RASTROS DE BABEL: DO TEXTO ÀS TELAS DA PINTURA E DO CINEMA Renato Cordeiro Gomes
A tarefa do historiador das imagens, por mais modesta que seja – pois as imagens são vestígios de histórias, traços, sintomas –, não se assemelha apenas a uma arqueologia, uma vez que escava o que a representação midiática tende a recobrir, mas também a uma tomada de posição crítica, visando a fazer despertar uma memória na atualidade ou uma atualidade na história. É, com efeito, o que poderíamos chamar o caráter intempestivo de toda análise consequente das imagens. Georges Didi-Huberman. La condition des images, 2011. Babel: antes de tudo um nome próprio, seja. Mas quando dizemos Babel, hoje, sabemos o que nomeamos? Sabemos quem nomeamos? Consideremos a sobrevida de um texto legado, a narrativa ou o mito da torre de Babel: ele não forma uma figura em meio a outras (....) ele também fala da necessidade de figuração, do mito, dos tropos, das circunlocuções [des tours = giros, voltas, passeios, vias, vozes, tornos, truques, e até mesmo desvios se confundem na confusão de Babel], da tradução inadequada para suprir aquilo que a multiplicidade nos interdiz. [...]. A “torre de Babel” não configura apenas a multiplicidade irredutível das línguas, ela exibe um não-acabamento, a impossibilidade de completar, de totalizar, de saturar, de acabar qualquer coisa que seria da ordem da edificação, da construção arquitetural, do sistema e da arquitetônica. Jacques Derrida. Tours de Babel, 2006.
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