Maresia - JOSÉ DINIZ

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maresia josĂŠ diniz

curadoria

Andreas Valentin


águ as

Como um Ulisses contemporâneo, sua odisseia pelos mares nos aponta para

ocupam quase três quartos da superfície de nosso planeta. Foi no mar que surgiu a vida na Terra. To-

o farol, a vela no horizonte, a paisagem envolta pela bruma ao longe: sinais

das as culturas, em lugares e tempos diversos, veneraram os oceanos. Para os

alvissareiros de que, afinal, chegamos ou estamos próximos de nosso destino.

gregos, por exemplo, okeanus era a personificação divina do Oceano Mundo,

De outra forma, permanecemos como náufragos dentro ou debaixo d’água,

um grande rio que circundava a Terra. É natural, portanto, que, desde a an-

buscando respirar ordenadamente para sobreviver nesse ambiente do qual vie-

tiguidade, seres humanos tenham sido atraídos pelo mar e nele se lançado,

mos, mas que não nos é mais natural. A maresia salgada nos respinga a face,

aventurando-se rumo ao desconhecido e perigoso.

faz arder nossos olhos e corrói nossa imaginação. Assim, em nossas fantasias

José Diniz também se lança ao mar. Não embarcado, mas à deriva, coman-

marítimas intrauterinas freudianas, talvez sonhemos com a baleia Moby Dick,

dando com destreza sua câmera fotográfica pronta para enfrentar desafios. Em

com nós próprios crianças brincando n’água ou com uma tsunami lambendo a

terra firme, com os pés plantados no chão, a força da gravidade proporciona

praia de Copacabana.

estabilidade ao manuseio do aparelho. Dentro d’água, no entanto, o fotógrafo

Diniz se lança ao mar por vontade própria, mas é também jogado n’água

precisa se render ao movimento contínuo das ondas e seu corpo deve estar

por suas transgressões como as composições ousadas na geometria racional

sempre atento às ações e reações que serão materializadas pelo olhar e o sub-

do quadrado ou as situações-limite na manipulação digital. E é justamente o

sequente registro fotográfico.

contraponto entre lançar e ser lançado que faz com que suas imagens possibili-

As fotografias marítimas aqui exibidas surpreendem em seu preto e branco an-

tem leituras múltiplas e nos conduzam tanto à contemplação e fruição estéticas,

cestral, granular e dramático como o próprio fenômeno da maresia que envolve

como também à decifração de enigmas. Em meio ao vai e vem das águas, na

a paisagem com uma névoa úmida e salgada. O fino véu que cobre a superfície

maresia do fotógrafo, tudo que é sólido desmancha-se no mar.

das imagens aproxima o trabalho de Diniz ao dos grandes mestres do sfumatto renascentista, resultando em um híbrido entre a pintura e a imagem técnica.

Andreas Valentin















José Diniz nasceu em 1954, em

Andreas Valentin é fotógrafo, curador, professor

Niterói (RJ), e atualmente mora no

e pesquisador. Formado em História da Arte

Rio de Janeiro. Fez curso de pós-

e Cinema (Swarthmore College, EUA). Mestre

graduação em Fotografia na UCAM,

em Ciência da Arte (UFF) e Doutor em História

além de cursos no MAM-Rio, na Escola

Social (UFRJ). É professor-adjunto de fotografia

de Artes Visuais do Parque Lage e

na UERJ. Coordena curso de pós-graduação em

no Ateliê da Imagem, dentre outros.

Fotografia no IUPERJ/Universidade Candido

Fez exposições individuais no Rio,

Mendes. Membro da Associação Brasileira

em São Paulo, Niterói, Krasnodar

de Antropologia, vencedor do Prêmio Pierre

(Rússia), Buenos Aires, Montevideo

Verger de Fotografia (2004). É autor de três

e Paraty. Participou de exposições

livros sobre o Festival de Parintins (1999, 2001

coletivas no Brasil, na Argentina e nos

e 2005); o mercado Saara no Rio de Janeiro

Estados Unidos. Tem fotografias em

(2010) e sobre o fotógrafo alemão George

coleções privadas e no Museum of Fine

Huebner (2012). Em 2013, por ocasião do

Arts Houston, no MAM-Rio/Coleção

Fotorio, realizou a exposição “desORDEM”

Joaquim Paiva, dentre outras.

no Centro Cultural Correios/RJ.


curadoria

Agradeço a todas as pessoas que

Andreas Valentin

me apoiaram desde sempre nesse projeto, como Andreas Valentin,

im p r e s s ã o d a s f o t o g r a f i a s

Estúdio Lupa Papéis Hahnemühle Photo Rag® 308 g/m² e William Turner 310 g/m²

Claudia Tavares, Monica Mansur, Fátima Rodrigues, Marcos Bonisson, Jorge Moutinho, Angai, Estudio Lupa, Solução&Imagem, LeCadre, Centro Cultural Justiça Federal e Funarte.

mo l d u r a s

Agradecimento especial à

Le Cadre

minha mulher, Luciana, pelo permanente apoio.

design

centro cultural justiça

federal

26 de setembro a 10 de novembro de 2013 Avenida Rio Branco, 241 – Centro – Rio de Janeiro – RJ 20040-009

Verbo Arte e Design

Este projeto foi contemplado com o xii p r ê m i o f u n a r t e m a r c f e r r e z

revisão de t e x t o

d e f o t o g r a f i a 2012

Jorge Moutinho

Distribuição gratuita, proibida a venda



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