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Onde estão os Supermodelos Masculinos

O mais famoso modelo negro, Tyson Beckford, dos eua, de 46 anos

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O mais famoso modelo negro, Tyson Beckford, dos eua, de 46 anosFoto: Getty Images Homens “mesmo, mesmo, mesmo bem-parecidos”, tal como Ben Stiller se descreveu na sua personagem, em Zoolander — inspirada nos modelos altos, bonitos e atléticos das décadas de 80 e 90 — , teriam os dias contados. Se, por um lado, isto iria ter o seu impacto positivo, já que até então o top model a la Zoolander era considerado “burro” e desinteressante, para não dizer ridículo; por outro lado, estar-se-ia a contribuir para a criação de um novo tipo de modelo masculino que punha em causa a saúde e bem-estar dos novos rapazes. Apontado como o grande responsável: Hedi Slimane e os seus ideais de um homem andrógino e ultra-magro. O então director criativo da secção masculina da Dior (estávamos nos primeiros anos do novo milénio) instituiu na magreza excessiva, colocando de parte os portes atléticos até então requeridos. Slimane confidenciou ao Yahoo Style que durante a sua infância e adolescência foi gozado na escola por ser magro em excesso e por as roupas lhe caírem mal, estilo pinguço. Frágil e delicado na infância, Slimane tornou a sua fraqueza no supra-sumo da moda masculina contemporânea. Este francês, que mais tarde ocupou o cargo de director criativo da Saint Laurent, foi o responsável pela dieta de Karl Lagerfeld que afirmou ter emagrecido para poder caber nas roupas com assinatura Slimane. A par do novo peso pretendido quanto-mais-magro-melhor, também a idade dos modelos desceu drasticamente. Numa entrevista à Newsweek, Sam Thomas, da fundação inglesa de caridade Men Get Eating Disorders Too, mostra-se altamente crítico no que diz respeito aos novos parâmetros delineados pela moda: “Há, efectivamente, uma tendência em que os modelos masculinos são cada vez mais novos e mais magros”. Além dos homens perderem músculos e das mulheres rejeitarem as curvas naturais, as consequências são os graves danos para a saúde que isto acarreta. O facto de se tratarem de menores de idade, sem a devida consciência, é apenas a cereja no topo do bolo.

Honza Stiborek, da Checoslováquia, de 20 anos, que se destacou nos desfiles de Inverno 2017/18Foto: Getty Images

Mas as dificuldades não se ficam por aqui e enveredar por uma profissão de modelo masculino seria, também, conforme confessou à Must um modelo que não se quis identificar, “aceitar que se é um produto”. Em Portugal e no seu pequeníssimo mercado, as coisas ainda se proporcionam de uma forma delicada. Ruben Rua sugere que os bastidores nacionais são “pacíficos” quando questionado acerca do assédio sexual. Ainda assim, confirma que este existe e que, sendo um meio dominado por homossexuais, são os modelos masculinos as maiores vítimas: “As mulheres são sempre as melhores amigas”, remata. No estrangeiro, as coisas são bem diferentes — para pior. Com a competitividade do mercado internacional a aumentar— e as faixas etárias dos modelos a diminuir — as cenas de assédio, provocação e promessas em troca de mundos e fundos, são uma constante. No testemunho em torno desse assunto, dado por um modelo masculino à Newsweek, são várias as situações em que o jovem foi posto em xeque: pelo editor de uma conceituada revista que lhe prometeu uma capa em troca de um jantar; por um fotógrafo que no final da sessão sugeriu uma orgia a troco de uma promessa estonteante de exposição… Tal como afirmou à Newsweek René Habermacher, fotógrafo suíço que colabora frequentemente com a Vogue Japão, entre outros títulos aplaudidos, “na moda são sempre os mais velhos a controlarem os mais novos”. Inúmeros testemunhos de jovens modelos acabam com desistências. Outros em tragédias, se quisermos trazer à tona o caso português de Carlos Castro e de Renato Seabra, em 2011.

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