1 minute read

Retratos de uma casa em destruição

Next Article
Entrevista

Entrevista

Marina Andrade Leonardi

Em Retratos de uma casa em destruição Marina Leonardi reconstitui um espaço bastante específico. A casa apresentada nas fotografias foi abandonada quando seu dono, recém viúvo, enlouqueceu. Após o abandono a casa foi usada por moradores de rua e usuários de drogas, transformando-a em uma mutação de desleixo, sujeira e o que restou do carinho de seu antigo dono. Logo após o registro destas imagens, a casa foi demolida.As dez imagens conseguem muito bem agrupar esta sensação de mutabilidade do espaço. Os recortes dentro dos quadros gerais sugerem muito bem esta questão, dando destaque hora à destruição, hora ao que restou da construção original. O espaço é muito bem trabalhado dentro deste ensaio, passando a nítida sensação de se estar dentro desta casa. Esta espacialização é essencial para que se tenha a real dimensão do que ocorreu.Desta forma, com Retratos de uma casa em destruição Marina nos passa todos os sentimentos presos dentro do espaço apresentado, construindo uma narrativa densa que deixa ansioso por mais imagens qualquer espectador.

Advertisement

Como sua relação com a arquitetura interfere no seu fotografar?

A arquitetura, e a FAUUSP especialmente, têm uma tradição de formar bons fotógrafos. Talvez por ser um campo do conhecimento que, assim como a fotografia, exige ao mesmo tempo domínio técnico e sensibilidade apurada. Sensibilidade para apreender o espaço existente e imaginar espaços projetados, para criar composições formais planas e volumétricas, combinar cores e texturas e, principalmente, para produzir e compreender representações bidimensionais da realidade. Acho que, para mim, a fotografia é mais um instrumento de representação do que de registro. Não estou preocupada em documentar alguma coisa; minhas fotos são um olhar meu sobre o que existe. A relação com a arquitetura aparece, portanto, mais no conceito, na habilidade e na metodologia, do propriamente que nos objetos fotografados.

Qual você acha que é o papel da fotografia no registro das mudanças de um cotidiano?

Suas imagens buscam denunciar o descaso com este local ou apresentar a sua visão e a sua relação com esta casa artísticamente?

Não fotografo para denunciar (a alguém) nem para documentar (algo), porque o que me motiva não é o outro (que vê a foto) nem o próprio objeto fotografado, senão um desejo pessoal de experimentar a realidade com olhares diferentes, focos, luzes, velocidades diferentes. É claro que as manifestações que se pretendem artísticas (incluindo algumas das coisas que eu faço) não podem ser assim tão egoístas; por mais pessoal que seja o seu objetivo e o seu jeito de trabalhar, é preciso que o resultado comunique alguma coisa ao resto da humanidade. O desafio está em conceder um caráter universal a sua vivência pessoal de um cotidiano específico.

This article is from: