Almir Israel 6
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Marcelo Feijรณ 8
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Rinaldo Morelli 10
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Rubens Rebouรงas 12
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Susana Dobal 14
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LadrĂľes de Alma
25 anos
Parte 1 - Ensaios Almir Israel Marcelo Feijó Rinaldo Morelli Rubens Rebouças Susana Dobal Usha Velasco Texto: Susana Dobal Parte 2 - Memória Adriana Fernandes Alan Calado Almir Israel Ana Borges Antônia Márcia Vale Arthur Lacerda Beto Rocha Cristina Bastos Duda Bentes Giovana Assis Isabela Oliveira Marcelo Amaral Marcelo Feijó Marcello Luniere Maria Helena Andrade Randal Andrade Ricardo Movitz Rinaldo Morelli Rogério dy La Fuente Rosana Vasconcelos Rubens Rebouças Sandro Alves Sérgio Melo Maia Susana Dobal Usha Velasco Texto: Marcelo Feijó Curadoria: Usha Velasco
Realização: Ladrões de Alma A Casa da Luz Vermelha Edição e design: Usha Velasco Coordenação artística: Shirley Okubo Produção executiva: Aloísio César Assistente de produção: Verônica Kaezer Assessoria de imprensa: Fabíola Góis Brasília, 2015
Apresentação:
Ficha catalográfica (catalogação-na-publicação) – Iza Antunes Araujo CRB1/079 L157
Ladrões de Alma / Rinaldo Morelli; Usha Velasco; Marcelo Feijó; Almir Israel; Susana Dobal; Rubens Rebouças. – Brasília, 2015. 228p. : il. ; color. ISBN: 978-85-69325-00-0 1. Fotografia. I. Morelli, Rinaldo. II. Velasco, Usha. III. Feijó, Marcelo. IV. Dobal, Susana. V. Rebouças, Rubens. CDU: 77.03
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Quase Coisas
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EmContato
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Ladrões em busca do invisível Susana Dobal
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O turista Rinaldo Morelli
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Desdocumentos
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Cozinha das Almas
Clarinhas Almir Israel
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Abrangente
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Ali no Bar e os Dez Ladrões
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Ladrões de Alma
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Os Ladrões de Alma na Noite do Vampiro Torquato Neto
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Perdidos no Espaço
Imagens com imagens dentro ou São imagens do mundo minha nêga! Marcelo Feijó
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100 Imagens
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Ensaios Particulares
Por um décimo Rubens Rebouças
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Coleção Verde em Preto e Branco
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Coleção Reincidentes
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Coleção 24 x 17
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Linha do tempo
34 Parte 1 Ensaios
Pedacinhos de história com memórias dentro Marcelo Feijó
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Silêncio Usha Velasco
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A caminho Susana Dobal
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Parte 2 Memória
Ladrões em busca do invisível Susana Dobal
Quando os Ladrões de Alma primeiro se encontraram em 1988, eram todos jovens movidos por uma crença e um desconforto: a crença era na fotografia como uma linguagem capaz de exprimir a experiência de se estar no mundo, e o desconforto era com os formatos existentes para se falar por meio da imagem fotográfica. O grupo se juntou não para produzir dentro dos modelos disponíveis, como a fotografia documental, o fotojornalismo, a fotografia publicitária, doméstica, cartões postais tradicionais ou os gêneros clássicos da fotografia artística (natureza morta, retratos, paisagens e afins traduzidos em cópias com todas as nuances possíveis de cinza). Tampouco queriam formar um fotoclube, embora quisessem criar com a liberdade dos amadores – mais precisamente, não com a liberdade de quem não se aprofunda, mas de quem segue com passos seguros movidos pelo amor. Logo todos teriam que se profissionalizar, porém reservariam um espaço para a experimentação tão sem fins lucrativos como a reflexão filosófica ou poética. Foi nesse espaço de debates e projetos, cartões postais inclassificáveis, exposições cada vez mais coerentes, que o grupo prosseguiu. Seus integrantes eram como linhas autônomas de vez em quando se cruzando em um só objetivo, um projeto que os reunisse e que construísse aos poucos a sintonia que retrospectivamente surge tão bem alinhavada. Um dia eles estiveram Perdidos no Espaço, como dizia o título de uma das exposições (1991), pois cada um seguia no imenso vazio brasiliense (o remoto vazio daqueles tempos) por um caminho ainda não muito bem definido. Mas só quem se perde encontra novas trilhas. A atual pujança da criação com a imagem fotográfica oferece o cenário para que aquela inquietação juvenil agora se justifique sob a forma de uma obra mais madura, e aquela fé inicial na fotografia esteja longe de parecer vã. De maneira geral, um percurso mais longo da história da fotografia permitiu que se ampliassem muito as suas possibilidades expressivas, tornando insustentável pensá-la hoje como um mero instrumento de registro da realidade. A fotografia pôde então virar matéria-prima para diversas outras utilizações que a colocam em segundo grau, isto é, fazem ver os mecanismos em jogo na linguagem fotográfica – considere-se, por exemplo, as diversas
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reutilizações de imagens de arquivo ou fotografias encontradas ao léu que são ressignificadas em outro contexto. Premissas que informaram boa parte da produção fotográfica passaram a ser questionadas, como a sua suposta objetividade, a primazia da imagem única capaz de sintetizar uma ideia ou de eleger um momento privilegiado, ou ainda recursos formais que um dia pareciam garantir a sua legitimidade, como o enquadramento sem corte posterior ou as cópias excelentes em papel de fibra. O papel fotográfico primeiro mudou para um papel resinado, cuja revelação tornou-se mais ágil; depois a aceleração foi tamanha que o próprio papel se desmanchou no ar, sobrando as imagens digitais impalpáveis, mas nem por isso menos atuantes no nosso imaginário. Nesse trajeto, a relação da fotografia com o assunto fotografado tornou-se mais flexível.
‘ A confiança na fotografia que meramente capta o que se configura diante da câmera decresce na mesma proporção em que aumentam as estratégias de manipulação da imagem. Ela aparece combinada com outras técnicas, imagens em movimento, sons, palavras, sequências, inúmeras estratégias que fazem da fotografia uma linguagem à mercê da criatividade de quem a escolhe como instrumento de escrita.
A confiança na fotografia que meramente capta o que se configura diante da câmera decresce na mesma proporção em que aumentam as estratégias de manipulação da imagem. Ela aparece digitalmente transformada ou ainda combinada com outras imagens, outras técnicas, imagens em movimento, sons, palavras, sequências, inúmeras estratégias que fazem da fotografia uma linguagem à mercê da criatividade de quem a escolhe como instrumento de escrita. Tais transformações ocorreram nos cenários mais diversos em que a fotografia é utilizada, seja no território intrinsecamente questionador da arte, seja em territórios em princípio mais rígidos, como na fotografia documental, publicitária ou no fotojornalismo. A fotografia feita pelos Ladrões de Alma acompanhou esse fluxo que transformou a transparência original da imagem fotográfica em gesto inocente. Dentre as crenças que foram abaladas está a relação que se dá entre a imagem fotográfica e as noções de tempo e espaço, pois a fotografia não mais se refere nem a um único momento nem a um único lugar. Tal como nós mesmos, ela teve que se adequar ao cenário da mobilidade onde um momento são vários, um local é efêmero e múltiplo. Os seis ensaios presentes neste livro falam dessa fluidez, além de trazerem o testemunho das transformações por que passou a fotografia em termos formais. Eles deixam transparecer a capacidade de a fotografia traduzir experiências do mundo, mais do que 23
‘ registrar o mundo em si. Alguns fotógrafos rompem com o tempo único; outros rompem com o espaço único. Para outros, ainda, é a unidade pessoal que se esfacela em várias. Uma opção, porém, não elimina a outra e eventualmente diversos aspectos podem coexistir na mesma proposta de ensaio.
A fotografia não mais se
O tempo não se resume a um momento único. O presente é habitado pelo passado e o agora coexiste com diversos outros momentos. O Silêncio de Usha Velasco é tumultuado: ela está no presente, mas vê simultaneamente o passado. Fotografias misturam-se com imagens de pinturas nas paredes; fotos em preto e branco estão lado a lado com fotos coloridas. Tempos diferentes coexistem nas suas sobreposições de imagens, e ao falar dessa oscilação a noção de realidade e representação também vacila. Um tempo está em estado de reciprocidade com outro tempo, assim como uma imagem aparentemente real reflete-se e encontra o seu sentido em outra aparentemente menos real, como uma pintura na parede. Marcelo Feijó define no título do seu ensaio: Imagens com imagens dentro ou São imagens do mundo minha nêga! A descrição vale para o trabalho dos dois fotógrafos. Marcelo também recorre a imagens sobrepostas, mas a fragmentação do presente se dá de maneira mais impessoal. Nas suas combinações de imagens, o olhar que a fotografia representa é também informado por algo mais do que o momento presente, e isso ocorre porque o agora participa de um acervo de imagens coletivamente compartilhadas, ou tem afinidade com fragmentos de territórios distantes. Essas imagens filtram o que somos capazes de ver e terminam por definir uma noção mais vasta de presente. Ver, aqui, é igualmente uma questão de acessar um repertório remoto e amplo.
ela teve que se adequar
No seu ensaio Por um décimo, Rubens Rebouças também recusa o momento fixo e único. O tempo tornou-se um fluxo e só o que pode ser apreendido é um borrão. Atletas e cenário perderam clareza e materialidade. O tempo não mais culmina em uma fração de segundo onde tudo se resolve de maneira significativa e providencialmente solucionada em um enquadramento preciso. Em vez disso, o tempo captado dura a eternidade de um décimo de segundo e o que fica registrado é a sua passagem, mais do que o ápice de um momento. Se um dia a fotografia foi o testemunho de que algo aconteceu, 24
refere nem a um único momento nem a um único lugar. Tal como nós mesmos, ao cenário da mobilidade onde um momento são vários, um local é efêmero e múltiplo. Os seis ensaios presentes neste livro falam dessa fluidez, além de trazerem o testemunho das transformações por que passou a fotografia em termos formais.
agora ela quer ser evidência de que algo continua acontecendo, seja pela ubiquidade do passado nas montagens de Usha Velasco e Marcelo Feijó, seja pela impossibilidade de reter um presente que perdeu qualquer resquício de nitidez e concretude nas imagens de Rubens Rebouças, que dialogam com a voga atual do flou fotográfico. No século XIX, a pouca sensibilidade dos processos iniciais, como o daguerreótipo ou o colódio, obrigava a um tempo de exposição longo que deixava registrados fantasmas em paisagens urbanas, pessoas que se locomoviam enquanto o obturador da câmera estava aberto. Agora, porém, essa é uma escolha deliberada. Em vez da proeza tecnológica que consegue reter um momento fugaz em uma fotografia que congela o movimento, somos agora constantemente lembrados menos do triunfo de reter o tempo do que da inapreensível fugacidade do presente. A coreografia do esporte perdeu a concretude para se tornar uma suspensão: jogar futebol, basquete, vôlei ou andar de bicicleta, ainda que vestido de uniforme, tornouse uma oportunidade de deixar o corpo em suspensão, perder o peso, virar mancha. Por um décimo de segundo, as competições esportivas escapam do protocolo para se prolongar no tempo como efusiva imaterialidade. Almir Israel opta pela nitidez, mas também recusa o momento único. A série de retratos da sua filha tem como título Clarinhas. Aqui a clareza fotográfica da série de imagens em preto e branco permite que se vejam os poros e os fios de cabelo, mas a rigorosa nitidez engendra mistérios. A Clarinha é uma só, e ao mesmo tempo também são várias: a maioria delas habita um território instigante, como tudo que foge da normalidade. O rosto está sempre acompanhado da mão e os traços faciais que definem uma pessoa são assim acompanhados nesse ensaio pelo apelo ao tato. As imagens são excessivamente nítidas; as mãos tocam; eventualmente os olhos se fecham. Os gestos são inabituais. A combinação de imagens vai construindo a ideia de que a personagem se define menos pela aparência do que pelo fato de sentir. As fotos são em preto e branco e estão impressas em papel, mas podemos senti-las à flor da pele. A fotografia pode não falar, mas toca. O espaço tampouco se resume a um local único. Em ensaio mais antigo (Um outro momento decisivo, 2007), Rinaldo Morelli mostrou uma série de 25
turistas flagrados em meio ao afã de fotografar o cenário em volta, todos em busca de um instante a ser congelado que não seria o ápice de um momento decisivo, como na definição clássica de Henri Cartier-Bresson, mas a repetição do ritual de posar em frente a tradicionais pontos turísticos. Em vez de muitas pessoas armadas com uma câmera, na nova série O Turista há um boneco com a câmera pendurada no pescoço que vale por todos os turistas subentendidos, incluindo o próprio fotógrafo que lá esteve. Um boneco turista posa em frente a uma igreja, uma duna, um avião ou monumentos diversos facilmente reconhecidos. Rinaldo Morelli, que sempre gostou das abstrações plásticas, buscou nesse ensaio um grau diferente de abstração, coerente com o ensaio anterior. Não se trata mais de registrar apenas um cenário e sim uma prática, a de utilizar a câmera para comprimir o mundo na mesma pequena enciclopédia turística. Rubens Rebouças e Rinaldo Morelli foram os que mais sistematicamente investiram na abstração formal, na trajetória do coletivo Ladrões de Alma. O percurso de Rubens Rebouças conduziu seu olhar às atuais experimentações com o tempo. As imagens dele precisam da realidade para ser criadas, mas não poderão jamais ser reencontradas nela. Em um sentido diferente do que realiza o turista de Rinaldo Morelli, a fotografia de Rubens Rebouças também abstraiu-se do espaço físico e do que se espera em geral das fotografias de esporte. O primeiro abstrai para revelar o aspecto convencional da produção de imagens turísticas; o segundo abstrai para inventar um espaço-tempo fluido no mundo das competições esportivas. Ambos evitaram o registro de formas abstratas praticadas anteriormente; um e outro utilizam a câmera para abstrair algo mais de cenas em princípio convencionais na prática da fotografia.De uma maneira indireta, a fotografia aqui vai além do registro de um momento para também dialogar com imagens que a antecederam. A estrada aparece como o cenário para o ensaio A Caminho, de Susana Dobal. Nesse espaço transitório no coração do Brasil, partindo de Brasília para o sul do Piauí, passando pela Bahia e por Goiás, cenários e personagens fugazes falam de uma realidade local. As imagens aproximam-se da veracidade da fotografia documental, mas as palavras adicionadas evitam-na. Frases tão sintéticas quanto anúncios acentuam, ora com deslumbramento ora com 26
‘ Se no século XIX a fotografia foi usada para registrar supostas emanações espirituais, talvez agora possamos enfim dizer com mais legitimidade que a fotografia registra o invisível. Os novos ensaios fotográficos do coletivo Ladrões de Alma são o testemunho disso: mais do que para descrever, a fotografia é agora utilizada para recriar realidades mais sutis e materializar abstrações não menos reais.
ironia, detalhes da paisagem fugaz que combina grandes investimentos do setor agrário e extrema pobreza em volta. Em vez do ponto de chegada, é na transitoriedade do caminho que o espaço se revela. Fotografar aqui parece um gesto de tomar notas, e as palavras sobrepostas desafiam o sentido único das imagens. Olhar é aqui também um exercício de abstrair o sentido. Usha Velasco e Marcelo Feijó abstraem o passado do presente; Almir Israel abstrai diversas personagens e uma maneira de sentir de uma só pessoa; Rinaldo Morelli e Rubens Rebouças abstraem da fotografia turística e esportiva uma outra forma de ver; Susana Dobal abstrai fragmentos da estrada para remontar o cenário em volta em um só quebra-cabeça. Combinação de fotografias, temporalidades mistas, personagem múltipla, espaço reencenado, manipulado, reescrito: os Ladrões de Alma estão longe daquele gesto primordial de apertar o botão e fazer a foto. Com o decorrer do tempo, talvez tenham se aproximado mais de algo assim como uma alma, pois tornaram-se mais alertas quanto aos mecanismos pelos quais a imagem pode fazer falar o que não se revela facilmente. Roubar a alma exige agora um esforço de manipular novas estratégias para tornar visível o que não está evidente nas aparências. Se no século XIX a fotografia foi usada também para registrar supostas emanações espirituais, talvez agora possamos enfim dizer com mais legitimidade que a fotografia registra o invisível. Os novos ensaios fotográficos do coletivo Ladrões de Alma são o testemunho disso: mais do que para descrever, a fotografia é agora utilizada para recriar realidades mais sutis e materializar abstrações não menos reais.
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O turista Rinaldo Morelli
O turista é um mapeador do mundo. Quer guardar a paisagem, aparecer na imagem e escrever sua história com fotografias. Porém a fotografia é mais. Sua magia tem alguns personagens. Principalmente três personagens: a imagem fotográfica, o espectador e o fotógrafo. Seu encanto acontece no imbricamento das três camadas, e, feito uma trança, constrói novos significados que dependem do ponto de vista que adotamos. O turista é também um personagem; é ao mesmo tempo o autor e o ator. Quando pensamos nas fotografias de pontos turísticos, percebemos que são todas parecidas; porém, cada uma tem um significado especial para cada turista, ao fazer o clique, ao mostrá-la para amigos ou parentes e ao reencontrá-la tempos depois. É um testemunho. Uma prova. Um rastro. É a sua história. O turista quer mesmo dizer a todos: eu estive aqui.
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Paraíba – João Pessoa, 2012 Praia de Tambaba Ponta do Seixas – Extremo Leste do Brasil Pedra Furada – Praia do Amor 29
Distrito Federal – Brasília, 2014 Palácio do Planalto Torre de Televisão Catedral 30
Cearรก, 2014 Praia de Canoa Quebrada Museu Dragรฃo do Mar Praia do Mucuripe 31
Rio Grande do Norte – Natal, 2014 Praia dos Artistas Forte dos Reis Magos Morro do Careca 32
Bahia – Salvador, 2013 Igreja do Bomfim Elevador Lacerda Farol da Barra 33
Clarinhas Almir Israel Há muito eu não fotografava. Não de uma maneira séria, com maiores preocupações conceituais ou estéticas. Não parindo. Com dor. Porque, para mim, fazer fotografia, às vezes, é bastante doloroso. Não é sempre, mas muitas vezes é doloroso. Porque é dificultoso se revelar, dividir angústias, doar sonhos, traduzir alforrias de uma vida inteira em um quadradinho de imagem. Convidei minha filha, Maria Clara, a me ajudar. Ela topou, claro; ela sempre vai topar ser fotografada (quer ser atriz e modelo). Então pude me resgatar, fotografando o que sempre mais gostei: gente. Neste caso, uma gente muito especial. Especial mesmo. Daí, nasceu Clarinhas, este ensaiozinho afetivo que é também, de minha parte, uma pequena homenagem a Mário Cravo Neto – uma homenagem que sempre quis fazer. As fotos foram feitas em uma única sessão. Eu poderia falar de técnicas, do que quis e do que não quis. Do enfoque. Dos desfoques. Mas não quero. Só quero, do meu jeito, mostrar Clarinha para vocês.
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Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. ... Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. (Fernando Pessoa)
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Silêncio Usha Velasco
A fotografia é uma janela aberta num muro. Uma janela de silêncio que desconstrói espaço e tempo. Venho eu criança e pulo a janela: não estou mais lá, quarenta anos atrás. Vou eu adulta e pulo a janela: não estou mais aqui hoje. Aqui e lá, agora e antes são noções que o silêncio diluiu. Pela janela nós, criança e adulta, transitamos no espaço e tempo que era e é.
O olho vê, a lembrança revê, a imaginação transvê. É preciso transver o mundo. (Manoel de Barros)
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A caminho Susana Dobal
Na hora do apuro, o Riobaldo do Guimarães Rosa voltava-se para algum detalhe, o barulho dos tiros no couro estendido do boi, as roupas penduradas no arame farpado também no meio do tiroteio. Poderia parecer que isso era uma fuga, porém mais provavelmente era só porque, no momento em que a realidade grita, os detalhes tornam-se eles também bastante expressivos. O sabor da madeleine de Proust derretendo na boca também não era uma fuga, era um canal para os corredores da memória. Eram sugestivos os detalhes aqui e acolá das paisagens vistas nos mais de 1.100 km de estrada entre Brasília e São Raimundo Nonato, onde fica a Serra da Capivara, no Piauí. Um Brasil desfilava pela janela do carro: caminhões, muitas motocicletas levando gente, botijões e pacotes, pessoas a pé no meio do nada e a vegetação se transformando como se fosse uma veloz galeria de diversos paisagistas. Os olhos captavam fragmentos na tentativa de decifrar o cenário. Depois as palavras também vieram recriar a surpresa de estar de olhos abertos, olhando pela janela do carro, e vendo.
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Imagens com imagens dentro ou: São imagens do mundo minha nêga!
Procuro dialogar sobre as relações entre fotografia, tempo e memória. São imagens que faço, e dentro delas outras, sobrepondo-se e construindo (imagino) novos sentidos. São imagens impregnadas de sentimentos, de sensações, de emoções: imagens com imagens dentro. E uma melancolia (às vezes uma alegria) que encontro e busco nas canções da música popular: são imagens do mundo minha nêga!
Marcelo Feijó
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Museu do Louvre, dentro dos olhos da Mona Lisa 63
Entre mapas e imagens, Paris 64
A casa muda em SĂŁo LuĂs e a nuvem presa na janela 65
SQN 412 e o Zezinho da SQS 108, BrasĂlia 66
A luz entre uma cadeira vazia em Corumbรก de Goiรกs e as ruas de Lisboa 67
Museu do Louvre: japinhas no jardim de CanaĂŁ, de Veronese 68
Igrejas em Lisboa e Ouro Preto (onde encontrei os anjos do Aleijadinho!) 69
Entre estรกtuas na Praรงa 13 de maio, Recife 70
Duas casas, dentro e fora, em Lisboa e Rio de Janeiro 71
Por um décimo Rubens Rebouças
Não o tempo que faltou. Apenas o tempo que levou. O tempo que ficou.
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Memória
Os Ladrões em 1991: Maria Helena Andrade, Susana Dobal, Rinaldo Morelli, Almir Israel (na parede), Arthur Lacerda, Rubens Rebouças, Usha Velasco, Marcelo Feijó, Adriana Fernandes, Rosana Vasconcelos, Marcello Luniere, Cristina Bastos e Alan Calado
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Pedacinhos de história com memórias dentro Marcelo Feijó
O Bloco A da comercial da Superquadra 106 Norte estava silencioso naquele início de noite. Desci as escadas. Acenei com a cabeça para a senhora do escritório de contabilidade. Coloquei a chave e abri a porta. A sala da Miragem Oficina de Fotografia, um ateliê que dividia com as fotógrafas Cristina Bastos e Maria Helena Andrade, estava discretamente desarrumada. Coloquei as cadeiras verdes no lugar. Verifiquei se o filtro de barro tinha água. Limpei a mesa que era utilizada para secar as fotografias que saíam do laboratório depois de ampliadas. Senti o cheiro dos químicos fotográficos no ar. Fechei a porta do laboratório que guardava nossos preciosos ampliadores Fuji 69. E sentei para esperar os convidados. Por um momento, alimentei a dúvida sobre se alguém viria. A dúvida logo se dissipou com a chegada do Rubens, seguido por Giovana, Rosana, Almir, Susana, Rinaldo, Usha, Ricardo, Rosana, Sérgio, Márcia e mais muitos outros, gente que eu conhecia e outros que via pela primeira vez, até que a salinha no subsolo ficou lotada. E muita gente falando ao mesmo tempo. Brasília, a Grande Brasília, Plano Piloto e Satélites, em 1988, tinha aproximadamente um milhão e meio de habitantes. A cidade acabava de ser proclamada (em 1987) Patrimônio Cultural da Humanidade e renovava seus dilemas. Entre seus espaços abertos, um grupo de fotógrafos (re) começou uma tentativa de decifrar seus enigmas, um novo embate entre 84
Rosana Vasconcelos, postal da Coleção Reincidentes, 1989
a imaginação fotográfica e a realidade que salta aos olhos, traduzindo olhares apaixonados e inconformados com a cidade. A “nossa cidade” cheia de distorções, mas que carrega uma vitalidade original nascida de sua proposta utópica, ou talvez da própria impossibilidade dessa utopia se realizar plenamente.
‘ O fato é que Brasília faz pensar. E o Ladrões de Alma é um grupo de Brasília. Aceitamos viver os desafios da cidade em uma tentativa de refletir suas verdades e mistérios nos pequenos fragmentos do cotidiano, livres do factual e do extraordinário.
O fato é que Brasília faz pensar. Não se passa incólume pela experiência de viver em Brasília. E o coletivo Ladrões de Alma é um grupo de fotógrafos de Brasília. A cidade perpassa nossos sonhos. E aceitamos viver os desafios da cidade em uma tentativa de refletir suas verdades e mistérios nos pequenos fragmentos do cotidiano, livres do factual e do extraordinário. Livres da cidade oficial, ao longo do tempo, buscamos revelar as múltiplas Brasílias, entre a Cidade Monumento, a Cidade Parque e a Cidade Mato. E caminhamos, câmera na mão, pela cidade. Hoje (já seria ontem?), em 2015, a cidade é outra (ou seria a mesma e nós é que mudamos?), com quase três milhões de habitantes, novos setores, novos conflitos, novas forças em ação, e a esfinge renova-se e continua a nos desafiar. E continuamos a fotografar. Era a primeira entrevista do coletivo Ladrões de Alma. Lançamento da primeira coleção de cartões postais. Belas impressões no processo duotone, o melhor na época, com muitos matizes de cinzas e marrons garantindo um preto e branco sepiado, isto é, imagens levemente amarronzadas remetendo à história da fotografia. Depois de muitos orçamentos, da ajuda luxuosa do professor de Direção de Arte da UnB, Wagner Rizzo, e pesquisas no parque gráfico da cidade, o trabalho foi realizado. O resultado ficou excelente, e para completar a alegria, muito público e a presença da TV Globo. Maravilha. Escalamos o Rubens Rebouças para a função de ser entrevistado e falar coisas bonitas em nome do grupo. Chega o repórter, simpático, terno bem cortado, bochechas rosadas. E manda: “Por que vocês insistem no preto e branco?” Até hoje esse “insistem” ecoa nos ouvidos de muitos dos Ladrões. 85
E também a gagueira do Rubens. Porque essa insistência com o preto e branco? Mas não estávamos agradando? Já nascíamos insistindo? Acho que em algum momento o Rubens conseguiu falar algo parecido com a máxima de um grande fotógrafo dos anos 60, 70, Luigi Mamprim: “A realidade é colorida mas a vida é em preto e branco.” A primeira reunião para a formação do coletivo Ladrões de Alma foi ensaiada durante meses. Conversas eventuais entre alguns de nós apontavam um certo incômodo com o isolamento e a necessidade de reunir fotógrafos pensantes para fazer algo. Nessa época a União dos Fotógrafos de Brasília era bastante atuante e interessante. Mas tinha um viés muito “profissional” e “engajado” para o que pretendíamos. Pretendíamos fazer fotografia/arte de forma mais livre, de forma mais experimental. Éramos, em grande parte, recém-formados ou alunos da Faculdade de Comunicação da UnB e tínhamos a pretensão de ampliar um pouco mais a grande vocação da fotografia da cidade, o fotojornalismo, que já naquela época, assim como hoje, abrigava grandes talentos. A essa altura é difícil saber exatamente, mas é fato que a Giovana Assis foi fundamental para que a primeira reunião ocorresse. Falou uma vez, duas, três, com pessoas distintas, e a rede começou a se formar. Ela convidou alguns. Que convidaram outros. Cristina, Usha, Almir, e os contatos foram prosseguindo. Lembro de ter sugerido: “Chama aquele fotógrafo que fez uma exposição só com bolinhas na Galeria da Cultura Inglesa.” Tinha gostado daquela experiência. Era o Rinaldo, desde sempre obcecado por suas esferas e escadas. “Ah, e o professor lá do Centro de Fotografia do Ceub, que tem um trabalho sobre índios.” Era o Marcello Luniere. “Ah, tem a monitora da professora Luíza Venturelli, que está fazendo um trabalho caprichado no laboratório.” Aliás, a professora Luíza foi fundamental na 86
Sandro Alves, postal da Coleção Reincidentes, 1989
formação de muitos de nós. E também o Jeová de Xangô, técnico de fotografia da UnB, que quebrava todos os nossos galhos e deixava a turma trabalhar no laboratório além dos horários.
Giovana Assis, postal da Coleção 24 x 17, 1988
O nome Ladrões de Alma surgiu em um brainstorm, ou melhor, um toró de palpites. Precisávamos de um nome para alavancar o primeiro projeto. Acho que foi a Márcia Alves, que só participou do primeiro trabalho, e depois mudou-se para São Paulo, que gritou Ladrões de Alma pela primeira vez. Ela escutou o Almir balbuciar, após escutar o Rinaldo falar do filme Caçadores de Almas, que o Sílvio Tendler acabara de lançar. E parecia que o nome era esse desde o princípio dos tempos. E também o desenho que o Sérgio Maia (outra figura fundamental que participou apenas da primeira coleção de postais) criou adequou-se perfeitamente ao que queríamos. Espalhamos filipetas pela cidade. No dia do lançamento, um grande público surpreendeu a todos, e a galeria de arte da Cultura Inglesa, na Asa Sul, ficou lotada, com gente chegando ou partindo para um dos primeiros shows de massa da Plebe Rude, que naquela noite dividiu as participações na cena cultural da cidade. Os dois primeiros trabalhos do coletivo Ladrões de Alma foram as coleções de cartões postais, de certa forma uma demanda reprimida naquele momento: a produção de postais com imagens autorais e artísticas (na falta de outra definição). As duas coleções foram verdadeiros sucessos de venda. A terceira produção coletiva aconteceu no Ateliê 7, uma casa no Lago Sul dividida por sete artistas, entre eles o também ladrão Rinaldo Morelli, aos quais nos juntamos para uma exposição/projeção/festa, mas nada muito elaborado. O processo de trabalho foi se depurando em reuniões, convergências e divergências. Até que a mais profunda vocação do grupo surgiu a partir do quarto trabalho, o primeiro ensaio realizado coletivamente, com a participação de todos na edição, embora a palavra final sobre o que expor sempre 87
‘ tenha sido de cada fotógrafo. Assim nasceu a exposição Ensaios Particulares, apresentada na Caixa Cultural, quando o grupo ficou um pouco menor, restando as onze pessoas que tinham condições ou interesse em se envolver mais com aquele processo. De certa forma, a partir desse momento, fugimos com mais ênfase do discurso fotográfico predominante na cidade, marcado pelo fotojornalismo, pela ideia da “foto forte”, da imagem única que desse conta da função de dizer tudo sozinha. Havia, nesse contexto, e ainda há, uma busca pela imagem síntese, o que é uma decorrência, em um primeiro momento, da limitação do espaço nos jornais, e que passou a ser também uma cultura fotográfica, a qual não é melhor nem pior que outras propostas, e que gerou e continua a gerar excelentes trabalhos. Mas a marca do Ladrões, a partir desse momento, passou a ser o conjunto de imagens. O ensaio fotográfico. Seja por cada autor ou o conjunto geral apresentado em cada projeto/exposição. O significado está também, e predominantemente, entre as imagens, na articulação e na sequência, nos intervalos e no ritmo de apresentação. Esta é a marca do processo de produção: as articulações entre e sobre as imagens. Muitos garantem que foi a Usha quem criou a abertura do release oficial do grupo: “Fotógrafos costumam trabalhar sozinhos. Os Ladrões de Alma resolveram fazer diferente.” Outros sustentam veementemente que foi um duende que sintetizou a filosofia do grupo e colocou um bilhetinho debaixo da porta, em um raro momento de silêncio numa de nossas primeiras reuniões. O fato é que a Usha colocou a mensagem no papel e a abertura desse release se tornou uma espécie de mantra. Várias vezes, em momentos de tensão na finalização de um trabalho, o mantra foi repetido entre risadas. “Fotógrafos costumam trabalhar sozinhos. Os Ladrões de Alma resolveram fazer diferente.” De uma coisa tenho certeza: nesses momentos o duende sempre ri junto também. Amém! 88
A marca do Ladrões passou a ser o ensaio fotográfico. Seja por cada autor ou o conjunto geral apresentado em cada projeto. O significado está também, e predominantemente, entre as imagens, na articulação e na sequência, nos intervalos e no ritmo de apresentação. Esta é a marca do processo de produção: as articulações entre e sobre as imagens.
O coletivo Ladrões de Alma nunca teve uma diretoria ou qualquer espécie de hierarquia. Nunca houve necessidade de uma formalização, estatuto, atas de fundação ou similares. Isso não foi nem sugerido. Ou, se foi sugerido, foram palavras ao vento que a maioria nem percebeu. Simplesmente não combinava com a nossa proposta de trabalho. Não era necessário. E isso explica também a permanência de quem manteve a chama do grupo acesa. Éramos (ou somos) frutos de um período autoritário na política brasileira que se encerrou com a redemocratização. Éramos (ou somos) frutos de uma vivência em uma cidade, por um lado, livre em seus espaços abertos, e por outro lado cerceada pelo regime de exceção mantido pelo governo militar. Éramos (ou somos) fruto de um renascimento político e cultural vigoroso vivido no Brasil nos anos 80.
Exposição Perdidos no Espaço, 1991: fotos de Rubens Rebouças (no alto) e Almir Israel
O Ladrões de Alma foi, nesse sentido, uma grande experiência de organização horizontal. Evidentemente, a personalidade de cada um determinava as formas de agir e as lideranças surgiam de acordo com os projetos e propostas. Os líderes iam e vinham de acordo com cada situação. Em certo momento, o Rubens comandou a organização do trabalho, principalmente na questão do dinheiro, visto que sempre foi o mais organizado. O Almir teve sempre grande participação na condução das reuniões, dos debates e brincadeiras. O Rinaldo também liderava várias etapas do trabalho de edição, por ser muito obsessivo nessa função. Maria Helena sempre teve grande participação na montagem das exposições, com seu olhar e experiência de arquiteta. Arthur Lacerda participava com seu rigor científico, enquanto Cristina Bastos, com sua alma de poeta, propunha utopias. E assim o trabalho ia se construindo. Lideranças mutantes. Rosana impulsionava o trabalho com leveza, Susana com sua base teórica, Usha com seus silêncios e sua determinação para carregar pianos, Luniere andando de um lado para o outro. Um espírito anárquico que recusava formalizações. Éramos (somos) filhos da revolução (?). 89
Nossas reuniões, por um lado, eram bastante sérias. Sempre fomos exigentes com o nosso trabalho. Mas, paralelamente, sempre acontecia um campeonato de trocadilhos e piadinhas, algumas boas e outras infames. Lembro uma vez em que o Marcello Luniere e a Maria Helena ensinavam a Adriana Fernandes a “fazer fio” na foto. Um fio escuro em volta da imagem, gerado na ampliação graças à janela do ampliador maior que o negativo, o que garantia uma certa “autenticidade”, uma certificação de que a imagem não havia sido cortada. Valores de outras épocas, que hoje parecem sem sentido. Então, o Luniere repetia “fazer fio é muito fácil”, e a Adriana apanhava da máscara do ampliador, sem conseguir. “Mas fazer fio é muito fácil...” Até que o Almir, escutando de longe, grita, já cansado da conversa: “Não é fácil não. Fazer fio não é fácil não. Eu mais a Fatinha tâmo tentando, tentando e não conseguimos fazer fio!”... O bom é que não foi tão difícil. Dali a alguns meses a Fatinha estava grávida da primeira das duas lindas filhas do casal. Outro dia o Rinaldo chega na reunião acompanhado da mãezinha dele. Ele levara a D. Maura a uma consulta médica e não deu tempo de deixá-la em casa. Ela ficou sentadinha ao lado do filho. A turma começa a chegar. E todos vão se sentando ao redor da mesa grande no centro da sala. O Rinaldo vai apresentando a mãe a quem não a conhecia ainda. E daí a pouco chega o Rubens, dá aquele oi geral e, ao ver o Rinaldo ao lado da mãe, solta: “Ué, não sabia que era pra trazer a mãe. Não trouxe a minha hoje não!” Bom é que a D. Maura logo virou só Maura e também se divertiu bastante nesse dia. Em outra reunião chega o Almir, todo “hablante”, de uma aula de espanhol. Porque jo pra lá. Porque jo pra lá. Que fotos tan ricas. E jo pra cá e jo pra lá. Até que a Adriana, descendo das nuvens, pergunda baixinho (e até hoje nega): “Quem é esse Jô? Gente nova no grupo?” Além dos membros fixos (e também dos temporários), o coletivo Ladrões de Alma contou sempre com alguns “padrinhos”, sendo 90
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Usha Velasco, postal da Coleção Reincidentes, 1989
Um fio escuro em volta da imagem, gerado na ampliação graças à janela do ampliador maior que o negativo, garantia uma certificação de que a imagem não havia sido cortada. Valores de outras épocas, que hoje parecem sem sentido.
Isabela Oliveira, postal da Coleção 24 x 17, 1988
Adriana Fernandes, postal da Coleção 24 x 17, 1988
alguns deles nomes incontornáveis na história da fotografia brasileira, que nos acompanharam desde sempre. O primeiro é o Luis Humberto Miranda Martins Pereira, ou melhor, Luis Humberto, professor fundador da Universidade de Brasília, um dos principais fotojornalistas da história da imprensa no Brasil, e sobretudo um pensador. Ele foi sempre uma referência para o grupo, professor de muitos e mestre de todos. Como a Márcia, sua esposa, falou uma vez: “O Luis Humberto é meio pajé.” É isso. Ele foi uma espécie de pajé dos Ladrões de Alma, aquele que deu a dimensão do sagrado da nossa atividade. Aquele que sempre soube valorizar a fotografia e, ao mesmo tempo, paradoxalmente, deixar claro que a fotografia não tem importância alguma, não é nada se não for praticada com grandeza, leveza e generosidade. Que a fotografia somente tem importância se for questionadora e transformadora. Milton Guran, fotógrafo, antropólogo e hoje coordenador do Foto Rio, entre inúmeras outras coisas, também sempre esteve em contato com o grupo. Foi um grande incentivador, divulgador e amigo. Lembro de uma exposição no Martinica Café, em que escutamos de longe, com aquele vozeirão e sotaque carioca, o Guran anunciando: “Nem vi e já gostei.” Ele participou de vários encontros na casa da Cristina Bastos. Eram churrascos, mezzo vegetarianos para atender a essa demanda, com a participação de filhos e agregados. Partidas memoráveis de voleibol, disputas hilariantes de futebol entre homens e mulheres e competições de natação garantiram nossa saúde de ferro. Com a devida compensação etílica, na qual também sempre tivermos uma boa representação, que não vale a pena destacar. Joaquim Paiva, fotógrafo e colecionador, completa essa Santíssima Trindade que sempre nos acompanhou e incentivou, como comprovam as histórias que relembro neste texto. Tivemos também a participação 91
eventual de alguns fotógrafos que não chegaram a ser integrantes do grupo, principalmente porque já tinham suas carreiras bastante consolidadas, mas participaram de alguns eventos em momentos especiais, como o Beto Rocha e o Duda Bentes. Joaquim Paiva abriu sua mapoteca no canto da ampla sala de seu apartamento na Asa Sul de Brasília. De dentro das gavetas começou a retirar preciosidades: cópias originais de Ansel Adams, Diane Arbus, Grate Stern, Martim Chambi, e outros mais. Tudo maravilhosamente acondicionado. Enquanto manuseava as cópias, contava como adquiriu cada um dos trabalhos. Singelamente relatava como sua coleção, sempre referenciada como a principal coleção particular de fotografia no Brasil, foi meticulosamente constituída. Com a paixão que só os verdadeiros colecionadores têm pela arte. Depois, fotografias de Miguel Rio Branco, Mário Cravo Neto, Sebastião Salgado e outros mais. Com a ressalva de que aquela era apenas uma parte da coleção. Outra parte estava no Rio de Janeiro, onde ainda mantinha sua casa, visto que passava apenas algumas temporadas em Brasília nas suas idas e vindas de diplomata. Estávamos neste dia na casa do também poeta e escritor Joaquim Paiva, eu, Rinaldo, Susana, Almir e Usha. Ele já participara de diversas outras reuniões com os fotógrafos do grupo, que apontou como o primeiro coletivo fotográfico brasileiro após a época dos fotoclubes. Escrevera alguns textos sobre nosso trabalho e neste dia havíamos combinado que ele nos ajudaria a editar alguns ensaios. Em um dado momento, entre conversas sobre fotografia e abobrinhas, Joaquim olha detidamente algumas fotografias, separa, junta outra vez, seleciona algumas e faz uma proposta. E nossos trabalhos passaram a pertencer à Coleção Joaquim Paiva, desde 2005 mantida em regime de comodato com o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Aqui e ali fotografamos uns aos outros. Fotógrafos geralmente não gostam muito de passar para a frente das câmeras. Mas esse exercício 92
Alan, Susana e Almir fotografados por Rinaldo Morelli em exercício coletivo de retratos (1990)
‘ Com as luzes do palco fizemos um grande ritual fotográfico em que todos foram fotógrafos e personagens. Uma fotografia verdadeiramente coletiva que nos levou a questionar a autoria daquelas imagens, tema hoje tão presente na arte contemporânea, que de alguma forma sempre vivenciamos nos nossos processos de produção.
é muitas vezes fundamental para a compreensão da natureza da nossa própria atividade. Depois da “invasão” do digital, então, fazemos como todo mundo, fotografamos e raramente vemos as imagens de nossos encontros. E elas transitam pelas nuvens do Facebook. Mas alguns exercícios de retratos entre nós mesmos foram marcantes, como uma vez que o Alan Calado conseguiu o espaço do Teatro da Funarte, e com a ajuda preciosa das luzes do palco fizemos um grande ritual fotográfico em que todos foram fotógrafos e personagens. Uma fotografia verdadeiramente coletiva que nos levou a questionar a autoria daquelas imagens, tema hoje tão presente na arte contemporânea, que de alguma forma sempre vivenciamos nos nossos processos de produção. Fizemos também várias viagens para fotografar. Nossa vertente mais documental. Vale dizer que um profundo respeito pelos mestres da fotografia documental sempre foi cultivado dentro do grupo, sem prejuízo para nossas experimentações e expansões na linguagem fotográfica. Lembro de uma viagem que fizemos eu, Rubens e Giovana, de Brasília para a cidade de Goiás, a antiga capital do estado, popularmente conhecida como Goiás Velho. Demoramos mais de oito horas além do previsto, porque o combinado era que, quando um pedisse para parar, o motorista parava. E todos fotografavam. Outra viagem muito importante foi a visita à cidade natal do Almir, Araújos, em Minas Gerais, na data da festa do Reinado, com apresentação dos grupos de Folia de Reis e dos grupos de Congado das cidades próximas. O resultado foi uma linda documentação nos olhares do Rinaldo, Susana, Almir, Usha e da Ana Borges, que não era ladra mas ficou sendo, nessa aventura. O trabalho rendeu uma exposição na galeria da Esquina da Palavra, livraria de vida curta mas marcante, e a certeza que era preciso fazer mais. Ir mais vezes ao interior do Brasil e olhar pra dentro. 93
‘ Chegamos no horário marcado. Eu havia agendado uma reunião com o diretor do Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS), o fotógrafo Marcus Santilli, sempre citado por Luis Humberto como um dos integrantes de uma equipe histórica que se formou no Jornal de Brasília nos anos 70. E estávamos animados, este narrador, acompanhado por Usha, Rinaldo, Susana e Andrea (com quem havia me casado recentemente), na expectativa de retomar a atuação em grupo, que havia se desestruturado naquele momento, já no final da década de 90. Vida que segue. Cada um batalhando sua sobrevivência, seu lugar no mundo. Eu achava que precisávamos levar o trabalho para São Paulo e Rio. Ampliar horizontes. E essa versão de bolso do Ladrões seguiu para Sampa. Quem sabe uma exposição no MIS para retomar nosso processo coletivo? Tínhamos projetos para apresentar e sugerir. A secretária do Marcus Santilli logo nos informou que não havia nenhuma reunião agendada. Expliquei que falara com ele pessoalmente por telefone há cerca de um mês e ele agendara. Ela ficou nos olhando com cara de paisagem. Daí a pouco chega o diretor Marcus Santilli. Pensei: agora tudo se resolve. Ele se lembrava vagamente de ter falado com alguém há um tempo atrás. Não se lembrava de ter agendado nada. Eu estava totalmente envergonhado. Vermelho. Vontade de sumir dali. Para minha salvação, chegou logo depois a curadora de fotografia do MIS, Isabel Amado. Ela, meio constrangida, tomou a frente da situação, nos convidou para uma sala de reuniões e nos escutou. E nos convidou para fazer uma projeção em um evento que ocorreria no MIS na noite seguinte. Foi um ótimo evento. A projeção foi um sucesso de público. Lembro especialmente da presença dos grandes fotógrafos e proseadores Juvenal Pereira e Salomon Citrinovtz. E ficamos de enviar um projeto para uma exposição etc. Mas os ventos da política mudaram, Isabel Amado logo saiu do cargo, e a exposição no MIS ficou como um projeto que não se concretizou. 94
Fizemos também várias viagens para fotografar. Nossa vertente mais documental. Vale dizer que um profundo respeito pelos mestres da fotografia documental sempre foi cultivado dentro do grupo, sem prejuízo para nossas experimentações e expansões na linguagem fotográfica.
No dia seguinte ao evento no MIS, outro episódio que ficou na memória. Estávamos fotografando no Centro Cultural São Paulo. E de repente chega o “segurança”, cheio de autoridade: “Não pode tirar fotografia aqui não!” A Usha saiu de lado, a Susana arregalou os olhos, e eu me sai com esta: “Moço, não estamos tirando, estamos colocando!” O Rinaldo deu uma gargalhada que até hoje deve ecoar nos ouvidos da Autoridade. A presença de um grande público sempre foi uma marca das nossas exposições. Éramos muitos. As opções na cidade não eram tantas. Então, como nossas exposições sempre tiveram excelente produção, uma festa, como sempre foi nossa intenção, o público sempre compareceu em peso. Vale lembrar que nos nossos diversos eventos tivemos sempre um amuleto, uma brincadeira entre vários dos componentes: a presença do lendário Adelmo, ou Udo, um homem e no mínimo dois nomes, como convém a um ser onipresente. Em todas nossas exposições, lá vinha ele, de Grande Circular, de carona, depois de lambreta, garantindo que teríamos mais uma vez sucesso de público.
Reinado de Araújos, MG: fotos de Almir Israel (centro) e Rinaldo Morelli
Na véspera do aniversário de 50 anos de Brasília, na abertura de uma exposição sobre a história da cidade no Conjunto Cultural da Caixa, reencontramos, eu, Susana, Rinaldo e Usha, nosso amigo Joaquim Paiva. Seu fundamental trabalho sobre a Cidade Livre, depois Núcleo Bandeirante, o lugar de morada dos primeiros candangos, fez parte dessa exposição. Conversamos sobre a presença fortíssima dos coletivos na cena fotográfica naquele momento (na verdade desde a virada do século e cada vez mais até os dias de hoje). Um de nós comentou que, desses novos coletivos, pouquíssimos já haviam escutado falar dos Ladrões de Alma. Eu pessoalmente verifiquei isso em diversas conversas com membros de coletivos, inclusive com os de maior destaque. Nunca haviam ouvido nada sobre Ladrões de Alma. Alguém falou que seria interessante produzir um livro para retomar a história. Joaquim disse: “Vocês devem, sim, fazer um livro mostrando que 95
foram os pioneiros nisso. Não de uma forma arrogante. Mas contar essa história. É preciso.” E isso ficou ecoando na nossa cabeça. Até que um dia, entre nossas múltiplas atividades, conseguimos retomar um projeto para levar a proposta adiante. E quando o Kazuo Okubo e sua irmã e escudeira Shirley Okubo tomaram conhecimento da ideia, foi a fome com a vontade de comer. Eles nos cobraram o projeto formatado e fomos em frente. O Ladrões de Alma definitivamente só existe pelo encontro de pessoas! Tivemos um antecedente que também marcou a necessidade de produzir uma publicação sobre a história do grupo. Foi em 2005. Uma exposição no Centro Cultural da Caixa no Rio de Janeiro. Eu, Rinaldo, Usha e Susana, com o apoio da Caixa Cultural, tantas vezes fundamental. Montamos uma exposição caprichada. E na abertura apareceram muitas pessoas, entre elas as nossas queridas amigas Ângela Magalhães e Nadja Peregrino, pesquisadoras e historiadoras, a quem a fotografia brasileira muito deve. Elas haviam acabado de escrever o livro Fotografia no Brasil: das origens ao contemporâneo, e nós havíamos ficado de fora. Elas, figuras amáveis, explicaram que talvez a falta de uma publicação de referência tenha motivado o esquecimento, e se penitenciaram por nossa ausência. Logo depois da exposição, Susana foi com o marido Pierre, que viera direto do aeroporto para a exposição, para a Zona Sul, onde estavam hospedados, e fomos, eu, Rinaldo e Usha, à caça de um bar para comemorar o sucesso da vernissage. Fomos ao Bar do Luiz, na rua da Carioca, mas já estava fechando, meia noite. Voltamos para o nosso hotel, pertinho da Praça Tiradentes, e o bar do hotel já estava fechado. Contra a vontade do porteiro (“Essa região não é segura!”), fomos para um trailler na praça, cercado por “meninas da vida” e motoristas de ônibus (o local era ponto final de ônibus e um ponto de prostituição). Depois de alguns litros de cerveja, pactuamos fazer esta publicação. A bem da verdade, na manhã seguinte já havíamos esquecido o pacto, mas, sei lá, ficou no nosso subconsciente... 96
As caixinhas de Rinaldo Morelli com o ensaio O passarinho é você, na exposição Quase Coisas: Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro (2002, 2004 e 2005)
Algumas de nossas exposições ganharam uma certa “vida própria”, fugiram do nosso controle e se multiplicaram em outros produtos. Talvez a mais marcante nesse sentido tenha sido Os Ladrões de Alma na Noite do Vampiro Torquato, que marca também uma das participações do errático teórico e fotógrafo Sandro Alves, grande conhecedor da obra do poeta tropicalista Torquato Neto. Tudo começou de forma singela, em um diálogo de imagens com a obra do poeta, o que resultou em uma exposição na Biblioteca Pública da 513 Sul e depois no Hotel Nacional, durante o Festival de Cinema de Brasília, em 1992. Foi quando vários torquatistas militantes se associaram ao projeto, entre os quais o professor Fernando Antônio, que levou a exposição para a Universidade Federal de Sergipe. E, principalmente, o professor, poeta e jornalista Paulo José Cunha, também piauiense como Torquato, que divulgou aos quatro cantos esse trabalho, e, entre outras ações, recentemente incluiu uma versão digital da exposição no site da Fundação Cultural do Piauí, que divulga a obra do “anjo torto”. Ficamos, para nossa satisfação, um pouco grudados na história do poeta morto aos 27 anos, assim como seus irmãos espirituais Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison. Nossas reuniões aconteceram em diferentes sedes ao longo do tempo. Nos primeiros anos o endereço era a 106 Norte, no espaço que eu dividia com Cristina e Maria Helena, onde depois montamos uma agência de publicidade. Mais tarde as reuniões passaram a ser no ateliê que o Almir dividia com Alan, na 308 Norte. Tivemos um período também no Venâncio 2000, onde ficava a Calliandra, escritório de comunicação da Usha e da Valéria Velasco. Mais tarde a empresa passou a se chamar Vila Velasco, mudou para a 107 norte e continuou a abrigar o grupo. Depois das reuniões, uma parte dos ladrões continuava a conversa no bar mais próximo. O mais marcante foi o Segundo Clichê, inseparável do Armazém do Brás, dois em um, principalmente porque unidos por um dos recantos mais agradáveis de Brasília, 97
‘ a pracinha entre os blocos comerciais C e D, projeto do arquiteto Elvin Dubrugras, em cujos banquinhos inventamos e renovamos vários projetos.
O processo de edição sempre foi um momento intenso. Colocar as
O processo de edição, a grande marca do grupo, sempre foi um momento intenso. Colocar as imagens na mesa. Sempre na mesa. E começar a juntar e separar. Conjuntos. Imagens que querem ficar juntas. Outras que querem se separar. E o exercício de pensar. Concordar, discordar, mediar. E escutar o outro. E acalmar o ego. E aceitar que talvez aquela foto que julgávamos ótima pode não ser. E a descoberta, maravilhosa, de que algumas imagens atingem pulsações e imaginários que não suspeitávamos. Quantas vezes nos surpreendemos e aprendemos uns com os outros com opiniões divergentes e novos caminhos sugeridos.
imagens na mesa. E começar a juntar e separar. Conjuntos. Imagens que querem ficar juntas. Outras que querem se separar. E o exercício de pensar. Concordar, discordar, mediar. E escutar o outro. E acalmar o ego.
Olhando para trás é possível dizer que o coletivo Ladrões de Alma foi e é importante na vida e carreira de muitos de nós. No meu caso, foi fundamental e decisivo. Não seria quem sou como fotógrafo e como pessoa sem os Ladrões. E se, no início, alguns de nós já éramos profissionais ou em vias de profissionalização, hoje verificamos que quase todos continuaram na fotografia e adjacências. Outros partiram para outros voos, mas, mesmo sem autorização para falar em nome deles, imagino que todos continuem a gostar e praticar a fotografia. Os mais afastados profissionalmente dessa área são o Marcelo Amaral, médico pediatra, que após um período afastado voltou a fotografar com grande entusiasmo, e a Rosana Vasconcelos, funcionária do Itamaraty mundo afora, também fotografando. Este narrador pode dizer que, sem o Ladrões de Alma, provavelmente não seria hoje (há dezenove anos) professor da Universidade de Brasília, onde tenho como colega a sempre entusiasmada Susana Dobal. Rinaldo Morelli ganha o pão no fotojornalismo. Rubens Rebouças na fotografia de moda, publicidade e gente. Usha Velasco nas artes em geral, incluindo a fotografia. Almir Israel, no Banco do Brasil e na arquitetura. Maria Helena Andrade 98
E aceitar que talvez aquela foto que julgávamos ótima pode não ser.
também na arquitetura, sempre na luta pelas escolas do DF. Artur Lacerda se aventurou como empresário. Adriana Fernandes é jornalista de destaque, assim como outros que participaram eventualmente do grupo, como Rogério dy La Fuente e Antônia Márcia Vale. Marcello Luniere migrou para o cinema e mora na França. Outra eventual, Isabela Oliveira, é também professora da UnB e designer gráfica. A Giovana Assis foi para o Rio de Janeiro, onde trabalha num tribunal, estudou filosofia e nunca larga a fotografia. Quero dizer com isso que as pessoas se dispersaram, alguns se juntaram de novo, se dispersaram outra vez, para outra vez acontecer o (re)encontro, sempre entre batalhas por nosso lugar ao sol, meio naquela toada do Feijão e o Sonho, a novela clássica de Orígenes Lessa, em que os personagens sonham mas são também conduzidos pelas vicissitudes da vida real. Foram vários os temas desenvolvidos coletivamente ao longo dos anos, mas o grande tema, a grande marca do grupo, o pano de fundo que esteve sempre presente, foi e continua a ser o próprio sentido da fotografia, das suas possibilidades, suas fronteiras e seus infinitos. Talvez o que tenha sempre nos unido seja o espanto compartilhado da imagem, a sua força, sua presença, a ausência, o que a fotografia pode falar do mundo na sua fragilidade, nos tons, nos sons por dentro, no seu silêncio...
Alan Calado, Almir Israel e Usha Velasco fotografados por Susana Dobal em exercício coletivo, com dupla exposição (1990)
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25 anos de fotografia e experimentação
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Usha Velasco, da série Retratos do Artista Quando Coisa Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Usha Velasco, da série Retratos do Artista Quando Coisa Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Usha Velasco, da série Retratos do Artista Quando Coisa Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Usha Velasco, da série Retratos do Artista Quando Coisa. Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Marcelo Feijó, da série São Paulo, fotografias sobre porcelana. Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Marcelo Feijó, da série São Paulo, fotografias sobre porcelana. Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Marcelo Feijó, da série Nova York, fotografias sobre porcelana. Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Rinaldo Morelli, da série Imagem Analógica. Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Rinaldo Morelli, da série Imagem Analógica. Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Na página ao lado: instalações da série O Passarinho é Você, de Rinaldo Morelli. Acima: simulações do conteúdo do trabalho (pelo furo, o espectador vê o próprio olho refletido na fotografia que está dentro da caixa). Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Susana Dobal, da série O Jardim Francês. Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Susana Dobal, da série O Jardim Francês. Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Susana Dobal, da série O Jardim Francês. Exposição Quase Coisas (Rio de Janeiro, 2005; São Paulo, 2003; Brasília, 2002)
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Rinaldo Morelli, díptico da série Equivalências 126 Exposição EmContato (Brasília, 2005)
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Rinaldo Morelli, díptico da série Equivalências 128 Exposição EmContato (Brasília, 2005)
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Rinaldo Morelli, díptico da série Equivalências 130 Exposição EmContato (Brasília, 2005)
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Usha Velasco, fotografia sobre tecido e costuras, da série Autorretratos. Exposição EmContato (Brasília, 2005)
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Usha Velasco. Fotografia analógica, revelação com pincel, impressão sobre tecido e costuras. Da série Autorretratos. Exposição EmContato (Brasília, 2005)
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Susana Dobal, simulações da série Anotações de Viagem (original em camadas de vidro). Exposição EmContato (Brasília, 2005)
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Susana Dobal, simulações da série Anotações de Viagem (original em camadas de vidro). Exposição EmContato (Brasília, 2005)
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Beto Rocha, sem título. Exposição Desdocumentos (Brasília, 2004)
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Beto Rocha, sem título. Exposição Desdocumentos (Brasília, 2004)
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Susana Dobal, fotografia e colagem. Exposição Desdocumentos (Brasília, 2004)
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Susana Dobal, fotografia e colagem. Exposição Desdocumentos (Brasília, 2004)
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Rinaldo Morelli, da série Composições. Exposição Desdocumentos (Brasília, 2004)
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Rinaldo Morelli, da série Composições. Exposição Desdocumentos (Brasília, 2004)
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Usha Velasco, fotografias sobre tecido e costuras, da série Se essa rua fosse minha. Exposição Desdocumentos (Brasília, 2004)
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Marcelo Feijó, montagem artesanal em laboratório, da série Panorâmicas 154 Exposição Cozinha das Almas (Brasília, 2000)
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Marcelo Feijó, montagem artesanal em laboratório, da série Panorâmicas 156 Exposição Cozinha das Almas (Brasília, 2000)
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Rubens Rebouças, da série Nus. Exposição Cozinha das Almas (Brasília, 2000)
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Susana Dobal, da série Totens. Exposição Cozinha das Almas (Brasília, 2000)
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Susana Dobal, da série Totens. Exposição Cozinha das Almas (Brasília, 2000)
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Maria Helena Andrade Exposição Abrangente, 1998
Cristina Bastos Exposição Abrangente, 1998
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Almir Israel, da série Banheiros. Exposição Abrangente, 1998
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Almir Israel, da série Banheiros. Exposição Abrangente, 1998
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Rinaldo Morelli, da série Avó. Exposição Abrangente, 1998
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Marcelo Feijó, da série Nova York, fotografias sobre porcelana. Exposição Abrangente, 1998
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Usha Velasco, c0lagens digitais da série Túnel do Tempo. Exposição Abrangente, 1998
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Susana Dobal, exposição Ali no Bar e os Dez Ladrões, 1997 176
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Usha Velasco, Exposição Ali no Bar e os Dez Ladrões, 1997
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Almir Israel, Exposição Ladrões de Alma (Rio de Janeiro, 1993; Brasília, 1995)
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Almir Israel, da série Uns Nus. Exposição Ladrões de Alma (Rio de Janeiro, 1993; Brasília, 1995)
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Almir Israel, da série Uns Nus. Exposição Ladrões de Alma (Rio de Janeiro, 1993; Brasília, 1995)
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Acima: Maria Helena Andrade. Na página ao lado: Cristina Bastos Exposição Ladrões de Alma (Rio de Janeiro, 1993; Brasília, 1995)
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Exposição Os Ladrões de Alma na noite do vampiro Torquato, 1990 À direita: Sandro Alves, sobre o poema Marginália II Na página ao lado: Almir Israel, sobre o poema Mamãe Coragem
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Cristina Bastos Exposição Perdidos no Espaço, 1991
Rubens Reboças Exposição Perdidos no Espaço, 1991
188
Cristina Bastos, exposição Perdidos no Espaço, 1991
189
Almir Israel Exposição Perdidos no Espaço, 1991
Rosana Vasconcelos Exposição Perdidos no Espaço, 1991
190
Arthur Lacerda. Exposição Perdidos no Espaço, 1991
191
Adriana Fernandes Exposição Perdidos no Espaço, 1991
192
Rinaldo Morelli Exposição Perdidos no Espaço, 1991
193
Arthur Lacerda Exposição 100 Imagens, 1990
194
195
Rinaldo Morelli Exposição 100 Imagens, 1990
196
Usha Velasco Exposição 100 Imagens, 1990
197
Rinaldo Morelli Exposição 100 Imagens, 1990
198
Almir Israel Exposição 100 Imagens, 1990
199
200
Acima: Rosana Vasconcelos. Na página ao lado: Alan Calado. Exposição 100 Imagens, 1990
201
Cristina Bastos Exposição 100 Imagens, 1990
202
203
Marcello Luniere Exposição 100 Imagens, 1990
204
205
206
Marcello Luniere Exposição 100 Imagens, 1990
207
Cristina Bastos, da série Janelas abertas Exposição Ensaios Particulares, 1990
208
209
210
Rinaldo Morelli, da série Inversos Exposição Ensaios Particulares, 1990
Susana Dobal, da série Incidentes Exposição Ensaios Particulares, 1990
211
Usha Velasco, da série O lado escuro Exposição Ensaios Particulares, 1990
212
Maria Helena Andrade, da série Crianças ao redor Exposição Ensaios Particulares, 1990
213
Adriana Fernandes, da série O ritmo das formas. Exposição Ensaios Particulares, 1990
214
Marcelo Feijó, da série Trípticos. Exposição Ensaios Particulares, 1990
215
Coleção Verde em Preto e Branco Cartões postais, 1992
Rubens Rebouças
Cristina Bastos
216
Rosana Vasconcelos
Almir Israel
Susana Dobal
Susana Dobal
Maria Helena Andrade
Rosana Vasconcelos
Usha Velasco
Cristina Bastos
Rinaldo Morelli
Cristina Bastos
217
Coleção Reincidentes Cartões postais, 1989
Almir Israel
Marcelo Feijó
Susana Dobal
Cristina Bastos
Sandro Alves
Sandro Alves
Rubens Rebouças 218
Rosana Vasconcelos
Adriana Fernandes
Cristina Bastos
Rinaldo Morelli
Almir Israel
Arthur Lacerda
Rosana Vasconcelos
Marcello Luniere
Marcello Luniere
Usha Velasco
Marcelo Feijรณ
Rinaldo Morelli 219
Coleção Reincidentes Cartões postais, 1989
Antônia Márcia Vale
Rinaldo Morelli
220
Giovana Assis
Usha Velasco
Maria Helena Andrade
Marcelo Feijó
Alan Calado
Maria Helena Andrade
Maria Helena Andrade
Rubens Rebouรงas
Almir Israel
Mรกrcia Alves
Giovana Assis
Cristina Bastos
Cristina Bastos
Rubens Rebouรงas
Marcelo Feijรณ
221
Coleção 24 x 17 Cartões postais, 1988
Rinaldo Morelli
Rubens Rebouças
Susana Dobal
Almir Israel
Isabela Oliveira
Sérgio Melo Maia
Giovana Assis
Almir Israel
Adriana Fernandes
Rogério dy La Fuente
Ricardo Movitz
222
Rosana Vasconcelos
Marcelo Feijó
Marcelo Feijó
Rubens Rebouças
Antônia Márcia Vale
Rosana Vasconcelos
Rosana Vasconcelos
Cristina Bastos
Márcia Alves
Rubens Rebouças
Alan Calado
Marcelo Amaral
Cristina Bastos 223
Linha do tempo
Ensaios Particulares Coleção Verde em Preto e Branco
Exposição – Galeria da Caixa Cultural, Brasília
Exposição e lançamento de postais – Café Martinica (Brasília) e Universidade Federal Fluminense (RJ)
100 Imagens Exposição – Galeria do Instituto Cervantes, Brasília Exposição e lançamento de cartões postais – Galeria da Cultura Inglesa, Brasília
1988
Os Ladrões de Alma na Noite do Vampiro Torquato
1989
1990
1991
1992
Exposição – Fotogaleria do Cine Brasília
1993
Coleção Reincidentes
Perdidos no Espaço
Ladrões de Alma
Exposição e lançamento de postais – Galeria da Cultura Inglesa e Universidade de Brasília
Exposição – Foyer da Sala Villa Lobos, Teatro Nacional de Brasília
Exposição – Universidade Federal Fluminense (RJ)
Exposição e projeção Ateliê 7, Brasília
Varal dos Ladrões Roquette Bar, Brasília
Exposição – Galeria Athos Bulcão, Teatro Nacional de Brasília
Ladrões de Alma
Exposição – Festival de Cinema de Brasília (DF); Universidade Federal de Aracaju (SE)
Exposição – Biblioteca Pública da 513 Sul, Brasília
Ladrões de Alma
224
Abrangente
Os Ladrões de Alma na Noite do Vampiro Torquato
Coleção 24 x 17
1ª Cozinha Fotográfica Exposição, projeção e debate – Sindicato dos Jornalistas do DF
1995
1997
Ali no Bar e os Dez Ladrões Exposição – Café Martinica, Brasília
1998
EmContato
Alguns Ladrões
Exposição – Foyer da Sala Villa Lobos, Teatro Nacional de Brasília
Projeção – Museu da Imagem e do Som (MIS), São Paulo
2000
Cozinha das Almas
Quase Coisas
Quase Coisas
Exposição – Galeria Cozinha das Almas, Brasília
Exposição – Galeria da Caixa Cultural, São Paulo
Exposição – Galeria da Caixa Cultural, Rio de Janeiro
2002
2003
2004
2005
2006
Ladrões de Alma: Memorabilia Audiovisual
Ladrões de Alma – 25 anos Lançamento de livro e exposição itinerante – DF
Lançamento do DVD de Rodrigo Dalcin
2007
2008
Quase Coisas
Desdocumentos
Reinado de Araújos
Ladrões de Alma
Exposição – Galeria da Caixa Cultural, Brasília
Exposição – Galeria Espaço CasaPark, Brasília
Exposição – Livraria Esquina da Palavra, Brasília
Projeção e debate – Fotoclube f/508, Universidade de Brasília
2010
2015
Aos Ventos que Virão – retrospectiva de 50 anos das artes visuais em Brasília Espaço Cultural Contemporâneo ECCO, Brasília
Encontros com o Autor Projeção e debate – Candango Fotoclube
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Agradecimentos no catálogo da Exposição Perdidos no Espaço, 1991: Luis Humberto ao lado de Guimarães Rosa, TT Catalão ao lado de Edgar Alan Poe, Macunaíma ao lado de Fred e Barney... e ao Obelix (pela força). Na página ao lado, contato da época com retratos dos Ladrões.
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