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Série Teens retrata dramas e situações Série Teens retrata dramas e situações divertidas do universo infanto-juvenil Série Teens retrata dramas e situações divertidas do universo infanto-juvenil divertidas do universo infanto-juvenil O Gralha, menino de rua
O Gralha, menino de rua A autora escreve com sensibilidade O Gralha, denorua uma história menino triste e toca coração do A autora escreve com sensibilidade leitor ao falar de sentimentos puros em uma história triste e toca no coração do um mundo tão injusto e individualista. A autora escreve com sensibilidade leitorhistória ao falartriste de sentimentos puros em uma e toca no coração do um mundo tão injusto e individualista. leitor ao falar de sentimentos puros em um mundo tão injusto e individualista.
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Érica e seus caminhos de amor 128 páginas 128amor páginas Uma história de 128 páginas
Uma história de amor Este livro apresenta o relacionamento puro de dois jovens que veem suas Uma história de amor Este livro apresenta relacionamento vidas espelhadas noso livros que leem. puro de dois jovens que veem suas Uma vez apaixonados, acabam vivendo Este livro apresenta o relacionamento vidasprimeiro espelhadas nos que livrosveem que leem. seu inesquecível namoro. puro de doise jovens suas Uma vez apaixonados, acabam vivendo vidas espelhadas nos livros que leem. seu e inesquecível namoro. Umaprimeiro vez apaixonados, acabam vivendo seu primeiro e inesquecível namoro. AnuŮncio 1.indd 1
Érica caminhos de amor Repletoedeseus emoções e reflexões, o livro traz aoepúblico jovem as descobertas Érica seus caminhos de amor Repleto de emoções e reflexões, oÉrica, livro adolescentes da personagem traz ao público jovem as descobertas que tem sua história contada desde Repleto de emoções e reflexões, o livroo adolescentes dajovem personagem fim deaosua infância atéaso descobertas final deÉrica, sua traz público que tem sua história contada desde adolescência. adolescentes da personagem Érica,o fim o finaldesde de suao que de temsua suainfância históriaaté contada adolescência. fim de sua infância até o final de sua adolescência.
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As duas vidas de Helena 80 páginas
As duas vidas de Helena O livro mostra as aflições de Helena ao entrar para uma nova escola. As duas vidas de HelenaA garota O livro mostra aflições deentre Helena ao era vista comoas estranha seus entrar escola. A garota colegas, masuma aos poucos conO livro para mostra asnova aflições deacaba Helena ao era vista como estranha entre seus quistando a confiança de seus novos entrar para uma nova escola. A garota colegas, aosestranha poucos acaba conamigos. era vistamas como entre seus quistandomas a confiança de seus colegas, aos poucos acabanovos conamigos. quistando a confiança de seus novos amigos.
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A filha da vendedora de crisântemos A filha uma da vendedora de crisântemos Beatriz, menina de personalidade forte e A filha da vendedora de crisântemos atitude, procura desvendar dois mistérios que
Beatriz, umaalém menina personalidade a intrigam, de de tentar solucionar forte algunse atitude, procura desvendar dois mistérios quee Beatriz, menina de personalidade forte dolorososuma problemas sua vida. a intrigam, alémdesvendar de tentar dois solucionar alguns atitude, procura mistérios que de sua solucionar vida. adolorosos intrigam,problemas além de tentar alguns dolorosos problemas de sua vida.
PAULUS: 29 livrarias distribuídas por todo o Brasil.
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Editorial
Amigo Educador, Ano-Novo é tempo de mudança, tempo de construir novos desafios e criar forças para superá-los com sucesso. Em 2009, a Páginas Abertas pretende ajudar ainda mais os educadores de todo o Brasil com idéias, planos e conteúdos que possam enriquecer a tarefa árdua e especial que é educar. A primeira edição do ano apresenta uma proposta de formação: como os alunos se encontram no período de férias escolares, o professor pode dispor desse tempo para elaborar seus projetos para o ano letivo - um projeto pedagógico com sugestões de atividades é uma das novidades. A continuação do artigo sobre Paulo Freire e um guia sobre as mudanças ortográficas da Língua Portuguesa também fazem parte deste número. Na matéria de capa, a equipe da Páginas Abertas pegou carona com a Campanha da Fraternidade 2009 e abordou este assunto sob uma perspectiva educacional. Além disso, na matéria “O PAPEL POLÍTICO DA ESCOLA”, a revista apresenta uma discussão atual e polêmica: como a política deve ser exercida por professores e alunos no ambiente escolar. Páginas Abertas espera colaborar com todas as pessoas que estão dispostas a construir uma educação de qualidade e mais eficaz. Agradecemos a todos que participaram e contribuiram com a pesquisa de
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avaliação publicada na edição anterior.
Vai começar o ano letivo
Desejamos a todos uma ótima leitura!
Equipe Páginas Abertas
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Páginas Abertas dedicou um espaço para colaborar com o professor em seus planos para 2009: a pedagoga Beatriz Tavares de Souza solta a imaginação e apresenta um projeto pedagógico baseado no livro Poemas e Comidinhas,da Paulus Editora.
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Sumário
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Ano 34 – nº 37 – 2009 ISSN 1414-4638 Diretor Presidente Valdecir Antônio Conte Diretor Geral Manoel Conceição Quinta Diretor de Difusão Valdêz Dall’Agnese
Foto: stockXpert
Diretor de Produção Arno Brustolin
Capa
A educação é o reflexo da cultura de uma sociedade. Essa, por sua vez, pode ser um fator indicativo de violência ou de paz. Educar para a paz é admitir mudanças comportamentais, adotando atitudes pessoais e comunitárias em prol de uma nova geração que combata as diversas manifestações de violência e injustiças sociais.
Diretor de Redação José Dias Goulart MTB 20.698 Conselho Editorial Carolina Piepke, Dílvia Ludvichack, Simone Maximo e Tom Viana Colaboradores Beatriz Tavares de Souza, Rubem Alves, Kátia Regina Roseiro Coutinho, Maria Terezinha Alves Lima, Claudiano Avelino dos Santos, Francisco José Nunes, Douglas Tufano Projeto Editorial e Gráfico Bruno Cavini Capa Departamento de Criação da PAULUS
Foto: stock.xchng
O papel político da escola
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Educação e política andam juntas. Os jovens do século XXI precisam e querem ser informados do que acontece na política do Brasil e do mundo, e como as decisões de quem está no poder podem influenciar em suas vidas. Especialistas falam sobre a importância da política no processo educacional e afirmam que não basta opinar em relação a partidos e políticos, mas sim, construir uma educação baseada em valores, reflexões e práticas sociais.
06. Entrevista
35. Sala de Aula
10. Tempus Fugit
36. Li, gostei e recomendo!
12. Artigo
38. Páginas Abertas Indica
20. Filosofia
46. Crônica
Coordenação de arte Bia Araujo Reportagem e Edição de Texto Assessoria de Imprensa da PAULUS Revisão Chantal Rangel Redação Rua Francisco Cruz, 229 – 04117-091 São Paulo – Tel: 11 5087-3742 FAX: 11 5579.3627 paginasabertas@paulus.com.br Atendimento ao leitor Tel: (11) 3789.4000 assinaturas@paulus.com.br A revista PÁGINAS ABERTAS é uma publicação da Pia Sociedade de São Paulo. Nenhum material desta publicação pode ser reproduzido sem prévia autorização. Essas proibições aplicam-se também às características gráficas desta obra e sua editoração. Entre em contato conosco caso queira citar algum artigo. A assinatura da revista PÁGINAS ABERTAS é gratuita. Sugere-se a contribuição para despesas de correio no valor mínimo de R$ 15,00. Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade de seus autores, não representando necessariamente a posição da revista Páginas Abertas. paulus.com.br
29. Reflexão
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Entrevista | Por Simone Maximo da redação
ECA: desafios da maioridade Páginas Abertas dedicou esta edição para abordar assuntos que deveriam ser distantes mas que, infelizmente, estão cada vez mais próximos de nossos jovens: a violência na escola e na família. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é um instrumento que luta contra a violação dos direitos e pela segurança de milhares de crianças em todo o Brasil. O ECA completou 18 anos em 2008, por isso, convidamos Dr. Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, juiz de Direito e Membro da Coordenadoria da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para falar sobre este assunto.
Quais os principais resultados alcançados pelo ECA em seus 18 anos de existência? O principal resultado foi o de conseguir mudar o paradigma das pessoas em relação às crianças e adolescentes. Hoje o menor não é mais visto como “algo”, mas sim como “alguém”. A sociedade já se mobiliza para garantir os direitos estabelecidos na Constituição Federal e no ECA, enquanto que os poderes públicos se organizam para
cumprir aquilo que a lei determina. Acredito que o maior avanço seja a consciência de que as crianças e os adolescentes devam viver em família (biológica ou substituta), afastando a mentalidade da segregação, seja pela internação (medida socioeducativa) ou abrigamento (medida protetora). A institucionalização não é mais vista pela grande maioria como sendo solução, mas sim como instrumento para garantir direitos e, excepcionalmente, garantir a tranquilidade da sociedade. O foco passa a ser a formulação de políticas públicas que visam a proteção da família para que ela possa cuidar de seus filhos, e não mais as políticas públicas que apenas buscavam proteger a Foto: Arquivo Paulus
Qual a diferença entre o Antigo Código de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)? É uma verdadeira mudança da água para o vinho. Enquanto o Código de Menores fundava-se na teoria da situação irregular, tratando a criança e o adolescente como objetos de direitos (todos tinham direitos e poderes em relação ao menor), o ECA vê o menor como sujeito de direitos (ele é detentor de direitos que devem ser respeitados). Para o ECA, a criança e o adolescente devem ser os protagonistas de suas vidas, formulando um Sistema de Defesa de Direitos e Garantias que os auxiliem a decidir o que é melhor para eles, enquanto que o Código colocava o menor como alguém que deveria se submeter àquilo que os adultos entendiam como sendo o melhor para ele.
criança ou o adolescente de seu meio familiar, ação essa que sempre redundava na visão segregacionista da institucionalização. É fato que ainda há muitas crianças abandonadas e marginalizadas no Brasil. Como o ECA trabalha para amenizar esse quadro? O ECA aponta a família como o eixo central das políticas públicas para a proteção dos menores, e coloca a comunidade e o Estado como coresponsáveis por essa proteção. Famílias competentes e apoiadas não abandonam seus filhos. Comunidades responsáveis não colaboram para a marginalização. Um Estado, consciente de suas responsabilidades, formula e implementa políticas que criam alternativas à marginalização, incentivando o protagonismo infanto-juvenil e o sistema de atendimento de suas necessidades básicas em relação à educação, saúde, lazer e segurança. O Estatuto, nesses dezoito anos, muito avançou nesse sentido. Mas a mudança de paradigma da sociedade e a constante alteração da forma de organização social e dos princípios éticos, que são cada vez mais questionáveis, fazem com que a implementação do ECA seja um trabalho constante e sem fim, uma vez que ele deve ser lido, compreendido
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e implementado de acordo com as condições do momento, ou seja, de acordo com as necessidades que são colocadas no dia-a-dia, buscando cada vez mais proteger as crianças e adolescentes para que seus direitos sejam assegurados.
espaços e se transformem, como é desejo da lei, em instrumentos de fundamental importância na proteção dos menores, fazendo com que a judicialização da problemática infanto-juvenil seja a exceção, e não a regra.
Os conselhos tutelares são órgãos eficazes no cumprimento das leis regidas pelo ECA? Considero o Conselho Tutelar uma das grandes inovações do Estatuto. Como toda inovação, sua efetivação é lenta e demanda muito investimento. Infelizmente, nem todos os municípios conseguiram preparar seus CTs para a execução de suas obrigações e, em boa parte deles, tais conselhos não recebem a atenção necessária quanto às suas necessidades materiais e de pessoal. As leis municipais que regem a escolha dos Conselheiros nem sempre atendem aos interesses da comunidade, permitindo que pessoas despreparadas sejam eleitas, o que compromete a atuação do CT. Algumas pessoas veem no CT uma possibilidade de projeção social e se descuidam de suas reais obrigações. Outras pessoas ainda acreditam que sua função se assemelha à deturpada visão dos antigos comissários de menores, confundindo sua obrigação protetora com a de “polícia” de menores. Alguns CTs ainda não descobriram a importância de sua função, submetendose ao poder municipal ou Judiciário. O CT é independente e deve, para poder executar sua função, trabalhar em conjunto com os demais poderes, respeitando os limites de sua competência e fazê-los respeitar. Acredito que seja questão de tempo para que os CTs conquistem seus
Quais as principais dificuldades enfrentadas pelo ECA em sua missão? Ainda é a de convencer a sociedade de que a criança e o adolescente não são os responsáveis pelas suas mazelas, mas sim, quase sempre, vítimas de famílias abandonadas pela sociedade
Hoje o menor não é mais visto como “algo”, mas sim como “alguém”.
e pelo Estado, e vítimas do descaso da comunidade e do Estado quanto às suas necessidades. Mudar o foco da atenção para os problemas da infância e da juventude é o principal desafio que o Estatuto nos coloca. Como você avalia a atuação do terceiro setor na defesa de crianças e jovens? O terceiro setor tem função primordial no Sistema de Defesa e Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente, uma vez que representa a sociedade civil organizada no enfrentamento daquelas situações em que o menor se encontra em risco pessoal ou social. Cada vez mais o TS se profissionaliza
e participa de forma efetiva na formulação e execução de políticas públicas, reunindo grande conhecimento teórico e prático que são vitais para o aprofundamento das discussões relativas ao Sistema de Proteção e Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente. Em outubro de 2008, o jornal Folha de S. Paulo publicou o resultado de uma pesquisa realizada pela organização não-governamental Internacional Plan, que apontou que cerca de 1 milhão de crianças sofrem algum tipo de violência nas escolas em todo o mundo. Como você avalia esse problema no Brasil? O Brasil, após a grande conquista da (quase) universalização do atendimento na área de educação, enfrenta as dificuldades dela decorrentes. Um grande número de alunos necessita de um grande número de professores, e a mãode-obra existente não possui ou não recebe a capacitação necessária para lidar com os problemas que surgem no dia-a-dia. A nossa escola já avançou muito quanto à inclusão quantitativa. Pessoas que não possuem ou não recebem preparo e condições materiais para lidar com a diversidade sócio-cultural têm muita dificuldade em saber como agir com alunos, que nem sempre se enquadram dentro dos parâmetros esperados (ou sonhados) pelo professor. Some-se a isso uma tradição de violência incutida em nossa sociedade: a de que a força é a única forma de controle. Alunos “difíceis” sofrem todo tipo de constrangimento (castigos, expulsão, segregação, etc) uma vez que esse tipo de posicionamento é o único conhecido. Páginas Abertas
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Entrevista É preciso criar melhores condições de trabalho para os professores e demais agentes do sistema de ensino, a fim de lidarem de forma criativa e sem violência com os alunos que não se enquadram no desejado. A capacitação, a democratização do sistema disciplinar e meios materiais para a boa execução do trabalho são a única forma de diminuir a violência intra-escolar, seja entre aluno x aluno, seja entre aluno x professor. Crimes cometidos contra crianças pelos próprios pais foram polêmica em 2008. Como você avalia esse problema? Eu avalio que a violência intrafamiliar, em especial contra a mulher e filhos, decorre de diversos fatores que são de difícil controle e solução. Uma cultura de violência e a visão de que crianças e adolescentes são seres inferiores (objetos, e não pessoas), me parece ser a grande causa desse tipo de agressão. A sensação dos pais, no sentido de que “podem tudo” em relação aos filhos, faz com que os limites não existam e atrocidades sejam cometidas, sem que no fundo haja uma real consciência do que estejam fazendo. Quando se está acostumado a utilizar a força para conseguir o resultado esperado, o limite do excesso é muito tênue, pois se o resultado não é obtido com determinada força, a tendência é aumentá-la indefinidamente para alcançar o objetivo. É preciso mostrar aos pais que a força bruta não é a solução, e que o resultado decorre do respeito que os filhos devem ter pelos pais. Esse respeito deve ser mútuo e ser conquistado pelo exemplo.
O respeito decorrente da força não é respeito, é só medo. Precisamos mostrar para as pessoas que uma relação só é sadia se ela provier do respeito mútuo. Como o governo atua na defesa de crianças violentadas em casa? Quando é possível tirá-las da guarda da família? O Estado age em três frentes, conforme competência de cada poder: O Poder Legislativo cria leis que possibilitam a atuação dos demais poderes, com o objetivo de educar, prevenir, cuidar e punir condutas que possam representar violação dos direitos da criança e do adolescente; O Poder Executivo implementa políticas e programas que tornem efetiva a lei protetora, enquanto que o Poder Judiciário age para controlar a legalidade da lei e a sua correta aplicação. O Poder Executivo elabora políticas públicas e as implementa em parceria com a sociedade civil, criando serviços para atender à demanda existente. São programas que buscam esclarecer os direitos dos menores, seus direitos e a forma de evitar ou buscar proteção nos casos em que acreditem estarem sendo violados; que criam sistemas de detecção de violação dos direitos, capacitando as pessoas que tenham contato com menores (professores, educadores, conselheiros tutelares, etc); que capacitam profissionais para atender a criança quando violada em seu direito, dando condições materiais para esse atendimento e, por fim, que buscam a responsabilização do ofensor. Toda vez que a situação fática demonstrar que a permanência da criança ou adolescente sob guarda de sua família puder representar a
manutenção ou o agravamento do risco de persistir a conduta violadora, ao Poder Judiciário ou ao Conselho Tutelar compete o afastamento da criança do local onde existe o risco. Nem sempre o afastamento do agressor representa garantia de que a violação possa cessar, sendo que nesses casos, a melhor medida poderá ser a colocação da criança ou do adolescente sob guarda de terceiros ou de uma instituição. O afastamento da criança ou do adolescente de sua família é medida extrema que, dentro do bom senso e dos cuidados que a situação requer, deve ser evitada; seu uso faz-se necessário sempre que a criança ou o adolescente se encontrar em situação de risco real. Atualmente, a escola também é espaço de violência. Alunos violentam colegas de classe e até professores. Como você avalia essa situação e o que pode ser feito pelas autoridades para amenizar esse quadro? A violência nas escolas só pode ser coibida com a mudança da forma de tratamento que os alunos recebem da instituição de ensino. É necessário capacitar os profissionais da educação para a inclusão e dar condições materiais para que essa inclusão aconteça. A educação voltada para o apaziguamento das relações é uma forma real de alterar a política da violência e o acirramento das divergências. Enquanto não se conseguir ensinar que o respeito se conquista pelo exemplo, continuaremos a buscar o respeito pela força, e isso criará um círculo vicioso extremamente violento, cada vez mais.
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Tempus Fugit | Por Rubem Alves*
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* Rubem Alves é mineiro de Boa Esperança, bacharel e mestre em Teologia, doutor em Filosofia e psicanalista pela Associação Brasileira de Psicanálise de São Paulo. Possui várias publicações como crônicas, livros infantis, de Teologia e Filosofia da Ciência e Educação.
Há os prazeres da Primavera. Há os prazeres do Verão. Mas há uma alegria que só surge no Outono.
Prefiro o Outono. Acho-o mais bonito, mais sábio, mais tranquilo. A Primavera é linda, cheia de cores, cios e odores. Mas não me comove. Não encontro nela lugar para a saudade. Por isso lhe falta aquela gota de tristeza, que mora em toda obra de arte. É que ela existe na paradisíaca inconsciência do fim… O Verão é diferente. Excita meu lado de fora e me transforma em sol, céu, mar. Misturo-me com seu universo luminoso, quente e suarento, cheio de cachoeiras e limonadas geladas. Tudo me convida a não pensar. A só rir, gozar, usufruir. Como diz Fernando Pessoa, pensamento é doença dos olhos. Ao que eu acrescentaria: do corpo inteiro. A gente pensa quando o dente dói, quando o sapato aperta, quando a azia queima, quando o coração tropeça. O corpo saudável é transparente. Sai de si e fica todo no mar, no céu, no sol. É a doença que o torna opaco. O Verão faz este milagre comigo: esvazia-se de mim, e eu me perco (eroticamente) nos seus braços… Mas o Outono me chama de volta. Devolve-me à minha verdade. Sinto então a dor bonita da nostalgia, pedaço de mim, de que não posso me esquecer. Primeiro é aquele friozinho pelas manhãs e pelas tardes. O Verão já se foi. Fica, dentro, o sentimento de que tudo é despedida. O Outono tem memória. Coisa de que se precisa para se ter saudade. E saudade, como nos ensinou Riobaldo, é uma espécie de velhice. Depois são as cores. O céu azul profundo, as árvores e grama de um outro verde, misturado com o dourado dos raios de sol inclinados. Tudo fica mais pungente ao cair da tarde, pelo frio, pelo crepúsculo, o que revela o parentesco entre o Outono e o entardecer. O Outono é o ano que entardece. E as tardes, como se sabe, são aquele tempo do dia quando tristeza e beleza se misturam. E o mundo de dentro reverbera com o mundo de fora. Jorge Luís Borges estava certo: a gente vai andando, solidamente, e de repente vê um pôr de sol, e está perdido de novo. É que o pôr de sol é mais que pôr de sol. É “este poente precoce e azulando-se o sol entre farrapos finos de nuvens,
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enquanto a lua é já vista, mística, no outro lado” (Pessoa); “Uma última cor penetrando nas árvores até os pássaros, e este cantar de galos e rolas, muito longe” (Cecília). Quando tudo se aquieta, e o tempo diz sua passagem nas cores que se sucedem, o rosa, o vermelho, o marrom, o roxo, o negro… Sabe-se então que o fim chegou. Pôr de sol é metáfora poética, e se o sentimos assim é porque sua beleza triste mora em nosso próprio corpo. Somos seres crepusculares. É por isso que esta é a hora do terror noturno, quando as pessoas, lembrando-se do seu parentesco com as aves, voltam ansiosas para casa, e acendem as luzes que não se apagam. Gosto de ver os balões que sobem… Sei que são proibidos. Mas são belos. Não ficariam bonitos nem de manhã e nem ao meiodia. São entes do crepúsculo. É preciso que a luz já esteja indo para que sua beleza (e riso) apareçam, ao entardecer. Cada balão não será isto? Um grande riso ao cair da noite… Há os prazeres da Primavera. Há os prazeres do Verão. Mas há uma alegria que só surge no Outono.
Quem, espantado pelo terror noturno, se refugia em casa, não pode ver nem a beleza do crepúsculo e nem o riso dos balões. Estes são prazeres que se dão somente àqueles que suportam o frio e as cores que mergulham no escuro. O que me faz lembrar aquela deliciosa estória zen: “Um homem ia pela floresta quando ouviu um rugido terrível. Era um leão. Ele teve muito medo e se pôs a correr. Mas a floresta era densa e o sol já se estava se pondo. Não viu por onde ia e caiu num precipício. No desespero agarrou-se a um galho que se projetava sobre o abismo e lá ficou. Foi quando, olhando para a parede do precipício, viu uma pequena planta que ali crescia. Era um pé de morangos. Nela havia um morango vermelho. Estendeu o seu braço e o colheu. E comeu.” Aqui termina a estória.
Há morangos que se comem sobre o abismo. Balões que só sobem ao crepúsculo. E belezas que só existem no Outono. É preciso beber a taça, até o fim.
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Artigo | Por Kátia Regina Roseiro Coutinho*
Paulo Freire O homem, a obra, senões e contribuições. (parte II) Atualmente se podem observar, entre professores, filósofos, pedagogos, educadores, enfim, entre aqueles que vivem a educação, grandes reflexões e discussões sobre Paulo Freire. Entre esses estão os que concordam, assumem e adotam as idéias de Freire por crença, talvez, na busca de um mundo mais solidário com reais oportunidades de vida para todos, no constante e exigente diálogo que sempre foi um dos pilares da luta de Freire, na simplicidade de ser capaz de criar uma linguagem que aproxime a todos e nos leve a entender o mundo do oprimido, dos sem oportunidades da terra, sem abrir mão da ciência, da lógica, da dialética e sem perder a ternura da vida. Deste lado estão autores e estudiosos como Pedro Demo, Moacir Gadotti, Mário Sérgio Cortella, Carlos Alberto Torres, Célia Linhares, Angela Antunes, Frei Betto, entre tantos outros. E do outro lado da corda, a quem citaremos? Resposta difícil. Difícil encontrar, difícil definir um perfil de educador que contrarie, mediana ou totalitariamente Paulo Freire, difícil assumir-se contrário a idéias de contraposição e luta contra as situações concretas de vida das pessoas oprimidas, difícil admitir que não se queira colaborar com a esperança de promover e manter o diálogo entre essas pessoas para que estas possam renovar-se, para melhor, em vida e em idéias. Essas frases parecem retóricas e ingênuas, mesmo porque não é o caso desta pesquisa saber se há um ou mais autores em educação e filosofia contrários àquilo que Paulo Freire criou. Mas fica a pergunta: quem nos atrevemos a citar? Arriscar-me-ei a citar Demerval Saviani, especialmente em duas posições tomadas por ele ao longo dos últimos anos e com as quais concorda-se e discorda-se no meio acadêmico e literário brasileiro. Palavras dele em entrevista ao Jornal da Unicamp edição 194 - ANO XVII em 14 de outubro de 2002, página 5: 12 Páginas Abertas
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... tenho constatado - e
também tem sido um dos vetores
das lutas
que travamos desde a segunda metade da década de 70 - certa tendência a deslocar aquilo que me parece ser o papel principal da escola. Entendo que ela tem a ver com o saber
sistematizado, com a cultura letrada, com o saber científico. Não com o senso comum, o saber espontâneo, o saber da experiência, ou
aquilo que é chamado de cultura popular. Por que? O que se pode constatar é que, para desenvolver a cultura popular, não se precisa da escola. Agora, na medida em que
se desenvolveu uma tendência que desvalorizava ou secundarizava a cultura erudita e valorizava a cultura popular e, por conta disso, passouse a tachar a escola como alienante, como instrumento de dominação por estar ligada à norma culta, comecei a me perguntar: em que grau isso é realmente transformador? Em que grau isto não vai fazer o jogo da dominação existente? A escola seria uma forma de o homem do povo ter acesso ao saber elaborado, sem o que esse tipo de saber fica privilégio das elites. (Paulo Páginas Freire)Abertas
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Com este pequeno texto é possível observar formulações que se contrapõem ao pensamento freiriano. Discordar ou concordar implica avaliar o período histórico, social e político em que ambas as falas foram ditas. Paulo Freire inicia seus escritos e práticas na década de 60 do século passado, quando, para se chegar ao saber elaborado a que Saviani se refere ou ao saber erudito, era preciso, no mínimo, compreender as letras e os fatos que compõem minimamente o saber elaborado. Ora, a uma população que não sabe nada, iniciar pelo erudito pode parecer querer demais. Paulo Freire só denunciava e chamava o país à criação de classes de educação popular para que este saber popular fosse atingido e, assim feito, o saber erudito pudesse ser alcançado. E como se chega ao ponto de chegada se não existir um ponto de partida? É como afirmar a possibilidade de saltos impossíveis, inclusive ao desenvolvimento cognitivo humano, que necessita ultrapassar etapas de operações de pensamento até chegar às operações formais, que se caracterizam por níveis de intelectualidade capazes de abstração e pensamento elaborado. Para Saviani (1991, p.73-76), um dos pecados da educação popular é ter circulado apenas entre a cultura popular, negando, portanto, o acesso a conhecimentos socialmente mais amplos e capazes de emancipar a população de sua condição de povo oprimido. Ora, novamente, quem precisava da educação popular eram aqueles pertencentes à cultura popular, sem que com isso houvesse a negação ou impedimento ao acesso a
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Artigo
saberes mais eruditos. Saviani também aponta que o que Paulo Freire fazia era a proposição de um sistema educacional paralelo ao sistema formal da educação brasileira, e pior, desprovida de metodologia própria, a qual deveria nascer a partir dos saberes daqueles a quem pretendia incluir no mundo de saberes maior do que aqueles que os alunos já tivessem. Saviani (1991, p. 74) afirma que “... a carência de sistematização teórica é flagrante nas tendências de educação popular, pois acreditam que a teoria deve nascer das próprias práticas dos movimentos populares”. Cambi aponta, a partir da revolução cultural de 68 que gerou movimentos estudantis, políticos e culturais iniciados nos campi universitários norte-americanos e disseminados depois pela Europa, a revolução da educação no que tange à crítica dos saberes e das instituições oficiais que os ofereciam. (Cambi, 1999:6l7). Alinhados ao pensamento transformador da revolução da época, aparecem teóricos com modelos alternativos, como Lapassade, na França (a promoção da natureza genuína da infância com a práxis pedagógico-escolar respeitando este pensamento), Lorenzo Milani, na Itália (padre católico criador da escola de Barbiana, uma pequena comunidade rural na Itália. Diante da intenção do Vaticano de fechar sua paróquia, Milani cria a escola para atender aos meninos camponeses da região. Rompe com as formas tradicionais de ensino e busca proporcionar aos alunos uma educação que lhes permita mudar sua história de vida), Illich, na Europa
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como um todo (falecido recentente, em dezembro de 2002, na Alemanha, foi amigo e debatedor de Paulo Freire). Illich substituiu a proposta de uma “pedagogia dos oprimidos” pela crítica à “opressão da pedagogia”. Percebeu muito cedo que a escola havia se transformado de instituição de educação para um bem de consumo, um produto como qualquer outro, fabricado, garantido e vendido pela instituição escolar, embora seja fora dos seus muros que aprendemos a maior parte do que sabemos. (Oliveira, 2002), e Paulo Freire no Brasil e na América Latina (Cambi, 1999:620). Ainda conforme Cambi (1999:625), esses e outros estudiosos seguidores da mesma linha de pensamento são aqueles a quem se denomina teóricos da desescolarização, tomando a escola como formadora de pessoas com ideologia do poder, seja através do conhecimento, seja por tempo de escolarização. São autores que sustentam suas teses basicamente na defesa daqueles que são pobres, oprimidos e que, segundo eles, precisam de uma escola que vá muito além da alfabetização e chegue à conscientização, o que poderia equivaler a uma educação libertária e transformadora dessas pessoas.
Bibliografia
BARRETO, Vera. Paulo Freire para educadores. São Paulo: Arte & Ciência, 1998. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é o método Paulo Freire? São Paulo: Brasiliense, 1981. CAMBI, Franco. História da Pedagogia. Campinas: UNESP, 1999. FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. _____. Pedagogia da Esperança. São Paulo: Paz e Terra, 1997. _____. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997. _____. Pedagogia da Indignação. São Paulo: UNESP, 1997. _____. Educação: Atualidade Brasileira. São Paulo: Cortez, 2001. _____. Teoria e Prática em Educação Popular. Petrópolis: Vozes, 1999. _____. Para trabalhar com o povo. São Paulo: CCJ Centro de Capacitação da Juventude:1992. OLIVEIRA, A.P. O discurso da exclusão na escola. Joaçaba/SC: UNOESC, 2002. SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítica. São Paulo: A. Associados/ Cortez, 1991.
*Kátia Regina Roseiro Coutinho é professora mestre da UNESP- Departamento de Educação desde 1996. Formada em Psicologia – bacharelado e formação de psicóloga em 1981 pela UNESP – Assis, Pedagogia pelo Ieda - Assis, mestre em Educação em 1996 pela UNESP - 1996, doutoranda em Educação pela UNESP - Marília, início em 2006 – previsão de defesa em Novembro 2008.
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Capa | Por Carolina Piepke da redação
A paz como fruto da justiça (Is 32,17) é o lema que norteia a Campanha da Fraternidade 2009.
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De tempos em tempos a sociedade volta a debater um tema que é realidade no cotidiano de todos: a violência. Seja por tragédias mundiais, como o fatídico acidente de 11 de setembro de 2001, ou por crimes recentes, como a morte da menina Isabella e o sequestro e assassinato da adolescente Eloá Pimentel em Santo André/SP. Em quaisquer destes casos e de tantos outros que se tornaram rotineiros, observa-se que a violência é protagonista de discussões e reproduzida nos meios de comunicação, muitas vezes, em tons sensacionalistas. Porém, infelizmente poucos debates se concretizam em ações positivas para sociedade.
Campanha da Fraternidade 2009 A Igreja, atenta a esses tortuosos caminhos que o país percorre, abre, neste ano, a discussão para Fraternidade e Segurança Pública com o objetivo de colaborar na criação de condições para que o evangelho seja efetivamente vivido na sociedade por meio de uma cultura de paz, fundamentada na justiça social. Adentrando a realidade de cada brasileiro, a Campanha da Fraternidade 2009 apresenta incentivos concretos para a promoção de uma cultura de paz nas pessoas, nas famílias, nas comunidades e na sociedade. No texto-base da campanha, a justiça social é vista como garantia de segurança e inibição de atitudes violentas. Ainda no texto, a paz almejada por todos deve ser orientada por valores humanos, como a solidariedade, a fraternidade, o respeito e a mediação pacífica dos conflitos. Já a paz negativa é vista com repúdio, pois se foca nos bens materiais, incita o uso da força armada e a intolerância com os diferentes como forma de combate à violência.
Educar para a paz A promoção de uma cultura de paz desenvolve-se em um processo lento, pois implica em mudanças pessoais, sociais e comunitárias. Alcançar a esfera íntima do ser humano é uma tarefa complexa, pois as pessoas tendem a se acomodar em determinadas situações até que sejam direta ou fortemente atingidas. Portanto, somente motivações objetivas e concretas poderiam provocar mudanças e minimizar conflitos pessoais; assim, as consequências de comportamentos e relações saudáveis seriam socialmente notadas e benéficas a todos. Maria de Nazaré Tavares Zenaide, psicóloga, especialista em Saúde Pública e Psicologia Social, mestre em Serviço
Social, doutoranda em Educação pela UFPB, professora do departamento de Serviço Social e membro do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da UFPB explica que acomodar-se à pobreza, à violência, à guerra, à falta de emprego e à exclusão social acontece por diferentes razões. Ela contextualiza essa situação com a história social brasileira: “Os negros escravizados resistiram e não se acomodaram. Tentaram discipliná-los e torná-los dóceis através da força física (assim como fizeram com os índios), até serem colonizados ou sucumbirem. A história social brasileira é cheia desses exemplos. Os bairros pobres vivem um processo histórico de exclusão: quando algum bem chega, é através do clientelismo e do favor, como se os moradores não fossem cidadãos do mundo. Quando protestam, são recebidos com a força. Quando, em 1968, os estudantes iam para as ruas protestarem contra a falta de liberdade, muitos foram mortos; hoje, são as drogas e a ilusão do consumo que embriagam nossa juventude para não voltarem às ruas e não lutarem pela vida.” Dessa forma, a cultura de paz começa com atitudes internas que depois se refletem e se reproduzem. E é nesse momento em que a educação se torna efetiva e precursora de uma nova geração de paz. “Sem a mudança do comportamento pessoal, não há como mudar a sociedade”, afirma o textobase da Campanha da Fraternidade 2009. Se despertar para novas posturas é o início do processo
É importante, nesse caso, mostrar a responsabilidade dos formadores de opinião, principalmente dos que trabalham na educação, nos meios de comunicação social ou que pertencem a algum poder público, pois, com suas palavras e com seu comportamento, eles podem expressar conceitos que fundamentem a violência, o ódio e o medo.
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Capa para uma cultura de paz, a educação compreende a segunda etapa da mudança. A partir do momento em que as pessoas assumem condutas positivas, educar o próximo, seja no ambiente familiar, escolar ou comunitário, torna-se uma consequência natural, pois a educação para a paz nasce de dentro do ser humano e se reflete nas demais esferas da convivência social. Portanto, vivenciar atitudes de solidariedade, fraternidade e respeito e assumir valores humanos é educar a si mesmo, refletindo ações positivas para a construção de uma sociedade justa. Educar para a paz não condiz com a inexistência dessas práticas, que abrem espaço para o individualismo, para a lei do mais forte e para a ambição pela superioridade social a qualquer preço. É na ausência da educação desses valores humanos que surge a brutalidade, a intolerância, as injustiças e os conflitos.
Relações, conflitos e direitos A justiça social se estabelece na constituição de uma hegemonia de direitos. Enquanto a sociedade atual está organizada em um modelo econômico excludente caracterizado por concentrações de renda, os direitos da maioria dos cidadãos passam desapercebidos por esse sistema. Nesse momento as diferenças sociais se evidenciam, pois geram privilégios para alguns e ausência de direitos para muitos, fato que provoca inúmeros conflitos. No texto-base da Campanha da Fraternidade deste ano, as relações humanas são analisadas como um dos mais fortes fatores geradores da insegurança social e da violência. “As relações humanas implicam também na realização de projetos, satisfação de interesses, necessidades, anseios e sonhos. Eles, no entanto, nem sempre são os mesmos para todas as pessoas e essas diferenças podem se constituir em elementos geradores de tensões, causadores de diversos graus de conflitos.” Dessa forma, iniciam um processo violento e se classificam, segundo o texto-base da CF 2009, em três graus: a violência estrutural, a física e a simbólica. “Cada tipo de violência exige um tipo de abordagem, assim como diferentes encaminhamentos e critérios para sua superação. É importante determinar como a violência se torna concreta.” Maria Nazaré analisa esses aspectos indicadores de
manifestações violentas, e caracteriza que “a violência estrutural, que está na base de todas as demais formas de violência, exige a luta de todos por um mundo melhor e mais justo socialmente. Isso demanda um processo mundial de resistência ao capitalismo, que há muito tempo só produz guerras, dominação, substituição do homem pela máquina, desemprego, acidentes de trabalho, trabalho escravo, escravidão, repressão e cooptação dos trabalhadores. Já a violência interpessoal contra idosos, crianças, adolescentes e mulheres tem uma base social, mas também uma mentalidade colonialista e coronelista que expropria dignidade e direitos das pessoas, gerando atitudes e comportamentos de violência contra si e contra o outro. A violência do Estado foi gerada pelas lutas contra as dominações e o controle dos territórios e pessoas. Em nome da defesa de um determinado grupo no poder justifica-se a guerra, a ditadura, a repressão e a prisão como as únicas formas de punição. A violência simbólica, por fim, corrompe a capacidade do ser humano de agir e de ver o próximo como ser de dignidade e direito. Ela alimenta as formas de racismo e de discriminação. A cultura é fator de violência, mas também pode ser fator de mudança quando as pessoas e grupos resistem às formas de dominação simbólicas através da mídia, da publicidade e das manifestações culturais.” Assim, somente a garantia do exercício pleno da cidadania e das condições dignas de vida, saúde, trabalho, moradia e educação constituem elementos fundamentais para uma sociedade segura. Cidadãos respeitados sentemse aptos e incentivados a assumirem novas posturas, educarem para a paz, trabalharem para a melhoria de todos e estabelecerem relações saudáveis. Outro aspecto importante que contempla a educação em prol da cidadania e da paz é conhecer as causas das manifestações que impedem seu exercício pleno: “devemos conhecer a violência em todas as suas manifestações e causas para sabermos
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como cada um está implicado na produção da violência, a fim de se comprometer e alterar esse movimento. Enfrentar a violência exige o compromisso efetivo e permanente da luta pela cidadania democrática. Não existe segurança num bairro onde os serviços básicos não existem e o Estado não garante a proteção dos cidadãos sem discriminação econômica e social. Qual sociedade queremos construir se só oferecemos aos nossos jovens desemprego, violência, drogas, escolas sucateadas e cadeias?”, analisa Maria Nazaré. Portanto, para que a educação como meio de promoção de uma cultura de paz seja protagonista de uma sociedade justa, várias etapas devem ser analisadas: a pessoal (conflitos pessoais, mudanças de atitudes internas, assumir valores humanos) a comunitária (refletir ações positivas para as pessoas do ciclo social familiar, vivenciar relações saudáveis) e a social (direitos respeitados, justiça social, educar para a paz).
Escola e cultura de paz “A paz e a segurança, mais do que discursos ou conjunto de propostas, devem se constituir em mentalidade que determine o modo de pensar e de agir de todas as pessoas: devem ser a expressão de uma cultura. Essa responsabilidade é colocada à frente de todos pela Campanha da Fraternidade deste ano”, aborda o texto-base da CF 2009. A Igreja, na CF 2009, propõe uma educação para a paz que “urge de um esforço de todos na criação de uma mentalidade de paz, que vença os conflitos e supere o ódio e a vingança (...). Além disso, todos devem estar atentos a tudo o que forma consciências violentas. É necessária a produção de literaturas, filmes e games que valorizem a pessoa e a cultura de paz.” O
texto-base da CF deste ano ainda salienta que “é importante, nesse caso, mostrar a responsabilidade dos formadores de opinião, principalmente dos que trabalham na educação, nos meios de comunicação social ou que pertencem a algum poder público, pois, com suas palavras e com seu comportamento, eles podem expressar conceitos que fundamentem a violência, o ódio e o medo”. Educadores conscientes dessa mentalidade de paz são capazes de formar crianças e jovens socialmente saudáveis. E é na escola onde se reflete o modelo violento de convivência social ou pode ser o local direcionado para a construção de uma nova sociedade baseada no respeito, na compreensão e nos valores humanos e solidários. “A escola é uma das importantes instituições de formação do cidadão, embora não seja a única. Na escola, aprendemos durante muito tempo a sermos domesticados numa determinada direção. Na democracia é preciso que aprendamos na prática a sermos cidadãos ativos. Só se aprende fazendo; discurso sem prática é um papel vazio. Todos os segmentos são importantes no processo de educação. A paz só pode ser concreta se conquistarmos efetivamente os direitos para todos e todas, e não para uma minoria econômica. Há muito anos e décadas declaramos nossos direitos; o mais difícil é torná-los concretos. É hora de agir, como outros fizeram, agir no cotidiano, nas pequenas atitudes e também nos momentos importantes da coletividade e da nação. É preciso formar para a cidadania de modo a fazer com que as pessoas tenham a capacidade crítica de pensar e planejar uma nova sociedade justa e democrática. Educar em e para os direitos humanos requer a coragem de mudar a nós mesmos e a nossa realidade, mudar a escola, os partidos, as igrejas, a mídia, as formas de governar, as relações familiares e cotidianas”, explica Maria Nazaré. A educação é o palco para a promoção de uma cultura de paz, que expressa as mais profundas nuances da vida cotidiana, do íntimo de cada pessoa, da vida comunitária e da convivência social. A união de todos em prol de uma sociedade mais justa e fraterna, em todas as estâncias e hierarquias, é o caminho para a formação de uma nova geração de paz. Somente uma sociedade igualitária, com direitos e deveres respeitados, estará apta a educar pelos valores humanos e a viver o amor fraterno. *Maria de Nazaré Tavares Zenaide, psicóloga, especialista em Saúde Pública e Psicologia Social, mestre em Serviço Social, doutoranda em Educação pela UFPB, professora do departamento de Serviço Social e membro do Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da UFPB atualmente compõe o Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos.
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Filosofia | Por Claudiano Avelino*
A pergunta é o sintoma da paixão pelo conhecimento O processo educacional, quando é construtivo, é necessariamente filosófico, se por filosofia entendemos o gosto, a alegria, o entusiasmo pela busca do conhecimento. Formas de transmissão de informações incapazes de lidar com as dúvidas e as incertezas – que a rigor não pertencem ao ramo da educação –, não se afinam com a filosofia, cujo ponto de partida deriva de uma inquietação que se expressa na pergunta. A pergunta, quando levada a sério, desconcerta, desmonta, desconstrói. Acontece, porém, que as perguntas geralmente não são levadas a sério ou são desconsideradas, tanto no cotidiano, como nas situações formais de educação, exemplo do que ocorre na sala de aula. Tomemos como modelo uma pergunta muito usual: Como vai você? é uma pergunta séria que se converteu em clichê, lugar-comum da linguagem para iniciar qualquer conversa, mas que, em geral, ninguém responde com profundidade. Já existe uma resposta pronta: estou bem, obrigado. Parece-me que a resposta a essa pergunta mereceria pelo menos cinco minutos de diálogo; porém, a boa educação
Quando se faz uma pergunta, em geral as pessoas já supõem qual vai ser a resposta. Afinal de contas, é para isso que as crianças e os adolescentes são geralmente treinados em nossas escolas.
recomenda que, em dois ou três segundos já sepultemos a questão. Temos pressa. Experimente, ao menos uma vez, responder para alguém com uma pitada de seriedade a essa questão e observe a reação das pessoas. Da próxima vez que alguém lhe perguntar como vai, responda algo como: não sei. Certamente seu interlocutor se espantará. Esse exemplo bastante comum deixa perceber como as perguntas não são levadas a sério, e se reduzem a uma espécie de ritual. Quando se faz uma pergunta, em geral as pessoas já supõem qual vai ser a resposta. Afinal de contas, é para isso que as crianças e os adolescentes são geralmente treinados em nossas escolas. Perguntar a um professor para que serve aprender equação de segundo grau ou mesmo estudar filosofia pode ser tomado como má educação ou ofensa. Dar uma resposta agradável, mas nem sempre autêntica, parece mais importante do que levar a questão a sério. A pergunta é o sintoma da paixão pelo conhecimento. Quem ama quer conhecer. E um dos caminhos privilegiados do conhecimento é o questionamento. Garimpeiros nunca encontrariam diamantes se não vasculhassem a terra procurando saber o que há dentro dela. O educador interessado em promover o crescimento do aprendiz sabe valorizar as perguntas, mesmo quando elas não são bem formuladas, pois sabe que é mais frutífero ensinar a perguntar do que decorar fórmulas. *Claudiano Avelino dos Santos é mestre em história da Filosofia pela PUC de São Paulo e responsável pelas publicações de filosofia da Paulus. E-mail: filosofia@ paulus.com.br
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Especial formação do professor | Por Beatriz Tavares de Souza*
Vai começar o ano letivo
Pensando nos planos e objetivos traçados pelos educadores para o ano que se inicia, nossa equipe de reportagem pretende colaborar nessa importante missão. Sugerir temas, atividades e reflexões por meio dos produtos da PAULUS foi uma forma que encontramos de ajudar os professores na arte de ensinar com inovação. Confira nas próximas páginas o projeto pedagógico do livro Poemas e Comidinhas elaborado pela Beatriz Tavares de Souza. Foto: Divulgação
Apresentação A obra é desenvolvida entre ilustrações e receitas alimentícias apropriadas para crianças, misturando a arte culinária com a arte da poesia. Os autores, chef e poeta, permitem ao leitor fazer uma viagem ao mundo dos alimentos, aprendendo e saboreando o que há de melhor no reino da natureza. A temática aborda, em uma perfeita combinação, receitas de cozidos, saladas e doces que poderão ser preparados pelas crianças e pelos adultos.
chef
*Beatriz Tavares de Souza é mestre em Línguística Aplicada e pós-graduada em Língua Portuguesa pela PUCSP. Tem licenciatura plena em Língua Portuguesa e é bacharel em Língua Espanhola também pela PUC-SP.
Justificativa A obra traz informações sobre vários aspectos ligados à ciência natural: a partir de experiências dos alunos com o trato na alimentação, é possível abrir espaço para que os conhecimentos construídos acerca da cadeia alimentar sejam expostos e discutidos. A obra também propõe suscitar novas dúvidas e esclarecer sobre aquilo de que, em geral, já se tem ideia ou não antes da leitura do livro Poemas e Comidinhas, levando as crianças a observarem e a pensarem sobre os fenômenos da natureza, mudanças ecológicas, vida, meio ambiente e procedimentos humanos. Além disso, o livro é construído por uma linguagem envolta em poesias, cuja composição é formada por versos que rimam nomes de cores, flores, vegetais e animais. Projeto Pedagógico Como aprender a desenvolver o seu
próprio alimento de forma consciente e criativa, percebendo o valor de cada ser e da importância de preservar o ambiente em favor da vida. Como levar à mesa versos, sabores e transformar lindos poemas em deliciosas comidas no prato. Temas Secundários Poesia, alimentação, espaço, cozinha. Áreas do Conhecimento Língua Portuguesa, Arte Literária, Artes Plásticas, Ciências Naturais, Matemática, História e Geografia. Temas Transversais Pluralidade cultural, saúde, ética e meio ambiente. Indicação Ciclo 1 – indicado para alunos do 1º ao 5º ano. Objetivos Vivenciar um processo de leitura que possa articular os conhecimentos textuais/linguísticos e os conhecimentos de mundo. Levar o aluno a obter informações sobre a diversidade cultural e o meio ambiente por meio de discussão oral e de questionamentos sobre hábitos alimentares e sobre as contribuições que uma alimentação adequada oferece para a saúde de qualquer ser humano.
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1. Proposta de trabalho – lendo “antes de ler” É importante que o professor venha compartilhar com os alunos outras leituras, sob uma visão interdisciplinar, selecionando, desse modo, notícias, reportagens, artigos, mapas, livros de ciências ou atlas geográfico. O professor poderá trabalhar a temática em conjunto com a leitura do livro e de demais áreas do currículo, durante quinze dias ou um mês, propondo aos alunos uma sequência didática organizada em sala de aula e/ou no pátio da escola. É interessante discutir também alguns conceitos a partir de um campo semântico relacionado ao tema, como proteína, carboidrato, gordura, etc. 1. Sugerimos iniciar uma conversa com os alunos perguntando: O que já sabem sobre alimentação? a) Solicite à classe que traga para a sala de aula rótulos de produtos ligados à alimentação Depois, ajude-os na compreensão durante a leitura expositiva desse tipo de texto para a classe. b) Forme duplas e solicite que colem no caderno (ou em um outro papel escolhido) o rótulo, elencando os elementos constituintes, como o nome do produto e da marca, o slogan (se houver), prazo de validade, composição nutricional, etc. 2. Introduzir a discussão lançando as perguntas: a) O que é nutrição? b) Lembrando de rótulos e de propagandas, quais são os nutrientes que se encontram nos alimentos? c) Podemos aprender a comer bem? Então, o que é comer bem? d) É possível mudar nossa saúde com nossa alimentação? 2. Apresentando o livro 1. O que as imagens do livro sugerem? 2. Em sua opinião, quais as profissões que mais especificamente trabalham com o assunto alimentação? 3. Quanto ao título, Poemas e Comidinhas, o que ele lhe sugere? 4. Você sabe o que é poema? Sabe o que um poeta faz? 5. Alguém sabe recitar algum poema? 6. Tem idéia do que se trata a palavra chef?
Professor, por sugestão, inicie a leitura explorando bastante os conhecimentos prévios dos alunos sobre nutrição e a realidade dos povos do mundo inteiro. Fale sobre saúde e hábitos alimentares sob os aspectos social, cultural e político. Amplie essa exploração colocando informações sobre o ecossistema, meio ambiente e suas características, principalmente das regiões brasileiras, o tipo de clima, a vegetação, a fauna, a flora, o espaço, a população e a agricultura. Pois bem. Comece a “passear” pelo livro, folheando-o, conversando sobre o que vê. Esse comportamento no processo da leitura é uma forma de estímulo que consideramos fundamental no primeiro contato com a obra. Nota-se que o livro prenuncia o tema nutrição, mas em forma de poesia, ao mesmo tempo trazendo ilustrações e textos informativos. Verifica-se, então, que a função do tema não é somente a literária, ainda que traga a riqueza da poesia, mas pedagógica, por ensinar e discutir questões relacionadas à alimentação.
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Atividades: Reúna os alunos, organize-os em duplas ou trios. Sugerimos que cada grupo escolha uma das poesias/receitas apresentadas no livro. O grupo, então, poderá identificar o texto do seguinte modo: 1. Caracterize qual o tipo da receita que você escolheu marcando com um X: ( ) salada ( ) comida ( ) pão ( ) bolo ( ) doce ( ) sanduíche 2. Observe as ilustrações da capa, da folha de rosto e da primeira página e faça uma lista elencando os elementos advindos da natureza: a) Reino animal:______________________________________________ b) Reino vegetal:______________________________________________ c) Extração de minérios:_______________________________________ 3. Busque nas ilustrações quais os alimentos derivados: a) Da vaca: ___________ b) Do boi: ____________ c) Da galinha: _________ d) Do peru: ____________ e) Da abelha: ___________ 4. Observe e encontre a página que mais mostra os produtos cultivados no Brasil; depois, assinale com X para a resposta correta: a) Página 37 – Manjubinha Frita: _______ b) Página 21 – Pastéis de Vento: ________ c) Página 35 – Salada de Frutas Bandeira do Brasil: _______ 5. Busque nas páginas do livro alguma receita que tem como ingredientes elementos da água: a) Doce (rios, lagos...): ______________________________________ b) Salgada (mares e oceanos): _________________________________ 6. Encontre alimentos no livro Poemas e Comidinhas que foram produzidos por alguém em casa, em padarias ou em fábricas, separando o que é doce e o que é salgado: a) ____________________________ b) ____________________________ 7. Encontre, nas ilustrações do livro, objetos normalmente utilizados em uma cozinha, cujo nome comece com: Letra A________________Letra B________________ Letra C ________________ Letra F ________________Letra G _______________ Letra J ________________ Letra L _______________ Letra P _______________ Letra T ________________ Letra V ____________________ Depois disso, escolha as letras para compor as palavras, versos, rimas, poemas e poesias.
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8. Elenque o nome das frutas apresentadas no livro de acordo com as cores abaixo: Vermelho Verde ____________ ______________ ____________ ______________ 9. Do mesmo modo, faça uma lista para os vegetais de cores: Verde Amarelo Vermelho ___________ ________ ___________ ___________ ________ ___________ 10. Em que momento você usa os objetos abaixo? Escolha a alternativa e ligue conforme a refeição. Depois, produza um poema “brincando” com as palavras do mesmo modo que Roseana Murray “brincou”: Prato – garfo – faca – colher / no lanche da manhã Copo – jarra – bule – colher – faca – prato / no almoço e no jantar Xícara – bule – prato – colher – faca / no lanche da tarde Prato – copo – xícara – faca – colher / no almoço e no jantar 11. Observe nas poesias e ilustrações quais os elementos mencionados pelos autores pertencentes à receita escolhida pelo seu grupo e relacione: A receita é: _______________________ Página: ______________ Os elementos encontrados foram: _____________________________________ ________________________________________________________________ 12. Para responder de forma oral: a) Que motivo levou o grupo a escolher tal receita? b) Ela faz lembrar de alguma coisa ou de alguém em especial? c) Descreva o motivo da escolha. 13. A partir de tudo isso, que tal produzir com o grupo uma poesia? Sugerimos ao professor ajudar os alunos a observarem a menção que os autores fazem em relação à cultura dos povos em geral, tanto na apresentação de títulos, quanto nos textos e ilustrações. Proponha aos alunos as seguintes atividades:
1. Busque nas páginas do livro momentos em que os autores relacionam ilustrações, poesia e receita com o ambiente, os costumes e as lendas extraídos do contexto sociocultural. Depois aponte essa afirmação, assinalando uma das alternativas que mostra os costumes mais praticados em todo mundo: a) Bruxaria, pic-nic _______ b) Pic-nic, festa de aniversário ________ c) Festa de aniversário, bruxaria _________ d) Pic-nic, festa de aniversário, bruxaria _____
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2. Pesquise para responder assinalando com X a alternativa correta: O que significa o termo “fast-food”? a) Alimentação rápida que atende as necessidades das pessoas que trabalham fora. b) Alimentação desenvolvida pelos nossos antepassados, quando eram caçadores e coletores de alimentos.
Proteína
carne
mineral, ferro - sangue
leite
mineral, cálcio, queijo e iogurte - origem animal gordura, manteiga arroz e feijão
vegetais
c) Quando a família no campo plantava e criava animais. d) O modo de preparar o pão nos tempos atuais. 3. Leia a receita na página 17 e oralmente responda apontando a alternativa correta: Por que o chef André pede para fazer churros junto com a mãe, o pai ou a tia? a) Acredito que fazer churros é complicado. b) Porque tem uma parte no modo de fazer a receita que é muito perigosa. 14. Organize os alunos em duplas ou trios e solicite uma pesquisa para que conheçam os alimentos e suas origens. Por exemplo: a) De onde veio o sorvete, o sanduíche, o churro, o bolo de fubá, o pastel, o pão, o risoto, o hambúrguer, o suspiro, etc.? b) Onde surgiram os temperos? c) Em quais países de seu conhecimento existe o hábito de beber chá? d) Do mesmo modo, responda sobre aqueles onde existe o hábito de beber café. e) Quais os tipos de chá que você conhece? f) Pergunte aos seus pais, avós ou tios sobre os tipos de chás e para quê eles servem. Depois, apresente a resposta da pesquisa para a classe. Seria interessante, inclusive, levar a receita, os ingredientes e o modo de preparo. 15. Ajude os alunos a descobrir com o professor de História a origem da batata. Oralmente pergunte: a) Afinal, em que ano, mais ou menos, a batata virou alimento na Europa? b) Em que lugar da América já se conheciam o milho e a batata? c) Alguém na classe sabe como se cultivam e se colhem os alimentos? Algum pai ou avô sabe? Qual? Desse modo, podemos sugerir outra atividade: Que tal um grupo entrevistar alguém que saiba plantar três destes alimentos: arroz, feijão, milho, batata, mandioca, trigo, beterraba, alface, cenoura, jiló, melancia, melão, banana, morango, uva, maçã, abacaxi, mamão ou abacate, para depois contar a entrevista para a classe toda? Professor, sugerimos também levar para os alunos informações quanto à origem do arroz, café e pimenta-do-reino. Explique também a diferença entre o grupo das leguminosas, das batatas, das folhas, da carne branca, da carne vermelha, do peixe e dos crustáceos. Fale sobre proteínas e carboidratos, esclarecendo de onde podem vir esses elementos tão importantes para a nossa saúde.
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1. A partir daí, desenvolva uma atividade com os alunos. Ligue as palavras que se conectam, resumindo a explicação: Reúna os alunos em grupo e solicite as seguintes atividades: 1. Procure no livro os ingredientes que possam servir para fazer um sanduíche, sob a seguinte questão: Como um sanduíche pode se tornar uma boa refeição? 2. Responda assinalando com X a alternativa que achar correta. Em sua opinião, o que é mais saudável para a saúde? a) Um pudim feito em casa ____ b) Um pacote de bolacha recheada ____ c) Um tablete de chocolate ou de chiclete antes do almoço_________ d) Um sanduíche de queijo com tomate e alface ________ e) Um sanduíche de presunto com queijo, ovo frito, hambúrguer, maionese e purê de batata com guaraná __________ Para responder oralmente, pergunte: 1. O que você entende por guloseimas? 2. A partir do que você aprendeu com a leitura do livro e as atividades até agora desenvolvidas com colegas e professores, em sua opinião, a guloseima é considerada como um alimento que tem mais ou menos substâncias nutritivas? 3. O que é mais saudável: uma guloseima ou uma salada de frutas? Um assunto leva ao outro: Caro Professor, Aproveite para mostrar como vivem os povos, o acesso à comida e quais são as intervenções políticas atualmente existentes. Crie ambiente para debate e discussões.
a) Reúna os alunos de sua turma com outros de outras classes e convide professores de ciência, geografia e história para uma parceria no sentido de transmitir, por meio de filmes, data show, slides, etc., como vivem os povos de determinados lugares do planeta com relação à fome. Traga a realidade de povos da África, da América do Norte, da América Central, da Ásia e da América do Sul. b) Em última instância, também mostre a realidade entre povos de um mesmo país. Por exemplo, como vivem as crianças da região Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil. c) Aproveite o momento oportuno da leitura de Poemas e Comidinhas e dê exemplos de como vivem as pessoas da zona urbana, próximas ao depósito de lixo e próximas do CEASA de São Paulo. Propicie reflexões sobre a questão do desperdício que existe naqueles locais. Depois, coloque situações de pessoas que vivem das sobras dos alimentos que catam tanto no lixo, quanto no CEASA. d) Do mesmo modo, mostre como vivem as crianças nas regiões do campo, sejam elas do meio rural, da região de plantio da cana, dos serrados ou da zona da mata, especialmente as de domínio extrativista, como a do carvão, da borracha, etc. e) Explique a questão da obesidade, cada vez mais acentuada nos países considerados de Primeiro Mundo, e quais os motivos que os levaram a tal situação. Aponte quais os riscos de saúde que as pessoas obesas enfrentam.
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Especial formação do professor
f) Explique também sobre a questão do excesso de comida na mesa de uns e a falta de alimento na mesa de outros. g) Mostre outro cenário atual brasileiro. Em determinada região, as crianças, adolescentes, jovens e adultos estão seguindo os mesmos passos – em relação ao hábito alimentar – de outros povos. O mais agravante é que estão verificando que a tendência desses novos costumes é de enveredar para um seguimento alimentar mais prejudicial à saúde do que outro que privilegie o da alimentação correta e saudável. Desafios: Professor, crie ambiente e incentive os alunos a colocar a mão na massa. Consulte os pais e a direção sobre a possibilidade de criar “um dia do chef, um dia do poeta”. Depois forme grupos que possam desenvolver as habilidades tanto da arte culinária, quanto da poesia. Oriente-os para:
a. Convidar a mãe, avó ou tia para escolher ou dar uma receita que possa fazer na escola. b. Tendo a receita, os ingredientes, utensílios e local organizados, leve-os a desenvolver o trabalho culinário, se puder, com a participação de outra turma. c. Sugerimos que, dentro do grupo, enquanto uma parte se dedica à arte de cozinhar, outra parte se dedica à arte de “poetizar”, recitando alguns versos inventados pelo grupo. Ao desenvolver essa atividade, procure explorar a capacidade dos alunos na aplicação de operações de matemática. Pergunte quantas xícaras, quantos quilos ou quantos ovos são necessários para fazer tal receita. Tudo isso pode se transformar numa gincana com o seguinte slogan: “Que vença a receita, sem esquecer do poema!”. Uma coisa puxa a outra: A obra suscita na memória do leitor um costume culturalmente muito praticado em outras épocas e talvez (nunca se sabe) até os dias de hoje. Eram versinhos dos tempos meus, dos meus pais, dos avós, enfim, que foram recitados em algum lugar quando se é jovem ou criança, como este: “Meu limão, meu limoeiro, meu pé de jacarandá; oh! morena quando te vejo sinto meu coração palpitá (r)”. Assim, instigue os alunos a pesquisarem com a família sobre essa prática/costume de recitar versos. Sugerimos criar ambiente descontraído para apresentarem o resultado da pesquisa. Propomos dar nome à atividade, tendo como sugestão: “Recite versos! Quem não souber de nenhum, então, que invente um!”. Também poderia usar um título como este, extraído de uma obra literária, em homenagem ao grande escritor Orígenes Lessa: “O Feijão e o Sonho”, trazendo uma charada: “Quem sou eu? Será que sou feijão ou será que sou o sonho... Eis aí a minha questão!”. Sugestões para avaliação: Participação nas atividades; atendimento às propostas de trabalho; desempenho nos trabalhos em grupo; debates; e criatividade. Ressaltamos que as atividades aqui propostas têm por objetivo oferecer subsídios para a mediação do trabalho pedagógico com a obra Poemas e Comidinhas, da PAULUS Editora, e que não pretendem ser determinantes no trabalho desenvolvido em sala de aula, tendo em vista que somente o professor conhece as necessidades específicas de sua turma.
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Reflexão | Por Maria Terezinha Alves Lima*
Violência nas escolas
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Dedos decepados, pontapés, xingamentos, ameaças, socos, total falta de respeito e... embora pareçam elementos de uma narrativa cinematográfica, infelizmente, e cada vez mais nas escolas brasileiras, agressões deste tipo ocorrem dentro das salas de aula. O professor, vítima nesse contexto, vê seu papel de educador ser deturpado, desrespeitado e perder o sentido dentro de um sistema que parece não conseguir proteger seus mestres nesse ambiente de grande violência. Tentar entender este problema ou buscar soluções para sua eliminação não são tarefas fáceis. “Existem, ao meu ver, três fatores fundamentais para entender o aumento da violência em sala de aula: primeiramente há o aumento da concentração de renda e da desigualdade social, que determinou a redução da mobilidade social e diminuiu as possibilidades de ascensão na sociedade através da escola. Hoje, os jovens com diplomas de ensino médio (e mesmo de nível superior) percebem que serão mais pobres do que seus pais e que, muitas vezes, terão de depender deles; em segundo lugar, com a redução de valores coletivos e o aumento de valores individualistas, desenha-se uma perda da importância de éticas de amizades
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Reflexão
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associativistas e mutualistas que acabam sendo reduzidas em nome de “levar vantagem em tudo”; e, por fim, a perda de autoridade e de sentido da escola e dos professores como formadores de individualidades capazes de disputar na vida e no mercado de trabalho. O aluno percebe que o professor “não forma ninguém” para ganhar na vida, “onde quem pode mais chora menos”. Valores societários são traduzidos pela maioria dos professores e escolas, que têm pouca função numa sociedade onde a individualidade só é conquistada à base da força. Desse jeito, a articulação da autoridade do professor entra em colapso com a realidade e a busca dos jovens”, afirma John Kennedy Ferreira, sociólogo, professor universitário e presidente do Sinsesp (Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo). É grande o número de professores que abandona precocemente a carreira do magistério por total desencanto. Para Luzia Vilar, 35, professora de português, isto não foi diferente. “Parei de lecionar no final de l999. Nessa época eu dava aulas em um colégio particular bastante conhecido em São Paulo. Comecei lecionando em escolas públicas e fiquei nesse ramo
por aproximadamente oito anos. Saí porque não aguentava mais o sistema e a sua falta de estrutura. A falta de respeito e a indisciplina sem controle levaram-me a um diagnóstico de estresse e eu não quis e nem pude mais lecionar. O fácil acesso à informação fez com que os alunos perdessem todos os focos existentes e nós, professores, não passamos de meros bonecos que eles manipulam como bem entendem, pois eles são os novos ‘bichos papões da sociedade’. Não me arrependo de ter abandonado o magistério, não sinto falta alguma. Deixei de ser humilhada para ser respeitada. Deixei de ser ignorada para ser ouvida e nunca mais quero dar aulas novamente”. Em busca de ajuda para este problema, muitos professores procuram respaldo médico no Hospital do Servidor Público Estadual, mais especificamente no setor de psiquiatria. “O aumento da violência em salas de aula é um fato que se inscreve em circunstâncias diante das quais as pessoas envolvidas acabam reagindo de um modo ou de outro. As reações mais frequentes são de pavor e, em boa parte das vezes, perfeitamente adequadas à situação. As principais queixas dos pro-
fissionais provêm do mal-estar que os acompanha ao se dirigirem para o local de trabalho. Há verdadeiros fenômenos que denotam ansiedade (tremores, sudorese, taquicardia, sensação de que uma tragédia ocorrerá) e que ficam restritos à aproximação da escola. Com frequência, tais fenômenos não acompanham outras atividades do profissional (convívio familiar, lazer). É possível que em momentos de maior isolamento (hora de dormir, por exemplo) idéias desagradáveis invadam o pensamento, dificultando o descanso. Há que notar que as queixas associadas à violência estão relacionadas às queixas mais gerais relativas ao descaso de diretores e outras autoridades pedagógicas. Os professores – verdadeiramente ou não – se consideram sozinhos diante desta escalada, como se estivessem prestes a serem jogados aos “leões”, sem terem a quem recorrer. Da mesma forma, salienta-se que a violência é, por vezes, um problema menor do que o desinteresse dos alunos pelo aprender e, fundamentalmente, os professores apontam um clima geral de desrespeito à função de ensinar. Descrevem que os alunos simplesmente não acatam ordens, não acatam advertências, conversam em classe e o dizer do professor não vale mais que poucos centavos”, informa Durval Mazzei Nogueira Filho, psiquiatra, psicanalista e médico do HSPE. Para o Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP), os atos de violência, tanto no interior como no entorno das escolas, são um grave problema que têm preocupado alunos, professores, direção, pais e outros envolvidos na questão. Estudos, pesquisas e reportagens vêm trazendo à tona esse assunto e expõem outros problemas, entre eles, desigualdade social, desestruturação das
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famílias, falta de recursos humanos e de materiais nas unidades escolares, além dos baixos salários. As consequências são a baixa qualidade do ensino, expulsões e abandono da escola. A secretária de legislação da APEOESP, Zenaide Honório, disse que a violência escolar sempre existiu, porém, em número bem menor e com a ajuda da família para resolver o problema. No entanto, na última década, as agressões verbais e físicas têm se acentuado muito, problema esse que é um reflexo do que está acontecendo na sociedade atual: as famílias estão desestruturadas e as crianças e os jovens, devido aos pais trabalharem, têm passado mais tempo sozinhos ou em frente à televisão. Outra causa dessa situação é a falta de investimento na escola. Faltam recursos humanos e materiais. Zenaide lembrou que há cerca de dez anos existia a figura de uma espécie de guarda que ficava no interior da escola; hoje, faltam até inspetores de alunos. Os educadores, perante a violência escolar, segundo a secretária, têm se sentido “acuados” e sem o amparo legal do Estado. Muitos até tiraram licença para fazer tratamento. Para atender as queixas dos professores, o sindicato tem um departamento jurídico onde atua um advogado criminalista, contratado para responder pelos casos que fogem da esfera administrativa. “Os atos de violência sofridos pelos professores parecem não ter limites”, é o que afirma a professora Eunice Martins, que, com mais de 28 anos de magistério, vivenciou o pior momento de sua carreira numa escola pública municipal de São Bernardo do Campo. “Eu passei por uma situação inédita em minha vida. Retornávamos do intervalo quando um menino de outra classe passou em meio a minha turma e empurrou meus alunos,
As reações mais frequentes são de pavor e, em boa parte das vezes, perfeitamente adequadas à situação. As principais queixas dos profissionais provêm do mal-estar que os acompanha ao se dirigirem para o local de trabalho.
que caíram uns sobre os outros; o menino me empurrou e eu rodei no meio do corredor enquanto ele seguia para o banheiro. Fui atrás dele, pois achei um desaforo uma criança daquela idade (11 anos, pequeno e franzino) chegar a tanto e nada acontecer. Fui atrás dele na tentativa de conversar e mostrar-lhe como sua atitude tinha sido desrespeitosa. Ele entrou correndo para o reservadinho do banheiro e bateu a porta com força. Eu, então, empurrei a porta, coloquei a cabeça para dentro e chamei o garoto. Quando menos esperava, novamente a porta veio, desta vez com muito mais força. Eu só consegui pensar em tirar a cabeça mas a mão ficou e a porta bateu com muita violência. Olhei para o chão e vi sangue. Aí eu disse: “Como você se machucou? Venha para cá!” – coloquei a mão na porta e percebi que o sangue era meu e escorria pelo meu braço. Quando olhei novamente para o chão, a ponta do meu dedo já estava lá com metade da unha para cima. Peguei o dedo, coloquei a mão embaixo da água e, naquele momento, o garoto saiu do reservado olhando para a cena e dando muita risada. Ele entrava e saia do banheiro num cinismo total”. Professora da segunda série do ensino fundamental, Eunice afirma que, faltando apenas um ano para sua aposentadoria, não abandonará a carreira, mas que se estivesse na metade ou no início de sua profissão, não pensaria duas vezes
para mudar o rumo de sua vida. Para Rosângela Cabrera, psicóloga especializada na área de recursos humanos e gestão escolar e sócia de uma empresa especializada na colocação e recolocação de professores no mercado de trabalho, restaurar a confiança de um profissional que tenha sofrido violência em sala de aula não é tarefa fácil. “Sempre que recebemos um professor oriundo deste contexto, procuramos acolher, ouvir e entender o sentimento e as relações que este profissional estabelecia com seus colegas e superiores e verificamos se este fato é um episódio isolado ou se é uma característica do gestor. Buscamos elementos que possam motivá-los a voltar, buscamos no próprio professor toda a base e sustentação, mostrando a ele que o que ele é como profissional lhe pertence e pode ser levado para aonde ele quiser”, afirma. É preciso enfrentar este problema com máxima urgência, empenhar-se em campanhas que busquem a promoção da paz, efetivar a idéia de que a escola é um espaço para o desenvolvimento do conhecimento e das boas relações humanas. Se medidas assim ou outras de natureza semelhante forem adotadas pela sociedade, a educação passará a ocupar o lugar de destaque que merece num país tão carente, neste aspecto, como é o Brasil. *Maria Terezinha Alves Lima é professora de Língua Portuguesa, crítica de Literatura Infantil e autora de apostilas para cursos pré-vestibulares.
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Sociedade | Por Simone Maximo da redação
O papel político da escola Ser cidadão é muito mais do que ir às urnas
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2008 foi ano um eleitoral. Cargos de vereadores e prefeitos foram disputados em todo o Brasil. Campanhas políticas, promessas e discussões entre os candidatos marcaram páginas de jornais, programas de rádio e televisão, sites e todos os canais de comunicação com a sociedade brasileira. A educação foi um dos muitos assuntos discutidos, já que o sistema educacional brasileiro ainda é problemático, precário e exige atenção dos governantes. Educação e política andam juntas. Os jovens do século XXI precisam e querem ser informados do que acontece na política do Brasil e do mundo, e
como as decisões de quem está no poder podem influenciar em suas vidas. É fundamental que a escola, a família e os alunos estejam prontos para enfrentar mudanças e compreender a atuação do poder público. Para isso acontecer, a política deve ser vista como uma ciência, e não apenas como um aglomerado de opiniões, desejos e necessidades individuais. Essa elucidação deve começar na escola, com educadores preparados para falar, explicar e debater o assunto com jovens e crianças, sem influenciá-los. Mas, afinal, qual é o “papel político” da escola? De acordo com Regina Magalhães de
Souza, socióloga da Secretaria Municipal de Planejamento do Município de São Paulo, é um grande equívoco supor que a escola, ou qualquer organização que trabalhe com educação, ensine a fazer política. A especialista destaca que não se deve dizer às novas gerações como elas devem participar da sociedade, mas sim, dizer aos jovens como ela é, não de uma maneira dogmática e autoritária, mas propiciando a reflexão, a crítica e o pensamento autônomo. “O papel político da escola é oferecer ‘conteúdo’ e oportunidades de discussão e reflexão acerca desse conteúdo, esclarecendo critérios, razões, pressupostos, consequências e valores em questão. Além disso, a escola também deve oferecer exemplos de conduta baseados em valores universalmente aceitos: justiça, solidariedade, respeito, entre outros. Assim, pode se formar o chamado ‘cidadão’, capaz de escolher os caminhos da participação política. Seguindo esses princípios, a escola pode e deve discutir política, assim como tantos outros assuntos”, explica. Infelizmente, as escolas dão maior ênfase aos assuntos relacionados à política somente em anos eleitorais. É deixado de lado todo o processo e o dever do indivíduo perante a sociedade, que passa a praticar a política somente quando está diante das urnas. De acordo com Lilian Barone, que é
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professora e também atua na Assessoria Especial da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, esse viés tem grande repercussão na escola, mas a discussão sobre política deveria ir além. “Gostei de um trabalho realizado por uma escola pública de São Paulo, na qual a professora utilizou-se da questão da ‘boca de urna’. Naquele ano choveu no dia da eleição e muitos bueiros ficaram entupidos com os panfletos distribuídos. As discussões e trabalhos giraram em torno da ilegalidade de tal ato e de suas consequências. Também ouvi discussões sobre como se elege um representante do povo que prejudica a coletividade antes de ser eleito, e, a partir daí, a professora fez um levantamento sobre as políticas públicas, sobre o que se faz depois da eleição e quais as ações que deveriam ser executadas pelos cidadãos quanto ao trabalho dos políticos eleitos”, explica. É fundamental que crianças e jovens entendam a política dentro de sua realidade, e não como algo distante. Lilian acrescenta que a relação entre educação e política no Brasil está em processo de construção. “O paradigma ‘política é coisa feia e por isso não deve ser tema de trabalho nas escolas’, já está sendo deixado para trás. Tivemos um período em que a criticidade quanto à gestão do país era proibida. O certo era aceitar tudo com um sor-
riso de aprovação. Hoje, trabalhamos notícias de jornais em sala de aula. Aguçamos os sentidos dos alunos para as diversas possibilidades dessa leitura e a mídia é colocada à prova e utilizada como meio para análise dos interesses”, afirma. O jovem e a política Educação política não se faz com opiniões pessoais sem fundamentos. É preciso conhecer os conceitos básicos da vida política, analisar planos de governo durante as campanhas partidárias e, mais do que isso, acompanhar as ações realizadas depois que os candidatos forem eleitos. Incentivar essa análise desde cedo permite que o jovem esteja preparado para votar. Regina Magalhães de Souza destaca que, há pelo menos quarenta anos, desde o movimento de 68, criou-se, na sociedade, a expectativa da participação política da juventude. Ou seja, pelo menos desde aquele tempo, espera-se que a juventude tenha uma participação política. “Hoje em dia, creio que essa expectativa se transformou também numa prescrição: dizemos aos jovens que eles devem participar e, mais do que isso, dizemos-lhes como devem participar. Creio que a disposição dos jovens talvez não seja muito diferente da dos adultos. A diferença é que há essa expectativa e essa prescrição em relação à participação juvenil.
O paradigma ‘política é coisa feia e por isso não deve ser tema de trabalho nas escolas’, já está sendo deixado para trás.
Confira no quadro abaixo o que os jovens pediram nos recados aos políticos brasileiros: • Governantes mais responsáveis/mais dignidade; • Honestidade/maior consciência/fim da corrupção; • Atenção aos jovens/ouvir suas opiniões/investir nos jovens; • Investimento em educação; • Renovação das formas de se fazer política e dos(as) políticos(as); • Atenção ao povo/ouvir mais o povo/observar a situação do povo Páginas Abertas
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Sociedade Tanto os jovens quanto os adultos, de maneira geral, estão descrentes em relação à chamada política ‘tradicional’ e sentem-se impotentes para realizar ou participar de grandes mudanças sociais.”, conclui. A impunidade, a pobreza e a desigualdade social no Brasil são fatores que explicam o descrédito das novas gerações em relação à política. É difícil para a sociedade acreditar na política de um país que tem um extenso histórico de corrupção e, por isso, é cada vez mais difícil discutir este assunto em escolas e com os jovens. De acordo com João Luís de Almeida Machado, editor do Portal Planeta Educação, não existe a crença de que possamos re-
almente alterar o país, melhorar as condições gerais da nação, promover maior justiça social e equidade enquanto não se combater de vez a corrupção. “Essa não é uma percepção exclusiva dos jovens ou dos adolescentes, mas de muitos adultos também. Esses fatores contribuem para um distanciamento da ação política pelas novas gerações que não querem ser associadas à imagem negativa da política brasileira. Muitos deles preferem partir para ações através de ONGs, pois enxergam nas mesmas alguma possibilidade de contribuir na construção de um país melhor e mais justo. Só que apenas isso não é suficiente”, afirma. De acordo com a pesquisa Juventude
Brasileira e Democracia – participação, esferas e políticas públicas, realizada pelo Instituto Polis de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Públicas e pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase), jovens brasileiros, entre 15 e 24 anos, reconhecem sua parte na construção do Brasil que desejam. A pesquisa mostra também que existe um sentimento de “decepção”, mas não de descrença no papel da educação. No geral, a escola é considerada ruim. Dos 8 mil jovens entrevistados na pesquisa quantitativa, 86,2% estudam ou estudaram em escola pública e afirmam que sentem um descaso por parte dos governantes em relação à educação.
O papel político da escola é oferecer ‘conteúdo’ e Informação e Participação Política (em %) Confira no quadro abaixo alguns dados em relação à participação do jovem em grupos:
• 66,5% dos jovens entrevistados afirmaram ter participado de algum curso extra-escolar; • 28,1% dos jovens participavam de algum tipo de grupo; desses, 42,5% desses participavam de grupos religiosos, enquanto que 4,3% participavam de partidos políticos; • 8,5% dos jovens consideravam-se politicamente participantes.
oportunidades de discussão e reflexão acerca desse conteúdo, esclarecendo critérios, razões, pressupostos, consequências e valores em questão.
Fonte: Relatório final da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia – participação, esferas e políticas públicas. Instituto Polis de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Públicas e Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase).
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Sala de Aula | Por Douglas Tufano
A Nova Ortografia Orientações básicas para quem quer escrever corretamente, sem se preocupar com conceitos gramaticais. No Brasil, o novo Acordo Ortográfico foi aprovado pelo Decreto Legislativo nº 54, de 18 de abril de 1995, e deverá entrar em vigor a partir de janeiro de 2009. inaram o Acordo: Portugal, Brasil, Angola, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor Leste. O Acordo é meramente ortográfico; portanto, restringe-se à língua escrita, não modificando a pronúncia de nenhuma palavra. Foram oficialmente introduzidas no alfabeto as letras K, W, Y. O nosso alfabeto agora tem 26 letras: ABCDEFGHIJKLMNOPQRSTUVWXYZ.
O acento circunflexo na palavra fôrma é opcional, isto é, pode ou não ser usado. Às vezes, é bom usar para evitar confusão. Veja como ele é útil nesta frase: Não sei qual é a forma da fôrma do bolo.
O trema (¨) foi abolido. Por exemplo: Como era: agüentar, argüir, bilíngüe, seqüestro, tranqüilo. Como fica: aguentar, arguir, bilíngue, sequestro, tranquilo. * Continua em palavras estrangeiras e suas derivadas: Müller, mülleriano.
Caiu o acento agudo (´) no U de três formas dos verbos arguir e redarguir. Como era: (tu) argúis, (ele) argúi, (eles) argúem, (tu) redargúis, (ele) redargúi, (eles) redargúem. Como fica: (tu) arguis, (ele) argui, (eles) arguem, (tu) redarguis, (ele) redargui, (eles) redarguem. * Atenção: a pronúncia continua a mesma.
Palavras que terminam em óia, óias, óio, éia, éias, éio não são mais acentuadas. Por exemplo: Como era: jóia, jóias, idéia, idéias, jibóia, platéia, apóia, apóio, estréia, estréio. Como fica: joia, joias, ideia, ideias, jiboia, plateia, apoia, apoio, estreia, estreio. Palavras que têm o grupo éi ou ói no meio não são mais acentuadas. Por exemplo: Como era: heróico, paranóico, debilóide, asteróide, protéico. Como fica: heroico, paranoico, debiloide, asteroide, proteico. * Palavras que terminam em éis ou ói(s) continuam com acento: papéis, herói, heróis. As palavras feiúra, baiúca e bocaiúva perderam o acento. Agora se escrevem: feiura, baiuca, bocaiuva. Palavras que terminam em êem ou ôo(s) não são mais acentuadas. Por exemplo: Como era: abençôo, dêem (verbo dar), crêem (verbo crer), lêem (verbo ler), vêem (verbo ver), vôo, vôos, zôo. Como fica: abençoo, deem, creem, leem, veem, voo, voos, zoo. Caiu o acento das seguintes palavras: pêlo, pêlos, pólo, pólos, pêra, pára. Agora devemos escrever: pelo, pelos, polo, polos, pera, para.
Passará a ser exigido o uso do hífen nas palavras com prefixos (anti, super, inter, semi, ultra etc.). • Sempre se usa o hífen diante de palavra começada por H. Ex: anti-higiênico, super-homem, sobre-humano. • Usa-se o hífen se o prefixo terminar com a mesma letra com que se inicia a outra palavra. Ex: micro-ondas, anti-inflacionário, sub-bibliotecário, interregional. • Não se usa o hífen se o prefixo terminar com letra diferente daquela com que se inicia a outra palavra. Ex.: autoescola, antiaéreo, intermunicipal, supersônico, superinteressante. Não se usa o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista etc. Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte. Exemplos: Na cidade, disseram- -me que ele foi viajar.
O diretor foi receber o vice-prefeito.
Observações: PSe o prefixo terminar por vogal e a outra palavra começar por R ou S, dobram-se essas letras. Ex.: minissaia, antirracismo, ultrassom, semirreta. PO prefixo co junta-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por O. Ex.: coobrigação, coordenar, cooperar, cooptar. PSempre se usa o hífen com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, vice. Ex.: ex-aluno, sem-terra, além-mar, aquém-mar, recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-europeu, vice-rei. Fonte: www.douglastufano.multiply.com
*Douglas Tufano é professor de Português, Literatura e História da Arte, formado em Letras e Pedagogia pela Universidade de São Paulo e pós-graduado em História e Filosofia da Educação. É autor de livros didáticos e paradidáticos nas áreas de Língua Portuguesa e Literatura. E-mail: dgtufano@terra.com.br
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Li, gostei e recomendo! | Por Francisco José Nunes*
AtivistAs
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A publicação do livro “Fé viva: como a fé inspira a justiça social” é muito oportuna. Seu autor é o ativista norte-americano Curtiss Paul DeYoung, que também é advogado e professor de Estudos de Reconciliação na Bethel University, em Saint Paul, Minnesota (EUA). Para o autor, o conhecimento a respeito do mundo contemporâneo e de seus principais expoentes políticos e sociais será fundamental na formação dos líderes do século XXI, especialmente daqueles que, inspirados pela fé, lutaram por mudanças sociais, não se restringindo apenas ao mundo da política e da economia. A obra privilegia três grandes lideranças: primeiramente Malcolm X, ativista negro que se converteu ao islamismo e lutou nos Estados Unidos contra o racismo. Foi assassinado por rivais negros muçulmanos, no dia 21 de fevereiro de 1965. Em segundo lugar, Dietrich Bonhoeffer, “pastor luterano que lutou na Alemanha contra Adolf Hitler e a ascensão do nazismo”. Acabou sendo morto, sob as ordens do ditador, no dia 9 de abril de 1945. Finalmente Aung San Suu Kyi, “incansável defensora da democracia na luta contra a tirania em Myanmar (Birmânia)”. Ela segue a tradição budista e vive, atualmente, em prisão domiciliar no seu país. O autor chama essas lideranças de “ativistas místicos”, e usa essa expressão para vários outros líderes citados no livro, como Mohandas Gandhi, Martin Luther King Junior, Nelson Mandela, Desmond Tutu, Rigoberta Menchú e Oscar Romero. O livro, aparentemente apologético, sai do lugar comum ao mostrar que gran36 Páginas Abertas
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para o século des líderes políticos e espirituais são seres humanos falíveis, com inúmeros dilemas, quedas, fraquezas e decepções. Segundo o autor, “ativistas místicos não são super-heróis. Eles sentem dor e desânimo”; além do mais, “ativistas místicos profetizam para sociedades agonizantes”. Entre os dilemas, podemos destacar a questão de gênero e a família, já que a maioria dos ativistas são homens e estes, na maioria das vezes, priorizam o trabalho e deixam em segundo plano as responsabilidades familiares; a questão ética aparece em segundo lugar: o Pastor Bonhoeffer participou de uma conspiração para matar Hitler, por isso, enfrentou este dilema ético (contrariar o mandamento “Não matarás”) e por fim, há o conflito com a instituição religiosa, já que as Igrejas Cristãs (Católica e Protestante) foram coniventes com o nazismo. O budismo, por sua vez, evita tomar posições políticas; nos Estados Unidos as Igrejas Cristãs legitimaram a escravidão e a discriminação racial e, segundo Luther King, “aqueles que dizem que a religião não tem nada a ver com política, não sabem o que quer dizer religião”. Segundo o autor do livro, o pastor Bonhoeffer praticou um “cristianismo sem religião”, porque “essa fé vivida é uma marca registrada dos ativistas místicos”. Trata-se de “uma fé de ação, não somente de rituais e regras”. Ao abordar as “intersecções interfé”, o autor diz que os “ativistas da justiça social, que se baseiam na fé, descobrem com frequência que eles têm mais em comum com pessoas profundamente espirituais em outras tradições do que com muitos em suas próprias tradições”.
Os pobres, os excluídos e os marginalizados são a referência para os ativistas místicos. Conforme diz o autor, “a ética da libertação subentende que o teste do compromisso da sociedade com a justiça social é o tratamento dado aos que se encontram às margens”. O ativista místico luta por mudanças estruturais. A este respeito, recorda um discurso de Malcolm X: “É impossível para uma galinha botar um ovo de pata, ainda que ambas pertençam à mesma família de aves – a galinha simplesmente não tem dentro de si um sistema para produzir ovos de pata. Ela não pode fazê-lo. Ela só pode produzir segundo aquilo que seu sistema particular é capaz de produzir. O sistema neste país não pode produzir liberdade para um afro-americano. É impossível para o sistema: este sistema econômico, este sistema político, este sistema social, este sistema, ponto. É impossível para esse sistema, como ele se coloca, produzir liberdade neste momento para os homens negros neste país. E se alguma vez uma galinha botou um ovo de pata, eu tenho certeza que vocês diriam que ela era certamente uma galinha revolucionária!” (p. 208). Outro aspecto importante da obra é a referência à opção pelos excluídos, feita pelos ativistas místicos: Aung San Suu Kyi pertencia a uma família da elite na Birmânia. Seu pai foi general do exército e ela estudou na Inglaterra, mas adotou e foi adotada pelos marginalizados de seu país; Dietrich Bonhoeffer vivia uma vida confortável com a família, mas sacrificou seus privilégios e viveu em solidariedade com as vítimas do nazismo, especialmen-
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te os judeus; Oscar Romero começou sua liderança apoiado pela elite de El Salvador, mas, no decorrer do seu trabalho pastoral, aliou-se aos marginalizados; Moisés foi criado no palácio do Faraó, e Luther King em instituições de ensino que eram predominantemente brancas. Conclui o autor: “ver a vida de ambos os lados, do centro e das margens, enriquece a habilidade dos ativistas místicos de reconciliar com comunidades alienadas”. O livro conta com um apêndice que reúne “breves descrições biográficas de ativistas místicos do século XX”, além de uma extensa bibliografia. Entretanto, nesta lista não aparecem os ativistas místicos brasileiros Chico Mendes, Margarida Maria Alves, Luíza Mahin, Marçal de Sousa Tupã-Y, Padre Josimo Tavares, Santo Dias, Dom Helder Câmara, Frei Tito, Pastor Jaime Wright, Dom Pedro Casaldaliga, Dom Luiz Cappio, Monja Coen, entre inúmeros outros. Talvez este livro sirva de incentivo para algum autor brasileiro que se interesse em contar a trajetória dos ativistas místicos nacionais. O capítulo de conclusão, “Reconciliação e Religião no século XXI”, é um forte apelo ao diálogo inter-religioso e um estímulo às práticas de convivência pacífica, especialmente entre as religiões que são usadas para justificar guerras, conflitos e violência. O livro é recomendável aos agentes de pastoral, mas também é válido para todas as pessoas que acreditam que “um outro mundo é possível”.
*Francisco José Nunes é professor de Filosofia na Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP.
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Páginas Abertas Indica Comunicação e democracia – problemas e perspectivas
Midiatização e processos sociais na América Latina
Wilson Gomes e Rousiley C. M. Maia
Antônio Fausto Neto, Pedro Gilberto Gomes, (orgs.) José Luiz Braga e Jairo Ferreira
As relações entre a comunicação de massa e os processos políticos democráticos, examinados recentemente no panorama internacional por um considerável número de autores, não obtiveram ainda o mesmo espaço na literatura brasileira. Ultimamente, as questões ligadas às relações entre política e novos meios de comunicação, particularmente a internet, atraem muitos pesquisadores, sobretudo os mais jovens.
O tema central desta obra se traduz no conceito de midiatização que repercutiu intensamente ao longo de uma década sobre as práticas acadêmicas, especialmente aquelas de natureza investigativa, desenvolvidas nos ambientes universitários de ensino e de pesquisa da comunicação midiática. Midiatização e processos sociais na América Latina apresenta uma nova prática de estudo e de diálogo que favorece o estabelecimento de culturas de investigação, envolvendo grupos de estudos além das fronteiras geográficas propriamente ditas.
Formato: 14 x 21 cm – 372 páginas Catálogo: Comunicação
Formato: 13 x 21 cm – 333 páginas Catálogo: Comunicação
Por que ler?
Por que ler?
O livro se organiza em três partes, revisando, primeiramente, o debate sobre o conceito e a experiência da esfera pública. Em um segundo momento, o livro explora as interfaces entre a democracia, o alcance e a validade da noção de deliberação pública e os problemas diversos de interação social e de participação política, tendo como foco o fenômeno da comunicação de massa.
O livro ilustra a possibilidade de efetivação de novas formas de cooperação entre as políticas acadêmicas e as políticas de ciências e de tecnologia focadas especialmente na área de comunicação, com vistas ao avanço e a novos desenhos de construção de estratégias de produção do conhecimento.
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Observatório de mídia: olhares da cidadania
Exercícios de pedagogia profunda
Rogério Christofoletti e Luiz Gonzaga Motta (orgs.)
Céline Lorthiois
Quando irritado ou constrangido, o telespectador usa o controle remoto e abandona a programação que lhe faz mal. Quando insatisfeito com a matéria parcial da revista, a leitora deixa de lado a publicação e passa a ler a concorrente. Mas não é só. O público, cada vez mais, percebe que a relação com os meios de comunicação pode ir além do simples contrato de recebimento passivo de pacotes de informações e entretenimento e deseja, com isso, participar do processo, interagir, opinar, criticar e sugerir.
Educar transcende ensinar regras e condutas sociais. Quem irá ser educado deve buscar suas raízes mais profundas e questionar as finalidades do processo educativo. Trata-se de uma obra imprescindível para o êxito nas tarefas educacionais.
Formato: 13,5 x 21 cm – 232 páginas Catálogo: Comunicação
Formato: 13,5 x 21 cm – 232 páginas Catálogo: Educação
Por que ler? Nas últimas duas décadas, diversos instrumentos de participação e leitura da mídia foram criados e aperfeiçoados. Entre os mais evidentes desses dispositivos, estão os observatórios de mídia, que se ocupam em ler os meios de comunicação e difundir uma cultura de consumo crítico das informações veiculadas. Esses observatórios funcionam como janelas de mídia para a sociedade e são o espelho de uma dimensão da sua cidadania.
Por que ler? A autora, Céline Lorthiois, propõe que educar é conhecer e trabalhar o indivíduo globalmente, em todos os seus aspectos e interferências. Ela ainda apresenta relatos elaborados para os Encontros de Cinesiologia e referências ao trabalho corporal: técnicas de relaxamento (tais como toques sutis e calatonia), danças circulares e outros trabalhos corporais.
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Páginas Abertas Indica Pedagogia da humanização – a pedagogia humanista de Paulo Freire
Como ler a filosofia da mente João de Fernandes Teixeira
Nelino Azevedo de Mendonça
O autor, Nelino Azevedo de Mendonça, aborda questões socioeducativas atuais diante do avanço tecnológico e das novas dinâmicas de relações políticas e culturais, sem esquecer da internacionalização das comunidades como entreposto para novas responsabilidades de reflexão e intervenção social. As transformações da sociedade aspiram por práticas pedagógicas escolares que funcionem como verdadeiros instrumentos democratizadores do meio.
Adentrar um mundo imaginário e se deparar com elementos paradoxais é o convite que João de Fernandes Teixeira faz ao leitor desta obra. O livro apresenta informações básicas para as pessoas que desejam se iniciar nos estudos filosóficos e analisa, em oito capítulos, os principais temas abordados por essa disciplina nas últimas décadas.
Formato: 13,5 x 21 cm – 168 páginas Catálogo: Educação
Formato: 13,5 x 21 cm – 72 páginas Catálogo: Filosofia e Ciências Humanas
Por que ler? Este livro amplia essas perspectivas e aponta, por meio do pensamento freireano, um novo referencial teórico-crítico construtor de um processo educativo e humanizador, característica marcante da obra de Paulo Freire. “O objetivo desta obra é compreender o desenvolvimento do conceito de humanização encontrado no pensamento de Paulo Freire e a relevância deste conceito para sua pedagogia”, explica o autor.
Por que ler? A obra é um importante roteiro de leitura para os estudantes universitários e um instrumento de suporte para as discussões em salas de aula do ensino médio. Como ler a filosofia da mente é o primeiro volume da coleção Como ler filosofia e conta com autores reconhecidos e linguagem acessível e coloquial que facilita a interação do leitor com o texto por disponibilizar, no final de cada capítulo, metodologias que propõem estender o pensamento teórico para a realidade de cada um.
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Como ler um texto de filosofia
Compêndio de sociologia Philippe Riutort
Antônio Joaquim Severino
Compreender o sentido das palavras é uma tarefa bem mais complexa do que apenas ler as informações contidas em um texto, e, quando a leitura aborda conteúdos filosóficos, é preciso ainda mais sensibilidade. Este livro tem como objetivo mostrar os caminhos para que estudantes e professores leiam e compreendam os textos de filosofia, uma vez que ele permite um contato mais profundo com os grandes pensadores da História.
Este compêndio busca possibilitar a descoberta da especificidade da abordagem sociológica e facilitar a percepção das ligações que a sociologia mantém com as outras disciplinas. Procura estabelecer uma cartografia dos vivos debates que acompanham a disciplina desde o seu surgimento e que se dedicam a explicar os fenômenos sociais. Além disso, analisa algumas aquisições feitas pela disciplina no que se refere aos objetos que, embora variados, originaram trabalhos importantes e orientações diversas.
Formato: 13,5 x 21 cm – 80 páginas Catálogo: Filosofia e Ciências Humanas
Formato: 13,5 x 21 cm – 800 páginas Catálogo: Filosofia e Ciências Humanas
Por que ler? Com autores reconhecidos e linguagem acessível e coloquial, a coleção promove uma leitura fluente. As obras facilitam a interação com o texto por disponibilizar, no final de cada capítulo, metodologias que propõem estender o pensamento teórico para a realidade de cada leitor.
Por que ler? A obra é um convite para a descoberta dos textos sociológicos e se endereça aos estudantes de sociologia, tanto os que procuram adquirir as bases da disciplina, quanto os que se encontram em nível mais avançado e desejam se aprofundar em mais um objeto particular de estudo.
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Páginas Abertas Indica Corpo, linguagem e educação dos sentidos no pensamento de Rubem Alves
A mentalidade primitiva Lucien Lévy-Bruhl
Antônio Vidal Nunes
Não há dúvida de que Rubem Alves, com sua sensibilidade e capacidade de brincar com as palavras, é hoje um dos pensadores mas lidos no Brasil. Colaborador da educação e sonhador de um país melhor e mais igualitário, esse autor contribui com a difusão da cultura, da informação e instiga a motivação em crianças, jovens e adultos.
O livro mostra aquilo que para os primitivos é a causalidade e as consequências que decorrem da idéia que dela fazem. O autor não pretende esgotar aqui o estudo da mentalidade primitiva em todos os seus aspectos e nem em suas múltiplas expressões.
Formato: 13,5 x 21 cm – 216 páginas Catálogo: Educação
Formato: 13,5 x 21 cm – 464 páginas Catálogo: Filosofia e Ciências Humanas
Por que ler? Neste livro, o autor fala um pouco desse pensador mineiro, de sua vida, de alguns conceitos importantes do seu pensamento e da forma como Alves vê a educação. Têm destaque especial os conceitos de corpo e de linguagem, em que Rubem Alves dialoga com pensadores como Nietzsche, Freud, Norman Brown e Wittgenstein.
Por que ler? Trata-se de uma introdução geral na qual o autor determina, de maneira objetiva e exata, a orientação própria dessa mentalidade, dos dados de que ela dispõe, como ela os adquire e qual uso deles faz. Ao fazer isso, depreende e descreve certos hábitos mentais característicos dos primitivos, e mostra porquê e como eles diferem dos nossos.
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Diálogos noturnos em Jerusalém - sobre o risco da fé
Encontrar sentido na vida: propostas filosóficas
Cardeal Carlo M. Martini e Georg Sporschill
Renold Blank
A juventude de hoje, embora distante da vivência da fé, dos mandamentos da Igreja e da vida pastoral, demonstra sinais de que ainda existe vontade de transformar a realidade, de questionar e de dialogar sobre as incertezas da fé e da vocação. Neste livro, os autores Cardeal Carlo M. Martini e Pe. Georg Sporschill apresentam as dúvidas dos jovens referentes à Igreja, à fé e à doutrina católica.
“Qual o sentido da vida? Será que o ser humano é resultado dos acasos, ou será que atrás dos acasos se esconde um último sentido? Qual o caminho para achar sentido diante das contradições insolúveis da existência? Como achar o próprio sentido diante da aparente absurdidade da morte?”. Essas são as indagações que o livro faz ao leitor.
Formato: 13,5 x 21 cm – 88 páginas Catálogo: Espiritualidade
Formato: 13,5 x 21 cm – 120 páginas Catálogo: Filosofia e Ciências Humanas
Por que ler? A obra é dividida em temas por capítulo, com as perguntas e as respostas das conversas entre os autores e os jovens de Jerusalém e região. Por uma Igreja com ousadia; Coragem para a decisão; Na intimidade com Deus; Por uma Igreja aberta e Aprender a amar são algumas das temáticas da obra. Com este trabalho, é possível reviver nos jovens o sonho de construir um mundo mais justo e igualitário.
Por que ler? A obra, que é o terceiro volume da coleção Como ler Filosofia, procura desvendar os enigmas da condição humana por meio da filosofia, como a busca pela felicidade e os caminhos que contrapõem essa aspiração. Outro aspecto analisado pelo autor é o enigma do ser humano como controlador dos fatos, mesmo diante das intervenções do destino.
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Páginas Abertas Indica Música para flauta - Camargo Guarnieri e Francisco Mignone Estudos sobre o desenvolvimento da música clássica no Brasil identificam cinco estágios referentes à implementação de uma estética nacionalista. Após uma fase internacional, em que os compositores locais empregaram as formas e gêneros herdados da tradição musical européia, seguiram-se três períodos de investigação, em que o material folclórico foi explorado e incorporado ao estilo do compositor de maneira progressivamente mais natural e orgânica: nacionalista incipiente, nacionalista e nacional. Numa última fase, o compositor, às vezes, retorna ao universalismo e aos experimentos de vanguarda.
Por que ouvir?
Faixas: 17 Duração: 54 minutos Catálogo: Música e Vídeo
A flauta é um instrumento essencial para o estilo e estética do choro, um gênero popular com repercussões profundas no desenvolvimento da música erudita brasileira. Este CD é um trabalho respeitoso ao instrumento, explorado de maneira muito rica e cuidadosa.
Voo no popular - Samira Rahal Neste CD, Samira Rahal pretende cantar as canções escolhidas de outra forma: com um despojamento que valoriza o timbre delicado e as sutilezas da alma feminina. Com arranjos, transcrições e adaptações assinados por ela e Jardel Caetano, este trabalho mostra o canto clássico brasileiro interpretado de forma mais aceitável para o público em geral, com a intenção de resgatar, em alguns casos, a fonte inspiradora de seus compositores: a música popular.
Por que ouvir?
Faixas: 12 Duração: 40 minutos Catálogo: Música e Vídeo
Voo no popular é referência no cenário musical brasileiro, pois sua qualidade sonora e repertório colaboram com a cultura e com o mercado que anseia por cantores talentosos e trabalhos que se diferenciem. Este CD apresenta ao ouvinte da boa música brasileira uma melodia que inspira sentimentos.
Lundu de Marruá – modinhas e lundus dos sécs. XVIII e XIX - Lira D´Orfeo A modinha e o lundu são gêneros que surgiram durante a segunda metade do século XVIII. A modinha é herdeira da moda portuguesa e caracteriza-se como canção de amor. É praticada e composta nos salões da época, tanto por músicos de renome quanto por amadores. Seus textos, às vezes, pertencem ao próprio compositor, mas é muito comum serem de autoria de algum poeta árcade.
Por que ouvir?
Faixas: 26 Duração: 55 minutos Catálogo: Música e Vídeo
O disco reúne um repertório de canções já consagradas, podendo ser encontradas em locais como a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, a Biblioteca Nacional de Lisboa e a Biblioteca do Palácio da Ajuda. Outras peças igualmente renomadas estão no arquivo musical Curt Lange, pertencente ao Museu da Inconfidência de Ouro Preto, e no arquivo Muxarabe, em Diamantina, ambos em Minas Gerais.
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Sociologia no Ensino Médio -
Volumes 1, 2, 3 e 4
A presença da disciplina de sociologia no ensino médio do Brasil se caracteriza pela intermitência, ora por motivos políticos, ora pela tentativa de integrá-la aos conteúdos de outras disciplinas. O que fica claro atualmente é que ela desempenha um papel educativo singular. E agora, com a obrigatoriedade da sua presença, é apresentado um enorme desafio aos educadores em torno dos fundamentos, da forma e dos conteúdos a serem trabalhados.
Sociologia no Ensino Médio: Contexto e princípios gerais - 1 Catálogo: Música e Vídeo Duração: 50 minutos Áudio: Português
Sociologia no Ensino Médio: Teorias e conceitos - 2 Catálogo: Música e Vídeo Duração: 40 minutos Áudio: Português
Vol 1 Para que serve a sociologia? Ciência e senso comum Uma breve história Orientações Curriculares Nacionais (OCN’s) Estranhamento Desnaturalização A leitura A escrita Vol 2 Teorias, conceitos e temas Origens sociais do conhecimento Teorias e conceitos têm uma história Pesquisa e o trabalho do pensamento Trabalhando o tema “comunidade e sociedade” Trabalhando o tema “ ideologia” Trabalhando o tema “pluralidade cultural e racial”
Vol 3 Tranformando temas em temas sociológicos A formação do professor
Sociologia no Ensino Médio: Temas sociológicos - 3 Catálogo: Música e Vídeo Duração: 39 minutos Áudio: Português
Sociologia no Ensino Médio: Questões práticas - 4 Catálogo: Música e Vídeo Duração: 50 minutos Áudio: Português
Vol 4 Como fazer um programa de sociologia para o ensino médio Formatos e dinâmicas de aula Utilizando diferentes ferramentas A leitura Trabalhando com imagens Aprender e ensinar a ver A pesquisa como forma de ensino A avaliação
Por que assistir? Importante instrumento no processo de formação de alunos do ensino médio, os DVDs, produzidos pela Atta Mídia e Educação e distribuídos pela PAULUS Editora, tratam dessas e de outras questões relacionadas à disciplina com alguns dos maiores especialistas no ensino de sociologia do país.
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Crônica | Por Douglas Tufano*
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A vida palpita na literatura
*Douglas Tufano é professor de português, literatura e história da arte, formado em Letras e Pedagogia pela Universidade de São Paulo e pós-graduado em História e Filosofia da Educação. É autor de livros didáticos e paradidáticos nas áreas de Língua Portuguesa e Literatura. dgtufano@terra.com.br
Como definir a literatura? Há tantas definições por aí, desde a antiguidade até hoje. Para mim, depois de muitos anos como professor, devo dizer que a literatura nada mais é que uma pergunta. E a boa literatura nada mais é que uma boa pergunta, daquelas para as quais não temos uma resposta definitiva e que nos fazem pensar, às vezes, pela vida toda. Aliás, saber perguntar é uma arte. Disse o escritor francês André Malraux: “O homem não encontra sua imagem na extensão dos conhecimentos que adquire; ele encontra uma imagem de si mesmo nas perguntas que faz.” E é isso que faz a boa literatura: ela nos apresenta perguntas e nos instiga a refletir. A experiência da leitura nos faz mergulhar no âmago da vida, nos descortina outras formas de existência, nos abre horizontes insuspeitados, nos leva de volta para dentro de nós mesmos, nos inquieta com perguntas provocantes. Essa é a grande força da literatura e por isso ela deve ser introduzida na sala de aula — porque tem uma função educativa, e não meramente escolar. Deve-se ler literatura para ajudar o aluno a crescer como ser humano, não para treiná-lo a fazer testes escolares. Quando lemos literatura, lemos a vida. Quando discutimos um texto, discutimos a vida, as reações humanas, os problemas da existência. Aparentemente, ela nos distancia da realidade, mas só por alguns momentos, pois logo em seguida
nos devolve ao mundo ainda mais lúcidos. Como disse o escritor alemão Hermann Hesse, “não devemos ler para nos esquecer de nós mesmos e de nossa vida quotidiana, mas, ao contrário, para reassumir em nossas mãos firmes e de maneira mais consciente e madura a nossa própria existência. Devemos ir aos livros não como alunos tímidos que temessem aproximar-se de mestres frios e indiferentes; não como os ociosos que passam o tempo a beber. Mas sim, como alpinistas a galgar alturas, como guerreiros que acorrem ao quartel para buscar armas.” No mundo de hoje, massificado e massificante, o trabalho com a leitura se torna mais urgente do que nunca. Ajudar o aluno a se tornar um leitor crítico é ajudá-lo a se desenvolver como pessoa, é dar-lhe autonomia de pensamento. Discutir com ele as questões suscitadas pela leitura é estimular-lhe o raciocínio, fazêlo perceber as várias facetas de um problema, é ensiná-lo a considerar as coisas de outros pontos de vista, a levar em conta os argumentos alheios; é, enfim, ajudá-lo a tornar-se maduro, a ter autocrítica. A vida palpita na literatura. Saibamos recriar essa vida na sala de aula, ajudando os alunos a perceberem que os livros convidam a um diálogo, a uma troca de idéias, e que toda leitura, no fundo, é um reencontro do leitor consigo mesmo, em busca de respostas para suas inquietações mais profundas.
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