultimamente

autora irlandesa de contos de fadas modernos, fala de seu trabalho

Autores índios com obras publicadas comentam sobre sua arte de escrever

24 PERFIL: Dick Jones

é o homem que emprestou a voz para o personagem Pinóquio, de Walt Disney

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ARTIGO: Ignácio de Loyola Brandão volta no tempo e revela suas lembranças sobre verdades e mentiras

:!

sempre aqui

28 LER PARA SER:

Clientes comentam suas compras na unidade Villa-Lobos, em São Paulo

30 AGENDA:

Conheça e participe da nossa seleção de eventos para os meses de abril e maio

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10+: Gráfico inédito acompanha o ranking dos títulos mais vendidos de ficção

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culturando P O R

A N D R É

S O L L I T T O

HQ no cinema revista da cultura

Super-heróis ativar: forma de um filme incrível!

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E ganham também os fãs. Os maiores adoradores dos quadrinhos dão o braço a torcer quando o assunto são os lançamentos que acompanham o filme. Miniaturas, brinquedos e reedições inundam as lojas e fazem a alegria de qualquer colecionador. Prova disso é a recente edição definitiva de Watchmen, item que já existia há pelo menos quatro anos no mercado americano e, só agora, ganhou tradução brasileira. O cinema também atrai novos leitores, pessoas não habituadas a ler essas histórias, que passam a se interessar pelos personagens no formato original. César acredita que o grande trunfo para a indústria de adaptações é justamente a abrangência de público. “E os fãs tradicionais têm a possibilidade de mostrar toda sua cultura quadrinística”, completa Dionisius.

VINDO POR AÍ Depois de dois grandes lançamentos em 2008 – Batman – O cavaleiro das trevas e Homem de ferro –, novas adaptações prometem fazer a felicidade dos fãs em 2009. Vêm aí Kick Ass, HQ de Mark Millar que mostra um adolescente sem poderes combatendo o crime e X-Men Origins: Wolverine, sobre a origem de um dos personagens mais queridos da Marvel. Whiteout, de Greg Rucka e Steve Lieber, por sua vez, foge do padrão heroico: narra a história de uma investigação de assassic nato que se desenrola em pleno Pólo Sul.

FOTOS: DIVULGAÇÃO / ILUSTRAÇÕES: REPRODUÇÃO

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A

daptações de quadrinhos para o cinema não são novidade. Os heróis que conhecemos hoje surgiram no final dos anos 1930, e suas versões em carne, osso e efeitos não tão especiais já apareceram em telonas na década seguinte. Agora, HQs mais cult, como Persépolis e Valsa com Bashir, que mostram a trajetória de pessoas comuns, já têm seu espaço e disputam grandes prêmios do cinema, sem precisar de superpoderes. As novas versões de Watchmen e Spirit para a telona levantam a polêmica sobre a fidelidade da adaptação. Para Dionisius Amendola, colaborador da Livraria Cultura e fã do gênero, um filme fiel é delírio: “O ponto é saber se funciona como obra cinematográfica”. Paulo Ramos, jornalista, professor do curso de Letras da Unifesp e autor de A leitura dos quadrinhos, explica: “Os roteiros das HQs são sempre alterados para atingir o maior número de pessoas; afinal, o retorno financeiro sempre fala mais alto”. César Cabral, diretor responsável por Dossiê Rê Bordosa, versão animada da famosa personagem de Angeli, tem opiPersonagens dos filmes: à esquerda, nião parecida: “A produção cinematográfica, com seus elevados custos, precisa de certas ‘garantias’ The Comedian, em Watchmen. para os investidores”. Paulo ainda assegura que À direita, Lorelei, “os estúdios e produtores ganham com estas proem Spirit. HQs: duções, que exercem forte apelo junto ao público, no centro, Spirit, e acima, as garras e as editoras ganham, porque aproveitam a repercussão em suas vendas”. de Wolverine

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entrevista

P O R

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S C H E U E R

Kat Von D A tatuadora despeja atitude e mostra influências latinas em seu novo livro

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Batom vermelho: “Hollywood” é inspirada em sua banda favorita, New York Dolls; ao todo, são mais de 70 tattoos!

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retratos e torná-los o mais próximo possível do original é importante, mas acho muito mais gratificante quando posso elaborar e fazer uma composição além da fotografia, em vez de apenas tatuá-la como é.

Seu livro estabelece um canal com o público ao expor técnicas, estilos e sua história de vida. É um manifesto? Não sei se me iludiria dizendo que é um manifesto, mas tentei ao máximo mostrar a tatuagem da maneira mais positiva possível, na esperança de que os leitores possam se sentir bem em relação a ela e aprender alguma coisa.

Algumas empresas remuneram quem cede o corpo como espaço publicitário. Esta vertente prejudica a imagem positiva que a categoria tem construído? Claro. Quer dizer, as pessoas nunca reconhecem a tatuagem como forma de arte séria; temos artistas como Salvador Dali, obviamente um ícone muito respeitado, que afirmou que este era, possivelmente, o único meio de expressão artística que ele não conseguia entender. Utilizá-la como propaganda é uma bobagem para ambas as partes – para quem está pagando por isso e a outra. Mas é seu corpo, venda-o o quanto quiser, se isto é o que te move.

Retratos com linha fina, com escalas de preto e cinza, são sua marca. Especializarse foi uma saída contra a concorrência ou é um dom natural? É mais preferência pessoal. Alguns tatuadores limitam-se ao que conhecem melhor, a fim de ter certeza de que irão fazer o melhor, além de garantir a completa satisfação do cliente. Mesmo reproduzindo figuras humanas, sua obra emana um ar mítico, fantasioso. Esse resultado é intencional? Tatuar

A tatuagem é utilizada pelas ciências humanas para interpretar modos de vida de sociedades passadas, pois, antigamente, fazia alusão à religião, guerra, espiritismo... Hoje, ela possui algum traço do nosso tempo ou continua universal? Esta é uma das principais formas de autoexpressão. Atualmente, mais do que a música, a variedade de estilos e as razões por trás delas podem dar uma visão geral do que está acontecendo na sociedade. O que quero dizer é que religião, guerra, espiritualismo afetam tudo quando você vê toda a situação. Moda, música, arte, comportamento, assim como muitas outras coisas.

Você se recusaria a tatuar símbolos de gangues ou da máfia? Evito fazer qualquer desenho do qual a pessoa possa se arrepender mais tarde. E, na maioria das vezes, estes assuntos levam ao arrependimento. c

FOTO: LIONEL DELUY/ DIVULGAÇÃO

revista da cultura

N

ascida no México e criada nos EUA, Kat Von D vive a rebeldia com a firmeza que exibe com seus instrumentos de trabalho. No programa Miami Ink, exibido pelo canal People&Arts, brigou com Ami James, seu exchefe e mandachuva da atração; voltou a Los Angeles, onde cresceu, para abrir seu próprio estúdio e, agora, comanda uma equipe na qual os homens são minoria – quatro contra um. De quebra, virou protagonista do reality L.A. Ink. Especialista em retratos, ela lança o requintado High Voltage Tattoo, livro com (muitas) imagens de seu corpo, referências que a inspiram e centenas de fotografias sobre o assunto. Se você é fã da série e já reservou um cantinho especial na esperança de ser tatuado por Kat algum dia, boas novas: “o livro seria uma bela desculpa para visitar o Brasil”, revela. Enquanto ela não aparece por aqui, acompanhe a entrevista.

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Foto meramente ilustrativa.

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música

Que fim levou o DnB? revista da cultura

O drum’n’bass já não reina como antes. Para voltar ao circuito, DJs e produtores se embrenham por desdobramentos da e-music

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e o Brasil, hoje, tem gabarito para promover eventos de peso, como o Tim Festival (recentemente cancelado), Skol Beats e Spirit of London – de longa data na agenda internacional dos DJs –, o mérito de tamanha audiência se deve ao gênero que consagrou a música eletrônica no país: o drum’n’bass. Mas tente lembrar da última grande festa do tipo ou de um hit recente... Depois de fincar as bases da cultura dos clubes e festivais, o estilo vivencia, já há alguns anos, um revés na mesma terra que o alçou ao topo. “Hoje, o cenário DnB [como é apelidado pelos fãs] praticamente deixou de existir”, afirma Patife, um dos ícones de sua difusão. Depois do sucesso de Sambassim, remix da música da cantora Fernanda Porto, atualmente, o DJ flerta com sonoridades experimentais em busca da reinvenção após o sucesso do passado. Nessa linha, trabalha em parceria com o cantor de reggae Marcelo Mira, autor de letras fortes e de apelo reflexivo. “Não estou tão ligado ao DnB como antes. O amadurecimento musical me tirou desse padrão há tempos”, conta. Patife é apenas um dos exemplos da “velha guarda” do ritmo que transita por diversificações. Yes América, precursor do estilo no Brasil junto com o Deejay Julião, esboça novas vertentes com o colega Cavalaska, pelo projeto Zyon Live, em inserções de vocais de cantores durante apresentações ao vivo – o Live Act. Marky perdeu sua noite no extinto Lov.e e, agora, trabalha com o drum’n’ bass principalmente em Londres. Ramilson Maia e Andy também exploram novas vertentes.

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UNDERGROUND Seu desaquecimento no país é um sintoma perceptível pela categoria, mas com causas ainda nebulosas. Ramilson Maia, apresentador do programa Plug-In, na rádio Energia 97 FM, de São Paulo, pensa que houve dispersão entre os discotecários. “Com o sucesso no exterior, cada um foi para um lado lá fora, e o DnB não se renovou”, afirma. Dada a ausência de novos ares nos trabalhos, há quem acredite que não houve muito a oferecer para a mídia. “Muita gente sem experiência viu outras oportunidades e foi junto. Os próprios DJs negligenciam os direitos autorais, existem rixas e as músicas não são trabalhadas”, afirma Patife. “Devemos fazer o mínimo para que isso não aconteça, senão ela [a mídia] te abandona”, concorda Maia. O frisson da imprensa em função de novas tendências e os horários secundários reservados no line up pelos promoters de clubes também são destacados pelos produtores. Na época, o prêmio Noite Ilustrada, da jornalista da Folha de S. Paulo Erika Palomino, chegou a criar a categoria “Melhor DJ de drum’n’ bass”, em reconhecimento ao fôlego da cena. A balada Lov.e, referência na noite paulistana, extinta em 2008, vivia abarrotada, toda semana, com festas dedicadas ao gênero. “No Brasil, temos o hábito de considerar apenas o que é muito grande e forte, ao passo que, no exterior, há uma estrutura mínima de mercado que continua À procura da batida perdida: e DJ Patife flerta com sonoridades experimentais após o sucesso do passado

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atendendo, mesmo quando a cena caminha a passo mais lento”, pondera Xerxes. Andy concorda: “As coisas voltaram a ser muito underground. Antes, éramos o que havia de novo e o que estava acontecendo.”

NOVOS ARES Atualmente, novos estilos mantêm conexões com o gênero. Dubstep, electrobase e ghettotech são justaposições que soam estranhas aos ouvidos, mas confirmam a capacidade de desdobramento do DnB, segundo alguns produtores. DJ Bungle é o nome brasileiro mais recente nesse campo, com músicas figurando no top 10 da BBC. Os suspiros existentes, fora a ponte permanente com o exterior, são os selos, coletivos e projetos em contato direto com o ritmo. Mas a produção nacional não transpõe mais as fronteiras de seu círculo no país como antes, limitando-se aos interessados e a locais específicos, à sombra dos holofotes. Mas, e o futuro? Uma das previsões parte de Xerxes, produtor de Patife no início de sua carreira. Para ele, a mudança nesta cena é um fluxo natural. “Talvez o público e mesmo alguns profissionais tenham dificuldade em aceitar que, em seu processo de renovação, o estilo passe por uma fase underground. Mesmo sem ídolos e aparições na mídia, ele apresenta sinais de atividade.” O desejo de renovar os rumos faz parte do dinamismo do drum’n’bass. Surgido na Inglaterra, no início da década de 1990, dava ao DJ plena liberdade criativa para agregar outros à sua sequência mestra. A fórmula era simples, mas inovadora: linhas de bateria e baixo na casa das 170 bpm (batidas por minuto) em curtas séries de cadências padronizadas. Como todo som que se repete, o resultado hipnotizava o público com um entorpecimento musical, mas mas agradável aos ouvidos. O que isso trazia de novo? Pense em jazz, hip hop e rock’n’ roll. Praticamente tudo o que precedeu a era da música “artificialmente reproduzida” poderia ser repaginado sonoramente. E, aqui no Brasil, os produtores tinham em mãos um legado precioso, herdado de nossos mestres do samba e da MPB. Os frutos de

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maior repercussão deste casamento pertencem a uma geração de DJs da periferia de São Paulo, comandada por Patife, Marky, Ramilson Maia, Andy e Xerxes. Responsáveis por levar o gênero ao mainstream, seus remixes se transformaram em sucessos tipo exportação depois que a mídia e clubes mais abastados notaram a grande receptividade dos trabalhos. Os abre-alas do estouro foram Sambassim (2001), de Patife e Fernanda Porto, Carolina Carol Bela (2001), de Marky e Xerxes, e Tem que valer (2003), do Kaleidoscópio, grupo formado por Ramilson Maia e Janaína Lima.

EXTERIOR, AÍ VOU EU O boom do DnB não ocorreu por acaso. O ápice, entre o final do século passado e o início dos anos 2000, impulsionou a criação de espaços com maior capacidade, geralmente acima de 2 mil pessoas, e usufruiu de tecnologias incipientes, a exemplo da internet, e de equipamentos de áudio mais modernos. Além disso, desde o tropicalismo de Gilberto Gil e Caetano Veloso não se via um traço musical brasileiro tão forte no exterior, fosse pela técnica, fosse pela simpatia no palco. Falar em made in Brazil era falar em drum’n’ bass. Se o impacto da produção nacional já não faz tanto barulho por aqui, o mesmo não se pode dizer do exterior, diga-se de passagem, da Europa. Londres foi o epicentro de tudo e se mantém como o principal propulsor da cena pela estrutura que oferece, como as rádios 1Xtra e Rádio 1, da BBC, que dão destaque ao gênero. As duas cobriram o Drum & Bass Awards 2009, evento de pompa no meio. “O espaço lá fora é dez vezes maior. Somos tratados como jogadores de futebol”, diz Andy. A analogia faz sentido. Desde os tempos do jungle – união de batidas quebradas com influência dos imigrantes jamaicanos da periferia londrina, introduzidas no Brasil pelo Deejay Julião, em 1992 –, que antecedeu o DnB, a região serve de porto seguro para veteranos e lançamentos. É só bater o olho na agenda de Marky. Dos próximos cinco sets agendados, todos são em solo britânico. Se o Brasil irá reavivar esse c ritmo nas batidas, só o tempo dirá. (P.S.)

Resgatar a importância de um dos gêneros musicais contemporâneos de maior repercussão em termos de público e enaltecer suas raízes foram os objetivos encabeçados pela DJ e jornalista Claudia Assef, ao escrever Todo DJ já sambou, atualmente em sua 2ª edição. Organizado em ordem cronológica com rico arquivo de depoimentos e fotografias, o livro parte dos idos da cena, na década de 1950, quando a elite paulistana se entretinha nos principais salões da cidade ao som de um enigmático sistema elaborado por Osvaldo Pereira, o primeiro DJ do Brasil. A bugiganga de Seu Osvaldo produzia o equivalente a 100 watts de potência, em caixas distribuídas pela pista, e foi logo apelidada de Orquestra Invisível, já que seu manipulador ficava oculto atrás das cortinas. Mais tarde, com um pequeno aditivo gringo, mudou o nome para Orquestra Invisível Let’s Dance. Sem equipamentos modernos, o discotecário se destacava pela seleção musical – no caso, recheada de sucessos de Ray Charles, Ray Conniff e Frank Sinatra. Daquela época para cá, a obra mostra que o destino da música eletrônica foi desenhado por evoluções técnicas e conceituais. Claudia detalha cada época à sua maneira: a cultura black, notável por suas gírias e roupas; o rap dos Racionais MC’s; o filão da classe média que descobria as discotecas nos anos 1970; e, depois, a dance music nas duas décadas seguintes, até a emergência da geração de Patife e Marky, levados ao topo no exterior por vincularem samba e performances ao drum’n’ bass.

FOTO: GARY BURCHELL/GETTYIMAGES / FOTO DJ PATIFE: JIM DYSON/GETTYIMAGES / CAPA DO LIVRO: DIVULGAÇÃO

Registro histórico

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meus cds

Charles Gavin apresenta

cinco álbuns fundamentais e comenta sobre a essência de sua musicalidade

revista da cultura

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ESTUDANDO A BOSSA Tom Zé “Um excelente CD. Tom Zé é o último dos tropicalistas. Desde 1968, preservou quase integralmente sua postura artística. Não sou fã só dos discos dele, mas da visão que tem sobre música e sobre a cultura brasileira.”

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ACABOU CHORARE, Novos baianos “Um clássico da MPB, porque reúne elementos que naquele momento estavam um pouco esquecidos, como chorinho e samba de raiz, com a música popular estrangeira que estava sendo feita na época, como rock, funk e soul.”

KRIG-HA, BANDOLO! (esgotado), Raul Seixas “Neste primeiro trabalho, Raul cozinhou muita influência brasileira de grandes mestres, como Jackson do Pandeiro – que admirava bastante – e Luiz Gonzaga, com a paixão pelo rock, desde o tempo em que imitava o Elvis”.

Titãs para tomar o lugar deixado por André Jung. O baterista estreou na banda no início de 1985, quando entrariam em estúdio para gravar seu segundo disco, Televisão. Rato de sebos e ávido colecionador de vinis, dedica-se há mais de dez anos a projetos que revitalizam e recuperam álbuns esquecidos dos acervos de gravadoras, como a série “Dois momentos” que relançou Secos & Molhados e Tom Zé, entre outros, e a coleção “Columbia raridades”, com edições remasterizadas das antigas baladas da gravadora CBS. Em 2008, lançou o livro 300 discos importantes da música brasileira, um painel de tudo o que foi produzido entre 1929 e 2007. Atualmente, Gavin produz e apresenta o programa Quinta Essência, na rádio Eldorado, toda quinta-feira às oito da noite, além de O som do vinil, no canal Brasil, que caminha para a terceira temporada, sempre trazendo obras relevantes para a música brasileira e contando sua história. Dando uma pausa na gravação do novo álbum dos Titãs, que será lançado em breve, o baterista comenta os melhores discos feitos no Brasil e suas influências. c

ACADEMIA DE DANÇAS (esgotado), Egberto Gismonti “Um dos melhores músicos brasileiros de todos os tempos. Por causa dele, aprendi a gostar de jazz. Sua obra combina bem rock, samba e outros gêneros. Ele toca com atitude e pressão de roqueiro.”

ÁFRICA BRASIL (esgotado), Jorge Ben “Esse é ‘o’ disco de samba-rock, porque tem a batida, a cozinha, o ritmo e a bateria de escola de samba, com uma pegada roqueira, tocada com força, intensidade e um riff de guitarra genuinamente de grupo de heavy metal.”

FOTO: GAVIN: PEDRO CARRILHO/FOLHA IMAGEM / CDS: DIVULGAÇÃO

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paulistano Charles de Souza Gavin mostrou seus primeiros traços como percussionista ainda garoto. Preciso na marcação de tempo, ganhou o prêmio de originalidade no desfile de Sete de Setembro de 1968, comandando a banda da escola Helena Lemmi aos 8 anos de idade. Aos 15, montou sua própria bateria com os frisos metálicos das laterais do Opala de seu pai, sofás, poltronas revestidas de courvin e dois cinzeiros de metal. Com a condição de continuar se dedicando aos estudos, em 1979, conseguiu convencer seu pai a comprar uma Pinguim branca, sua primeira bateria de verdade. Gavin estreou na banda Zero Hora e passou pela Santa Gang e Zona Franca antes de tocar na Jetsons, onde conheceu seus futuros companheiros titãs, Branco Mello e Ciro Pessoa. Com o último, ainda tocou no Cabine C antes de ganhar notoriedade no circuito alternativo paulistano como integrante do Ira!. Foi no final de 1984, quando dava o ritmo nas canções do RPM de Paulo Ricardo, que o músico foi convidado pelos

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meus dvds

Maria Alice Vergueiro indica desde clássicos europeus até produções nacionais mais recentes

A ESTRADA DA VIDA, Federico Fellini “Eu tinha mais ou menos 15 anos quando assisti. Estava acostumada com musicais, com obras cinematográficas tecnicólor que sempre terminavam com beijo na boca. Este é em preto e branco, sem final feliz. Isso me balançou.”

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QUERELLE, Rainer Werner Fassbinder “Assisti aqui no Brasil em 1989, 1990. Foi marcante para mim, porque é muito bem construído. Fassbinder trouxe um outro tipo de cinema, mais ousado, que trata de assuntos como a homossexualidade.”

O TEMPO QUE RESTA, François Ozon “Esta obra traz a história de um rapaz que está doente, com câncer. Retrata a tomada de decisão dele sobre várias coisas, inclusive o reencontro que tem com sua avó. É muito profundo, realmente muito bom”.

de melhor intérprete. Seu currículo ainda inclui A ópera do malandro, Mahagonny Songspiel, O gosto da própria carne, entre outras. Foi premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte em 1986, por seu papel em Electra com Creta. Como diretora, fez Dom Perlimplim com Belisa em seu jardim, de García Lorca, em 1992, e Quíntuplos, de Luís Rafael Sanches, em 1995. Volta à cena no ano seguinte em Mãe coragem e seus filhos, com texto de Brecht e direção de Sérgio Ferrara. Nas telinhas, interpretou a Lucrécia de Sassaricando, em 1987, além de ter participado das séries de TV Brava gente, em 2000, e O sistema, em 2007. No cinema, atuou em O rei da vela, Romance, Perfume de gardênia e no curta-metragem Tapa na Pantera, dirigido por Esmir Filho, Mariana Bastos e Rafael Gomes, que fez grande sucesso na internet. Atualmente, está captando recursos para a peça As três velhas, de Alejandro Jodorowsky, e aguarda o lançamento dos filmes Condomínio Jaqueline e Autópsia de um desnudo, nos quais atua. c

CONTRA TODOS, Roberto Moreira “Muito interessante. Um bom roteiro. Uma boa direção, que permite ao ator improvisar bastante dentro do roteiro. O diretor e os atores trabalham muito próximos, porém dá para perceber claramente a marca do diretor.”

O CHEIRO DO RALO (esgotado), Heitor Dhalia “Dentre as produções mais recentes, gostei muito deste filme. Ele conta com uma direção extremamente interessante – em que sobressai a mão do diretor –, além de ter um roteiro maluco. E o Selton Mello é muito bom ator.”

FOTOS: DIVULGAÇÃO

A

personalidade marcante de Maria Alice Monteiro de Campos Vergueiro sempre conferiu charme às personagens que interpretou. Estreou profissionalmente nos palcos em 1962, na peça A mandrágora, com direção de Augusto Boal e montagem do Teatro de Arena. E não parou mais. Em 1972, passou a integrar o Teatro Oficina, após sua reestruturação. No ano seguinte, participou de O casamento do pequeno burguês, de Bertolt Brecht, com Luís Antônio Martinez Corrêa. Em terras lusitanas, ministrou aulas na Fundação Calouste Gulbenkian e encenou Galileu Galilei com o então exilado José Celso Martinez Corrêa em 1975. Foi quando resolveu deixar a carreira acadêmica na Escola de Comunicação e Artes da USP e se unir aos ex-alunos Luiz Roberto Galizia e Cacá Rosset para fundar o Teatro do Ornitorrinco. Sua primeira produção, Os mais fortes, baseado na obra de August Strindberg, entrou em cena em 1977 e lhe garantiu o prêmio Molière

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‘ ahern entrevista

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JOVEM ESCRITORA DE CONTOS DE FADAS MODERNOS REVELA PERSONAGENS EM BUSCA DO AUTOCONHECIMENTO P O R

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as cartas, a inscrição que se segue à abreviação P. S. (do latim, post scriptum), grafada após a assinatura, pode não ser uma informação essencial. Mas, por vezes, traz uma mensagem que dá sentido a tudo o que foi escrito. Como na obra de estreia da irlandesa Cecelia Ahern, P. S. Eu te amo (esgotado), em que a jovem viúva Holly começa a receber cartas de seu falecido marido, Gerry, para ampará-la e guiá-la em sua nova vida sem ele. No auge de seus 21 anos, mal sabia a escritora que aquela ideia que resolveu levar adiante numa noite qualquer, de pijama, sentada à mesa da sala de jantar, pudesse um dia ser recriada nas telas de cinema sob o olhar do diretor Richard LaGravenese e protagonizada por Hilary Swank e Gerard Butler. Das telonas para as telinhas, Cecelia conquistou o público com a série de TV Samantha who?, interpretada por Christina Applegate, criada em parceria com o roteirista e produtor Donald Todd. P. S. Eu te amo e Onde terminam os arco-íris (esgotado) são seus únicos livros editados no Brasil, além de Um lugar chamado aqui e Se

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me pudesse ver agora que receberam tradução em Portugal. O último, transformado em musical pela Disney, traz Hugh Jackman no papel principal, e o romance Mrs. Whippy ganhou os palcos irlandeses em forma de monólogo. Produtiva, só em 2008, lançou dois títulos: Thanks for the Memories e The Gift. Filha do ex-primeiro-ministro irlandês, Bertie Ahern, aos 26 anos, Cecelia já tem seis romances publicados, várias coletâneas de pequenos contos e garante que tem energia para muito mais. “É minha paixão”, revela. Tem turnês planejadas para a Grécia, Rússia e Holanda, mas vir ao Brasil ainda não está em seus planos, apesar da imensa vontade que tem de conhecer o país. Embora todos os seus romances tenham sido selecionados por produtoras de cinema e de séries de TV, Cecelia sabe que há um longo caminho a ser percorrido até que os projetos ganhem vida. Otimista, a jovem continua absorvendo o mundo ao seu redor, traduzindo-o em relatos sobre pessoas comuns e contando com um empurrãozinho da sorte – que não faz mal a ninguém – para ter sua obra reconhecida mundo afora.

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rr e e vv ii ss tt a a d da a cc u u ll tt u u rr a a

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Quando começou a escrever? Aos 8 anos. Mantinha um diário, escrevia poesia, músicas e prosa. A maioria das coisas que escrevia era sobre meus sentimentos. Sentia que colocar minhas emoções no papel era uma forma maravilhosa de limpar minha mente, além de ser muito terapêutico.

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Quantos anos tinha quando escreveu seu primeiro livro? Aos 21 anos, escrevi P. S. I love you (edição em português esgotada). Tinha acabado de me formar em Jornalismo e Meios de Comunicação e estava pensando o que fazer com o restante de minha vida. Decidi que queria me envolver em filmes ou produção de TV, já que esta tinha sido a parte do meu curso de que mais gostei. Ainda considerava escrever, pelo menos como escrita criativa, um hobby e não estava interessada em jornalismo impresso, pois preferia me concentrar nas emoções. Certa noite, estava acordada até tarde, pensando em minha vida, e de repente tive uma ideia. Sentei para escrever, como teria feito para qualquer outro texto, mas estava tão envolvida nessa história que não conseguia parar. Escrevia a noite toda, todas as noites, e dormia durante o dia. Eu estava chorando e rindo, colocando completamente meu coração ali. Após poucos capítulos, minha mãe, que viu o quanto eu estava aproveitando a experiência e que também estava gostando, me encorajou a enviar meu trabalho para um agente, e o resto, como dizem, é história. Foi um inacreditável trabalho de amor e mudou completamente minha vida. Não sentei para escrever um livro, mas para escrever uma história para mim mesma. Fiz os dois. O que mais gosta de ler? Adoro ler, sempre que possível faço isso. Gosto de qualquer coisa, de crimes e thrillers a ficção literária. Gosto de todos os romances de Karin Slaughter. Adoro Mitch Albom, Dean Koontz e Roland Merullo, por causa de sua forma de escrever e de sua habilidade para falar sobre as situações extraordinárias em que seus personagens comuns se encontram. Minhas obras preferidas são The Time Traveler’s Wife (A mulher do viajante do tempo), de Audrey Niffenegger; The Shadow of the Wind (A sombra do vento), de Carlos Ruiz Zafón; Golfing with God, de Roland Merullo; e The Five People You Meet in Heaven (As cinco pessoas que você encontra no céu), de Mitch Albom. De que forma e com quais títulos a leitura se tornou um hábito para você? Aos 8 anos, eu lia de The Magic Faraway Tree, de Enid Blyton, à coleção Famous Five, da mesma autora. Aos 10, li as coleções The BabySitter’s Club, Sweet Valley Twins e Sweet Valley High. Conforme fui crescendo, meus amigos e eu costumávamos trocar livros e acho que isto é uma coisa importante a ser feita: encorajar uns aos outros a ler. Fomos incentivados por nossos pais a ler The Best Little Girl in the World, de Steven Levenkron, Under the Hawthorn Tree, de Marita Conlon-McKenna, e, é claro, Anne Frank – The Diary Of A Young Girl (O diário de Anne Frank). Estes romances

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são muito educativos e importantes para os jovens, porque, por meio deles, pode-se aprender sobre coisas que não são discutidas em casa. Desde então, tenho lido. Sou inspirada por muito do que li; adoro viajar em mundos diferentes e ser levada por histórias únicas e atraentes.

“NINGUÉM NUNCA ESTÁ CERTO, NÓS TODOS APENAS TEMOS OPINIÕES E PONTOS DE VISTA DIFERENTES E DEVEMOS ENTENDER AS RAZÕES POR TRÁS DELAS.”

A posição política que seu pai ocupava teve alguma influência, positiva ou negativa, em sua carreira? Em relação à sua mãe, ela influenciou você de alguma forma? Sou muito próxima de minha mãe e ela foi a pessoa que me incentivou a enviar meu primeiro romance para um agente, a fim de ver se tinha algum potencial. Ela é uma força muito positiva e estimulante; acredita que qualquer coisa é possível e que podemos alcançar o que desejamos, e isto tem sido uma motivação incrível para mim. Como meu pai que, por causa de sua posição, sempre viu o outro lado da história. Cresci viajando pelo país com ele, encontrando todos os tipos de pessoas e vendo a vida com os olhos deles. Isso foi muito importante para que eu, como escritora, pudesse entender o mundo a partir dos olhos das outras pessoas. Ninguém nunca está certo, nós todos apenas temos opiniões e pontos de vista diferentes e devemos entender as razões por trás delas. Eu escrevi o romance, silenciosamente, sem contar para ninguém, separada de minha família, e enviei meu manuscrito para uma agente. Trabalhei com ela por algumas semanas e, depois, ela fez as negociações de publicação, então, estou feliz por ter conseguido isso sozinha. É claro que, quando foi publicado, ele recebeu mais atenção do que o normal por causa da posição de meu pai. Por um lado, foi bom e, por outro, ruim, mas meu livro precisava ir para as prateleiras das livrarias para ser julgado da mesma forma que os outros. Estou feliz por terem me dado a oportunidade. De onde vem sua inspiração? Difícil responder, porque a resposta é: a vida. Absorvo tudo o que está à minha volta e permito que minha mente vagueie, entre em locais peculiares, questione “E se?”, “Talvez” e “Por quê não?”. Sem me dar conta do que estou fazendo, uma ideia ou personagem começa a se formar. Eles realmente vêm a mim com suas histórias e não tenho opção, a não ser escrever sobre eles. Não acredito que você escolha ser escritor. Acho que a escrita escolhe você. Sinto-me compulsiva pelo ato de escrever. É o que sou. Seus personagens são autobiográficos ou inspirados em pessoas de seu convívio? Nunca são diretamente tirados de alguém que conheço. Não sou este tipo de escritora. Gosto de viajar na minha imaginação e criar algo único, que não seja minha vida. Acho injusto, e um pouco desonesto também, falar a partir da vida de outra pessoa. Acredito que, embora não sejam baseadas na vida real, elas são muito parecidas. Acho que é por isso que muitas pessoas mundo afora se identificam, pois somos todos

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feitos da mesma coisa: emoção. Meus protagonistas estão sempre em busca do autoconhecimento. Nós os encontramos quando atingem o ponto mais baixo de suas vidas e precisam continuar vivendo, encontrar força interior para continuar nesta experiência, em que aprendem mais de si mesmos do que em qualquer outra situação. Acho que quando passamos por alguma dificuldade na vida, se não desistirmos, ela pode nos tornar mais fortes. Podemos aprender muito mais sobre nós mesmos. Esta é a jornada pela qual todos passamos e, assim, meus personagens são gente comum vivendo situações extraordinárias, como nós. Você se considera uma escritora moderna de contos de fadas? Inicialmente, não me sentia confortável com isso. Achava que contos de fadas eram irreais, que narrativas que terminam com “E viveram felizes para sempre” não representam a vida moderna, mas estava errada. O rótulo “moderna” tira meus contos daquele grupo e traz para este tempo e lugar. Minhas protagonistas são, em sua maioria, femininas. São mulheres que precisam descobrir quem são e o que querem antes de encontrar a felicidade novamente. Em vez de serem salvas por um príncipe com seu cavalo branco, são salvas por elas mesmas. Isto é muito importante. Minhas histórias não são sobre mulheres tentando encontrar homens. São mulheres tentando se descobrir, em busca de esperança e felicidade. E, se encontram, é um conto de fadas moderno com final feliz. Que tipo de relação você tem com Ivan, de If You Could See Me Now? Sempre há um personagem que se torna meu favorito, apesar de ser impossível escolher um de todos os meus livros, já que seria como escolher um filho preferido. Amo Ivan porque foi uma força positiva. Geralmente, escrevo à noite, no escuro, cercada pelo silêncio, de forma que possa me concentrar e ter o mundo só pra mim. Mas com Ivan, por ele ser tão otimista e brilhante, me vi acordando de manhã, escrevendo durante os dias de verão e ficando hipnotizada por sua mensagem positiva. Suas obras reproduzem situações que transcendem o mundo material sem explicações lógicas. Acredita que elas acontecem na vida real? Pessoas comuns se veem em circunstâncias extraordinárias o tempo todo. Sempre estão em condições nas quais a vida parece muito grande para elas, como se fossem Jonas enfrentando a baleia. Quando você está feliz, apenas conduz sua vida aproveitando-a e sendo grato por ela, mas acredito que, quando está infeliz, busca algo. Quer encontrar respostas, um caminho. Em situações assim, a pessoa se abre para novas experiências e aprende muito sobre si. Meus personagens se encontram nessas posições incomuns, pois se abrem e se permitem acreditar nisso. Há muito mais sobre a vida do que nós realmente sabemos; algumas pessoas gostam de arranhar a superfície e parecer inferiores, mas outras não.

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“HÁ MUITO MAIS SOBRE A VIDA DO QUE NÓS REALMENTE SABEMOS; ALGUMAS PESSOAS GOSTAM DE ARRANHAR A SUPERFÍCIE E PARECER INFERIORES, MAS OUTRAS NÃO.”

Mrs. Whippy foi escrito exclusivamente para se tornar uma peça teatral? Foi escrito há poucos anos como um romance para a série Open Doors, para o programa de alfabetização que incentiva adultos a aprenderem a ler. É sobre uma mulher cujo marido acaba de deixá-la com cinco filhos. Sua mãe faleceu, e ela está se sentindo extremamente sozinha e abandonada. O sorvete é sua válvula de escape, associando todos os momentos maravilhosos de sua vida a ele; há um sabor para cada momento especial, e ela se perde em suas memórias, mantendo-se acompanhada e com sua cabeça solitária preenchida por ele. Um ano depois que escrevi esta história, o diretor Michael Scott falou comigo sobre levar o texto ao palco e, muito empolgada pela proposta, aceitei escrever em forma de monólogo. Tem sido um grande sucesso. Atualmente, está viajando pela Irlanda e estou muito orgulhosa disto. Como surgiu a ideia para o enredo da série de TV Samantha Who? Na sua opinião, o que fez dela ganhadora do People’s Choice Awards 2008 como melhor comédia estreante e de Christina Applegate, vencedora em 2009 como melhor protagonista de TV? A chefe de desenvolvimento de comédias da ABC, Amy Hartwick, leu P. S. Eu te amo e amou. Ela entrou em contato comigo para ver se eu estava interessada em criar um programa de TV para eles. Aceitei imediatamente e surgiu a ideia de Samantha Who?, sobre uma mulher vítima de atropelamento que sofre de amnésia retrógrada, o que significa que ela não se lembra de nada que tenha acontecido antes do acidente. No decorrer da trama, descobre que era uma pessoa horrível e vê que esta é a oportunidade para mudar. Por sua atuação fenomenal, Christina Applegate foi indicada várias vezes ao Globo de Ouro e ao Emmy. Jean Smart, que interpreta sua mãe, ganhou um Emmy de melhor atriz coadjuvante por este papel. Adoro todo o elenco, é extremamente engraçado. Há alguma razão especial para que todas as suas obras tenham ganho uma versão em audiolivro? Acho que é mais um sinal de que meus enredos são universais, que atraem todas as pessoas e não deixam ninguém de lado. Os audiolivros dão a todos, inclusive aos que não po-dem ou não gostam de ler, a oportunidade de conhecê-los. O que significa cultura para você? É entrar em contato com as raízes e o coração de um país. É reconhecer o que aconteceu e celebrar isto, ir adiante e celebrar todas as li-ções e novos aprendizados. Sou muito patriota e amo a Irlanda, amo vê-la progredir e aceitar as novas gerações. Também amo ver a mesma paixão em outros países e aprender c sobre eles, mergulhando na cultura de outros locais. Assista ao vídeo com a autora na página do livro Thanks for the memories (Harper USA) www.livrariacultura.com.br

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OR NOT TUPI?

A IDENTIDADE DO BRASIL PRÉ-COLONIAL NA OBRA DE AUTORES ÍNDIOS E DE ESCRITORES INDIGENISTAS P O R

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iz a sabedoria popular que a história sempre tem duas ou mais versões. O Descobrimento do Brasil, em abril de 1500, não fugiu à regra. Cedo, aprendemos com Pero Vaz de Caminha, escrivão da expedição de Cabral, como se comportavam os índios da recémdescoberta terra. A carta de Caminha, considerada a primeira obra literária do país, descreve com deslumbramento ao rei Dom Manuel, essa “gente de tal inocência”. Empolgado com a “bela simplicidade” deles, Caminha faz sua aposta: “Se entendêssemos a sua fala e eles a nossa, (...) não duvido que imprimir-se-á facilmente neles qualquer cunho que lhe quiserem dar”. Graças a este documento, conhecemos as impressões (e intenções) dos primeiros contatos entre portugueses e indígenas. A escrita, ferramenta fundamental nesse processo, não era dominada pelos índios, cuja oralidade funcionava como instrumento de transmissão das histórias vividas, dos mitos e das lendas criadas. Essa “memória ancestral”, passada de geração para geração, ficou bem escondida entre as matas e etnias dessa terra chã. A história do Descobrimento brasileiro ficou apenas com uma versão: a do homem branco. O antropólogo Darcy Ribeiro dedicou grande parte de sua vida a contar o evento por outro ângulo, dessa vez, o do indígena. Com uma vasta obra etnográfica, o escritor deixou importantes livros sobre o tema, como Maíra, Os índios e a civilização e O povo brasileiro. Neste último, figuram de forma veemente as opostas visões entre colonizador e colonizados. “Os índios perceberam a chegada do europeu como um acontecimento espantoso, só assimilável em sua visão mítica do mundo. (...) Recém-chegados, saídos do mar, eram feios, fétidos e infectos.”

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Se na antropologia o assunto ganhou densidade no século 20, foi a literatura que inaugurou a discussão. Já no 18, autores passaram a dedicar obras baseadas no mundo indígena, a partir de relatos de pessoas que tiveram contato com diferentes etnias e nas crônicas de viajantes dos séculos 16 e 17. O Uraguai, poema épico de 1769, escrito por Basílio da Gama, critica frontalmente os jesuítas em suas relações com os índios. Caramuru, escrito em 1781 pelo frei Santa Rita Durão, é outro exemplo de épico que relata a história de um náufrago português que viveu entre o povo indígena. É na primeira geração de escritores do Romantismo, do século 19, que o índio vira foco da literatura brasileira, representando a pureza, o heroísmo, a coragem e o homem não corrompido pela sociedade. Nessa época, surgem diversos personagens-heróis que marcam a literatura indianista, como I-Juca-Pirama (Gonçalves Dias), O guarani, Iracema e Ubirajara (José de Alencar). O selvagem, de Couto de Magalhães, foi escrito a pedido de D. Pedro II para a Exposição Mundial de Filadélfia (EUA), em 1876. Já no século 20, o romance Quarup (esgotado), de Antônio Callado, se desenrola no Xingu.

CHOQUE CULTURAL Se o primeiro contato entre “homens brancos” e índios causou profundo estranhamento, mais de 500 anos depois – apesar de toda a evolução feita no campo das ciências sociais –, este choque cultural parece não ter sido resolvido. Ambos parecem se conhecer na mesma profundidade relatada em 1500. Não faltam motivos para a deficiência na comunicação e interação, porém a ausência da escrita formal, em português, figura mais uma vez como uma das responsáveis. Fica tudo como na época de Caminha: não índio contando a história de índio. Mas, há sinais de que isso está mudando.

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MACUNAÍMA: O ANTI-HERÓI “Ai, que preguiça!” Frase preferida do personagemtítulo do romance de Mario de Andrade (foto), de 1928, Macunaíma é um índio sem caráter, considerado o anti-herói da fase modernista da literatura, que sucedeu personagens idealizados do Romantismo. Escrito de forma cômica, utiliza mitos e lendas indígenas para representar aspectos socioculturais do povo brasileiro.

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A literatura brasileira sempre esteve ligada aos indígenas, mas de forma dependente da escrita de não índios, o que configurou a chamada literatura indianista ou indigenista, desenvolvida por especialistas no assunto. A formação de uma escrita genuinamente indígena, ou seja, criada por autores índios, é um fenômeno atual, ocorrido há menos de 15 anos. De acordo com um dos pioneiros da literatura indígena, Daniel Munduruku, autor de Todas as coisas são pequenas, entre outros, a escrita é uma conquista recente para os 230 povos, que falam quase 200 diferentes línguas e dialetos, existentes no país. “A literatura indígena nasceu a partir do momento em que eles assumiram um papel mais político na sociedade brasileira.” Munduruku, que preside o Instituto Indígena Brasileiro para a Propriedade Intelectual (Inbrapi), defende que é pela oralidade que os povos mantêm sua tradição, mas só por meio da escrita será possível oferecer à sociedade uma visão histórica e atual deles.

O BRASIL É ACANHADO? Para a Professora Drª Graça Graúna, potiguar de São José do Campestre (RN), sim, quando comparado a outros países da América Latina. “Falta abertura, leitura e informação para que possamos diminuir os preconceitos existentes. Muitos (não índios) exclamam: ‘Ah, eles escrevem, ah, eles pensam’. Temos ainda que brigar muito, essa é uma luta pela palavra. E ela é sagrada, seja indígena ou não.” Graça explica que o crescimento da literatura indígena representa um novo movimento das caravanas portuguesas, só que agora em sentido inverso. “Nós estamos redescobrindo o Brasil. Não chegaram aqui as caravelas de Cabral, Pero Vaz de Caminha e suas cartas? Agora é nosso momento de contar a história, de dizer o que estamos fazendo.” Quem tem feito esse caminho são os índios que vivem nas grandes cidades e trilharam o mundo acadêmico. Há um segundo tipo, que manteve contato maior com a cidade sem a academia. E, o terceiro perfil de escritor-indígena é aquele que vive em sua comunidade e faz o resgate da oralidade dos mais velhos. Para isso, existe hoje um movimento editorial nesses locais, financiado essencialmente por órgãos governamentais, como o Ministério da Educação e Cultura, que visa a formação de professores e a implantação de escolas nas aldeias. A partir da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), esse trabalho formou no estado cerca de 300 professores em nível médio. “Com a capacitação de mais índios, cerca de 60 livros foram publicados, a maioria em língua indígena”, comenta Maria Inês de Almeida, professora da UFMG e coordenadora do projeto. Em 2006, ela também coordenou a criação do primeiro curso superior para professores indígenas, que formará uma turma de 140 alunos em 2010. Dados do Censo Escolar INEP/MEC mostram que a oferta escolar para esses povos cresceu 48,7 % , entre 2002 e 2006, em cursos que vão da educação infantil ao ensino médio. A

expansão anual da matrícula em escolas indígenas aproximase de 10% ao ano. Nenhum outro segmento da população no Brasil apresenta esse crescimento. Cerca de 100 escritores índios atuam hoje no país e, de acordo com Daniel Munduruku, esse número não para de aumentar. Prova disso é a realização da sexta edição do Encontro de Escritores Indígenas, que ocorre de 10 a 21 de junho, no Rio de Janeiro, durante o Salão do Livro, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

LITERATURA ORAL Não seria exagero citar a crise existencial de Hamlet, na peça de Shakespeare, para representar a “tragédia” que muitos estudiosos e críticos têm criado em torno da escrita indígena: afinal, é ou não literatura? Autor de 35 livros publicados, Daniel Munduruku diz que a justificativa dos opositores é que estes escritores não dominam o instrumental da escrita e é através da oralidade que são transmitidas as histórias, portanto, esta literatura seria inexistente. “A justificativa é um engodo, porque estão tentando definir o que é indefinível. Decifrar o que é indecifrável. Quem escreve textos literários não quer filosofar, nem teorizar, quer escrever e mostrar o que sabe.” Graça Graúna explica que, quando um índio é apresentado como escritor, desperta a curiosidade da sociedade. “Ainda falta quebrar um monte de preconceito, e as noções de cultura, literatura e ancestralidade têm que existir sem essas amarras.” E não foi apenas a respeito disso que a escritora já sofreu preconceitos. “Fui muitas vezes questionada e impedida de ser vista como indígena por morar na cidade. Ora, você não precisa estar em uma aldeia para ser índio.” Uma das mais atuantes defensoras da literatura indígena, a escritora Eliane Potiguara compara esse imbróglio à discussão de gênero. Formada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela diz que um dia não será mais necessário questionar se é ou não literatura. “É parecido com o que aconteceu em termos da inserção feminina no mercado de trabalho.” Autora de três livros, Eliane diz que essa literatura tem sido bem recebida pela sociedade, e os índios se sentem valorizados. “Cada vez mais, precisamos provar que existimos para essa antropologia burguesa e que queremos mostrar o que temos.” Quem também deve ouvir o que tais autores têm a dizer é a Academia Brasileira de Letras (ABL), que organiza um encontro inédito, em seu salão nobre, no próximo 16 de junho. “A ideia é abrir um diálogo com os imortais para aproximar as duas literaturas e mostrar que o que se produz na floresta – a oralidade – é também a literatura utilizando o mecanismo da palavra”, explica Munduruku.

DESBRAVANDO O MERCADO Apesar de ocupar espaço crescente no segmento, ainda são poucos os autores que veem suas obras publicadas em grandes editoras comerciais. Publicado pela Companhia das Letras, Daniel Munduruku acredita que o mercado percebeu o nicho que precisa ser explorado. “Os indíge-

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O DESTINO DO JAGUAR Se as editoras ainda têm reservas em relação à publicação em massa da produção indígena, o mesmo não ocorre com a indianista, escrita por não índios. Nunca se viu a publicação de tantas obras com tal temática. Uma delas é Couro dos espíritos, da respeitada antropóloga Betty Mindlin, que conta fábulas e relatos sobre a tribo gavião-icolen,

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de Rondônia. Outro lançamento badalado é Meu destino é ser onça, de Alberto Mussa, que estudou os fragmentos de registros feitos pelo frade André Thevet sobre a cultura indígena durante a ocupação da Baía de Guanabara, em 1550. Ainda que dois escritores “veteranos” tenham movimentado o cenário cultural, foi um estreante que roubou a atenção. O mineiro Murilo Antonio de Carvalho venceu a primeira edição do concorridíssimo prêmio literário Leya, que pertence ao maior grupo editorial de Portugal. Seu primeiro romance O rastro do jaguar, ficou entre os 8 selecionados, num total de 448 romances recebidos de diferentes países de língua portuguesa. Com seis votos contra um, de um júri formado por nomes como Pepetela e Carlos Heitor Cony, o brasileiro venceu e receberá prêmio de 100 mil euros. Como jornalista e documentarista, Carvalho teve contato durante muitos anos com diferentes etnias. “Nos últimos 30 anos, estive perto das principais nações indígenas brasileiras, presenciando situações de guerras, invasões, julgamentos etc. Esta certamente é uma das razões que me levaram a estar sempre atento à vida dos índios e as questões ligadas à cosmogonia”, conta. O romance, que se passa no final do século 19, trata da vida de um índio brasileiro que foi criança para a Europa e passa por três guerras: a do Paraguai, a dos Guaranis e a dos Aimorés, em Minas Gerais – estes últimos praticamente extintos. O rastro do jaguar deve ser lançado em todos os países de língua portuguesa, além de Estados Unidos e Canadá. A edição portuguesa deve chegar às livrarias c em abril, com tiragem inicial de 70 mil exemplares. Ouça a entrevista exclusiva feita com o escritor Daniel Mundukuru no blog da cultura www.blogdacultura.com.br

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nas estão produzindo porque existe demanda e o livro chega cada vez mais para esse público comprador.” Segundo ele, o problema é que essa literatura, como é pouco conhecida, não consegue disputar espaço nas livrarias com os grandes best-sellers. Para Graça Graúna, a questão não é tão simples. O mercado editorial é construído por modelos. No geral, as editoras querem vender livros. “São aquelas obras que têm um grande campo de comercialização. Os grupos editoriais ainda mistificam a literatura indígena”, explica. Já Munduruku espera ainda mais a ampliação do mercado. “O Brasil nos conhece pouco. E os leitores precisam ler seus próprios autores e, quando o povo perceber isso, será o momento em que esta literatura despontará ainda mais.” O grande filão é o público infanto-juvenil. A obrigatoriedade do ensino da temática tornou o governo e as escolas os maiores compradores dessas obras. Recentemente, a Secretaria Municipal de Cultura e Educação do Rio de Janeiro comprou 1.300 exemplares do livro Metade cara, metade máscara, de Eliane Potiguara, para distribuir nas bibliotecas da cidade. “É preciso sensibilizar outras secretarias municipais para ampliarmos o alcance da literatura indígena no Brasil. Neste ponto, o governo tem papel fundamental.” Na página 21 e acima, fotos de Araquém Alcântara mostram a força e a beleza da cultura indígena que há 500 anos surpreende o homem branco

POLICARPO QUARESMA Lima Barreto (foto) publicou, em 1911, Triste fim de Policarpo Quaresma, a saga de um brasileiro nacionalista que busca, no conhecimento das tradições indígenas, as saídas políticas, econômicas e culturais para o Brasil. Tal ilusão o motiva a sugerir à Assembléia Legislativa a adoção do tupi como língua oficial, o que o tornou objeto de chacotas e o levou ao manicômio.

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É TUDO VERDADE DICK JONES, O DUBLADOR DE PINÓQUO NO FILME DE WALT DISNEY, DE 1940, CONTA COMO FOI ESCOLHIDO PARA DAR VOZ AO FAMOSO PERSONAGEM P O R

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da Califórnia, onde mora. Trabalho duro. Por 19 meses, ele vestiu a roupinha de tirolês e caprichou nas caras e bocas. Não fazia ideia de que a obra cinematográfica se tornaria um cult – e considerado, quase 70 anos depois, a mais perfeita animação dos estúdios Disney. Primor de técnica, grandes sacadas e orçamento abonado – tanto que a gente cresceu sabendo as cenas de cor: Pinóquio engolido pela baleia, ou virando burrico nas mãos do malvado Stromboli, o nariz esticando, sem parar, diante da Fada Azul, ou pedindo à estrela para ser um menino de verdade, com a canção When You Wish Upon a Star ao fundo. Na época, desenhistas traçavam os personagens observando atores vivos, para melhor captar movimentos, expressões, gestos mínimos. O ator interpretava, gravava a voz, as imagens eram colocadas depois. Isso explica a precisão dos desenhos, décadas antes de qualquer computador. Aquele Pinóquio que você assiste enlouquecendo o Gepeto e aprendendo sobre a importância de seguir o que manda a consciência e a fechar a matraca nas horas necessárias, aquele lá é Dick Jones.

E A CONSCIÊNCIA? Walt Disney também deixou a verdade de lado na hora de moldar seu Pinóquio ingênuo. Um boneco de madeira que mentia simplesmente pela mesma razão que todos os meninos de carne e osso (e os crescidos também) mentem: porque não lhe ocorria outra forma de conseguir o que queria. Disney achava que o original As aventuras de Pinóquio, escrito

em 1883 pelo italiano Carlo Collodi, trazia um personagem sem carisma para as grandes platéias. Para o filme, ele preferiu criar o Grilo Falante (a consciência), aquele que toma conta e faz com que o bom garoto entenda um tiquinho da ética da vida, aprenda a botar fé em seus sonhos e vire menino de verdade. Na real, o personagem concebido por Collodi era de outra cepa, era da pá virada. Um moleque egoísta e sem papas na língua, que na primeira aparição da consciência mata-a com uma martelada. O primeiro Pinóquio foi publicado em capítulos num jornal infantil de Florença, até ficar moribundo no final. Os leitores protestaram – ali estava o melhor exemplo da natureza humana. O personagem foi ressuscitado em livro, glorioso, e acabou mais famoso do que seu autor. Italianos, passionais que são, e anarquistas, graças a Deus, sempre enxergaram na história do menino de madeira uma celebração do espírito livre. Seria um subversivo natural, com um toque de poesia, que no final se redime, sim, mas apenas por ir atrás do que acredita – e sem se dobrar de fato. Tanto que Carlo Collodi tem grandes fãs: Ítalo Calvino e Paul Auster, por exemplo, colocam seu livro na lista dos fundamentais da vida. E até o dr. Freud explica: para a psicanálise, é o garoto que só vive pelo prazer, nosso ego sem censura. Depois de umas boas lambadas, ele ganha vida quando passa a entender os sentimentos dos outros e a perceber seus limites. E sua trajetória é capaz de nos cutucar sobre a autoridade, a hipocrisia e até onde dá para ir com os nossos desejos...

Da esquerda para a direita: Dick Jones em foto atual; ainda menino, em dois momentos, emprestando suas expressões e timbre ao personagem e vestido a caráter

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eria uma vida inteira de mentira a do americano Dick Jones? Aos 13 anos, metido em calças curtas, o cabelo espetadinho, ele serviu de modelo e fez a voz do Pinóquio no longametragem da Disney, de 1940. Agora, aos 82 anos, não é mais ator. Virou pescador, fala sobre peixes grandes e outras histórias. O sujeito risonho do Texas tem mesmo um punhado de aventuras para contar. Neste abril de 2009, às vésperas do relançamento em DVD remasterizado do clássico desenho animado do menino de madeira, fala orgulhoso, para a Revista da Cultura, sobre suas proezas. Tudo verdade, mas pouco importa: numa licença poética, ficamos conversados que a alma do personagem desenhou a vocação para o espírito livre em todos os meninos do planeta. Jones, por exemplo, começou cedo: aos 4 anos, saltava tão bem sobre cavalos, mas tão bem, que ganhou nos rodeios o título de “o mais jovem cavaleiro e laçador do mundo”. Um prodígio de bochechas coradas. “Esse menino devia ir para o cinema” – a frase na boca de amigos, vizinhos, treinadores, chegou ao cowboy Hoot Gibson, que levou o garoto, então com 6 anos, e sua mãe, a tentar a sorte em Hollywood. Ali, atuou em dezenas de filmes e acabou escolhido pelo próprio Walt Disney para ser o modelo de seu novo desenho animado. “Disney levou minha mãe e eu para almoçar, disse que eram muitos candidatos, mas queria que fosse eu”, conta, por telefone,

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DE CARNE E OSSO Mas vamos voltar ao nosso Dick Jones: ali pelos anos 1940, ele não passava de um menino que queria um pouco de diversão. Era divertido ser Pinóquio e mais legal ainda estar no cinema – onde foi até colega de James Stewart (Jones trabalhou com ele em A mulher faz o homem (esgotado), clássico de Frank Capra de 1939). “Stewart era muito doce, fiz dois filmes com ele”, conta Jones. Ser Pinóquio, ao menos na ocasião, não mudou muito a vida de seu ator. Na escola, ninguém sabia que a voz do menino de

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No livro ou no filme, ficamos conversados que o menino de madeira é irresistível porque tem qualquer coisa de Peter Pan, de fazer a gente voltar a ser menino e se atirar sem olhar. Às vezes dá certo, ainda que seja preciso mentir um pouquinho. De vez em quando, é preciso coragem para encarar a baleia. Então, você vê o Pinóquio atrapalhado entre o que quer e a necessidade de dar explicações, e abre um sorrisão solidário. A verdade é mesmo meio dura.

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madeira era dele. Para falar a verdade, com o perdão do trocadilho, o Pinóquio das telas não foi de cara um grande sucesso – afinal, o mundo estava em guerra, e mentiras muito mais importantes eram espalhadas por aí. Dick Jones partiu para outras. Fez uma novela de rádio, acabou se alistando no exército americano, serviu no Alasca, voltou com medalhas e façanhas. Virou cowboy, atuou em 101 filmes e 300 episódios de TV: laçou índios, bandidos, fez tanta coisa, foi até Buffalo Bill. No quesito romântico, o ator, que chegou a ser galã, não se arriscou tanto assim. Casou-se com a namorada Betty há 60 anos, tem 4 filhos, 6 netos e 5 bisnetos. Nunca contou para eles quem é o verdadeiro Pinóquio. Hoje, vive em San Fernando Valley, região afetada por um grande terremoto nos anos 1990 – perdeu boa parte da casa, mas reconstruiu tudo e continua na área. Não vai ao cinema, não gosta de desenhos computadorizados. O que gosta, mesmo, é de pescar. Se conta lorotas? Ah, ele já pegou uns peixões c enormes, você precisava ver só.

LIVROS

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PINÓQUIO, Tatiana Belinky conta a fábula de Carlo Collodi na Coleção Histórias infantis PINÓQUIO, Carlo Collodi Coleção Clássicos nacionais AS AVENTURAS DE PINÓQUIO, Carlos Collodi e Marina Colasanti PINÓQUIO ÀS AVESSAS, Rubem Alves AS AVENTURAS DE PINÓQUIO , Carlos Collodi

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DVD + CD PINÓQUIO – ED. 70º ANIVERSÁRIO + CD TRILHA SONORA

O charme de um clássico Walt Disney vinha do enorme sucesso de Branca de Neve e os sete anões (esgotado) quando decidiu contar no cinema a história de Pinóquio. Não economizou, nem nas ideias, nem no orçamento: foi uma superprodução para os padrões da época, custou 2,6 milhões de dólares. Os números parecem cascata: foram usados 750 artistas, 80 músicos, 1.500 tons de cor e 1 milhão de desenhos para levar a história do boneco de madeira às telas. Difícil mesmo foi chegar ao que Disney queria. Sete roteiristas suavizaram a personalidade insolente do Pinóquio dos livros e trataram de, literalmente, dar mais peso à consciência na história: o Grilo Falante. Cliff Edwards, que faz a voz do Grilo (Jiminy Cricket, em inglês), é quem canta a canção-título, When You Wish Upon a Star, vencedora do Oscar de 1940. Já a voz da linda Fada Azul é de Evelyn Venable, uma atriz dos anos 1930 – e, entre as mentiras que se contam sobre o filme, existe uma versão de que Marilyn Monroe teria inspirado o charme da personagem. Difícil. Em 1940, Marilyn tinha 14 aninhos e ainda era Norma Jean. Para os animadores, o mundo dos cartoons se divide entre antes e depois de Pinóquio. Foi a primeira vez que os estúdios contrataram um escultor para as maquetes. Soluções inovadoras como moldar o Gepeto em 3D, ou fazer o Grilo expansivo, sempre em closes, para parecer maior em cena, ou os muitos efeitos para iluminar os personagens dentro da água, na cena da baleia, todos os detalhes da obra são admirados até hoje. Na versão brasileira, a dublagem traz a curiosidade de, no coro das músicas, ter o Quarteto em Cy e o MPB-4. FOTO: DIVULGAÇÃO

revista da cultura

DESENHISTAS TRAÇAVAM OS PERSONAGENS OBSERVANDO ATORES VIVOS, PARA CAPTAR MELHOR MOVIMENTOS, EXPRESSÕES E GESTOS MÍNIMOS

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artigo

Mentira? Verdade? “NINGUÉM MENTIA MAIS DO QUE ELE. CONTAVA CADA PATACOADA QUE DAVA VERGONHA OUVIR, IMAGINEM DIZER.” I G N Á C I O

D E

L O Y O L A

A molecada se reunia. — A mentira vem chegando. Era uma menina baixinha, quase anã. Todo mundo tirava o pelo dela. Uns gritavam: — Vai anãzinha, vai p’ro circo. — Vai ser comida pelo leão. — Vai lá casar com o gigante. Enquanto isso, outros a chamavam pelo apelido: Mentira. Um dia, na escola, a professora chamou um grupo. Estava irritada. — Que história é essa de chamar a Creuza de Mentira? Acaso ela conta alguma mentira? Contou? Por que isso? — Ora, professora, responderam todos, nossos pais não vivem dizendo que a mentira tem perna curta? Olha a perninha da Creuza! A professora não conseguiu segurar o riso, mas pediu: — Parem com isso, é maldade. Outra vez, chamamos o Dioniso (assim mesmo, como se faltasse um i) Mentiroso para uma aposta. Ninguém mentia mais do que ele. Contava cada patacoada que dava vergonha ouvir, imaginem dizer. Ele afirmava que o pai tinha sido prefeito de uma cidade, quando todos sabiam que não tinha pai. Ou parece que tinha, mas ele tinha vergonha do pai, um expadre que fugira com a empregada. Contava sempre que ia receber uma herança aos 18 anos, só que ele era duro, emprestava dinheiro e não pagava, roubava da bolsa da mãe e das tias, comprava na quitanda e a mãe tinha de se virar. — Qual é a aposta? — Não é bem aposta, é uma corrida. — Quem contra quem? — Você contra o Nando Manquinho. — Contra o Nando Manquinho? O Nando Manquinho era um garoto bom, todo mundo gostava dele. Acho que gostavam por causa da irmã dele, uma gostosinha. — Quem ganha, ganha o quê? — Um sorvete de uvaia. Fruta do interior, azedinha, deliciosa para suco e sorvete, só dá em certa época. Dioniso, interesseiro, topou. Por um momento, teve um leve aceno de consciência. — Logo contra o Manquinho? Covardia! Claro que vou ganhar. Por que essa corrida? — Queremos tirar uma dúvida. Nossas mães vivem gri-

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B R A N D Ã O

tando uma coisa para nós, queremos tirar a prova. — Que coisa? — É mais rápido e fácil pegar um mentiroso do que um manco. Numa prova, a professora, que era exigente quanto ao português — tínhamos aulas todos os dias —, propôs. — Vou dizer uma palavra, vocês dizem o contrário. E quanto mais palavras contrárias disserem, melhor a nota. Vai valer para a média do final de ano. — Mentira, disse a professora. — Verdade, dissemos todos. — Essa é fácil demais. Quero outras. Ponham a cabeça a funcionar. — Cabeluda, disse a Wanda-olho-azul. — Cabeluda? O que é isso? — Pois todo mundo diz mentira cabeluda... — Está bem, valeu. — Falsidade. — Patrosca. — Patrosca? Onde ouviu ? — No armazém. — Coisa de caipira. Esquisita, mas vale. — Invenção. — Inverdade. — Conto da carochinha. — Engano. — Farsante. — Farsante? De onde tirou isso? — Minha mãe disse do meu pai, que chegou tarde em casa. Achei que farsante é mentiroso. — Pois minha mãe disse que o meu pai é enganador. — E a minha xingou o meu de embusteiro. — A minha disse que meu irmão é cheio de patranhas. — Meu pai disse que a vizinha é pulha. É o mesmo que mentira, mentirosa? — O meu disse que a mulher do dono do bar é infiel. O que é infiel? — O quê? Minha mãe? Reagiu o filho do dono do bar. Parece que a professora viu que a coisa caminhava de maneira estranha, estava com cara de terminar mal. Decidiu parar, deu nota boa para todo mundo. Juro que ela estava rindo quando deixou a classe.

IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

Autor premiado e publicado em diversas línguas, escreveu Não verás país nenhum, Zero e O homem que odiava a segunda-feira, entre outros. Em 2008, ganhou o Jabuti na categoria ficção com o infanto-juvenil O menino que vendia palavras.

FOTO: ANDRÉ BRANDÃO

P O R

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ler para ser

GABRIELA CRISTINA E FLORA MARCHI LOURENÇO Profissões: Estudantes O que compraram? DVD High School Musical 3. “Porque gostamos das músicas e dos personagens.” Cultura é... “Conhecimento, viver com sabedoria.”

villa-lobos GISELA LENTINI Profissão: Analista comercial O que comprou? Elvis – A Biography, de Jerry Hopkins. “Because we always go on together (porque sempre seguiremos juntos).” Cultura é... “Aprendizado, o que não pode faltar no mundo.”

revista da cultura

ENIVAL MELHADO

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Profissão: Psicanalista O que comprou? O que você diz depois de dizer olá?, de Eric Berne. “Para aprimorar o know-how, as referências sobre psicanálise.” Cultura é... “Sempre estar um passo à frente na caminhada da humanidade.”

MARCEL BUAINAIN Profissão: Publicitário O que comprou? CD Motown 50 – Yesterday Today Forever. “Para ter em casa as músicas da gravadora que revelou os melhores artistas negros do século 20.” Cultura é... “Importante.”

VANESSA NOGUEIRA

Profissões: Engenheiro e estudante de biologia O que compraram? Engenharia de automação industrial, de Plínio de Lauro Castrucci e Cícero Couto de Moraes, e Introdução à genética, de Anthony Griffiths. “Para ajudar no desenvolvimento profissional.” Cultura é... “Arte, criação e conhecimento.”

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FOTOS: MELISSA HAIDAR

LUIS AUGUSTO ARRUDA COSTA (PAI) E VITOR BUENO ARRUDA (FILHO)

Profissão: Arquiteta O que comprou? A arte da persuasão, de Richard Schell e Mario Moussa. “Para melhorar o poder de convencimento.” Cultura é... “Viver.”

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agenda

SÃO PAULO

revista da cultura

Um sorriso, uma lágrima “Num filme, o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação.” Em 16 de abril de 1889, nascia Charles Chaplin. Em comemoração aos 120 anos de seu nascimento, a mostra Risos & Lágrimas irá exibir três grandes sucessos deste gênio do cinema. Livraria Cultura Market Place Dia 18 de abril O grande ditador, às 11 horas Tempos modernos, às 15 horas Luzes da cidade, às 18 horas

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Cultura na Virada

Bom de bola

Neste ano, alguns eventos da Livraria Cultura farão parte da programação da Virada Cultural de São Paulo que acontecerá entre os dias 2 e 3 de maio. O clímax ficará por conta do Cultura Experimental. Com músicas que agrupam elementos eletrônicos de vanguarda, música erudita e jazz, os amantes deste gênero – e quem ainda não o conhece também – poderão curtir os shows que acontecerão a partir das 19 horas. Livraria Cultura Villa-Lobos Dia 2 de maio Labirinto, às 19 horas Nathan Bell, às 20 horas Patife Band, às 21 horas

O jornalista Maurício Noriega irá autografar a obra Os 11 maiores técnicos do futebol brasileiro, em que fala sobre a importância que tem sido conferida a este profissional pela mídia especializada e pelos torcedores. O livro ainda traz um perfil de cada personalidade, estruturado a partir do número de conquistas, do impacto que teve em sua época, das inovações que trouxe ao esporte e de sua trajetória pessoal. Livraria Cultura Conjunto Nacional Dia 27 de abril, às 19 horas

Como será o amanhã O jornalista Heródoto Barbeiro ministrará uma palestra sobre o livro O novo relatório da CIA, cuja introdução é assinada por ele, sobre o declínio do império americano, as guerras por água e alimento, o Brasil como potência, além de previsões bastante preocupantes sobre o futuro da globalização. Após o bate-papo, haverá uma sessão de autógrafos. Livraria Cultura Conjunto Nacional Dia 18 de abril, às 14 horas

Só para crianças A especialista em psicologia infantil Margareth Darezzo irá apresentar canções criadas em mais de 20 anos como professora de iniciação musical. No show, cantará e tocará temas atuais do universo da criança, como Vida de bicho, Filho de sapo e Golfinho. Essas e outras músicas estão reunidas no álbum Canteiro, que conta com arranjos de Pichu Borelli e a participação especial de Dominguinhos. Livraria Cultura Bourbon Pompéia Dia 26 de abril, às 17 horas 125 lugares. O ingresso é 1 kg de alimento não perecível

ACONTECE PAG30v1.indd Sec1:30

Papo reto Entre uma canção e outra, os gaúchos do Fresno (foto acima) aproveitam para colocar o papo em dia com os fãs em um pocket show. Apresentando músicas do disco Redenção – o quarto da banda –, Lucas, Vavo, Bell e Tavares falam sobre carreira, projetos pessoais e a levada mais pop deste novo trabalho. Livraria Cultura Market Place Dia 6 de maio, às 19 horas 99 lugares. Os ingressos serão distribuídos na data do show, a partir das 16 horas

Parabéns para você Em homenagem aos 90 anos da escritora Tatiana Belinky, diversas atividades infantis baseadas em seus livros mais recentes serão realizadas em parceria com a Editora Paulinas, como contação de histórias, oficina de desenhos e brincadeiras com a garotada. Depois de uma divertida conversa com a escritora, todos estarão convidados a cantar parabéns e experimentar seu bolo de aniversário. Livraria Cultura Villa-Lobos Dia 18 de abril, às 15 horas

A hora do choro Sempre na última sexta-feira do mês, o Conjunto Retratos apresenta clássicas composições brasileiras em um repertório que inclui chorinhos, valsas, polcas, habaneras e maxixes. Com o intuito de preservar nossa cultura, o grupo preparou, para esquentar a noite de estreia, uma mistura de ritmos europeus com música religiosa e pagã no show Os pioneiros, que inclui obras de Joaquim Antonio da Silva Callado, Mario Álvares da Conceição, Cândido Pereira da Silva, Irineu de Almeida e Albertino Pimentel. Livraria Cultura Bourbon Pompéia Dia 24 de abril, às 20 horas 125 lugares. O ingresso é 1 kg de alimento não perecível

CAMPINAS Para ficar na moda O verão de 2010 ainda demora um pouco a chegar, mas, para quem não quer fazer feio na hora de compor o modelito, o seminário Tendências de moda e cultura trará especialistas e profissionais do ramo para falar sobre moda praia, tecidos, cores e calçados, além dos mercados feminino, masculino e infantil. Confira no site www.livrariacultura.com.br/eventos a programação completa. Livraria Cultura Iguatemi Dia 19 de abril, a partir das 13 horas

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acontece na Quatro é ainda melhor

BRASÍLIA

Homenagem a Euclides da Cunha

De volta

Os músicos da banda brasiliense Velásquez – Luiza Dusi na bateria, Hugo Mesquita, Latif Chater, Leonardo “Parágua” e Isac Moraes, revezando guitarras, baixos e vocais – irão realizar uma apresentação muito especial, cantando e tocando canções de autoria própria em um show de rock’n roll que promete agitar a capital federal. Livraria Cultura CasaPark Dia 12 de abril, às 17 horas 154 lugares. O ingresso é 1 kg de alimento não perecível

Em turnê pelo Brasil há cinco meses, a cantora e instrumentista Karine Cunha (foto abaixo) volta a Porto Alegre para apresentar as canções que compôs para os álbuns Fluida e Epahei, na companhia do multi-instrumentista Marcus Bonilla, com arranjos para viola caipira, violoncelo, violões, efeitos eletrônicos, cavaquinho e percussão. Livraria Cultura Bourbon Country Dia 17 de abril, às 19h30

Em comemoração ao Dia das mães, a fotógrafa Elis Frigini retrata o universo feminino na exposição Maternidade. A partir de um ponto de vista bastante delicado, as imagens mostram uma das fases mais marcantes e transformadoras da vida de uma mulher. Livraria Cultura CasaPark De 2 a 16 de maio De segunda a sábado, das 10h às 22h. Domingos e feriados, das 14h às 20h

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SÃO PAULO Conjunto Nacional Av. Paulista, 2.073 01311-940 Tel. (11) 3170-4033

No ano do centenário de morte de Euclides da Cunha, os renomados professores Antonio Hohlfeldt, Antonio Vieira Sanseverino, Luis Augusto Fischer e Marcia Ivana de Lima e Silva, mediados por Maria Regina Bettiol, realizam um debate sobre a obra clássica da literatura brasileira, Os sertões, que imortalizou o funcionário público, além de escritor, repórter de guerra, poeta, sociólogo, cronista, engenheiro e viajante. Livraria Cultura Bourbon Country Dia 27 de abril, às 19h30

Para dançar

Nasce uma mãe

LOJAS

PORTO ALEGRE

Shopping Villa-Lobos Av. Nações Unidas, 4.777 05477-000 Tel. (11) 3024-3599 Market Place Shopping Center Av. Dr. Chucri Zaidan, 902 04583-903 Tel. (11) 3474-4033 Bourbon Shopping Pompéia Rua Turiassu, 2100 05005-900 Tel. (11) 3868-5100 BRASÍLIA/DF

RECIFE Dupla dinâmica Dez artistas de vários cantos do Brasil foram convidados a participar de uma exposição que reunirá obras dedicadas ao Abril Pro Rock. Durante todo o mês, criações de artistas como Juliana Notari, Shiko, Derlon, Mascaro (obra acima) e Carlota aguardam sua visita. Livraria Cultura Paço Alfândega De 1 a 30 de abril De segunda a sábado, das 10h às 22h. Domingos e feriados, das 14h às 20h

Clássicos do blues Os músicos da banda Blues Mascavo irão interpretar clássicos do blues e composições próprias, resultantes da melhor fusão entre o som eletrônico e o acústico. Livraria Cultura Paço Alfândega Dia 19 de abril, às 17 horas 112 lugares. O ingresso é 1 kg de alimento não perecível

CasaPark Shopping Center SGCV / Sul, Lote 22 71215-100 Tel. (61) 3410-4033 CAMPINAS/SP Shopping Iguatemi Av. Iguatemi, 777 13092-971 Tel. (19) 3751-4033 PORTO ALEGRE/RS Bourbon Shopping Country Av. Túlio de Rose, 80 91340-110 Tel. (51) 3028-4033 RECIFE/PE Paço Alfândega Rua Madre de Deus, s/nº 50030-110 Tel. (81) 2102-4033 Programação sujeita a alteração, para mais informações, acesse: www.livrariacultura.com.br

FOTO CHAPLIN : CINEMAPHOTO/CORBIS / DIVULGAÇÃO

Com repertório composto de sucessos da música popular brasileira, o Sax Bem Temperado – quarteto de saxofones composto por Flávio Corilow, Ronaldo Marquetti, Vinícius Corilow e Paulo Pupo – irá apresentar um show com arranjos originais, que abrange desde linhas de baixo, semelhantes ao violão de sete cordas, até linhas de alto e tenor, equivalentes ao cavaco e ao violão. Livraria Cultura Iguatemi Dia 17 de abril, a partir das 19 horas

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ficção em português RANKING

ficção em inglês 1. 2. 3. 4. 5. 6.

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revista da cultura

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BREAKING DAWN, Stephenie Meyer Little Brown USA NEW MOON, Stephenie Meyer Time Warner UK TWILIGHT, Stephenie Meyer Time Warner UK ECLIPSE, Stephenie Meyer Little Brown UK THE READER, Bernhard Schlink Bantam Books THE GIRL WHO PLAYED WITH FIRE, Stieg Larsson Quercus SLUMDOG MILLIONAIRE, Vikas Swarup Simon & Schuster CONFESSIONS OF A SHOPAHOLIC, Sophie Kinsella Bantam Books PRIDE AND PREJUDICE, Jane Austen Dover Thrift THE CURIOUS CASE OF BENJAMIN BUTTON, F. Scott Fitzgerald Simon & Schuster

Apesar da queda, o título mantém o 2ª lugar. Meyer tem outras 3 obras entre os 5 + importados!

não ficção em português 1. 2. 3.

4. 5. 6. 7.

8. 9. 10.

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COMER, REZAR, AMAR, Elizabeth Gilbert Objetiva MARILYN E JFK, François Forestier Objetiva COMO VENCER UM DEBATE SEM PRECISAR TER RAZÃO, Arthur Schopenhauer Topbooks GOMORRA, Roberto Saviano Bertrand Brasil MENTES PERIGOSAS, Ana Beatriz Barbosa Silva Fontanar A ARTE DA VIDA, Zygmunt Bauman Jorge Zahar 1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER, Steven Jay Schneider Sextante VENCENDO O PASSADO, Zibia Gasparetto Vida e Consciência 1808, Laurentino Gomes Planeta do Brasil CULTURA – UM CONCEITO ANTROPOLÓGICO, Roque de Barros Laraia Jorge Zahar

O filme levou à reedição em inglês e disparou as vendas da 1ª edição definitiva em português.

Força de um clássico: poesia de Vinicius, lançada na 2ª semana, fica entre os 10 mais.

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23/02 a 01/03

02/03 a 08/03

A CABANA, William P. Young Sextante

ECLIPSE, Stephenie Meyer Intrínseca

CREPÚSCULO, Stephenie Meyer Intrínseca

O LEITOR, Bernhard Schlink Record

LUA NOVA, Stephenie Meyer Intrínseca

O MENINO DO PIJAMA LISTRADO, John Boyne Companhia das Letras

O VENDEDOR DE SONHOS, Augusto Cury Academia de Inteligência

A CIDADE ILHADA, Milton Hatoum Companhia das Letras

ANTOLOGIA POÉTICA EDIÇÃO DE BOLSO, Vinicius de Moraes Companhia de Bolso

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* O GRÁFICO TEM COMO OBJETIVO DEMONSTRAR O DESEMPENHO DOS TÍTULOS MAIS VENDIDOS EM CADA MÊS NAS OITO UNIDADES DA LIVRARIA CULTURA E NO SITE WWW.LIVRARIACULTURA.COM.BR. ** SÃO DESCONSIDERADAS VENDAS CORPORATIVAS E REALIZADAS EM NOITES DE AUTÓGRAFOS.

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Raymond Queneau

Z azie n o m et rô Um romance clássico e desbocado. A menina que seduziu Roland Barthes e Louis Malle. Andar de metrô e usar calça jeans – Zazie, de 13 anos, só pensa nisso nos dois dias que tem para conhecer Paris. Mas uma greve dos transportes e um sujeito que mais parece um tarado (ou será um policial?) vão desviar a menina de suas obsessões e fazê-la ver a cidade de um outro jeito. Uma das personagens femininas mais fortes (e mais boca-sujas) da literatura francesa.

Uma outra menina inesquecível…

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Uma inventiva história que no lugar de “era uma vez” começa assim: Por tudo aquilo que eu sei e que eu não sei, com quase treze anos, a minha vida não está legal.

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A origem do Nazismo segundo Bergman A VERSÁTIL e a MGM apresentam um dos filmes mais famosos de INGMAR BERGMAN, ambientado na Alemanha poucos anos antes da ascensão de Hitler. O mestre sueco tece uma profunda reflexão sobre as origens do Nazismo. No elenco, ótimas atuações de LIV ULLMANN e DAVID CARRADINE.

A vida de um dos maiores escritores franceses

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Versão integral da inédita minissérie européia sobre a vida e a obra do grande escritor francês HONORÉ DE BALZAC (1799 – 1850), autor de Pai Goriot, As Ilusões Perdidas, entre outras obras-primas da literatura universal. Uma produção magnífica com grande elenco, incluindo GÉRARD DEPARDIEU, JEANNE MOREAU, VIRNA LISI e FANNY ARDANT. Caixa com 2 DVDs.

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O pai da Filosofia Moderna Dando continuidade ao lançamento dos filmes do mestre ROBERTO ROSSELLINI sobre grandes filósofos da Humanidade, a Versátil apresenta essa excelente cinebiografia do filósofo, físico e matemático francês RENÉ DESCARTES (1596 – 1650), considerado o fundador da Filosofia Moderna e autor da frase “penso, logo existo.”

Um dos pioneiros do cinema brasileiro Conheça a história de SILVINO SANTOS (1886 - 1970), um cineasta que trouxe às telas as primeiras imagens da Amazônia no início do século XX. O diretor AURÉLIO MICHILES resgata neste filme-documentário a vida e a obra deste extraordinário pioneiro do cinema brasileiro. No elenco, JOSÉ DE ABREU e DENISE FRAGA.


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Os Dez Mandamentos Single e Edição Especial para Colecionador R$ 19,90 cada

Vinícius DVD + Livro de sonetos R$ 29,90

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Totalmente Restaurado e com extras inéditos.

Jornada nas Estrelas A Série Clássica 1a Temporada - 8 discos R$ 129,90

Na Natureza Selvagem R$ 19,90

O Caçador de Pipas R$ 19,90

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Lançamentos selecionados para você O Leitor O curioso caso de Benjamin Button e outras histórias da Era do Jazz F. Scott Fitzgerald R$ 35,00

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“O curioso caso de Benjamin Button” e outros emblemáticos contos de F. Scott Fitzgerald, um dos gigantes da literatura norte-americana.

Bernhard Schlink R$ 29,00

Na lista dos mais vendidos há semanas, o livro relata a história de Michael e Hanna e a relação amorosa dos dois, marcada por pequenos gestos e rituais ao longo de meses, até o desaparecimento da mulher. Um livro emocionante que nos questiona: até que ponto chegamos para guardar um segredo?

Coração Andarilho

Moscou 1941

Nélida Piñon

Rodric Braithwaite

R$ 38,00

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“Meu testemunho é impreciso. Misturo a colheita da memória com a invenção, porque é tudo que sei fazer.” Dessa forma, a autora nos oferece um livro de memórias peculiar, no qual conta detalhes de sua infância, juventude, amores, carreira, viagens – sua odisseia pessoal de forma corajosa e lírica.

R$ 23,20

R$ 52,00

O livro procura entender o que se passava nos corações e mentes dos soviéticos durante a Segunda Guerra Mundial. O autor recria a atmosfera da época ao reunir relatos de estudantes, enfermeiras, trabalhadores e artistas, que viviam na União Soviética naquele momento.

O instinto matemático A guerra do cálculo

Keith Devlin

Jason Socrates Bardi R$ 40,00

R$ 40,00 R$ 32,00

No início do século XVIII, os gigantes da matemática britânica e alemã, Newton e Leibniz, brigaram acirrada e publicamente pela autoria do cálculo. Um livro acessível e fascinante que narra o maior debate sobre propriedade intelectual de todos os tempos.

R$ 32,00

O autor, um dos maiores populizadores da disciplina, nos mostra como podemos aprimorar nosso conhecimento matemático inato, através de maneiras e estratégias que podem ser empregadas por pessoas comuns.

Códex Arquimedes A queda de Tróia

Reviel Netz e William Noel

Peter Ackroyd

R$ 49,00

R$ 36,00

R$ 28,80

“Uma história de amor com doses de obsessão, loucura e morte.” The Independent O grande sonho de Obermann, personagem inspirado no arqueólogo Heinrich Schiliemann, é conhecer todos os detalhes da guerra de Tróia, e provar que os heróis descritos por Homero realmente existiram.

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O livro desvenda a verdadeira história do mais importante códex científico hoje existente. Ele sobreviveu por mais de mil anos e somente agora, graças à mais moderna tecnologia, seu conteúdo original foi revelado, apresentando resultados surpreendentes que mudam nossa compreensão sobre a ciência.

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Coleção Brasiliana. Um dos mais importantes projetos editoriais em estudos brasileiros desde 1931. Agora em suas mãos.

A Corte de Portugal no Brasil Notas, alguns documentos diplomáticos e cartas da imperatriz Leopoldina

Cartas Baianas 1821 - 1824 Subsídios para o estudo dos problemas da opção na Independência brasileira

Luís Norton R$

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Cartas Luso-Brasileiras 1807 - 1821 A invasão francesa A corte no Brasil A Revolução Liberal

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O Brasil como Império Organização: Sonia Guarita do Amaral

Desvende o Brasil Império. Conheça em detalhes os aspectos desse período fundador da nossa história: a política, a sociedade, as artes, as instituições e os costumes. R$

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PALAVRAS CRUZADAS E PASSATEMPOS INTELIGENTES

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C o n f i r a a s r e s p o s t a s n a R e v i s t a d a C u l t u r a o n - l I n e . O l i n k f i c a n a p á g i n a i n i c i a l d o s i t e w w w. l i v r a r i a d a c u l t u r a . c o m . b r

HORIZONTAIS: 1. (Pop.) O que está em moda · O fotógrafo paulista Alcântara, um dos mais proeminentes da atualidade, famoso por sua documentação da natureza e do povo brasileiro 2. O músico francês Charles (1818-1893), responsável pelo ressurgimento musical de seu país no século 19 · O ator norte-americano Lancaster (1913-1994), de Entre Deus e o pecado 3. Baile popular ao som de instrumentos de percussão · Instituto de Química 4. Dez vezes cem · Serviço de Assistência ao Usuário · Habitação de forma hemisférica, feita de blocos de gelo, usada durante o inverno por certos esquimós 5. O famoso romance de Mario de Andrade com o herói sem nenhum caráter 6. O apelido de um dos maiores tenistas que o Brasil já teve · Sufixo aumentativo · As iniciais do educador, antropólogo e romancista Darcy (1922-1997), de O povo brasileiro 7. Os elos de uma corrente · Os extremos da... Europa · Que te pertence 8. O nome do cantor Maia (1942-1998) · (Pop.) Bater, surrar 9. A ponta da... raiz · O romancista Mário (1916-1996), de Chapadão do bugre 10. Grupo de veículos, viaturas de artilharia etc. · O símbolo químico do califórnio 11. Resto de dente que ficou na gengiva · Aquele que não teme o perigo. VERTICAIS: 1. Filho de Iemanjá, orixá poderoso, guerreiro e lutador · O cantor chileno Lucho, um dos reis do bolero 2. Gênero teatral japonês com danças · Inocular vacinas 3. Substituição do idioma original por outro num filme falado · Sigla de um estado da grande região Nordeste 4. A modelo e apresentadora Hickmann · Espécie de pequeno macaco · Prefixo que exprime antecedência 5. Antiga cidade imperial japonesa, na ilha de Honshu; parte da cidade está incluída no Patrimônio Mundial da Unesco · (Madame de) Famosa escritora francesa (1766-1817) 6. Alfândega · Anotação médica que declara terminado um tratamento ou uma internação 7. O personagem Policarpo, que teve seu triste fim escrito por Lima Barreto 8. (Simbel) Localidade do Egito com monumentos dedicados a Ramsés II · Romance indianista de José de Alencar (1865) 9. Venda de mercadorias a baixo preço · Tartaruga fluvial encontrada na Amazônia, de grande porte 10. (Bíbl.) A cidade de onde partiram Abraão e suas tribos para a Terra Prometida · As iniciais do escritor maranhense Aranha (1868-1931), de Canaã · Clube que é campeão em competição esportiva pela terceira vez 11. (Quím.) Radical orgânico monovalente formado pela remoção de um átomo de hidrogênio de um hidrocarboneto saturado · A quarta letra do nosso alfabeto · Construção de madeira, entretecida e coberta por fibras vegetais, usada pelos indígenas do Brasil como moradia de uma ou mais famílias 12. Cerimônia sócio-religiosa celebrada pelas tribos indígenas do alto Xingu · As iniciais do cineasta italiano Zeffirelli, de Romeu e Julieta.

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