Linguagens visuais: literatura, artes e cultura

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PRÁTICAS LITERÁRIAS E EXERCÍCIOS DO VER: A REVOLUÇÃO DOS SUPORTES Vera Lúcia Follain de Figueiredo

Entramos na era das águias. A característica das águias é ter os olhos maiores que o cérebro. Isto não significa que sejam idiotas, mas que pensam com os olhos. Gérard Wajcman. El ojo absoluto, 2011. A questão da relação entre o cognoscível e o visível, como sabemos, pontuou, com diferentes matizes ao longo do tempo, todo o pensamento ocidental. Na primeira metade do século XX, a noção de inconsciente ótico, tal como concebida por Walter Benjamin em sua reflexão sobre a reprodutibilidade técnica, retomava este mesmo tema, partindo da hipótese de que haveria algo que vemos e não sabemos que vemos inscrito no visual, ou ainda, alguma coisa que conhecemos no que vemos e não sabemos que conhecemos. Para tornar mais clara tal hipótese, Benjamin exemplificava, então, com o caso da fotografia, observando que o olho mecânico da máquina fotográfica é capaz de ver algo que só conseguimos ver com a sua mediação, ou seja, a fotografia poderia revelar um segredo existente na superfície fisionômica das coisas: Percebemos, em geral, o movimento de um homem que caminha, ainda que em grandes traços, mas nada percebemos de sua atitude na exata fração de segundo em ele dá um passo. A fotografia nos mostra essa atitude, através dos seus recursos próprios: câmara lenta, ampliação. Só a fotografia revela esse inconsciente ótico, como só a psicanálise revela o inconsciente pulsional. (BENJAMIN, 1985, p.94). 355


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