O veneno nosso de cada dia

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de 24 a 30 de maio de 2012

A saúde ameaçada pelos agrotóxicos

SAÚDE Estudos recentes alertam para os riscos do consumo de alimentos contaminados

Da guerra para a agricultura da Redação

Patrícia Benvenuti da Redação

FAZER UM PRATO colorido, cheio de frutas, legumes e verduras, já não é mais sinônimo de alimentação saudável. Em função do uso intensivo e crescente de agrotóxicos, o consumo de certos produtos pode representar, em vez de benefícios, a gênese de doenças em longo prazo. Duas recentes publicações, lançadas no final de abril, apontam os riscos dos agrotóxicos. A Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco) divulgou, durante o Congresso Mundial de Alimentação e Nutrição em Saúde Pública (WNRio 2012), a primeira parte do dossiê Um alerta sobre os impactos dos Agrotóxicos na Saúde. No documento, são listados mais de cem agrotóxicos que podem causar uma série de enfermidades como câncer, má formação congênita, alergias respiratórias, diabetes, distúrbios de tireoide, depressão, aborto e até Mal de Parkinson. Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), um terço dos alimentos consumidos cotidianamente pelos brasileiros está contaminado por agrotóxicos. O pimentão lidera a lista – quase 92% das amostras analisadas apresentaram contaminação. Em seguida, aparecem o morango (63,4%), pepino (57,4%), alface (54,2%) e cenoura (49,6%). “Não precisa de mais evidências científicas para se tomar decisões políticas para proteger a saúde da população e do ambiente”, diz o chefe do Departamento de Saúde Coletiva da UnB e do Grupo de Trabalho de Saúde e Ambiente da Abrasco, Fernando Ferreira Carneiro. Em 2008, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e assumiu o posto de maior mercado mundial de agrotóxicos, utilizando 19% desses produtos produzidos no mundo. O relatório da Abrasco também destaca o papel dos transgênicos no aumento do consumo de agrotóxicos. Só o glifosato, utilizado na cultura da soja transgênica, representa 40% do mercado nacional. “A Monsanto alegava que uso dos transgênicos iria resultar na diminuição do uso de agrotóxicos, e o que a gente está vendo é o contrário.”, pontua Carneiro.

Em 2008, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e assumiu o posto de maior mercado mundial de agrotóxicos

Precaução Já a associação entre câncer e agrotóxicos foi um dos alertas trazidos pelo relatório Diretrizes para a Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho, lançado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). Segundo a publicação, dentre os principais grupos de agentes cancerígenos relacionados ao trabalho aparecem os agrotóxicos. Dentre as enfermidades observadas em pessoas expostas a essas substâncias estão os linfomas, leucemias e ânceres de intestino, ovários, pâncreas, rins, estômago e testículos. De acordo com a coordenadora da Área de Câncer Ocupacional do Inca, Ubirani Otero, ainda faltam estudos e testes para confirmar que tais doenças podem ser causadas pelo uso dos agrotóxicos. Entretanto, para ela, as evidências já são suficientes para que medidas mais fortes sejam tomadas. “A gente deve adotar no Brasil, como em outras partes do mundo, o princípio da precaução. Se existe uma forte suspeita de que algum agente pode causar câncer, a gente deve evitar essa exposição”, diz. A Anvisa informa que, em 2011, foram registrados mais de oito mil casos de intoxicação por agrotóxicos no Brasil.

Revisão Desde 2008, 14 tipos de agrotóxicos estão em processo de revisão pela Anvisa. Cinco já foram reprovados e não poderão mais ser utilizados. Entretanto, só o Acetato, Cihexatina e Tricloform estão proibidos. Os inseticidas Metamidofós e Endossulfam serão banidos apenas em junho de 2012 e julho de 2013, respectivamente. O médico e pesquisador do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) Wanderlei Pignati reclama da demora em banir essas substâncias. Ele cita o caso do Endossulfam, associado a problemas reprodutivos e hormonais.

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brasil

Reprodução

“O Endossulfam vai ser proibido no Brasil em julho 2013 para desovar o estoque que tem aí. É um absurdo. O Endossulfam tem seus efeitos descritos no Diário Oficial, porque não proíbe de imediato?”, questiona. A pressão das empresas que comercializam agrotóxicos e dos setores ruralistas é um dos principais entraves no trabalho da Anvisa, como explica o gerente-geral de Toxicologia do órgão, Luis Claudio Meirelles. “A reavaliação já enfrentou vários debates e inúmeras ações na Justiça. Inclusive quando a gente decide pelo banimento do produto tentam derrubar nossa decisão”, argumenta. O gerente da Anvisa admite ainda que falta estrutura para fazer um trabalho mais consistente. Em termos de comparação, ele lembra que a Anvisa possui apenas 5% do total de agentes do órgão estadunidense de vigilância sanitária. Com isso, a fiscalização no campo acaba sendo prejudicada. “Poucos estados têm um efetivo que possa atuar, em nível estadual, para fiscalizar se os produtos estão sendo usados conforme autorizados para proteger a população, os trabalhadores e o entorno”, explica. Desrespeito à lei Além do prolongamento do uso de substâncias banidas e da falta de fiscalização, outro problema é o desrespeito à legislação que dita as regras para a utilização dos agrotóxicos. Um exemplo é a Instrução Normativa do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), de 2008, que proíbe a pulverização aérea a 500 metros de córregos, nascentes de água, criação coletiva de animais e residências. As proibições, porém, ficam só no papel, e a principal consequência é a contaminação do ar. “Quem mora ao lado de uma grande plantação ou de uma horta que usa muito agrotóxico está respirando aquele tipo de agrotóxico”, pontua Wanderlei Pignati. Foi o que ocorreu em Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Em 2006, um avião monomotor despejou, de forma irregular, um herbicida dessecante pa-

A utilização dos agrotóxicos na agricultura iniciou-se na década de 1920, quando seus efeitos ainda eram pouco conhecidos do ponto de vista toxicológico. Durante a Segunda Guerra Mundial (19391945), os agrotóxicos foram utilizados como arma química, tendo seu uso se expandido a partir de então. Depois do conflito, o uso dos agrotóxicos foi difundido nos Estados Unidos e na Europa. Foi quando começaram a ser utilizados como “defensivos agrícolas” na Revolução Verde, que prometia aumentar produção mundial de alimentos através de técnicas modernas. Os agrotóxicos, porém, não deixaram de ser usados como arma química. O caso mais emblemático ocorreu na Guerra do Vietnã (1964-1975), com o uso do laranja, um herbicida altamente tóxico. Aviões estadunidenses despejaram 83 milhões de litros da substância sobre 26 mil aldeias Sudeste Asiático. O produto era fornecido por várias empresas, mas o mais utilizado era o da Monsanto, que possuía níveis maiores de dioxinas, que provocam cânceres e má formação. O agente laranja causou doenças e incapacidades tanto em soldados quanto em civis e até hoje vietnamitas e veteranos da guerra sofrem seus efeitos no organismo. O primeiro alerta mundial contra a prática do uso de agrotóxicos veio com o livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson. Publicado em 1962, a obra descreveu diversos casos de pulverizações – especialmente de diclorodifeniltricloroetano (DDT) – nos Estados Unidos, nos anos de 1950 e 1960, quando morreram enormes quantidades de animais e houve a contaminação de águas de rios, córregos e solos. (PB)

ra apressar a colheita da soja. A substancia foi lançada sobre áreas residenciais da cidade, e o resultado foi a destruição de canteiros de plantas medicinais, hortaliças e um surto de intoxicações. Até hoje, ninguém foi responsabilizado pela ação. O município mato-grossense é um dos maiores produtores de grãos do Estado. Em 2010, foram produzidos cerca de 420 mil hectares entre soja, milho e algodão, com a utilização de 5,1 milhões de litros de agrotóxicos nessas lavouras.

Desde 2008, 14 agrotóxicos estão em processo de revisão pela Anvisa. Cinco já foram reprovados e não poderão mais ser utilizados E os agrotóxicos continuam gerando impactos contra a população e o meio ambiente em Lucas do Rio Verde. Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) revelou que o leite materno de mulheres da cidade está contaminado. Segundo o estudo, foi encontrado pelo menos um tipo de agrotóxico em todas as amostras coletadas. Em algumas amostras havia até seis produtos diferentes. “Isso mostra que a contaminação está disseminada. E ainda são poucos estudos. Se esses poucos estudos estão indicando isso, pode ser o que a gente chama de a ponta de um iceberg”, adverte Carneiro. O mito do uso seguro Os especialistas alertam para os diversos males causados pelos agrotóxicos, mas chamam atenção, sobretudo, para as intoxicações a longo prazo. Os efeitos dos agrotóxicos, explica a médica sanitarista e pesquisadora da

Fundação Oswaldo Cruz Lia Giraldo, dividem-se basicamente em intoxicações agudas e crônicas. As primeiras ocorrem quando a pessoa, ao ser diretamente exposta a produtos químicos, apresenta sintomas mais imediatos como tontura, náusea, dor de barriga e diarreia. Já a intoxicação crônica se dá quando a pessoa é exposta a doses pequenas, porém cotidianas, tanto no manuseio como no consumo de alimentos contaminados. De acordo com Lia, é essa exposição gradual a responsável pelos problemas mais sérios. “Para efeitos agudos a gente pode até ter uma dose de segurança, mas a exposição a baixas concentrações e a múltiplos agrotóxicos vai trazer, em longo prazo, câncer, doenças endócrinas e do sistema nervoso”, explica. Lia enfatiza que as intoxicações agudas até podem ser evitadas pelo uso correto de equipamentos de segurança por parte de quem lida com os agrotóxicos. Nesse sentido, garante, não se pode falar em uso seguro de agrotóxicos. “Enquanto as pessoas acreditarem em uso seguro de agrotóxicos, podem prevenir uma intoxicação aguda, mas não podem se prevenir da intoxicação crônica”, destaca. Cuidados Para se proteger, os especialistas recomendam à população procurar feiras agroecológicas ou mesmo fazer pequenas hortas caseiras para consumir itens sem agrotóxicos. “Se lavar o produto, só limpa de contaminação orgânica, não tira o agrotóxico. Descascar também não, porque ele entra pela raiz, está dentro [do alimento]”, alerta Lia. Além disso, para Carneiro, a população precisa se organizar em todos os níveis para lutar contra o uso de agrotóxicos e construir alternativas. “Tem que lutar contra esse modelo, aderir à Campanha Nacional contra os Agrotóxicos, criar seu comitê local na comunidade, isso é fundamental. É nessa perspectiva que a gente tem chances de mudar as coisas”, assegura. Embraer

Avião pulverizador da Embraer em vôo demonstração

Terreno propício ao veneno e ao lucro das transnacionais Fabricantes de agrotóxicos assolam agricultura camponesa Eduardo Sales de Lima da Redação O agronegócio no Brasil concentra as terras e a riqueza no campo. Principalmente por meio da pressão do setor sobre o poder público, implementou-se um modelo de produção refém dos grandes monocultivos e dos agrotóxicos. “A bancada ruralista tenta fazer com que esses pilares sejam intocáveis e ampliar as bases desse modelo”, salienta Nívea Regina da Silva, integrante da coordenação nacional do Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A pressão do setor espalhou-se para outras áreas do poder público (para além do Congresso Nacional), como junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). “A primeira atitude das empresas era ir contra a Anvisa dizendo que a gente não poderia fazer isso (proibir determinados agrotóxicos). Mas se não fôssemos nós, então quem o faria?”, questiona Luiz Cláudio Meirelles, gerente-geral de Toxicologia da Anvisa. Como mais um exemplo do poder dessas empresas está a estreita relação entre a Monsanto e a Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa). De acordo com um recente artigo de Frei Gilvander Luís Moreira, consultor da Comissão Pastoral da Terra (CPT), grande parte das pesquisas realizadas pela agência no último período têm sido implementadas para beneficiar as grandes empresas do ramo de agrotóxicos, como a própria Monsanto, que no ano de 2010 doou à Embrapa R$ 5,9 milhões para investir em pesquisas nos três anos seguintes. O órgão de pesquisa, que é público, pediu liberação do herbicida glifosato para a cultura da mandioca. Um dos agrotóxicos mais vendidos pela Monsanto no país é o Roundup, que tem como principal componente ativo o glifosato. O uso

constante do glifosato tem provocado a aparição de resistência por parte de algumas plantas, levando a um aumento progressivo das doses usadas, e assim a uma desvitalização e perda de fertilidade da terra. Frei Gilvander cita o agrônomo Rubens Onofre Nodari, mestre em Fitotecnia e professor na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), que por sua vez afirma que além dos danos ao meio ambiente, o glifosato traz problemas à saúde pública, como o aumento da incidência de certos tipos de câncer e alterações do feto por via placentária. Isso elucida o fato de que por aqui podem ser usados produtos que são proibidos na União Europeia e nos Estados Unidos há mais de 20 anos.

A primeira atitude das empresas era ir contra a Anvisa dizendo que a gente não poderia fazer isso

produto. Como lembra Nívea Regina, do MST, quando existe muita oferta no mercado, o preço do produto agrícola diminui, mas o preço dos agroquímicos não depende disso. Dessa forma, a renda dos pequenos produtores muitas vezes fica reduzida, e eles trabalham muitos anos em meio a dívidas e com prejuízo. E essa situação pode piorar. Na medida em que o agricultor compra, por exemplo, um semente transgênica num determinado ano, terá que fazer o mesmo nos 12 meses seguintes. Junto da semente terá que comprar o veneno específico que se adaptará a ela. Trata-se de um círculo vicioso. Seis grandes empresas estrangeiras – Monsanto, Syngenta/Astra Zeneca/ Novartis, Bayer, Dupont, Basf e Dow – controlam mais de 70% do mercado de agrotóxicos no Brasil. São originárias de basicamente três países: Estados Unidos, Suíça e Alemanha. De acordo com o Anuário do Agronegócio de 2010, as empresas que vendem veneno tiveram uma receita líquida de R$ 15 bilhões.

Círculo vicioso De acordo com a professora doutora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP) Larissa Mies Bombardi, toda a literatura que discute intoxicações por agrotóxicos mostra que a exposição ao veneno leva a alterações neurológicas, a neuropatologias. Depressão e ansiedade seriam as mais leves, segundo ela. Larissa realizou uma pesquisa sobre os casos de intoxicações e mortes por agrotóxicos no Brasil, com dados de 1999 a 2009. Seu levantamento aponta que foram notificadas 25.350 tentativas de suicídio por meio do uso de agrotóxicos no período, e 1876 mortes foram registradas. “A escolha desse caminho é significativa, o trabalhador usa [o agrotóxico]para causar sua própria morte o instrumento que o subordina, que o deixa doente, que pode levar ao endividamento”, afirma. Outra questão é que o camponês não tem controle do preço do final de seu

Sem veneno Para mudar isso, de acordo com Nívea, o Estado precisa prover os agricultores com a condição de comprar os insumos livres dos agrotóxicos. Hoje, os agricultores vendem as suas duas ou três próximas safras para garantir a compra de seus agrotóxicos. Ela defende que seja motivada também pelo Estado a produção de semente própria. “E que tenham o financiamento de crédito bancário, como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), sem que sejam obrigados a ter, no seu projeto, a utilização do agrotóxico”, elucida Nívea. Ela explica que os bancos não aceitam os projetos agroecológicos, com a desculpa de que eles são mais suscetíveis a impactos climáticos e outras intempéries. “Isso não é verdade,” refuta. Nívea explica que a agricultura camponesa tem um processo de consórcio de culturas. “Fica menos suscetível a ataques de pragas; há uma barreira física”, conclui. (Colaboraram Joana Tavares e Patrícia Benvenuti)

Agroecologia é alternativa Antônio Cruz/Abr

Produção de orgânicos tem vantagens para consumidores e produtores da Redação O crescente número de enfermidades associadas ao uso de agrotóxicos traz à tona a necessidade de se consumir alimentos saudáveis e livres de substâncias químicas. Nesse contexto, a agroecologia surge como a melhor alternativa. No dossiê Um alerta sobre os impactos dos Agrotóxicos na Saúde, lançado no final de abril pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco), a implantação de uma Política Nacional de Agroecologia aparece como principal prioridade nas ações concretas. “A agroecologia é uma esperança e uma possibilidade de construir outro modelo que não é somente a exclusão dos agrotóxicos, mas um modelo que prioriza o diálogo dos saberes do homem do campo com o saber científico”, afirma o chefe do Departamento de Saúde Coletiva da UnB e do GT de Saúde e Ambiente da Abrasco, Fernando Ferreira Carneiro. Incentivo Para a médica sanitarista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Lia Giraldo, é preciso exigir mais investimentos do poder público que, segundo ela, foi o principal responsável pelo aumento do uso de agrotóxicos no país. No Brasil, os agrotóxicos foram primeiramente utilizados em programas de saúde pública, no combate a vetores e controle de parasitas, passando a ser usados de forma intensiva na agricultura a partir da década de 1960. A intensificação do uso ocorreu em 1975, com o Plano Nacional de Desenvolvimento (PND), que obrigava o agricultor a comprar uma quantidade definida de agrotóxicos para obter recursos do crédito rural. “Esses produtores passaram a usar agrotóxico com incentivo do governo. O crédito rural obrigou os agricultores a usarem agrotóxicos”, acusa a pesquisadora. A concessão de impostos, hoje, é uma das vantagens concedidas a esses produtos.

A agroecologia é uma esperança de construção de outro modelo agrícola para o país

Já a população, destaca Lia, deve priorizar cada vez mais o consumo de itens sem agrotóxicos, incentivando, assim, o mercado de produtos agroecológicos. “Na hora em que a gente começar a dar mais apoio à agricultura orgânica e à agroecologia, vamos ter mais oferta desses produtos a preços compatíveis. E vai baratear a produção porque o agricultor não vai gastar dinheiro com esses insumos”, diz. Com a política nacional de agroecologia e produção orgânica, o governo espera ampliar para 300 mil, até 2014, o número de famílias envolvidas na produção de produtos agroecológicos, além de incentivar seu consumo. Atualmente, 200 mil famílias estão empregadas na produção de orgânicos. Para alcançar a meta, uma das ações previstas é a implantação de projetos agroecológicos em assentamentos de reforma agrária. Saúde A preocupação com a saúde também leva a coordenadora da Área de Câncer Ocupacional do Instituto Nacional do Câncer, Ubirani Otero, a se posicionar contra o atual modelo agrícola e em favor de uma política agroecológica. Em abril, o Inca lançou o documento Diretrizes para a Vigilância do Câncer Relacionado ao Trabalho, onde aponta a associação entre o uso de agrotóxicos e o aparecimento de diversos tipos de câncer. “Quando a gente fala de agrotóxicos

não está apenas falando de um produto ou um agente, está falando de um grupo grande de produtos. O trabalhador não utiliza apenas um agente para fazer a aplicação, ele faz uma mistura”, explica. Diante dos riscos e das evidências, Ubirani aponta a necessidade de mudanças. “Nossa recomendação é que essa prática do grande uso de agrotóxicos, muitas vezes maior do que o necessário, seja gradualmente desestimulada e que o agricultor tenha condições de não mais utilizar agrotóxicos”, afirma. Novos mercados A aposta pela agroecologia também pode fazer com que muitos produtores possam vender seus produtos para locais que, há muito tempo, já baniram os agrotóxicos. Em fevereiro deste ano, carregamentos de suco de laranja brasileiros foram barrados pelos Estados Unidos por conterem resíduos de Carbendazim, um fungicida proibido pelo governo estadunidense desde 2009. O episódio, para Carneiro, mostra a necessidade de o país se adaptar á lógica de produzir alimentos que não sejam prejudiciais à saúde. “Ainda temos que lutar por uma verdadeira revolução agroecológica no Brasil, botar para trás essa Revolução Verde e ser um grande produtor mundial de alimentos saudáveis. Essa tem que ser a meta de desenvolvimento”, afirma Fernando. (PB)


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