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Onde estão os Supermodelos Masculinos
Mark Vanderloo, dos Países Baixos, 49 anosFoto: Getty Images
Por outro lado, porque o mercado assim o obriga: a poderosa indústria da cosmética continua a estar maioritariamente direccionada para um público feminino (ainda que também isso esteja a mudar, ainda que lentamente). Por esta ordem de ideias, é lógico que os grandes investimentos sejam feitos em campanhas com mulheres. De acordo com um estudo efectuado pela revista Forbes, a estimativa anual do que recebe uma modelo como Gisele Bündchen é de 30,5 milhões de dólares, o que a torna a modelo mais bem paga, em 2016. Sabe-se que o modelo nessa categoria é Sean O’Pry, com 1,5 milhões, segunda dados da Forbes… de 2013. Ou seja, o desequilíbrio é gritante e aquela revista já não realiza a lista masculina há quatro anos. Como comentou Brad Kroenig, o menino prodígio de Karl Lagerfeld, ao The New York Times, “a profissão de modelo masculino é para o negócio das mulheres, como o WNBA [Women’s National Basketball Association] é para o NBA”. O sucesso de Brad Kroenig confirma o que escreveu, em 2007, o editor de moda canadiano Tim Blanks na revista V Man, a propósito da profissão de modelo masculino: “Há, apesar de tudo, um prémio de consolação para os homens. Estamos certos de que envelhecemos melhor”. Brad Kroenig tem 38 anos e o seu físico confere. Ruben Rua, 30 anos, modelo português há 13 e booker na Agência Elite, sublinha a teoria de Blanks: “Se os modelos masculinos perdem por um lado, vencem pelo outro. É certo que as mulheres ganham mais. Contudo a carreira [masculina] é mais duradoura. O mercado rejeita uma mulher mais velha mas, no entanto, quer um homem mais velho. O modelo masculino pode ter uma carreira de 20, 30, 40 anos, ao passo que a [carreira] de uma mulher termina, invariavelmente, na casa dos 30”. Kate Moss à parte, claro. Ruben Rua, que já participou em campanhas para casas como a italiana Valentino, relembra que, até 2014, a final mundial do concurso Elite Model Look só incluía mulheres. “Hoje”, acrescenta, “o número de modelos femininos e masculinos inscritos na agência [Elite] é bastante equilibrado, com uma percentagem de 60/40”.
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Sean O’Pry, dos EUA, de 28 anos, o modelo masculino mais bem pago
Mas a história da profissão de modelo masculino não começa aqui e o protótipo deste nem sequer se aproxima com o modelo desenhado pelo cinema, através da sátira norte americana Zoolander e da sua sequela Zoolander 2, ambas protagonizadas por Ben Stiller e por Owen Wilson, numa sequência de filmes que ridicularizam a profissão. Décadas antes, em 1961, Eleanor Graves, jornalista da Life, publica o perfil de um homem chamado John Harkrider que havia sido, nada mais, nada menos, que dono, fundador, caça-talentos e booker daquela que foi a primeira agência de modelos masculinos. Já na época, esta era uma profissão que pertencia às mulheres e o negócio no masculino não se avizinhava fácil. Assim, e numa base diária, o agente percorria sozinho as ruas de Nova Iorque em busca do rosto perfeito para determinada campanha, abordando desde o empresário ao homem das obras. O único requisito? Que tivesse, tal como dizia enquanto entregava o seu cartão pessoal: “A million dollar face”. Ainda que na época de Harkrider não houvesse espaço para encaixar o conceito de top model — o qual se consolidou, na década de 90, com o grupo de mulheres composto, entre outras, por Cindy Crawford, Linda Evangelista, Naomi Campbell, Christy Turlington e Claudia Schiffer — também os homens tiveram o seu pequeníssimo reinado de supermodelos. Tudo começou, em Dezembro de 1978, quando o Soho Weekly News publicou uma séria de imagens assinadas por um fotógrafo (à data) desconhecido, de seu nome Bruce Weber. O modelo nas imagens era Jeff Aquilon, um jogador de pólo aquático da Universidade de Pepperdine. O pretexto era uma sessão de roupas íntimas; o sub-texto um devaneio íntimo, sub-repticiamente (homo)erótico e surpreendente na sua intensidade narcisista. Ainda que o conteúdo não fosse completamente novo (a nudez masculina já podia ser vista nos trabalhos de Baron von Gloeden, Herbert List e George Platt Lynes), o contexto era. Podia-se dizer que Weber havia proposto um novíssimo ideal de masculinidade — ambíguo, submisso, sensível — abrindo desta forma uma janela à forma de como os homens eram retratados pelo media. Estava então aberta a (curta) época dos top models masculinos que glorificou nomes já citados, como Vanderloo, Schenkenberg, Lundqvist ou Beckford.