Palestina

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de 6 a 12 de dezembro de 2012

Um marco histórico para os palestinos Eskinder Debebe/ONU

ORIENTE MÉDIO Reconhecimento do Estado palestino junto à ONU foi celebrado durante encontro, que reuniu milhares de pessoas

Por 138 votos favoráveis, nove votos contra e 41 abstenções, as nações concederam à Palestina o status de Estado observador

FSM Palestina Livre Cerca de seis mil pessoas participaram do Fórum Social Mundial Palestina Livre, realizado na capital gaúcha entre 28 de novembro e 1º de dezembro. Cerca de 300 organizações de 36 países integraram as atividades do fórum temático, que contou com conferências, oficinas, seminários e ações autogestionadas. A programação descentralizada ficou concentrada no centro da cidade. A Usina do Gasômetro, local mais tradicional dos fóruns, recebeu a Casa Palestina, um espaço para celebrar a cultura dos palestinos. A realização do Fórum foi considerada a primeira vitória das organizações, já que não faltaram dificuldades para concretizá-lo. Entidades ligadas a comunidades judaicas manifestaram-se repetidas vezes contra o Fórum, alegando que o encontro incentivaria o “terrorismo”. O próprio Ministério Público do Rio Grande do Sul, que cederia espaços para o FSMPL, retirou seu apoio faltando pouco mais de uma semana para o início, alegando não querer se “vincular” a “um evento que não propõe a paz”. Apesar das tentativas de frustrar a iniciativa, o Fórum pôde ser realizado, e com grande sucesso, como avaliam as entidades participantes. Para o presidente do Centro Cultural Árabe Palestino do Rio Grande do Sul, Nader Alves Bujah, o Fórum representa o início de um movimento internacional para buscar mecanismos concretos em favor do povo palestino. “O Fórum é o inicio de uma jornada, e é depois dele que começa o trabalho”, afirma. Filho de um palestino e de uma brasileira, Bujah considera eventos do tipo uma oportunidade para as pessoas conhecerem mais a realidade de quem vive nos territórios ocupados. “A mídia convencional, que geralmente é con-

Fórum pede libertação de presos políticos Percurso da Cultura/CC

Estima-se que atualmente 4,8 milhões de palestinos estejam detidos nas prisões israelenses enviada a Porto Alegre (RS)

Patrícia Benvenuti enviada a Porto Alegre (RS)

FALASTINE DWIKAT chamava a atenção durante a Marcha de Abertura do Fórum Social Mundial Palestina Livre (FSMPL) em Porto Alegre (RS). Com um hijab (lenço usado pelas muçulmanas para cobrir o cabelo) azul, óculos escuros e a característica bolsinha de pano carregada pelos participantes dos fóruns, a jovem usava todo o fôlego para gritar palavras de ordem contra a ocupação israelense em territórios palestinos. A Marcha foi realizada em 29 de novembro, Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Cerca de dez mil pessoas reuniram-se no centro da cidade e partiram em direção à Usina do Gasômetro, às margens do lago Guaíba. Os manifestantes carregavam cartazes, bandeiras e símbolos para denunciar a violência sofrida pelos palestinos. Falastine sustentava uma faixa pedindo um boicote contra Israel e também um sorriso esperançoso. “Ficamos honrados de ter o Fórum dedicado exclusivamente à questão palestina, porque isso é crucial para palestinos e não palestinos. É uma luta global contra todas as formas de opressão”, diz a jovem palestina. Muito distante dali, a 8,2 mil quilômetros, em Nova York, ecoavam mais pedidos por uma Palestina Livre. Nesse mesmo 29 de novembro, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, solicitava na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) o reconhecimento do Estado palestino. Por 138 votos favoráveis, nove votos contra e 41 abstenções, as nações concederam à Palestina o status de Estado observador. Na capital gaúcha, os participantes do Fórum souberam da aprovação enquanto a marcha estava em curso. Muitos ativistas subiram no caminhão de som para saudar a decisão em seus discursos. Árabe, português, inglês, espanhol, eram muitas as línguas, mas todas traziam a mesma mensagem: a Palestina tem que ser livre, e os palestinos, soberanos em seu território.

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internacional

Em assembléia da ONU, painel exibe a contagem dos votos para o reconhecimento do Estado Palestino: 138 a favor, 9 contra e 41 abstenções

trolada pelo outro lado ou por amigos desse outro lado, não tem interesse em mostrar o que ocorre na Palestina”, diz. Apoio brasileiro Também filho de palestinos, o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal), Elayyan Aladdin, considera que o Fórum ganha ainda mais importância por ter se realizado no Brasil. “Isso é muito importante para nós, brasileiros de origem palestina. O Brasil pode ter um papel fundamental no fim dessa ocupação militar e no reconhecimento do Estado da Palestina”, avalia. O apoio brasileiro foi destaque e motivo de agradecimento constante durante o Fórum. O representante de Mahmoud Abbas no FSMPL, Nabil Shaat, ressaltou a solidariedade e a compreensão do Brasil em relação à causa palestina. “Vocês são os representantes mais inclusivos da humanidade. Vocês reconhecem que não é só caso de falta de leis, é de implementação das leis”, disse. Em seu pronunciamento na primeira conferência do evento, ele chegou a sugerir o nome de Luiz Inácio Lula da Silva para chefiar uma comissão de negociações rumo à efetivação do Estado palestino. Shaat frisou ainda que será necessário todo o apoio na efetivação dos direitos do povo palestino que, há décadas, sofre a violência de Israel. Ele frisa que, atualmente, 600 mil colonos israelenses estão em territórios palestinos ocupados. No entanto, as dificuldades crescentes não serão obstáculo para a vitória dos palestinos. “Nós nunca desistimos, esse é o problema do povo palestino. Nós, palestinos, temos essa doença crônica que se chama esperança. Arafat [Yasser Arafat, presidente da Organização pela Libertação da Palestina, morto em 2004] dizia que somos uma montanha que não há vento no mundo que a sacuda”, declarou. Da cidade de Beitunia, na Cisjordânia, Ribhi Dola foi a Porto Alegre para acompanhar as atividades do Fórum. Ele é prefeito do município, que possui 30 mil habitantes e que, desde 1967, está sob domínio israelense. Para ele, o encontro é uma oportunidade de repu-

diar as violências israelenses e mostrar a força dos palestinos. “Enquanto existir ocupação, vamos lutar e sobreviver até o fim”, promete. O FSMPL teve o apoio dos governos federal e do Rio Grande do Sul. Segundo a ministra Maria do Rosário, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, o Brasil mantém uma posição “coerente ao reconhecer o direito dos palestinos sobre seu território. “Os confrontos e os ataques são absolutamente desnecessários diante da possibilidade de uma resolução efetiva e uma definição de territórios para cada um dos povos”, afirmou.

Em represália, Israel anunciou a construção de três mil casas para colonos judeus em territórios ocupados da Cisjordânia Reconhecimento O reconhecimento do Estado palestino em 29 de novembro deu ao Fórum um caráter histórico e foi celebrado por diversos ativistas. Para a presidenta da Campanha de Libertação dos Cárceres Israelenses, Abla Sa’adat, o resultado é fruto da luta dos palestinos e significa um grande avanço. “Qualquer decisão em favor da causa palestina é um ganho político internacional. Esse reconhecimento do Estado palestino fortalece outras resoluções sobre a questão palestina”, pondera Abla, que também é esposa do ativista e atual preso político Ahmad Sa’adat. A recente aprovação representa um novo capítulo para o povo palestino na luta pela criação de seu Estado. Até então, a Palestina era representada na ONU pela Organização para Libertação da Palestina (OLP), com status de entidade observadora. Agora, como Estado observador, os palestinos podem integrar órgãos ligados às Nações Unidas, mas ainda não podem votar. O embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Al Zeben, afirma que, a partir de agora, é preciso trabalhar para garantir a posição de membro pleno das Cíntia Barenho/MMM-RS/CC

Assembleia final dos movimentos sociais

Nações Unidas. “O maior objetivo é acabar com essa ocupação israelense e levar israelenses e palestinos a conviverem em paz e harmonia”, projeta. Israel logo mostrou sua insatisfação com o resultado. Em represália, o governo do país anunciou, no dia seguinte à decisão, a construção de três mil casas para colonos judeus em territórios ocupados da Cisjordânia e em Jerusalém oriental. Em seguida, o ministro das Finanças de Israel, Yuval Steinitz, informou que o país não irá transferir para os palestinos os fundos arrecadados no mês com impostos, e que o dinheiro será usado para amortizar da ANP com a companhia de eletricidade israelense. Para o presidente do Centro Cultural Árabe Palestino do Rio Grande do Sul, essa postura evidencia que Israel não está disposto a colocar fim ao conflito. “Eles [israelenses] nunca vão concordar com o Estado palestino, a não ser que seja o Estado que eles querem. Israel é um estado de apartheid, onde a minoria que controla a maioria”, acusa Nader Alves Bujah. Aumentar a solidariedade Diante dos próximos desafios, as organizações brasileiras prometem aumentar seu apoio à causa palestina. Para o integrante do setor de Relações Internacionais do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra Marcelo Buzetto, o consenso entre as diversas entidades sobre a questão facilita esse processo. “A solidariedade concreta do povo brasileiro com o povo palestino tem se intensificado. A luta de solidariedade ao povo palestino no Brasil está atingindo um grau de apoio muito grande entre os movimentos”, diz.

Diante dos próximos desafios, as organizações brasileiras prometem aumentar seu apoio à causa palestina Para a presidenta do Conselho Mundial da Paz (CMP) e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, o Comitê Estado da Palestina Já (que agrega 60 organizações) sai fortalecido do processo e consciente das próximas missões. Os planos, segundo ela, incluem ampliar o número de atividades da articulação, além de estender a proposta para todos os estados e para outros países. “É um sentimento muito forte o da solidariedade, que perpassa todos os movimentos sociais não só do Brasil, mas do mundo inteiro”, enfatiza. Foi esse sentimento que levou um grupo de cinco jovens da Tunísia ao fórum temático. “Essa não é uma causa só dos palestinos, é uma causa da humanidade, e devemos estar unidos em todo o mundo”, propõe a sindicalista Feryel Charfeddine, de 25 anos. No início de 2011, a população tunisiana destituiu o presidente Zine El Abidine Ben Ali, dando início à chamada Primavera Árabe. Para Feryel, é a luta contra a opressão que tem motivado todos os povos da região. “Temos que defender a causa humanitária e os direitos das pessoas. Na Tunísia, na Palestina, no Líbano ou na Síria, o importante é as pessoas viverem em paz”.

Submetidos a péssimas condições de saúde, higiene e às violências das mais variadas, a situação dos presos políticos palestinos são motivo de preocupação e mobilização de entidades de direitos humanos em todo o mundo. Estima-se que 4,8 milhões de palestinos estejam detidos nas prisões israelenses – incluindo crianças, mulheres e doentes. A primeira irregularidade começa na própria detenção, explica a presidenta da Campanha de Libertação dos Cárceres Israelenses, Abla Sa’adat, já que não há qualquer tipo de julgamento diante de um tribunal formal. A partir daí, só aumentam os abusos contra os prisioneiros. Abla é esposa do secretário-geral da Frente Popular para a Libertação da Palestina, Ahmad Sa’adat, perseguido há mais de uma década. Em 2002, foi preso e depois condenado a 30 anos de prisão, acusado por Israel de organizar o assassinato do ministro do Turismo israelense Rehavam Ze’evi. Ela conta que o marido não vê os quatro filhos do casal há sete anos. Sem cidadania de Jerusalém, eles não recebem autorização para ver o pai. Desde a prisão do companheiro, Abla se divide entre lutar pela libertação dele e cuidar da família. “Não posso esquecer que, quando meus filhos se formaram na universidade, eu estava sozinha lá, sem o pai deles. Que quando meus filhos se casaram o pai estava detido. Não posso esquecer esse sofrimento”, afirmou. Ela relata que muitos presos são colocados em celas individuais, sem conta-

Manifestantes marcham em Porto Alegre por uma Palestina Livre

to com outras pessoas. Alguns estão há mais de dez anos sem ver seus familiares. Sua única relação é com os advogados e, mesmo assim, separados por um painel de vidro, a fim de que o sistema de vigilância israelense possa registrar as conversas. “Esse é um dos maiores sofrimentos do preso político porque ele não consegue se comunicar com o mundo exterior. Ele fica fora do mundo”, conta. Para a ativista Sahar Francis, da Associação de Direitos Humanos e Apoio aos Presos (Addameer) da Palestina, a denúncia sobre o caráter legal das prisões deve ser levada adiante. “Esses prisioneiros não são terroristas, como tratam os israelenses. Eles estão sacrificando a sua vida pela liberdade. Preci-

samos unir esforços para libertar essas pessoas”, enfatiza. Sahar denuncia ainda que as leis são aplicadas de forma diferente contra palestinos e israelenses que vivem em um mesmo local – o que evidencia a existência de um regime de apartheid. “Se os israelenses que vivem nos territórios ocupados cometem um crime, eles não serão punidos pelo mesmo sistema que pune os palestinos”, diz a ativista, que defende a libertação dos prisioneiros como pré-condição para qualquer negociação. As condições são as mesmas para mulheres e crianças presas. A palestina Thaila Zaabi, da Delegação da Juventude Palestina no FSMPL, sentiu na própria pele esse tratamento quan-

do foi detida durante uma manifestação. “Eles [soldados] nos batem, torturam. Sofri perseguição sexual. Precisamos de muitos dias para contar esse sofrimento”, relata. Crianças detidas As crianças palestinas foram lembradas de forma especial durante o Fórum. Em 30 de novembro, um grupo de crianças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou um ato em solidariedade às crianças palestinas. As crianças são alunas da escola Nova Sociedade, localizada em um assentamento no município de Nova Santa Rita (RS). Além de apresentarem poesias e músicas, entregaram camisetas, fotos, cartas e desenhos, produzidos por escolas do MST em todo o país, para serem enviados às crianças palestinas que estão detidas nas prisões israelenses. Ao receber as cartas, Abla Sa’adat agradeceu o apoio e ressaltou a importância da iniciativa. “Esse é um gesto que pode parecer pequeno, mas que significa muito para nós”, disse. Para retribuir os presentes, os palestinos presentearam a escola com uma bandeira da Palestina.

Atualmente, há 250 menores de idade na prisão (alguns com apenas 10 anos), que sofrem o mesmo tratamento dispensado aos adultos Segundo Abla, cerca de 600 crianças palestinas são presas todos os anos pelo Exército israelense por motivos como jogar pedras em soldados. Atualmente, há 250 menores de idade na prisão (alguns com apenas 10 anos), que sofrem o mesmo tratamento dispensado aos adultos. (PB)

Ativistas sugerem boicote para pressionar Israel Percurso da Cultura/CC

Objetivo é que Israel aceite os direitos dos palestinos; acordos militares do Brasil com Israel recebem críticas

enviada a Porto Alegre (RS) Um dos temas mais comentados durante todo o Fórum Social Mundial Palestina Livre (FSMPL), realizado entre 28 de novembro e 1ª de dezembro em Porto Alegre (RS) foi a campanha do boicote a Israel. O assunto foi o principal destaque da Assembleia dos Movimentos Sociais no último dia do Fórum. A ideia surgiu em 2005, quando organizações palestinas lançaram um chamado para que os países implantassem, contra Israel, um boicote semelhante ao realizado contra o apartheid na África do Sul. O boicote deveria ser mantido até que Israel reconhecesse os direitos fundamentais do povo palestino. O apelo deu origem à campanha de Boicote, Desinvestimento e Sanções a Israel (BDS), que engloba não somente boicotes a Israel e empresas cúmplices das violações israelenses das leis internacionais, mas também boicotes acadêmicos e culturais de instituições israelenses coniventes com a ocupação. “O BDS é um dos jeitos de falar ao mundo que existe ocupação, colonização e um apartheid nas terras palestinas”, explica Alaa Tartir, um dos 15 membros da Delegação da Juventude Palestina presentes no Fórum.

Atualmente, oito milhões de palestinos estão refugiados em outros países, sem poder retornar às suas terras Para a integrante do Comitê Nacional Palestino pelo Boicote Rafeef Ziadah, as sanções devem ser usadas para pressionar Israel a atender as demandas do povo palestino, como a garantia do direito de retorno, conforme determina a resolução 194 das Nações Unidas. Atualmente, oito milhões de palestinos estão refugiados em outros países, sem poder retornar às suas terras e propriedades. Destes, cerca de 4,7 milhões vivem em campos de refugiados em países árabes vizinhos dos territórios ocupados.

nal do BDS haviam solicitado ao Brasil que rompesse seus convênios militares com Israel. As entidades, na ocasião, denunciaram a assinatura de um acordo de cooperação em matéria de segurança entre os dois países. Além disso, lembraram do estabelecimento de um escritório das Forças Armadas do Brasil em Tel Aviv em 2003 e a mediação de autoridades brasileiras em contatos entre empresas israelenses e Exércitos de outras nações latino-americanas. A relação entre ambos, no entanto, tende a aumentar. Em novembro, dias antes dos ataques de Israel à Faixa de Gaza, os principais chefes de Segurança da Copa e das Olimpíadas no Brasil participavam de uma conferência internacional de Segurança Pública em Israel, onde examinaram equipamentos que poderão ser utilizados nos eventos esportivos.

Os ativistas não pouparam críticas aos acordos que o país mantém com Israel, especialmente na área militar

Boicote a Israel é uma das propostas para combater a ocupaçãoa

“Os israelenses disseram que a segunda geração [de palestinos refugiados] já teria esquecido disso [do direito de retorno]. Eu sou da terceira geração, neta de palestinos, e ainda quero voltar para casa. Não quero só ver, quero morar na minha casa. Eu tenho esse direito”, diz. Para Rafeef, o debate sobre o retorno é um dos pontos mais importantes da causa palestina, e uma das questões que mais desagradam Israel. Por isso a importância do boicote, que deve contar com ações efetivas e não apenas discursos. “Não queremos só documentos, queremos ações do resto do mundo, como cortar relações com esse Estado racista de uma vez por todas”, esclarece. Um dos países mais empenhados hoje na campanha de boicote é justamente a África do Sul. A sindicalista Suraya Jawoodeen, membro do Congresso dos Sindicatos Sul-africanos (Cosatu), conta que os trabalhadores de seu país estão empenhados em alavancar o boicote contra Israel. Nesse sentido, a grande luta atual é forçar o governo para rotular e retirar do mercado sul-africano produtos oriundos de territórios ocupados. No campo acadêmico, a Universidade de Johanesburgo suspendeu em 2011, depois de uma forte campanha, o acordo

de cooperação e intercâmbio com a Universidade Ben Gurion, que já durava 25 anos. O motivo foi a estreita ligação entre as instituições de ensino de Israel e a ocupação. Para Suraya, é preciso que mais países fortaleçam esse tipo de iniciativa que deve contribuir para a autodeterminação dos palestinos. “O mundo não tem que dizer aos palestinos se eles devem ter um Estado ou dois, eles é que têm que decidir isso”, pontua. O boicote também foi defendido no FSMPL por Nabil Shaat, representante do presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas. “Ainda somos um país totalmente sob ocupação, segregados em um regime de apartheid. Precisamos da ajuda de vocês para pressionar Israel, e isso inclui um boicote também”, disse. Acordo militar Apesar dos elogios à postura do governo brasileiro, que apoia o reconhecimento do Estado palestino, os ativistas não pouparam críticas aos acordos que o país mantém com Israel, especialmente na área militar. No ano passado, a ONG palestina Stop the Wall e a campanha internacio-

Rafeef frisa que, de todos os armamentos fabricados em Israel, 80% são exportados, depois de passarem por “testes”, cujo alvo é a população palestina. “Essas armas foram testadas ‘em campo’, quer dizer, foram testadas contra corpos palestinos”, ressalta. “Sabemos que o Brasil assinou acordo de cooperação militar com Israel, e que Israel vê o Brasil como porta de entrada de armas para o resto do continente. Isso tem que parar”, assegura. Questionada sobre os acordos de cooperação militar entre Brasil e Israel, a ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário, afirmou desconhecer esses convênios. “Eu não tenho conhecimento sobre convênios militares”, declarou a ministra ao Brasil de Fato. “Acho muito difícil isso, o Brasil não participa de nenhum ataque a ninguém”, completou, encerrando a entrevista. “As autoridades brasileiras reconhecem o Estado palestino, isso é bom, mas sabemos que existem ainda acordos militares e econômicos entre Brasil e Israel. Se você apoia a economia deles [israelenses], significa que eles têm mais dinheiro para usar em mísseis, foguetes e tanques contra nós”, destaca a integrante da União dos Comitês de Mulheres Palestinas Ruba Odeh. (PB)


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