2 minute read

Rafael Carneiro DoisLados

Rafael Carneiro é mineiro, de Belo Horizonte. É médico e músico, além de fotógrafo. Mais um dos nossos amigos multitarefa! Aqui na OLD, Rafael apresenta seu ensaio DoisLados, baseado na múltipla exposição.

por essa técnica?

Advertisement

DoisLados trabalha com fotografia analógica e múltipla exposição. Como surgiu seu interesse por esse suporte e

Sempre gostei de fotografia analógica. Saber que você não terá um preview instantâneo da foto te faz concentrar mais na composição, na fotometria, em todos os aspectos da fotografia. É um exercício de calma, espera, contemplação. Um verdadeiro ritual. Nas minhas pesquisas mais recentes, venho buscando formas diferentes de sobrepor imagens. A maioria das câmeras analógicas oferece o recurso da dupla exposição. Tenho tentado ir além disso, fazendo sobreposições dentro, fora da câmera e nos dois lados de um filme. A técnica empregada em DoisLados surgiu mais especificamente a partir da técnica de redscale ou escala de vermelho. Imaginando que um filme fotográfico colorido negativo seja composto por várias camadas de cor sensíveis à luz sobre um suporte plástico, e sendo a última camada a de cor vermelha, o redscale consiste em inverter o filme e fotografar somente o verso do mesmo. A luz então atinge primeiro a camada vermelha e a imagem adquire uma tonalidade que varia do amarelo ao marrom, passando pelo laranja e vermelho. Em DoisLados, o que é feito de diferente é a frente do filme ser exposta primeiro. Depois o filme é invertido na câmara escura, volta pra câmera e tem o seu verso exposto, como se fosse um redscale. Daí surgem as sobreposições das imagens.

A maioria das suas fotografias cria uma oposição entre as duas imagens que as formam. Sua intenção com a dupla exposição era construir essas dualidades dentro de um mesmo quadro? Qual a história que você conta com DoisLados? Existe um toque de imprevisibilidade nesse trabalho. Ao virar o filme, não tenho controle sobre quais fotogramas serão sobrepostos. As forças antagônicas do universo são muito fortes. Mesmo de maneira aleatória, elas aparecem nas sobreposições de DoisLados, mostrando o caráter irrevogável das dicotomias que vivemos sempre. O bem e o mal, o velho e o novo, o céu e o inferno. Os opostos sempre existirão, assim como a constante busca pelo estado de equilíbrio, pela homeostase.

Como foi o desenvolvimento dessas duplas imagens? Você tinha em mente cada sobreposição que iria ser feita ou houve um fator aleatório nas construções? As terceiras imagens, resultantes das sobreposições, surgem de maneira completamente aleatória. Procuro fotografar temas urbanos em geral, que aparecem nos meus deslocamentos diários e não há controle algum sobre qual imagem aparecerá e nem sobre a justaposição exata dos fotogramas. Utilizo o acaso como recurso criativo.

Você tem um trabalho muito forte com as cores nesse ensaio, em especial o vermelho. Como foi o desenvolvimento dessa estética? O que você pretende passar com essa predominância de uma cor? O vermelho surge naturalmente, já que é uma das cores que predominam quando se fotografa o verso do filme. DoisLados é um trabalho formal, não há uma preocupação específica com uma determinada cor e sua carga emocional. A intenção é plástica, de manipular cores e formas livremente.

This article is from: