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Raquel Santos Tsurus
Raquel Santos é uma jovem fotógrafa paulistana, com apenas vinte e um anos já passou pela Escola Panamericana, por vários ramos da fotografia e agora atua como assistente do curador Eder
Chiodetto. A Raquel apresenta na OLD seu ensaio Tsurus.
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Como surgiram o desejo e o conceito para desenvolver o ensaio Tsurus?
Aprendi a dobrar o Tsuru quando criança e me lembro bem da professora contando a lenda original japonesa sobre o pássaro: diz a lenda que quem dobrar mil tsurus alcança a felicidade plena e a longevidade (pois esses pássaros vivem por mil anos), desde então tive o desejo de um dia dobrar os mil. Fazia tsurus todos os dias e ficava tentando imaginar quantos faltavam para mil. Depois comecei a estudar outros origamis, modulares, mais complexos, deixei a ideia da felicidade de lado e me dediquei aos diagramas mais difíceis. Mas sempre acreditei mesmo na sorte e felicidade que ele representa e essa crença segue comigo até hoje. Como a imaginação pode voar e a fotografia pode misturar realidade e ficção, representar sonhos e paisagens surreais, pensei na possibilidade deles existirem entre nós, como seriam seus rituais, seu pouso, como transmitir essa mágica que eles trazem. buscando referências na land art e querendo mostrar o bando e os rituais dessas aves, que cheguei no resultado da natureza. Imaginei que para mostrar o que os tsurus representam, o encontro só podia ser no meio da paisagem, quando não houvesse ninguém por perto. Em paisagens reais, como se eles fossem reais também.
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Tsurus são associados à cura e a paz e em seu ensaio eles estão imersos na natureza, seja ela destruída pelo homem ou não. Como surgiu essa associação, entre tsuru e natureza dentro deste trabalho?
Existem diversas lendas sobre o tsuru, a mais conhecida é a lenda onde ele representa a cura. Após a bomba de Hiroshima, uma garota chamada Sadako ficou doente e uma amiga disse que se ela dobrasse mil tsurus e fizesse um pedido para cada um, se tornaria realidade, e ela podia então se curar. A partir de então o Tsuru é mais reconhecido por cura, em 1958 foi criado um monumento em homenagem as crianças que morreram por conta da bomba todo ano pessoas de vários países mandam tsurus para lá. Mas não é esta a abordagem do ensaio. O tsuru já existia antes, como um pássaro mágico que vivia por mil anos trazendo longevidade e felicidade. Foi pensando na lenda o original que segui.
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Em algumas imagens os tsurus formam pequenos crop circles [símbolos que aparecem em plantações sem maiores explicações], você vê esse ensaio como uma espécie de intervenção na natureza?
Sim, penso que é uma intervenção. Estes símbolos sempre me intrigaram, crop circles, linhas de Nazca, geoglifos em geral, além das formas são cercados de lendas e mistério. Tive também bastante referências pesquisando a Land Art, trabalhos do Robert Smithson, João Castilho (series Linhas e Tempero), Christo e Jeanne-Claude, Richard Long, Robert Morris, alguns artistas que trabalham com instalações na natureza, e por vezes, com esculturas. Claro que foram pesquisas rápidas, hoje em dia estou mais focada, explorando e entendendo melhor as questões da Land Art, me interesso muito por ela. um papel fundamental dentro deste ensaio?
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Há uma sentimento controverso dentro deste ensaio, por mais que os tsurus sejam relacionados à paz e à serenidade, há, nas imagens, uma certa tensão, locais inóspitos ou alterados pelo homem. Para você, qual o significado dessa oposição dentro desta série?
Acredito que essa tensão se dá pela forma que os tsurus estão posicionados e não por conta dos locais. Todo ritual cria uma tensão, e as formas circulares, a dupla exposição, ajudam nisso. Acho que essa tensão é sutil e necessária para o trabalho.
Muito! Só para produzir mil tsurus levamos um tempão, e nem consegui colocar todos os mil nas imagens, pois são muitos! Eu já tinha em mente os lugares que gostaria de fotografar. As fotos foram feitas basicamente em Botucatu, Pardinho e Caconde, lugares que viajo sempre. Então eu já tinha intimidade com os locais e com os tsurus.
Suas imagens tem diversas camadas de construção: montar tsurus, compor a cena, fotografar e, em alguns momentos, refotografar para criar múltiplas exposições. Esse tempo de criação tem
Depois tinha que desenhar a posição dos pássaros e finalmente organizá-los na paisagem. Mas tudo dependia também do tempo, não podia chover, ventar demais, sol muito forte, etc.
A edição e tratamento das imagens foram mais importantes que tudo, para criar uma unidade entre as paisagens.