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Onde estão os Supermodelos Masculinos

O norte-americano John Harkriden fundou a primeira agência de modelos masculinos, em Nova Iorque. Vêmo-lo, em 1958, a preparar uma produção de moda. Contratava os modelos nas ruas da Big Apple, fossem eles trabalhadores da construção ou executivosFoto: Getty Images

A somar a todos os factores apontados e que colocam a palavra carreira de modelo masculino em desuso, existe a não menos importante questão da descartabilidade do mercado, talvez a mais forte do momento, resultado dos tempos presentes. O tipo de casting que, no passado era assinatura de designers como Slimane, Rick Owens, Raf Simons, ou Yohji Yamamoto, começa a tornar-se prática comum, até nas mais conservadoras casas da moda. Basta vermos a lista de modelos a seguir, em 2016, pelo site da Vogue Homme, com jovem imberbes, esquálidos e que não correspondem ao arquétipo da beleza clássica para entendermos como o conceito mudou radicalmente. Longe dos tempos dominados por deuses gregos ao melhor estilo Vanderloo, as marcas, mais do que os rostos hot da estação, procuram personalidades, modelos que vinguem pelas suas especificidades. O director de casting da Sacaï e da Céline explica à Newsweek: “Penso que há, hoje, o desejo de que os modelos sejam credíveis. Portanto, procura-se o rapaz que faça parte da banda, o jovem poeta ou qualquer outro que funcione de acordo com o briefing apresentado. Designers e stylists querem personagens que representem a sua mensagem, que contem uma história”. Assim, os modelos trabalham por uma ou duas estações e as suas vidas continuam: “Têm momentos, não carreiras”, explica Ruben Rua. É como se se tivesse institucionalizado a máxima da top model Tyra Banks que rezava que, na moda, “um dia estamos in, no outro estamos out”. Este tipo de exigência não acontece, porém, no mercado feminino, onde se pretende que o foco das modelos ainda seja a moda e não qualquer outra actividade à parte que as distraia no caminho.

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Os modelos masculinos serviam, no início, como suporte de produções de moda,como revela a imagem da Vogue EUA, em 1968Foto: Getty Images

A colmatar, há ainda a questão do digital que com toda a sua pujança trouxe a palco nomes que, de outra forma, não surgiriam na orla da moda. O cantor, actor e digital influencer Cameron Dallas, por exemplo, com apenas 22 anos e nenhum passado na moda, é um dos rostos mais requisitados do mundo. O millenial que conta com 16,1 milhões de seguidores no Instagram e cinco milhões de subscritores no YouTube causou furor, em Janeiro passado, ao abrir o desfile Primavera/Verão 2017 da Dolce & Gabbana. Ruben Rua explica que são as novas formas de se sobreviver na moda e de se fazer carreira: “Hoje trabalho muito mais como digital [influencer] do que como modelo”. Contrariando o passado do mercado de modelos masculinos, as marcas viram surgir uma nova forma de fazer chegar os seus produtos e serviços ao target feminino que passa por colocá-los perto dos homens que estas seguem religiosamente. Mais do que um rosto bonito, a personalidade, a atitude e o carácter são fundamentais para se sobreviver. Afinal, este não é um mundo de homens, mas poderá muito bem ser. Nem que seja por breves segundos, num ecrã de telemóvel.

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