CÉU DE LUIZ
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APOIO CULTURAL
CÉU DE LUIZ
TIAGO SANTANA E AUDÁLIO DANTAS
CÉU DE LU I Z: BRILHA UMA ESTRELA NO FIRMAMENTO
DANILO SANTOS DE MIRANDASabemos que a riqueza de uma manifestação artística se estrutura historicamente em seus aspectos culturais, econômicos e sociais, enfim, na súmula que a engendrou tal como é. No entanto, há determinadas tramas que nos levam a ponderar que há algo de intangível e misterioso no desenrolar dos acontecimentos.
Assim foi com Luiz Gonzaga, ao despontar novas batidas à sanfona, ao compor aquele personagem cujas palavras, dança e vestimentas exaltavam o contexto nordestino.
O momento era de intensa migração do Nordeste para outras regiões do Brasil. Assim, ele correspondeu, de forma precisa, a uma demanda de consumo cultural, criação artística e entretenimento, ao mesmo tempo.
O fato é que, se o fizera deliberadamente, com certeza não tinha dimensão desses resultados. Talvez apenas desejasse compartilhar o vínculo às memórias de sua origem com sua gente, com outras gentes, para que entendessem e sentissem esta saudade, mas não a solidão. De outra forma, como explicar a saga de um menino que nasceu no sertão pernambucano e, ao seguir os passos de seu pai – que jamais excederiam tais confins –, tornou-se uma referência para a música brasileira? Como descrever a trajetória do sanfoneiro que contemplou e extrapolou uma identidade local nordestina?
Talvez as palavras, aliadas à força das imagens, possam ilustrar este expoente de inventividade, que até hoje ressoa no firmamento da música nordestina em suas extensas flexões. Para o Sesc, a valorização desta diversidade autêntica do nosso país, presente neste registro, é importante para o reconhecimento e a construção contínuos de nossa identidade, num processo de educação e formação permanentes.
Ainda hoje, e creio que por muito tempo, ou para sempre, escutaremos sua voz trovejante e veremos seu semblante altivo toda vez que andarmos pelos lugares do Brasil. Cidade grande e interior, interior e cidade grande, Luiz Gonzaga andará sempre com a gente por aí.
Na madrugada de 13 de dezembro de 1912, o tocador de oito baixos Januário José dos Santos aguardava, aflito, a hora do nascimento de mais um filho. A mulher, Ana Batista de Jesus, sofria as dores do parto gemendo baixinho, mas o suficiente para aumentar a aflição do marido. Januário escapou da angústia pela porta da frente da casa de taipa, correu a buscar a parteira, por coincidência chamada Mãe Januária.
No caminho, olhou para o céu, respirou o ar fresco que vinha no vento que soprava dos lados do Riacho da Brígida. A noite clara lhe permitia ver, vulto alteado, a Serra do Araripe.
Foi aí que se deu a zelação, uma estrela cadente a riscar o céu em seu último brilho, um brilho intenso, rápido, fugidio.
Na volta a casa, esbaforido, não demorou muito a ouvir o choro forte que vinha da camarinha anunciando o nascimento. Era um menino. “Um menino homem!”, gritou a parteira.
Ao menino não se deu sobrenome nem de pai, nem de mãe. Na hora do batizado, na igreja matriz de Exu, cidade batida de sol no sertão de Pernambuco, quem compôs seu nome foi o padre vigário. Começou por Luiz, escolha do pai, e logo acrescentou Gonzaga, em homenagem ao santo de sua devoção, e em seguida decretou que seria do Nascimento. Pronto, o menino seria batizado com o nome completo de Luiz Gonzaga do Nascimento.
Havia explicação para que ele assim se chamasse. Além do nome do santo, o vigário acrescentou do Nascimento por ser dezembro, mês do nascimento de Cristo. E mais: 13 de dezembro é dia de Santa Luzia, santa que protege a luz dos olhos e que tem luz no próprio nome. Luiz também vem de luz.
Não se sabe ao certo, mas é bem capaz que Januário tenha contado ao padre sobre a zelação, o rastro de luz deixado no céu por uma estrela, quando o filho estava para nascer.
E para se completar essa história de tantas luzes no nome do menino, quando ele já estava crescidinho, moleque magrinho de rosto redondo, outros moleques diziam, nas brincadeiras, que ele tinha cara de bolacha. Mas outros diziam que era cara de lua. Tratava-se de um menino cheio de luz.
Pelas terras que vão se abaixando depois das primeiras escarpas da Serra do Araripe, corre o Riacho da Brígida, um riozinho sertanejo meio incerto, que
às vezes se avoluma, esparramando-se pelas várzeas; e outras, quando é tempo de seca braba, se encolhe até virar um fiozinho de água que segue o seu caminho, desaguando no rio Brígida, para correr ao encontro das águas grandes do rio São Francisco.
O Riacho da Brígida nasce ali mesmo, nas terras da fazenda Caiçara, também lugar de nascimento do menino Luiz. Foi seguindo o seu curso, já formado rio, que, no ano de 1709, chegaram ali, vindos das bandas de Cabrobró, na beira do São Francisco, os primeiros Alencar, que, de tantas terras acumuladas, tiveram até um barão na família. Sem falar numa mulher guerreira, Bárbara de Alencar, heroína da Revolução Republicana de 1817. E, mais tarde, um escritor fundamental: José de Alencar, seu neto.
Foi nos domínios dos Alencar que o menino Luiz cresceu, aventurando-se pelas margens do Brígida, em mergulhos, caçadas e pescarias, e também ajudando nos serviços de levar cavalo a beber água, a mesma água que levava em potes para casa – aquele rio tinha todas as serventias.
E foi o Brígida, virado numa enormidade de água, que invadiu sua casa, em 1924, obrigando a família a se mudar para o povoado do Araripe, um arruado bem ajeitado onde se erguiam as casas-grandes dos Alencar, sendo a maior e mais alta e imponente a que servira de moradia a Gualter Martiniano de Alencar Araripe, o Barão de Exu, tendo, de um lado, emendada, sólida e bem construída, a senzala. E havia também uma igreja dedicada a São João, aquele que aparece menino segurando um carneirinho. Igreja grande, maior do que ela só a do Bom Jesus dos Aflitos, matriz do Exu.
Um dia, já feito homem e famoso, Luiz evocaria o Brígida numa de suas músicas:
Ah, menino, se esse rio falasse
Quanta coisa que ele tinha pra contar.
Ah, quanta festa
Quanto samba sem horário
Eu e meu pai Januário
Nós tocando sem parar
São as lembranças
Nessas águas a rolar.1
Januário não era só tocador de fole de oito baixos, era também exímio consertador e afinador de sanfona. Tinha em casa o seu canto de trabalho, seu meio de vida. Sanfoneiros de todo o sertão do Araripe encostavam na casa dele, encomendando consertos de seus instrumentos. Aquele canto era oficina e, nas horas em que Januário se cansava de bulir com teclas, botões e foles, virava local de concerto. Ele pegava a sua oito baixos, sempre afinada, e dela arrancava a música mais caprichada. Se estivesse ali por perto, o menino Luiz ia se chegando, maneiro, ouvidos bem abertos.
O pai crescia a seus olhos, iluminava-se no manejo da sanfona. Quando Januário saía, ele se aproveitava da ausência e dedilhava o instrumento em puxadas desajeitadas do fole. Com pouco tempo, já tirava músicas que não sabia direito como lhe vinham à cabeça.
No princípio, sua mãe, conhecida em casa e no meio do povo como Santana, se arreliava, impunha sua autoridade:
– Deixe de ser enxerido, menino! Pare de bulir com os instrumentos de seu pai! Vá já levar o jumento pra beber água!
O menino saía meio desenxabido, amuntava no animal, que se movia com a lentidão dos jumentos, enquanto Santana, encostada no batente da porta, resmungava:
– Ora já se viu, ainda mija nas calças e já metido a tocador!
A casa de Januário movimentava-se nos fins de semana, quando apareciam os fregueses com sanfonas para consertar ou para apanhar as que haviam deixado para conserto. Alguns vinham de longe buscar seus instrumentos. Se Januário não tivesse conseguido dar conta do serviço, prometia, então, fazer o conserto em seguida. Que esperassem, arranchassem-se ali mesmo em sua casa – sempre havia uma rede para nela descansarem o corpo. Às vezes, o conserto era complicado, mais demorado, o freguês ia ficando à espera. Esperto, o moleque Luiz entrava em cena. Oferecia-se para acompanhá-lo numa caçada ali por perto, o que, além de divertido, podia render alguma carne para o almoço. Mais interessante, talvez, fosse uma feira em um dos povoados próximos, como o Baixio dos Doidos, onde, insinuava,
podia ser encontrada uma boa carne de bode seca. Assim ajudava a completar os almoços de sábado e domingo.
As visitas às feiras podiam oferecer mais do que o bode seco que o freguês de Januário levava de presente. Se houvesse um tocador de sanfona conhecido, alegrando o povo para ganhar uns trocados, Luiz pedia para tocar um pouco. E desse jeito, mesmo cometendo erros de principiante, foi-se tornando conhecido e admirado. “Esse menino é o Cão numa sanfona”, diziam.
E acrescentavam:
– Também, é filho de Januário!
Na volta das feiras, ele pedia ao freguês de Januário para não falar da puxação de fole. A mãe, principalmente, não queria saber de vê-lo tão cedo a correr mundo.
Mas ali mesmo, no povoado de Araripe, havia samba quase todo fim de semana no terreiro de Miguelzinho, vizinho e amigo da família. Samba era como se chamavam os bailes naqueles pés de serra, mas o som da sanfona espalhava tudo que era música – xote, baião, xaxado, mas também música de fora, até tango argentino.
O som da sanfona de Luiz já fazia admiração. Ele estava cada vez mais desasnado no instrumento. Mas o começo daquela carreira de sucesso não tinha sido dos mais brilhantes. Aconteceu que o sanfoneiro com quem Miguelzinho tinha acertado não apareceu. Na última hora, o povo todo se ajuntando para a dança, ele recorreu a Januário, que se negou, não queria tocar onde suas filhas dançassem.
Miguelzinho apelou:
– Então, deixe o Luiz. Ele já toca bem pra danar.
Januário não ousou se antecipar, respondeu que a decisão era de Santana. A mulher veio lá de dentro pronta para negar. A conversa se estendeu, Miguelzinho tenso, preocupado com o povo que estava em seu terreiro, esperando a dança. Até que Santana cedeu. O menino podia ir, mas se tivesse sono no meio da dança, como ia ser? Apressado, Miguelzinho foi logo dizendo que não haveria problema, botava ele numa rede e pronto.
O menino tocou até não aguentar mais, perdido de sono no meio da noite. Na rede, no meio do sono profundo, sonhou que se aliviava da bexiga cheia. De madrugada, ainda escuro, deu-se conta de que molhara as calças, das quais se livrou e voltou a dormir. Manhã já clareando, procurou-as, vasculhando o chão em volta, mas não encontrou. Resolveu sumir dali, ganhou o mato pelos fundos dos quintais, a esconder as vergonhas com as mãos em concha, mesmo que àquela hora ninguém transitasse por ali.
O dia já ia alto quando Miguelzinho apareceu com as calças de Luiz ainda úmidas. Santana se divertiu muito, bem que dizia que o moleque metido a tocador ainda mijava nas calças.
Não só por tocar sanfona Luiz era requisitado. Menino esperto, falador e prestativo, queriam-no por companhia, quando não para prestação de pequenos serviços. Um que lhe tinha especial estima era José Carvalho, chamado Zé Lilica, senhor de terras no lugar Caririzinho. De vez em quando, ele aparecia no Araripe, ia bater na porta de Januário, dizendo que queria levar o menino para passar uns dias em sua casa.
Numa dessas idas ao Caririzinho, Luiz cismou de fazer graça com o alfaiate do lugar, apelidado Neném Pé-de-Bolo. O homem não gostou, deu-lhe uns sopapos. Quando Zé Lilica ficou sabendo, virou-se num bicho. Não admitia desfeita a gente sua. Botou o revólver no cinto, pegou o menino pelo braço e foi tirar satisfação com Neném. Foi chegando e logo partindo para os insultos, dando a palavra a Luiz:
– Diga que ele é corno, diga!
O moleque se encolheu, sem coragem de dizer a ofensa. Lilica insistiu: “Vamos, tô mandando!” A voz presa na garganta foi-se soltando, e quando se deu conta, Luiz estava xingando com gosto, repetindo todos os nomes ordenados por Lilica, de baitola pra cima, filho dessa, filho daquela, além de um que gritou por conta própria:
– Sujeito!
Não sabia o significado da palavra, mas entendia que era de alta ofensa. Sinhô Aires, um Alencar que mandava um bocado naquele pedaço de sertão, usava-a contra gente sem serventia, desclassificada. “Aquilo não passa de um sujeito desavergonhado”, dizia.
Ao ouvir o xingamento, Pé-de-Bolo saltou de banda, o rosto vermelho, pegando fogo. Criou coragem e protestou:
– O moleque pode dizer tudo quanto é nome feio que o senhor mandar, Seu Zé Lilica, mas sujeito já é demais!
Não demorou para Januário reconhecer o talento de Luiz, que tirava música de todo tipo de sanfona, daquelas que vinham para conserto e afinação.
Um dia, decidido, ele disse à mulher:
– Vou carregar Luiz comigo, ele já sabe tocar pra me ajudar nas festas.
Daí por diante, raro era o fim de semana em que os dois não viajassem. Tocavam em tudo que era biboca da redondeza, no pé da Serra do Araripe, muitas vezes por ela subindo até a chapada. Alegravam as festas em povoados mais crescidinhos – Baixio dos Doidos, Tabocas, Cajazeira do Faria – e até em lugares mais importantes, ruas grandes, como Rancharia, Granito, Bodocó. Venciam distâncias de muitas léguas, a pé, carregando nas costas uma roupa melhorzinha para as apresentações nas festas e, com todo cuidado, a oito baixos de Januário.
Aquelas viagens faziam o encantamento do menino. De qualquer ponto em que estivesse, dava para ver, azulando na distância, a Serra do Araripe, que se espichava na direção do Crato, cidade famosa em toda a região do Cariri, e seguia depois no rumo do Piauí. Além da serra, imaginava, estendia-se o mundo que ele sonhava conhecer um dia, tornando-se famoso pelo toque de uma sanfona que, certamente, não seria aquela humilde oito baixos, mas uma das grandes, toda brilhosa e de som poderoso.
Nas latadas dos terreiros de barro batido em que se armavam os forrós, Luiz dedilhava com gosto a sanfona, dando descanso ao pai. Era uma alegria ver o povo dançar, feliz, a levantar poeira do chão. Começava a prestar atenção nos requebros das meninas morenas; dividia a atenção entre o puxar do fole e a graça com que elas dançavam o xote. Orgulhoso dentro de sua roupa de brim azul, arriscava olhares, piscadelas para as mais formosas.
Anos depois, já famoso no país inteiro, ele comporia, com Zé Dantas, um xote que evocava o desabrochar daquelas meninas que só pensavam em namorar.
A fama do menino tocador ia aumentando, dele falavam até no Bodocó e na própria cidade de Exu. Tanto que ele já recebia convites diretos para se apresentar mesmo sem o pai, coisa que não lhe passava pela cabeça, não só por não ousar sair de casa sem ordem, como por respeito à figura de Januário, maior tocador de sanfona de todo aquele sertão. Esse respeito inspiraria, mais tarde, um baião que ele compôs com o parceiro Humberto Teixeira:
Luiz! Respeita Januário
...
Tu pode ser famoso
Mas teu pai é mais tinhoso
E cum ele ninguém vai, Luiz!
Luiz!
Respeita os oito baixo do teu pai.
Não só pelo toque da sanfona o menino Luiz era admirado. Gente grande dali do Araripe e das redondezas admirava-o pela vivacidade e pela inteligência. “Esse menino – diziam – precisa conhecer da leitura, tem que ir pra escola”. Outros vaticinavam:
– Esse menino ainda vai ser gente.
Um dia, o próprio coronel Manuel Aires de Alencar, o Sinhô Aires, foi pedir permissão a Januário para que Luiz fosse passar uns dias na casa-grande, onde poderia aprender as primeiras letras com suas filhas, já mocinhas.
Foram dias de grande alegria. Além de aprender a cartilha com as meninas, Luiz participava das brincadeiras com os meninos, explorava todos os cantos da fazenda. Na hora de comer, ia para a mesa com toda a família, ensinavam-lhe a manejar talheres. Sentia-se importante como se fosse um Alencar.
Não queria nem pensar naquilo, mas algumas vezes ouvira histórias. Diziam que sua mãe, Santana, era uma Alencar. Tinha gente no Exu que garantia o parentesco que ficara lá atrás, num ponto qualquer da trajetória da família cujo fundador, o português Leonel de Alencar Rego, um dia, no início do século XVIII, seguira no rumo da nascente do Riacho da Brígida e fincara
raízes nas terras da fazenda Caiçara, das quais pagava renda a Francisco Dias D´Ávila, senhor da Casa da Torre, na Bahia.
Tratava-se de uma história da qual Santana nem queria ouvir falar. Iriam mangar dela: onde já se viu, com a sua cor escura, ser parente dos Alencar, uns nobres que, nem sabia direito, tomavam conta daquele sertão havia mais de 200 anos? O mesmo pensava seu filho Luiz, apesar da acolhida que recebia na casa-grande de um Alencar.
Certa manhã, sol já bem alto, o coronel Manuel Aires de Alencar riscou no terreiro da casa de Januário, montado num imponente cavalo alazão, e foi logo dizendo:
– Januário, vim pedir sua permissão pra levar esse seu menino numa viagem grande, pra Belmonte.
Luiz correu a cuidar do cavalo, puxando-o pelo cabresto até o oitão da casa, do lado em que fazia sombra. Logo estava de volta, ansioso para acompanhar a conversa.
A viagem para Belmonte, uma cidade muito longe, para lá de Salgueiro, mexia com sua cabeça. Como quem não quer nada, ele ia se achegando, ouvidos atentos. Antevia a viagem em cavalo bom, sela macia, na companhia daquele homem importante, uma oportunidade para conhecer lugares dos quais só ouvia falar, descobrir um mundo novo.
Sinhô Aires era importante não só por ser dono de terras ali no sertão do Araripe. Sua fama corria outros sertões por onde andava em missão de advogado, um rábula muito competente que defendia causas intrincadas, principalmente as que envolviam gente que não dispunha de recursos para se defender. Nesse trabalho, terminou reconhecido e eleito deputado estadual. Um homem de muita valia.
A conversa sobre a viagem se esticou, Januário indeciso, temeroso, não queria tomar a decisão sem consultar sua mulher, que fora buscar água numa cacimba distante. Quando Santana voltou e ficou sabendo da proposta do Sinhô Aires, as coisas se resolveram num instante, ela fazia gosto na viagem de Luiz.
Foi uma viagem demorada, de vários dias. Luiz voltou importante, contando histórias, falando difícil. Outras viagens viriam. Um delas, a Ouricuri,
mudaria o rumo de sua vida. Na volta de Belmonte, por sugestão do Sinhô Aires, fora trabalhar de servente de pedreiro numa construção ali perto do Araripe. Serviço duro, de calejar mão e castigar o espinhaço, mas que rendeu um dinheiro bom.
Em Ouricuri, onde já estivera em companhia de Januário, tocando em festas com a velha oito baixos, fazia tempo que Luiz namorava uma sanfona dez vezes mais potente, uma de 80 baixos, da afamada marca Veado. Toda amarela, tinindo de brilho, a sanfona era uma tentação na vitrine da loja. Custava muito, 120 mil-réis, mas ele estava decidido a comprá-la. Tinha a metade do valor no bolso, resultado de dois meses de trabalho como servente de pedreiro. Estava disposto a gastar tudo na compra. Com grande dificuldade, arrancando de bem fundo as palavras, pediu ao Sinhô Aires:
– O sinhô pode me fiar o resto do dinheiro?
O coronel não hesitou, entrou na loja para fechar o negócio. Em vez de fiar uma dívida, pagou a harmônica à vista. Luiz lhe pagaria quando pudesse.
Pôde logo. Sua fama correu célere pelos pés de Serra do Araripe, de Pernambuco ao Ceará. Seu toque, ainda mais com a sanfona nova, causava maior admiração. Houve festa em que chegou a ganhar 20 mil-réis, e, em menos de um mês, bateu na porta do coronel Alencar:
– Olhe aqui, Sinhô Aires, os 60 mil-réis que fiquei lhe devendo.
Um espanto, uma certeza. Mesmo que o rapazote, grato, estivesse se oferecendo para o que precisasse, Sinhô Aires sabia que acabava de perder um excelente e prestativo acompanhante em suas viagens; aquele menino que tanto sabia puxar um fole de sanfona como tratar bem e arrear cavalo.
O sertão do Araripe acabava de ganhar um novo mestre da sanfona. Era de se ver e ouvir o rapaz tocar. Beirando os 15 anos, estava todo mudado, até na voz. Orgulhava-se de tocar em festa de gente importante, senhores de terras. Mas aquilo não era só alegria. Carregava uma ponta de revolta desde que começara a acompanhar o pai nas festas: mesmo distinguido pela arte de tocar música, não passava de mais um negro sob as latadas armadas para os forrós.
Era assim: os donos da casa e de terras em volta, mesmo que não tivessem a desejada brancura, dançavam no salão reservado para a família e seus convidados especiais, todos considerados brancos, enquanto no terreiro,
por debaixo da latada, dançavam os agregados, os chamados moradores. Ali, neguinho podia ter até olho azul, mas não passava de negro. Só o toque da sanfona igualava a todos.
Para garantir a apartação, o sanfoneiro tocava na porta de entrada da casa, distribuindo a música entre o salão e o terreiro. Quando se tratava de casa-grande, de senhor mais poderoso, dois sanfoneiros eram contratados, um para o salão, geralmente tocador de fama, outro para a latada, armada mais distante.
Luiz já conquistara o direito de tocar nos salões, mas isso não o deixava orgulhoso. Se aquilo significava o reconhecimento de sua arte, não lhe aplacava a revolta.
A sanfona, aquela toda amarela, brilhante e cheia de sons, trouxera consigo a possibilidade de concretização de sonhos antigos. Aquela sanfona era a sua liberdade.
Houve um tempo em que ele sonhava tocar uma oito baixos para o bando de Lampião dançar o xaxado. Recompunha na mente as histórias que ouvia sobre os cabras metidos naquelas roupas meio de vaqueiros, meio de bandidos, com seus chapéus dobrados cheios de estrelas rebrilhando, cartucheiras e punhais atravessados na cintura.
Lembrou-se de um dia em que, correndo como um redemoinho pelo povoado do Araripe, espalhou-se a notícia de que Lampião estava chegando. Vinha dos lados de Granito, passaria arrasando tudo pelo Araripe, disposto a tomar conta de tudo, até das riquezas dos Alencar. Dali seguiria o caminho de Exu, depois para o Crato e o Juazeiro do Padim Ciço.
Foi um corre-corre, todo mundo a se esconder no mato. Januário ainda hesitou, mas terminou se arranchando com toda a família debaixo de uma quixabeira que se esparramava em galhos arqueados, quase encostando no chão, na margem direita do Riacho da Brígida, longe do caminho do Exu. Lampião, se passasse por ali, nem desconfiaria que aquele pé de pau escondia tanta gente. Até daria para justificar uma frase blasfema a ele atribuída:
Deus é grande, mas o mato é maior.
Ali, por debaixo da quixabeira, todos, menos Luiz, temiam a chegada dos cangaceiros. A ele, aqueles cabras destemidos não metiam medo. Não pre-
cisava da proteção do mato que, naquele canto, era manso, nem chegava aos pés da caatinga braba que servia de refúgio para Lampião.
Nem sombra de Lampião apareceu no Araripe. Tudo voltou à vida calma e pacata de sempre. O menino Luiz foi ficando por ali, tendo por escapadas as pequenas viagens pelas redondezas, para tocar nos forrós. O sonho passou a ser a sanfona grande que finalmente conquistara.
Com ela, pensava, iria longe, muito além daqueles pés de serra. Muitos anos depois, quando já percorria os caminhos da glória, varando o Brasil inteiro, contou de seu sonho a Sinval Sá, seu sensível biógrafo:
– Sonhava, num quase delírio, com uma noite de glória, com um terno novo de brim, alpercatas pelas ruas, para que me vissem bem trajado, com a sanfona nova dependurada no pescoço, todo mundo admirado. E ganharia fama. Seria chamado pra outros lugares, até para o Crato.*
O Crato, cidade nobre no mesmo pé de serra, do lado do Ceará, não ficava longe. Um dia, depois de uma penosa travessia, chegou lá com a cara, a coragem e a sanfona nas costas. Dali ganharia o mundo, com escala em Fortaleza.
Luiz andava pelos 17 anos, beirando os 18. Na verdade, partira do Araripe às escondidas, fugindo de vergonha de uma surra que levara da mãe.
Tudo por causa do amor que lhe chegara ao coração.
Era uma paixão contrariada pelo pai da moça de nome Nazinha, branca e bonita, enquanto ele, pobre e de pele escura, não passava de um tocador de sanfona. Mas afronta Luiz não queria carregar, por isso desfeiteou o pai da moça no meio da feira do Exu, ousadia que a mãe não lhe perdoou. Onde já se viu um moleque atrevido enfrentando um dos grandes da terra? Nem ele perdoou Santana pela surra que levara, já quase homem feito.
Coisas do sertão que ficara para trás.
Um dia, quase vinte anos depois de deixar o seu chão, a fama de Luiz já se espalhava pelo Brasil inteiro. Mas a saudade bateu forte e ele resolveu voltar. Voltaria a seu chão pela segunda vez. Seria apenas um passeio, um reencontro com sua gente e com a paisagem da infância. Ansiava espalhar
os olhos pelas várzeas do Riacho da Brígida e depois, subindo, pela Serra do Araripe até o topo, onde parece que ela foi cortada num talho certeiro de facão, para formar a chapada.
Voltava ao seu pé de serra. Voltava com Helena, com quem se casara recentemente. Com ela queria compartilhar a alegria de rever sua terra, a mesma que lhe inspirara um baião chamado Asa Branca. Feita com seu querido parceiro Humberto Teixeira, a música evocava tempos de secura extrema e de renascimento do verde, depois de primeira chuva, quando “o verde dos teus óio se espaiá na prantação”.
Nesse regresso, o verde cobria o sertão, mas no seu lugar de nascimento, o Exu, a terra estava manchada de sangue. Começara ali, naqueles dias, uma guerra sertaneja que se prolongaria por mais de trinta anos. Dois grandes do lugar, um Alencar e um Sampaio, haviam-se defrontado, caindo um morto e depois, com balas de vingança, outro. O espírito da vingança tomara conta das duas famílias e pairava sobre a cidade, ameaçador. Outra família, a dos Saraiva, entraria também na guerra. Disputas políticas.
Foi só chegar a Salgueiro, sertão pernambucano, e Luiz foi logo sabendo da guerra declarada em Exu. Aconselharam-no a não pisar em sua terra, que estava em alvoroço, um pedaço de sertão reimoso. Ainda mais ele, que era chegado aos Alencar.
Decidiu, então, fazer um “arrodeio”, passar ao largo de Exu, no rumo do Crato. De lá mandaria buscar sua gente para o ansiado reencontro.
Sobrara a frustração de não ter revisto o seu exato pedaço de sertão: a vila de Araripe.
Muitas vezes, ao longo dos anos e de sua ascensão como artista, Luiz voltaria à sua terra, onde a guerra de famílias continuava. Um dia conseguiu chegar ao vice-presidente da República, Aureliano Chaves, que então ocupava a presidência, a quem pediu providências para acabar com o derramamento de sangue em Exu, que já custara a vida de mais de 40 pessoas. Num arranjo com o governador de Pernambuco, Marco Maciel, decidiu-se decretar uma intervenção militar no município. Para lá foi mandado um major da Polícia Militar, Jorge Luiz de Moura, que impôs a ordem com mão de ferro, no comando de mais de dez soldados. Aos poucos, as brigas de famílias foram se acabando.
A fama de Luiz, que um dia mostrou ao Brasil uma nova música, o baião que tinha um “quê que as outras músicas não têm”; na verdade, sons trazidos do fundo da alma do povo nordestino, se espalhou mundo afora. Primeiro ele, feito “Rei do Baião”, correu o país inteiro; depois sua música rompeu fronteiras, chegou aos Estados Unidos, França, Inglaterra, até ao Japão, do outro lado do mundo.
Beirando os pés de serra, sua música ressoava, não como novidade, mas como os sons de um patrimônio coletivo, antigo, recriado e devolvido ao seu povo.
Nos sertões do Araripe, Cariri acima, de Pernambuco ao Ceará, e até o Piauí, Luiz é lembrado e amado como gente da mesma gente.
Luiz Gonzaga do Nascimento revive no coração de seu povo.
No ano de 2012, quando foi celebrado o centenário de seu nascimento, a cidade de Exu, com seus 30 mil habitantes, e todo o sertão do Araripe se alvoroçou numa grande festa. Festa que se prolongou, desdobrada em forrós, em louvações de santos, casamentos, batizados.
Na feira de Exu, que ocupa a praça principal, pela frente e por detrás da igreja matriz do Bom Jesus dos Aflitos, e ainda se esparrama pelas ruas transversais, o som de sanfonas, tocadas ao vivo, mistura-se com o dos aparelhos das muitas barracas que vendem CDs piratas. Mas o som, assim misturado, é quase sempre o mesmo: o de baiões, toadas, xotes, aboios, na voz poderosa e no resfolego da sanfona de Luiz ou de seus seguidores. Há gravações baratas de conjuntos hoje espalhados pelo sertão. Um dos mais admirados é comandado por Joquinha Gonzaga, orgulhoso sobrinho do “Rei do Baião”, com quem tocou desde que se iniciou nas artes da sanfona. Há outros, como o Cabras de Gonzaga e o Seguidores do Rei.
A feira treme quando passa, alto-falantes em volume máximo, um carro de som anunciando um forró logo mais à noite, no Clube do Vaqueiro, festa baratinha – “Homem paga três reais, mulher não paga nada”. A música de fundo é, naturalmente, de Luiz Gonzaga, o baião Forró de Mané Vito, feita em parceria com Zé Dantas.
A cidade se cobre de sons e imagens de Gonzaga. Colado nos fundos da igreja, um palco gigantesco que sobrou da festa dos cem anos do cantador,
quando artistas de fama ali se apresentaram. No topo dos postes de iluminação, enfileirados, aparece a figura sorridente do sanfoneiro, multiplicada em outros cantos, em muros, paredes, fachadas de casas comerciais, dentro de botecos.
Na Casa do Artesão, espaço construído pela prefeitura de Exu, bem no centro da cidade, artistas populares exibem e vendem suas obras. Nem precisa dizer que a maioria das figuras, em barro, madeira ou palha, reproduz a imagem de Luiz Gonzaga, além de outras do sertão que foi sua inspiração. Os pequenos boxes para venda de artesanato são batizados com os títulos de suas músicas: Asa Branca, Assum Preto, Juazeiro, todas elas compostas em parceria com Humberto Teixeira. Na parede do boxe Regresso do Rei2 está escrito num verso: “Tô de volta pra ficar no meu sertão”.
No meio da feira, chapéu de couro surrado, a cara cor de bronze iluminada pelo sol alto do meio-dia, o velho vaqueiro Antônio Jovino exclama diante de um muro com uma pintura de Luiz a tocar sanfona:
– Esse foi um home de valô!
– Conheceu ele, Seu Jovino?
– Apois não fui vaqueiro dele!
Não que Jovino tenha sido empregado de Gonzaga, que tinha ali perto, beirando a cidade, uma fazenda chamada Itamaragi e depois virou Asa Branca, com casa grande e tudo, que ele comprou quando voltou para morar em Exu. Jovino foi ser vaqueiro lá não por obrigação, mas por gosto de ver de perto aquele homem famoso, ajudar no criatório do gado, umas 300 cabeças que ele tinha. Lembra a música de Luiz, a de que mais gosta:
Vai, boiadeiro, que a noite já vem
Guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem.3
Já passado dos 80, Jovino não cuida mais de gado. Gente como ele, vaqueiro de verdade, que se embrenhava na caatinga derrubando boi brabo, quase nem existe mais; está tudo se acabando. Agora, diz ele, tocam boi até “com essas mota”.
2. Regresso do Rei (Luiz Gonzaga/Onildo Almeida).Jovino fala de um fenômeno, do progresso que provocou a invasão do sertão por motocicletas que carregam gente nas cidades e servem até para pastorear boi e bode. Mas Jovino explica:
– Essas mota só serve em pasto limpo; no mato fechado elas não entra não.
Outro vaqueiro, José Praxedes, já passado dos 80 anos, trabalha hoje como “guia do povo” no Parque Aza Branca, assim com Z, que era como Gonzaga escrevia. Ele fica ali o dia inteiro, mostrando tudo o que tem dentro do parque, um grande espaço murado à margem da BR-232, que liga Recife ao sertão do Araripe e que, na década de 1970, recebeu o nome de Luiz Gonzaga.
Dentro do parque há muito o que Praxedes mostrar: o mausoléu em que está sepultado Luiz Gonzaga do Nascimento mais seu pai, Januário, e sua mãe, Santana; o museu do Gonzagão, com um rico acervo sobre a vida do sanfoneiro, e também a casa em que seu pai, Januário, viveu seus últimos dias. Além de servir de guia, Praxedes conta de sua alegria de ter trabalhado com o cantador famoso. Gostava de vê-lo no alpendre da casa-grande, quando ia lhe dar conta da lida com o gado, quantas vacas prenhas, quantos bezerros nascidos, um ou outro garrote “tresvariado”. Ali, sentado numa cadeira grande, Gonzaga era ver um coronel, ninguém dizia que era um cantador. Praxedes faz essa observação e afirma, com orgulho:
– Fui o derradeiro vaqueiro dele.
Praxedes ainda entoa, nas horas de saudade, antigos aboios. E lembra que Luiz Gonzaga sempre ia matar saudade em Exu. Vivia no mundo, tocando e cantando em tudo que é lugar, até no estrangeiro, mas sempre levava o sertão dentro dele. Gostava de ouvir os aboios. E tinha a história de um vaqueiro primo dele, Raimundo Jacó, que foi morto numa emboscada na caatinga. Gonzaga até fez uma música para ele. Praxedes lembra uns versos:
Gado muge sem parar
Se alembrando do vaqueiro
Que não vem mais aboiar.4
Foi em memória de Raimundo Jacó que, no ano de 1971, o padre João Câncio, amigo de Gonzaga, celebrou pela primeira vez, em Serrita, cidade próxima de Exu, a Missa do Vaqueiro. Luiz estava presente com sua sanfona e
sua voz. Vieram vaqueiros de muitos sertões, os dali mesmo e outros da Paraíba e do Ceará. Todos em seus cavalos, encourados, uma beleza!
Daí em diante, o sanfoneiro vinha todos os anos para a missa, que ganhou fama e passou a ser celebrada em outros lugares do sertão. Virou uma festa bonita, famosa, tanto que, em todos os terceiros domingos do mês de julho, é festejado o Dia Nacional do Vaqueiro.
Atualmente é Joquinha Gonzaga, sobrinho de Luiz, quem vai tocar na Missa do Vaqueiro. Ele nasceu no Rio de Janeiro, em 1952, quando o tio levou para lá toda a família. Cresceu ouvindo e tocando sanfona, acompanhou o “Rei do Baião” em shows pelo Brasil inteiro, tocando uma 120 baixos. No meio dos shows, Luiz o apresentava:
– Este é Joquinha, meu sobrinho. Toca que nem um peste!
Hoje, Joquinha vive em Exu, morando numa casa confortável do centro da cidade. Lá é sobrinho do Rei. Não sabe direito a razão de ter mudado para lá, depois de fazer sucesso “por todo canto”. Como em tudo em sua vida, entende que foi por inspiração do tio que decidiu viver ali. É como se tivesse nascido lá. Depois da morte de Gonzaga, seguiu tocando sanfona em carreira solo, fazendo shows por todo o Nordeste. Já gravou 15 discos, entre LPs e CDs, nos quais predominam as músicas de Luiz. “Foi a herança que ele me deixou”, diz, o sorriso largo na cara redonda, a cara de lua do tio.
Na mesma rua de Joquinha mora Elenilde Parente de Alencar, de apelido Donda, proprietária do Parque Aza Branca. O parque foi comprado em 1994 por seu marido, José Alves de Alencar, das mãos de Rosa Maria Gonzaga do Nascimento, filha adotiva de Luiz Gonzaga, que fechou o negócio no Rio de Janeiro, onde morava, sem botar os pés em Exu. Em 2012, ano do centenário de Luiz, o governador de Pernambuco baixou decreto tornando o parque de utilidade pública, mas ninguém sabe direito como o bem será administrado.
Elenilde fala do parque, cujo destino é incerto, e ao mesmo tempo relembra Gonzaga como o mensageiro da paz que, depois de conseguir a intervenção em Exu, pondo fim ao morticínio entre as famílias Sampaio e Alencar, ainda promoveu uma reunião em que representantes dos dois clãs se confraternizaram. Trouxe até Dom Avelar Brandão Vilela, então bispo de Petrolina.
“Foi quase um milagre”, diz Elenilde. Era uma guerra que nem o amor conseguia deter. Muitos já haviam tombado quando dois jovens pertencentes às duas famílias envolvidas na peleja, José Aires de Alencar e Teresinha Sampaio, se apaixonaram. Além do amor por Teresinha, José carregava no coração o ódio que o levara a matar um tio dela, que por sua vez assassinara seu pai e dois irmãos. Por isso, ele tinha certeza de que seria um homem morto se continuasse em Exu. Um dia, ainda escuro, o casal deixou a cidade.
O amor entre Alencar e Sampaio só poderia florescer longe dali.
Trinta anos depois, decidiram voltar. Já era tempo suficiente, imaginavam, para que o ódio tivesse cessado. Pensando assim, José Aires de Alencar resolveu candidatar-se a prefeito da cidade. Ganhou a eleição e, com a vitória, reacendeu o ódio em Exu. Dois anos depois, em 1978, foi assassinado por pistoleiros. O vice, também um Alencar, teria o mesmo destino.
Só com a intervenção militar e a missão de paz promovida por Luiz Gonzaga, no início dos anos de 1980, a guerra familiar teve fim.
Luiz é lembrado em toda parte, em lojas, botequins, cabeleireiros, postos de gasolina. Na entrada principal da cidade, um deles se chama Gonzagão. Um restaurante self-service, na Rodovia Luiz Gonzaga, leva o nome de Palhoça do Rei. O “Rei do Baião”, claro. E um bairro inteiro, erguido desordenadamente por trás do Parque Aza Branca, tem o mesmo nome: Gonzagão.
É lá que vive a mulher que se chamava Cícera Brígida de Sousa e agora é Cícera Maria das Graças. Mudou de vida e mudou de nome. Mudou de vida e de roupa. Agora veste um hábito azul de penitente e carrega no pescoço um rosário do qual pende um pesado crucifixo. Vive em oração, para pagamento de pecados. Tão graves assim? Cícera se confessa:
– Eu caí na vida, meu filho; era casada e tudo, mas virei quenga!
Quando ela passa em frente ao Parque Aza Branca, a caminho do centro, para rezar na igreja do Bom Jesus dos Aflitos, benze-se em reverência a Luiz Gonzaga, ali sepultado.
– Ele foi um santo do povo – proclama.
Francisco José, irmão de Cícera, também morador do bairro do Gonzagão, não chega a santificar Luiz, mas atribui ao sanfoneiro um papel importan-
te em sua vida. Foi assim: rapazote ainda, foi a uma festa, um samba em Granito. A horas tantas, encachaçados, uns cabras partiram pra cima dele. Eram muitos. Um lhe acertou um soco na cara, um golpe que doeu mais lá dentro, na alma. Ficou ali, no meio da roda, cego de ódio. Se tivesse uma peixeira, teria deixado o corpo do inimigo “todo rendado de facada”.
Quase um ano inteiro de ódio viveu Francisco José. Ele chegava a “ver” lá dentro uma ferida enorme, uma pereba, chaga preta. Só esperava o dia da vingança.
Então se deu que chegou o dia da Missa do Vaqueiro. Lá foi ele para Serrita, pensando num alívio para a dor que a ferida lhe causava. Abriu bem os ouvidos para o sermão do padre João Câncio, que falava no poder do perdão. E sentiu que o ódio e a ferida iam-se aplacando aos poucos, ainda mais quando, do meio da missa, subia o som da sanfona de Luiz Gonzaga.
A música era como uma oração. Francisco José saiu dali aliviado, o coração esvaziado do ódio, bendizendo o sanfoneiro. Hoje, fala dele como de um profeta, um evangelizador do sertão, reverenciado pelo povo. Só por obra de Deus ele podia ter alcançado as alturas que alcançou. Um sertanejo humilde, pobrezinho, “negro, filho de negros”.
Francisco José é hoje uma espécie de pregador da paz e da justiça num programa que apresenta aos domingos pela manhã, na Rádio Objetiva FM, patrocinado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Exu.
A rodovia Luiz Gonzaga passa por Exu e Timorante, um antigo povoado que já se chamou Baixio dos Doidos, por causa de muita gente que lá sofria da cabeça, vai costeando a Serra do Araripe no rumo de Bodocó e Ouricuri, e chega a Petrolina, na beira do São Francisco. Por essas bandas todas, quando o sertão nem sonhava com asfalto, Luiz andava muitas léguas a pé, no seu tempo de menino e rapaz, a tocar sanfona de oito baixos com o pai, Januário.
Em Ouricuri, onde comprou sua primeira sanfona, ele mandava fazer suas roupas de artista, aquelas inspiradas em vaqueiros e cangaceiros, em couro forte. Quem recortava e costurava e aplicava os enfeites era o seleiro José Lopes Aprijo, que até hoje trabalha em sua oficina, fazendo alpercatas, embornais, chapéus de couro, até gibões, que hoje só são encomendados por outros artistas sanfoneiros, já que os vaqueiros “estão acabando”. Estes, quando aparecem, encomendam os gibões simplesinhos, de couro ordinário.
O orgulho maior de Aprijo é ter cortado e costurado o gibão todo enfeitado com que Luiz Gonzaga cantou para o papa João Paulo II, em 1980, em Fortaleza. Quando o papa agradeceu, dizendo “Obrigado, cantador”, em português, sentiu-se, também, homenageado, até abençoado.
As visitas de Luiz à tenda de Aprijo, para encomendas de roupa, eram uma festa em Ouricuri. O povo queria invadir a oficina, era preciso fechar as portas.
Raimunda de Sousa, moradora do povoado do Araripe, onde viveu Luiz Gonzaga, é guardiã da igreja de São João Batista, que o Barão de Exu mandou construir em 1868 e hoje abriga os seus restos mortais, ao lado de outros ilustres membros da família Alencar. Chegando aos 80 anos, ela guarda como um troféu, uma condecoração: as chaves da igreja. Dependem dela os turistas que aparecem por lá querendo visitar o templo.
Mas seu orgulho maior é ser da família de Januário, seu tio, pai de Luiz Gonzaga do Nascimento. E o dia mais emocionante de sua vida foi aquele em que, já mocinha, vestiu sua melhor roupa e passou pó de arroz no rosto para receber a visita do sanfoneiro, cuja fama já corria o Brasil inteiro. Um homem muito importante ali nascido, até mais importante, talvez, do que o próprio Barão de Exu.
A diferença é que as marcas deixadas pelo barão, Gualter Martiniano de Alencar Araripe, como sua casa, construída em pedra e cal há 160 anos, e a igreja, quase com a mesma idade, resistem até hoje. E da casa em que nasceu Gonzaga, construída muitos anos depois, de madeira e barro, ali perto, na fazenda Caiçara, não resta nem o pó. Do sanfoneiro restam a fama e uma placa mandada fazer pelo cidadão João Isac. Nela está escrito:
Nasceu neste local Luiz Gonzaga do Nascimento, em 13 de dezembro de 1912.
“O Rei do Baião”
Um verso de um baião de Gonzaga e Humberto Teixeira dá o arremate:
Saudade, meu remédio é cantar.
A placa fica à beira de uma estradinha de terra, colocada sobre um pedestal de cimento, num quadradinho protegido por uma cerca de madeira.
Em volta, um matinho rasteiro renascido depois de um tempo longo da última seca.
Perto dali, a uns 50 passos, se tanto, mantém-se de pé, em solidez de pedra, num terreno elevado, a casa-grande da fazenda Caiçara, onde nasceram e cresceram gerações de Alencar. Foi nela que nasceu, em 1760, Bárbara Pereira de Alencar, heroína da Revolução de 1817.
Faz alguns anos que Maria do Amparo Aires de Alencar, da sétima geração da família, se dedica à restauração da casa em que, aos poucos, sem qualquer ajuda dos poderes públicos, vem montando um museu em memória de Bárbara de Alencar, de cujos feitos, registrados nos livros de história, muito se orgulha. Mas não deixa de reverenciar outra figura, orgulho do Araripe, de Exu, do Brasil inteiro, Luiz Gonzaga. Tanto que no ano das comemorações dos cem anos do nascimento dele, mandou imprimir um folheto que mostra as coisas importantes e bonitas do povoado. Na capa, em vez do barão, aparece, em cores brilhantes, a figura de Luiz Gonzaga rodeado de asas brancas em voo. Como título, Lembrança do Araripe.
A lembrança de Luiz permanece viva no Araripe e em outros sertões, no coração do povo.
No dia em que ele voltou para sempre, 4 de agosto de 1989, a cidade de Exu inteira chorou. Gonzaga falecera dois dias antes, em Recife, e seu corpo chegara de madrugada, depois de passar por Juazeiro do Padre Cícero. Gente do sertão ao redor – “De Taboca a Rancharia, de Salgueiro a Bodocó” –, de todo o Nordeste e de outros cantos do Brasil, se juntou lá para prestar homenagem ao sanfoneiro morto. Chegaram vaqueiros encourados e sanfoneiros humildes, alguns ainda tocando oito baixos. E também seu filho Gonzaguinha. E o sanfoneiro Dominguinhos, que foi à frente do cortejo fúnebre, tocando músicas de Gonzaga.
Foi nesse dia que 20 mil vozes, em coro, entoaram Asa Branca, a música de Luiz e Humberto Teixeira que correu mundo e aqui virou uma espécie de hino nacional do Sertão.
Tudo em vorta é só beleza
Sol de Abril e a mata em frô
Mas Assum Preto, cego dos óio Num vendo a luz, ai, canta de dor
Tarvez por ignorança
Ou mardade das pió
Furaro os óio do Assum Preto
Pra ele assim, ai, cantá de mió
Assum Preto veve sorto
Mas num pode avuá
Mil vez a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá
Assum Preto, o meu cantar É tão triste como o teu
Também roubaro o meu amor
Que era a luz, ai, dos óios meus
ASSUM PRETO Luiz Gonzaga e Humberto TeixeiraHoje longe muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva caí de novo
Pra mim vortá pro meu sertão
Quando o verde dos teus óios
Se espaiá na prantação
Eu te asseguro, num chore não, viu, Que eu voltarei, viu, meu coração.
ASA BRANCA Luiz Gonzaga e Humberto TeixeiraA TRAJETÓRIA DO CANTADOR
1912 Nasce, na madrugada de 13 de dezembro, na fazenda Caiçara, município de Exu, sertão de Pernambuco, o menino Luiz, segundo filho do casal Januário José dos Santos e Ana Batista de Jesus.
1913 5 de janeiro, na igreja matriz do Bom Jesus dos Aflitos, em Exu, o menino é batizado com o nome de Luiz Gonzaga do Nascimento. Perdia, à beira da pia batismal, o sobrenome da família. A Luiz Gonzaga, santo de devoção do padre vigário, teve o acréscimo de Nascimento, por ter nascido no mês do Natal.
1920 Aos 8 anos, já dedilhava a sanfona em festas da fazenda Caiçara. Aprendera a tocar o instrumento ouvindo o pai, Januário, sanfoneiro afamado na região.
1924 Uma cheia do Riacho da Brígida, que atravessa a fazenda Caiçara, invade a casa da família, que se muda para o povoado do Araripe, ali perto.
1926 Acompanha em viagens o coronel Manuel Aires de Alencar, o Sinhô Aires, dono de vastas terras em Exu. Em Ouricuri, Pernambuco, adquire sua primeira sanfona, com parte do dinheiro emprestado pelo coronel.
1929 Aos 17 anos, apaixona-se por uma jovem de família importante das redondezas. O pai da moça, contrário ao namoro, reage com palavras ofensivas ao pretendente. Luiz se arma de uma faca e vai pedir satisfações. O homem recua, mas vai se queixar à mãe de do rapaz, que aplica uma violenta surra no filho. Ele resolve fugir de casa. Vai para Fortaleza, onde se alista no Exército.
1930 Com a Revolução que se alastra pelo país, liderada por Getúlio Vargas, o soldado Nascimento é destacado para missões em vários estados: Paraíba, Piauí, Pará, Rio de Janeiro. Vai parar no Mato Grosso.
1933 Numa unidade do Exército, em Minas Gerais, participa de concurso para sanfoneiro, mas é reprovado por não conhecer a escala musical.
1939 Dá baixa do Exército e vai para o Rio de Janeiro. Antes, passando por São Paulo, adquire uma sanfona de 120 baixos, um espanto se comparada com a de oito baixos com a qual aprendera a tocar.
1940 Para sobreviver, toca em festas, bares, até na zona do meretrício, no Mangue. Toca músicas da moda, principalmente as americanas, além de tangos e boleros. Com essas músicas tenta a sorte nos programas de calouro do rádio.
1941 Grava seus primeiros discos, em 78rpm. No final do ano já contabiliza 24 gravações: choros, valsas, mazurcas, nada das músicas que lhe embalavam a alma no sertão do Araripe.
1942 Aparece com destaque numa reportagem do jornalista Aldo Cabral, na revista Vitrine. Título da matéria: “Luiz Gonzaga, virtuoso do acordeon”. Acordeon é o nome chique que se dá à sanfona.
1943 Em sua primeira apresentação fora do Rio de Janeiro, faz temporada de mês e meio num cassino de Curitiba. É saudado como “O maior acordeonista brasileiro”.
1944 Paulo Gracindo, da Rádio Nacional, populariza o apelido de Lua, numa alusão à cara redonda do sanfoneiro. Passam a chamá-lo Luiz Lua Gonzaga. Ele se lembra, com saudade, dos moleques do Araripe, que o chamavam de Cara de Lua
1945 Conhece o advogado cearense Humberto Teixeira, com quem faria duradoura e proveitosa parceria. Começa a gravar músicas de inspiração nordestina, entre elas Dança Mariquinha e Penerô Xerém, ambas em parceria com Miguel Lima.
– Nasce, no Rio de Janeiro, no dia 22 de setembro, Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, filho de sua companheira Odaléia Guedes dos Santos, que conhecera já grávida, num dancing.
1946 Compõe a primeira música em parceria com Humberto Teixeira, No meu Pé de Serra. Seguem-se várias outras, de grande sucesso, como Baião, Juazeiro, Assum Preto, Respeita Januário. No meio delas, Asa Branca, uma espécie de hino sertanejo, que seria gravada no ano seguinte. Faz grande sucesso, que logo transpõe fronteiras e chega aos Estados Unidos, Europa, Japão.
1947 Primeira gravação de Asa Branca, em março, que logo estoura nas chamadas paradas de sucesso do rádio. Vai ao Recife, em sua primeira viagem de avião.
1948 Casa-se, no dia 16 de junho, com Helena Neves Cavalcanti, sua fã ardorosa. Ela passa a cuidar da vasta correspondência que ele recebia dos fãs.
1949 Conhece, em Recife, o médico José de Sousa Dantas, o Zé Dantas, de quem se torna parceiro. Dias, depois, em São Paulo, passa pelo constrangimento de ser barrado na entrada do auditório da Rádio Gazeta, que se intitula “A emissora da elite”.
1950 Está no auge da fama. Grava dois novos sucessos, a toada Assum Preto e o baião Qui nem Jiló, músicas compostas em parceria com Humberto Teixeira. Viaja por todo o país, apresentando-se em espetáculos que atraíam multidões. Já era, então, aclamado o “Rei do Baião”.
1951 Numa de suas viagens, acompanhado pelos tocadores André Gomes, o Catamilho (zabumba), e Zequinha (triângulo), sofre um acidente de carro, fraturando seis costelas. Seus companheiros sofrem ferimentos leves.
1952 Conhece o maestro Hervé Cordovil, que lhe foi apresentado pela cantora Carmélia Alves, já famosa como a “Rainha do Baião”. Cordovil logo se tornaria seu parceiro.
1953 Grava três novos sucessos: ABC do Sertão, Vozes da Seca e A Vida do Viajante.
1954 É morto a tiros, numa emboscada, o vaqueiro Raimundo Jacó, seu primo. Conhece Dominguinhos, menino de 14 anos, tocando sanfona na feira de Garanhuns, Pernambuco.
1955 Forma, com Marinês, a “Rainha do Xaxado”, o marido dela, Abdias, e o cunhado, Chiquinho, o grupo Luiz Gonzaga e seus Cabras da Peste. Mas o conjunto não prospera, por causa de ciúmes de sua mulher, Helena.
1956 Adota uma menina (Gonzaga era estéril) a quem dá o nome de Rosa Maria do Nascimento. Duas de suas músicas, Paraíba e Baião de Dois, são gravadas em japonês, pela cantora Keiko Ikuta.
1960 Morre sua mãe, Santana, de mal de Chagas.
1962 Morre Zé Dantas, parceiro de músicas de grande sucesso, no dia 11 de março, aos 42 anos.
1963 Conhece o poeta sertanejo Patativa de Assaré, de quem gravaria, no ano seguinte, a toada A Triste Partida. Grava A Morte do Vaqueiro, toada composta em parceria com Nelson Barbalho.
1968 Conhece, numa festa de São João, a advogada Edezuilta Rabelo, por quem se apaixona e teria por companheira anos depois.
1971 No terceiro domingo de julho participa, com o padre João Câncio, em Serrita (PE), da primeira celebração da Missa do Vaqueiro, em memória de seu primo Raimundo Jacó.
1972 Depois de alguns anos de recesso, devido à onda crescente da Bossa Nova, da Jovem Guarda e do Tropicalismo, apresenta-se em show organizado pelo poeta e compositor Capinam, no Teatro Tereza Rachel, no Rio de Janeiro. Título do espetáculo: Luiz Gonzaga Volta para Curtir
1973 Rompe contrato que mantinha havia 32 anos com a gravadora RCA e assina com a EMI-Odeon. Em dois anos grava 26 músicas inéditas.
1975 Uma das músicas da nova fase, Capim Novo, composta em parceria com José Clementino, integra a trilha da novela Saramandaia, da TV Globo.
1978 Morre seu pai, Januário José dos Santos.
1979 Gonzaguinha grava A Vida do Viajante, baião composto por Gonzaga em parceria com Hervê Cordovil. Gonzaguinha e Gonzagão realizam a turnê A Vida do Viajante, apresentando-se em várias cidades. Nesse mesmo ano morre Humberto Teixeira, seu grande parceiro e amigo.
1980 Canta em homenagem ao papa João Paulo II, em Fortaleza. O papa agradece em português: “Obrigado, cantador”.
1984 Recebe dois prêmios importantes: o Disco de Ouro, pelo baião Danado de Bom, e o Prêmio Shell.
1985 Recebe mais prêmios: o Disco de Ouro, pelo LP Sanfoneiro Macho, e o troféu Nipper de Ouro, uma honraria internacional, que teve, entre outros ganhadores, o cantor americano Elvis Presley.
1986 Viaja para a França pela segunda vez. Apresenta-se em Paris, num show com outros artistas brasileiros, para uma plateia de 15 mil pessoas.
1989 É internado no Hospital Santa Joana, em Recife, onde falece no dia 2 de agosto, aos 76 anos de idade. Dois dias depois, seu corpo é sepultado em Exu, sua terra natal. Um coro de 20 mil vozes entoa o baião Asa Branca em sua homenagem.
BIBLIOGRAFIA:
ÂNGELO, Assis. Dicionário gonzagueano, de A a Z. São Paulo: Edição do Autor, 2006.
ECHEVERRIA, Regina. Gonzaguinha e Gonzagão: uma história brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
OLIVEIRA, Gildson. Luiz Gonzaga, o matuto que conquistou o mundo. Recife: Comunicarte, 1991.
SÁ, Sinval. Luiz Gonzaga, o sanfoneiro do Riacho da Brígida. Fortaleza: Realce Editora, 2002.
AUDÁLIO DANTAS
Audálio Dantas, jornalista, escritor e autor de mais de 10 livros, entre eles, As duas guerras de Vlado Herzog (Civilização Brasileira), que ganhou o Prêmio Jabuti 2013 na categoria Reportagem e foi eleito o Livro do Ano de Não Ficção pela Câmara Brasileira do Livro. Recebeu também o Prêmio Juca Pato – Intelectual do Ano da União Brasileira de Escritores. Destacam-se, ainda, as obras Tempo de reportagem (Leya); O menino Lula (Ediouro) e O Chão de Graciliano, com fotografias de Tiago Santana (Tempo d’Imagem), Prêmio APCA 2007. Audálio Dantas fez a compilação do diário da escritora Carolina Maria de Jesus, resultando no livro Quarto de despejo, obra já traduzida para 13 idiomas. Atuou em diversas entidades profissionais e culturais. Em 1981 recebeu prêmio da ONU por seu trabalho na área de direitos humanos. É presidente da Comissão da Verdade, Memória e Justiça dos Jornalistas Brasileiros e diretor-executivo da revista Negócios da Comunicação.
TIAGO SANTANA
Tiago Santana, fotógrafo, atua desde 1989, desenvolvendo ensaios pelo Brasil e América Latina. Em 1994 recebeu a Bolsa Vitae de Artes com o projeto Benditos, livro homônimo publicado em 2000; e o Prêmio Marc Ferrez de Fotografia, em 1995. Em 2007 ganhou os Prêmios Conrado Wessel de Ensaio Fotográfico e APCA, pelo ensaio O Chão de Graciliano, livro realizado em parceria com o jornalista Audálio Dantas. Ganhou o Prêmio O Melhor da Fotografia no Brasil em 2007, 2008 e 2009. Em 2010 recebeu o Prêmio Porto Seguro Brasil de Fotografia. Tem trabalhos publicados em revistas e livros no Brasil e no exterior. Sua obra integra importantes acervos e coleções de fotografia. Em 2011 foi o segundo brasileiro a ter seu trabalho publicado na coleção de fotografia francesa Photo Poche. Organizou diversas exposições e festivais de fotografia no Brasil. É fundador da editora Tempo d’Imagem.
LUIZ’S STAR KEEPS ON SHINING
DANILO SANTOS DE MIRANDA Regional Director of SESC São PauloWe know that the richness of an artistic manifestation is historically rooted in its cultural, economic and social aspects; in short, in the aspects that make it what it is. However, there are facets that lead us to wonder whether there is something intangible and mysterious in the chain of events that led up to it.
That’s how it was for Luiz Gonzaga when he discovered new rhythms with his accordion, and created for himself a character whose words, dance and clothing were a homage to the northeast.
It was a time of intense migration, from the northeastern states to the rest of Brazil, so he precisely fit the bill, meeting the demand for cultural consumption, artistic creation and entertainment, all at the same time.
If he did it deliberately, surely he was not aware of the results. Perhaps he just wanted to share the connection he felt to the memories of his background, with his people and others, so that they could understand and feel that same longing, but not the solitude. How else could we explain the saga of a boy born to the backlands of Pernambuco who, following in the footsteps of his father (who never left those faraway lands), became a reference in Brazilian music? How else could we describe the trajectory of the accordionist who contemplated and extrapolated a local northeastern identity?
Perhaps the words, and the strength of the images presented here, will convey the power of this luminary of invention, who can still be heard today in the firmament of the music of northeastern Brazil, in its various forms. For us at SESC, bringing awareness to this authentic Brazilian diversity in book form is crucial to help us continuously recognize and build our identity, in an ongoing process of education and formation
LUIZ’S LIGHT
AUDÁLIO DANTAS Writer & JournalistIn the early hours of the morning of December 13, 1912, 8-bass accordion player Januário José dos Santos waited anxiously for the birth of his second child. His wife, Ana Batista de Jesus, moaned softly with the labor pains, but loud enough to cause her husband to worry. Januário, attempting to alleviate his fears, escaped through the door of the mud house in search of the midwife, by coincidence also named Mother Januária.
While searching for her, he looked up at the sky, breathing in the fresh air brought by the winds from the Brígida River. In the clear night, he could see the Araripe mountain range in the distance.
And that’s when he saw the shooting star. Crossing the sky for the last time, an intense, fleeting, elusive sparkle of light.
He arrived home breathless and soon heard a loud cry coming from the bedroom, heralding the birth of his child. “It’s a boy!” cried the midwife.
The boy wasn’t given his mother’s or his father’s surname. At his christening, in the main church of Exu, a sunny town in the backwoods of the state of Pernambuco, the priest was the one who bestowed the boy’s full name upon him. His first name was Luiz, his father’s choice; the priest then added “Gonzaga” in homage to his father’s devotion to the saint of the same name, and finally, “do Nascimento”. The infant was then baptized Luiz Gonzaga do Nascimento.
There was a reason for this name. Besides the saint’s name, the priest added do Nascimento (“of the Birth”) because it was December, the month of Christ’s birth. December 13 is also the feast day of Saint Lucia, protector of eyesight, whose name means “light”, just like “Luiz”.
Nobody knows for sure, but Januário had probably told the priest about the bright shooting star he had seen in the sky just as his child was about to be born.
GILBERTO GIL Musician & ComposerToday, and I believe for a long time to come – maybe even forever – we will hear his resounding voice and see his proud face wherever we go in Brazil. Whether in the big cities or in the countryside, Luiz Gonzaga will never leave us.
And to add yet more color to so many lights in his name, when Luiz was older, a scrawny boy but with a full, round face, the other boys would tease him saying his face was round like a cookie. Others said his face was like a moon. He was a boy full of light, that’s for sure.
At the foot of the Araripe mountain range is the Brígida Creek, a small backwood creek that flows tentatively, occasionally getting wider and spreading out across the plains; sometimes, during the harsh drought, it will shrink to a mere trickle, sometimes turning into a full river as it makes its
way to the huge São Francisco river.
The Brígida Creek begins in the Caiçara farmlands, where Luiz was born. In 1709, following its course when it turned wider and became a river, the first settlers of the Alencar family arrived from Cabrobró, a town situated on the banks of the São Francisco River. They had amassed so much wealth and land that they even had a baron in the family. One of the family members was also a brave woman called Barbara de Alencar, a heroine in the Pernambucan Revolt of 1817. Later, her grandson, the writer José de Alencar, would play a fundamental role in Brazilian literature.
And it was in the lands of the Alencars that Luiz was born, later chasing adventures along the banks of the Brígida River; diving, hunting and fishing, and also helping lead the horse to drink water - the same water that he would carry home in pots. They relied on the Brígida River for so many things.
But it was this same river that flooded his house in 1924, causing the family flee to an Araripe village, a pleasant settlement where the Alencar family’s fine houses were situated. The most impressive of these, standing even taller and grander than the others, had been the residence of Gualter
Martiniano de Alencar Araripe, Baron of Exu. Next to it stood a sturdy, well-built senzala - the slave quarters. There was also a church dedicated to St. John the Baptist, depicted as an infant holding a lamb. It was a large church, but not as large as Bom Jesus dos Aflitos Church, the main church in Exu.
One day, as a famous man, Luiz would recall the Brígida River in one of his songs:
Ah, menino, se esse rio falasse
Quanta coisa que ele tinha pra contar.
...
Ah, quanta festa
Quanto samba sem horário
Eu e meu pai Januário
Nós tocando sem parar
São as lembranças
Nessas águas a rolar.1
Januário not only played the 8-bass accordion: he was also skilled in tuning and fixing instruments. He had a workshop at home, where he earned a living. Accordionists from all over the Araripe backwoods would come to his house to have their accordions fixed. Whenever Januário got tired of fiddling about with keys, buttons and bellows, his workshop
would became a music room. He would take his 8-bass accordion, which was always tuned, and play catchy tunes. His son Luiz would sneak closer and listen attentively.
At these times, his father would seem to grow in stature in his eyes, lighting up as he played his accordion. When Januário had left, Luiz would fiddle with the instrument and play a few clumsy notes. Within a short space of time, he was making up his own melodies, though he could not say how they came into his head.
In the beginning, his mother, known at home and in the village as Santana, would get upset and try to assert her authority, saying
“Quit your meddling, boy! Stop messing around with your dad’s instruments! Go take the donkey to drink water!”
The boy would leave, miffed. He would climb on top of the donkey while Santana, leaning on the threshold, grumbled, “The boy still pees his pants and he thinks he’s a musician!”
Januário’s home was always busy at weekends, with people coming and going, dropping off or collecting accordions that had been repaired. Some came from far away. If Januário didn’t have time to fix them right away, he would promise to fix them soon. So he would ask his customers to wait, to take a seat somewhere - there was always a hammock where they could rest.
Sometimes a repair would be more complicated, and the customer would have to wait longer. This is where Luiz saw his opportunity. He would offer to take the man hunting nearby, which besides being fun, would provide them with some game for lunch. Even more interesting was going to a bazaar in one of the nearby villages, such as the Baixio dos Doidos where, he suggested, they could find some good goat beef jerky. This was his way of helping his family with meals on Saturdays and Sundays.
Visiting the bazaar would often yield more than the beef jerky that Januário’s guests would bring home as a gift. If there was a famous accordion player nearby, entertaining people for money, Luiz would ask if he might play a little. That’s how he began to get noticed and admired, even if he made some beginner’s mistakes. “This boy is a devil with the accordion”, they’d say.
“No wonder, he’s Januário’s son!”
Returning from the bazaar, he would ask his father’s guest to keep his playing a secret. His mother, in particular, was not very keen on the idea of her son traveling around as a musician, since he was so young. But right there, in the village of Araripe, there was samba almost every weekend in the courtyard of Miguelzinho, a friendly neighbor. “Samba” was
the name given to the dance balls on that mountain range, but the accordions would play all kinds of music - xote, baião, xaxado, even foreign music like Argentinian tango.
People were already in awe of Luiz’s skills as an accordionist. He was gradually mastering the instrument. But the beginning of his career was not so auspicious. It so happened that an accordionist Miguelzinho had requested failed to show up. At the last minute, with all the spectators eager to dance, he resorted to Januário, who refused, not wanting to play where his daughters were dancing.
Miguelzinho begged him, “Then let Luiz play. He’s already a natural.”
Januário did not dare cross his wife, and said it was her decision. His wife came from inside the house prepared to deny his request. They talked for a while and Miguelzinho was nervous, concerned about all those people waiting to dance on his courtyard. But Santana acquiesced. The boy could go; but what if he got sleepy in the middle of the dancing, what then? Miguel said it wouldn’t be a problem, he’d put him to sleep in a hammock if that happened.
The boy played until he could play no more, his eyes heavy with sleep. In the hammock, fast asleep, he dreamt he was peeing himself. In the morning, while it was still dark, he realized he had indeed done so. He removed his pants and went back to sleep. When daylight came, he looked for his pants on the floor but couldn’t find them. He decided to leave through the backdoor, hiding in the vegetation, covering his nether parts with his hands, although luckily there was no one else around.
It was noon when Miguelzinho showed up with Luiz’s pants, which were still wet. Santana found that very amusing. She had been right when she said the boy who thought himself a musician still peed his pants!
Luiz was not only sought for his playing skills. He was a bright boy, extroverted and resourceful. So people sought his company, or asked him to do small chores. José Carvalho, known as Zé Lilica, a landowner at Caririzinho, was very fond of him. Sometimes he would knock on Januário’s door asking if the boy could spend a few days at his place.
In one of these visits to Caririzinho, Luiz played a prank on the tailor of that village, nicknamed Neném Pé-de-Bolo. The man did not like it and spanked him. When Zé Lilica heard about it, he was very angry. He would not allow anyone to harm those he loved. He put his gun in his belt, took the boy by the arm and went to have it out with Neném. He had barely got there when he started calling him names, asking Luiz to join him:
“Tell this bastard he’s a goddamn cuckold, tell him!”
The boy shrank back, not daring to say utter such offensive words, but Lilica insisted. “Come on, it’s an order!” He finally found his voice, and before he knew it, Luiz was swearing with a vengeance, repeating all sorts of horrible names, encouraged by Lilica, like “faggot, “son of a this” and “son of a that”, and he even added one of his own:
“Sujeito!” (A very mild-mannered version of “motherfucker”, used by people who would not even dream of cussing.)
He didn’t even know what the word meant, but he understood it was highly offensive. Sinhô Aires, an Alencar that had authority over a good portion of those lands, had used it when speaking of lowly, vagabond people. “That man is nothing but a shameless sujeito”, he would say.
When Pé-de-Bolo heard that, he jumped, his face flushed, protesting: “This boy can say whatever ugly names you tell him to say, Mr. Zé Lilica, but sujeito is going too far!”
It did not take long for Januário to acknowledge the talent in his son, who could play by ear on any kind of accordion left at his home to be fixed and tuned. One day, he resolutely told his wife, “I’m taking Luiz with me, he can help me play at parties.”
And from that moment on, rarely a weekend went by when they did not travel together. They would play in any hovel in the Araripe foothills, sometimes climbing the mountain range to get to the plains. They would also entertain parties in the bigger villages – Baixiio dos Doidos, Tabocas, Cajazeira do Faria – and even beyond that, in more important places with grand streets, like Rancharia, Granito, and Bodocó. They travelled many miles on foot, carrying smarter clothes in a bag, which they donned when they played at parties, taking great care with Januário’s 8-bass accordion.
To the boy, those trips were wonderful. From wherever they were, he could see the bluish hues of the Araripe mountain range in the distance, stretching toward Crato, a wellknown famous in the Cariri region, and then on toward the state of Piauí. Beyond that mountain range, the world he dreamt of visiting one day was waiting for him; there he would become famous, playing an instrument that would not be the humble 8-bass but a big, shiny accordion with a powerful sound.
Under the trellises of the beaten-earth courtyards where the forró (dance parties) would take place, Luiz would gleefully play his accordion while his father rested. It was a joy for him to see people dancing happily, raising dust from the floor. He began to notice how those brunette girls wiggled their hips; his attention would be divided between playing, and watching how gracefully they danced the xote. Feeling proud in his smart, blue cotton clothes, he would risk exchanging glances with them, winking at the prettier ones.
Years later, now famous all over Brazil, he would compose with Zé Dantas a xote that sang about the coming of age of those girls who thought only of flirting.
The boy’s fame was increasing. His name was known in Bodocó, even in Exu. He was even invited to play without his father, something he would never dream of doing, not only because he did not dare leaving home without Januário’s consent, but also out of respect for his father, who was the greatest accordionist in the region. The respect he felt would later inspire a baião co-written with Humberto Teixeira with these lyrics:
Luiz! Respeita Januário
Tu pode ser famoso
Mas teu pai é mais tinhoso
E cum ele ninguém vai, Luiz!
Luiz!
Respeita os oito baixo do teu pai.
Luiz was respected not only for playing the accordion. People all around Araripe admired him for his resourcefulness and intelligence. “This boy needs to learn how to read and write; he should go to school”, they would say. Others predicted: “This boy will be famous.”
One day, the Manuel Aires de Alencar himself, also known as Sinhô Aires, asked Januário if Luiz could spend a few days at his big house, where he could learn how to read and write with his daughters, who were now a bit older.
It was a very happy time. Besides learning his letters with the girls, Luiz took part in the games the boys played, and got to explore the farmlands. He ate at the table with the rest of the family and they taught him how to hold his knife and form properly. He felt important, as though he were an Alencar.
He didn’t like to dwell on it, but sometimes he heard stories that his mother, Santana, was an Alencar. Some folk at Exu were sure there was some blood connection in the distant past, from the time Portuguese-born Leonel de Alencar followed the Brígida River at the beginning of the 18th century, establishing roots at the Caiçara farm, where he leased some land from Francisco Dias D’Ávila, owner of Casa da Torre in the state of Bahia.
Santana would hear none of it. They would mock her, she thought, because she had dark skin; how could she ever be a member of the Alencar family, noble people who had probably owned those lands for the past two hundred years? Her son Luiz thought the same, but he was always wellreceived at the Alencar’s big house.
One day, at high noon, landowner Manuel Aires de Alencar arrived at Januário’s on his imposing horse and said:
“Januário, I have come to ask your permission to take your boy on a trip to Belmonte.”
Luiz ran to take care of Manuel’s horse, taking it by the halter and leading it to the shade under the gables. But he soon returned, eager to listen in on the conversation.
The prospect of travelling to Belmonte, a town far beyond Salgueiro, excited him. While pretending not to pay attention, he listened intently. He dreamt about travelling on a fine horse with a soft saddle, in the company of such an important man. It would be an opportunity to get know places he had only ever heard about; to see the world.
Sinhô Aires was important not only because he was a landowner at Araripe. He was also an unqualified but very efficient attorney who defended complex causes, especially for people who could not afford to defend themselves. His skills did not go unnoticed and he was elected a state congressman. He was a highly-regarded man.
They talked for a long time about the trip. Januário was hesitant, afraid. He did not want to make a decision without the consent of his wife, who had gone fetch water at a distant well. When Santana returned and was informed of Sinhô Aires’s proposal, they quickly came to a decision . She approved of the trip.
It was a long journey, lasting many days. When Luiz returned, he held his chin high in the air, telling stories, speaking new and difficult words he had learned. There were other trips. One of them, to Ouricuri, would change the course of his life. When they returned to Belmonte, he followed Sinhô Aires’s suggestion and took up a job as a bricklayer’s assistant at a building site near Araripe. It was hard work that gave him calluses on his hands and a pain in his back, but he was paid good money.
In Ouricuri, where he had played the old 8-bass accordion with Januário at parties, there was a shop selling a much more powerful 80-bass accordion that Luiz had desired for quite some time. It was bright yellow and shiny, tempting him from the shop window. It cost 120 Reals, a lot of money in those days, but he was determined to buy it. He had half the amount in his pocket, two month’s pay for his work as a bricklayer’s assistant, but he was willing to spend it all in exchange for the instrument. With great difficulty, plucking up the courage to speak the words, he asked Sinhô Aires, “Could you lend me the rest of the money, Sir?”
The landowner did not hesitate: he entered the store to buy the instrument. Instead of lending him the money, he bought him the accordion there and then, telling Luiz could pay him back when he had the money.
And that time came soon enough. He was soon famous all over the region of the Araripe mountains, from the State of Pernambuco to the State of Ceará. His masterful musicianship, improved even more by the new accordion, was impressive. His playing at one particular party earned him twenty thousand reals, and within less than a month, he was knocking on Alencar’s door saying “Here is the money I owe you, Sir.”
Alencar was amazed. Although the grateful boy offered to help him in any way he could, Sinhô Aires knew he had lost an excellent and resourceful companion on his travels; the boy who knew how to master the bellows of an accordion as well as horse’s harness .
The Araripe backwoods had just gained a new accordion master. You had to see and hear him to believe it. At almost fifteen years of age, he was changed, even his voice sounded different. He was proud of being able to play in parties for important landowners. But it was not all wine and roses. He’d been harboring some resentment since he began traveling with his father; even though he was known as a masterful musician he was, in the eyes of many, just another negro under the tents where people danced the forró
That’s the way it was back then: the homeowners, owners of the lands in those parts, even if they were not the desired hue of white, danced in the hall meant for the family and special guests, all of them deemed white, whereas in the courtyard, under the tent, the agregados, the hired help, danced. Even if they had blue eyes they were deemed people of color. Only the sound of the accordion made everybody equal.
To make sure the two groups did not mix, the accordionist would play at the house entrance, so that people could hear him both inside the hall and outside, in the courtyard. In case of bigger houses of rich owners, two accordionists were hired, usually a famous musician for the hall and another for the courtyard.
Luiz was now able to play in the halls, but this did not make him proud. His art may have been recognized at last, but he was still angry.
That shiny golden accordion, full of music, had rekindled his old dreams. That accordion was his ticket to freedom.
There was a time when he dreamt of playing an 8-bass so that Lampião’s gang could dance the xaxado. (Lampião was a legendary bandit leader in the Brazilian northeast.) He would mull over all the stories he had heard about those men who dressed half as cattle ranchers, half as bandits, with hats with upturned brims full of shiny stars, cartridge belts and daggers hanging from their waists.
He could recall the day the news that Lampião was about to arrive caused quite a stir in Araripe. Lampião was coming from Granito and was ready to tear Araripe to shreds. He wanted to take control of the region, even steal the Alencars’ riches. From there, Lampião would head for Exu, then for Crato and Padim Ciço’s hometown of Juazeiro.
Everybody hurried to hide in the scrubland. Januário hesitated, but in the end he took refuge with his family under a quixaba tree with curved branches that reached almost to the ground, on the right bank of the Brígida River, far away from the Exu road. If Lampião came by, he would not suspect there were so many people hiding under that tree. It would even excuse a blasphemous quote attributed to him: “God may be big, but the scrublands are bigger.”
Under that quixaba tree, everybody but Luiz feared the bandits. He was not afraid of those undaunted men. He did not need the protection of the scrubland, which in those parts, was not so dense; it did not even reach as tall as the caatinga grasses that served as Lampião’s refuge.
Lampião did not even come near Araripe. Everything returned to its usual calm pace. Luiz stayed in town, occasionally travelling to play at parties. He dreamed of the great accordion he would eventually buy.
With it, he thought, he would travel far away, beyond those mountains. Many years later, when he had become famous all over Brazil, he told Sinval Sá, his biographer, about his dream:
“I dreamt almost feverishly about a glorious night, myself dressed in a smart suit and new shoes, walking the streets so people could see how well-dressed I was, with a new accordion hanging from my shoulders, everybody in awe at the sight of me. And then I would be famous. People would call me to play even in Crato.”2
Crato, a well-to-do town in the foothills near Ceará, was not far away. One day, after a difficult journey, he managed to get there with nothing but his courage and his accordion. And from there he would conquer the world, stopping at Fortaleza.
At the time, Luiz was 17 going on 18. He had actually run away from home, ashamed because his mother had beaten him.
And she had beaten him because he had fallen in love.
It was an impossible love because of the young girl’s father. Her name was Nazinha, and she was white and beautiful, whereas he was poor and dark-skinned, and a just lowly accordionist. But Luiz was a proud boy; he had been rude to the girl’s father in the middle of the Exu bazaar, and his own mother could not forgive him for creating such hubris. What
had the world come to? An insolent boy giving lip to one of the most important men in those lands? Luiz also could not bring himself to forgive his mother for spanking him, since he was almost a grown man.
These stories were, by now, far behind him.
Almost twenty years after leaving his hometown, Luiz was famous all over the country. But he missed his family and decided to go back. He would return to spend some time, just to see his people and the places from his childhood. He yearned to look again at the Brígida River and climb to the top of the Araripe mountains, where it seemed to have been abruptly cut, giving rise to the plains.
He was returning home with Helena, his new bride. He wanted to share with her the joy of revisiting his homeland, the same lands that were the inspiration for his baião “Asa Branca”, co-written with his partener Humberto Teixeira, with its lyrics about the extreme droughts and the rebirth of the scenery after the first rains, when “o verde dos teus óio se espaiá na prantação” (“the green of your eyes spreads over the lands”).
When he got there, the backwoods were green alright, but at his birthplace, Exu, the lands were covered in blood. A battle had begun that would last for more than thirty years. Two important men from the place, an Alencar and a Sampaio, had fought a duel. One had died and the other had been killed as a vendetta. Revenge had taken hold of both families and was threatening the town. The Saraiva family would later join in. Such were the political disputes.
As soon as Luiz arrived in Salgueiro he was told about the war in Exu. He was advised not to set foot in his homeland as things had gotten out of hand – especially as he had been a close friend of the Alencars.
So he decided to bypass Exu on his way to Crato. When he arrived there, he could ask someone to bring his family.
He was frustrated at not being able to see his homeland, the village of Araripe.
Often, during the years when his fame was spreading, Luiz would return to his homeland where the war between the two families still raged on. One day, he managed to put in a word with Aureliano Chaves, then vice-president of Brazil. He asked him to help put a stop to all the bloodshed in Exu, where more than forty people had died. He joined forces with Marco Maciel, the governor of Pernambuco, and military forces were sent to intervene. Major Jorge Luiz de Moura was sent in and he was able to forcefully settle everything down with the help of ten soldiers, and gradually the family disputes quieted down.
Luiz’s fame brought to Brazil a totally new kind of music: baião. It was indeed the sound of the northeasterner’s soul that conquered the world. First the “King of Baião” traveled all around Brazil; then his music crossed international borders, spreading to the USA, France, England, even Japan.
But back home, his music was nothing new; it was the collective, ancient cultural heritage of his people that he had recreated and given back to them.
In the Araripe backwoods, from Pernambuco to Ceará and Piauí, Luiz is hailed and loved as one of their own.
Luiz Gonzaga do Nascimento lives on in the hearts of its people.
In 2012, the centennial of his birth, there was a great celebration in Exu, with its 30,000 inhabitants, and in the whole of Araripe. The extended festivities included forró, homages to the saints, weddings and christenings.
At the Exu bazaar, which is held in the town’s main town, around the main church and in the small streets, the sound of accordions mingles with the sound of bootleg CDs coming from some of the stalls. The music is almost always the same: baião, toada, xote, aboio, in Luiz’s powerful voice and accordion, or those of his imitators. Cheap recordings are played all over the place. One of the best-loved ensembles is Joquinha Gonzaga’s band, the proud nephew of our “King of Baião”, with whom he played since he began dabbling in the art of accordion playing. There are other music ensembles, such as the Cabras de Gonzaga and the Seguidores do Rei.
The ground trembles as a truck with loud speakers goes by, announcing there will be forró that night at Clube do Vaqueiro, and the entrance is cheap – “men pay three bucks, women go free”. The background music is, of course, Luiz Gonzaga, more specifically his baião “Forró de Mané Vito”, co-written with Zé Dantas.
Portraits of Gonzaga adorn the city, and his music flows through the streets. At the back of the church is the giant stage from the centennial celebrations, where famous artists performed. On top of the street lights is a row of pictures of the smiling accordionist, and other pictures can be seen outside houses, on walls, shop façades and inside bars.
At the Casa do Artesão (Artisan’s Place), a construction built by the mayor right in the middle of town, popular artisans display and sell their work. It goes without saying that many of the figurines, made of clay, wood or thatch, are of Luiz Gonzaga, but there are also others that represent the sertão, the backlands that were his inspiration. The small handicraft stalls are named after his songs: Asa Branca, Assum Preto, Juazeiro, all co-written by Humberto Teixeira.
On the wall of the stall we read the lyrics to “Regresso do Rei”3: “Tô de volta pra ficar no meu sertão” (“I’m back in my sertão for good”.)
In the middle of the bazaar, wearing a threadbare leather hat, his tanned face lit by the hot midday sun, the old cattle rancher Antônio Jovino stands in front of a wall where someone has painted a mural of Luiz playing the accordion. He exclaims loudly: “This was a great man!”
“Did you know him, Mr. Jovino?”
“I drove his cattle maself!”
Jovino had not actually been employed by Gonzaga, who owned a farm nearby called Itamaragi and later renamed Asa Branca, on the outskirts of town, with a big house and everything, which he had bought when he decided to live in Exu again. Jovino was his cattle rancher not because he had to be, but because he liked seeing that famous man and helping him manage his 300 heads of cattle. He recalls the lyrics to his favorite Gonzaga song:
Vai, boiadeiro, que a noite já vem
Guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem.4
Now in his eighties, Jovino no longer drives the cattle. There are almost none of his kind left now; cattle ranchers who would venture inside the caatinga to tame wild cattle. Everything is different. Nowadays people even drive cattle from motorcycles, he says. Progress has led to an invasion of motorcycles in the backlands, carrying people and even being used to drive cows and goats. “These motorcycles are only good for short pasture; they’re useless in the dense thicket”, Jovino says.
José Praxedes, another cattle rancher, also well into his eighties, now works as a guide at Aza Branca Park, a nature reserve. Its name is spelt with a “z”, the way Gonzaga used to write it. He spends his days there, showing people around the park, a huge walled area next the highway that runs between Recife to Araripe which in the 1970s, was named the Luiz Gonzaga highway.
Praxedes has many things to show in the park: the mausoleum of the Gonzaga family, where Luiz Gonzaga do Nascimento, his father Januário and his mother Santana are laid to rest; the Gonzagão museum, which harbours a vast collection of items on the accordionist’s life, and also the house where Januário spent his final days. Praxedes talks about the joy he felt while working with the famous singer. He liked seeing him on the porch of the big house when he came to report on his cattle duties, how many cows were pregnant, how many calves had been born, the occasional defective newborn calf. Sitting on a big chair, Gonzaga seemed like an
important landowner, not a singer, according to Praxedes, who proudly adds: “I was his last cattle rancher.”
When Praxedes becomes nostalgic for his late friend, he sings his cattle calls. He recalls that Luiz Gonzaga used to come to Exu a lot. He traveled around the world, singing and playing in many places, even abroad, but he always carried his homeland in his heart. Luiz Gonzaga liked listening to the aboios, the haunting melodies of the cattle ranchers. There was also a story about a cousin of his, Raimundo Jacó, who was killed in an ambush in the caatinga. Gonzaga even composed a song for him. Praxedes recalls the lyrics:
Gado muge sem parar
Se alembrando do vaqueiro
Que não vem mais aboiar.5
It was in Raimundo Jacó’s memory that in 1971, Father João Câncio, a friend of Gonzaga’s, celebrated for the first time in Serrita, a nearby town, the Cattle Ranchers’ Mass. Luiz was there, lending the celebration his voice and accordion. Many cattle ranchers joined them, coming from all over the region and also from Paraíba and Ceará. All of them arrived on their leather-saddled horses.
From that moment on, the accordionist would come to the mass every year, which became famous and was celebrated in other parts of those backlands. It turned into a beautiful festival, so famous that the third Sunday of July became official Cattle Rancher’s Day.
Today, Joquinha Gonzaga, Luiz’s nephew, still plays at the festival. He was born in Rio de Janeiro in 1952, where his uncle had taken the whole family. He was raised listening to and playing the accordion, and followed the “King of Baião” in concerts all over Brazil, playing a 120-bass. Luiz would introduce him to the audience as “Joquinha, my nephew. He plays like the devil!”
Nowadays Joquinha lives in Exu, in a comfortable house downtown. There, he is known as the king’s nephew. He doesn’t know for sure why Gonzaga went to live there after becoming so famous. He believes his uncle decided to move back because that’s where his inspiration was. After Gonzaga passed away, Joquinha continued playing solo, holding concerts all over the Northeast. He has recorded fifteen albums on LP and CD, mostly of Luiz Gonzaga’s songs. “That’s my inheritance”, he says, with a wide grin on his face, which is round like a moon just like his uncle’s.
On his street lives Elenilde Parente de Alencar, nicknamed Donda, owner of the Aza Branca Park. The park was sold in 1994 to her husband José Alves de Alencar by Rosa Maria Gonzaga do Nascimento, Luiz Gonzaga’s adopted daugh-
ter, who closed the deal in Rio de Janeiro where she lived, without ever setting foot in Exu. In 2012, in the year of the centenary celebrations of Luiz Gonzaga, the governor of Pernambuco issued a decree stating that the park was now public, but no one knows for sure how it will be managed.
Elenilde talks about the park, the fate of which is uncertain, and also about Gonzaga as some kind of herald of peace who, besides intervening in the Exu killings between the Alencar and the Sampaio families, also managed to bring the two clans together so they could make peace. To settle the dispute, he even brought Dom Avelar Brandão Vilela, at the time the bishop of Petrolina.
“It was like a miracle”, Elenilde says. It was a battle that not even love could put an end to. Many had already died before two young people from across the divide, José Aires de Alencar and Teresinha Sampaio, fell in love. Besides the love he nurtured for Teresinha, José carried in his heart the hatred that had caused him to kill one of her uncles, who in turn killed José’s father and two of his brothers. He was sure he would wake up a dead man if he stayed in Exu. One day, the couple eloped while it was still dark. Their love would only be possible far away from there.
Thirty years later, they decided to return. Enough time had passed. José Aires de Alencar then decided to run for mayor of the town. He was elected, and the hatred in Exu was ignited again. Two years later, in 1978, he was killed by two hired gunmen. The deputy mayor, also an Alencar, followed the same fate.
A family truce was finally reached only through military intervention and the peace mission brought about by Luiz Gonzaga, in the early 1980s.
Luiz’s memory lives on, in the stores, bars, hair salons, and gas stations. At the entrance to the town there is a gas station called Gonzagão. There is a buffet restaurant on the Luiz Gonzaga highway is called Palhoça do Rei (“The King’s Thatched House”). The king is, of course, the King of Baião. A whole neighborhood behind the Aza Branca Park is also named after him (“Gonzagão”).
And there lives a woman called Cícera Maria das Graças, née Cícera Brígida de Sousa. She changed her name, her lifestyle and her clothing. She dons a blue nun’s habit and carries around her neck a rosary with a heavy cross. She continually prays for atonement for her sins. Were they so serious? “I was a loose woman, son! I was married and everything but I became a whore!”, she confesses.
When she goes by Aza Branca Park on her way downtown to pray at the church, she makes the sign of the cross in reverence to Luiz Gonzaga, who is buried there. “He was a saint of the people”.
Francisco José, her brother, who also lives in the Gonzagão neighborhood, may not think he is a saint, but says the accordionist played an important role in his own life. When he was still a young man, he went to a party in Granito. Some drunks jumped him. They were many. One punched him in the face, which hurt more on the inside than on the outside. He was stunned, blind with hatred. If he’d had a machete he would have butchered the man.
He spent almost a full year with that hatred seething inside him. He could almost see it inside him, a black wound. He dreamt of revenge.
And then came the Cattle Ranchers’ Mass. He went to the mass in search of relief for the pain in his soul. He listened intently to father João Câncio’s sermon, who talked about the power of forgiveness. He felt his hatred, and the wound it had caused, gradually melting away, particularly when in the middle of the mass, the sounds of Luiz Gonzaga’s accordion rang out.
The music was like prayer. Francisco José left feeling relieved, his heart emptied of all hatred, saying good things about the accordionist. Nowadays he talks about him as though he were a prophet, an evangelist of the backlands, revered by the people. Only through God could he have done all these things. A humble, poor man, “a black man, son of black people”.
On Sunday mornings, Francisco José is now a kind of radio preacher, a defender of peace and justice, in a radio channel sponsored by the Exu Rural Workers’ Union.
The Luiz Gonzaga highway passes through Exu and Timorante, an old village once called Baixio dos Doidos (“Village of the Crazy People”) because of the many people with mental illness who lived there. The highway skirts around the Araripe mountain range, heading toward Bodocó and Ouricuri and finally reaching Petrolina, on the banks of the Sao Francisco River. At a time when people could not even dream of paved roads in those backlands, Luiz would walk many miles on foot during his childhood and youth, playing the 8-bass with his father, Januário.
In Ouricuri, where he bought his first accordion, he would commission his clothes to be made, inspired by the cattle ranchers and the cangaço bandits, all made out of strong leather. It was saddle maker José Lopes Aprijo who made the clothes, adding the decorative adornments to them.
To this day, he still works in his workshop, making leather sandals, food bags, leather hats and even jackets, which are now only commissioned by other accordionists, since cattle ranchers are scarce. When they do show up, they order simple jackets made out of ordinary leather.
Aprijo’s main point of pride is that he tailored the adorned
jacket Luiz Gonzaga wore when he sang for Pope John Paul II in 1980, in Fortaleza. When the Pope thanked him in Portuguese, Aprijo himself felt honoured, even blessed.
Whenever Luiz arrived at Aprijo’s workshop to order clothes, there was great excitement in Ouricuri. So many people wanted to come into the workshop that he had to lock the doors.
Raimunda de Sousa, who lives in Araripe, Luiz Gonzaga’s hometown, is the warden of the São João Batista church, the one commissioned in 1868 by the Baron of Exu, whose mortal remains are laid next to other members of the noble Alencar family. Now almost eighty years of age, she guards the church keys, almost like a trophy, a medal of sorts. Tourists who want to visit the temple must ask her to see it.
But her biggest pride is being a member of Januário’s family, who was her uncle. The most exciting day of her life happened when as a young lady; she put on her best dress and powdered her nose to receive the famous accordionist, who was already famous all over the country. He was a very important man who had been born right there, in that town; perhaps even more important than the Baron of Exu himself.
But while Baron Gualter Martiniano de Alencar Araripe left his mark on those lands, such as his house, built with stone and lime 160 years ago, and the church, which is almost as old as his house, there are no traces of the humble house nearby, built many years later out of wood and clay, where Gonzaga was born. All that remains are his fame, and a sign commissioned by villager João Isac that says:
Luiz Gonzaga do Nascimento was born here on December 13, 1912.
“The King of Baião”
These words are followed by the lyrics of one of Gonzaga’s baião, co-written with Humberto Teixeira:
“Saudade, meu remédio é cantar”.
The sign is next to small dirt track, fixed into a cement block and protected by a small square wooden fence. It is surrounded by the stubby vegetation that is characteristic of the region, after the long droughts.
About fifty yards from there, maybe less, on the highlands, stands the big house of the Caiçara farm, where generations of the Alencar family were born. This is where Bárbara Pereira de Alencar, the hero of the Pernambucan Revolt of 1817, was born in 1760.
For several years now, Maria do Amparo Aires de Alencar, the seventh generation of the Alencar family, has been restoring the house; without any help from the government,
she is gradually building a museum in the memory of Bárbara de Alencar, of whose deeds, detailed in history textbooks, she is very proud. She also reveres another personality, the pride of Araripe, Exu, and of the whole country: Luiz Gonzaga. She is so find of him that at his centenary celebrations, she printed a leaflet registering the most important and prettiest things in the village. On the front page, in glossy colors, instead of a portrait of the baron, we can see Luiz Gonzaga surrounded by picazuro pigeons mid-flight. The title reads: “A Souvenir from Araripe”.
The memory of Luiz Gonzaga lives on in Araripe and other small backland villages, in the hearts of their people.
On the day he came back to stay for good, August 4, 1989, the whole town was in mourning. Gonzaga had passed away two days earlier in Recife, and his body was brought into town before dawn, after a procession at Padre Cícero’s Juazeiro. People from all over the backlands – as Gonzaga’s song goes, “from Taboca to Rancharia, from Salgueiro to Bodocó” – , from all over the Northeast and other parts of Brazil, gathered to pay homage to the late accordionist. There were cattle ranchers in full regalia, humble accordionists, some even playing 8-bass instruments. The accordionist Dominguinhos, who lead the funeral, played Gonzaga’s songs.
On that day, 20,000 voices sang in unison Asa Branca, the song written by Gonzaga and Humberto Teixeira made famous worldwide and which became the hymn of the Brazilian sertão
THE LIFE OF LUIZ GONZAGA
1912 Born in the early hours of the morning on December 13, at Caiçara farm in the municipality of Exu, in the backlands of the State of Pernambuco, the second child of Januário José dos Santos and Ana Batista de Jesus.
1913 On January 3, in the main church of Bom Jesus dos Aflitos in Exu, the boy is christened Luiz Gonzaga do Nascimento. He does not receive his family’s name. The priest, who was devoted to the saint Gonzaga, adds “do Nascimento” (“of the Birth”) in homage to Christ’s nativity.
1920 By the age of eight he is already fiddling with the keys of the accordion at parties on the Caiçara farm. He learns how to play the instrument by listening to his father, Januário, a famous accordionist in the region.
1924 The Brígida River floods the Caiçara farm and the family’s home, and they are forced to move to Araripe, a nearby village.
1926 Luiz Gonzaga accompanies Manuel Aires de Alencar, a.k.a Sinhô Aires, owner of vast lands in Exu, on his travels. In Ouricuri, in the state of Pernambuco, he buys his first accordion, with the landowner’s help.
1929 At age 17 he falls in love with a young girl from an important family in the region. Her father is against the relationship and verbally offends him. Luiz picks up a knife and defies him. The man does not fight back, but complains to his mother, who gives Luiz a sound beating. He decides to run away from home and heads for Fortaleza, where he enlists in the Army.
1930 With the Revolution led by president Getúlio Vargas taking hold of the country, soldier Nascimento is sent to missions in many states: Paraíba, Piauí, Pará, and Rio de Janeiro. He ends up in Mato Grosso.
1933 He takes part in an Army accordion-playing competition in Minas Gerais, but is disqualified because he cannot read music.
1939 Discharged from the Army, he goes to Rio de Janeiro. He makes a short stop at São Paulo where he buys a 120-bass accordion, an amazing instrument compared with 8-bass he had learnt to play on.
1940 In order to make a living, he plays at parties, in bars and even in brothels. He plays famous songs, mainly North American, tangos and boleros. He tries his luck playing these songs in radio contests.
1941 He records his first albums in 78 RPM. By the end of the year, he has already 24 recordings: choros, waltzes, mazurcas, but there is still no sign of the music that is so dear to the hearts of the people from the Araripe backlands.
1942 Journalist Aldo Cabral writes a feature article on Luiz Gonzaga for Vitrine magazine. The title: “Luiz Gonzaga, virtuoso do acordeon” (Luiz Gonzaga, accordion virtuoso).
1943 In his first concert outside Rio de Janeiro, he spends about 45 days performing a Curitiba casino. He is hailed as “the greatest Brazilian accordionist”.
1944 Paulo Gracindo from radio station Nacional nicknames him “Lua” (“Moon”) due to his round face, and the name sticks. Everybody starts calling him Luiz Lua Gonzaga. Gonzaga fondly recalls the boys from Araripe who used to call him “moon face”.
1945 He meets attorney Humberto Teixeira, with whom he would have a long-lasting and happy partnership. He begins recording tunes from the Northeast, such as “Dança Mariquinha” and “Penerô Xerém”, both co-authored with Miguel Lima.
- On September 22, in Rio de Janeiro, Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior is born, son of his partner Odaleia Guedes dos Santos, who had already been pregnant when he met her at a dance hall.
1946 He composed his first song with Humberto Teixeira, called “No meu Pé de Serra”. Many others follow, successful songs like “Baião”, “Juazeiro”, “Assum Preto”, “Respeita Januário”. One of them is “Asa Branca”, the hymn of the Brazilian backlands, which was recorded in the following year. It was a huge success that crossed international borders, reaching the USA, Europe and Japan.
1947 The year of the first recording of “Asa Branca”, in March, which topped the radio charts. He travels to Recife, his first time travelling by plane.
1948 He marries Helena Neves Cavalcanti, an adoring fan, on June 16. She handles all his fan mail.
1949 In Recife he meets doctor José de Sousa Dantas, a.k.a. Zé Dantas, who becomes his music writing partner. Days later, in São Paulo, he would go through the embarrassing experience of being barred from the auditorium at Gazeta radio station, known as “the elite radio station”.
1950 Now at the height of his fame. He records two new songs, “Assum Preto” and “Qui nem Jiló”, written with Humberto Teixeira. He travels all around the country, playing for thousands of people. He is already being hailed as the “king of baião”.
1951 On one of his travels, accompanied by musicians André Gomes, a.k.a. Catamilho (on the zabumba drum) and Zequinha (on the triangle), he suffers a car crash which leaves him with six broken ribs. His band mates suffer only minor injuries.
1952 He meets maestro Hervé Cordovil, introduced by singer Carmélia Alves, known as “the queen of baião”. Cordovil would soon compose music with him.
1953 He records three new hits: “ABC do Sertão”, “Vozes da Seca” and “A Vida do Viajante”.
1954 His cousin Raimundo Jacó is shot dead in an ambush. Gonzaga had met his fellow musician Dominguinhos when he was 14, playing the accordion in Garanhuns, Pernambuco.
1955 He forms the band Luiz Gonzaga e seus Cabras da Peste, with Marinês, “the queen of xaxado”, her husband Abdias and brother-in-law Chiquinho. However, the band is broken up due to Gonzaga’s wife Helena’s jealousy.
1956 He adopts a little girl (Gonzaga could not bear children) whom he names Rosa Maria do Nascimento. Two of his songs, “Paraíba” and “Baião de Dois”, are recorded in Japanese by female vocalist Keiko Ikuta.
1960 His mother Santana dies from Chagas disease.
1962 Zé Dantas, his composition partner, dies on March 11. He was 42.
1963 He meets backlands poet Patativa do Assaré, whose “A Triste Partida” he would record in the following year. He records “A Morte do Vaqueiro”, composed in partnership with Nelson Barbalho.
1968 At a party in São João, he meets Edezuilta Rabelo, a lawyer, with whom he falls in love and who would become his partner for many years.
1971 On the third Sunday of July he takes part with Father João Câncio in the first Cattle Ranchers’ Mass and celebration in memory of his cousin Raimundo Jacó, in Serrita, Pernambuco.
1972 After taking a break from playing that lasted several years, due to the new fads of Bossa Nova, Jovem Guarda and Tropicalismo, he gives a presentation organized by poet and composer Capinam at the Tereza Rachel Theater, in Rio de Janeiro. The title of the concert was Luiz Gonzaga Volta para Curtir (“Luiz Gonzaga is back to have fun”).
1973 He breaks his 32-year-old contract with RCA and signs a deal with EMI-Odeon. He records 26 new songs in two years.
1975 One of the songs from this new phase, “Capim Novo”, co-authored with José Clementino, becomes the soundtrack for the soap opera Saramandaia
1978 His father Januário José dos Santos passes away.
1979 Gonzaguinha, his son, records “A Vida do Viajante”, a baião composed by Gonzaga and Hervê Cordovil. Father and son embark on the A Vida do Viajante tour, performing in many towns and cities. Humberto Teixeira, Gonzaga’s beloved friend and writing partner, passes away.
1980 He sings for Pope John Paul II in Fortaleza. The pope thanks him in Portuguese: “Obrigado, cantador.”
1984 He is the recipient of two important awards: Disco de Ouro, for his baião “Danado de Bom”, and the Shell Award.
1985 He receives more awards: Disco de Ouro for his album Sanfoneiro Macho and the Nipper, which was once given to Elvis Presley.
1986 He travels to France for the second time. He performs at a concert in Paris with other Brazilian musicians, playing to an audience of 15,000.
1989 He is admitted to the ICU at hospital Santa Joana in Recife, where he dies on August 2, at the age of 76. Two days later, his body is interred in Exu, in his homeland. Twenty thousand people chant his baião “Asa Branca” in homage.
Bibliography:
Assis Ângelo. Dicionário gonzagueano, de A a Z. São Paulo: Edição do Autor, 2006.
Regina Echeverria. Gonzaguinha e Gonzagão: uma história brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
Gildson Oliveira. Luiz Gonzaga, o matuto que conquistou o mundo. Recife: Comunicarte, 1991.
Sinval Sá. Luiz Gonzaga, o sanfoneiro do Riacho da Brígida. Fortaleza: Realce Editora, 2002.
AUDÁLIO
DANTAS
Journalist and author, Audálio Dantas has written more than ten books, including As duas guerras de Vlado Herzog, winner of the Jabuti Award for reporting essay and elected non-fiction book of the year by the Câmara Brasileira do Livro. It has also won the Juca Pato award – Intellectual of the Year by the Brazilian Writers Fellowship. Other works are Tempo de reportagem; O menino Lula; and O Chão de Graciliano, with photos by Tiago Santana (winner of the 2007 APCA award). He compiled The Diary of Carolina Maria de Jesus, later published as Quarto de despejo (Child of the Dark: The Diary of Carolina Maria de Jesus), which has been translated into thirteen languages. He has worked for various cultural and professional organizations. In 1981, he received a UN award for his work on human rights. He is the head of the National Commission of Brazilian Journalists for Memory, Justice and Truth, and executive director of Negócios da Comunicação magazine.
TIAGO SANTANA
Photographer, Tiago Santana has been creating photography essays on Brazil and Latin America since 1989. In 1994, he received the Vitae de Artes scholarship with the Benditos project, a book of the same name published in 2000, and the Marc Ferrez Photography award, in 1995. In 2007, he was awarded the Conrado Wessel Photography Essay and the APCA awards for his book O Chão de Graciliano, which he co-authored with journalist Audálio Dantas. He was awarded Best Photographer in Brazil in 2007, 2008 and 2009, and the Porto Seguro Brazil Photography Prize in 2010. In 2011, he was the second Brazilian photographer to have his work published in Photo Poche, the French photography collection. Santana has organized various photography festivals and exhibitions throughout Brazil, and is founder of Tempo d’Imagem publishing house.
VERSIÓN EN ESPAÑOL
EL CIELO DE LU(I)Z: UNA ESTRELLA BRILLA EN EL FIRMAMENTO
DANILO SANTOS DE MIRANDA
Director Regional del Sesc de San Pablo
Sabemos que la riqueza de una manifestación artística se estructura históricamente en términos culturales, económicos y sociales, o sea, en las súmulas que la engendraron tal como es. Sin embargo, existen algunas tramas que nos hacen pensar que hay algo de intangible y misterioso en el desarrollo de los acontecimientos.
Así sucedió con Luiz Gonzaga, cuando le propuso nuevos ritmos al acordeón, cuando compuso ese personaje cuyas palabras, movimientos y trajes exaltaban el contexto del nordeste.
Era un momento de intensa migración del nordeste hacia otros estados de Brasil. Por eso, él respondió de forma precisa y simultáneamente a una demanda de consumo cultural, creación artística y entretenimiento.
El hecho es que si se tratara de una actitud deliberada, seguramente no podría haber previsto la dimensión de esos resultados. Tal vez su deseo era apenas el de compartir con su gente, y otra gente, las memorias de su origen para que entendiesen y sintiesen la nostalgia, pero no la soledad. Si no, ¿cómo explicar la saga de un niño que nació en el semiárido de Pernambuco y, siguiendo los pasos del padre – que nunca excedió esas fronteras – se transformó en una referencia para la música brasileña? ¿Cómo describir la trayectoria del acordeonista que contempló y sobrepasó la identidad local del nordeste?
Tal vez las palabras, aliadas a la fuerza de las imágenes, puedan ilustrar este exponente de creatividad que hasta hoy resuena en el firmamento de la música del nordeste en sus extensas inflexiones. Para el Sesc, la valorización de la diversidad auténtica de nuestro país que se muestra en este registro es importante para el continuo reconocimiento y construcción de nuestra identidad, en un proceso de educación y formación permanentes.
LA LUZ DE LUIZ
AUDÁLIO DANTAS Escritor y periodista
En la madrugada del 13 de diciembre de 1912, el acordeonista Januário José dos Santos aguardaba, afligido, el nacimiento de su segundo hijo. Su mujer, Ana Batista de Jesús, sufría los dolores del parto gimiendo bajito, lo que aumentaba todavía más la angustia del marido. Januário escapó de esa agonía por la puerta de adelante de la casa de adobe y corrió a buscar a la partera, a la que por coincidencia llamaban Madre Januária.
Por el camino, miró el cielo y respiró el aire fresco traído por el viento que soplaba por los lados del Riachuelo de la Brígida. La noche clara le permitía ver en lo alto la imagen recortada de la Sierra de Araripe.
Fue en ese momento que vio una estrella fugaz atravesando el cielo con su último brillo, un brillo intenso, rápido, huidizo.
Al volver a casa, sin aliento, no tardó mucho en oír el llanto fuerte que venía del dormitorio anunciando el nacimiento. Era un varón. “¡Un gurí hombre!”, gritó la partera.
Al niño no se le dio apellido ni de madre ni de padre. En el bautismo, realizado en la iglesia matriz de Exu, ciudad azotada por el sol en el semiárido pernambucano, quien compuso su nombre fue el cura vicario. Comenzó por Luiz, elección del padre, luego le agregó Gonzaga, en homenaje al santo de su devoción y, en seguida, decretó que sería do Nascimento. Listo, el niño sería bautizado con el nombre completo de Luiz Gonzaga do Nascimento.
Había una explicación para que el niño recibiera ese nombre. Además del nombre del santo, el cura añadió do Nascimento por ser diciembre, mes del nacimiento de Cristo. Y aún más: el 13 de diciembre es el día de Santa Lucía, santa que protege la luz del mundo y que tiene luz en el propio nombre. Luiz también viene de luz.
No se sabe con seguridad, pero es muy probable que Januário le haya contado al cura sobre la estrella fugaz, que dejó una estela de luz en el cielo cuando el hijo estaba por nacer.
Aún hoy, y creo que durante mucho tiempo o quizá para siempre, escucharemos su voz atronadora y veremos su semblante altivo cada vez que recorramos los lugares de Brasil. Ciudad grande e interior, interior y ciudad grande, Luiz Gonzaga siempre estará con nosotros por ahí.
Y para completar esta historia de tantas luces en el nombre del niño, cuando ya era más grande, delgadito y de cara redonda, algunos compañeros de juegos le decían cara de galleta. Otros decían que tenía cara de luna. Se trataba de un chico lleno de luz.
Por las tierras que van descendiendo después de las primeras escarpas de la Sierra de Araripe, corre el Riachuelo de la Brígida, un río pequeño del semiárido, un poco incierto, que
a veces cobra volumen y se desparrama por las vegas; en las épocas de seca, se encoje hasta transformarse en un hilito de agua que desagua en el río Brígida para encontrarse después con las aguas caudalosas del río San Francisco.
El riachuelo Brígida nace ahí mismo, en las tierras de la hacienda Caiçara, donde también nació el niño Luiz. Fue siguiendo su curso, ya formado río, que en el año 1709, llegan de las bandas de Cabrobró, a orillas del San Francisco, los primeros Alencar, que de tanto acumular tierras tuvieron hasta un barón en la familia. También contaron con una mujer guerrera, Bárbara de Alencar, heroína de la Revolución Republicana de 1817 y, más tarde, con un escritor fundamental: José de Alencar, su nieto.
Fue en las tierras de los Alencar que el niño Luiz creció, cazando, pescando y zambulléndose en el Brígida, pero también ayudando en las tareas de llevar los caballos a beber agua, la misma que llevaba en vasijas para casa – aquel río tenía muchos usos.
Y fue el propio Brígida, transformado en una enormidad de agua, que invadió su casa en 1924 y obligó a la familia a mudarse a Araripe, poblado bien cuidado y con calles trazadas, donde se levantaban las casas de los Alencar. En la más grande e imponente vivía Gualter Martiniano de Alencar Araripe, el Barón de Exu, y junto a esta, pegada, sólida y bien construida estaba la casa de esclavos. Había también una iglesia dedicada a San Juan, el que aparece niño aún, con una oveja en brazos. Era una iglesia grande, mayor que ella solo la de Bom Jesus dos Aflitos, matriz de Exu. Un día, ya hecho hombre y famoso, Luiz evocaría el Brígida en una de sus canciones:
Ah, menino, se esse rio falasse
Quanta coisa que ele tinha pra contar.
Ah, quanta festa
Quanto samba sem horário
Eu e meu pai Januário
Nós tocando sem parar
São as lembranças
Nessas águas a rolar.1
Januário era más que un simple acordeonista, también arreglaba y afinaba acordeones con maestría. En su casa tenía un rincón de trabajo, para ganarse la vida. Acordeonistas de todo el semiárido de Araripe venían a él para arreglar sus instrumentos. Ese rincón era el taller, pero cuando Januário se cansaba de trabajar con teclas, botones y fuelles, se transformaba en lugar de conciertos. Tomaba el acordeón
de 8 bajos, siempre afinado, y de él extraía la música más elaborada. Si estaba por ahí cerca, el niño Luiz se acercaba despacito, con los oídos muy atentos.
El padre crecía ante sus ojos, se iluminaba tocando el acordeón. Cuando Januário salía, Luiz aprovechaba para puntear el instrumento estirando torpemente el fuelle. Pero al poco tiempo ya producía música que no sabía cómo le venía a la cabeza.
Al comienzo, su madre, conocida en casa y por todos como Santana, se enfadaba e imponía su autoridad:
– ¡No seas entrometido, niño! ¡Deja de toquetearle los instrumentos a tu padre! ¡Ve a llevar el burro a beber agua!
El niño salía sin ganas, montaba el animal, que se movía con la lentitud de los burros, mientras Santana apoyada en el marco de la puerta rezongaba:
– ¡Dónde se habrá visto, aún se mea encima y ya tiene ínfulas de acordeonista!
La casa de Januário se agitaba los fines de semana, cuando llegaban los clientes con acordeones para arreglar o para retirar los que habían dejado para reparo. Algunos venían de lejos a buscar sus instrumentos. Si Januário no había conseguido terminar el trabajo, prometía entonces hacerlo de inmediato. Que esperasen, que se acomodaran ahí mismo, en su casa –siempre había hamacas para que el cuerpo descansara.
A veces el arreglo era complicado, demoraba y el cliente se quedaba por ahí, esperando. Espabilado, Luiz entraba en escena. Se ofrecía a acompañarlo a una cazada por ahí cerca, lo que además de divertido, rendía carne para el almuerzo. O más interesante, tal vez, fuese ir a una feria en uno de los poblados cercanos, como Baixio dos Doidos donde, insinuaba, podía encontrarse buena carne seca de cabra. De esa forma ayudaba a completar los almuerzos del sábado y del domingo.
Las visitas a las ferias podían ofrecer más que la cabra seca que el cliente de Januário llevaba de regalo. Si había algún acordeonista conocido alegrando a la clientela para ganarse unas monedas, Luiz pedía que lo dejará tocar un poco. Y así, aunque cometía errores de principiante, se fue haciendo conocido y admirado. “Ese chico es muy bueno con el acordeón”, decían. Y añadían:
– ¡También, siendo hijo de Januário!
Al volver de la feria, Luiz le pedía al cliente que no mencionara que había tocado el acordeón. La madre, sobre todo, no quería verlo tan pronto recorriendo mundo. Pero allí mismo, en el poblado de Araripe, había samba casi todos los fines de semana en lo de Miguelzinho, vecino y amigo de la familia. Samba se le decía a los bailes que ocurrían al
pie de la sierra, pero el sonido del acordeón difundía todo tipo de música – xote, baião, xaxado, pero también música extranjera, como el tango argentino.
El sonido del acordeón de Luiz causaba admiración. Conocía cada vez mejor el instrumento. Pero el comienzo de esa carrera de éxito no había sido de los mejores. Lo que sucedió es que el acordeonista con el que Miguelzinho había combinado no apareció. A último momento, cuando todo el pueblo ya se juntaba para bailar, recurrió a Januário, que se negó por no querer tocar donde sus hijas bailaban.
Miguelzinho, desesperado, insistió:
– Entonces, déjalo a Luiz. Toca muy bien.
Januário no se atrevió a responder antes de consultarlo con Santana, que salió de la casa decidida a negarse. La conversación se hizo larga; Miguelzinho estaba tenso, preocupado con la gente que estaba en el patio esperando el baile. Finalmente Santana se rindió. El niño podía ir, pero si le diera sueño en el medio del baile, ¿qué harían? Apurado, Miguelzinho dijo que no habría problema, lo acostaba en una hamaca y listo.
El niño tocó hasta no poder más, perdido de sueño en el medio de la noche. En la hamaca, profundamente dormido, soñó que tenía la vejiga llena y orinaba. De madrugada, cuando aún estaba oscuro, se dio cuenta que se había mojado los pantalones. Se los quitó y se volvió a dormir. Ya de mañana, los buscó en el suelo a su alrededor, pero no los pudo encontrar. Decidió que era mejor desparecer y salió por el fondo del patio tapándose las partes pudientes con las manos, aunque a esa hora no hubiera nadie transitando por allí.
Ya avanzado el día apareció Miguelzino con los pantalones de Luiz todavía húmedos. A Santana le causó mucha gracia, porque, como bien decía, el niño metido a acordeonista todavía se meaba encima.
Pero Luiz no era requerido solo para tocar el acordeón. Espabilado, conversador y siempre dispuesto a ayudar, a todos les gustaba su compañía y muchas veces también lo requerían para alguna changa. Quien mucho lo apreciaba era José Carvalho, dueño de tierras en Caririzinho y conocido como Zé Lilica. De vez en cuando aparecía por Araripe, golpeaba la puerta de Januário y decía que quería llevarse al niño a pasar unos días en su casa.
En una de esas visitas a Cararizinho, a Luiz se le ocurrió bromear con el sastre local, cuyo sobrenombre era Neném Péde-Bolo. Al tipo no le gustó el chiste y le dio una bofetada. Cuando Zé Lilica se enteró, se puso hecho una fiera. No toleraba desplantes a su gente. Se puso el revólver en la cintura, sujetó al niño por el brazo y se fue a pedirle explicaciones a Neném. No bien llegó, empezó a insultarlo y en seguida le pasó la palabra a Luiz:
– ¡Dile que es un cornudo, díselo!
El chico se encogió sin coraje de decir semejante cosa, pero Lilica insistió: “¡Vamos, lo mando yo!” Tenía un nudo en la garganta, pero de a poco se le fue aflojando y cuando quiso darse cuenta, Luiz estaba maldiciendo con gusto, repitiendo todas las palabrotas que Lilica le ordenaba, de marica para arriba, hijo de esta, hijo de aquella, además de una que gritó por cuenta propia:
– ¡Sujeto!
No sabía el significado de la palabra, pero entendía que era muy ofensiva. Sinhô2 Aires, un Alencar poderoso en aquella parte del semiárido, la usaba contra la gente incapaz, descalificada. “Ese no pasa de un sujeto sinvergüenza”, decía.
Al oír esa maldición, Pé-de-Bolo dio un salto, la cara roja, en llamas. Juntó coraje y protestó:
– El chico puede decir todas las palabrotas que usted le mande, señor Zé Lilica, pero sujeto…¡ esa sí que no!
No fue necesario mucho tiempo para que Januário reconociera el talento de Luiz, que conseguía extraer música de cualquier acordeón que llegara para arreglo o afinación. Un día, decidido, le dijo a la mujer:
– Voy a llevarlo a Luiz conmigo, ya sabe tocar y puede ayudarme en las fiestas.
De ahí en adelante, era raro el fin de semana que no viajaran los dos juntos. Tocaban en cualquier cuchitril de los alrededores, al pie de la Sierra de Araripe o, muchas veces, subiendo hasta la meseta. Alegraban las fiestas en poblados más grandecitos – Baixio dos Doidos, Tabocas, Cajazeira do Faria – y hasta en lugares más importantes, calles grandes, como Rancharia, Granito y Bodocó. Recorrían distancias de muchas leguas, a pie, cargando en la espalda una ropa mejorcita para presentarse en las fiestas y, con todo cuidado, el ocho bajos de Januário.
Esos viajes le encantaban al niño. De cualquier punto en que estuviera podía ver, azulada a la distancia, la Sierra de Araripe, que se estiraba en dirección a Crato, ciudad famosa en toda la región de Cariri, y luego seguía rumbo a Piauí. Más allá de la sierra, imaginaba, se extendía el mundo que soñaba conocer un día, cuando se hiciera famoso tocando su acordeón, que seguramente no sería un humilde ocho bajos y sí uno grande, brillante y de sonido poderoso.
En los aleros de los patios de barro pisado donde se armaban los forrós3, Luiz punteaba el acordeón con gusto, mientras el padre descansaba. Era una alegría ver a la gente bailando feliz, levantando polvo del piso. Empezaba a prestarle atención a las muchachas morenas que movían las caderas; dividía su atención entre el fuelle y la gracia con la que ellas
bailaban el xote. Orgulloso con sus vaqueros azules, arriesgaba miradas y guiños a las más bonitas.
Años después, ya famoso en todo el país, compondría con Zé Dantas un xote que evocaba a esas niñas que se iban haciendo mujeres y solo pensaban en noviar.
Su fama de tocador iba en aumento y de él se hablaba hasta en Bodocó y en la propia ciudad de Exu. Ahora ya recibía invitaciones personales para tocar incluso sin la presencia del padre. Pero eso era para él inimaginable, no solo por no atreverse a salir de casa sin permiso, sino también por respeto a Januário, que era el mejor tocador de acordeón de toda aquella región del semiárido. Ese respeto inspiraría más tarde un baião, que compuso junto con Humberto Teixeira:
Luiz! Respeita Januário
Tu pode ser famoso
Mas teu pai é mais tinhoso
E cum ele ninguém vai, Luiz!
Luiz!
Respeita os oito baixo do teu pai.
No era solo por cómo tocaba el acordeón que Luiz era admirado. Personas importantes de Araripe y alrededores lo admiraban por su vivacidad e inteligencia. “Ese chico –decían – precisa aprender a leer, tiene que ir a la escuela”. Otros vaticinaban:
– Ese chico va a ser importante.
Un día, el propio coronel Manuel Aires de Alencar, el Sinhô Aires, fue a pedirle permiso a Januário para que Luiz pasara unos días en su casa, donde podría aprender las primeras letras con sus hijas adolescentes.
Fueron días de mucha alegría. Además de aprender el abecedario, Luiz participaba de los juegos con los demás niños y exploraba todos los rincones de la hacienda. A la hora de comer, se sentaba en la mesa con toda la familia y aprendía a usar los cubiertos. Se sentía importante, como si fuera un Alencar.
Prefería no pensar mucho en ese asunto, pero había oído historias. Se decía que su madre, Santana, era una Alencar. Había gente en Exu que garantizaba el parentesco que venía de lejos, de algún punto del trayecto de la familia, cuyo fundador, el portugués Leonel de Alencar Rego, un día, a comienzos del siglo XVIII, había seguido rumbo a la naciente del Riachuelo de la Brígida para echar raíces en las tierras de la hacienda Caiçara, la renta de las cuales pagaba a Francisco Dias D´Ávila, señor de la Casa de la Torre, en Bahía.
Era una historia de la que Santana no quería oír hablar. Querían reírse de ella. ¡Dónde se habrá visto, con su color oscuro, ser pariente de los Alencar! Unos nobles que, no sabía decir con seguridad, eran dueños de aquel semiárido hacía más de 200 años. Lo mismo pensaba Luiz, a pesar de la cálida acogida que recibía en la casa de los Alencar.
Cierta mañana, con el sol ya alto, el coronel Manuel Aires de Alencar se detuvo bruscamente en el patio de la casa de Januário montado en un imponente caballo alazán y sin rodeos dijo:
– Januário, vine a pedirle permiso para llevarlo a Luiz a un viaje largo, a Belmonte.
Luiz corrió a cuidar el caballo, tirándolo del cabestro hasta la medianera de la casa, donde había sombra. Enseguida volvió, ansioso por seguir la conversación.
El viaje a Belmonte, una ciudad lejana, más allá de Salgueiro, lo entusiasmaba. Como quien no quiere la cosa, se fue acercando, oídos atentos. Ya se veía montado en un buen caballo, con montura suave, en compañía de ese hombre importante. Era una oportunidad de conocer lugares de los que solo había oído hablar, de descubrir un mundo nuevo.
Sinhô Aires era importante no solo por ser dueño de tierras en el semiárido de Araripe. Su fama llegaba a otras regiones del semiárido por donde andaba en misión de abogado, un letrado muy competente que defendía causas intrincadas, principalmente cuando se trataba de gente que no tenía recursos para defenderse. Por ese trabajo fue reconocido y nombrado diputado. Era un hombre de gran valor.
La conversación sobre el viaje se hizo larga. Januário indeciso, temeroso, no quería tomar la decisión sin consultar a su mujer, que había ido a buscar agua a un pozo distante. Cuando Santana volvió y se enteró de la propuesta de Sinhô Aires, las cosas se arreglaron de inmediato; a ella le hacía ilusión el viaje de Luiz.
Fue un viaje largo, de varios días. Luiz volvió importante, contando historias, hablando difícil. Y hubo otros viajes. Entre ellos, uno a Ouricuri, que cambiaría el rumbo de su vida. Al volver de Belmonte, por sugerencia de Sinhô Aires, fue a trabajar de ayudante de albañil en una construcción cerca de Araripe. El trabajo era duro, de sacar callos en las manos y castigar la espina, pero ganó bastante dinero.
En Ouricuri, donde ya había estado en compañía de Januário, tocando en fiestas con el viejo acordeón de 8 bajos, hacía tiempo que Luiz estaba enamorado de uno diez veces más potente, de 80 bajos, de la afamada marca Veado. Todo amarillo, brillante, el acordeón era una tentación en la vidriera de la tienda. Costaba mucho, 120 mil réis, pero estaba decidido a comprarlo. Tenía la mitad del valor en el
bolsillo, resultado de dos meses de trabajo como ayudante de albañil. Estaba dispuesto a gastarlo todo en la compra. Con mucha dificultad para articular las palabras, consiguió preguntarle al Sinhô Aires:
– ¿Puede fiarme el dinero que falta?
El coronel no titubeó, entró en la tienda y cerró negocio. En vez de fiarle el dinero, pagó el acordeón al contado. Luiz se lo devolvería cuando pudiera.
Y pudo devolvérselo muy pronto. Su fama se extendió rápidamente por la Sierra de Araripe, desde Pernambuco hasta Ceará. Su forma de tocar, aún más con el nuevo acordeón, causaba gran admiración. En algunas fiestas llegó a ganar más de 20 mil réis y, en menos de un mes, golpeó a la puerta del coronel Alencar:
– Aquí tiene, Sinhô Aires, los 60 mil-réis que le debía.
Un espanto, una certidumbre. Aunque el muchacho, agradecido, continuara ofreciéndose a servirle en lo que fuera necesario, Sinhô Aires sabía que acababa de perder a un excelente y atento compañero de viaje: ese muchacho que podía tanto dominar un fuelle como tratar bien y arrear caballos.
El semiárido de Araripe acababa de ganar un nuevo maestro del acordeón. Verlo y oírlo tocar era un espectáculo. A los casi 15 años, había cambiado mucho, hasta en la voz. Estaba orgulloso de tocar en fiestas de gente importante, dueños de tierras. Pero aquello no era solo alegría. Llevaba encima como un disgusto desde cuando comenzó a acompañar al padre a las fiestas: aunque respetado por dominar el arte de tocar un instrumento, no pasaba de un negro más en los patios armados para los forrós.
La cosa funcionaba así: los dueños de casa y tierras alrededor, aunque no tuviesen la blancura deseada, bailaban en el salón reservado para la familia y sus invitados especiales, todos considerados blancos. Ya en el patio, debajo de unos techos de chapa, bailaban los agregados, los habitantes del lugar. Ahí se podía tener hasta ojos azules, pero no por eso se dejaba de ser negro. Lo único que igualaba a todos era el sonido del acordeón.
Para garantizar esa separación, el acordeonista tocaba en la puerta de entrada de la casa para distribuir la música entre el salón y el patio. Cuando la casa era muy grande, de un señor más poderoso, se contrataban dos acordeonistas, uno para el salón, generalmente más famoso, y otro para el patio, armado más lejos.
Luiz ya había conquistado el derecho de tocar en los salones, pero eso no lo enorgullecía. Si el hecho significaba el reconocimiento de su arte, no por eso se sentía menos molesto.
El acordeón amarillo y brillante repleto de sonidos le había
brindado la posibilidad de concretizar antiguos sueños. Ese acordeón era su libertad.
Hubo un tiempo en que soñaba tocar un 8 bajos para que el bando de Lampião bailara xaxado4 . Recomponía en su cabeza las historias que oía sobre esos hombres que usaban ropa medio de vaqueros, medio de bandidos, con sus sombreros doblados llenos de estrellas que brillaban, cartucheras y puñales atravesados en la cintura.
Recordó un día en que, corriendo como remolino por el poblado de Araripe, se esparció la noticia de que Lampião estaba llegando. Venía de los pagos de Granito, pasaría por Araripe destruyendo y adueñándose de todo, incluso de las riquezas de los Alencar. De allí se dirigiría a Exu, después iría a Crato y a Jauzeiro do Padim Ciço.
Fue una correría, todos yendo a esconderse a los matorrales. Januário dudaba, pero acabó acomodándose con toda la familia en la orilla derecha del Riachuelo de la Brígida, lejos del camino de Exu, bajo una quixabeira5 que se extendía en ramas arqueadas que casi tocaban el suelo. Si Lampião pasase por allí, ni se iba a enterar de que había tanta gente debajo de ese árbol. Hasta se podría justificar una casi blasfemia que le atribuían:
Dios es grande, pero el matorral es aún mayor.
Allí, debajo del árbol todos, menos Luis, temían la llegada de los cangaceiros6 . A él esos hombres valientes no le daban miedo. No precisaba la protección del matorral, que en esa región era manso, ni llegaba a los pies de la agresiva caatinga7 donde se refugiaba Lampião.
De Lampião, ni siquiera la sombra apareció en Araripe. La vida retornó a su ritmo calmo y pacífico. Y Luiz permaneció por sus pagos, con algunas escapadas, pequeños viajes por los alrededores para tocar en los forrós. Su sueño pasó a ser el acordeón grande que finalmente consiguió.
Con él, pensaba, llegaría lejos, mucho más allá de la sierra. Muchos años después, cuando ya recorría los caminos de la fama, atravesando todo Brasil, le contó su sueño a Sinval Sá, su sensible biógrafo:
– Soñaba, como en un delirio, con una noche de gloria. Usaría un traje nuevo de tela vaquera y calzaría alpargatas y caminaría por las calles para que me vieran bien vestido, con el acordeón nuevo colgado al cuello. Todo el mundo me admiraría. Y me haría famoso. Me llamarían para tocar en otros lugares, hasta en Crato.*
Crato, ciudad noble al pie de la misma sierra, del lado de Ceará, no quedaba lejos. Un día, después de una penosa travesía, llegó a la ciudad con el acordeón a la espalda y mucho coraje. Desde allí conquistaría el mundo, con escala en Fortaleza.
Luiz tendría entonces unos 17, casi 18 años. En realidad, se había ido de Araripe escondido, huyendo de la vergüenza de haber recibido una paliza de su madre.
Y todo por culpa del amor que le embargaba el corazón.
Era un amor imposible, rechazado por el padre de la niña, de nombre Nazinha, blanca y bonita, mientras que él era pobre y de piel oscura, apenas un acordeonista. Luiz no quería cargar más afrentas y decidió enfrentar al padre de la niña en el medio de la feria de Exu, desfachatez que su madre no le perdonó. ¡Dónde se habrá visto!: ¡un mocoso enfrentando a un hombre importante de por aquí! Tampoco él pudo perdonarle a Santana la paliza que le dio cuando ya era casi un hombre hecho y derecho.
Cosas del semiárido que había quedado atrás.
Un día, casi veinte años después de haber dejado su tierra, la fama de Luiz llegaba a todos los rincones de Brasil. Pero la nostalgia pudo más y decidió volver. Volvería a su tierra por segunda vez. Sería tan solo un paseo, un reencuentro con su gente y con el paisaje de su infancia. Estaba ansioso por extender la mirada sobre las vegas del Riachuelo de la Brígida y, después, subir por la Sierra de Araripe hasta la cima, que parece haber sido cortada con un golpe certero de machete para formar la meseta.
Volvía al pie de su sierra. Volvía con Helena, con quien se había casado hacía poco tiempo. Quería compartir con ella la alegría de rever su tierra, la misma que lo había inspirado a escribir un baião llamado Asa Branca. Compuesta con su querido compañero, Humberto Teixeira, la canción evocaba los tiempos de seca extrema y el renacer verde después de la primera lluvia, cuando “el verde de tu ojos se expande en la plantación”.
A su regreso, el semiárido estaba verde, pero en Exu, su tierra natal, el suelo estaba manchado de sangre. En aquellos días había comenzado una guerra que se prolongaría por más de treinta años. Dos grandes del lugar, un Alencar y un Sampaio, se habían enfrentado. Uno murió en el enfrentamiento y el otro fue muerto en venganza. El espíritu vengativo se había apoderado de las dos familias y flotaba, amenazador, sobre la ciudad. Otra familia, la de los Saraiva, también entraría en la guerra. Dispustas políticas.
En cuanto llegó a Salgueiro, en el semiárido pernambucano, Luiz se enteró de la guerra declarada en Exu. Le aconsejaron no pisar su tierra, que estaba en alboroto, un pedazo del semiárido en descomposición. Aún más él, tan cercano a los Alencar.
Decidió entonces pasar de largo e ir directo a Crato. Desde allí mandaría a buscar a su gente para el tan esperado reencuentro.
Restó la frustración de no haber podido ver su pedazo exacto del semiárido: el pueblo de Araripe.
Muchas veces a lo largo de los años y de su ascensión como artista, Luiz volvería a su tierra, donde la guerra entre las familias continuaba. Un día consiguió llegar hasta el vicepresidente de la República, Aureliano Chaves, que en ese momento ocupaba la presidencia, para pedirle que tomara medidas para acabar con el derramamiento de sangre en Exu, que ya le había costado la vida a más de 40 personas. En un arreglo con el gobernador de Pernambuco, Marco Maciel, se decretó una intervención militar en el municipio. Enviaron al mayor de la Policía Militar Jorge Luiz de Moura, que impuso orden con mano de hierro con sus más de diez soldados. Poco a poco las peleas entre las familias se fueron acabando.
Fue la fama de Luiz la que un día le mostró a Brasil una nueva música, el baião, que tenía “un no sé qué que los otros ritmos no tienen”. En realidad, son sonidos del fondo del alma del pueblo del nordeste, que se esparcieron por todo el mundo. Primero fue él, el “Rey del Baião”, que recorrió todo el país. Después fueron sus canciones que rompieron fronteras y llegaron a Estados Unidos, Francia, Inglaterra e incluso Japón, del otro lado del mundo.
Transitando a los pies de la sierra, su música resonaba, no como una novedad y sí como sonido de un patrimonio colectivo, antiguo, recreado y devuelto a su pueblo.
En Araripe, Cariri, de Pernambuco a Ceará, e incluso en Piauí, a Luiz se lo recuerda y ama como parte de su propia gente.
Luiz Gonzaga do Nascimento revive en el corazón de su pueblo.
En 2012, cuando se celebró el centenario de su nacimiento, la ciudad de Exu con sus 30 mil habitantes y todo el semiárido de Araripe se alborozaron en una gran fiesta que se prolongó desdoblada en forrós, loas a los santos, casamientos y bautismos.
En la feria de Exu, que ocupa la plaza principal, delante y detrás de la iglesia matriz de Bom Jesus dos Aflitos, y que se desparrama por las calles transversales, el sonido de los acordeones, tocados en vivo, se mezcla con el de los equipos de los muchos puestos que venden CDs piratas. Pero el sonido, así mezclado, es casi siempre el mismo: el de baiões, tonadas, xotes, aboios, extraídos de la poderosa respiración del acordeón de Luiz o de sus seguidores. Hay grabaciones baratas de conjuntos que se extienden por el semiárido. Uno de los más admirados está bajo el comando de Joquinha Gonzaga, orgulloso sobrino del “Rey del Baião”, con quien tocó desde que se inició en el arte del acordeón. Existen también otros, como Cabras de Gonzaga y Seguidores do Rei
La feria tiembla cuando pasa, con los altoparlantes a todo
volumen, un auto anunciando un forró esa misma noche en el Club de los Vaqueros; fiesta barata – “donde el hombre paga tres reales y la mujer no paga nada”. La música de fondo es, obviamente, de Luiz Gonzaga, el baião Forró de Mané Vito, compuesto con Zé Dantas.
La ciudad se cubre de sonidos e imágenes de Gonzaga. Pegado al fondo de la iglesia, un escenario gigantesco que sobró de la fiesta de cien años del cantor, cuando se presentaron allí artistas famosos. En los postes de iluminación, en fila, aparece el rostro sonriente del acordeonista, multiplicado en otros sitios, en muros, paredes, fachadas de casas comerciales, en bares.
En la Casa del Artesano, espacio construido por la municipalidad de Exu en el centro de la ciudad, los artistas populares exhiben y venden sus obras. No es necesario aclarar que la mayoría de las figuras en barro, madera o paja, reproduce la imagen de Luiz Gonzaga, pero también hay otras del semiárido, que fue su inspiración. Los pequeños puestos de venta de artesanías llevan el nombre de sus canciones: Asa Branca, Assum Preto, Juazeiro, todas ellas compuestas con Humberto Teixeira. En la pared del puesto Regreso del Rey8 hay escrito un verso: “Tô de volta pra ficar no meu sertão” (“He vuelto para quedarme en mi tierra”).
En el medio de la feria, sombrero de cuero gastado, la cara del color del bronce iluminada por el sol alto del mediodía, el viejo vaquero Antônio Jovino exclama delante de un muro en el que está dibujado Luiz tocando el acordeón:
– ¡Ese fue un hombre de valor!
– ¿Usted lo conoció, Sr. Jovino?
– ¡Pero si fui vaquero de él!
No es que Jovino haya sido empleado de Gonzaga, que tenía allí cerca, bordeando la ciudad, una hacienda que antes se llamaba Itamaragi y después pasó a ser Asa Branca, con una casa grande y todo, que compró cuando volvió a vivir a Exu. Jovino quiso ser vaquero en la hacienda, no por obligación, sino por puro gusto de ver de cerca a aquel hombre famoso, ayudar a criar el ganado, unas 300 cabezas. Recuerda la canción de Luiz que más le gusta:
Vai, boiadeiro, que a noite já vem
Guarda o teu gado e vai pra junto do teu bem.9
A los 80 años, Jovino no cuida más ganado. Ya casi no existe gente como él, vaquero de verdad, de esos que se internaban en la caatinga para enlazar bueyes feroces. Eso se está terminando. Ahora, dice, arrean buey hasta “con esas mota”. Jovino se refiere a un fenómeno del progreso que provocó la invasión de motocicletas, que tanto transportan gente en la ciudad como se usan para pastorear ganado. Pero Jovino explica:
– Esas mota solo sirven en pasto limpio. En los matorrales cerrados no entran, no.
Otro vaquero, José Praxedes, pasados los 80 años, trabaja actualmente como guía en el Parque Aza Branca, así con Z, que era como Gonzaga lo escribía. José pasa el día en el parque, mostrando todo lo que hay para ver, un gran espacio cercado por muros al borde de la BR-232, que une Recife a Araripe y que, en la década del 70, recibió el nombre de Luiz Gonzaga.
Dentro del parque, Praxedes tiene mucho para mostrar: el mausoleo donde está sepultado Luiz Gonzaga do Nascimento, su padre Januário, y su madre Santana; el museo de Gonzagão, que cuenta con un rico acervo sobre la vida del acordeonista, y también la casa en que su padre Januário pasó sus últimos días. Además de guía, Praxedes cuenta la alegría que fue trabajar con el famoso cantador. Le gustaba verlo en el pórtico de la casa grande, cuando iba a rendir cuentas sobre el ganado, cuántas vacas preñadas, cuántos terneros nacidos, uno que otro novillo “enloquecido”. Allí sentado en una silla grande, Gonzaga más parecía un coronel que un cantador. Praxedes hace esa observación y afirma con orgullo:
– Fui su último vaquero.
Praxedes aún entona, en los momentos de añoranza, unos aboios10 antiguos. Recuerda que Luiz Gonzaga siempre volvía a Exu cuando sentía nostalgia. Vivía en el mundo, tocando y cantando en todas partes, hasta en el exterior, pero siempre llevaba el semiárido en el corazón. Le gustaba oír los aboios. También estaba la historia de un vaquero, primo suyo, Raimundo Jacó, que murió en una emboscada en la caatinga. Gonzaga hasta le compuso una canción. Praxedes recuerda algunos versos:
Gado muge sem parar
Se alembrando do vaqueiro
Que não vem mais aboiar.11
Fue en memoria de Raimundo Jacó que, en 1971, el padre João Câncio, amigo de Gonzaga, celebró por primera vez en Serrita, ciudad próxima a Exu, la Misa del Vaquero. Luiz estaba presente con su acordeón y su voz. Vinieron vaqueros de los alrededores, pero también de Paraíba y de Ceará. Todos a caballo con montura de cuero, ¡un bonito espectáculo! A partir de entonces, el acordeonista venía todos los años para la misa, que se hizo tan famosa que comenzó a celebrarse también en otras partes del semiárido. Se transformó en una fiesta linda y conocida. Y tanto es así, que todo tercer domingo del mes de julio se festeja el Día Nacional del Vaquero.
Hoy en día, quien toca en la Misa del Vaquero es Joquinha
Gonzaga, sobrino de Luiz. Nació en Río de Janeiro en 1952, cuando el tío llevó allí a toda la família. Creció oyendo y tocando el acordeón, acompañó al “Rey del Baião” en shows por todo Brasil tocando un 120 bajos. En el medio de los shows, Luiz lo presentaba:
– Este es Joquinha, mi sobrino. ¡Toca como los dioses!
Hoy Joquinha vive en Exu, en una casa confortable en el centro de la ciudad. Para todos allí es el sobrino del Rey. No sabe explicar por qué se mudó a Exu después de haber vivido el éxito en tantos lugares. Como todo lo que le pasó en la vida, entiende que fue por inspiración de su tío que volvió allí. Es como si fuera su ciudad natal. Después de la muerte de Gonzaga, siguió tocando acordeón en carrera solo, haciendo shows por todo el Nordeste. Ya grabó 15 discos entre LPs y CDs, en los que predominan las canciones de Luiz. “Fue la herencia que me dejó”, dice con una sonrisa ancha en su cara redonda, la cara de luna de su tío.
En la misma calle de Joquinha vive Elenilde Parente de Alencar, de sobrenombre Donda, propietaria del Parque Aza Branca. El parque fue comprado en 1994 por su marido, José Alves de Alencar, de Rosa Maria Gonzaga do Nascimento, hija adoptiva de Luiz Gonzaga, que cerró negocio en Río de Janeiro, donde vivía sin nunca haber puesto los pies en Exu. En 2012, año del centenario de Luiz, el gobernador de Pernambuco firmó un decreto que transformaba el parque en local de utilidad pública, pero nadie sabe decir exactamente cómo se administrará la propiedad.
Elenilde habla del parque, cuyo destino es incierto, y al mismo tiempo recuerda a Gonzaga como un mensajero de paz que, después de conseguir la intervención en Exu para ponerle fin a la matanza entre las familias Sampaio y Alencar, promovió una reunión con representantes de los dos clanes para una confraternización. Trajo hasta a Don Avelar Brandão Vilela, que era en ese entonces obispo de Petrolina.
“Fue casi un milagro”, dice Elenilde. Era una guerra que ni siquiera el amor conseguía detener. Muchos ya habían caído, cuando dos jóvenes miembros de las familias involucradas en la pelea, José Aires de Alencar y Teresinha Sampaio, se enamoraron. Además del amor por Teresinha, José llevaba en el corazón el odio que resultó en la muerte de un tío de ella, que a su vez había asesinado a su padre y a dos hermanos. Por ese motivo, él tenía la certeza de que sería hombre muerto si continuase en Exu. Un día, cuando aún estaba oscuro, la pareja dejó la ciudad. El amor entre un Alencar y un Sampaio solo podría florecer lejos de allí.
Treinta años después, decidieron volver. Ya había pasado suficiente tiempo, pensaban, para que el odio se extinguiera. José Aires de Alencar decidió candidatarse a alcalde de la ciudad. Ganó las elecciones y su victoria revivió el odio en
Exu. Dos años más tarde, en 1978, fue asesinado por pistoleros. El vice, también un Alencar, sufriría el mismo destino.
Solo con la intervención militar y la misión de paz promovida por Luis Gonzaga a comienzos de los años 1980, la guerra familiar llegó a su fin.
A Luiz se lo recuerda en todas partes, en tiendas, bares, peluquerías, gasolineras. En la entrada principal de la ciudad, una de ellas se llama Gonzagão. Un restaurante de autoservicio en la Ruta Luiz Gonzaga lleva el nombre de Cabaña del Rey. El “Rey del Baião”, por supuesto. Un barrio entero, levantado desordenadamente atrás del Parque Aza Branca, ostenta el mismo nombre: Gonzagão.
Allí vive una mujer que antes se llamaba Cícera Brígida de Sousa y ahora es Cícera Maria das Graças. Cambió de vida y de nombre. Cambió de vida y de ropa. Ahora usa un hábito azul y lleva al cuello un rosario del cual pende cuelga un pesado crucifijo. Vive rezando para pagar sus pecados. ¿Qué pecado tan grave habrá cometido? Cícera confiesa:
– Fui mujer de la vida, m´hijo; era casada y todo pero ¡me hice puta!
Cuando pasa frente al Parque Aza Branca, a camino del centro para rezar en la iglesia Bom Jesus dos Aflitos, se bendice en reverencia a Luis Gonzaga, que está allí sepultado.
– Fue un santo del pueblo – proclama.
Francisco José, hermano de Cícera que también vive en el barrio Gonzagão, no llega a santificar a Luiz, pero le atribuye un papel importante en su vida. Sucedió lo siguiente: era joven y fue a una fiesta en Granito. En un momento dado, unos tipos borrachos lo provocaron. Eran muchos. Uno le dio un puñetazo en la cara, un golpe que le dolió por dentro, en el alma. Se quedó ahí, en el centro de la rueda, ciego de odio. Si hubiera tenido un cuchillo, le hubiera dejado al enemigo el cuerpo “hecho una puntilla a cuchilladas“.
Francisco José pasó casi un año entero sin poder pensar en otra cosa a no ser en venganza. Llegaba a “ver” una herida enorme, una sarna, una llaga negra que lo carcomía por dentro.
Llegó entonces el día de la Misa del Vaquero. Fue a Serrita pensando en algo que lo aliviara del dolor que sentía. Prestó mucha atención en el sermón del padre João Câncio, que hablaba del poder del perdón. Y sintió que el odio y la herida se iban reduciendo poco a poco, y todavía más cuando en la mitad de la misa se oyó el sonido del acordeón de Luiz Gonzaga.
La música era como una oración. Francisco José salió aliviado, con el corazón libre de odio, y bendijo al acordeonista. Hoy habla de él como de un profeta, un evangelizador del
semiárido, venerado por su gente. Solo por obra de Dios él podría haber alcanzado las alturas que alcanzó. Un hombre sencillo del semiárido, pobre, “negro, hijo de negros”.
Francisco José es hoy una especie de predicador de paz y justicia en un programa que presenta los domingos por la mañana en la Radio Objetiva FM, patrocinado por el Sindicato de Trabajadores Rurales de Exu.
La ruta Luiz Gonzaga pasa por Exu y Timorante, un poblado antiguo que antes se llamaba Baixio dos Doidos a causa de la cantidad de locos que allí vivía, va bordeando la Sierra de Araripe rumbo a Bodocó y Ouricuri y llega a Petrolina a orillas del San Francisco. Por esas bandas, cuando el semiárido ni siquiera soñaba con asfalto, Luiz caminó muchas leguas en su tiempo de niño y de muchacho, tocando el acordeón de ocho bajos con su padre, Januário.
En Ouricuri, donde compró su primer acordeón, mandaba a hacer su ropa de artista en cuero, inspirada en vaqueros y cangaceiros. Quien las cortaba, cosía y aplicaba los adornos era el guarnicionero José Lopes Aprijo, que sigue hasta hoy trabajando en su taller, haciendo alpargatas, morrales, sombreros de cuero y hasta chalecos, que hoy solo los encomiendan otros acordeonistas, ya que los vaqueros “se están acabando”. Y cuando aparecen, piden chalecos sencillos, de cuero ordinario.
De lo que más se enorgullece Aprijo es de haber cortado y cosido el chaleco todo adornado con el que Luiz cantó para el papa Juan Pablo II en 1980, en Fortaleza. Cuando el papa agradeció diciendo “Muchas gracias, cantador” en portugués, él también se sintió homenajeado y bendecido.
Las visitas de Luiz a la tienda de Aprijo para encomendar ropa eran una fiesta en Ouricuri. La gente quería invadir el taller y era preciso cerrar las puertas.
Raimunda de Sousa vive en el poblado de Araripe, donde vivió Luiz Gonzaga, y es guardiana de la iglesia São João Batista. El Barón de Exu la hizo construir en 1868 y hoy descansan allí sus restos mortales, al lado de los de otros ilustres miembros de la familia Alencar. A los 80 años, ella guarda las llaves de la iglesia como si fueran un trofeo o una condecoración. De ella dependen los turistas que aparecen por allí para visitar el templo.
Pero su mayor orgullo es ser de la familia de Januário, su tío, padre de Luiz Gonzaga do Nascimento. Y el día más emocionante de su vida fue cuando, ya adolescente, se puso su mejor ropa y polvo de arroz en el rostro para recibir la visita del acordeonista, cuya fama se extendía ya por todo Brasil. Se trataba de un hombre muy importante, hasta más importante que el propio Barón de Exu.
La diferencia es que las marcas dejadas por el barón Guálter
Martiniano de Alencar Araripe, como su casa construida en piedra y cal hace 160 años y la iglesia de casi la misma edad, resisten hasta hoy. Ya de la casa donde nació Gonzaga, construida muchos años después, con madera y barro allí cerca en la hacienda Caiçara, no sobró nada, ni siquiera el polvo. Del acordeonista persisten la fama y una placa mandada a hacer por el ciudadano João Isac en la que se lee:
Nació en este local Luiz Gonzaga do Nascimento el 13 de diciembre de 1912
“El Rey del Baião”
El verso de un baião de Gonzaga y Humberto Teixeira finaliza la inscripción:
“Saudade, meu remédio é cantar”.
La placa está al borde de un sendero de tierra, colocada en un poste de cemento, en un cuadradito protegido por una cerca de madera. La rodea un pastito corto que renació después de la última larga seca.
Allí cerca, a unos 50 pasos, o menos, se mantiene aún en pie en una elevación del terreno, con la solidez de la piedra, la casa de la hacienda Caiçara, donde nacieron y crecieron generaciones de Alencar. Fue allí que nació, en 1760, Bárbara Pereira de Alencar, heroína de la Revolución de 1817.
Hace algunos años que Maria do Amparo Aires de Alencar, séptima generación de la familia, se dedica a restaurar la casa en la que poco a poco, sin ayuda del poder público, está montando un museo en memoria de Bárbara de Alencar, de cuyos actos mucho se enorgullece. Pero no deja por eso de reverenciar otra figura, orgullo de Araripe, de Exu, del Brasil entero, Luiz Gonzaga. Tanto es así que el año del centenario de su nacimiento hizo imprimir un folleto que muestra las cosas importantes y bonitas del poblado.En la tapa, en vez del barón, aparece en colores brillantes la figura de Luiz Gonzaga rodeado de alas blancas en vuelo y el título, “Recuerdos de Araripe”.
El recuerdo de Luiz permanece vivo en Araripe, en otras regiones del semiárido y en el corazón del pueblo.
El día que regresó para siempre, 4 de agosto de 1989, toda la ciudad de Exu lloró. Gonzaga había fallecido dos días antes, en Recife, y su cuerpo había llegado de madrugada, después de pasar por Juazeiro del Padre Cícero. Gente del semiárido alrededor – “De Taboca a Rancharia, de Salgueiro a Bodocó” –, de todo el Nordeste y de otros rincones de Brasil, se reunió para prestarle homenaje al acordeonista muerto. Llegaron vaqueros con ropa de cuero y acordeonistas humildes, algunos tocando todavía un ocho bajos. Comparecieron también su hijo Gonzaguinha y el acordeonista Dominguinhos, que encabezó el cortejo fúnebre, tocando canciones de Gonzaga.
Ese día, 20 mil voces en coro entonaron Asa Branca, la canción de Luiz y Humberto Teixeira que recorrió el mundo y aquí se transformó en una especie de himno nacional del Semiárido.
1. Rio Brígida, Luiz Gonzaga /Luiz Gonzaga Jr.
2. Forma de tratamiento equivalente a Señor, utilizada por los esclavos para dirigirse al amo. (Nota del traductor)
3. Forró: baile popular en que se baile en parejas con música de géneros variados interpretadas con acordeón, típicos de la región nordeste semiárida de Brasil. (Nota del traductor)
4. Xaxado: baile típico de Pernambuco, originalmente restricto a los hombres, que se expandió por el nordeste brasileño llevado por los cangaceiros
5. Quixabeira: árbol de hasta 15 metros de altura, de la familia Sapotaceae, nativa de Brasil. (Nota del traductor).
6. Cangaceiro: persona que formaba parte de un bando fuertemente armado del semiárido nordestino a comienzos del siglo XX (Nota del traductor)
7. Caatinga: vegetación característica de la región nordeste de Brasil, en la que predominan árboles y arbustos caducifolios, además de cactus y otras plantas con espinas.
* SÁ, Sinval Luiz Gonzaga: o sanfoneiro do Riacho da Brígida. Fortaleza: Realce Editora, 2002.
8. Regresso do Rei, Luiz Gongaza/Onildo Almeida
9. Boiadeiro, Klécius Caldas/Armando Cavalcanti
10. Aboio: Canto monótono, sin letra, que los vaqueros entonan mientras arrean el ganado. (Nota del traductor)
11. A Morte do Vaqueiro Luiz Gonzaga/N. Barbalho
LA TRAYECTORIA DEL CANTADOR
1912 Nace, en la madrugada del 13 de diciembre, en la hacienda Caiçara, municipio de Exu, en la región semiárida de Pernambuco, el niño Luiz, segundo hijo de Januário José dos Santos y Ana Batista de Jesus.
1913 El 5 de enero lo bautizan en Exu, en la iglesia matriz Bom Jesus dos Aflitos, con el nombre de Luiz Gonzaga do Nascimento. Perdía en la pila bautismal el apellido de la familia. A Luiz Gonzaga, santo de devoción del cura vicario, se le añadió de Nascimento, por haber nacido en el mes de Navidad.
1920 A los 8 años ya punteaba el acordeón en las fiestas de la hacienda Caiçara. Había aprendido a tocar el instrumento escuchando a su padre Januário, famoso acordeonista de la región.
1924 En una inundación, las aguas del Riachuelo de la Brígida, que atraviesa la hacienda Caiçara, invaden la casa de la familia, que se muda para el cercano poblado de Araripe.
1926 Viaja con el coronel Manuel Aires de Alencar, también conocido como Sinhô Aires, dueño de muchas tierras
en Exu. En Ouricuri, Pernambuco, adquiere su primer acordeón con dinero que le presta el coronel.
1929 A los 17 años se enamora de una joven de importante familia local. El padre de la muchacha se opone a la relación y reacciona con palabras que ofenden al pretendiente. Luiz, armado con un cuchillo, va a pedir explicaciones. El hombre se echa atrás, pero va a quejarse a la madre del muchacho, que le propina una violenta paliza al hijo. Luiz decide huir de casa. Va a Fortaleza y se alista en el ejército.
1930 La revolución comandada por Getúlio Vargas se propaga por el país y al soldado Nascimento lo destacan para cumplir misiones en varios estados: Paraíba, Piauí, Pará, Río de Janeiro. Acaba llegando a Mato Grosso.
1933 En una unidad del Ejército, en Minas Gerais, participa de un concurso para acordeonista, pero lo reprueban por no conocer la escala musical.
1939 Deja el Ejército y va a Río de Janeiro. Pero antes, pasa por San Pablo, donde compra un acordeón de 120 bajos, una diferencia descomunal si comparado con el de 8 bajos con el que había aprendido a tocar.
1940 Para sobrevivir, toca en fiestas, bares y hasta en barrios de mala fama, como Mangue. Interpreta canciones de moda, principalmente las americanas, además de tangos y boleros. Con esa música prueba suerte en los programas de nuevos talentos de la radio.
1941 Graba sus primeros discos en 78rpm. A fin de ese año ya contaba con 24 grabaciones de choros, valses y mazurcas, pero nada de los ritmos que le acariciaban el alma en Araripe.
1942 Aparece con destaque en un reportaje del periodista Aldo Cabral para la revista Vitrine. Título de la materia: “Luiz Gonzaga, virtuoso del acordeón”.
1943 Se presenta por primera vez fuera de Río de Janeiro, en un casino de Curitiba, donde cumple temporada de mes y medio. Lo saludan como “El mayor acordeonista brasileño”.
1944 Paulo Gracindo, de la Radio Nacional, populariza el apodo de Lua (Luna) en alusión a la cara redonda del acordeonista. Pasan a llamarlo Luiz Lua Gonzaga. Recuerda con nostalgia a los chicos de Araripe que lo llamaban Cara de Luna.
1945 Conoce al abogado Humberto Teixeira, con quien haría una duradera y provechosa sociedad. Comienza a grabar canciones que se inspiran en la música del nordeste brasileño, como Dança Mariquinha y Penerô Xerém, ambas en asociación con Miguel Lima.
– Nace, en Rio de Janeiro el día 22 de septiembre, Luiz Gon-
zaga do Nascimento Júnior, hijo de su compañera Odaleia Guedes dos Santos, a quien había conocido ya embarazada en un dancing
1946 Compone la primera música junto con Humberto Teixeira, No meu Pé de Serra, a la que seguirían muchas otras, como Baião, Juazeiro, Assum Preto y Respeita Januário. Y en el medio de todas ellas, Asa Branca, una especie de himno al Semiárido, que sería grabada al año siguiente. Tuvo mucho éxito y transpuso fronteras, llegando a los Estados Unidos, Europa y Japón.
1947 Primera grabación de Asa Branca en marzo, que rápidamente se transforma en un éxito radiofónico. Va a Recife y viaja en avión por primera vez.
1948 El 16 de junio se casa con Helena Neves Cavalcanti, una ardiente admiradora. Ella pasa a ocuparse de la enorme correspondencia que Luiz recibía de sus admiradores.
1949 En Recife conoce al médico José de Sousa Dantas, conocido como Zé Dantas, a quien se asocia. Días más tarde, en San Pablo, pasa por la vergonzosa situación de ser impedido de entrar al auditorio de la Radio Gazeta, que se autodenominaba “La emisora de la élite”.
1950 Está en el auge de la fama. Graba dos nuevos éxitos, la tonada Assum Preto y el baião Qui nem Jiló, compuestas con Humberto Teixeira. Viaja por todo el país y se presenta en espectáculos que atraen multitudes. Ya entonces era el aclamado “Rey del Baião”.
1951 En uno de esos viajes, junto con Andrés Gomes, Catamilho (zambomba) y Zequinha (triángulo) sufre un accidente automovilístico y se fractura seis costillas. Sus compañeros sufren heridas leves.
1952 Conoce, a través de la cantora Carmélia Alves, ya famosa como la “Reina do Baião”, a Hervé Cordovil, a quien se asociaría poco tiempo después.
1953 Graba tres nuevos éxitos: ABC do Sertão, Vozes da Seca y A Vida do Viajante
1954 El vaquero Jacó, primo de Luiz, es asesinado a tiros en una emboscada. Conoce a Dominguinhos, muchacho de 14 años, que toca el acordeón en la feria de Garanhuns, Pernambuco.
1955 Forma, con Marinês, la “Reina del Xaxado”, su marido Abdias y el cuñado Chiquinho, el grupo Luiz Gonzaga e seus Cabras da Peste. Pero el conjunto no prospera a causa de los celos de su mujer, Helena.
1956 Adopta una niña (Gonzaga era estéril) a quien le da el nombre de Rosa Maria do Nascimento. Dos de sus
canciones, Paraíba y Baião de Dois, son grabadas en japonés, por la cantora Keiko Ikuta.
1960 Muere su madre, Santana, de mal de Chagas.
1962 Muere Zé Dantas, letrista de canciones de gran éxito, el día 11 de marzo a los 42 años.
1963 Conoce al poeta del semiárido Patativa de Assaré, de quien grabaría al año siguiente la tonada A Triste Partida. Graba A Morte do Vaqueiro, tonada compuesta con Nelson Barbalho.
1968 Conoce en una fiesta de San Juan a la abogada Edezuilta Rabelo de quien se enamora y sería su compañera años más tarde.
1971 El tercer domingo de julio, participa con el padre João Câncio en Serrita (PE) de la primera Misa del Vaquero, en memoria de su primo Raimundo Jacó.
1972 Después de algunos años de receso, debido a la creciente onda de Bossa Nova, Jovem Guarda y Tropicalismo, se presenta en un show organizado por el poeta y compositor Capinam en el Teatro Tereza Rachel, en Río de Janeiro. Título del espectáculo: Luiz Gonzaga Volta para Curtir
1973 Rompe el contrato que mantenía hacía 32 años con la grabadora RCA y firma con EMI-Odeón. En dos años graba 26 canciones inéditas.
1975 Una de las canciones de la nueva fase, Capim Novo, compuesta con José Clementino, integra la banda sonora de la novela Saramandaia, de la TV Globo.
1978 Muere su padre, Januário José dos Santos.
1979 Gonzaguinha graba A Vida do Viajante, baião compuesto por Gonzaga con Hervê Cordovil. Gonzaguinha y Gonzagão realizan una gira A Vida do Viajante y se presentan en varias ciudades. Ese mismo año muere Humberto Teixeira, su gran compañero y amigo.
1980 Canta en homenaje al papa Juan Pablo II en Fortaleza. El papa le agradece en portugués: “Gracias, cantador”.
1984 Recibe dos premios importantes: el Disco de Oro, por el baião Danado de Bom, y el Premio Shell.
1985 Recibe más premios: el Disco de Oro, por el LP Sanfoneiro Macho, y el trofeo Nipper de Oro, una distinción internacional que tuvo, entre otros ganadores, al cantor americano Elvis Presley.
1986 Viaja a Francia por segunda vez. Se presenta en París, en un show con otros artistas brasileños para un público estimado en 15 mil personas.
1989 Es internado en el Hospital Santa Joana, en Recife, don-
de muere el día 2 de agosto, a los 76 años de edad. Dos días después, su cuerpo es sepultado en Exu, su tierra natal. Un coro de 20 mil voces entona o baião Asa Branca en su homenaje.
Bibliografía:
ÂNGELO, Assis. Dicionário gonzagueano, de A a Z. São Paulo: Edição do Autor, 2006.
ECHEVERRIA, Regina. Gonzaguinha e Gonzagão: uma história brasileira. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.
OLIVEIRA, Gildson. Luiz Gonzaga, o matuto que conquistou o mundo. Recife: Comunicarte, 1991.
SÁ, Sinval. Luiz Gonzaga, o sanfoneiro do Riacho da Brígida. Fortaleza: Realce Editora, 2002.
AUDÁLIO DANTAS
Audálio Dantas, periodista, escritor y autor de más de 10 libros. El más reciente, As duas guerras de Vlado Herzog (Civilização Brasileira) ganó el Premios Jabuti 2013 en la categoría Reportaje y fue considerado Libro del Año de no Ficción por la Cámara Brasileña del Libro. Recibió también el premio Juca Pato – Intelectual del Año de la Unión Brasileña de Escritores. También se destacan sus obras Tempo de reportagem (Leya), O menino Lula (Ediouro) y O Chão de Graciliano, con fotografía de Tiago Santana (Tempo d’Imagem), Premio APCA 2007. Así mismo, Audálio Dantas compiló el diario de la escritora Carolina Maria de Jesus, que resultó en el libro Quarto de despejo, obra ya traducida a 13 idiomas. Actuó en diversas entidades profesionales y culturales. En 1981 recibió un premio de la ONU por su trabajo en el área de derechos humanos. Es presidente de la Comisión de la Verdad, Memoria y Justicia de los Periodistas Brasileños y director ejecutivo de la revista Negócios da Comunicação.
TIAGO SANTANA
Tiago Santana, fotógrafo, actúa desde 1989 desarrollando ensayos por todo Brasil y América Latina. En 1994 recibió la Beca Vitae de Artes con el proyecto Benditos, libro homónimo publicado en 2000; y el Premio Marc Ferrez de Fotografía, en 1995. En 2007 ganó los premios Conrado Wessel de Ensayo Fotográfico y APCA, por el ensayo O Chão de Graciliano, libro realizado junto con el periodista Audálio Dantas. Recibió el premio O melhor da Fotografía en Brasil en 2007, 2008 y 2009. En 2010 le otorgaron el premio Porto Seguro Brasil de Fotografía. Cuenta con trabajos publicados en revistas y libros en Brasil y en el exterior. Su obra integra importantes acervos y colecciones de fotografía. En 2011 fue el segundo brasileño que tuvo su trabajo publicado en la colección de fotografía francesa Photo Poche. Organizó diversas exposiciones y festivales de fotografía en Brasil. Es fundador de la editora Tempo d’Imagem.
PROJETO EDITORIAL | PUBLISHED BY
Editora Tempo d’imagem
COEDIÇÃO | CO-EDITED BY
Edições Sesc São Paulo
Editora Tempo d’Imagem
COORDENAÇÃO EDITORIAL | EDITORIAL COORDINATORS
Isabel Santana Terron
Tiago Santana
FOTOGRAFIAS | PHOTOGRAPHY
Tiago Santana
ASSISTENTE | ASSISTANT
João Lobo Santana
TEXTO | TEXT
Audálio Dantas
TEXTOS DE APRESENTAÇÃO | INTRODUCTION
Danilo Santos de Miranda
Gilberto Gil
EDIÇÃO DE FOTOGRAFIA | PHOTO EDITING
Tiago Santana
Isabel Santana Terron
Ana Soter
PROJETO GRÁFICO | GRAPHIC DESIGN
Soter Design
Ana Soter & Rafaela Sarinho
COORDENAÇÃO GRÁFICA | GRAPHIC COORDINATION
Isabel Santana Terron
REVISÃO DE TEXTO | PROOFREADING
Rose Silveira
TRADUÇÃO PARA O INGLÊS | TRANSLATION INTO ENGLISH
Juliana Lemos
TRADUÇÃO PARA O ESPANHOL | TRANSLATION INTO SPANISH
Claudia Jacobi
PRODUÇÃO | PRODUCTION
Clara Machado
TRATAMENTO DE IMAGEM | IMAGE MANIPULATION
Ricardo Tilkian
IMPRESSÃO | PRINTED BY
Ipsis Gráfica
AGRADECIMENTOS | ACKNOWLEDGEMENTS
Ana Soter, André Facó, Arialdo Pinho, Aurea Vieira, Cecilia Tilkian, Braúlio Mendonça Meneses, Camilo Santana, Celso Oliveira, Clara Machado, Clívia Ramiro, Danilo Miranda, Elton Gomes, Eudoro Santana, Ermengarda Santana, Everardo Telles, Gilberto Gil, Glícia Gadelha, Isabel Santana Terron, Ivan Giannini, João Lobo Santana, Joca Reiners Terron, José Praxedes, José Wagner, Luciana Lobo Miranda, Luciana Mendes Lobo, Marcelo Canuto, Maria Lobo Santana, Marcos Lepiscopo, Meny Lopes, Rafaela Sarinho, Ricardo Tilkian, Ricardo Melo, Rose Silveira, Jucivan Saldanha, Tadeu Alencar, Vanira Kunc, Walter Macedo Filho.
O ensaio fotográfico deste livro foi realizado pelo fotógrafo Tiago Santana nas regiões de Exu, em Pernambuco, e do Cariri cearense, entre 2010 e 2013. O texto foi produzido pelo jornalista e escritor Audálio Dantas, que fez o mesmo roteiro em 2013.
The photographs in this book were taken by photographer Tiago Santana in Exu, Pernambuco, Brazil, and in the Cariri region of Ceará, Brazil, from 2010 to 2013. The texts were written by author and journalist Audálio Dantas, who travelled around the region in 2013.
© Copyright 2013 Editora Tempo d’Imagem
© Copyright 2013 Edições Sesc São Paulo
© Copyright Fotografias Tiago Santana
© Copyright Textos Audálio Dantas, Danilo Santos de Miranda, Gilberto Gil
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