NEM ESTÉTICA NEM COSMÉTICA: UM DEBATE SOBRE O CINEMA CONTEMPORÂNEO A PARTIR DA REVISÃO DA SUA RELAÇÃO COM A FOME Miguel Jost
A partir de 2003, o poder público brasileiro, em especial através da gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura, atuou efetivamente para realizar uma distribuição mais democrática dos recursos do estado destinados a fomentar e incentivar práticas artísticas. A política do Ministério era desconcentrar o seu orçamento disposto, equilibrando uma balança que historicamente pesou a favor da produção oriunda das capitais do país, com foco principal no eixo Rio de Janeiro – São Paulo. Nesse sentido, foram criados mecanismos que possibilitaram o surgimento de novas cenas de produção e incorporaram agentes que, anteriormente, dispuseram de quase nenhuma estrutura para o desenvolvimento de linguagens estéticas e para a construção de suas obras. Como desdobramento dessa política pública de descentralização em escala nacional, podemos observar também uma nova orientação nas políticas estaduais e municipais que, na mesma direção das políticas federais, procuraram deslocar o aporte dos seus recursos das áreas de maior poder socioeconômico para regiões que eram pouco contempladas com recursos para investimento em cultura. Surge nesse momento, ainda na primeira década dos anos 2000, o conceito de territórios de cultura. É fundamental destacar que não falamos aqui de um conceito de natureza meramente geográfica, mas sim de uma abordagem que pretende pensar esses territórios por sua pluralidade, pelo caráter não homogêneo do desejo por cultura existente nele, e pelos distintos desafios que estes precisam enfrentar para a garantia de um sentido mais amplo de cidadania e direito cultural em um país com as profundas desigualdades de renda e acesso à educação como é o caso do Brasil. 253