CHANCE
AO
ACASO
/
MARINA
MARCHESAN
LF-05/001
CHANCE AO ACASO / MARINA MARCHESAN
CHANCE AO ACASO / MARINA MARCHESAN
“Toda revolução é um lance de dados.” Jules Michelet
IGITUR / PORTANTO
Uma consciência que se manifesta. A consciência da noite. Como se a noite fosse o sujeito sem forma. A consciência se dá conta de que está viva. Movimento de meditação. A partir das pedras tumulares. Como se houvesse uma visão em torno delas, uma reflexão sobre o próprio pensamento. Uma meditação de reflexão, como se girasse sobre si mesma. Até que se estabelece um intervalo. Um intervalo que se fixou. A energia que gira em torno, uma reflexão sobre o próprio pensamento. Girando sobre si mesma. De repente um quarto vazio. Uma parede olhando para outra. O corpo de um quarto vazio. O corpo da consciência. Corta. Uma procissão de cavaleiros. Em um mão carregam um livro, na outra uma lâmpada. É como se fossem extensores de si mesmo. Todos os ancestrais. Uma sucessão de sombras. No quarto tem uma abertura na frente e uma atrás, como se fosse o presente e o futuro. No pé de cada sombra tem um buraco, e cada aparição cai dentro de um buraco para outra aparecer. De repente ocorre uma identificação do sujeito com uma estátua. Em dado momento se pergunta: seria essa a geometria da consciência de mim mesmo? Está tudo claro, claro demais, é preciso ir para o escuro. Para algo ante-
rior. Como que para sair do intervalo. Abandonar o quarto. O sujeito se atira no subterrâneo, aonde está sua sombra. Que vai lançar os dados. Que dirá uma predição. A palavra conferida convoca um sujeito como a própria noite, o sujeito além do proprio sujeito, um intervalo. A noite como um intervalo. Todo pensamento emite um lance de dados. Em todo pensamento há uma morte, a convocação de um outro, de uma outra potência. O sujeito se posiciona e toma uma gota de nada, e se deita ao túmulo de seus ancestrais.
A luta do homem com o acaso. Descer as escadas, do espírito humano, ir ao fundo das coisas: em “absoluto” que é. Por um breve momento, ele imagina uma constelação. Nessa breve constelação está a idéia de vida. Suspender a marcha impossível do entropismo. O onipresente, o onipotente, o imponderável. O acaso é uma condição que o homem tem de se defrontar, assim como natureza. A natureza é um jogo de dados, uma partitura, um diagrama. A constelação é resgatada ao acaso.
inteligência, o lance de dados e o acaso. Mesmo que a consciênca consiga se reduzir a um quarto vazio, a momentos, nunca vai abolir a imprevisibilidade da linguagem que vai se sugerir. Um lugar vazio da consciência, nunca iremos abolir as milhões de possibilidades da linguagem. As imagens vão aparecer. Não se trata só do vazio e da desaparição do sujeito, mas um circuito aberto de linguagem. Ao contrário da entropia, o circuito está sempre aberto. Há sempre/jamais a possibilidade da linguagem.
CAMPOS, Haroldo de. Diálogos Impertinentes - O Acaso. São Paulo : TV Puc, 1995. HULLIET, Danièle; STRAUB, Jean -Marie.
Toute révolution est un
coup de dés,1977. MALLARMÉ, Stéphane. Un coup de dés jamais n’abolira le hasard, Paris : Cosmopolis, 1897. MALLARMÉ, Um lance de dados
/
jamais abolirá o acaso, Trad.
“Até o formato, ocioso: e, em vão, concorre esta extraordinária, como um vôo recolhido, mas prestes a se alargar, intervenção da dobradura
São Paulo, 1975.
/ Entre uma sucessão de espaços vazios, momentos de consciência. Anterior a isso, uma invocação de uma outra
Fontes
Haroldo de Campos, Perspectiva :
ou o ritmo, inicial causa que uma folha fechada, contenha um segredo, o silêncio aí permanece, precioso e signos evocatórios sucedem, para o espírito, a tudo literalmente abolido.”
MALLARMÉ, Stéphane. Divagações. Trad. Fernando Scheibe, Florianópolis : Editora da UFSC, 2010. MEHOUDAR, Rosie. Literatura Fundamental 31, Guarujá : TV Univesp, 2014. /
Stéphane Mallarmé Fotos tiradas por Marina Marche-
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san durante a residência Fazenda São João (São José do Vale do Rio
*Transcrições e conclusões em cima das reflexões de Haroldo de Campos e Rosie Mehoudar.
Preto) e no Rio de Janeiro, 2016.
Governo do Estado de São Paulo e Secretaria da Cultura apresentam
CHANCE AO ACASO MARINA MARCHESAN LF-05/001
/ Marina Marchesan (1988, São Paulo) vive e trabalha no Rio de Janeiro. É formada em Artes pela UFRJ e pós graduada em Ensino da Arte pela UERJ/EAV Parque Lage. É artista e fotógrafa, atualmente é produtora da residência artística Despina/Largo das Artes (RJ) e é uma das organizadoras da Residência São João (RJ). cargocollective.com/marinamarchesan / Composto em Relative Mono 10 Pitch e impresso em Risograph sobre papel Chambril Avena+ 90 g/m2 e FCard Cinza 180 g/m2, com tiragem de 500 exemplares. São Paulo, 2017. / PDF disponível para download gratuito no site. livros-fantasma.com
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